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PARECER PARA QUALIFICAÇÃO1

Título do trabalho: Disposição para o precipício: a filosofia no ensino engendrada pela


poesia.
Autora: Bruna Gabriela Domingues
Orientador: Prof. Dr. Estevão Lemos Cruz

Parecerista: Prof. Dr. Wagner Dalla Costa Félix (Departamento de Filosofia e Programa
de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Estadual de Maringá)

Parecer:

De início, deve-se afirmar que o texto submetido para Exame de Qualificação


cumpre com a proposta do Mestrado Profissional em Filosofia e com seus próprios
propósitos. As observações a seguir visam contribuir com o desenvolvimento do trabalho
em vista de sua conclusão prevista.
A questão do ensino de filosofia é natural, esperada e necessária, considerando o
escopo do projeto. A apresentação da questão faz bem seu trabalho de apontar para o
caráter problemático do que pretende examinar, embora observamos que o exame da
dicotomia mencionada entre o ensino do filosofar e o ensino da história da filosofia
ganharia substância e coesão caso fosse apresentada com maior especificidade, isto é,
com o exame de um caso ou problema exemplar. Sugere-se que esse caso ou problema
seja articulado com a proposta particular do trabalho, qual seja, o do exame do discurso
poético como instrumento do ensino de filosofia. O exemplo inicial acerca da imagem de
Sócrates escrevendo é interessante por si só, porém seu caráter ilustrativo não chega a
aprofundar o papel que os mitos e alegorias tem no diálogo platônico, ou no fato que são,
precisamente, diálogos, isto é, têm o aspecto poético e performativo de mostrar o processo
dialógico do aprendizado. Não se espera que se trate de examinar então os diálogos
platônicos, porém, apenas sugerir uma forma de expandir as observações que já constam

1
Instrumento específico para examinadores externos, da banca de qualificação, que não poderão estar
presente no ato da apresentação do mestrando.
do trabalho acerca desse tema. Dessa forma, a passagem para a discussão da maneira
como Heidegger trata do discurso poético, a partir da p. 11, seria menos abrupta.
Como se trata de trabalho de qualificação, iniciando no capítulo 1,
compreendemos que o trabalho não dispõe ainda de uma introdução que sirva de
orientação ao leitor, para que esse saiba o que esperar no andar do trabalho e esteja atento
às articulações propostas, sobretudo entre o corpo teórico do trabalho e sua parte prática.
O trabalho faz uso competente e adequado da bibliografia principal e da
bibliografia secundária, tanto no que diz respeito ao tema do ensino de filosofia quanto
ao tratamento acadêmico da obra de Heidegger. Quanto à escolha dos textos principais, é
minha recomendação que o trabalho procure aprofundar mais um dos textos escolhidos,
possivelmente a interpretação de Heidegger da poesia de Hölderlin, a fim de que esse
texto sirva como referência principal e ajude a definir o foco do trabalho. Da forma como
se apresenta, os textos sobre interpretações de obras poéticas, o texto A origem da obra
de arte, os textos sobre linguagem e até mesmo Ser e Tempo recebem aproximadamente
tratamento de igual peso, o que pode tornar o trabalho conceitual fragmentado. A questão
do páthos na seção 1.2, por exemplo, é tratada quase exclusivamente por meio dos
diálogos platônicos, o que, embora adequado, não parece estar perfeitamente articulado
com a questão do discurso poético a partir da obra de Heidegger, tratado anteriormente.
Não parece ser necessário suprimir, de modo algum, essa parte, mas sugere-se que a
questão poética do páthos, que também está presente nas interpretações de Hölderlin por
Heidegger, tenha maior presença no trabalho.
O propósito do Capítulo II, exposto em anexo, está claro, porém o termo
“psicagogia” carece de maior justificativa, e um esclarecimento acerca do uso do termo
para além de sua origem em Platão. Quer dizer, trata-se de resgatar um termo diretamente
dos diálogos platônicos, ou se pode referir a uma história de apropriação do termo, antiga
ou recente, que seja apropriada criticamente, ou recusada de alguma forma?
Quanto ao Capítulo III, compreende-se seu caráter prático ou experimental;
acredito que seja importante que a obra de Fernando Pessoa já seja de alguma forma
incorporada às discussões anteriores sobre o discurso poético, para melhor articulação do
trabalho como um todo.
A proposta do Capítulo IV, compreendendo em seus anexos questionário aplicado
a estudantes e planos de aula, traduz adequadamente a proposta do trabalho para a prática
docente. Em momentos, a ênfase na questão da técnica e tecnologia parece extrapolar a
questão do discurso poético tratado na parte de fundamentação, e apresenta-se a questão
à candidata de como entende a articulação entre essas questões.
Do ponto de vista formal, o texto é bem escrito, claro, e coerente, e não tenho
observações quanto à essa parte. Quanto ao estilo, o trabalho evita a escrita estritamente
acadêmica, por evidente opção; recomendaria, contudo, que, havendo o tempo necessário,
sobretudo nas passagens acima apontadas, o texto procurasse ser mais didático, detendo-
se com mais paciência em determinadas questões ou obras e passagens de textos. De certa
forma, o trabalho muitas se move “lateralmente”, de uma questão ou referência à outra, o
que permite construir um quadro interessante, porém o aprofundamento em algumas
questões seletas permitiria ao leitor melhor compreender a proposta, especialemente por
se tratar de uma proposta prática, isto é, a apropriação e aplicação da psicagogia.
Sem mais a dizer, agradeço a oportunidade da leitura, e recomendo a aprovação
do trabalho neste Exame de Qualificação.

Maringá, 29 de Outubro de 2018

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Prof. Dr. Wagner Dalla Costa Félix
Departamento de Filosofia
Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Universidade Estadual de Maringá

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