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CF 52 - Advocacia Sistêmica - Uma Prática Humanizada - Bianca Pizzatto Carvalho
CF 52 - Advocacia Sistêmica - Uma Prática Humanizada - Bianca Pizzatto Carvalho
ADVOCACIA SISTÊMICA
UMA PRÁTICA HUMANIZADA
CONSTELAÇÕES FAMILIARES NA
ADVOCACIA
SISTÊMICA
UMA PRÁTICA HUMANIZADA
1ª Edição – 2018
Joinville – SC
Copyright © 2018 Bianca Pizzatto Carvalho
Editora: Manuscritos Editora
Depósito Legal junto a Biblioteca Nacional, conforme Lei de Depósito - Lei 10.994 de 14 de dezembro de 2004. Dados
Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
Constelações familiares na advocacia sistêmica: uma prática humanizada / Bianca Pizzatto Carvalho. Joinville,
SC: Manuscritos Editora, 2018.
160 p. ; 21 cm
ISBN: 978-85-92791-14-8
Contato Autora
bianca@advocaciapizzatto.com.br
Contato Editora
contato@manuscritoseditora.com
www.manuscritoseditora.com
À minha família, minha primeira consciência de clã.
Ao meu esposo Alexandre Carvalho, pelo apoio constante.
Aos meus amados mestres, fontes de inspiração.
Aos amigos e colegas de caminhada, pelo compartilhar.
Aos meus clientes, por confiarem no meu trabalho.
Às minhas duas filhas de quatro patas, pela presença enquanto
escrevia este livro.
Prefácio
ADVOCACIA SISTÊMICA 2
UMA PRÁTICA HUMANIZADA 2
CONSTELAÇÕES FAMILIARES NA 4
Sumário 9
Introdução 11
O pensamento sistêmico 16
1.1 Esculturas Familiares de Virginia Satir 18
6.2 Presença 48
Recursos e intervenções 66
8.1 Respiração 66
8.2 Sentimentos 67
8.3 Sintomas 68
8. 11 Frases de intervenção 75
Casos práticos 94
11.1 Dissolução de vínculo conjugal 94
11.2 Pedido de demissão 96
O pensamento sistêmico
1 Nascido em Leimen - Alemanha, morava em Cologne - ltália, sendo parte de uma família
católica. Aos 10 anos, foi seminarista em uma ordem Católica. Apesar disso, aos 17 anos,
alistou-se no exército e combateu com os nazistas no front, sendo preso na Bélgica. Aos 20
anos, com o fim da guerra, tornou-se padre. Formou-se no curso de Teologia e Filosofia na
Universidade de Würzburgo em 1951. Foi enviado como missionário católico para a África
do Sul, onde atuou como diretor de várias escolas, como o Francis College, em Marianhill.
Em 1954, obteve o título de Bacharel de Artes da Universidade da África do Sul e, um ano
depois, graduou-se em Educação Universitária. No final dos anos 1960, abandonou o clero
e voltou à Alemanha, onde passou a estudar Gestalt-terapia. Mudou-se para Vienna para
estudar psicanálise. Ali, conheceu sua primeira esposa, Herta, uma psicofacilitadora. Em
1973, mudou-se para a Califórnia para estudar Terapia Primal com Arthur Janov. Lá,
interessou-se pela Análise Transacional. Hellinger se divorciou de Herta e casou-se com
Marie Sophie, com quem mantém cursos, oficinas e seminários em vários países.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bert_Hellinger>.
é dito verbalmente. Ela diz: “Cada palavra, cada expressão facial,
gesto ou ação por parte de um pai envia à criança alguma mensagem
sobre autoestima”.
Uma das teorias de Satir é a teoria dos cinco papéis familiares.
Segundo ela, esses papéis aparecem de modo mais evidente quando os
membros de uma família não conseguem expressar seus sentimentos
de maneira adequada. Esses papéis são chamados também de posturas
de Satir:
1) Acusador: aponta erros e falhas;
2) Apaziguador: tenta acalmar os problemas, sem resolvê-los;
3) Computador: fecha-se no seu mundo particular;
4) Distraidor: desloca a atenção de todos para não olhar para
os problemas;
5) Nivelador: busca comunicar-se de forma verdadeira para
encontrar uma boa solução.
Sua mais importante obra foi a Terapia do Grupo familiar e sua marca
registrada era treinar as pessoas para interagirem com as partes
internas delas mesmas, especialmente aquelas ligadas aos papéis dos
membros familiares.
Bert Hellinger teve encontros com Virginia Satir nos anos 70, no
“Instituto Junguiano Esalen”, na Califórnia. Naquela oportunidade,
Bert pôde observar Satir trabalhando com seu método das esculturas
familiares, no qual uma pessoa estranha, convocada para representar
um membro da família, passava a se sentir exatamente como a pessoa
a qual representava, às vezes representando sintomas físicos exatos aos
do familiar representado.
O objetivo da escultura familiar foi evidenciar modelos de
relacionamentos (negativos), abrindo, com a conscientização para
essas estruturas, novas perspectivas de crescimento e de
desenvolvimento para o sistema. 2
1.2 Psicodrama de Levy Moreno
Esse fenômeno das esculturas familiares de Virginia Satir já havia sido
3 O zigoto é denominado ovo e resulta da união de dois gametas: ovócito e espermatozoide. É uma célula
totipotente, ou seja, é capaz de guardar as características genéticas dos progenitores, podendo gerar todas
as linhagens celulares do organismo adulto. Disponível em: < http:// pt.wikipedia.org/wiki/Zigoto>.
lugar a esse natimorto, o sistema entra em desequilíbrio na ordem de
pertencimento, podendo afetar a relação do casal, dos filhos e do
sistema familiar como um todo.
As constelações sistêmicas
Intuição Gramática
Capítulo 6
Quando o advogado atende uma situação, ele pode ter a ideia de que o
cliente está sobreposto (identificado) com a mãe, ou seja, que está
ligado às memórias ou emoções de sua mãe, e isso pode ser um bom
recurso. Porém, não há a certeza de que esta seja a raiz do problema
do cliente. Ter essa percepção ajuda muito o sistema do cliente.
Wittgenstein 7 trata sobre isso, ao discutir sobre o mau entendimento
7 Ludwig Joseph Johann Wittgenstein, que nasceu no dia 26 de Abril de 1889, em Viena, foi
um filósofo austríaco, naturalizado britânico. Foi um dos principais atores da virada
linguística na filosofia do século XX. Suas principais contribuições foram feitas nos campos
da Lógica, Filosofia da Linguagem, Filosofia da Matemática e Filosofia da Mente. Disponível
em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Wittgenstein>.
da lógica, que traça um limite para o que se pode pensar e dizer,
quando, na verdade, deveríamos ter liberdade de pensamento.
Piaget explica que a criança não sabe o que é uma bola de modelar até
que eu explique para ela e fixe a ideia de irreversibilidade. Um cliente,
quando procura um advogado, não sabe como resolver juridicamente o
seu problema. Ele precisa do conhecimento do profissional. O
advogado sistêmico tem um conhecimento que vai além das normas
jurídicas, ele conhece também as leis do amor. No caso da
sobreposição de contexto, a ideia parte do advogado que conhece o
acontecimento.
No entanto, de acordo com a teoria piagetiana, se eu pegar uma bola
de modelar e transformá-la em uma salsicha para, depois, transformá-
la novamente em uma bola, apresento a reversibilidade. Assim é com
o advogado sistêmico: é melhor não criar ideias ou suposições, mas
sim novas diferenças. Por isso, a pergunta depois de um atendimento
sistêmico deve ser: Qual a diferença agora?
História de Nasrudin:
“Certa noite, caminhando por uma estrada deserta, o Mulá Nasrudin
viu uma tropa de cavaleiros vindo na direção dele. Sua imaginação
começou a trabalhar: viu-se capturado e vendido como escravo, ou
forçado a entrar no exército. Nasrudin saiu correndo e quanto mais
corria, mais os cavaleiros corriam atrás dele. Então, Nasrudin
escalou o muro de um cemitério e se deitou numa sepultura aberta.
Perplexos com esse comportamento estranho, os homens - que eram
viajantes honestos - o seguiram. Encontraram-no estirado, tenso e
tremendo. “O que está fazendo nesse túmulo, Nasrudin? Vimos você
sair em disparada. Podemos ajudá-lo?”. Nasrudin, compreendendo o
que tinha acontecido, responde: “Só porque você consegue formular
uma pergunta não significa que exista uma resposta simples para ela.
Tudo depende do seu ponto de vista. No entanto, se querem mesmo
saber, eu estou aqui por causa de vocês e vocês estão aqui por minha
causa.”
A história de Nasrudin nos mostra que o não saber é muitas vezes o
melhor recurso, uma vez que o saber nem sempre é real e pode nos
levar a percorrer caminhos desnecessários, os quais ao invés de nos
aproximar da melhor solução, ao contrário, nos afasta.
6.4 Postura sistêmica
A postura sistêmica é um estágio avançado da presença. Nã o posso
saber Deus, porque Deus está além. Aqui, podemos olhar para a
história lendária de Adão e Eva e a árvore do conhecimento. Em
Gênesis, há a afirmação de que o ser humano não é Deus, embora seja
criado à sua imagem e semelhança. Comendo da “árvore do bem e do
mal”, adquire uma característica atribuída a Deus: a capacidade de
discernir entre o que é bom e o que é mal. O ser humano é, então,
expulso do Éden para evitar que se engane, pensando que é Deus, ao
comer da árvore da vida.
No atendimento sistêmico, o advogado deve se afastar da intenção de
querer ajudar seu cliente e de dar interpretações do que seja bom ou
mal. A postura é de acolhimento. O advogado não é um destino para a
solução, mas sim uma porta para ela.
Por isso, para que possamos auxiliar o cliente, temos que nos colocar
presentes no aqui e no agora para que não entremos em uma relação
simbiótica com o cliente e com o seu tema. Nossa presença deve ser
adulta, deixando claro ao cliente que não somos responsáveis por suas
emoções. Quando julgamos nosso cliente ou alguém de seu sistema,
transformamos essa pessoa em objeto, e nós mesmos nos
transformamos em objeto. Todos nós somos sujeitos e agentes de
ações, comportamentos e escolhas.
Ademais, lembrando da lei de hierarquia, nossos clientes pertencem a
um sistema familiar onde os pais deles são maiores e precedem a nós,
portanto, qualquer tentativa de interferência pode nos colocar em
posição de superioridade ao próprio sistema do cliente, e isso gera
desiquilíbrio, agravando o quadro e o conflito. É o que chamamos de
transferência e contratransferência 8.
8
Transferência podem ser as projeções relacionadas às reações emocionais do cliente, dirigidas ao
facilitador. A contratransferência envolve sensações, sentimentos e percepções que brotam no
facilitador, emergentes do atendimento sistêmico com o cliente, como respostas às manifestações do
cliente e o efeito que tem sobre o facilitador. Elas podem ser positivas ou negativas.
A técnica tem que estar a serviço do cliente e não o contrário. Ela não
deve ser vista como controle, porque, assim, entramos na zona de
segurança. Ao advogado, é importante aprender a carregar o não-saber
e a curiosidade, além de não entrar no transe do cliente e conseguir
criar uma ponte entre o sofrimento do cliente e o que causa.
Essa postura sistêmica exige do advogado a consciência de que alguns
clientes necessitam permanecer no transe do conflito e contratar outros
profissionais, inclusive. Isto também faz parte do atendimento
sistêmico: liberar o cliente para um advogado sem abordagem
sistêmica. Afinal, que atmosfera profissional você busca? Quando
você concorda em entrar no transe do cliente e sai do seu lugar, corre
o risco de atrair para seu escritório mais e mais clientes com esse perfil
litigante. Mantendo-se na postura sistêmica, muitas vezes, ao
renunciarmos os honorários de um cliente em transe, favorecemos o
aparecimento de muitos outros clientes com perfil menos conflituoso,
e esses, na maioria das vezes, poupam tempo e energia do advogado,
auxiliando para que ele trabalhe com mais leveza e mais resultados.
6.5 Linguagem sistêmica: frases
O trabalho do advogado sistêmico é de mudança de posições ou de
estados e, consequentemente, de imagens que o cliente trouxe. Nesse
particular, é importante que o advogado saiba distinguir os diferentes
tipos de frases utilizados ao longo de uma consulta, atendimento ou
constelação. Muitas vezes, a linguagem sistêmica é o suficiente e o
essencial para que o cliente perceba o conflito com um novo olhar e
encontre uma solução por conta própria.
Exemplificando:
Ao atender um casal em conflito quanto à guarda e sustento do filho,
após escutativa atenciosa de ambos, conduzi os clientes a olhar para
a criança como parte do todo, acolhendo as angústias de cada um,
sem qualquer julgamento. Utilizando material próprio confeccionado
para evidenciar o material genético de cada um - X e Y, sugeri que
ambos tomassem a parte que lhe cabia do filho e olhassem para isso
buscando encontrar suas responsabilidades. Após alguns minutos de
silêncio, sugeri que ambos dissessem: - Eu cuido do que é meu e você
cuida do que é seu. Levou um certo tempo para que cada um
conseguisse dizer. O genitor demonstrou maior dificuldade para
expressar. Então, perguntei: - Como seu pai cuidou de você? Sem
entrar muito em detalhes de toda a dinâmica, ficou claro que o genitor
apresentava muito dificuldade de cuidar do filho com a
responsabilidade que lhe cabia, em razão de o seu próprio pai não tê-
lo feito em plenitude. Desse atendimento, foi possível para a genitora
compreender a dificuldade do genitor, e ele tomou mais coragem e
força para fazer diferente. Sugeri ao genitor a possibilidade de olhar
para a sua relação com o seu pai, através de uma constelação, pois
isso o ajudaria no relacionamento com o filho. No meu entender,
quando ele tomasse tudo de seu pai do jeito que foi, a ele estaria
aberto o caminho em direção ao filho, como um pai adulto e
consciente, e não mais como uma criança que ainda precisava de colo.
Nesse exemplo, vemos que foram utilizadas algumas frases. Elas
podem ser classificadas em:
1.1.1 Frases vazias: Não provocam nenhuma mudança. É como uma
repetição de esquema, tudo segue como antes. Como, por exemplo,
quando eu penso que meu cliente tem certas atitudes por fidelidade ou
conexão com sua mãe e sugiro que ele diga para sua mãe: “Preciso me
afastar”. Se o cliente relata que nada mudou, é indicativo de que a frase
foi vazia.
1.1.2 Frases pesadas: Enfatizam a dinâmica disfuncional. Às vezes,
podem ser úteis na entrevista para tornar o sistema pior e observar os
efeitos. Em si mesma, a frase que pesa não é útil para a solução, salvo
se ajudar o cliente a ver onde leva uma certa dinâmica. Por exemplo,
quando peço ao cliente que imagine seu pai à sua frente e diga para
ele: “Eu tenho medo de você.” Se o cliente relata que a frase o deixou
extremamente nervoso, é sinal de que foi pesada. Ou ainda, como em
um caso de violência doméstica, no qual peço à cliente que diga para
o pai: “Querido papai, eu busquei um homem violento como você foi
para a mamãe.”
1.1.3 Frases reveladoras: Mostram a dinâmica que está ocorrendo.
Promovem uma visão intelectual. Chamam a atenção sobre o que está
acontecendo em um sistema e ajudam o cliente a explicar para si
mesmo por que as coisas são como são. Um exemplo prototípico é
quando peço ao cliente que diga para alguém: “Eu quero morrer em
seu lugar”. Logo após, o cliente respira profundamente, chora ou relata
que perdeu força. Isso indica que a frase foi reveladora e podemos estar
diante de uma sobreposição.
1.1.4 Frases de solução: Levam o sistema a uma nova posição ou
imagem. Implicam em encontrar uma nova posição ou reconhecer algo
que anteriormente estava escondido ou excluído. Algumas das frases
de solução mais comuns em movimentos sistêmicos são: “Eu vejo
você”, “Eu dou um lugar para você em meu coração” ou ainda “Eu amo
sua mãe através de você”.
Para o advogado que domina a gestão das várias frases, encontrar a
melhor maneira de usar a “frase apropriada” tem a ver com manter -se
em consonância com a energia e o fluir do atendimento.
Aqui, trago um caso prático:
Ao atender uma cliente como advogada sistêmica, ela revelava sua
tristeza e sua dor ao ver que sua filha de 15 anos havia denunciado
sua postura materna ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público
como violência. A cliente relatava que a atitude da jovem t eria sido
sustentada e assistida por seu genitor, ex-marido da cliente. Revoltada
com o ex-marido e magoada com a filha, apontava inúmeras
justificativas para indicar os culpados. Inicialmente, com frases
pesadas como “Querida mamãe, assim como você, eu também me
afastei da minha mamãe", a cliente pode observar o seu papel nesse
sistema familiar, e a frase tornou-se pesada. Nesse contexto, a cliente
trouxe à tona a sua história familiar, na qual, aos 14 anos, saiu de
casa para casar e, por vários anos, ficou sem falar com sua mãe. De
posse dessa revelação e através das frases de revelação “Querida
mamãe, por amor a você, eu também me afasto" e “Porque você não
olha para sua mamãe, eu também não olho para você", a cliente pode
enfim respirar com alívio e compreender que seu ex-marido e sua filha
estavam apenas a serviço do seu sistema familiar de origem, repetindo
padrões aparentemente ocultos. Essas frases possibilitaram uma
solução livre de julgamentos, críticas ou acusações e abriram caminho
não apenas para a pacificação entre ela e a filha, como também entre
ela e sua própria mãe.
Capítulo 7
Condições do atendimento sistêmico
9 Genograma é uma representação gráfica das relações e da história de uma família, com
foco em uma pessoa. Ele se difere de uma simples árvore genealógica, porque permite a
visualização de padrões hereditários e fatores psicológicos que pontuam as relações.
Figura 8: Sistema e estrutura familiar do cliente
O primeiro contato com o cliente tem seu final quando você tiver
alcançado, da melhor maneira possível, uma série de objetivos:
I. Compreensão sobre o problema do cliente: O cliente se encontra
focado e determinado na solução. Quando o tema não é muito claro, o
advogado pode desenhar o organograma do conflito.
II. Um verdadeiro cliente: Ao final da entrevista, o cliente deve ter
foco e objetivos claros. O advogado precisa cuidar para não trabalhar
com cliente queixoso, que diz que a culpa é do mundo, e cliente
visitante, que vem porque alguém disse que o atendimento era bom.
III. Uma pergunta com resposta concreta: Existe uma clara energia.
IV. Hipótese do Problema: Ouvindo o cliente, o advogado encontra
uma hipótese do que acontece e quais os elementos. O advogado tem
uma ideia de como ajudar o cliente, tem alguma hipótese na cabeça,
seja uma mediação, uma proposta de acordo ou, até mesmo, um
procedimento judicial mais humanizado.
V. Possibilidades Sistêmicas: Ter uma ideia de como começar a
ajudar esse cliente, quais ferramentas e métodos pretende utilizar e as
possíveis intervenções.
VI. Confiança no atendimento sistêmico: O advogado, estando
conectado ao cliente e em ressonância com o tema, precisa decidir se
é possível auxiliar o cliente com mais algumas intervenções sistêmicas
ou não. Muitas vezes, é melhor montar um processo e deixá -lo seguir
o fluxo para que, durante o tramitar da ação, com mais confiança na
relação com o cliente e mais percepções, possam ser realizados novos
movimentos e, talvez, uma intervenção mais clara para a boa solução.
VII Elementos: Se, ao final da entrevista, o advogado decidir, com a
anuência do cliente, alguma intervenção sistêmica mais profunda ou,
até mesmo, uma constelação, é adequado ao advogado ter, pelo menos,
os elementos iniciais a serem utilizados, ou seja, quais membros ou
contextos da família e/ou empresa vai utilizar para iniciar a abordagem
sistêmica, sendo capaz de escolher os elementos- chaves que serão
representados.
Com a conclusão do atendimento, o advogado sistêmico busca:
a) Ajudar o cliente a sair das emoções do conflito e tomar presença de
si mesmo;
b) Perguntar ao cliente se ele quer dizer algo ou se é necessário
esclarecer algo;
c) Incluir as possíveis informações que os recursos ou intervenções
revelaram;
d) Ajudar o cliente a internalizar tudo o que aconteceu, para que ele
possa fazer uma boa transição para a realidade. Tal transição se
relaciona com perguntar:
Que novas ideias ou informações apareceram?
Que mudanças você pode prever que acontecerão a partir
de agora?
Você está planejando algo novo após esse atendimento?
e) Critérios mínimos para encerrar:
Que o foco (cliente) se encontre melhor que no princípio;
Que, em geral, todo o sistema do cliente esteja melhor
que no início;
Que o cliente tenha encontrado algum tipo de informação
nova que não tinha anteriormente;
Que, se possível, encontre-se em condições de fazer algo
com essa informação, como um acordo ou uma mediação.
9.1 Atividades pós-atendimento
Às vezes, o tipo de relação que se estabelece com o cliente se encerra
uma vez concluído o atendimento sistêmico. Em outras ocasiões, pode
ser necessária uma revisão em outro atendimento, para traduzir em
ações concretas as informações obtidas e seguir o processo que foi
desenvolvido a partir do atendimento.
É possível que o atendimento provoque uma mediação com a outra
parte, uma reunião familiar ou, até mesmo, a análise jurídica do
conflito e a propositura de uma ação. Algumas vezes, faz-se necessário
sugerir ao cliente que analise a possibilidade de uma terapia ou
constelação e, até mesmo, se surgirem novos temas, recomendar um
novo atendimento sistêmico posteriormente. Isso é comum em
situações nas quais se observa que o conflito tem origem em dinâmicas
ocultas e complexas do sistema familiar atual ou de origem do cliente,
as quais podem ser vistas e honradas com mais atenção.
Capítulo 10
Formatos específicos possíveis
3. Pessoas do futuro,
1. Desejos,
INTERNO 2. Eu futuro acontecimentos
sentimentos do futuro
futuros, planos
4. Sensações
6. Colaboradores
FRONTEIRA corporais, diálogos 5. Presente
Atuais, pessoais
internos
9. Pais, famílias,
7. Recordações,
8. Biografia Pessoal, traumas externos, um
EXTERNO experiências, traumas
Infância acidente, uma
internos do passado
operação.
Figura 12: Constelação dos nove quadrados
Casos práticos
Possíveis respostas:
1- Adequado: Neste caso, partimos para a quarta etapa.
2- Inadequado: Sentimentos secundários que sugerem um
acompanhamento mais amplo.
4ª ETAPA: Partindo da adequação, uma sugestão é solicitar que o pai
se vire em direção à mãe e diga: Você é a mãe dos meus filhos. Eu
honro você. A mesma frase de efeito a mãe diz ao pai: Você é o pai
dos meus filhos. Eu honro você.
5ª ETAPA: Pegar os pedaços das fotografias ou dos papéis contendo
a imagem ou o nome dos filhos. Colocar nas mãos do pai e pedir que
ele una os pedaços novamente, que ele olhe para isso e diga: Eu amo
vocês através da mamãe. Eu tenho um lugar para ela no meu
coração. A mesma dinâmica se faz com a mãe: Eu amo vocês através
do papai. Eu tenho um lugar para ele no meu coração.
CONCLUSÃO: Deixar que os clientes internalizem essa nova imagem
e marquem o retorno, para que a ação judicial possa ser tratada e os
termos do acordo quanto ao divórcio, à guarda e à pensão dos filhos
sejam regulamentados.
11.2 Pedido de demissão
Cliente estava envolvido em recente ação trabalhista. Durante o
processo cliente demonstra desconforto com o processo e a dissolução
do vínculo de trabalho. Cliente tem intenção de construir o próprio
negócio, mas não se sente confiante e preparado.
1ª ETAPA: Decidir os elementos deste tema. O cliente escolheu
bonecos para cada um dos elementos. No caso, o conflito do c liente
estava na dificuldade de aproximação com seu objetivo, que era
construir o próprio negócio e se afastar da relação de trabalho atual.
Os elementos foram: foco, objetivo, recursos, obstáculos, pai e mãe.
2ª ETAPA: O cliente constelou cada uma das figuras até obter uma
imagem inicial do conflito. O cliente observou como se encontrava
cada um dos elementos e se, inicialmente, teria que constelar algum
elemento ou incluir mais algum. Na imagem inicial, o cliente percebe
o elemento representativo de sua mãe olhando para o objetivo.
3ª ETAPA: O cliente foi convidado a utilizar o dedo anular para
perceber como se sentiam cada um dos elementos da constelação.
Nesse momento, foi possível perceber uma sobreposição do cliente
com sua mãe. No teste, o foco do cliente sentiu-se melhor e mais
tranquilo no lugar da mãe, indicando uma lealdade parental. Para
liberar o cliente, foi proposto trocar de lugar os elementos do foco e
de sua mãe três vezes e, utilizando-se das frases de intervenção, o foco
do cliente pôde compreender a lealdade parental e olhar, finalmente,
para o objetivo.
4ª ETAPA: Utilizando a ferramenta da pergunta milagre, o cliente
volta a perceber cada um dos elementos da sua constelação, sendo
perguntado: Que diferenças sente? Que mudanças na forma de estarem
relacionados os elementos aparecem? Esclarecendo ao cliente que
milagres totais não ocorrem normalmente de modo tão simples,
sugerimos ao cliente que ele voltasse à imagem inicial e perguntamos:
Qual seria o primeiro passo possível em direção ao milagre?
Esclarecemos ao cliente que o passo deveria estar dentro das suas
possibilidades.
5ª ETAPA: O cliente constela esse passo e observa as mudanças que
se produzem na constelação. Ao final, o cliente permaneceu em
silêncio, percorrendo dentro de si o que vivenciou no exercício, e
observou as mudanças sob vários ângulos.
11.3 Venda de imóvel em condomínio
Cliente contrata o escritório e informa que fez o divórcio e a partilha
do único imóvel comum. O cliente relata que o imóvel ficou em
condomínio e que a administração comum está insustentável. O que se
observa é que o vínculo conjugal ainda existe e que o bem comum
representa a versão anterior do cliente.
Nesse atendimento, o diálogo preparatório foi fundamental. Deste
diálogo, foram surgindo situações e emoções que, por si só,
provocaram possibilidades de solução. As observações foram:
Energia do sistema: O cliente relata que os conflitos continuam por
conta do imóvel partilhado. O cliente sente como se o vínculo
permanecesse com todas as cargas emocionais da época do divórcio.
Geografia Espacial: No relato, o cliente descreve o conflito como a
dificuldade de solucionar a partilha realizada no processo do divórcio,
pois o imóvel permaneceu em condomínio e as propostas para vender
fracassaram. A sensação do cliente é de que as emoções do divórcio
permaneciam através do imóvel.
Imagem inicial: O cliente colocou os elementos do conflito: o casal,
a casa e o vínculo. Através de perguntas, o cliente apresentou alguns
obstáculos, tais como: matrícula sem averbação do habite-se da obra,
matrícula sem cancelamento da hipoteca, formal de partilha não
averbado.
Olhando para o campo e para os elementos, sob vários ângulos, o
cliente percebeu que nem ele e nem o imóvel estavam no presente. No
caso, seria possível utilizar o formato dos nove quadrados. No entanto,
o diálogo preparatório foi suficiente para o cliente compreender que o
conflito estava ligado à sua versão anterior (casado) e que o primeiro
passo era assumir sua nova versão (divorciado) através de tarefas
futuras. Para tanto, o cliente se comprometeu a regularizar o habite -se
da obra e o cancelamento da hipoteca na matrícula, para, enfim,
averbar o formal de partilha e liberar o imóvel do vínculo conjugal.
Conclusão