Você está na página 1de 78

Tatiane Santana

Mergulhando
no Novo Acordo
Ortográfico

k
micro-ondas

sequência
y
w
2009
ideia
autorretrato
Tatiane Santana
Graduada em Pedagogia pela UFMG
Pesquisadora e Produtora de cursos online

Mergulhando no Novo Acordo


Ortográfico

2009

reforma ortografica2.indd 1 16/3/2009 20:16:36


Sumário

Apresentação ................................................................ 05
1. Novo Acordo Ortográfico .................................. 07
1.1 Primeiros Passos ...................................................... 07
1.2 Motivação e Objetivos ............................................. 08
1.3 Acordo frustrado ...................................................... 09
1.4 Protocolos Modificativos ......................................... 09
1.5 Sem Portugal não dá ................................................ 10
1.6 Estatísticas ............................................................... 10
1.7 Critérios ................................................................... 11
1.8 Mudanças no Português do Brasil ........................... 11
2. Mudanças na ortografia brasileira ....................... 13
2.1 Reintrodução do K, W e Y ....................................... 13
2.2 Supressão do trema .................................................. 17
2.3 Acentuação Gráfica .................................................. 20
2.3.1. O que é acentuação gráfica? .............................. 20
2.3.2. Regras de acentuação gráfica ............................ 24
2.3.3. Acentuação das Proparoxítonas, Paroxítonas e
Oxítonas ............................................................... 24
2.3.4. Acentuação de Ditongos e Hiatos ....................... 32
2.3.5. Verbos terminados em guir/quir (u pronunciado)
e guar/quar ......................................................... 39
2.3.6. Acentos Diferenciais ........................................... 44

reforma ortografica2.indd 3 16/3/2009 20:16:36


2.4 Uso do hífen ........................................................... 49
2.4.1. Regras Novas x Regras anteriores ao Novo Acordo
Ortográfico ........................................................ 49
2.4.2. Hífen em Verbos, Compostos e Sequências de
Palavras ........................................................... 50
2.4.3. Prefixos e Sufixos .............................................. 56
2.4.4. Sufixos ............................................................... 62
2.4.5. Casos em que não se usa o hífen ...................... 62
3. Críticas à reforma ortográfica ........................... 69
4. Vigência do Novo Acordo Ortográfico .............. 77

reforma ortografica2.indd 4 16/3/2009 20:16:36


Apresentação

Muito se tem falado sobre o Novo Acordo Ortográfico,


mas a grande maioria das fontes de pesquisa se limita a citar
superficialmente as mudanças geradas pela alteração das
regras, sem se aprofundar no assunto.
E divulgar as alterações é realmente importante, mas não
se pode deixar que as novas regras apenas se juntem às demais
para aumentar ainda mais a quantidade de normas a serem
decoradas.
Assim, este pequeno manual, fruto de intensa pesquisa
em livros, jornais impressos, telejornais, revistas e internet,
convida o leitor a dar um verdadeiro mergulho no assunto,
saindo da superficialidade dos resumos e se aprofundando nos
estudos a respeito do Novo Acordo Ortográfico.
Seu conteúdo explica com detalhes todas as alterações
impostas aos brasileiros, como o retorno das letras K, W e
Y, a extinção do trema, as novas regras de acentuação gráfica
e de uso do hífen, comparando-as com as regras anteriores e
explicitando, inclusive, como ficam alguns casos não previstos
expressamente pelo texto do acordo.
Além disso, são expostos os motivos que levaram à
elaboração das novas regras e também as críticas que estão
sendo feitas, tanto ao texto do acordo quanto à sua capacidade
de cumprir suas próprias finalidades. Também fará parte dos
estudos a repercussão do acordo em Portugal.
Bons estudos!

Tatiane Santana

reforma ortografica2.indd 5 16/3/2009 20:16:36


reforma ortografica2.indd 6 16/3/2009 20:16:36
1. Novo Acordo Ortográfico

1.1 Primeiros passos

Desde muito tempo, Brasil e Portugal tentam aperfeiçoar


e unificar novamente as regras ortográficas, que evoluíram de
forma diferente ao longo dos anos.
Uma das propostas mais radicais foi a simplificação da
língua através da representação de cada fonema (som) por
apenas um único grafema (forma gráfica – letra). Assim, o
fonema /s/, por exemplo, seria representado apenas pela letra S,
e não mais por C, Ç, X , SS, X C e SC. Dessa forma, as palavras
exceção, cenoura e crescer, com o fonema /s/, passariam a ser
grafadas “esesão”, “senoura” e “creser”. As palavras casa,
exato e portuguesa, com o fonema /z/, passariam a ser grafadas
“caza”, “ezato” e “portugueza”.
Essa simplificação seria até prática, mas linguistas chegaram
à conclusão que isso traria muitos problemas na diferenciação
das palavras, o que dificultaria bastante a compreensão dos
textos. Seria impossível, por exemplo, distinguir sessão, seção
e cessão, pois todas seriam grafadas “sesão”.
Assim, descartou-se um critério exclusivamente fonético,
e as sucessivas reformas ortográficas ocorridas no Brasil e
em Portugal passaram a adotar critérios mistos, que tinham
características fonéticas, mas também consideravam, até certo
ponto, a etimologia da palavra (sua origem gráfica).

reforma ortografica2.indd 7 16/3/2009 20:16:36


8 tatiane santana

Entretanto, a evolução ortográfica não ocorreu de forma


unificada. Brasil e Portugal fizeram várias reformas ortográficas
independentes, o que acabou gerando duas línguas portuguesas:
– o Português de Portugal, usando em Portugal e nos
demais países de língua portuguesa, e
– o Português do Brasil, que é adotado apenas no Brasil.
Em maio de 1986, os representantes dos 7 países que usam
o português como língua oficial se reuniram no Rio de Janeiro,
na Academia Brasileira de Letras, dando início aos trabalhos
que tinham como objetivo criar uma ortografia unificada para
a Língua Portuguesa. Desse encontro resultaram as bases do
Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, cujo texto foi
publicado no mesmo ano.
Entretanto, foram necessárias algumas alterações e
correções, que deram origem ao Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa de 1990, assinado em Lisboa, Portugal, no dia 16
de dezembro de 1990, não só por representantes de Brasil e
Portugal, mas também de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tomé e Príncipe.

1.2 Motivação e Objetivos

Um dos exemplos que motivaram a unificação da grafia


da língua portuguesa, e que foi bastante citado à época das
negociações, foi o caso da língua espanhola (ou castelhano) que,
apesar das diferenças de pronúncia e vocabulário entre Espanha
e os países da América, é regida por uma só norma ortográfica.
A língua portuguesa que, com cerca de 210 milhões
de falantes, é a 5ª língua mais falada no mundo e a 3ª no
ocidente, era dividida por duas grafias oficiais diferentes,
que davam origem ao Português de Portugal, usada
em Portugal e nosdemais países de língua portuguesa,
e ao Português do Brasil, exclusividade do Brasil.

reforma ortografica2.indd 8 16/3/2009 20:16:36


mergulhando no novo acordo ortográfico 9

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)


afirma que essa dupla grafia acaba limitando a dinâmica do
idioma, pois dificulta, não só a divulgação de informações e as
relações comerciais, como também a difusão cultural entre os
países de língua portuguesa, enfraquecendo a língua.
Além disso, no plano internacional, a falta de unidade
gráfica também enfraquece o prestígio do idioma, já que ele
acaba sendo tratado como duas línguas diferentes, exigindo
traduções diferentes para Brasil e Portugal. Isso dificultaria
a pretensão de se incluir a Língua Portuguesa como um dos
idiomas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU).
Assim, o objetivo é tornar a língua portuguesa mais forte,
facilitando o intercâmbio cultural entre os países da CPLP
(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e aumentando
seu prestígio internacional, o que possibilitaria sua entrada no
rol dos idiomas oficiais da ONU.

1.3 Acordo frustrado

Segundo o Acordo Ortográfico original, as mudanças


entrariam em vigor no dia 1º de janeiro de 1994, quando todos
os países envolvidos já deveriam ter ratificado a reforma.
Entretanto, apenas Brasil, Portugal e Cabo Verde ratificaram o
acordo a tempo e, assim, a reforma não chegou a entrar em vigor.
A partir de então, o Acordo passou por alguns protocolos
modificativos.

1.4 Protocolos Modificativos

O primeiro, de 1998, acabou com o prazo para ratificação.


Entretanto, manteve a necessidade de aprovação por todos os
países de língua portuguesa para que entrasse em vigor.
Em 2004, um novo protocolo modificativo foi assinado. Dessa
vez, foi estabelecido que bastaria a ratificação de três dos Estados
signatários para sua entrada em vigor. Além disso, foi permitida a
adesão de Timor-Leste, que só conseguira sua independência total
em 2002. Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificaram
esse protocolo modificativo, o que possibilitaria que a reforma
fosse oficializada em 1º de janeiro de 2007.

reforma ortografica2.indd 9 16/3/2009 20:16:36


10 tatiane santana

1.5 Sem Portugal não dá

Com a ratificação de Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe,


as novas normas já poderiam entrar em vigor nesses três países.
Entretanto, esses países consideraram fundamental que
Portugal aderisse à reforma para que as mudanças pudessem ser
implementadas com sucesso e o Acordo realmente cumprisse
seus objetivos.
Assim, depois de muitos adiamentos e de muitas críticas e
polêmicas, Portugal acabou ratificando o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa em 16 de maio de 2008, sendo o mesmo
sancionado pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco
Silva, em julho do mesmo ano.

1.6 Estatísticas

O Novo Acordo Ortográfico acarreta mudanças na grafia


de apenas 0,5% das palavras do vocabulário usado no Brasil.
Entretanto, em Portugal, esse percentual sobe para cerca de
1,6% das palavras usadas, o que representa mais que o triplo de
alterações. E isso explica a maior resistência dos portugueses
na adoção da nova ortografia, que, para alguns, é um mero
“abrasileiramento” da língua.
O Novo Acordo Ortográfico resolve 98% das diferenças
de grafia entre Brasil e Portugal. Para os outros 2%, foi criado
o critério da grafia dupla ou múltipla, pelo qual se pode optar
por uma ou outra grafia facultativamente.

1.7 Critérios

As bases da unificação da grafia se fundaram, em


grande parte, no critério fonético.

reforma ortografica2.indd 10 16/3/2009 20:16:36


mergulhando no novo acordo ortográfico 11

Assim, a grafia das palavras foi modificada tentando


aproximá-la da língua falada. Um exemplo claro disso é a
abolição das consoantes c e p mudas no Português de Portugal,
como nas palavras acção, adopção, óptima, director e baptizar
que passam a ser grafadas ação, adoção, ótima, diretor e
batizar, o que já havia acontecido no Brasil desde a reforma
de 1943.

1.8 Mudanças no Português do Brasil

As principais mudanças para o português escrito no Brasil


são a inclusão das letras K, W e Y no alfabeto, a abolição do
trema, a supressão de alguns acentos nas palavras paroxítonas
e, ainda, uma profunda reformulação das regras de uso do
hífen.
Veremos esses assuntos com mais detalhes em capítulos
específicos.

reforma ortografica2.indd 11 16/3/2009 20:16:36


reforma ortografica2.indd 12 16/3/2009 20:16:36
2. Mudanças na ortografia brasileira

2.1 Reintrodução do K, W e Y

A primeira modificação prevista pelo Acordo Ortográfico


diz respeito ao alfabeto, que é o conjunto de letras usadas
para grafar as palavras da língua. O alfabeto da Língua
Portuguesa, que até então possuía 23 letras, passa a ter 26.
Foram incorporadas as seguintes letras:

• K (cá ou capa) – letra oriunda do alfabeto fenício (kaph),


adotada pelos gregos (kapa) e depois pelos romanos
(capa).
• W (dábliu) – letra usada nas línguas inglesa, em que soa
como o “u”, e alemã, em que é pronunciada como “v”.
• Y (ípsilon) – letra com som de “i”.

Assim, nosso alfabeto passa a ter a seguinte formação:

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWX YZ
Talvez você já esteja pensando: – Ah! Fala sério! Essas
letras ainda não faziam parte de nosso alfabeto? Elas já
apareciam até nos dicionários!
Realmente, os dicionários sempre listaram as letras K, W e
Y, pois são usadas em siglas, abreviaturas e palavras de origem
estrangeira, e também palavras derivadas.

reforma ortografica2.indd 13 16/3/2009 20:16:36


14 tatiane santana

Até o início do século passado, essas três letras fizeram


parte do alfabeto da Língua Portuguesa, mas foram excluídas
desde 1911 em Portugal e desde 1943 no Brasil.
Entretanto, foram restauradas pelo novo acordo ortográfico
e agora passarão novamente a fazer parte de nosso alfabeto.
Mas você sabe por que resolveram trazer essas letras de volta?
São três os motivos apontados para a reintrodução das
letras K, W e Y em nosso alfabeto:

1º) os dicionários já registram as letras K, W e Y, justamente


por já existir uma quantidade razoável de palavras em nosso
vocabulário iniciadas por essas letras;
2º) é necessário fixar a ordem que essas letras ocupam no
alfabeto;
3º) nos países africanos de língua oficial portuguesa,
existem muitas palavras que se escrevem com K, W e Y.

Mas muitos se perguntam: – Bom... e na prática? Isso muda


alguma coisa? Haverá mudanças na grafia de alguma palavra?
Deverei escrever kilômetro ao invés de quilômetro?
Na prática, nada muda na grafia das palavras, pois a
reintrodução das letras K, W e Y em nosso alfabeto não
aumenta seu uso.
Para entender melhor, vamos voltar no tempo e procurar
entender o que aconteceu em 1943...
Pelo Acordo Ortográfico de 1943, ficou estabelecido que
as letras K, W e Y seriam excluídas do nosso alfabeto, e que
as palavras que até então eram grafadas com essas letras
sofreriam as seguintes modificações gráficas:

• o K seria substituído pelo dígrafo QU antes das vogais


E e I ou pela letra C nos demais casos.
• o W seria substituído por V ou U de acordo com o seu
valor fonético na palavra.
• o Y seria substituído pelo I.

reforma ortografica2.indd 14 16/3/2009 20:16:36


mergulhando no novo acordo ortográfico 15

O emprego das letras K, W e Y, entretanto, ainda seria


permitido em alguns casos especiais.
Agora, apesar de reintroduzir as letras K, W e Y em
nosso alfabeto, o n ovo Acordo Ortográfico não alterou sua
forma de uso, que continuou restrita apenas a esses poucos
casos especiais.

Casos Especiais para uso do K, W e Y

As letras K, W e Y são usadas em nomes próprios oriundos


de línguas estrangeiras, como nos exemplos abaixo:

• Byron, Darwin, Franklin, Taylor, Wagner, Wilson, Kardec,


Kathy, Shakespeare, Kuwait...

N as palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros grafados


com K, W e Y, essas letras são mantidas. Veja alguns exemplos:

• byroniano (relativo a Lord Byron, poeta inglês, autor da


obra Don Juan)
• kantismo (doutrina filosófica de Immanuel Kant,
filósofo alemão)
• kardecismo (doutrina espírita do pensador francês
Allan Kardec)
• kardecista (relativo ao kardecismo, seguidor dessa doutrina)
• kuwaitiano (indivíduo natural do Kuwait)

As letras K, W e Y também são usadas em siglas, símbolos


e palavras internacionalmente adotadas como:
• Siglas Internacionais:
TWA (Trans World Airlines); KLM (Koninklijke
Luchtvaart Maatschappij, em português: Companhia
Real de Aviação)
• Unidades de medida:
kg (quilograma); km (quilômetro); kw (quilowatt);
w (watt); yd (jarda, do inglês yard)
• Elementos Químicos:
K (Potássio); W (Tungstênio); Y (Ítrio); Kr (Criptônio)
• Pontos Cardeais:
W – oeste (West); SW – sudoeste (southwest); NW –
noroeste (northwest)

reforma ortografica2.indd 15 16/3/2009 20:16:37


16 tatiane santana

As letras K, W e Y também são usadas nas palavras de outras


línguas que acabaram se popularizando e se transformando
comuns em nossa comunicação, como:
• kit;
• software;
• delivery;
• coffee-break;
• sexy;
• marketing;
• show...

As letras K, W e Y, agora incorporadas ao nosso alfabeto,


também deverão ser usadas nas sequências de enumeração
compostas por letras:

a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) k) l) m) n) o) p) q) r) s) t) u) v) w) x) y) z)

Mas e quanto à classificação? É possível falar com


segurança que K e W são consoantes e que o Y é uma vogal?
As novas letras do alfabeto deverão ser classificadas
em vogais ou consoantes de acordo com a forma como são
pronunciadas nas palavras em que aparecem.
Assim, o K será sempre consoante, pois sempre é
pronunciado como o C antes das vogais A, O e U e como o
dígrafo QU antes de E e I.
Já o Y será vogal (ou semivogal), pois normalmente é
pronunciado como se fosse um I.
Entretanto, a letra W pode assumir o papel de vogal ou
consoante.
Por exemplo, nas palavras de origem inglesa, por ser
normalmente pronunciado como U, o W será vogal ou semivogal:

• waffle, Wallace, show, Wilson, Windows, watt (uóte)

reforma ortografica2.indd 16 16/3/2009 20:16:37


mergulhando no novo acordo ortográfico 17

Já nas palavras de origem alemã, o W normalmente é


pronunciado como um V, e, assim, será uma consoante:
• Walter; Wagner, Volkswagen

2.2 Supressão do trema

Agora é oficial. O trema foi abolido. Lembre-se que haverá


um período de transição até a adoção definitiva das novas
regras. Até lá, pode-se usar ou não o trema.
O trema é um dos diacríticos usados na língua portuguesa.
É constituído por dois pontos dispostos horizontalmente (¨).
Diacríticos são sinais gráficos usados para distinguir a
modulação das vogais ou para explicitar a pronúncia de certas
palavras. Veremos os diacríticos com mais detalhes no capítulo
sobre Acentuação Gráfica.
O trema é usado não só na Língua Portuguesa, mas também
em várias línguas. N ormalmente serve para alterar o som de
uma vogal ou para assinalar sua independência em relação à
vogal anterior.
Em algumas línguas, uma vogal com trema chega a ser
uma letra distinta no alfabeto.
Até agora, o trema era usado no Português Brasileiro
para indicar quando a letra U deveria ser pronunciada nas
combinações QUE, QUI, GUE e GUI.
É que o QU e GU seguidos de E e I normalmente são
dígrafos, ou seja, representam apenas um som.
Entretanto, em algumas palavras, o U é pronunciado, como
em “cinqüenta”. Repare que o trema usado sobre o U indica
que a pronúncia é “cincuenta”.
Para que o trema fosse usado, também era necessário que o
U fosse átono, ou seja, não fosse a vogal mais forte da palavra.

reforma ortografica2.indd 17 16/3/2009 20:16:37


18 tatiane santana

Se o U, além de estar numa das combinações QUE, QUI,


GUE, GUI, fosse tônico, deveria receber um acento agudo e não
o trema, como era o caso das palavras averigúe e argúi. Com
o novo acordo ortográfico, essas palavras também perderam o
acento agudo (veja mais em Acentuação Gráfica).
Há quem diga que o trema já havia sido abolido há muito
tempo...
O fato é que, até 1971, o trema também podia ser usado,
facultativamente, para indicar hiatos átonos.
Assim, era possível encontrar o trema sobre o “u” em
palavras como gaüchismo, para indicar que a pronúncia era
ga-u-chis-mo, e até mesmo sobre o “i” em palavras como
païsinho e paraïbano, para indicar a pronúncia pa-i-si-nho
(diminutivo de país) e pa-ra-i-ba-no.
Em poesias, era possível encontrar o trema até sobre o
“u” de “saüdade”, como um recurso poético para aumentar a
palavra em uma sílaba (sa-u-da-de).
Entretanto, o uso do trema para indicar hiatos átonos, por
ser facultativo, era tão raro que muitos nem conheciam essa
regra. Foi por isso que a reforma ortográfica de 1971 acabou
por extingui-lo nesses casos.
Com a reforma de 1971, muitos acharam que o trema havia
sido totalmente abolido da língua portuguesa no Brasil, assim como
havia acontecido em Portugal, na Reforma Ortográfica de 1945.
Mas, na verdade, aqui no Brasil, o trema havia sido mantido
para indicar o U pronunciado e átono nas combinações GUE,
GUI, QUE, QUI.
Entretanto, o boato de que o trema já havia sido
completamente extinto acabou ganhando corpo com o
desrespeito à regra por vários jornalistas que publicavam
seus artigos e reportagens em jornais e revistas de
circulação nacional. Muitos autores de livros também
ignoravam o uso do trema.

reforma ortografica2.indd 18 16/3/2009 20:16:37


mergulhando no novo acordo ortográfico 19

A alternância entre o uso do trema por alguns e o não uso


por outros acabou gerando muitas dúvidas e muitos não sabiam
se o trema ainda deveria ser usado ou não.
De qualquer forma, o Novo Acordo Ortográfico prevê
que o trema será definitivamente e oficialmente abolido da
ortografia portuguesa no Brasil.
N o entanto, ainda poderá ser usado em palavras
de origem estrangeira e derivadas, tais como Müller e
mülleriano, Hübner e hübneriano. Assim, nossa querida
Gisele, continuará a ser Bündchen, com trema. Além disso, o
Novo Acordo garante o direito de se manter a grafia original
com o trema nos casos de nomes próprios, de empresas e de
marcas com registro público.
Veja como fica a grafia de algumas palavras que até então
eram grafadas com o trema:

• aguentar, arguir, bilíngue, cinquenta, eloquente, equino,


frequentar, lingueta, linguiça, linguístico, tranquilo,
sequestro...

É importante saber que a pronúncia das palavras afetadas


pela supressão do trema não sofrerá alterações. O U continuará
a ser pronunciado nessas palavras, mesmo sem o trema.
Inclusive, os dicionários poderão indicar a pronúncia do U
nessas palavras usando o próprio trema, da seguinte forma:

• aguentar (gü), arguir (gü), bilíngue (gü), cinquenta


(qü), eloquente (qü), equidistante (qu ou qü), equino
(qü), frequentar (qü), lingueta (gü), linguiça (gü),
linguístico (gü), líquido (qu ou qü), tranquilo (qü),
sequestro (qü).

reforma ortografica2.indd 19 16/3/2009 20:16:37


20 tatiane santana

2.3 Acentuação Gráfica

2.3.1. O que é acentuação gráfica?

A acentuação gráfica consiste no uso de diacríticos sobre


as vogais para indicar um padrão prosódico menos comum em
relação ao restante das palavras da língua.
Achou complicado? N ão se preocupe! N as próximas linhas
você vai entender tudinho...
A acentuação gráfica consiste no uso de diacríticos sobre
as vogais...
Mas você sabe o que são diacríticos?
Diacríticos são justamente os sinais gráficos usados para
distinguir a modulação das vogais (aberta ou fechada) ou para
explicitar a pronúncia de certas palavras.
São diacríticos os acentos agudo, circunflexo e o grave,
além do til, trema e até mesmo o apóstrofo.

Acento Agudo (´)

O acento agudo é um sinal gráfico representado por um


pequeno traço oblíquo inclinado para a direita (´) que pode ser
sobreposto às vogais “a”, “e”, “i”, “o” e “u”.
A presença do acento agudo sobre o “i”, “u” e sobre o
“e” do grupo “em” indica que a vogal é tônica. Ex.: caí,
baú, também.
Quando sobre as vogais “a”, “e” e “o”, o acento agudo,
além de indicar que a vogal é tônica, também indica que a
pronúncia dessas vogais é aberta. Ex.: manacá, céu, café.

Acento Circunflexo (^)

O acento circunflexo, o famoso “chapeuzinho” (^), é usado


na língua portuguesa apenas sobre as vogais “a”, “e” e “o”.

reforma ortografica2.indd 20 16/3/2009 20:16:37


mergulhando no novo acordo ortográfico 21

O acento circunflexo pode ser usado sobre o “a” para


indicar que a vogal é tônica e nasalizada. Ex.: Atlântico,
câimbra (também grafada cãibra), câmara, lâmpada, pântano.
Já sobre o “e” e o “o”, o acento circunflexo indica que estas
são tônicas e a pronúncia é fechada. Ex.: pêssego, supôs.
Também pode ser usado para distinguir certas palavras,
como “tem” (singular) e “têm” (plural).

Acento Grave (`)

O acento grave é um sinal gráfico representado por um


pequeno traço oblíquo inclinado para a esquerda (`), e tem seu
uso bastante limitado na língua portuguesa.
O acento grave, que, na Língua Portuguesa, só pode ser
colocado sobre a vogal “a”, serve apenas para indicar a crase,
ou seja, a contração da preposição “a” com o artigo “a” (à) ou
com o “a” de adjetivos ou pronomes demonstrativos: a (à),
aquele (àquele), aquela (àquela), aqueles (àqueles) , aquelas
(àquelas) e aquilo (àquilo).

Til (~)

O til, também conhecido como “cobrinha” (~), não é


propriamente um acento.
N a Língua Portuguesa, o til só é utilizado nas vogais
“a” e “o” para indicar sua nasalização. Assim aparece
na vogal nasal ã e nos ditongos nasais: ãe, ãi, ão e õe.
Ex.: ímã, maçã, mãe, cãibra (também grafada câimbra),
órgão, expõe, corações.
Atenção: Nem sempre o til indica que a vogal é tônica.

Ex.: ímã, órgão, órfãos

reforma ortografica2.indd 21 16/3/2009 20:16:37


22 tatiane santana

Apóstrofo (’)

O apóstrofo (não confunda com apóstrofe, que é uma


figura de estilo) é representado por uma vírgula invertida que
é colocada ao lado de uma letra, na parte superior (’).
O apóstrofo não é um acento gráfico. Ele é usado para
indicar a supressão de fonemas, como em d’água (de água),
Vozes d’África (da África) e Santa Bárbara D’Oeste (do
Oeste). Essa supressão de fonemas recebe o nome de elisão.

Trema (¨)

O trema é constituído por dois pontos dispostos


horizontalmente (¨) e tinha como única função indicar que o
“u”, nos grupos gue, gui, que, qui, era pronunciado e átono.
Ex.: ungüento, sagüi, seqüestro, eqüino
Entretanto, como vimos no capítulo anterior, o uso do trema
na língua portuguesa está com os dias contados. É que com o
Novo Acordo Ortográfico, o trema poderá deixar de ser usado
já a partir de 2009 e a partir de 2013 será totalmente abolido
da língua portuguesa no Brasil. Lembramos que no Português
de Portugal, este sinal já fora abolido desde 1945.

Recapitulando...

A acentuação gráfica consiste no uso de diacríticos (sinais


gráficos) sobre as vogais. Até aí tudo bem, não é?
Mas, além disso, dissemos que esses sinais servem para
indicar um padrão prosódico menos comum em relação ao
restante das palavras da língua.

E o que é esse tal de “padrão prosódico”?

A prosódia é a parte da gramática que trata da pronúncia


correta das palavras. Assim, um padrão prosódico nada mais é
do que um padrão de pronúncia.

reforma ortografica2.indd 22 16/3/2009 20:16:37


mergulhando no novo acordo ortográfico 23

Dessa forma, podemos concluir que só são acentuadas as


palavras nas quais a pronúncia foge ao padrão.
A acentuação gráfica serve justamente para indicar como
essas palavras que fogem ao padrão devem ser pronunciadas.
Você deve estar pensando: – Ah, tá! Mas... E como ficamos
sabendo quais são os padrões prosódicos então?
De forma bem simplificada, o padrão prosódico da língua
portuguesa pode ser resumido assim:
• as palavras, em sua grande maioria, são naturalmente
paroxítonas (paroxítona é a palavra cuja sílaba tônica é a
penúltima).
• entretanto, algumas terminações específicas são tônicas,
fazendo com que a palavra seja naturalmente oxítona
(oxítona é a palavra cuja sílaba tônica é a última).

Assim, as palavras que estão de acordo com este padrão


prosódico normalmente não são acentuadas.

2.3.2. Regras de acentuação gráfica

A partir de agora, veremos quando será necessário usar os


sinais gráficos (diacríticos) citados.
Grande parte das regras exige que se observe a classificação
da palavra de acordo com a localização da sílaba tônica
(oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas) e sua terminação.
Também há regras que levam em consideração a ocorrência
de encontros vocálicos (ditongos e hiatos).
Finalmente, alguns poucos acentos servem apenas para
diferenciar palavras que são grafadas da mesma maneira
(homógrafas).
Todas as regras expostas serão comentadas de acordo com
o Novo Acordo Ortográfico, explicitando o que mudou e o que
continua sem alteração.

reforma ortografica2.indd 23 16/3/2009 20:16:37


24 tatiane santana

É importante lembrar que durante o período de adaptação,


que vai do início de 2009 ao final de 2012, serão aceitas,
concomitantemente, tanto a grafia anterior ao acordo como a
grafia já com as novas modificações.

2.3.3. Acentuação das Proparoxítonas, Paroxítonas e Oxítonas

Padrão Prosódico

Em geral, palavras terminadas em A, E, O, EM e ENS são


paroxítonas. Essas representam a grande maioria das palavras
da língua portuguesa. Veja alguns exemplos (o negrito marca
a sílaba tônica e o sublinhado a terminação):

• caneta, banana, intensidade, canivete, pato, calado,


correm, dizem, jovens, nuvens

Já as palavras terminadas em I e U, Ã, ÃO, ÃE e ÕE, e


em ditongos orais, seguidos ou não de S, normalmente são
oxítonas, assim como aquelas terminadas em L, N, R, X e PS:

• caqui(s), tatu(s), maçã(s), corrimão(s), mamãe(s),


compõe, limões;
• cacau(s), passou, mediu, fedeu, ganhei, mortais,
animais;
• papel, interferon (termo bioquímico), correr, andar,
contrapor, inox...

Acentuação das Proparoxítonas

Mas há palavras que, a despeito de sua terminação,


são proparoxítonas, ou seja, têm a sílaba tônica na
antepenúltima posição.

reforma ortografica2.indd 24 16/3/2009 20:16:37


mergulhando no novo acordo ortográfico 25

As proparoxítonas, também chamadas de esdrúxulas,


formam o menor e mais restrito grupo de palavras em relação
à posição da sílaba tônica.
Para que sejam identificados, todos os vocábulos
proparoxítonos (sem exceção) são acentuados em sua
vogal tônica.
Lembramos que o N ovo Acordo Ortográfico não
trouxe modificações nas regras para a acentuação desse
grupo de palavras.
Assim, usa-se o acento agudo nas proparoxítonas se a vogal
tônica for A, E ou O, estas abertas, e também I ou U:

• xícara, úmido, queríamos, lágrima, término, déssemos,


lógico, binóculo, colocássemos, inúmeros, polígono,
álcool, bígamo, bárbaro, cálice, chácara, cúpula, déspota,
fúnebre, hálito, náufrago, sílaba, taquígrafo, técnico,
vértice, vermífugo etc.

Já o acento circunflexo é usado nas proparoxítonas quando


as vogais A, E e O da sílaba tônica forem fechadas ou nasais:

• ângulo, êxodo, lâmpada, pêssego, esplêndido, cândido,


cônjuge, pêndulo, lêssemos, estômago, sôfrego, fôssemos,
quilômetro, sonâmbulo, ônibus, etc.

Lembramos que o acento também deve ser usado nos


nomes próprios proparoxítonos. Assim, os seguintes nomes,
dentre outros, devem ser acentuados:

• Ânderson, Ângela, Ângelo, Angélica, Émerson, Eurídice,


Éverton, Orígenes, Róbinson, Rosângela

reforma ortografica2.indd 25 16/3/2009 20:16:37


26 tatiane santana

Também os verbos proparoxítonos devem ser acentuados:


• Lembro do tempo em que saíamos juntos.
• Se fôssemos inteligentes, não teríamos caído no
golpe.
• N ão tínhamos nada a perder.
• Lavávamos as roupas no rio.
• Queríamos provar a todos que poderíamos chegar ao
ponto mais alto da montanha.
• N ós gostaríamos de contar com a sua presença.
Veja abaixo uma compilação de pares de exemplos
encontrada em vários sites na internet que permite observar a
importância da acentuação gráfica para informar a pronúncia
correta das proparoxítonas:
• Meu pai sempre pacifica seus netos. / Sua família é
pacífica e ordeira.
• Ela critica seu modo de cozinhar. / Ela é uma pessoa
muito crítica.
• N ão publico meus discursos agora, mas no futuro o
farei. / N ão costumo ir a nenhum parque público.
• Sempre me exercito de manhã cedo. / O menino tem
um exército de brinquedo.
• Pratica bastante, que aprenderás logo. / A prática é
diferente da teoria.
• Espero que o cantor interprete minhas favoritas. /
O embaixador solicitou um intérprete.
• Será que você não duvida de nada? / Qual é a sua
dúvida agora?
• N ão habito no paraíso dos meus sonhos. / O hábito
não faz o monge.
• O trânsito vitima milhares de pessoas por ano no
Brasil. / A população é a vítima.
• Peço que analises estas amostras de sangue. / As
análises serão feitas no laboratório.
• Já nem calculo quanto tempo perdi. / Fez o cálculo da
areia necessária para a construção.

reforma ortografica2.indd 26 16/3/2009 20:16:37


mergulhando no novo acordo ortográfico 27

• Eu mesma digito meus artigos. / O dígito verificador foi


calculado de maneira errada.
• A bandeira tremula ao gosto do vento. / Fez a assinatura
com mão trêmula.
• Jamais trafego à margem da rodovia. / Evito os percursos
de tráfego mais pesado.
• Todo verão a loja liquida seus estoques. / Prefiro
medicação líquida a comprimidos.

Acentuação das Paroxítonas

Agora falaremos sobre as paroxítonas, palavras cuja sílaba


tônica é a penúltima, e que formam o maior grupo de vocábulos
da língua portuguesa.
Como veremos a seguir, o Novo Acordo Ortográfico também
não trouxe alteração para as palavras que são acentuadas por
serem paroxítonas.
Atenção: Muitas palavras paroxítonas foram afetadas
pelo Novo Acordo Ortográfico, mas não apenas por serem
paroxítonas, mas por envolverem a presença de encontros
vocálicos (ditongos ou hiatos) ou nos casos de acentos
diferenciais, o que veremos mais à frente.
A partir de agora analisaremos os casos em que as palavras
paroxítonas devem ser acentuadas com acento agudo (vogais
I e U, e A, E e O abertas) ou circunflexo (vogais A, E e O
fechadas) de acordo com a sua terminação.
Devem ser acentuados os vocábulos paroxítonos
terminados em ditongo crescente, seguido, ou não, de s. Essa
regra já existia e foi mantida pelo Novo Acordo Ortográfico.
Veja alguns exemplos:

• sábio, róseo, Gávea, planície, nódoa, régua, árdua,


espontâneo, ânsia, decência, boêmia, ciência, cerimônia,
tênues, errôneo, ingênuo, azáleas, vitórias, calvície,
espécie, colégio, estádio, ginásio, pátios, amêndoas,
páscoa, mágoas, água, tênue, contínuo, ingênuo etc.

reforma ortografica2.indd 27 16/3/2009 20:16:38


28 tatiane santana

Também levam acento agudo ou circunflexo, conforme


o caso, os vocábulos paroxítonos terminados em -i, -is, -us,
-um, -uns. Esta é outra regra mantida pelo N ovo Acordo
Ortográfico. Veja:

• táxi(s), júri(s), biquíni(s), grátis, tênis, lápis, oásis,


bônus, vírus, Vênus, álbum, álbuns, médium, médiuns,
fórum, fóruns, húmus...

Mais uma regra que permaneceu após o N ovo Acordo


Ortográfico é a que indica que as palavras paroxítonas
terminadas em -l, -n, -r, -x, -ons e -ps devem ser acentuadas.
Veja alguns exemplos:

• afável, ágil, desejável, hábil, níquel, solúvel, túnel,


volúvel, fácil, móvel, cônsul;
• hífen, pólen, cânon, abdômen, éden, sêmen, elétron,
próton, nêutron;
• revólver, vômer, mártir, açúcar, cadáver, caráter,
néctar;
• látex, fênix, Félix, tórax;
• elétrons, prótons, nêutrons;
• bíceps, tríceps, fórceps...
Os prefixos paroxítonos terminados em -r e -i não eram e
continuarão a não ser acentuados. Confira:

• super-homem, inter-regional, hiper-requintado


• anti-inflamatório, anti-herói, arqui-inimigo

Atenção: o Novo Acordo Ortográfico mudou as regras para


o uso do hífen. Esse assunto será tratado mais à frente, em
um capítulo específico.

reforma ortografica2.indd 28 16/3/2009 20:16:38


mergulhando no novo acordo ortográfico 29

Mais uma regra mantida pelo Novo Acordo Ortográfico:


são acentuadas as paroxítonas terminadas em -ei, -eis. Veja:

• jóquei, hóquei, vôlei;


• fósseis, úteis, fizésseis, lêsseis, fáceis, túneis...

Também continuam acentuadas as paroxítonas terminadas


em -ã, -ãs, -ão, -ãos.
Confira alguns exemplos:

• ímã, ímãs, órfã, órfãs


• órgão, órgãos, bênção, bênçãos

Acentuação das Oxítonas

Agora, vamos conhecer as regras de acentuação para o


grupo das oxítonas, palavras cuja sílaba tônica é a última.
O Novo Acordo Ortográfico não alterou as regras de
acentuação das oxítonas. Entretanto, trouxe uma pequena
novidade.
Até 2008, o grupo das oxítonas era formado apenas pelas
palavras com mais de duas sílabas.
A partir do Acordo, os monossílabos tônicos passam a fazer
parte do grupo dos vocábulos oxítonos. A vantagem é que,
com isso, unificaram-se as regras de acentuação para oxítonos
e monossílabos tônicos.
Serão acentuadas as palavras oxítonas terminadas com as
vogais A, E e O, seguidas ou não de S. Levarão o acento agudo
quando a pronúncia for aberta, e acento circunflexo quando a
pronúncia for fechada. Veja alguns exemplos:

• Terminadas em -a(s):
ás (substantivo), há, pá, pás, má, más, gás, está, Pará,
vatapá, cajá, quiçá, Satanás, xará, xarás, gambá, será,
serás (Atenção: o monossílabo pra, redução de para
(preposição), não é acentuado)

reforma ortografica2.indd 29 16/3/2009 20:16:38


30 tatiane santana

• Terminadas em -e(s):
pé, pés, dê, dês, mês, três, crê, pajé, através, cortês,
Tietê, você, freguês, café, jacarés

• Terminadas em -o(s):
só, nó, nós, pôs, jiló, supôs, paletó, cipó, mocotó,
vovô, avós, vovó, após, dominó

Dica importante: Devem ser acentuadas também as


formas verbais oxítonas terminadas com as vogais A, E e
O, seguidas de pronomes complementos -lo, -la, -los, -las
(pronomes pessoais do caso oblíquo).

• Terminadas em -a:
amá-lo, louvá-la, acompanhá-las, fá-lo-ás, ouvi-la-ás,
desejá-los-íamos...
• Terminadas em -e:
conhecê-lo, vê-la, movê-los, percebê-las, convencê-los,
resolvê-la-íeis...
• Terminadas em -o:
compô-lo, dispô-la, propô-los, repô-las, indispô-lo-emos...

Devem ser acentuados os vocábulos oxítonos com duas


ou mais sílabas terminados em EM, ENS. Veja:

• além, desdém, alguém, vintém, também, ninguém,


armazém;
• armazéns, parabéns, tu conténs, tu provéns...

Assim, não são acentuados os monossílabos terminados


em EM, ENS:

• quem, bem, bens, cem, trem, trens, sem...

reforma ortografica2.indd 30 16/3/2009 20:16:38


mergulhando no novo acordo ortográfico 31

Mais um detalhe sobre as oxítonas terminadas em EM:


N os verbos ter e vir, monossílabos, foi mantido o acento
diferencial para indicar o plural dos verbos ter e vir na 3ª
pessoa do presente do indicativo:
• Singular: Ele tem, vem
• Plural: Eles têm, vêm

Já nos verbos derivados de ter e vir (manter, deter, reter,


conter, convir, intervir, advir etc.), que flexionados na 3ª
pessoa do presente do indicativo teriam mais de uma sílaba e
terminariam com -em e, por isso, seriam acentuados, foi feita
uma distinção entre as formas no singular e no plural.
N o singular, é usado o acento agudo, e no plural, usa-se o
acento circunflexo:

Verbos derivados de ter:


• Singular: Ele contém, detém, obtém, retém, mantém etc.
• Plural: Eles contêm, detêm, obtêm, retêm, mantêm etc.

Verbo derivados de vir:


• Singular: Ele convém, intervém, provém, sobrevém etc.
• Plural: Eles convêm, intervêm, provêm, sobrevêm etc.

2.3.4. Acentuação de Ditongos e Hiatos

É importante observar que só foram alteradas pelo Novo


Acordo Ortográfico as regras especiais de acentuação para
ditongos e hiatos em palavras paroxítonas. As palavras oxítonas
(e as proparoxítonas) não sofreram modificações.
Antes de continuar, é importante conhecer os encontros
vocálicos, principalmente os ditongos e hiatos. Para isso,
é imprescindível conseguir diferenciar uma vogal de uma
semivogal.

reforma ortografica2.indd 31 16/3/2009 20:16:38


32 tatiane santana

Vogal

As vogais, que podem ser representadas pelas letras A, E,


I, O e U, sempre desempenham o papel de núcleo das sílabas.
Assim, em toda sílaba há, necessariamente, uma única vogal.

Semivogal

As semivogais podem ser representadas pelas letras E, I, O


e U, sendo que as letras E e O, quando semivogais, apresentam
som de I e U respectivamente.
As semivogais sempre acompanham alguma vogal, com
a qual formam uma sílaba. Desta forma, as semivogais nunca
aparecerão sozinhas na sílaba e nem serão seu núcleo, que é
sempre uma vogal.

Diferenciando as Vogais das Semivogais

Como as letras que representam as semivogais são


as mesmas que representam as vogais, pode haver certa
dificuldade para diferenciá-las, mas para isso basta atentar
para o seguinte:
Se, em determinada sílaba, só há uma letra que representa
vogal (A, E, I, O ou U), esta é, necessariamente, uma vogal,
pois as semivogais não aparecem sozinhas na sílaba, mas
apenas acompanhadas por uma vogal.
Outra dica simples é observar se na mesma sílaba houver
uma letra A e outra letra que representa semivogal, pois dessa
forma, esta outra será semivogal, pois o A sempre será vogal.
As vogais sempre possuem som mais forte em relação às
semivogais. Assim, se na mesma sílaba houver duas ou três
letras que representam semivogais (E, I, O e U), a vogal será
sempre a que tiver som de E ou O (som mais forte), enquanto as
semivogais serão as que têm som de I ou U (som mais fraco).

reforma ortografica2.indd 32 16/3/2009 20:16:38


mergulhando no novo acordo ortográfico 33

Caso haja uma sequência de letras que representam vogais


e os sons de I e U sejam tão fortes como os outros sons (A, E e
O), estas letras não estarão na mesma sílaba, formando, então,
um hiato.

Encontros Vocálicos

Os encontros vocálicos são agrupamentos de vogais e


semivogais, sem consoantes intermediárias.
Existem 3 tipos de encontros vocálicos: ditongos,
tritongos e hiatos.
Ditongo é o encontro de uma vogal com uma semivogal ou de
uma semivogal com uma vogal. Em ambos os casos, vogal e
semivogal pertencem a uma mesma sílaba.
Exemplos: água, qual, mágoa, glória, mandioca, pátria,
sério, moita, cai, mói, mãe, céu, caule.
Tritongo é a seqüência formada por uma semivogal, uma vogal
e uma semivogal, sempre nesta ordem. O tritongo pertence a
uma única sílaba:
Exemplos: Pa-ra-guai, quão
Hiato é o encontro de duas vogais numa mesma palavra. Como
em uma sílaba só pode haver uma única vogal, os hiatos são
sempre separados na separação silábica.
Exemplos: sa-í-da, ru-im, pa-ís, ci-ú-me.

Acentuação de Ditongos

Ditongos Abertos

A regra que dispõe que as palavras oxítonas com os ditongos


abertos éis, éu(s) e ói(s) são acentuadas não foi alterada pelo
Novo Acordo Ortográfico.

reforma ortografica2.indd 33 16/3/2009 20:16:38


34 tatiane santana

Assim, continuam a ser acentuadas, entre outras, as


seguintes palavras:
• -éis
anéis, fiéis, papéis, réis
• -éu(s)
céu(s), chapéu(s), Ilhéus, véu(s)
• -ói(s)
corrói (corroer), herói(s), remói (remoer), dói (doer),
sóis (plural de sol)

Entretanto, houve mudanças em relação à acentuação dos


ditongos abertos da sílaba tônica das palavras paroxítonas.
Os ditongos abertos representados por -ei- e -oi-, que antes
do Novo Acordo Ortográfico eram acentuados, perderam o
acento. Assim, veja como ficou a grafia dessas palavras sem
o acento:
• -ei-
assembleia, boleia (do caminhão), ideia
• -oi-
alcaloide, (eu) apoio (verbo apoiar), heroico, jiboia,
paranoia, paranoico

Repare que só as paroxítonas perderam o acento. As


oxítonas não.
Assim, herói mantém o acento, mas heroico perde.
Também é importante observar que os ditongos abertos da
sílaba tônica das palavras paroxítonas não perderão o acento
caso haja outra regra que o justifique.

Veja as palavras abaixo:


• Méier, destróier

Elas mantêm o acento, pois são paroxítonas terminadas


em -r.

reforma ortografica2.indd 34 16/3/2009 20:16:38


mergulhando no novo acordo ortográfico 35

Hiato ee

Outra mudança importante trazida pelo N ovo Acordo


Ortográfico é a perda do acento circunflexo na flexão dos
verbos do conhecido acrônimo credelevê (crer, dar, ler e ver)
e derivados.
Agora, quando surge o ee (-e tônico fechado + terminação
-em), o primeiro e não é mais acentuado como costumava ser.
Veja como fica daqui pra frente:

• Eles creem em Deus.


• N ão quero que eles deem comida aos animais.
• Os meninos não leem esse tipo de livro.
• Vocês não veem que estamos afundando?

Hiato oo

Com o Novo Acordo Ortográfico, também perde o acento


circunflexo o o tônico do hiato oo nas palavras paroxítonas.
Veja como deverão ser grafadas essas palavras a partir de
agora:

• N avegar me dá muito enjoo. (substantivo)


• Eu me enjoo de tanto comer doces. (verbo)
• É um voo curto, de apenas 15 minutos. (substantivo)
• Todo fim de semana voo para Petrópolis. (verbo)

Sabemos que, como regra geral, não devem ser acentuadas


as palavras oxítonas terminadas em -i(s), -u(s), como: aqui,
juriti, juritis, saci, bambu, bambus, zebu, puni-los, reduzi-los
etc. Mas essa regra tem exceções...
É que o I e o U das oxítonas, quando tônicos, se precedidos
de vogal átona com a qual formem hiato e não formarem sílaba
com outra consoante que não seja o S, serão acentuados.

reforma ortografica2.indd 35 16/3/2009 20:16:38


36 tatiane santana

Veja alguns exemplos:


• Quando ele chegou, eu saí.
• Você conhece os rios Piraí e Jaú?
• Luís passou as férias na cidade de Jacareí, em São
Paulo.
• Eu fui para Camboriú, em Santa Catarina.
• Todas as minhas lembranças estão neste(s) baú(s).

Dica importante: Também devem ser acentuadas as


formas verbais oxítonas terminadas em -i tônico, precedido
de vogal átona com a qual forme hiato, seguidas de pronomes
complementos -lo, -la, -los, -las. Veja:

• Você precisa atraí-la para a armadilha.


• Atraí-los-ia para a mata, mas me perdi.
• Possuí-la para quê? Essa peça de nada serve. Está
quebrada.
• Possuí-las-ia neste momento se não fosse tão
incompetente.

Também é importante observar que o I e U tônicos das


oxítonas também serão acentuados quando precedidos de
ditongo, desde que, como nos casos anteriores, não formem
sílaba com outra consoante que não o S. Veja:

• Estive no Piauí semana passada.


• Olha! Um tuiuiú! Um só, não! Há vários tuiuiús!

E essa regra, de que o I e o U, quando tônicos, serão


acentuados quando precedidos de vogal átona com a qual
formem hiato, também vale quando eles estão no meio
da palavra, desde que não sejam seguidas de N H e nem
formem sílaba com a eventual consoante seguinte, a menos
que seja um S.

reforma ortografica2.indd 36 16/3/2009 20:16:38


mergulhando no novo acordo ortográfico 37

Atenção: apesar de atingir também as palavras paroxítonas,


essa regra não foi alterada pelo Novo Acordo Ortográfico, que
manteve o acento. Veja:
• Elas atraíam todos os olhares.
• Saí rápido, antes que atraísse a atenção de todos.
• Luíza gosta de chá sem cafeína.
• N ão tenho ciúmes de você!
• Minha filha é muito egoísta.
• Quando se encontram, sai até faísca.
• N ão era miúdo nem graúdo. Era médio.
• Aqui é o paraíso dos juízes de futebol.
• Tive uma recaída: comi um sanduíche.
• Você não respeita nem suas raízes.
• N ão vejo saída para minha ruína.

Veja também alguns exemplos em que o I e U tônicos,


precedidos de vogal átona com a qual formem hiato, não são
acentuados por formarem sílaba com a consoante seguinte ou
serem seguidos por N H:

• Luiz não é tão ruim assim. Ruins somos nós.


• Ainda que triunfe, não conseguirá a felicidade.
• Raul quer apenas atrair a atenção do juiz.
• Você não pode influir em nossa decisão.
• Conheço bem essa raiz.
• Preciso fazer a bainha da minha calça.
• Águas passadas não movem moinhos.
• Abigail foi coroada a rainha da bateria.

Regra modificada: Com o Novo Acordo Ortográfico, o I e


U tônicos das paroxítonas não mais serão acentuados quando
precedidos de ditongo, mesmo que estejam sozinhos na sílaba
ou apenas acompanhados pelo S.

reforma ortografica2.indd 37 16/3/2009 20:16:38


38 tatiane santana

Veja alguns exemplos:


• Ele está bebendo na baiuca da esquina.
baiuca: taverna pequena e suja, frequentada pela ralé;
bodega.
• N asci na cidade de Bocaiuva, mas moro em Belo
Horizonte.
• Aqui há muitas bocaiuvas.
bocaiuva: espécie de coqueiro do Brasil.
• N ossa! Que coisa horrorosa! N unca vi tanta feiúra!
• Aquele rapaz ensina sobre o taoismo.
taoismo: doutrina filosófico-religiosa, cuja noção
fundamental é o Tao (caminho), que designa o grande
princípio de ordem universal.

2.3.5. Verbos terminados em guir/quir (u pronunciado) e guar/


quar

Uma modificação importante trazida pelo Novo Acordo


Ortográfico tem a ver com os verbos terminados em GUIR e QUIR
(com o U pronunciado) e GUAR e QUAR, como arguir, delinquir,
aguar, apaniguar, apaziguar, averiguar, desaguar, enxaguar e
obliquar, mas apenas nas conjugações do presente do indicativo e
presente do subjuntivo e em suas formas rizotônicas.
Lembramos que as formas verbais rizotônicas são aquelas
em que a sílaba tônica está no radical, na raiz do verbo,
enquanto as arrizotônicas são aquelas em que a sílaba tônica
está fora do radical.
Mas você sabe o que é o radical de um verbo?
Radical é a parte que contém a significação básica do
verbo. N ormalmente ela se repete em todos os modos e tempos
na conjugação de verbos regulares, sem sofrer modificações.
O radical pode vir ou não acompanhado de prefixo. Para obter
o radical de um verbo, basta eliminar as duas últimas letras
(terminações) do infinitivo.

reforma ortografica2.indd 38 16/3/2009 20:16:39


mergulhando no novo acordo ortográfico 39

Assim, no verbo pular, o radical é pul-:

• pulasse
• pulei
• pulou
• pulamos

Veja outros exemplos de verbos e seus radicais:

• estudar
• amar
• cantar
• vender
• beber
• esconder
• permitir
• partir
• proibir

N os verbos terminados em GUIR e QUIR com U pronunciado,


e também nos terminados em GUAR e QUAR, nas conjugações
do presente do indicativo e do presente do subjuntivo, o U dos
grupos GU e QU, nas formas rizotônicas, formava hiato com a
vogal posterior, e recebia o acento agudo.
Já nas arrizotônicas, o U era pronunciado, mas não era
tônico. Assim, formava ditongo crescente com a vogal posterior
e recebia o trema.
Com o Novo Acordo Ortográfico, nas formas arrizotônicas,
o U dos grupos GU e QU desses verbos, quando precedido de
E e I, perde o trema, já que este foi abolido.
Entretanto, o U continua a ser pronunciado. Veja:

• nós arguímos...
• vós arguís...

reforma ortografica2.indd 39 16/3/2009 20:16:39


40 tatiane santana

Além disso, nos verbos terminados em GUIR com o


U pronunciado, como arguir, as formas rizotônicas dos
dois presentes também perdem o acento agudo, apesar de
continuarem sendo pronunciadas da mesma forma. Repare
que essas formas verbais que perderam o acento também são
paroxítonas:

Presente do Indicativo:
Eu arguo (arGUo)
Tu arguis (arGUis)
Ele argui (arGUi)
Eles arguem (arGUem)

Presente do Subjuntivo:
Que eu argua (arGUa)
que tu arguas (arGUas)
que ele argua (arGUa)
que eles arguam (arGUam)

Já os verbos terminados em QUIR, GUAR e QUAR


poderão ser conjugados de duas formas diferentes nas formas
rizotônicas:

• com o U do grupo GU ou QU tônico, mas sem acento


agudo; ou
• com acento agudo no A ou I do radical.

As formas arrizotônicas não sofreram modificação.


Veja a seguir como serão as duas formas de conjugar os
verbos terminados em QUIR, GUAR e QUAR no presente do
indicativo e presente do subjuntivo.

reforma ortografica2.indd 40 16/3/2009 20:16:39


mergulhando no novo acordo ortográfico 41

Verbo DELINQUIR

Presente do Indicativo:
Eu delinquo (delinQUo) ou delínquo
(u pronunciado, mas sem trema)

Tu delinques (delinQUes) ou delínques


(u pronunciado, mas sem trema)

Ele delinque (delinQUe) ou delínque


(u pronunciado, mas sem trema)

N ós delinquimos (u pronunciado, mas sem trema)

Vós delinquis (u pronunciado, mas sem trema)

Eles delinquem (delinQUem) ou delínquem


(u pronunciado, mas sem trema)

Presente do Subjuntivo:
que eu delinqua (delinQUa) ou delínqua

que tu delinquas (delinQUas) ou delínquas

que ele delinqua (delinQUa) ou delínqua

que nós delinquamos (sem modificação)

que vós delinquais (sem modificação)

que eles delinquam (delinQUam) ou delínquam

reforma ortografica2.indd 41 16/3/2009 20:16:39


42 tatiane santana

Verbo AVERIGUAR
Presente do Indicativo:
Eu averiguo (averiGUo) ou averíguo
Tu averiguas (averiGUas) ou averíguas
Ele averigua (averiGUa) ou averígua
Nós averiguamos (sem modificação)
Vós averiguais (sem modificação)
Eles averiguam (averiGUam) ou averíguam

Presente do Subjuntivo:
que eu averigue (averiGUe) ou averígue
(u pronunciado, mas sem trema)
que tu averigues (averiGUes) ou averígues
(u pronunciado, mas sem trema)
que ele averigue (averiGUe) ou averígue
(u pronunciado, mas sem trema)
que nós averiguemos (u pronunciado, mas sem trema)
que vós averigueis (u pronunciado, mas sem trema)
que eles averiguem (averiGUem) ou averíguem
(u pronunciado, mas sem trema)

Verbo OBLIQUAR

Presente do Indicativo:
Eu obliquo (obliQUo) ou oblíquo
Tu obliquas (obliQUas) ou oblíquas
Ele obliqua (obliQUa) ou oblíqua
Nós obliquamos (sem modificação)
Vós obliquais (sem modificação)
Eles obliquam (obliQUam) ou oblíquam

reforma ortografica2.indd 42 16/3/2009 20:16:39


mergulhando no novo acordo ortográfico 43

Presente do Subjuntivo:
que eu oblique (obliQUe) ou oblíque
(u pronunciado, mas sem trema)
que tu obliques (obliQUes) ou oblíques
(u pronunciado, mas sem trema)
que ele oblique (obliQUe) ou oblíque
(u pronunciado, mas sem trema)
que nós obliquemos (u pronunciado, mas sem trema)
que vós obliqueis (u pronunciado, mas sem trema)
que eles obliquem (obliQUem) ou oblíquem
(u pronunciado, mas sem trema)
Observação importante: os verbos distinguir e extinguir,
apesar de terminarem em GUIR, não têm o U pronunciado,
e assim são conjugados regularmente como outros verbos
regulares terminados em -ir.

2.3.6. Acentos Diferenciais

A regra geral é que não se usa o acento gráfico para


diferenciar palavras homógrafas (com a mesma grafia),
mas heterofônicas (com pronúncias diferentes). Veja alguns
exemplos de palavras homógrafas que diferem na pronúncia
por terem uma vogal aberta ou fechada, mas não recebem
acento diferencial:

• Eu acerto o alvo. / Foi apenas um acerto de contas.


• Eu acordo cedo. / N ão conseguiram entrar num
acordo.
• Uma cerca de arame farpado cerca a fazenda.
• Eu coro de vergonha de cantar no coro da igreja.
• Tu deste ao menino as cordas deste violão?
• O rapaz fora mandado para fora do escritório.
• N ão sou piloto profissional, mas piloto bem.

reforma ortografica2.indd 43 16/3/2009 20:16:39


44 tatiane santana

Entretanto, havia algumas exceções (pelo menos até


2008):

• Dentre todas as cartas do baralho, o ás é a mais


valiosa no jogo de pôquer.
• Ele não pára de perguntar que dia vou para São
Paulo.
• Ele péla o cachorro começando pela cabeça.
• Eu pélo o bichinho começando a raspar o pêlo pelo
rabo.
• Ele sempre pôde, e até hoje ainda pode.
• É impossível jogar pólo no Pólo N orte polo (forma
antiga de pelo) frio que faz daquela região.
• Comi uma pêra de manhã. Falam que faz bem
pera saúde.
Obs. 1: pera é uma preposição antiga, que já deixou
de ser usada, sinônimo de para.
Obs. 2: repare que apenas pêra (no singular) recebia
o acento circunflexo. Peras (no plural) já era grafada
sem acento.
• É preciso pôr um capacete para andar por baixo dos
andaimes.
• Ela tem um quê de ternura. Espero que não demore.
• Você sabe o porquê disso? É porque você foi embora!

O Novo Acordo Ortográfico eliminou o acento diferencial


em alguns casos, e o manteve em outros.
Com o Novo Acordo Ortográfico, deixam de ter acento
gráfico as palavras paroxítonas que são homógrafas e
heterofônicas de:
• artigos,
• contrações,
• preposições e
• conjunções átonas.

reforma ortografica2.indd 44 16/3/2009 20:16:39


mergulhando no novo acordo ortográfico 45

Lembre-se: só as paroxítonas foram afetadas.

Assim, perdem o acento:


Pera (substantivo), que é homógrafa de pera (preposição
antiga, sinônimo de para)
• Comi uma pera de manhã. Falam que faz bem pera saúde.

Polo (substantivo), que é homógrafa de polo (combinação


antiga da preposição por + lo, pelo)
• É difícil jogar polo no Polo N orte polo frio que faz
naquela região.

Pela(s) (flexão de pelar), que é homógrafa de pela(s)


(combinação da preposição per + la(s))
• Ele pela o cachorro começando pela cabeça.

Pelo (flexão de pelar) e pelo(s) (substantivo), que são


homógrafas de pelo(s) (combinação da preposição per + lo(s))
• Eu pelo o bichinho começando a raspar o pelo pelo rabo.

Para (flexão de parar), que é homógrafa da preposição


para.
• Ele não para de perguntar que dia vou para São Paulo.

Observação: por aplicação dessa regra, também perdem o


acento o para (flexão de parar) quando usado em palavras
compostas e separadas por hífen:

• Meu carro está todo sujo: os para-choques, os para-lamas


e até os para-brisas estão cheios de barro.

reforma ortografica2.indd 45 16/3/2009 20:16:39


46 tatiane santana

Está lembrado de que a alteração afeta apenas as palavras


paroxítonas?
Então você já deve ter percebido que alguns acentos
diferenciais continuam:

Ás (substantivo) e as (artigo)
• Dentre todas as cartas do baralho, o ás é a mais valiosa
no jogo de pôquer.

Pôr (verbo) e por (preposição)


• É preciso pôr um capacete para andar por baixo dos
andaimes.

Quê (substantivo, interjeição, ou pronome no fim da frase)


e que (advérbio, conjunção, pronome ou partícula expletiva)
• Ela tem um quê de folgada. Espero que não demore.

Porquê (substantivo, ou em fim de frase) e porque


(conjunção)
• Você sabe o porquê disso? É porque você foi embora!

Outro aspecto a ser relembrado: o acento diferencial só


foi eliminado nos casos em que as palavras paroxítonas que
são homógrafas e heterofônicas de:

• artigos,
• contrações,
• preposições e
• conjunções átonas.
Assim, também foi conservado o acento diferencial de
pôde e pode, que são flexões do verbo poder em tempos
diferentes:
Pôde (pretérito perfeito do indicativo) e pode (presente do
indicativo)
• Ele sempre pôde, e até hoje ainda pode.

reforma ortografica2.indd 46 16/3/2009 20:16:39


mergulhando no novo acordo ortográfico 47

Da mesma forma, também foi mantido o acento diferencial


para indicar o plural dos verbos ter e vir na 3ª pessoa do
presente do indicativo:

• Singular: Ele tem, vem


• Plural: Eles têm, vêm

Já nos derivados de ter e vir (manter, deter, reter, conter,


convir, intervir, advir etc.), que flexionados na 3ª pessoa do
presente do indicativo teriam mais de uma sílaba e terminariam
com -em e, por isso, seriam acentuados, foi feita uma distinção
entre as formas no singular e no plural. O singular recebe o
acento agudo, e o plural recebe o circunflexo:

Verbos derivados de ter:

• Singular: Ele contém, detém, obtém, retém, mantém etc.


• Plural: Eles contêm, detêm, obtêm, retêm, mantêm etc.

Verbo derivados de vir:

• Singular: Ele convém, intervém, provém, sobrevém etc.


• Plural: Eles convêm, intervêm, provêm, sobrevêm etc.

O Novo Acordo Ortográfico também trouxe outra


novidade nos acentos diferenciais: é a faculdade de se usar
o acento circunflexo na palavra forma (ô) (substantivo)
para diferenciá-la de forma (ó) (substantivo ou flexão do
verbo formar). É interessante notar que a última Reforma
Ortográfica, de 1971, já deixara de incluir a palavra fôrma
entre aquelas cujo acento diferencial permaneceu.

reforma ortografica2.indd 47 16/3/2009 20:16:39


48 tatiane santana

De qualquer forma, recomenda-se que o acento circunflexo


seja utilizado apenas em caso de ambiguidade, como nos
exemplos abaixo:
• Qual é a forma da fôrma do bolo?
• A forma da fôrma retangular é a melhor.
• “Reduzi sem danos / a fôrmas a forma“ (Manuel
Bandeira – Os Sapos)

2.4 Uso do hífen

2.4.1. Regras Novas X Regras anteriores ao Novo Acordo


Ortográfico

Frequentemente o uso do hífen é motivo de incerteza para


aqueles que vão redigir um texto. Muitos acham que não há
regras específicas para seu uso, tamanha a quantidade de
dúvidas. Entretanto, as regras existem e devem ser aplicadas.
O Novo Acordo Ortográfico reformulou profundamente
as regras de uso do hífen, com o objetivo de deixá-las mais
claras, resumidas e simples.
Entretanto, muitos gramáticos ainda não estão satisfeitos e
dizem que o Novo Acordo Ortográfico não trouxe um avanço
substancial no que diz respeito ao uso do hífen.
De qualquer forma, boas ou não, são as novas regras que
prevalecerão.
N as próximas páginas, veremos as novas regras de uso do
hífen.
Quando essas novas regras resultarem em alterações na
grafia, será indicada também a regra correspondente anterior
ao Novo Acordo Ortográfico.
Talvez você esteja se perguntando: mas para que conhecer
as regras antigas?

reforma ortografica2.indd 48 16/3/2009 20:16:39


mergulhando no novo acordo ortográfico 49

Lembramos que as regras antigas conviverão com as novas


regras e poderão ser usadas até o final de 2012. Só a partir
daí as regras estabelecidas pelo Novo Acordo Ortográfico
vigorarão sozinhas.
Além disso, é importante conhecer as regras antigas para
ver o que mudou com as novas.

2.4.2. Hífen em Verbos, Compostos e Sequências de


Palavras

Verbos + Pronomes Oblíquos

Começaremos com o caso mais fácil e que não foi alterado


pelo Novo Acordo Ortográfico: emprega-se o hífen (-) para
ligar pronomes oblíquos aos verbos com que se relacionam:

• Ofereceram-me
• Retive-o
• Deixa-o
• Obedecer-lhe
• Levá-la-ei (mesóclise)
• Chamar-se-á (mesóclise)
• Mostre-se-lhe (dois pronomes relacionados ao
mesmo verbo)

Palavras Compostas

Para palavras compostas, a regra geral é que se deve


empregar o hífen apenas se os seus elementos formadores
(palavras que formam o composto) perderam sua significação
individual para que a palavra composta adquirisse um
significado único.

reforma ortografica2.indd 49 16/3/2009 20:16:39


50 tatiane santana

Isso pode ser visto claramente nos seguintes exemplos:

• Abaixo assinado X abaixo-assinado


• Mesa redonda X mesa-redonda
• Testa de ferro X testa-de-ferro

Repare que sem o hífen, as palavras mantêm seu significado


individual:

Abaixo assinado: é o indivíduo que subscreve, que assina


abaixo de um texto ou reivindicação.
Mesa redonda: é uma mesa de formato redondo.
Testa de ferro: testa que é feita de ferro (robô, por exemplo)
ou, no sentido figurado, testa dura como o ferro.

Já nas palavras compostas, nas quais o hífen é usado,


repare que os elementos formadores perdem sua significação
individual para que a palavra composta formada adquira um
significado completamente novo:

Abaixo-assinado: é o documento, que normalmente contém


um texto ou reivindicação, que várias pessoas subscrevem.
Mesa-redonda: é uma reunião destinada a debater
determinado assunto.
Testa-de-ferro: é o índivíduo que se apresenta como
responsável por atos de outra pessoa.

Entendido o espírito que norteia o uso do hífen nas


palavras compostas, vamos às regras estabelecidas pelo
Novo Acordo Ortográfico.

reforma ortografica2.indd 50 16/3/2009 20:16:39


mergulhando no novo acordo ortográfico 51

1ª Regra – O hífen é usado nos compostos sem elemento


de ligação (de, da, do etc) quando o primeiro termo é
um substantivo, adjetivo, numeral ou verbo. Veja alguns
exemplos:

• abaixo-assinado, amor-perfeito, água-marinha,


ano-luz, arco-íris, beija-flor, decreto-lei, joão-ninguém,
médico-cirurgião, mesa-redonda, tenente-coronel,
tio-avô, zé-povinho, afro-brasileiro, azul-escuro,
amor-perfeito, boa-fé, guarda-costas, guarda-noturno,
má-fé, mato-grossense, norte-americano, sempre-
viva, sobrinha-neta, sócio-econômico, sul-africano,
verbo-nominal, primeiro-ministro, segundo-sargento,
segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, vaga-lume,
porta-aviões, porta-retrato, porta-moedas etc.

As palavras iniciadas por afro, anglo, euro, franco, indo,


luso, sino e outros adjetivos pátrios, reduzidos ou não,
seguidos por outros adjetivos pátrios, serão também grafadas
com hífen:

• afro-americano, luso-brasileiro, anglo-saxão, euro-asiático,


euro-afro-americano, greco-romano, latino-americano etc.

Atenção: indo-chinês se refere à Índia e à China, mas


indochinês se refere à Indochina, assim como centro-africano
se refere à porção central da África, enquanto centroafricano
se refere à República Centroafricana.
Também serão grafados com hífen os compostos nos quais
há uso de apóstrofo no elemento de ligação entre as palavras:

• cobra-d’água, mãe-d’água, olho-d’água, mestre-d’armas

reforma ortografica2.indd 51 16/3/2009 20:16:39


52 tatiane santana

O Novo Acordo Ortográfico não trata especificamente


de compostos formados por palavras repetidas ou parecidas,
mas a princípio, esses compostos se encaixam na 1ª Regra e,
portanto, são hifenizados:
Palavras Repetidas:
• blá-blá-blá, reco-reco, lenga-lenga, zum-zum-zum,
tico-tico, xique-xique

Palavras Parecidas:
• zás-trás, zigue-zague, pingue-pongue, tique-taque

2ª Regra – Emprega-se o hífen quando a primeira palavra for


além, aquém, recém, bem e sem:

• além-mar, aquém-mar, recém-casado, recém-eleito,


recém-nascido, bem-aventurado, bem-estar,
bem-humorado, bem-criado, bem-dizer, bem-mandado,
bem-nascido, bem-vestido, bem-vindo, bem-visto,
sem-número, sem-vergonha, sem-terra etc.

Exceções
Há vários casos em que o advérbio bem se junta à segunda
palavra, sem uso do hífen:

• benfeitor, benquerer, benquisto, benfeitoria etc.

3ª Regra – Emprega-se o hífen quando a primeira palavra for


mal, o segundo elemento se iniciar por vogal, H ou L, e não
houver elemento de ligação:

• mal -afortunado, mal-entendido, mal-estar,


mal-informado,
• mal-humorado,
• mal-limpo.

reforma ortografica2.indd 52 16/3/2009 20:16:40


mergulhando no novo acordo ortográfico 53

* Mudanças: Apesar de prever o hífen nos compostos com


a palavra mal e o segundo elemento iniciado por vogal ou H,
a regra antiga não previa o uso de hífen quando o segundo
elemento se iniciasse com L.
Se a segunda palavra se iniciar por outra letra que não
vogal, H ou L, não haverá hífen:

• malcriado, malgrado, malnascido, malpesado,


malvisto etc.

Observação: se a palavra tiver significado de doença, e não


houver elemento de ligação, será sempre grafada com hífen:

• mal-caduco (epilepsia), mal-francês (sífilis)

Entretanto, seguindo a regra geral, se houver elemento de


ligação, não haverá hífen:

• Mal de Parkinson, Mal de Alzheimer etc.

4ª Regra – Emprega-se o hífen em nomes geográficos em


qualquer dos casos abaixo:

• iniciados por grã e grão:


Grã-Bretanha, Grão-Pará
• iniciados por forma verbal:
Abre-Campo, Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes
• ligados por artigo:
Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Trás-os-Montes

Os demais nomes geográficos compostos grafam-se sem


hífen:

• América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde etc.

Exceção: Guiné-Bissau

reforma ortografica2.indd 53 16/3/2009 20:16:40


54 tatiane santana

Os adjetivos gentílicos, que são adjetivos que se referem ao


local de nascimento, quando derivados de nomes compostos,
serão hifenizados:

• belo-horizontino (Belo Horizonte)


• cabo-verdiano (Cabo Verde)
• americano-do-sul (América do Sul)
• mato-grossense (Mato Grosso)
• mato-grossense-do-sul (Mato Grosso do Sul)
• juiz-forano (Juiz de Fora)
• cruzeirense-do-sul (Cruzeiro do Sul)

5ª Regra – Emprega-se o hífen em nomes compostos de


espécies botânicas e zoológicas:

• andorinha-do-mar, bem-me-quer, bem-te-vi,


coco-da-baía, couve-flor, dente-de-leão, erva-doce,
fava-de-santo-inácio, feijão-verde, joão-de-barro,
lesma-de-conchinha, vassoura-de-bruxa etc.

Atenção: se a palavra composta for usada com significado


diverso, não será hifenizada. Veja:

• não-me-toques (espécie de planta) / Ela é cheia de


não me toques (melindres, frescuras).

Sequências de palavras

O hífen também é usado para ligar palavras que se


combinam para formar encadeamentos vocabulares, às vezes
até ocasionais.

reforma ortografica2.indd 54 16/3/2009 20:16:40


mergulhando no novo acordo ortográfico 55

Veja alguns exemplos:


• a ponte Rio-N iterói;
• o trecho Paraná-Goiás;
• a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade
• o Acordo Brasil-Inglaterra
• a Liga Itália-França-Alemanha

2.4.3. Prefixos e Sufixos

As novas normas que regulam o uso do hífen com prefixos


alteraram a grafia de muitas palavras, introduzindo ou retirando
o hífen. As regras, que antes determinavam o uso do hífen caso
a caso para cada prefixo, agora levam em conta sua terminação.
Assim, preste bastante atenção às novas regras.

1ª Regra – Vogais iguais

O hífen é usado quando o prefixo terminar com a mesma


vogal que inicia a segunda palavra. Essa regra vale para todos
os prefixos terminados por vogal, exceto co-, pro-, pre- e re-
(como veremos mais tarde). Veja alguns exemplos:

• anti-inflamatório, auto-observação, entre-eixo, micro-ondas,


semi-interno, sobre-estimar, supra-auricular etc.

Atenção: em alguns casos consagrados pelo uso, as vogais


iguais acabaram por se fundir, como em telespectador e
radiouvinte.
Veja uma pequena lista dos prefixos mais comuns
terminados por vogal:

• agro-, albi-, alfa-, ante-, anti-, arqui-, auto-, beta-, bi-, bio-,
contra-, deca-, eletro-, entre-, euro-, extra-, foto-, geo-,
giga-, hétero-, hexa-, hidro-, infra-, intra-, iso-, macro-,
mega-, micro-, mini-, multi-, neo-, penta-, poli-, proto-,
pseudo-, semi-, sobre-, sócio-, supra-, neuro-, orto-, tele-,
tri-, tetra-, ultra- etc.

reforma ortografica2.indd 55 16/3/2009 20:16:40


56 tatiane santana

* Mudanças: Muitas das palavras incluídas nessa primeira


regra ganharam o hífen, pois, pelas regras antigas:

• as palavras iniciadas pelos prefixos auto-, contra-,


extra-, infra-, intra-, neo-, proto-, pseudo-, semi-,
supra-, ultra-, ante-, anti-, arqui- e sobre- só receberiam
o hífen caso o segundo elemento se iniciasse por H, R
ou S.
• as palavras iniciadas pelos prefixos bi-, tri-, tetra-,
penta-, hexa-, hidro-, sócio-, micro-, macro-, multi-,
mini-, mega- e tele- não recebiam o hífen, qualquer
que fosse o segundo elemento.

2ª Regra – Consoantes iguais

O hífen é usado quando o prefixo terminar com a


mesma consoante que inicia a segunda palavra. Veja alguns
exemplos:

• ad-digital, ad-digitalizar, hiper-requintado, inter-racial,


inter-regional, inter-resistente, sub-base, sub-bibliotecário,
sub-braquial, super-revista etc.

* Mudanças: Essa regra também trouxe várias alterações às


regras antigas:

• o hífen só era utilizado nas palavras iniciadas pelos


prefixos ab-, ad-, ob-, sob- e sub- quando o segundo
elemento fosse iniciado por R.
• o hífen só era utilizado nas palavras iniciadas pelos
prefixos circum- e pan- quando o segundo elemento
fosse iniciado por vogal ou H.

reforma ortografica2.indd 56 16/3/2009 20:16:40


mergulhando no novo acordo ortográfico 57

3ª Regra – pós-, pré-, pró-

Quando o prefixo é acentuado graficamente, como em


pós-, pré- e pró-, usa-se o hífen:

• Pós:
pós-graduação, pós-tônico
• Pré:
pré-cozido, pré-escolar, pré-história, pré-natal, pré-requisito
• Pró:
pró-ativo, pró-europeu

4ª Regra – -m e -n + vogal, h-, m- e n-

O hífen também será empregado se o prefixo terminar em


-m ou -n e a segunda palavra se iniciar por vogal, h-, m-, ou
n-. Confira:

• circum-escolar, circum-hospitalar, circum-murado,


circum-navegação
• pan-africano, pan-americano, pan-harmônico,
pan-hispánico, pan-mágico, pan-negritude

* Mudanças: Essa regra também trouxe alterações às regras


antigas:
O hífen só era utilizado nas palavras iniciadas pelos prefixos
circum- e pan- quando o segundo elemento fosse iniciado por
vogal ou H.

5ª Regra – ex-, sota-, soto-, vice-, vizo-

Usa-se o hífen sempre que os prefixos forem ex- (sentido


de anterioridade ou cessação), sota-, soto-, vice- ou vizo-.

reforma ortografica2.indd 57 16/3/2009 20:16:40


58 tatiane santana

Veja alguns exemplos:

• ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-marido,


ex-ministro, ex-presidente, ex-primeiro-ministro,
ex-rei
• sota-almirante, sota-capitão, sota-mestre, sota-ministro,
sota-vento, sota-voga
• soto-almirante, soto-capitão, soto-pôr
• vice-presidente, vice-reitor, vice-governador
• vizo-rei

6ª Regra – vogal, -r ou -b + h-

Quando o prefixo terminar por vogal, -r ou -b, e a segunda


palavra se iniciar com h-, haverá hífen. Exemplos:

• adeno-hipófise, anti-hemorrágico, anti-herói,


auto-hipnose, bio-histórico, extra-hepático, geo-história,
giga-hertz, hiper-hidrose, inter-hemisfério, infra-hepático,
neo-humanismo, pseudo-herói, semi-homem,
sobre-humano, sub-hepático, sub-humano, super-homem,
tri-hídrico etc.
* Mudanças: Essa regra também trouxe alterações às regras
antigas:

• as palavras iniciadas pelos prefixos bi-, tri-, tetra-,


penta-, hexa-, hidro-, sócio-, micro-, macro-, multi-,
mini-, mega- e tele- não recebiam o hífen, qualquer
que fosse o segundo elemento.
• o hífen só era utilizado nas palavras iniciadas pelos
prefixos ab-, ob-, sob- e sub- quando o segundo
elemento fosse iniciado por r-.

reforma ortografica2.indd 58 16/3/2009 20:16:40


mergulhando no novo acordo ortográfico 59

7ª Regra – -b e -d + r-

Quando o prefixo terminar com -b ou -d e a segunda


palavra se iniciar com r-, haverá hífen. Veja:

• ab-rupto, ob-rogar, sob-roda, sub-reitor, sub-réptil,


sub-rogar
• ad-renal, ad-referendar
Exceções consagradas pelo uso: adrenalina e seus
derivados.

Polêmica: ab-rupto ou abrupto?

Essa sempre foi e ainda é uma questão polêmica, o que


provavelmente fará com que as duas formas sejam aceitas.
O professor e acadêmico Evanildo Bechara, que será
a autoridade máxima no Brasil para decidir as possíveis
pendências com relação ao Novo Acordo Ortográfico, indica
como “preferível” a forma com hífen ab-rupto, de acordo com
as regras citadas na página anterior.
Entretanto, em muitos dicionários, a forma com hífen
(ab-rupto) já não era nem listada, apesar de muitos deles
indicarem no vocábulo abrupto a pronúncia ab-ru ou
ab-rru, ou seja, separando o prefixo “ab” de “rupto”.
Diversos gramáticos também já manifestaram preferência
pela forma “abrupto”, sem hífen, defendendo, inclusive, a
pronúncia natural, sem separação.

Exceções às regras anteriores:

Prefixos co-, pro-, pre- e re-

Os prefixos co-, pro-, pre- e re-, que terminam com


vogal, normalmente se unem à segunda palavra, sem hífen,
independente da letra com que esta inicie.

reforma ortografica2.indd 59 16/3/2009 20:16:40


60 tatiane santana

Exceções à 1ª Regra: Vogais iguais:

• coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, preeleito,


preeminência, preestabelecer, preexistir, preexistente,
reedição, reedificar, reeducação, reeleição, reentrar,
reescrever.
Exceções à 6ª Regra: Vogal + h- (nesses casos, o H será
suprimido)

• coabitar, coerdeiro, reidratar, reumanizar, reabituar,


reabilitar, reaver

Outros casos, que não constituem exceção:

• coautor, coedição, cofator, propor, prolepse,


proeminente, refazer, remarcar

* Mudanças: Aqui também houve alterações às regras antigas,


já que todas as palavras iniciadas pelo prefixo co- recebiam
o hífen, exceto as consagradas pelo uso como coordenar e
coordenação.

2.4.4. Sufixos

Emprega-se o hífen em vocábulos formados pelos sufixos


-açu (grande), -guaçu (grande) e -mirim (pequeno), de origem
tupi, se o primeiro elemento acabar em vogal acentuada
graficamente ou por tônica nasal:

• andá-açu; cajá-mirim; sabiá-guaçu; amoré-guaçu;


capim-açu; arumã-mirim; socó-mirim

reforma ortografica2.indd 60 16/3/2009 20:16:40


mergulhando no novo acordo ortográfico 61

N os casos em que não forem acentuados, os vocábulos são


usados sem hífen:

• jiboiaçu; Cajumirim; Mojimirim

2.4.5. Casos em que não se usa o hífen

Em alguns casos, nos compostos nos quais a noção da


composição se enfraqueceu ou se perdeu por completo, ou
mesmo quando houve perda fonética, a palavra se escreve
aglutinadamente, sem hífen, como nos exemplos abaixo:

• aguardente,
• arteriosclerose,
• passatempo,
• reviravolta,
• embaixo,
• porventura,
• pontapé...

Com o Novo Acordo Ortográfico, passam a ser grafadas


aglutinadamente, sem hífen, também as palavras:

• paraquedas e derivadas (paraquedista, paraquedismo,


paraquedístico) e
• mandachuva.

Entretanto, outros compostos com as formas verbais para-


e manda- continuarão a ser grafados com hífen:

• para-brisa,
• para-choque,
• para-lama,
• manda-lua,
• manda-tudo etc

reforma ortografica2.indd 61 16/3/2009 20:16:40


62 tatiane santana

Destacaremos agora alguns casos, desdobramentos das


regras vistas nas páginas anteriores, em que o hífen não é
usado.
As palavras iniciadas por afro, anglo, euro, franco, indo,
luso, sino e outros adjetivos pátrios reduzidos, não seguidas
por outros adjetivos pátrios, continuarão a ser grafadas sem o
hífen. Veja:

• afrodescendente, anglomania, lusofonia, sinologia etc.

Quando o prefixo termina por vogal e a segunda palavra


começa por R ou S, não haverá hífen. N esses casos, deve-se
duplicar a consoante. Confira alguns exemplos:

• antessala, antirreligioso, antirrugas, antisséptico, antissocial,


arquirrival, autorregulador, biorritmo, biossegurança,
contrarregra, contrarrevolução, contrassenha, contrassenso,
contrarreforma, cosseno, eletrossiderurgia, extrarregular,
infrarrenal, macrorregião, microssistema, minissaia,
multissegmentado, neorromano, neorromantismo,
protossatélite, pseudossábio, semirrígido, semirreta,
sobressaia, suprarrenal, ultrassom etc.

* Mudanças: Muitas dessas palavras perderam o hífen,


pois, pela regra antiga, as palavras iniciadas pelos
prefixos auto-, contra-, extra-, infra-, intra-, neo-, proto-,
pseudo-, semi-, supra-, ultra-, ante-, anti-, arqui- e sobre-
receberiam o hífen caso o segundo elemento se iniciasse
por H, R ou S.

reforma ortografica2.indd 62 16/3/2009 20:16:40


mergulhando no novo acordo ortográfico 63

Quando o prefixo termina por vogal diferente da vogal que


inicia a segunda palavra, também não haverá hífen:

• antiaéreo, aeroespacial, agroindústria, autoajuda,


autoestrada, coautor, contraindicação, contraoferta,
extraoficial, hidroelétrico, infraestrutura, intrauterino,
neoexpressionismo, plurianual, retroalimentação,
semieixo, semiaberto, semiárido, supraocular,
ultraelevado etc.

Quando o prefixo termina por vogal e a segunda palavra


inicia por consoante diferente de H, R e S, não haverá hífen.
Veja alguns exemplos:

• antebraço, antecâmara, antibomba, antitetânico,


antiquário, agropecuária, arquibancada, arquibilionário,
arquidiocese, autobiografia, autocensura, autocolante,
autocombustão, autodefesa, autodestruição, autodidata,
autofecundação, autogiro, autogoverno, autolimpante,
automóvel, autopeça, autotransformação, autovia,
contrabalançar, contradomínio, contrafilé, contragolpe,
contragosto, contraluz, contramão, contrapartida,
contrapé, contratempo, contravento, extracurricular,
neociência, neoclássico, neopositivismo, pseudociência,
pseudodiamante, pseudofilosofia, hidrocirculante,
semideus, semifinalista, semitransparente, sobrepeso,
sobrenome, sobrenatural, supracitado, suprapartidário,
ultrafino, ultraleve, ultramarino, ultrapassado,
ultravioleta etc.

reforma ortografica2.indd 63 16/3/2009 20:16:40


64 tatiane santana

Quando o prefixo termina com R e a segunda palavra se


inicia por vogal ou consoante diferente de R e H, não se usa o
hífen. Veja:

• interacadêmico, interação, interagir, intercâmbio,


intercervical,intercomunicação,interescolar,interestadual,
intermundial, internacional, interrogação, superabundante,
superbactéria, supercampeão, superdivino, superdotado,
supermãe, supernutrido, superpopulação, superpotência,
supersaturado, supersistema etc.

Quando o prefixo termina com B e a segunda palavra se


inicia por vogal ou consoante diferente de R e H, não se usa o
hífen. Veja:

• subaéreo; subafluente; subalimentação; subagudo;


subcapilar; subcategoria; subchefe; subconsciente;
subdesenvolvido; subdelegado; subemprego;
subliminar; submarino; subósseo, subsecretário etc.

Também não se emprega o hífen com a palavra “não”


fazendo o papel de prefixo. Nestes casos, escreve-se o não
separado da segunda palavra:

• não agressão, não beligerante, não fumante, não


violência, não participação, não periódico.

* Mudanças: Pela regra anterior, o não, quando usado como


prefixo, era ligado ao segundo elemento por hífen.

reforma ortografica2.indd 64 16/3/2009 20:16:40


mergulhando no novo acordo ortográfico 65

Como regra geral, não se usa o hífen em locuções. Veja


alguns exemplos:

• Locuções substantivas:
cão de guarda, fim de semana, sala de jantar...
• Locuções adjetivas:
cor de açafrão, cor de burro quando foge...
• Locuções pronominais:
cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja...
• Locuções adverbiais:
à parte, à vontade, depois de amanhã, em cima, por isso...
• Locuções prepositivas:
abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de,
apesar de, debaixo de, por baixo de, por cima de, quanto a...

• Locuções conjuncionais:
a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por
conseguinte, visto que

Mas há exceções, consagradas pelo uso:

• água-de-colônia,
• arco-da-velha,
• cor-de-rosa,
• mais-que-perfeito,
• testa-de-ferro,
• pé-de-meia etc.

reforma ortografica2.indd 65 16/3/2009 20:16:40


66 tatiane santana

Há também algumas locuções bastante comuns, mas que


não foram citadas no Novo Acordo Ortográfico. Segundo o
professor Evanildo Bechara, as seguintes locuções deverão ser
grafadas sem hífen:

• um Deus nos acuda, um salve-se quem puder, um faz


de contas, um disse me disse, um maria vai com as
outras,

• bumba meu boi, tomara que caia, à toa, dia a dia, arco
e flecha, calcanhar de aquiles, comum de dois, general
de divisão, tão somente, ponto e vírgula.

O hífen também não é usado em locuções latinas:

• ab initio – desde o princípio


• ab ovo – a partir do ovo (desde o princípio)
• ad infinitum – até o infinito (indefinidamente)
• ad hoc – para isto (substituição temporária para o caso
específico)
• data venia – com o devido consentimento
• de cujus – morto, falecido, inventariado
• carpe diem – colha o dia (aproveite o presente)
• causa mortis – causa determinante da morte
• habeas corpus – que tenhas o teu corpo
• pari passu – ao passo de, simultaneamente
• ex libris – dos livros, dentre os livros

reforma ortografica2.indd 66 16/3/2009 20:16:40


mergulhando no novo acordo ortográfico 67

Entretanto, quando substantivadas, as locuções latinas


recebem o hífen. Veja:

• o habeas-corpus – ação para garantir a liberdade de


locomoção
• o ex-libris – marca escrita ou desenhada em um livro
que indica a livraria ou a pessoa a quem ele pertence ou
pertenceu

Os prefixos co-, pro-, pre- e re-, que terminam com


vogal, normalmente se unem à segunda palavra, sem hífen,
independente da letra com que esta inicie. Veja alguns
exemplos:
• coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, preeleito,
preeminência, preestabelecer, preexistir, preexistente,
reedição, reedificar, reeducação, reeleição, reentrar,
reescrever,
• coabitar, coerdeiro, reidratar, reumanizar, reabituar,
reabilitar, reaver,
• coautor, coedição, cofator, propor, prolepse,
proeminente, refazer, remarcar etc.

reforma ortografica2.indd 67 16/3/2009 20:16:41


reforma ortografica2.indd 68 16/3/2009 20:16:41
3. Críticas à reforma ortográfica

O Novo Acordo Ortográfico não alcançou consenso entre


os brasileiros e muito menos entre os portugueses.
Seu texto e sua aprovação têm sido alvo de diversas
críticas e enfrentado a oposição de vários escritores, linguistas,
políticos, deputados e profissionais da língua.
Alguns linguistas portugueses defendem a ortografia
etimológica, que leva em consideração a origem da palavra, não
aceitando a reforma pelo critério fonético, que, segundo eles,
cortam o elo entre os praticantes atuais da língua portuguesa e
os manuscritos deixados pelos seus antepassados.
Outros simplesmente resistem à mudança, talvez pelo
medo de ter que reaprender, ou até por motivos emocionais
em relação à grafia atual das palavras.
Esse sentimento de resistência às mudanças ortográficas
já foi registrado em reformas anteriores, como mostram os
trechos seguintes, escritos às vésperas das últimas reformas:

“Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase.


N ão nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...)
Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que
haveriamos de ser obrigados a escrever assim!”, Alexandre
Fontes (1911).

reforma ortografica2.indd 69 16/3/2009 20:16:41


70 tatiane santana

“N a palavra lagryma, (...) a forma do y é lacrymal; estabelece


(...) a harmonia entre a sua expressão gráfica ou plástica e a sua
expressão psicológica; substituindo-lhe o y pelo i é ofender as
regras da Estética. N a palavra abysmo, é a forma do y que lhe
dá profundidade, escuridão, mistério... Escrevê-la com i latino
é fechar a boca do abysmo, é transformá-lo numa superfície
banal”, Teixeira de Pascoaes.
Enquanto uns têm dificuldades em aceitar as mudanças
propostas pela reforma, outros acham que ela foi tímida
demais, e até insuficiente para cumprir seus objetivos, já que
muitas palavras continuarão apresentando possíveis variantes
ortográficas.
O professor de português Pasquale Cipro Neto afirma
que “é uma reforma meia-sola, que não unifica a escrita de
fato”, enquanto o escritor João Ubaldo Ribeiro diz que “é uma
reforma tímida, que não faz grandes inovações”.
Muitos críticos afirmam que o acordo tenta resolver um
problema que, na realidade, não existe. Eles defendem que
as variações na grafia do Português do Brasil e Português de
Portugal não atrapalham a leitura dos textos.
O sucesso de vendas no Brasil de obras de escritores
portugueses como José Saramago e Miguel Sousa Tavares,
cujos livros usam a grafia lusitana do português por exigência
dos autores, seria um indício de que não é a falta de uma
unificação gráfica que diminui o intercâmbio literário na língua
portuguesa.
Na verdade, as dificuldades de compreensão escrita,
quando acontecem, decorrem das diferenças semânticas, ou
seja, do sentido das palavras, e até de construções gramaticais
que são diferentes no Brasil e em Portugal.
E a simples adoção de uma ortografia comum não resolve
esse tipo de problema.

reforma ortografica2.indd 70 16/3/2009 20:16:41


mergulhando no novo acordo ortográfico 71

Se você já tentou ler algum texto em Português de


Portugal, mesmo que seja apenas um simples manual de
algum equipamento eletrônico, vai entender claramente do
que estamos falando.
Além disso, as dificuldades de compreensão são ainda mais
relevantes na comunicação oral. Só para se ter uma ideia, já
se cogitou de colocar legendas nas novelas brasileiras que são
exibidas em Portugal, tamanha é a dificuldade de compreensão.
E observe que, como a programação televisiva brasileira acaba
chegando lá com mais intensidade, principalmente por causa das
novelas, eles acabam tendo muito mais facilidade de entender os
brasileiros do que os brasileiros de entender os portugueses.
O fato é que a dificuldade na comunicação oral vai
continuar, apesar do acordo ortográfico, que nessa área não
tem nenhuma influência.
Outra crítica comum em relação ao Novo Acordo Ortográfico
diz respeito às novas regras que regem o uso do hífen.
Segundo os críticos, muitos de seus usos ainda são obscuros.
É que o acordo ortográfico não fala explicitamente de todos os
prefixos. Um dos problemas é o prefixo “re”, de reescrever e
reeditar. Palavras como girassol e passatempo não tinham hífen,
enquanto porta-retrato, guarda-louça e tira-teima possuíam o
hífen. O problema é que, apenas baseando-se no texto atual,
não é possível concluir se essas palavras terão hífen ou não.
O acordo se limita a dizer que o hífen desaparece quando se
perde a noção da composição de outras duas palavras, mas
isso é muito subjetivo.
Sobre a crítica, Godofredo de Oliveira N eto, presidente
do conselho diretor do Instituto Internacional de Língua
Portuguesa (IILP), órgão da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), esclarece que a definição de
diversos usosdo hífen só vai acontecer com a criação de um
vocabulário ortográfico oficial. Esse seria o próximo passo da
reforma que unifica a escrita do português nos países lusófonos.

reforma ortografica2.indd 71 16/3/2009 20:16:41


72 tatiane santana

Outros críticos apontam para os altos custos da unificação.


Estes custos incluem:

• a revisão ortográfica das obras já existentes,

• a substituição de dicionários, gramáticas e livros


escolares, que ficarão obsoletos instantaneamente, e
ainda

• a reaprendizagem das regras ortográficas pela grande


maioria da população que já está acostumada com as
regras antigas.

Por tudo isso, vários profissionais da língua portuguesa se


pronunciaram contra a adoção das novas regras:

“Vamos enterrar dinheiro em uma mudança que não trará


efeitos positivos” (Pasquale Cipro N eto).

“Essa idéia messiânica, utópica de que a unificação


vai transformar o português em uma língua de relações
internacionais é uma tolice” (Cláudio Moreno).
Mas os custos da reforma não são os únicos interesses
econômicos envolvidos.
Algumas editoras portuguesas afirmam que o acordo é “um
facilitismo para as editoras brasileiras entrarem nos países
africanos”, ameaçando sua atuação nesses países.
As mais resistentes chegaram a afirmar que não irão adotar
em seus livros as alterações previstas pelo acordo.
Um dos pontos também muito criticados no texto do N ovo
Ortográfico, principalmente pelos linguistas portugueses, é o
das grafias múltiplas.

reforma ortografica2.indd 72 16/3/2009 20:16:41


mergulhando no novo acordo ortográfico 73

Para abrigar as diferenças fonéticas (diferença de


pronúncia) entre Portugal e Brasil, o Acordo Ortográfico prevê
vários casos de palavras que podem ter duas ou mais grafias
facultativas. É a dupla grafia ou grafia múltipla. Veja alguns
exemplos:

• fenómeno/fenômeno,
• António/Antônio,
• aritmética/arimética,
• amnistia/anistia,
• amígdalas/amídalas,
• dactiloscopia/datiloscopia,
• eletrónica/eletrônica,
• súbdito/súdito,
• visitamos (ontem) / visitámos (ontem),
• recepção/receção,
• espectador/espetador,
• intersecção (de conjuntos) / interseção (de conjuntos),
• (o) cacto (secou) / (o) cato (secou),
• (o rio Tejo) desagua (em Lisboa) / (o Tejo) deságua (em
Lisboa),
• (a Polícia) averigua (o crime) / (a Polícia) averígua (o
crime)

O deputado português Vasco Graça Moura argumenta


que o reconhecimento oficial de grafias duplas e múltiplas
enfraquece seriamente a unidade da língua portuguesa escrita
e “vai mesmo contra o conceito de ortografia”.
Ele continua a crítica ao acordo dizendo que as
facultatividades permitem “pôr num saco todos os casos
duvidosos, a pretexto de que pode haver diferenças entre a
pronúnciaportuguesa e brasileira, abrindo inaceitavelmente
a porta a todas as diferenças de grafia e mesmo, no limite,
à opção individual por determinada maneira de escrever (...)
chegando ao ponto da lei do menor esforço e do facilitismo”.

reforma ortografica2.indd 73 16/3/2009 20:16:41


74 tatiane santana

Veja a opinião de linguistas portugueses sobre o assunto:

“(...) os negociadores do Acordo autorizam duplas ou


múltiplas grafias no interior de cada país, com base num
critério da pronúncia, que em nenhuma língua pode ser tomado
como propriedade identificadora dum sistema linguístico e
da(s) sua(s) respectiva(s) norma(s) nacionais, mas sempre e
apenas de uma sua variedade dialectal ou social”, Inês Duarte,
professora catedrática de Linguística da Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa (2005).

“O Acordo em análise admite grafias facultativas para


a língua portuguesa em toda a sua extensão, sem quaisquer
restrições além da existência (onde quer que seja) de uma
pronúncia culta que as sancione. Segundo a sua letra (...), dois
alunos portugueses, em Portugal (ou brasileiros, no Brasil,
etc.), sentados lado a lado, ou dois professores em salas
contíguas seriam livres de usar a seu bel-prazer as grafias
alternativas. Em última análise, é deixada ao livre arbítrio de
cada cidadão a escolha da grafia, pondo-se em causa a função
da língua escrita como fator de coesão social,” João Andrade
Peres, professor catedrático de Linguística da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa (2008).

“O facto de acabar por nem sequer se revelar uma


versão fraca de unificação ortográfica, como se pretendia,
mas antes uma versão permissiva, erigindo o princípio
da facultatividade excessiva, o qual vai contra o próprio
conceito normativo de ortografia, originando nomeadamente
a possibilidade do usode duplas grafias dentro do mesmo país,
isto é, abrindo a porta à heterografia,” Isabel Pires de Lima,
ex-ministra da Cultura do governo português, professora
catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
e deputada do Partido Socialista, apontando o que entende
ser uma das principais fragilidades do Acordo Ortográfico.

reforma ortografica2.indd 74 16/3/2009 20:16:41


mergulhando no novo acordo ortográfico 75

“O estabelecimento generalizado da grafia dupla nos


domínios da acentuação, das consoantes mudas e da
maiusculização, minará a estabilidade do ensino da Língua
Portuguesa (ferramenta que abre a porta a todas as outras
disciplinas) e porá em causa a integridade do uso e da difusão
internacional da língua portuguesa, valores que a Constituição
consagra (Art. 9º al. f). A possibilidade de se escrever de forma
alternativa uma quantidade enorme de palavras e de expressões
complexas deixa ao arbítrio de cada utilizador individual a
estrutura da ‘sua’ ortografia pessoal - imagine-se o que seria
cada um de nós poder pôr em vigor a sua versão personalizada
do Código de Processo Penal ou do Código da Estrada!,”
António Emiliano, professor de Linguística da Universidade
N ova de Lisboa.

reforma ortografica2.indd 75 16/3/2009 20:16:41


reforma ortografica2.indd 76 16/3/2009 20:16:41
4. Vigência do Novo Acordo Ortográfico

Apesar de todas as críticas, o acordo ortográfico já está


vigendo no Brasil.
Desde 1º de janeiro de 2009 já se pode usar as novas regras.
Haverá um período de transição até o final de 2012. Durante
esse tempo, será possível optar pela nova grafia ou pelo uso
das regras anteriores. A partir de 1º de janeiro de 2013 apenas
a nova grafia, imposta pelo Novo Acordo Ortográfico, será
aceita.
Em Portugal, até o momento da criação deste manual, só se
sabia que o período de transição seria de 6 anos, 2 anos maior
que o do Brasil. Entretanto, ainda não havia data definida para
sua entrada em vigor.

reforma ortografica2.indd 77 16/3/2009 20:16:41

Você também pode gostar