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CURSO DE PSICOLOGIA

TEORIA PSICANALÍTICA

Análise do Filme Agustine

SÃO PAULO

2021
TEORIA PSICANALÍTICA

Análise do Filme Agustine

Trabalho apresentado para fins


avaliativos para disciplina de Teoria
Psicanalítica, presente no curso de
Psicologia, sob orientação do Profº
Valter Perea.

SÃO PAULO

2021
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................4
2. CHARCOT...........................................................................................................5
3. SINOPSE.............................................................................................................6
4. ANÁLISE DO FILME..........................................................................................6
5. CONCLUSÃO...................................................................................................14
6. REFERÊNCIAS.................................................................................................15
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1. INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, grandes autores, médicos, neurologistas e psiquiatras se


dedicaram ao estudo da histeria, sua origem e sintomas, desenvolvendo avanços
significativos para compreensão das crises. Do grego “Hystéra”, que significa útero,
a doença era entendida na Grécia antiga de acordo com Belintani (2003), sendo de
origem uterina, logo diretamente ligada à mulher. O médico e filosofo Hipocatres
acreditava que pela falta de relações sexuais, o útero dessecava, fazendo com que
em busca de umidade ele comprimisse outros órgãos gerando então os sintomas
histéricos, como falta ar e vômitos.
Durante a Idade Média sob a influência da igreja, a histeria passa a ser vista
como pecaminosa pelo seu teor sexual e fruto de possessões demoníacas,
involuntárias e simulatórias. Sob essas condições as mulheres eram consideradas
bruxas ou possuídas. Já na segunda metade do século XIX, o neurologista Francês
Charcot, a partir de estudos clínicos com o uso da hipnose para fundamento de suas
hipóteses, julgava a histeria como uma neurose, causada por um trauma de ordem
genital e que podia acometer tanto homens quanto mulheres.
Hoje em conformidade com o Manual de Transtornos Mentais e de
Comportamento (CID-10), a histeria está inserida na categoria de transtornos
neuróticos e na subcategoria transtornos dissociativos. Ela é caracterizada pela
transformação da ansiedade que passa a se manifestar em estado físico. Entre os
variados sintomas estão a falta de ar, a ansiedade, perda parcial ou completa da
integração normal entre as memórias do passado, desmaio, crises de identidade,
paralisias, comprometimento dos movimentos,  alucinações e problemas na fala.
No presente trabalho, iremos analisar à luz da teoria psicanalítica o filme
Augustine dirigido por Alice Winocour , que relata a história do famoso neurologista
Charcot com sua paciente histérica Augustine. A obra possui grande importância,
uma vez que mostra a relação entre ambos e o desenrolar da psicanálise enquanto
seus primórdios. 
 
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2. CHARCOT 

Jean-Martin Charcot (1825 á 1893) foi um renomado neurologista e


professor parisiense. Filho de Simon Pierre e Jeanne-Georgette Saussier, era o mais
velho de quatro irmãos. Em 1862 ingressou no Hospital de Salpêtrière e desde o
final do século XIX, passou a se dedicar ao estudo da histeria. Ele teorizava que a
doença era um distúrbio fisiológico hereditário que prejudicava determinadas áreas
do cérebro, mas também que fatores ambientais, como estresse, poderiam
desencadear os sintomas.

Charcot teve considerável influência sobre o jovem Sigmund Freud, que


seria posteriormente o grande precursor da psicanálise enquanto ciência e método.
As pesquisas e estudos sobre a histeria chamaram grande atenção de Freud,
mudando de forma quantitativa o rumo do até então estudante de medicina.

Através de demonstrações públicas de pacientes histéricos, Charcot


desenvolveu sua teoria e método de trabalho, utilizando a hipnose e o registro
fotográfico durante suas investigações.
 
 
 
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3. SINOPSE

O filme Augustine, produzido em 2013 e dirigido por Alice Winocour, conta a


história da relação entre o neurologista Dr. Jean-Martin Charcot e a sua paciente
histérica Augustine, no Hospital Salpêtrière, em Paris.

A obra se ambientaliza em 1885. Nesse período, o professor Charcot,


estudava incansavelmente sobre a histeria, uma doença misteriosa que pouco se
tinha conhecimento até então. Devido a esse desconhecimento, a doença era
configurada como possessões demoníacas ou fingimento em busca de atenção,
fazendo com que as pacientes histéricas fossem muitas vezes negligenciadas pelos
médicos e deixadas de lado por serem “transgressoras” das leis da ciência.

Foi então, no Hospital de Pitié - Salpêtriere onde Charcot conheceu


Augustine, de 19 anos, que foi internada após um ataque histérico enquanto
trabalhava. A jovem se encontrava até então com uma paralisia em um de seus
olhos e após uma nova crise no hospital, passa a ser objeto central de estudo do
professor. Augustine acreditava que o Dr. Charcot poderia curá-la, enquanto ele
acreditava que com ela alcançaria grandes conhecimentos em seus estudos.

Vale ressaltar que a diretora Alice Winocour incluiu também no decorrer do


filme, testemunhos de pacientes que relataram diretamente para a câmera o que
pensavam e sentiam durante uma crise histérica. A inserção desses depoimentos
está incluída no roteiro como se fossem consultas com as pacientes de Salpêtrière.

 
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4. ANÁLISE DO FILME
 
O filme se inicia em Paris, no final do século XIX. A apresentação da
personagem Augustine é feita logo na primeira cena, enquanto serve um jantar
festivo na casa em que trabalha. Durante o evento, a personagem recebe alguns
olhares tendenciosos dos homens à mesa, começa a passar mal, vai à cozinha e
quando volta à sala de jantar, tem uma crise histérica. Após voltar a consciência
percebe que  possuía um de seus olhos paralisado.

Nessa cena, podemos ver a participação das instâncias que formam a


psique humana ID, Ego e o Superego. Essas instâncias são frutos da segunda
tópica do aparelho psíquico proposta por Sigmund Freud em seu livro O ego e o ID
(1923). O ID representa os desejos e pulsões mais primitivos, se baseando no
princípio do prazer; o ego se apresenta como mediador entre o id e o superego,
sendo regido pelo princípio da realidade; e por fim o superego representa os valores
morais. (FREUD,1923). Após perceber os olhares que recebia dos senhores
presentes, Augustine com sua inocência sexual e seus fortes princípios morais, evita
a qualquer forma que o conteúdo sexual (considerado por ela penoso) lhe venha à
consciência, gerando uma angústia que se transforma posteriormente em um
sintoma (a paralisia no olho).

Após este episódio, Augustine é acompanhada por uma amiga até o


consultório médico. Lá responde algumas questões sobre sua vida. A jovem  informa
que teve nove irmãos, sendo que três morreram, em suas palavras porque eram
muito pequenos; conta também que trabalha como empregada doméstica desde
seus 14 anos para a família da casa onde a crise ocorreu. O médico informa que ela
terá de ser internada, o que a surpreende pois não esperava isso e não havia se
preparado. É levada quase imediatamente para o Hospital de Pitié- Salpêtriere, local
onde Charcot trabalhava e realizava seus estudos.

Após alguns dias na instituição, ela pôde observar o Doutor realizando


rápidas avaliações em algumas pacientes e pouco tempo depois, acabou tendo uma
crise na presença de Charcot. Desde então o médico passou a ter interesse no caso
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da jovem, marcando consultas periódicas a fim de estudá-la e a apresentar em suas


palestras.

Poderíamos relacionar mais uma vez, esta nova crise de Augustine as suas
questões morais quanto a sua sexualidade. Antes da cena, a jovem observava
Charcot com certo louvor e o recalcar de uma possível atração pelo doutor acabou
por provocar a crise. Esta inferência pode ser feita se comparado neste momento as
motivações de seu primeiro desequilíbrio no trabalho. 

Para verificar se a jovem não possuía nenhuma deficiência mental e, assim,


puder ser apresentada para os estudantes nas aulas públicas que ocorriam no
hospital, Charcot fez um exame na paciente, pedindo que esta respondesse os
meses e dias da semana. Em seguida, Augustine se mostra decepcionada, pois ele
a ignora quanto a pergunta se o mesmo poderia curá-la de suas paralisias. 

Durante a obra, é possível observar algumas características de descaso do


médico em relação aos seus pacientes, uma vez que em diversas cenas, Charcot
não demonstrava uma preocupação pela cura efetiva. O que nos é mostrado, é a
postura do médico em não dialogar com as personagens femininas que o rodeiam:
tanto sua paciente, que se torna apenas seu objeto de estudo, quanto sua
companheira, a qual não dá atenção e que encerra suas ideias com um elogio à sua
beleza, dando-lhe pouca ou nenhuma atenção.

A esposa de Charcot, uma mulher burguesa, é pouco apresentada no filme.


Ela aparece somente nas cenas em que o neurologista volta para casa. Sua primeira
aparição se dá com a personagem tocando piano à mesa com Charcot, contando-
lhe sobre as notícias dos jornais e lhe dando alguns conselhos.

É nos mostrado também, que Augustine possui uma grande ignorância


sobre seu corpo, nos revelando também uma inocência de sua sexualidade. Por
várias vezes, a jovem demonstrou não compreender os comentários feitos pelo
médico. Um exemplo é quando Charcot diz que a menstruação dela nunca havia
decido e a mesma sequer sabia o que era. E mesmo após perguntar sobre ao
Doutor é novamente ignorada, ressaltando então o descaso demonstrado para com
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ela. Inferimos ainda aqui, que por conta de tal desconhecimento, Augustine rejeitava
fortemente seus pensamentos eróticos.

Na primeira apresentação da jovem para os estudantes, Charcot inicia a


exposição destacando o desafio de desmembrar a histeria, justamente pela doença
não apresentar nenhuma lesão orgânica no corpo dos pacientes. O neurologista
discorre sobre o uso da hipnose para controlar e tornar mais visível os sintomas.
Segue o diálogo de Charcot com seus alunos:

“A paciente que vão ver hoje se chama Augustine. Augustine tem 19 anos.
Ela tem ataques histéricos já faz meses e apresenta todos os sintomas do
que chamamos histeria ovariana. Podem notar, em primeiro lugar, a
paralisia do olho direito. É um belo exemplo de piscar de olhos histéricos. É
uma paralisia permanente. Mesmo com os sintomas presentes durante
vários dias não encontramos nenhuma lesão orgânica. Em todas as
histéricas, essa paciente desafia as leis da anatomia. Nós vamos hipnotizar
Augustine. E durante a hipnose, vamos reproduzir esse ataque como ele
acontece no estado natural, para identificá-lo e observá-lo melhor e
classificar os sintomas dele. O senhor Verdan, aqui presente, vai fotografar
tudo” (Augustine, 2013)
 
Justamente pela falta de uma lesão no  corpo orgânico, é que se fez surgir
os mecanismos do interrogatório e da hipnose para que dessa forma, o médico
conseguisse observar os sintomas. Para Foucault (2006), as apresentações também
faziam com que a histeria tivesse um “corpo institucional”.

 Um dos protocolos experimentais e clínicos do neurologista, era o uso da


hipnose para provocar o ataque das mulheres diante de uma plateia de estudiosos
da academia enquanto as crises eram fotografadas pela equipe do médico. Nesse
sentido, enfatiza-se a violação do corpo feminino e os padrões de feminilidade
fortalecidos durante o século XIX. O recurso da fotografia atuava então quase como
uma materialização da histeria, mais especificamente de seus sintomas, capturando-
a e lhe dando veracidade.

Em seu livro “A Invenção da histeria”, o  filósofo Didi-Huberman (2015)


declara que em todos os momentos a histeria foi uma dor forçada como um  
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espetáculo. Analisando os arquivos da equipe que trabalhou com Charcot em


Salpêtrière, Huberman destaca que o método experimental se efetivou por uma
observação “provocada” pela hipnose, ou seja, por uma arte de obter fatos e um
saber que colocava os corpos histéricos a trabalhar. 

Ainda durante a apresentação, após Augustine ser hipnotizada, se


desencadeia a crise histérica. Porém, os movimentos deste ataque são diferentes
dos que ela havia apresentado. É possível depreender destes novos movimentos
como uma satisfação do desejo, se assemelhando ao ato sexual, uma vez que
Augustine toca com frequência a região da pélvis e pelo fato de que seus gritos se
assemelham á gemidos.

Posteriormente a apresentação, em um outro momento do filme, Charcot


leva sua paciente ao seu consultório, onde mostra a ela sua macaca de estimação,
Zibidi.  Ele solta o animal e os dois passam a brincar com ela; logo em seguida,
Charcot ordena que a jovem se retire  e prende novamente a macaca. Nessa cena é
possível observar a semelhança entre o tratamento de Charcot com Augustine e
Zibidi, podendo relacionar tal comportamento do médico por enxergar em ambas a
natureza feminina como frágil e submissa.  
 
Augustine estava no Hospital de Salpêtriere, quando teve um sonho
importante, no qual junto de outra jovem foram decepar o pescoço de uma galinha.
Após ter dado a machadada no animal, ela se impressiona com o sangue e
desmaia. Ao acordar, percebe que sua paralisia no olho cessou, porém agora se
encontra com uma de suas mãos, em um formato semelhante a de um gancho.
 
Podemos relacionar o sangue da cabeça da galinha com a menstruação que
Augustine nunca teve, ressaltado pelo fato de que poucas cenas após o sonho, a
menstruação da jovem de 19 anos finalmente desceu. Os sonhos são para Sigmund
Freud (1900), a realização de desejos recalcados, o que nos leva a inferir o desejo
de Augustine em iniciar sua vida e seu desenvolvimento sexual. Segue a descrição
de Charcot sobre o caso:
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“A paralisia foi para a esquerda, delimitada por uma linha perfeita, como se
traçada por um mestre. A mão esquerda está paralisada como um gancho,
insensível ao frio e ao quente. O relógio fica inaudível próximo ao ouvido
esquerdo. Mas ela escuta a dez cm do ouvido direito. A temperatura vaginal
é constante, sem variação. Augustine só vê o vermelho com o olho
esquerdo. Com o da direita, ela vê todas as cores, menos a violeta. A narina
esquerda não tem olfato e a da direita é quase normal. O açúcar, o sal e a
pimenta não são distinguidos. [...] Augustine é ativa, inteligente, afetuosa,
sensível. A figura masculina a agrada. Ela gosta de se exibir, é o desejo que
sente. Ela é graciosa e é cuidadosa com a aparência. Sempre arruma seus
cabelos volumosos, variando os penteados. Ela adora fita de cores vivas”
(Augustine, 2013)
 
Chegando ao cerne do filme, podemos reparar que o acompanhamento
dado a Augustine por Charcot, proporcionou aos dois uma relação de desejo. Aqui
podemos introduzir os conceitos de transferência e contratransferência propostos
posteriormente por Freud:

(...) após pequeno lapso de tempo, não podemos deixar de constatar que
esses pacientes se comportam de maneira muito peculiar com relação a nós.
Acreditávamos, para dizer a verdade, que havíamos colocado em termos
racionais, completamente, a situação existente entre nós e os pacientes, de
modo que esta pudesse ser visualizada de imediato como se fora uma soma
aritmética; não obstante, a despeito de tudo isso, algo parece infiltrar-se
furtivamente, algo que não foi levado em conta em nossa soma. Essa
novidade inesperada assume muitas formas (...) Constatamos, pois, que o
paciente, que deveria não desejar outra coisa senão encontrar uma saída
para seus penosos conflitos, desenvolve especial interesse pela pessoa do
médico. (1916-1917 a, p.512)

Segundo os estudos de Sigmund Freud, quando o paciente enxerga no


terapeuta uma figura importante e afetiva em sua vida, estamos tratando da
chamada transferência. Este processo é muito importante pois é uma parte
essencial no trabalho da análise. 

 Freud (1912), na Dinâmica da Transferência difere a resistência e a


cooperação como dois fatores elementares do paciente. Ele discrimina então estes
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em uma "transferência positiva sublimada” e uma "transferência negativa e erótica


(que alimenta a resistência)”. No início do tratamento, a transferência positiva do
paciente para com o profissional, facilita o processo terapêutico.

Já a chamada contratransferência, é delineada inicialmente por Freud


(1910/2006b), como  um fenômeno que surge no resultado da influência que o
paciente exerce sobre os sentimentos inconscientes do profissional. Entretanto, este
processo é visto pelo psicanalista como um obstáculo ao processo terapêutico.
Freud (1910/2006b, p. 150) disse: "nenhum psicanalista avança além do quanto
permitem seus próprios complexos e resistências internas". Ou seja, se faz
necessário que o terapeuta obtenha controle sobre a contratransferência, a fim de
estabelecer a relação adequada com o paciente, sem interferências. 

Quanto à transferência erótica, Freud a define como uma "inclinação


amorosa" que, diferentemente da positiva, acaba por se tornar intensa, revelando
sua origem localizada em uma necessidade sexual. Esta ótica pode ser observada
no relacionamento entre Charcot e Augustine. Pela parte do Doutor, podemos ver a
expressão desse desejo quando em uma das noites, ele á visita enquanto a mesma
dormia em seu quarto; na cena, ele descobre os seios da paciente, fazendo com que
a jovem ainda dormindo faça um movimento brusco, que assusta Charcot e o faz
sair correndo do quarto e voltar para sua casa.
 
Tal relação transferencial, para DidiHuberman (2015) contribuiu para que as
pacientes internadas em Salpêtrière não renunciassem a doença e se submetessem
à obediência ao poder médico. “Ou você me seduz ou eu a considero uma incurável,
e nesse caso, para sempre, você não mais será exibida, mas escondida no escuro”.
(DIDI-HUBERMAN, 2015, p.234). 
 
Com a narrativa já se encaminhando para o final do filme, Augustine se
mostra desapontada com o tratamento feito por Charcot, visto que ela ainda não
havia atingido sua cura. Levada para mais um de seus exames, onde é amarrada e
deitada, a paciente reclama ao doutor que não deveria expô-la daquela maneira
diante de todos. 
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No dia da grande apresentação para os alunos da faculdade, Augustine e


Charcot andam por um jardim. Ele se mostra um pouco preocupado com a posição
agora assumida pela jovem, chegando a questioná-la sobre seu silêncio; ela
responde dizendo que o médico nunca a escuta, se referindo ao seu constante
descaso a suas perguntas. 
 
Enquanto estava sendo preparada pelas auxiliares de Charcot para a grande
apresentação, Augustine decide fugir por conta de toda sua insatisfação. Porém,
quando estava pelos jardins da instituição, cai de uma escadaria e desmaia. Ao
acordar, ainda sozinha e desorientada, percebe que a sua paralisia da mão havia
desaparecido. Augustine estava curada.
 
Encontrada por uma das auxiliares, é levada de volta à apresentação.
Charcot dá início à aula, enquanto isso a jovem tenta simular no espelho a forma
como estava paralisado o braço.  Augustine entra na sala e Charcot a apresenta
para o público, fazendo uma breve descrição sobre o caso e dizendo que seu
assistente irá hipnotizá-la. Bourneville se aproxima para realizar tal feito, mas
Augustine não se submete e não fixa o olhar no espelho em sua frente. Charcot
assume o lugar de Bourneville e mesmo assim ela permanece resistindo. 
 
Olhando fixamente para o médico, ela movimenta os dedos do braço que
deveriam estar paralisado e diz: “Estou curada”. Charcot a encarou incrédulo, virou
para seus estudantes e anunciou que as experiências com animais quando são
feitas em público não saem tão boas quanto no laboratório. Essa fala, reforça mais
uma vez a postura de Charcot em tratar suas pacientes tal como trata sua própria
macaca de estimação Zibidi. 

Bourneville interrompe Charcot e pede para que veja que Augustine


começava a se mexer e ao voltar para ela viu que estava tendo início a uma crise. O
ataque estava sendo forjado pela personagem e tem seu ápice quando, com as
duas mãos, Augustine rasga o decote do seu vestido, deixando à mostra seus seios.
Assim que acaba, Charcot pede que a levem para o seu consultório e que
Bourneville converse com os estudantes. 
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 O médico vai até Augustine e ao se encontrarem concretizam seus desejos


eróticos na realização do ato sexual. Após isto, a jovem se retira e Bourneville
chama o Doutor de volta à apresentação. Chegando então a última cena do filme,
ilustrada pela fuga de Augustine da instituição enquanto Charcot a observa de longe
e não consegue alcançá-la. 
 

5. CONCLUSÃO

A partir da análise do filme “Augustine” sob a luz dos conteúdos estudados


neste semestre na matéria de Teoria Psicanalítica, conseguimos observar o início
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dos estudos da histeria, pelo Doutor Jean Charcot, estudos esses que levaram
posteriormente a criação da Psicanálise por Sigmund Freud.

Ressaltamos neste trabalho a partir de cenas do filme, o pouco


conhecimento que se tinha na época a respeito das histerias, sendo as pacientes
histéricas subjugadas por sua condição. Ainda pontuamos neste documento, a
transferência erótica que ocorreu na relação do Doutor Charcot com sua paciente
Augustine, levando até mesmo a consumação da relação sexual entre os dois no
final do filme.

Conseguimos ainda trazer à luz cenas do filme, os conceitos das instâncias


psíquicas de Freud e da teoria dos sonhos. 
 

6. REFERÊNCIAS
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AUGUSTINE. Direção: Alice Winocour. [S. l.: s. n.], 2013. Disponível em:
GLOBOPLAY. Acesso em: 26 abr. 2021

BELINTANI, Giovani. Histeria. Psic,  São Paulo ,  v. 4, n. 2, p. 56-69, dez.  2003 .  


Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-
73142003000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 27  abr.  2021.

DIDI-HUBERMAN, G. Invenção da histeria: Charcot e a iconografia fotográfica


da Salpêtrière. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015. Acesso em: 27  abr.  2021.

FOUCAULT, Michel. O Poder Psiquiátrico. São Paulo: Martins Fontes, 2006.


Acesso em: 27  abr.  2021. 

Freud, S. (1912b) Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise.


Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, 145-159. (Edição Standard
Brasileira, Vol. XII. Acesso em: 28  abr.  2021.

Freud, S. (1913) Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a


técnica da psicanálise I). Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, pp. 161-
187. (Edição Standard Brasileira, Vol. XII. Acesso em: 28  abr.  2021.

Freud, S. (1915) Observações sobre o amor transferencial (Novas


recomendações sobre a técnica da psicanálise III). Obras Completas. Rio de
Janeiro: Imago, 1976, 205-223. (Edição Standard Brasileira, Vol XII. Acesso em: 27 
abr.  2021.
17

Freud, S. (1916-1917a) Conferências introdutórias sobre psicanálise.


Conferência XXVII: Transferencia. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976,
503-521. (Edição Standard Brasileira, Vol XVI.  Acesso em: 28  abr.  2021.

FREUD. A interpretação dos Sonhos. 1900. Acesso em: 27  abr.  2021.

ZAMBELLI, Cássio Koshevnikoff et al . Sobre o conceito de contratransferência


em Freud, Ferenczi e Heimann. Psicol. clin.,  Rio de Janeiro ,  v. 25, n. 1, p. 179-
195, jun.  2013. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
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