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Este resumo foi baseado na obra “Por que estudar História ?

”, de autoria de Caio César Boschi,


doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, professor de História da PUC Minas
e de universidades portuguesas. Publicado em 2007 pela editora Ática em São Paulo.

CAPÍTULO 1 – O sentido da História

Tudo quanto nós seres humanos fazemos ou sentimos e o significado que atribuimos a isso
depende do momento e das condições pelas quais vivemos e das relações sociais vividas até o
presente momento. O que pode parecer natural na verdade é resultado das ações humanas no
decorrer do tempo.
Lidamos com a ideia de historicidade, que desnaturaliza as coisas que podem ser tidas como
fruto de um encadeiamento natural. O autor ressalta: “ O passado fornece elementos para
compreendermos o presente” e afirma a importância em se estudar História para “podermos
nos conhecer melhor” e não apenas se trata de uma disciplina pouco prática se comparada a
medicina ou ao direito.
A História é muito mais do que meramente decorar datas e fatos, nela também é preciso
buscar compreender por que as coisas aconteceram de determinada forma e não de outra,
afirma Boschi e também levanta o papel que a História tem em fazer levantar questionamentos
em relação ao seu estudo e a capacidade dela permitir a compreensão e análise da vida em
sociedade.
Onde há a presença humana há História e ela é participante de nossas vidas, somos “seus
sujeitos e seu objeto” e quem estuda História busca poder entender de modo mais adequado a
sua realidade, melhor compreender a si e aos outros. A análise histórica sempre teve carater
coletivo.
O interesse pelo estudo da História não se resume tão somente a responder questionamentos
pessoais, mas também pelo fascínio que o conhecimento pelo passado exerce, passado do
qual “É preciso desconfiar” quando ele nos é apresentado de modo bem convencível. O
passado que nós estudamos é uma reconstrução feita por homens de nossa época e é
manchado, muitas vezes por visões e posicionamentes de nossa atual sociedade, por isso é
que a História merece ser analisada de forma crítica e “quando percebemos nosso passado
histórico reunimos condições de agir sobre a realidade”.
A História se destaca de outras áreas “irmãs” de estudo como a Geografia ou a Filosofia pelo
caráter temporal que lhe é atribuído “Por meio dela, ficamos sabendo como os homens, em
diferentes épocas e lugares, se percebem como atores sociais, a maneira pela qual se dá sua
relação com os outros...”
Todavia o estudo da História pode promover não somente aspectos positivos, como os
avanços sociais e o progresso ou a conservação em outros casos. Grupos contrários a
avanços sociais podem se apoiar em teorias históricas para garantirem-se no poder.
Cada individuo tem uma percepção histórica diferenciada, devido a posicionamentos múltiplos
sobre uma plêiade de assuntos, o que não nos impede de ter afinidades com pessoas que
tenham posicionamentos antônicos.
Um conceito aplicado e bastante utilizado no moderno ensino da História é multiculturalismo,
que significa coexistência de múltiplas culturas e tradições, multiculturalismo que por sua vez é
bastante prático quando do advento do estudo de culturas diferentes da nossa. O passado
também “comportou diversas formas de ser e viver” e de pontos de vista, bases do
multiculturalismo.
Hoje se compreende que História tem como aspectos salientes as relações de dinamismo e
movimento. A mudança é um aspecto importante, que não necessariamente representa o
progresso nem a melhoria nas condições de vida de determinados individuos. Existe também
as mudanças apenas de fachada, aparentes, porém que de fato pouco ou nada alteram a
realidade das coisas. O ofício do historiador é lembrar o que os outros esquecem e alertar para
que as informações não sejam assimiladas de maneira passiva, porém que sejam filtradas por
nosso senso crítico, influindo assim em decisões que tem caráter cidadão. A relação entre
cidadania e História será próximamente melhor abordada.
Quanto ao passado, ele não pode jamais ser alterado, já afirmava o historiador francês Marc
Bloch, citado por Boschi. No entanto as interpretações tiradas a partir dele estão em constante
alteração, a cada momento que uma nova fonte histórica é levada à tona. “As fontes nos
aproximam dos fatos. Mas ainda assim, esses não são reconstituídos por completo”, afirma.
Caio César Boschi diz “que não se pode assumir uma postura saudosista em relação ao
passado sob a pena de comprometer a percepção do presente e a perspectiva do futuro'' bem
como “não se trata de banir o passado, mas não nos deixar dominar por ele” e por fim que “a
História não é um culto aos mortos, é um conhecimento dos vivos para os vivos”.
História é vida e nela as coisas estão em constante processo de alteração e mudança,
supondo-se então o ponto de vista que o ponto de partida da História é o presente. O passado
é inerte e somos nós que agimos a partir dele. A que se destacar também o prospectivo caráter
que tem a História, ou seja, que a partir da análise do conhecimento histórico tenta-se imaginar
o que pode ocorrer no futuro.

CAPÍTULO 2 – A história e sua construção

No estudo da História não há solução nem conclusão definitiva - há muito relativismo, embora o
autor não se coloque como um total relativista – ou seja as interpretações sobre determinados
fatos dependem do ponto de vista daqueles que a analisam. E as verdades históricas estão
constantemente sobre revisão, de acordo com as mudanças que ocorrem com aqueles que as
debatem no presente. Fatos jamais podem ser alterados, o mesmo, por sua vez não ocorre
com o conhecimento histórico.
Muitas das deturpações e erros históricos cometidos partem do pressuposto da análise do
diferente e de fontes históricas com os olhos e as máculos do presente. Nós fazemos História
com fontes, todavia elas não são sinônimos, são duas coisas que caminham paralelas e as
fontes em si não tem sentido, somos nós que ao interpretá-las lhes atribuímos os devidos e
respectivos valores.
Os documentos escritos são os mais usados por pesquisadores nas análises, porém não
somente os escritos são fontes históricas. Como então estudar povos que não detém a
escrita ? Não teriam eles História ? A oralidade em nada conta em uma análise ? “A ausência
de informação também é uma informação – e quase sempre valiosa”.

CAPÍTULO 3 – O tempo histórico

Existem duas modalidades de tempo básicas para o estudo da História: o tempo histórico e o
tempo astronômico. “ A duração dos fenômenos históricos, são diferentes dos fenômenos
naturais” . Albert Einstein em sua teoria da relatividade de 1905 vem pôr um certa paz nos
debates que haviam sobre o tempo. Ele afirma que o tempo não é uno, linear ou abslouto, ele é
relativo. O tempo histórico também não é libear, “falar de tempo histórico significa, portanto,
falar de permanências e mudanças e de diferenças e semelhanças”. O francês Fernand
Braudel divide o tempo histórico em três partes: tempo dos acontecimentos, das conjunturas e
por fim o tempo de longas durações e ainda desabstrai : “Como o oceano, o tempo é um só,
mas inclui camadas temporais da mesma forma que o oceano inclui camadas de água. Nos
dois casos as camadas são simultêneas e sobrepostas”. O tempo é o princípio e o fim no
estudo da História.
A datação de acontecimentos não é uma coisa aceita de modo pacífico. Podem esses fatos
terem ocorridos em um determinado momento e a historiografia convencionar outro. Isso
depende de como nós interpretamos, ou seja, mais uma vez estamos de fronte ao relativismo.
Os marcos de nossas periodizações são particulares, individuais. “ O estabelecimento de
períodos na História nunca é definitivo e não responde a critérios rigorosos, até porque nossas
vidas e a das coletividades não podem ser condicionadas por um único fato”. O uso da
periodização é para facilitar a compreensão de uma totalidade, porém não se deve esquecer
que toda periodização é subjetiva.

CAPÍTULO 4 – Combates pela História

É uma necessidade do homem para poder viver em sociedade que ele estabeleça relações de
poder, e toda coletividade tem regras, valores e práticas e que de algum modo os grupos
sociais tentam impôr suas máximas aos demais grupos, inclusive utilizando do passado para
legitimar tais ações “O conhecimento histórico é manipulado e utilizado como instrumento
legitimador da realidade” pode ser colocado a mercê e aos interesses dos “donos do poder”. A
isso é dado o nome de memória.
Os heróis tem também na História papel de destaque, junto com as celebrações patrióticas, no
tocante a nortear grupos de pessoas a um estilo tido como ideal e também a celebração do
passado dificulta as pessoas adquirirem a consciência do presente. Não existe predestinação
histórica. Existem figuras que tem senso de oportunidades, que se tornam lideranças de um
todo carente de guias. Relativismo aplicado e ressaltado novamente: aquele que é herói para
uma pessoa ou para um grupo não necessariamente é para outros.
A História está intimamente ligada com a condição de em muitos casos de “despertadora” de
consciências (ao mesmo tempo em que é o amém dos poderosos...) e liberdades individuais e
coletivas “”...tal como a História a cidadania não é concessão, é construção.” A História muito
ajudou nas conquistas pelos direitos e liberdades humanas, interferindo na ação do estado
evitando a ação de seus desmandos em prol da solidariedade e repúdio às injustiças.

CAPÍTULo 5 – Memória e indentidade

A História nestes atuais tempos de globalização é ótimo instrumento para nos ajudar a
compreender determinados valores indentitários, “ O fortalecimento das indentidades locais,
regionais e nacionais se liga diretamente à consciência histórica da sociedade.” e não
pressupõe o afastamento em relação ao outro, ao diferente.
O conceito de alteridade é bastante presente neste capítulo de “Por que estudar
História ?”.”Alteridade não é somente ver o outro, mas percebê-lo no que ele tem de diferente
em relação a mim”, sensos de cooperação, ajuda-mútua e bom relacionamento respeiotos
estão coligados com noções de alteridade. A crítica análise histórica permite que possamos
ampliar nossos pontos de vista e valorizar as diferenças e as diversidades.
O culto à História não é igual, existem comunidades que tem como bases históricas lendas e
mitos e não fatos registrados e muitas vezes datados como nós “Sociedades políticas”, que
temos na História o amparo em documentos e menos em lembraças, oralidades. Embora
ambos interajam e se complementem. A memória seleciona as lembranças de cordo com os
interesses daqueles que a vivenciaram.

O autor Caio César Boschi encerra o livro com uma passagem do livro Guerra e paz de escritor
russo Leon Tolstoi, conclamando às pequenas e singelas ações e a manter e a nossa primeira
referência, a indentidade local.

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