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Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

Campus I – Campina Grande


Centro de Humanidades – CH
Departamento de História
Curso de História
Professora: Tibério Max de Sousa Lima
Componente Curricular: História Contemporânea
Turno: Noite
Aluno/a: Maria Manuelle Maximiniano Martins. Matrícula: 162295200

OS EXCLUÍDOS DA HISTÓRIA – OPERÁRIOS, MULHERES E PRISIONEIROS,


da historiadora Michelle Perrot elabore um fichamento de citação das pp. 101 a 125 /
213 a 235 / 315 a 332.

Ref. Bibliográfica: Perrot, Michelle. Os excluídos da história: Operários,


mulheres e prisioneiros. Michelle Perrot; tradução Denise Bottmann. – Rio de
Janeiro: Paz e terra, 1988.
Michelle Perrot é uma historiadora e professora emérita da Universidade Paris
VII, universidade para qual mudou nos anos 70 sob o impacto de 1968 após ter
lecionado na Sorbonne, França. Em 2009 ganhou o Prémio Femina de Ensaio.

Faz parte da geração da Escola Nova Francesa de Estudos Sociais na Europa e é


especialista na história do século XIX. O artigo "Uma história das mulheres é possível?"
é precursor dos estudos sobre a história das mulheres no ocidente. Defendeu sua tese de
doutorado de Estado sobre o movimento operário sob a supervisão de Labrousse.
Historiadora engajada participou ao lado de Foucault do grupo de discussão sobre as
prisões. Promoveu importante debate entre os historiadores e Michel Foucault publicado
no livro que organizou "A impossível prisão". Dirigiu ao lado de G. Duby a
série História da Vida Privada e História das mulheres no Ocidente. Presente nos meios
de comunicação apresenta o programa semanal "Segundas-feiras da História" na France
Culture.

A contribuição fundamental da historiadora é a sua luta no movimento feminista


demonstrando que o trabalho histórico também se faz permeado pela ação política no
presente. A autora figura como umas das mais célebres historiadoras da causa feminista,
assim como da vertente social da história francesa.

Recebeu dentre outros prêmios as condecorações da Legião de Honra e officier de


l’Ordre national du mérite. Ela é membro do comitê de padrinhos da coordenação
francesa para a década da cultura da paz e da não-violência. Recebeu o Prémio Simone
de Beauvoir em 2014.

Em Os excluídos da História, Perrot traz à luz a História e as histórias de três


“personagens” frequentemente esquecidos pela historiografia tradicional. Com foco na
França do século XIX, período que trata o texto e são descortinados meios de resistência
desses personagens frente ao Estado, à polícia, à exploração da burguesia e também à
tirania dos homens, em especial a dos revolucionários e sindicalistas que tentaram calar
a mulher e encerrá-la na esfera doméstica – enfrentando a resistência ferrenha das
mulheres operárias e donas de casa pobres, que disputaram a cidade e suas ruas.

A autora aponta os meandros da participação da mulher nesse cenário histórico e


político.  A construção da relação de poder, lugar de fala, exclusão política, matriarcado,
patriarcado, a cultura do corpo, trabalho nas fábricas, trabalho doméstico, público x
privado, são pontos que reforçam que a invisibilidade ou negação da mulher na história
está apenas no modo de análise do objeto histórico. Um país sem memória é um país
analfabeto político. Apesar da distância de tempo e espaço geográfico entre Brasil e
França, o momento é de perdas severas para classe trabalhadora, mulheres e juventude,
culminado em condições de trabalho insalubre, longa jornada de trabalho, perseguição;
afrouxamento no combate do trabalho escravo e infantil, retrocesso na educacional, etc. 

"Os operários, a moradia e a cidade no século XIX".

"Os operários atribuem mais valor à moradia do que à cidade", escreve Michel Verret
em seu livro sobre o Espace Ouvrier (Espaço operário).1 "Das moradias, eles se servem,
e muito; da cidade pouco, pouquíssimo tempo, longe demais, não é para eles. Mas
quando vão até ela. São para se reunir." Eles a utilizam como espaços abertos, para
aquelas "festas de momento e quantidade" que não deixam traços senão nas lembranças
e nas imagens — fotos e até filmes — que as fixam. ” (101)

“Por um longo período, a reivindicação operária se refere ao aluguel, não à moradia.


Desta, fala-se em termos de custo, de peso no orçamento, não de conforto ou espaço.
Não surpreende que as greves nada digam a respeito: não é esse seu objeto. Notemos de
passagem que praticamente não se trata mais da questão da higiene nos locais de
trabalho. Na primeira metade do século XIX, por vezes os operários alfaiates protestam
contra a má instalação das oficinas onde trabalham sentados por muitas horas. Mais
tarde, fala-se pouco da higiene da fábrica. Temendo-se sempre que uma organização
mais racional do espaço implique um controle maior dos deslocamentos e gestos
operários. Teme-se trocar a liberdade pelo conforto. O mesmo muitas vezes ocorre no
âmbito da moradia. ” (102)

“Pagar o mínimo possível pelo alojamento, tal é, portanto, a ambição de operários que
muitas vezes vêm de regiões rurais onde ele não custa nada. A data fatídica do prazo de
pagamento — o "Deus Prazo" —, dia 8 do primeiro mês de cada trimestre' —, a "Festa
Nacional do Capital e da Santa Grana". Segundo Le Père Peinard,9 é crucial. ” (104)

“Essa questão do aluguel é uma das origens da Comuna de Paris. Jeanne Gaillard
mostrou como a alta dos aluguéis, principalmente a partir de 1867, era uma das grandes
causas de descontentamento." Tanto que um dos primeiros atos do governo republicano
de Defesa Nacional, proclamado em 4 de setembro de 1870, foi instaurar uma moratória
dos aluguéis. ” (106)
As coisas mudam por volta dos anos 1880. De temporárias. As migrações passam a ser
permanentes. A "grande depressão" dos anos 1882-1890 contribuiu para romper os
laços com a terra e povoar as grandes cidades. (108)

“O fantasma do amontoamento, preocupação dominante entre esses clínicos ocupados


em separar os corpos, entre esses filantropos convictos quanto aos benefícios do
isolamento (nas prisões, a partir de 1840, triunfa a cela individual, pelo menos em
princípio), não é obrigatoriamente partilhado pelo povo. Nas oficinas ou fábricas, os
inspetores mandam abrir as janelas que os operários nunca abrem, temendo antes de
tudo o frio. ” (110)

“Em matéria de moradia, os operários exprimem principalmente seu desejo de


independência, sua preferência pela habitação individual, a recusa das vilas operárias.
Em Paris, as Vilas Napoleão foram um fiasco; no interior, as vilas industriais foram
obra sobretudo do grande patronato; encontraram uma forte resistência e deram certo —
com adaptações — inicialmente junto aos desenraizados, migrantes camponeses ou
estrangeiros (belgas, italianos) ” (112)

“Essas pessoas têm uma capacidade surpreendente de aproveitar as potencialidades da


cidade, não apenas pelo ângulo económico, mas como local de prazeres. A cidade é um
mercado, uma floresta onde se pode caçar furtivamente, e aí se sobressaem
principalmente as mulheres e crianças. A cidade é um teatro de mil "galinheiros". Esse
povo tem sede de espetáculo: "a classe mais numerosa e mais pobre está lá amontoada,
ela só vive lá", escreve Saint-Sirrion” (116)

“Os migrantes no início do século XIX amontoam-se em torno de Notre-Dame (bairro


dos Areis). Na Vila. Em volta da Prefeitura onde a sinistra rua da Mortellerie (mudará
de nome depois da cólera de 1832 que a dizimou) atinge densidades máximas, e no
Marais. A praça de Greve e as tavernas em torno oferecem um mercado diário de
empregos. E as margens do Sena são frequentadas por toda uma arraia-miúda de
descarregadores e lavadeiras. Na metade do século, a organização dos Halles aumenta
esse poder de atração do centro, o "ventre" de Paris. ” (119)

“Nessas circunstâncias, não admire que todo movimento revolucionário seja uma
reconquista do centro. Lá estão os imóveis e os símbolos do poder. As Tulherias, a
Prefeitura, a Câmara dos Deputados... atraem as multidões em protestos. Ë o caso em
1830 e em 1848, e ainda mais em 1871. Os cornmunards — Jacques Rougerie o
mostrou — reivindicam o direito à cidade." Eles reocupam o centro de onde pretendia-
se expulsá-los. Entrincheirados por trás dos muros e fortificações da cidade, onde
outrora por vezes refugiaram-se os camponeses da planície, eles encarnam, frente aos
alemães e aos exilados de Versalhes, esse alto posto da monarquia. Os verdadeiros
defensores das Comunas livres. Com eles culminam todas as lutas urbanas da história. ”
(121)

“Das cavernas da pré-história aos tipos-modelos de casas operárias, todos são


convidados a seguir o pressuposto da vida privada como uma das conquistas da
Humanidade. Progressivamente constrói-se a imagem da home como signo e condição
indispensável da felicidade — uma lareira e um coração. Ela invade a linguagem e a
iconografia da CGT, sobretudo depois de 1910, principalmente durante a campanha
para a obtenção da Semana inglesa. Como toda necessidade social. Esta tem uma
história, feita de resistências. Avanços e recuos, danças e contradanças. Uma história
complexa. E eu diria "complicada-, se Zorn, em seu belo romance Mars (Março). Não
nos tivesse dito que era por excelência uma expressão burguesa ...” (124-125)

"A dona-de-casa no espaço parisiense no século XIX".

“A dona-de-casa, nas classes populares urbanas do século XIX, é um personagem maior


e majoritário. Majoritário por ser a condição do maior número de mulheres que vivem
maritalmente, casadas ou não (sendo o casamento, aliás, o estado civil mais
generalizado), principalmente quando têm filhos. C modo de vida popular pressupõe a
mulher "em casa", o que — veremos — não significa absolutamente ''no interior do lar':
há uma forte resistência da classe operária ao trabalho externo das mulheres casadas,
sobretudo nas cidades, que não são necessariamente industriais.' Maior, porque a dona-
de-casa de fato tem muitos poderes, de natureza diferente dos homens, passando por
redes de sociabilidade informal onde justamente o espaço tem grande participação. ”
(213)

“A dona-de-casa de alguma forma se desdobra na cidade do século XIX. Emprego do


tempo significa uso do espaço, e é dele que eu gostaria de falar. É claro que o que vale
para a mulher do povo não vale para a burguesa. Ao nível das classes, os usos sociais da
cidade se diferenciam muito claramente. ” (215)

“Nas ruas, as mulheres sabem se manifestar. Elas conduzem os motins por alimentos,
ligados à carestia do pão, tão frequentes pelo menos até 1848, os charivaris contra os
proprietários responsáveis pelo aumento dos aluguéis, elas que são as administradoras
do lar, as guardiãs do orçamento. Elas se associam aos homens durante as jornadas
revolucionárias que pontilham o século, presentes sobretudo em 1830, como aliás os
filhos, esses "moleques" de Paris que geraram Gavroche. Em 1848, elas são mais
tímidas: zomba-se das Vesuvianas, ou milícia feminina. Em 1871, elas ajudam como
cantineiras ou atendentes de ambulância. As que querem lutar vestem-se de homem,
como Louise Michel: "Essa questão idiota de sexo estava acabada", suspira ela,
nostálgica, em suas Memórias. ” (217)

“Esse fenômeno de exclusão progressiva foi bem descrito para a Inglaterra por Dorothy
Thompson.9 Ela mostra como, nos pubs e inns (tavernas) ingleses do final do século
XVIII e início do século XIX, os homens e mulheres estavam juntos, cantando,
reivindicando, preparando as manifestações, e como aos poucos a presença das
mulheres se torna marginal, inabitual, e depois francamente excepcional. Para elas, fica
cada vez mais difícil tomar a palavra: elas têm de passar pelo intermédio de um homem,
e depois, a partir de 1840 e do cartismo, desaparecem totalmente, e o pub inglês vira um
lugar exclusivamente masculino. ” (218)

“A cidade aos poucos se quadricula em espaços masculinos, femininos e mistos. Estes


podem ser espontâneos ou organizados, e o seu estudo é particularmente interessante
para apreender as relações entre os sexos. Exemplo mais cabal do local de encontro
organizado: o bordel, que Alain Corbin mostrou em sua evolução e variedade." (221)

“Nos meios populares, a mulher é o "ministro das finanças" da família. Ela gere o
pagamento que seu marido lhe entrega, não sem conflito: o pagamento é momento de
tensão nos bairros, as donas-de-casa temem que ele seja desfalcado pela taverna. Se se
trata de uma conquista feminina, é também uma carga pesada: com a soma que lhe é
confiada, a mulher tem de alimentar a família, ela é responsável pela sua subsistência.
Daí um sentimento de culpa se não o consegue e o fato, muitas vezes assinalado, de se
privar em tempos de penúria. ” (222)

“Local de intensas trocas, de trabalho e de prazer, o lavadouro também é uni local de


solidariedade e ajuda mútua: aí se trocam as receitas, os endereços úteis (as parteiras
discretas), faz-se a coleta para a mulher em dificuldade, seduzida ou abandonada. As
mães solteiras, um tanto rejeitadas dentro da sociedade, encontram urna certa proteção
nessas comunidades de mulheres, a quem o hábito da infelicidade terna compreensivas.
” (228)
“Ambivalência das coisas: o lavadouro também é, sem dúvida alguma, uma tentativa de
disciplina essas mulheres rebeldes que são as donas-de-casa do século XIX, ainda tão
pouco policiadas?' Educação da limpeza através da concorrência do "sempre mais
branco-. Educação da ordem. Educação cívica também: sob a 3.3 República, a bandeira
tricolor de metal na entrada das lavanderias municipais assinala os benefícios da
democracia.” (229)

“A relação das donas-de-casa com o tempo e o espaço é ao mesmo tempo fragmentado


e fluido, no pólo oposto do modelo industrial. Por volta de 1880, alguns começarão a
dizer que as mulheres perdem muito tempo em idas e vindas, e que poderiam utilizá-lo
de outra forma. Barbaret calcula em 35 milhões de francos o custo anual da lavagem de
roupa de casa em Paris, entre os quais ele atribui 7 milhões ao trabalho das donas-de-
casa que "não contam seu tempo, mas que, no entanto, poderiam empregá-lo em outras
coisas de modo mais frutífero"." Ele preconiza o desenvolvimento de uma verdadeira
indústria de lavanderia, mecanizada, em grandes estabelecimentos com uma rigorosa
divisão do trabalho. De fato, é criada, e nesses estabelecimentos as máquinas são
confiadas aos homens; as mulheres se ocupam da triagem e da manutenção: a bem
dizer, não lavam mais. Quanto às donas-de-casa, daqui por diante são excluídas.
Inúmeros cartões-postais mostram essas fábricas de lavagem que não têm mais nada a
ver com os lavadouros tradicionais. Aí, as mulheres perderam toda a soberania. Assim,
o lavadouro é uma experiência histórica onde se pode ler uma prática feminina do
espaço e do tempo, e simultaneamente a forma como ela foi excluída. ” (231)

"Na França da Belle Époque, os APACHES, primeiro bando de jovens"

“Ao que parece, é a partir de 19C2 que a nome de Apaches passa a ser empregado para
designar um bando de jovens cujos delitos faziam Belleville tremer — o de Boné de
Ouro. Cuja lenda foi registrada por lacques Becker —, e depois, por extensão, os jovens
vadios urbanos. ” (315)

“Os Apaches cristalizaram um medo latente: aquele que uma sociedade em


envelhecimento e, no entanto, em plena transformação experimenta diante desses
últimos rebeldes contra a disciplina industrial: os jovens que "não querem trabalhar".
Por outro lado, eles suscitaram a admiração, a inveja de uma parcela da juventude das
classes populares, que tenta se identificar com eles, quando menos pela postura, pelo
modo de vestir. ” (318)
“Os Apaches vivem em bandos, e o termo sempre é empregado entre eles: bandos de
bairros, até de ruas, em sua maioria, que se chamam pelo nome do lugar — "o bando
dos Quatro Caminhos de Aubervilliers", "os Rapazes de Charonne", "os Afanadores de
Batignolles", "os Lobos da Butte" — pelo nome dos chefes — os Delignon, os Zelingen
—, ou por distinções físicas — os "Casacas negras", "os Gravatas verdes"...” (319)

“A questão das moças está no centro da violência apache. Escassas. as moças são muito
solicitadas, mas não só por questão de dinheiro. Proxenetas, os Apaches certamente
eram, mas nunca como profissionais. A mulher entre os Apaches tem um estatuto
complicado, comparável ao que ela tem na sociedade. ” (321)

“Essa geração opõe-se vivamente aos velhos usos da família patriarca], negando-se, por
exemplo, a entregar seu salário para os fundos comuns. Quando, aos dezoito anos, cessa
a obrigação da carteira de trabalho controlada pelo pai, carteira que em 1890 só
continuou a existir para o adolescente, o jovem operário abandona o lar paterno e corre
as estradas, passando de uma fábrica para outra, de um canteiro para outro, alimentando
uma grande rotatividade, esse turn over que alguns consideram um substituto da
aprendizagem. ” (327)

“Esses anos presenciam a instauração de um verdadeiro Código de Infância, com sua


justiça própria (1912: criação dos tribunais para menores, onde a criança fica sozinha
com o seu juiz, sem seus impertinentes companheiros, e assistida pelo psicólogo judicial
que aí faz sua aparição). O "trabalho social", a instituição de um ''complexo tutelar"
centrado na família passam, às vésperas da guerra, por importantes devolvimentos. ”
(332)

“No entanto, a juventude escapa a esses cuidados. Para ela, não se prevé realmente
nada, afora o serviço militar e, para os recalcitrantes, os batalhões disciplinares." Lei de
defesa nacional, a lei de três anos não teria também vantagens sociais? Muitos vêem no
exército a forma de captar ''qualidades guerreiras mal-empregadas"" e de domar os
rebeldes impenitentes, enviados para as primeiras linhas quando vier a guerra. A
Guerra: Viúva suprema. Assim acabaram os Apaches. ” (332)

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