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XLIV ENCONTRO
Evento on-line - 14 a DA ANPAD
16 de outubro - EnANPAD
de 2020 - 2177-2576 versão2020
online
Evento on-line - 14 a 16 de outubro de 2020
2177-2576 versão online
Autoria
DAMIAO MAGIDO MUARA - damiaomagido@gmail.com
Prog de Pós-Grad em Admin/Área Escola de Gestão e Negócios - PPGAdm/UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos
Sinos
Prog de Pós-Grad em Admin/Área Escola de Gestão e Negócios - PPGAdm/UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos
Sinos
Agradecimentos
Agradeço a CAPES e ao CNPQ pelo apoio ao PPG Administração da UNISINOS e a bolsa
produtividade da Amarolinda Klei.
Agradeço igualmente ao CNPQ pela bolsa que me concedeu para fazer o doutorado em
Administração na UNISINOS.
Resumo
Resumo
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), particularmente os governos
eletrônicos e móvel surgem como esforço do setor público para ampliar os níveis de
participação dos cidadãos nos diversos setores da sociedade. Eles representam iniciativas
que se baseiam no uso das TICs para gerar o valor público e, consequentemente, o bem-estar
social. Este estudo visa entender como a literatura de Governo Eletrônico (e-gov) e de
Governo Móvel (m-gov) avalia as decorrências dessas iniciativas para a promoção do
bem-estar social (well-being) dos cidadãos. Para alcançar este objetivo foi realizada uma
revisão sistemática de literatura. Essa revisão revelou que a teoria do valor público é a que
melhor aborda a questão do bem-estar social, ou seja, a satisfação das necessidades coletivas
através da prestação de serviços públicos, sendo uma teoria promissora para avaliar as
decorrências do e-gov e m-gov quanto a esses aspectos. Verificou-se também que não
existem métricas exaustivas e consistentes para avaliar o bem-estar social; as formas de
avaliação ainda carecem de objetividade e quantificação dos seus resultados, sendo
realizada, muitas vezes, uma avaliação subjetiva.
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Resumo
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), particularmente os governos eletrônicos
e móvel surgem como esforço do setor público para ampliar os níveis de participação dos
cidadãos nos diversos setores da sociedade. Eles representam iniciativas que se baseiam no uso
das TICs para gerar o valor público e, consequentemente, o bem-estar social. Este estudo visa
entender como a literatura de Governo Eletrônico (e-gov) e de Governo Móvel (m-gov) avalia
as decorrências dessas iniciativas para a promoção do bem-estar social (well-being) dos
cidadãos. Para alcançar este objetivo foi realizada uma revisão sistemática de literatura. Essa
revisão revelou que a teoria do valor público é a que melhor aborda a questão do bem-estar
social, ou seja, a satisfação das necessidades coletivas através da prestação de serviços públicos,
sendo uma teoria promissora para avaliar as decorrências do e-gov e m-gov quanto a esses
aspectos. Verificou-se também que não existem métricas exaustivas e consistentes para avaliar
o bem-estar social; as formas de avaliação ainda carecem de objetividade e quantificação dos
seus resultados, sendo realizada, muitas vezes, uma avaliação subjetiva.
Palavras-chave: Governo Eletrônico (e-Gov); Governo Móvel (m-gov); Bem Estar Social
(well-being).
1 - INTRODUÇÃO
O Governo eletrônico representa as iniciativas que se baseiam no uso das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs) e que redefinem como se dá a interação entre governos e
cidadãos. (ARAÚJO, 2018). Nos últimos 20 anos, a transformação do governo eletrônico
progrediu rapidamente, na medida em que os serviços públicos digitais modernos têm a
capacidade de facilitar a interação do governo com cidadãos e ser adaptados às suas
necessidades (AL-RAWAHI, 2019; MOSSEY et al, 2019). Assim sendo, o rápido avanço nas
TICs facilitou muito o desenvolvimento do governo eletrônico e do governo móvel em todo o
mundo e ajudou a transformar os modos tradicionais de prestação de serviços públicos. De
acordo com pesquisas da ONU (2016), atualmente 90 países oferecem um ou mais portais de
entrada única em informações públicas on-line, ou ambos, e 148 países fornecem pelo menos
uma forma de serviços transacionais on-line. As mesmas pesquisas revelam que mais países
estão fazendo um esforço por meio do governo eletrônico para garantir que as instituições
públicas sejam mais inclusivas, eficazes, responsáveis e transparentes.
Nesse sentido, o Governo Eletrônico (e-gov) está migrando também para o Governo
Móvel (m-gov), pois, na atualidade, devido à utilização massiva da internet e de dispositivos
móveis, as pessoas podem acessar as informações que necessitam em qualquer lugar e em tempo
real. O m-gov é uma extensão do e-gov, porém se diferencia dele em alguns aspectos, como,
por exemplo, o e-gov prevê a disponibilização de serviços via internet pontos fixos de acesso,
através do uso de meios fixos, como computadores pessoais (WANGA, 2020). O governo
móvel oferece uma capacidade poderosa e transformadora nas organizações, tanto na ampliação
do acesso aos serviços pelos cidadãos quanto na sua expansão e modernização, visando
aumentar a participação da sociedade junto ao governo (SHARMAA, 2018). Por exemplo, de
acordo com o Comitê de Gestão de Internet no Brasil (CGIB, 2018), neste país, 93% dos
usuários ativos da rede utilizaram telefones celulares para acessarem a internet, enquanto 57%
o fizeram por meio de computador de mesa, notebook ou tablet. Igualmente, 76% dos órgãos
públicos federais, 56% dos órgãos estaduais e 44% das prefeituras oferecem sites adaptados
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2 - MÉTODO
O artigo foi desenvolvido mediante uma revisão sistemática de literatura, tendo como
suporte a abordagem de Okoli (2015). Utilizou-se o seguinte procedimento: i) busca de
referências nas bases de dados, nomeadamente: periódicos da CAPES, Web of Science, Scopus,
Google acadêmico, Scielo e Base da AIS (Association for Information Systems); ii) análise,
seleção e síntese dos trabalhos.
Para a busca dos artigos relevantes para o presente estudo foram selecionados e
aplicados inicialmente os seguintes termos de busca: “electronic government” OR “e-gov”;
“mobile government” OR “m-gov” AND “Impact” OR “Consequences” OR “results” OR
“evaluation” OR “assessment” AND “quality of life” OR “well being” OR “public value”. Os
termos foram utilizados para pesquisa no titulo, resumo e palavras chave dos artigos das bases
de dados sem restrição por periodo de tempo. O objetivo dessa primeira busca era compreender,
de maneira geral, como a literatura avalia as decorrências de e-gov e m-gov. Os termos “quality
of life” OR “well being” OR “public value” foram usados por serem próximos, todos eles
voltados para a questão das decorrências para o bem-estar dos cidadãos.
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2003). Um dos mais conhecidos é o modelo do Balanced Scorecard (BSC), que é definido como
um modelo de avaliação de desempenho que visa traduzir a visão e as estratégias de negócios
em metas e métricas de desempenho de quatro perspectivas diferentes: financeira, clientes,
processos e operações internas e inovação e aprendizado. No entanto, modelos como esses não
possuem um método projetado para envolver os cidadãos e simplificam demais os indicadores
de avaliação de desempenho, que geralmente são limitados a indicadores de satisfação dos
cidadãos em relação aos serviços prestados. Esses modelos estruturam suas dimensões de
avaliação, concentrando-se mais frequentemente em perspectivas internas do que externas.
(BARBOSA et al, 2013).
Também foi identificado, na revisão da literatura, que diversas abordagens teóricas são
utilizadas para avaliar as decorrências do e-gov e m-gov. O Quadro 3 apresenta uma síntese
dessas abordagens. O mesmo traz as abordagens teóricas, a ênfase da teoria e exemplos de
autores que utilizaram tais teorias em seus artigos.
Quadro 3: Síntese de abordagens teóricas identificadas para avaliação de e-gov e m-gov
Abordagem Teórica Ênfase da Teoria Autores que utilizaram
É uma abordagem teórica que tem como foco o (MOORE, 1995) (COOK e
Teoria do valor bem-estar (well- being). Aborda o valor público (TWIZEYIMANA et al 2019)
público como sendo expectativas coletivas dos cidadãos (WANG, 2016)
no que diz respeito aos serviços públicos e
privados.
Dá ênfase aos aspectos da estrutura social,
Teoria Institucional, considerando os processos pelos quais as (De ALBUQUERQUE, et al
Neoinstitucionalismo estruturas, incluindo esquemas, regras, normas e 2013)
rotinas se estabelecem como diretrizes (KENTER et al, 2018)
para o comportamento social.
Considera a habilidade da firma de explorar as
Teorias baseadas em capacidades existentes, a fim de tomar melhores (GUANGUEI et al, 2012)
capacidade (CBTs) decisões na formulação da estratégia.
Teoria de É o meio mais alto de participação cidadã por
empoderamento meio das TICs. A participação e a satisfação do (MOHAMMED, 2016)
cidadão intermedia a relação entre
empoderamento e valor público.
Teoria normativa da Refere que a função de bem-estar social da
escolha social renda nacional ajustada baseia-se no (DEYONG et al, 2019)
pressuposto de que a soma das preferências
reveladas dos individuos não equivale a
preferencia ideal da escolha social
Fonte: Elaborado com base na revisão da literatura
Segundo constatado na revisão da literatura, a avaliação das decorrências do e-gov e m-
gov envolvem um processo complexo de avaliação de desempenho que deve levar em
consideração, principalmente, a perspectiva do cidadão na qualidade de beneficiário dos
serviços da Administração Pública. Assim, uma das avaliações mais importantes das
decorrências do e-gov e m-gov, envolve apurar o grau de promoção do bem-estar (well-being),
percebido pelos cidadãos. Igualmente, o processo de avaliação das organizações deve consistir
não apenas na verificação dos serviços prestados pelas organizações, como também na
verificação da transparência e na precisão das informações prestadas, o que irá contribuir no
aumento da imparcialidade da organização e consequentemente no aumento da satisfação dos
cidadãos (CHEN, 2016).
Assim, para além da satisfação dos cidadãos com os serviços prestados, as decorrências
do e-gov e m-gov devem refletir-se na melhoria do bem-estar (well-being) das pessoas, algo
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que deve ser materializado pelo valor público gerado por eles. Segundo Cook e Harisson (2015),
as políticas traçadas pelo governo devem refletir-se em valor público, ou seja, os tipos de valor
devem constituir a base para a discussão de um investimento que visa a promoção do bem-estar
da sociedade.
A questão sobre o bem-estar (well-being) vem assumindo importância sob vários aspectos
nos últimos anos, particularmente no que diz respeito à sua avaliação ou mensuração, quer
individualmente quer coletivamente. Segundo Twizeyimana e Anderson (2019), a dimensão do
valor público e bem-estar inclui valores criados pelos governos para as famílias, comunidades
e outros. O bem-estar (well-being), segundo esses autores, é uma noção eminentemente
humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, social e
ambiental e à própria estética existencial, e pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese dos
elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. A
avaliação do bem-estar está associada com a satisfação ou da qualidade percebida dos serviços
sociais básicos prestados pelo governo ao cidadão, nomeadamente de saúde, educação, diversas
infraestruturas públicas, habitação, entre outros (WANG, 2016).
A partir dos resultados da revisão mais ampla da literatura de avaliação das decorrências
de e-gov e m-gov, e das abordagens teóricas identificadas para o estudo desse tema, sintetizadas
no Quadro 3, identificou-se que a Teoria do Valor Público possibilita uma análise mais
aprofundada da questão do bem-estar social, dentre todas as demais abordagens e teorias
analisadas. Esta teoria foi escolhida como base para o aprofundamento da revisão da literatura
sobre bem-estar social, e será detalhada na sequência.
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Conforme Moore (2015) o valor público refere-se ao valor que os cidadãos e os seus
representantes buscam em relação aos resultados estratégicos e experiência de serviços
públicos. Nesse sentido, o valor público pode ser produzido por qualquer organização - seja
pública assim como privada - por meio de acordos de parcerias público privada. Segundo Wang
et al., (2017), existem diversos valores na sociedade humana, que podem ser categorizados em
econômico, político e social, especificados a seguir:
Valor econômico - Wang et al (2017) referem que os valores económicos são
considerados privados, isto é, possuídos por poucos e usufruídos por uma minoria de indivíduos
ou grupos, sem a participação do público em geral. Os autores referem ainda, que os valores
econômicos se tornam cada vez mais públicos devido à regulamentação e intervenção do
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governo, e que estes são os mais simples de serem mensurados, por exemplo, através de índices
como o PIB (Produto Interno Bruto).
Valor político - Devido à dicotomia entre política e administração, os valores políticos
são frequentemente considerados como distintos dos valores econômicos, embora estejam
relacionados. Em contraste com os valores econômicos, a maioria dos valores políticos, tais
como: liberdade, democracia e justiça são conceitos filosóficos, profundos e controversos,
difíceis de serem mensurados. Os índices de liberdade, democracia, justiça, entre outros, são
subjetivos.
Valor social - A esfera social inevitavelmente se sobrepõem à esfera econômica e
política. O valor social envolve elementos como: educação, saúde, família, cultura, meio
ambiente e combate ao crime, (WANG et al, 2017). O governo, além de criar o valor social, é
responsável por o proteger, por meio de políticas sociais e legislação. O valor social pode ser
medido por alguns indicadores, como (IDH) índice de desenvolvimento humano (WANG at al,
2017), mas está também atrelado a fortes componentes subjetivos.
Garcia et al. (2015) também destacam valores públicos em três áreas, nomeadamente:
a área econômica, a área social e a área socioeconômica. Os autores salientam que o valor
econômico é criado quando é gerado retorno financeiro de um investimento e o valor social é
criado quando recursos, processos e políticas são combinados para gerar melhorias na vida das
pessoas ou da sociedade como um todo. Ainda segundo estes autores, organizações criam valor
socioeconômico quando suas ações significam economia de custos ou receitas para o setor
público ou para a comunidade. Tanto a abordagem de Garcia et al (2015) assim como a de
Wang et al. (2017), ambas trazem nos seus conceitos, semelhanças no conceito de valor público
no que tange à sua finalidade, que é a melhoria das condições de vida das pessoas ou da
sociedade.
Igualmente, a dimensão de valor público e bem-estar inclui valores criados pelos
governos para as famílias e comunidades em geral. Por exemplo, Cook e Harrison (2015)
destacam o aumento do status social, aumento da segurança, confiança e bem-estar
socioeconômico como atrelados ao valor social. Referem ainda que permitir liberdade,
capacitação, empoderamento e igualdade de direitos afeta a saúde individual, familiar,
segurança, satisfação e bem-estar geral, afeta igualmente a renda, os bens e a riqueza dos
cidadãos. A saúde individual e coletiva, a liberdade ou segurança, aliado ao valor público,
constituem elementos fundamentais para a estabilidade das pessoas, e a consequente promoção
do bem-estar social. Portanto, o bem-estar social pode ser também apoiado pelo governo
eletrônico, facilitando melhor gerenciamento dos recursos públicos por meio de aplicativos e
transações on-line, melhorando a quantidade e a qualidade dos serviços ao cidadão.
Nesse sentido, o governo eletrônico pode afetar o valor social e o bem-estar de várias
maneiras (COOK e HARRISON, 2015), por exemplo, plataformas de mídia social (twitter,
blogs etc), que podem aumentar os níveis de contato social dos cidadãos e, consequentemente,
aumentar a saúde social dos mesmos. Segundo Kroenger e Weber (2014), a inovação, a
proatividade, o gerenciamento de riscos e outras dimensões chave, são elementos determinantes
na criação de valor social. Há que destacar o papel das organizações sem fins lucrativos, que
também se dedicam em intervenções de caráter social ou na produção de valor social, visando
a melhoria do bem-estar das pessoas desfavorecidas. Ou seja, a criação de valor social não
depende unicamente do governo.
A categoria de valor socialmente orientado refere-se àqueles que incorporam uma visão
quase política, que abrange objetivos sociais mais amplos (KROENGER e WEBER 2014). Isso
inclui aspectos relacionados à inclusão e tratamento igual do público de maneira justa e
conceder acesso universal a serviços públicos. Segundo Wanga (2020), valores socialmente
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aos valores culturais e normas da sociedade em geral. Refere-se ao KENTER et al. (2015)
interesse público, valores para bens públicos, valores não
monetários, que as pessoas mantêm em situações sociais,
contribuição para o bem-estar.
Definição 3: Valor social são os benefícios criados além daqueles
capturados pelo criador da organização. KURATO et al. (2016)
Fonte: Revisão da literatura
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dimensões. Segundo Wang et al., (2017), para a determinação objetiva dos resultados, é
necessário analisar a evolução do desempenho e o nível de alcance das metas elaboradas com
sistemas de informação para o monitoramento, avaliação e controle rigoroso e oportuno, que
suportam a tomada de decisão e as medidas corretivas.
Na ótica de Flores (2016), medir o impacto social de iniciativas sempre foi um desafio
para todas as organizações que criam este tipo de valor, nomeadamente, fundações, ONGs,
empresas sociais e governo. Segundo este autor, muitas vezes os benefícios de natureza social
são percebidos como intangíveis, o que os torna difíceis de serem medidos.
É importante salientar que existe a percepção de que há uma premissa evidente que, para
gerar e gerenciar o bem-estar social, é necessária sua medição ou quantificação, caso contrário,
será apenas uma ideia que não terá como ser monitorada e aprimorada. Segundo Grieco et al.,
(2014), a prática da avaliação do bem-estar social pode ser vista como o processo de fornecer
evidências de que uma organização está oferecendo um benefício real e tangível à comunidade
ou ao meio ambiente.
De uma maneira geral, uma série de indicadores qualitativos tem sido usados para avaliar
os níveis de bem-estar social. Na ótica de Guido, et al. (2017), estes indicadores de medição
podem ser subjetivos e objetivos, por sua vez podem ser unidirecionais e multidirecionais. Entre
os indicadores objetivos, encontramos medições de variáveis econômicas, ambientais e
monetárias, normalmente coletados por instituições de pesquisa estatística (Guido et al., 2017).
Segundo refere o autor, as medidas subjetivas, por outro lado, normalmente se baseiam em
indicadores multidirecionais que foram desenvolvidos nas ciências sociais. O Quadro 5
apresenta os indicadores de medição do bem-estar social na ótica de diferentes autores.
Na ótica de Guido et al. (2017), aspectos subjetivos precisam ser levados em conta para
avaliar o bem-estar social. Nestes termos, temos a percepção de que o bem-estar social não é
fácil de ser medido, devido a impossibilidade, muitas vezes, de encontrar formas quantitativas
para relatar informações de impacto social. Uma ideia partilhada por Grieco et al. (2014),
segundo a qual o principal problema não é a medição em si, mas a conversão de dados
qualitativos relacionados à consecução de uma missão social em métricas quantitativas.
Das pesquisas feitas, constatou-se que os valores possíveis de serem medidos com
relação ao bem-estar social envolvem aspectos econômicos. Em relação a esse aspecto, Wang
(2017) considera que o valor econômico pode ser medido em termos de dinheiro e (PIB) Produto
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Interno Bruto. Uma ideia corroborada por Flores (2016), que considera que o valor econômico
pode ser medido usando termos monetários para representar os resultados. Porém, Wang (2017),
verbaliza que embora o valor econômico possa ser medido, a maioria dos valores políticos e
sociais são difíceis, embora não impossíveis, de serem medidos por metodologias subjetivas e
objetivas.
Identificamos alguns indicadores que têm sido usados para medir o valor social gerado
por projetos específicos, por exemplo, relativos à criação de um sistema de abastecimento de
água de uma comunidade. Nesse caso, Flores (2016) recomenda o uso de “indicadores” para
medir o impacto social do projeto, tais como (nesse exemplo) a redução de casos de doenças de
origem hídrica. Portanto, no caso específico, são tomados como indicadores-chave o número de
visitas ao médico e o nível de gastos por serviços de saúde.
Segundo DeYong et al. (2019), embora uma das ferramentas de medição sugeridas no
Quadro 5 seja o crescimento econômico, o bem-estar social pode subir e cair independentemente
dos movimentos do crescimento econômico. E como nem sempre estão relacionados, não se
pode, segundo o autor acima, dizer que o bem-estar social tenha uma relação direta e positiva
com o crescimento econômico. Assim, os formuladores de políticas que visam aumentar
crescimento econômico não podem mais se justificar em termos de buscar, com isso,
necessariamente aumentar o bem-estar social.
Desta feita, o bem-estar social pode ser medido por pesquisas subjetivas como felicidade
e satisfação. Portanto, a avaliação que se faz nesta vertente é de caráter qualitativo, fato que, em
nosso entender, confere a obtenção de resultados não quantificáveis, o que pode, eventualmente,
gerar resultados de avaliação das decorrências de e-gov e m-gov pouco confiáveis. Portanto,
embora existam algumas ferramentas de medição de valor social apresentadas anteriormente
que possam ser usadas para medir o bem-estar social, ainda existe a necessidade de criar
ferramentas que sejam quantificáveis, robustas e, ao mesmo tempo, flexíveis para este fim.
Medidas mais precisas são necessárias para serem usadas tanto para a avaliação de projetos e
tomada de decisão por parte das instituições (FLORES, 2016).
Portanto, em nosso entender, há uma infinidade de resultados relativos ao bem-estar
social que não têm necessariamente um valor monetário ou valor econômico para ser medido.
Igualmente, como mencionado anteriormente, muitos resultados quanto ao bem-estar social são
percebidos como intangíveis, dificultando sua medição. É nestes termos que Tellini et al.,
(2019), foram peremptórios na sua colocação que, até o momento, nenhuma abordagem única
foi amplamente adotada em todo os setores como padrão para medir o valor social ou bem-estar
social.
6 - CONCLUSÕES
Os serviços da Administração Pública prestados por meio do e-gov e m-gov, apoiados nas
TICs, têm o potencial para aumentar a produtividade, a boa governança, a prestação de contas
e a promoção do bem-estar dos cidadãos. Por meio da abordagem de pesquisa e revisão
sistemática de literatura, buscou-se acessar o estado da arte dos estudos sobre as decorrências do
governo eletrônico e do governo móvel para a geração do bem-estar social. Por meio dessa
revisão, foi possível identificar lacunas e oportunidades de pesquisa futuras, bem como
selecionar trabalhos diretamente relacionados com o enfoque do presente artigo.
Em termos de lacunas identificadas por meio deste estudo, temos a destacar as seguintes:
PRIMEIRO – A primeira lacuna é concernente às abordagens teóricas identificadas para
avaliação das decorrências do e-gov e m-gov, as quais estão sintetizadas no quadro 3. Neste
sentido, apuramos que várias abordagens e teorias vem sendo utilizadas para avaliar as
decorrências do e-gov e m-gov, mas que basicamente só uma delas (a teoria de valor público)
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foca mais especificamente na avaliação das decorrências das ações de e-gov para o bem-estar
social (well- being). Portanto, no presente estudo, e em face ao exposto acima, podemos afirmar
que em relação as outras abordagens e teorias não foram encontradas referências suficientes
que ajudem a avaliar as decorrências do e-gov e m-gov especificamente para o bem-estar social.
Devido a isso, em pesquisas futuras sobre o tema, a teoria de valor público poderá ser
considerada como base, para avançar dentro desse foco.
SEGUNDO – A segunda lacuna por nós identificada tem a ver com a imprecisão na
definição do conceito de bem-estar social (well-being). Verificou-se que existem diversos
conceitos, na literatura, muito próximos do conceito de bem-estar social, tais como o de
qualidade de vida, por exemplo. Apesar destes conceitos serem próximos ao conceito de bem-
estar não foi necessário aborda-los de forma profunda, uma vez que não constituem nosso foco.
Para fins deste estudo, o bem-estar (well-being) foi definido conforme o conceito de Wang
et al. (2017), uma vez que ele equivale o conceito de valor social com o de bem- estar social, que
constitui o foco deste trabalho. Segundo essa definição, o valor social corresponde ao bem-estar
social, que resulta da percepção dos cidadãos em relação aos serviços que lhes são oferecidos
pela administração pública ou pelo governo e consequentemente geram a satisfação e sensação
de uma vida boa e agradável entre os indivíduos. Os gastos em saúde e educação pelo governo
tem sido importantes para melhorar o bem-estar social (DEYUNG et al, 2019), razão pela qual
estes elementos, saúde e educação, constituem o foco na avaliação dentro do bem-estar social.
O setor público precisa incorporar o conceito de valor social nos objetivos da regulamentação
e iniciativas por ele produzidas, com vista a reconhecer e promover iniciativas sociais que
possam gerar o bem-estar social dos grupos, especialmente os desfavorecidos. Nota-se a
existência de poucos estudos enfocando em valor social e bem-estar social.
TERCEIRO – A terceira lacuna constatada é a ausência de modelos ou ferramentas
consolidadadas para a avaliação, de forma mais objetiva, do bem-estar social. No que tange à
avaliação das decorrências do e-gov e m-gov para o bem-estar social, que é o que constitui
nosso foco, não se observou a existência de um modelo consolidado para esse fim, tendo apenas
se constatado a existência de métricas em sua maioria de caráter subjetivo, que dificilmente
podem quantificar os benefícios sociais de uma comunidade, e poucos indicadores precisos (ver
Quadro 5). Portanto, para a medição do bem-estar social, é necessário ainda desenvolver
ferramentas ou métricas claras que vão para além das medidas subjetivas, devido à
intangibilidade dos seus resultados.
Tendo sido apurado a existência de poucas pesquisas sobre valor social e bem- estar social
e e-gov e m-gov, sugerimos que pesquisas futuras sejam levadas a cabo para ampliar o leque
de produções nesta temática. Reconhecendo ao dinamismo da ciência, uma vez identificadas as
lacunas no presente trabalho e como forma de contribuir para pesquisas futuras, sugerimos em
seguida algumas perguntas para pesquisas futuras:
Primeira: Como foi constatado, a teoria do valor público constitui uma das ferramentas
basilares para avaliar os resultados em processos de gestão no setor público, no que tange a
abordagens sobre bem-estar social. É nesse espirito que colocamos a seguinte pergunta: Como a
teoria do valor público pode ser aprimorada para a avaliação das decorrências do e-gov e m-
gov no que tange especificamente a avaliação do bem-estar social dos cidadãos?
Segunda: Há um pressuposto de que os conceitos e todas as abordagens a ser feitas em
estudos devem ser claros e precisos de modo que não possam criar margens de dúvida aos seus
leitores. Nesta ordem de ideias e face à segunda lacuna identificada, colocamos a seguinte
questão de pesquisa: Até que ponto a imprecisão no conceito de bem-estar social pode
impossibilitar a compreensão exaustiva desta matéria e, especialmente, a avaliação das
decorrências de e-gov e m-gov com este enfoque?
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REFERÊNCIAS
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uma análise a partir das medidas de acesso e competências de uso da internet. Universidade de
São Paulo / Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), Programa de
Pós-Graduação em Administração. São Paulo / SP - Brasil, 2018. p.674-694.
AL-RAWAHI, Khalid Hamood N. (2019). The creation of public value through e- government
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Vol. 91, No. 3, 2013 (744–762) 2012.
BENINGTON, J.; MOORE, M. (Ed.). Public value: theory & practice. New York: Palgrave
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