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FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


DISCIPLINA: Direito Financeiro
SEMESTRE/ANO: 1º/2020
PROFESSOR: Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho

4ª Apostila (resumo de aulas) da disciplina Direito Financeiro


Unidade IV – “Repartição de Receitas Tributárias”

CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO FINANCEIRO
RESUMO DE AULA DO PROF. OTHON SARAIVA

REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS

Visto, na apostila anterior, a repartição do poder de tributar, cumpre,


agora, expor acerca da distribuição das receitas tributárias, ou como muito bem
conceitua Sacha Calmon Navarro Coêlho: as participações das pessoas políticas
no produto da arrecadação das outras.

A esse respeito, cabe, inicialmente, trazermos à coloção interessante


esclarecimento, emitido pelo Professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho1:

1 “Partilha do produto. Desde a reforma Tributária (Emenda nº 18, de 1965),


o sistema tributário nacional estabelece complexo sistema de participação dos
Estados e Municípios no produto da arrecadação federal. Esse sistema
apresenta inegáveis vantagens. Como escrevemos noutro trabalho, ‘a primeira
vantagem que deve ser salientada nesse sistema é a redistribuição de rendas’
(participação do município na arrecadação da União e do Estado, revista de
Direito Público, 9:50). (Henry) Laufenburger, o mestre francês do direito
financeiro, bem formulou a questão quando viu nas participações tributárias um
meio para diminuir as diferenças entre regiões de um mesmo Estado. Serve a
participação para dar meios melhores a regiões mais pobres, retirando-os das
zonas mais ricas. Supre, assim, a deficiência do regime de participação rígida de
tributos entre a União, Estados, e Municípios, pois os tributos exclusivos rendem

1 Ferreira Filho, Manoel Gonçalves - obra citada, p.p. 128/9.


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bem nas regiões ricas, onde há riqueza para alimentá-los, e mal, ou


insuficientemente, nas que são pobres. É essa a lição de Laufenburger através
da conhecida teoria do filtro, cuja aplicação ao federalismo cooperativo soube
salientar o Professor Machado Horta (cf. A autonomia do Estado-membro no
direito constitucional brasileiro, p. 281)

Outra vantagem desse sistema é permitir, ou ensejar, uma uniformização


de serviços estaduais ou municipais quanto á sua qualidade. Tal sistema permite
que os Municípios e os Estados mais pobres gozem de um nível mínimo de
serviços que de outra forma ficariam restritos às comunidades mais ricas e
prósperas.”

Críticas de alguns a esse sistema: uma distribuição mais eqüitativa dos


impostos poderia prescindir do mecanismo de repartição de receitas tributárias;
esse sistema tolhe a autonomia das entidades.

Do produto da arrecadação de impostos da competência da União


pertencem aos Estados, ao Distrito Federal ou ao Território:

a) 30%, conforme a origem, da arrecadação do imposto sobre operações


financeiras sobre o ouro, compreendido como ativo financeiro ou instrumento
cambial, devido na operação de origem (CF, art. 153, §5º, I).

b) Pertence aos Estados e ao Distrito Federal logo que por eles recolhido,
embora a instituição e a regulamentação do tributo sejam da alçada da União, o
produto da arrecadação do imposto da competência da União sobre renda e
proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a
qualquer título, por eles e suas autarquias e pelas fundações que instituírem e
mantiverem (CF, art. 157, I).

c) 20% do produto da arrecadação do imposto que a União instituir com base na


sua competência residual (CF, art. 157, II).

Do produto da arrecadação de impostos da competência da União


pertencem aos Municípios:

a) 70% do IOF, devido na operação de origem, sobre o ouro, quando definido


como ativo financeiro ou instrumento cambial, conforme sua origem (CF, art.
153, §5º, II).

b) o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de


qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer
título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem
(CF, art. 158, I).

c) 50% do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade


territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade

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na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º, III.* (CF, art. 158, II–EC
42/03).

CF, art. 153, §4º, III - EC 42/03:

O ITR será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma
da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de
renúncia fiscal.

Ainda pertencem aos Municípios:

d) 50% do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade


de veículos automotores licenciados em seus territórios (CF, art. 158, III).

25% do produto da arrecadação do tributo estadual o ICMS (CF, art. 158, IV).

As parcelas de receita pertencentes aos Municípios, relativas ao ICMS,


serão creditadas conforme os seguintes critérios (CF, § único do art. 158), de
conformidade com a Emenda Constitucional nº 108/2020:

I – 6,5%, no mínimo, na proporção do valor adicionado* nas operações relativas


à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seus
territórios;
II - até 3,5%, de acordo com o que dispuser lei estadual, observada,
obrigatoriamente, a distribuição de, no mínimo, 10 (dez) pontos percentuais com
base em indicadores de melhoria nos resultados de aprendizagem e de aumento
da equidade, considerado o nível socioeconômico dos educandos.

Valor adicionado (LC 63/90, art. 3º, §1.º):

Corresponderá, para cada Município, ao valor das mercadorias saídas acrescido


do valor das prestações de serviços, no seu território, deduzido o valor das
mercadorias entradas, em cada ano civil.

No que tange aos Fundos de Participação, a União distribuirá:

a) 49% do produto da arrecadação do IR e do IPI, excluída as participações


diretas dos Estados e dos Municípios no IR que recolheram na fonte, sendo que
21,5% ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal; 22,5% ao
Fundo de participação dos Municípios; 3% para aplicação em programas de
financiamento ao setor produtivo das Regiões NO, NE e CO, através de suas
instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos regionais
de desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do NE a metade dos
recursos destinados à região, na forma que a lei estabelecer (CF, art. 159, I, a,
b, e c, e §1º); 1% ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue
no primeiro decêndio do mês dezembro de cada ano (EC 55/07). 1%, também,

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ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro


decêndio do mês de julho de cada ano (EC 84/2104).

b) do produto da arrecadação do IPI, 10% aos Estados e ao DF,


proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos
industrializados, sendo que a nenhuma unidade da Federação poderá ser
destinada parcela superior a 20% desse montante de 10%, devendo o eventual
excedente ser distribuído entre os demais participantes, mantido em relação e
esses, o critério de partilha nele estabelecido (CF, art. 159, II, §2º).

Os Estados redistribuirão aos respectivos Municípios:

25% dos recursos que receberem de IPI, nos termos do art. 159, II, da CF,
observados os critérios estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e II da CF
(art. 159, §3º).

A União entregará (CF, art. 159, III - EC 44/04):

Do produto da arrecadação da Cide-Combistíveis 29% para os E e o DF,


distribuídos na forma da lei, para ser destinado ao financiamento de programas
de infra-estrutura de transportes.

Redistribuição do produto da Cide-combustíveis - CF, art. 159, §4º - EC. 42/03:

Do montante dos recursos que receberem de Cide-Combistíveis, os Estados


redistribuirão 25% aos seus Municípios, na forma da lei.

Vedação do art. 160 da CF:

É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos


atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao DF e aos Municípios, neles
compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos

Exceção: § único do art. 160 da CF:

A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de


condicionarem a entrega de recursos:

I – ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias;


II – ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III.- gastos mínimos
com saúde.

Cabe à LC (CF, art. 161):

I - definir valor adicionado para fins do disposto no art. 158, parágrafo único, I;
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159,
especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I,

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objetivando promover o equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre


Municípios;

III - dispor sobre o acompanhamento, pelos beneficiários, do cálculo das quotas


e da liberação das participações previstas nos arts. 157, 158 e 159.

O Tribunal de Contas da União efetuará o cálculo das quotas referentes aos


fundos de participação a que alude o inciso II.

Publicidade-art. 162 da CF

A União, os Estados, o DF e os Municípios divulgarão, até o último dia do mês


subseqüente ao da arrecadação, os montantes de cada um dos tributos
arrecadados, os recursos recebidos, os valores de origem tributária entregues e
a entregar e a expressão numérica dos critérios de rateio. Os dados divulgados
pela União serão discriminados por Estado e por Município; os dos Estados, por
Município.

Saúde: A Emenda 86/2015 também traz regras sobre a aplicação mínima de


recursos da União em saúde. Apenas os Estados e Municípios tinham
percentuais obrigatórios para a destinação de recursos para a saúde, 12% para
Estados e 15% para municípios, previstos na lei que regulamentou a Emenda
29.

De acordo com o texto da EC 86, o percentual mínimo - BASE, PISO, QUE NÃO
É TETO - de investimento em ações e serviços públicos de saúde pela União
será alcançado ao longo de cinco anos até atingir 15% da receita corrente líquida
em 2018 (em 2015, 13,7%; em 2016, 14,1%; em 2017, 14,5%; e em 2018, 15%).

DRU (desvinculação das receitas da União)

A Emenda Constitucional 93, de 8/9/2016, prorroga, até 2023, a Desvinculação


de Receitas da União (DRU). A medida permite que o governo redefina
prioridades e utilize livremente 30% da receita de impostos e contribuições
sociais. Na prática, a DRU aumenta a flexibilidade para que o governo use parte
dos recursos do orçamento com despesas que considerar mais importantes. O
governo já podia usar esses recursos de forma livre até 20%, mas a medida que
permitia isso havia vencido no final de 2015.

DRU – Art. 76 do ADCT, com a redação dada pela EC 93/2016:

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Art. 76. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de


dezembro de 2023, 30% (trinta por cento) da arrecadação da União
relativa às contribuições sociais, sem prejuízo do pagamento das
despesas do Regime Geral da Previdência Social, às contribuições de
intervenção no domínio econômico e às taxas, já instituídas ou que vierem
a ser criadas até a referida data.

§ 2º do 76 do ADCT (EC 27/00):

“Art. 76. ...


§ 2º. Excetua-se da desvinculação de que trata o caput deste artigo a
arrecadação da contribuição social do salário-educação a que se refere o
art. 212, § 5º, da Constituição.”

DRU - Art. 76-A do ADCT da CF/88, inclusa pela EC 93/2016:

Art. 76-A. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de


dezembro de 2023, 30% (trinta por cento) das receitas dos Estados e do
Distrito Federal relativas a impostos, taxas e multas, já instituídos ou que
vierem a ser criados até a referida data, seus adicionais e respectivos
acréscimos legais, e outras receitas correntes.

DR Estados/DF - Art. 76-A, parágrafo único, I, II e III, do ADCT da CF/88 (EC


93/2016):

Excetuam-se da desvinculação de que trata o caput: I - recursos


destinados ao financiamento das ações e serviços públicos de saúde e à
manutenção e desenvolvimento do ensino de que tratam,
respectivamente, os incisos II e III do § 2º do art. 198 e o art. 212 da CF;
II - receitas que pertencem aos Municípios decorrentes de transferências
previstas na CF; III - receitas de contribuições previdenciárias e de
assistência à saúde dos servidores;

DRE/DF - Art. 76-A, parágrafo único, IV e V, do ADCT da CF/88, inclusos pela


EC 93/2016:

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IV - demais transferências obrigatórias e voluntárias entre entes da


Federação com destinação especificada em lei; V - fundos instituídos pelo
Poder Judiciário, pelos Tribunais de Contas, pelo Ministério Público, pelas
Defensorias Públicas e pelas Procuradorias-Gerais dos Estados e do
Distrito Federal.

DR Municípios – Art. 76-B (EC 93/2016):

Art. 76-B. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de


dezembro de 2023, 30% (trinta por cento) das receitas dos Municípios
relativas a impostos, taxas e multas, já instituídos ou que vierem a ser
criados até a referida data, seus adicionais e respectivos acréscimos
legais, e outras receitas correntes.

DRM - Art. 76-B, parágrafo único, I e II (EC 93/2016):

Excetuam-se da desvinculação de que trata o caput: I - recursos


destinados ao financiamento das ações e serviços públicos de saúde e à
manutenção e desenvolvimento do ensino de que tratam,
respectivamente, os incisos II e III do § 2º do art. 198 e o art. 212 da
Constituição Federal; II - receitas de contribuições previdenciárias e de
assistência à saúde dos servidores; III - transferências obrigatórias e
voluntárias entre entes da Federação com destinação especificada em lei;
IV - fundos instituídos pelo Tribunal de Contas do Município.

Bibliografia
- ARAÚJO, Eugênio Rosa de. Resumo de direito financeiro, 2ª ed., SP: Editora
Impetus, 2009.
- BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de direito tributário,
7ª edição, São Paulo: Saraiva, 1999.
- HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário, 24 ed. São Paulo, SP: Atlas,
2015.”
- MARTINS, Ives Gandra da Silva. Tratado de direito financeiro, volume 1, 1ª
ed., São Paulo, SP: Saraiva, 2013.
- MARTINS, Ives Gandra da Silva. Tratado de direito financeiro, volume 2, 2ª
ed., São Paulo, SP: Saraiva, 2013.

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- OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Curso de direito financeiro, 7ª ed., rev. e


atual. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2015.
- PISCITELLI, Tathiane. Direito Financeiro Esquematizado, 5ª ed., Rio de
Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2015.
RAMOS FILHO, Carlos Alberto de Moraes. Direito financeiro esquematizado,
coordenador Pedro Lenza, SP: Saraiva, 2015.
- ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de direito financeiro e direito
tributário, 18ª edição, Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
- SARAIVA FILHO. Oswaldo Othon de Pontes. Apostilas (resumo de aulas) de
Direito Financeiro.
- TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário,14. ed. Rio
de Janeiro, RJ: Renovar, 2007.

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