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HISTÓRIA DA ARTE 2 | PROF.

GUSTAVO LOPES

Semana 5
A ARTE NO EXTREMO ORIENTE
Conhecida como Cavalo
voador, essa escultura
representa um cavalo em
galope, com uma das patas
apoiada em um pássaro.

Cavalo voador. bronze.


Encontrado numa tumba,
provavelmente de um general.
Dinastia Han, c. 120 a. C.
Com apenas uma de suas
patas tocando a base, o
cavalo parece, de fato,
flutuar. Essa leveza e essa
sobreposição – o voo do
cavalo sobre o voo do
pássaro –, reforçadas pelo
dinamismo criado pelas
patas do cavalo e pela leve
rotação da sua cabeça,
tornam esta escultura uma
perfeita aplicação de algo
que muitos artistas
chineses posteriores
buscariam alcançar: a
ilusão de movimento.
Versos de um poema que acompanha esta pintura Cheng Rong, Rolo dos Nove
indicam que, séculos depois, o movimento não perdera Dragões (detalhe). Pintura em
nada de sua importância artística: “Quando vistos a certa papel, 46.3 cm × 1496.4 cm.
distância, nuvens e água parecem estar em rápido China, século XIII
movimento./ Quanto olhamos de perto, a mão do artista
é certamente abençoada por um poder divino.”
Rolos feitos para pendurar eram verticais e não tão compridos. Não é o caso do
Rolo dos Nove Dragões: ele não foi feito para ficar exposto numa parede, mas era
guardado para ser desenrolado, apreciado e guardado novamente.
A pintura deve ser vista da direita para a esquerda. À
medida que se desenrola, um fluxo constante parece
encadear as formas umas nas outras.
Como na pintura europeia, algumas áreas das figuras desaparecem
nas sombras. Entretanto, a ênfase em espaços vazios e as áreas
encobertas por névoa são características específicas da arte chinesa
– e também da japonesa, que a tomou por referência.
Não se buscava dissimular
as pinceladas: como sugere
o poema, um atrativo da
pintura quando vista de
perto era justamente a
habilidade do artista
observável nelas. Trata-se
de uma pintura que se
aproxima da caligrafia.
Pinceladas marcantes, uso do vazio e
formas escondidas pela névoa se
encontram também em muitas
pinturas de paisagem chinesas. É o
caso desta célebre pintura de Guo Xi.
O pintor não pretendeu aqui
apresentar uma vista realista de uma
montanha; em vez disso, combinou
vistas de ângulos diferentes da mesma
montanha para criar um vista ideal.

Guo Xi, Início da Primavera, 1072


É preciso atenção para perceber
as figuras humanas presentes.

A insignificância dessas figuras


é o que as torna importantes:
elas acentuam, por contraste, a
grandiosidade da natureza em
volta.
Contribui para essa
grandiosidade a perspectiva
atmosférica – ilusão de
tridimensionalidade criada
pela alteração na cor e na
nitidez dos objetos à
medida que se distanciam
do observador. Mais
presentes nas rochas e nas
árvores mais próximas, os
tons escuros vão ficando
mais raros nos objetos à
distância, que vão se
esmaecendo. O espaço
representado aparenta,
assim, uma grande
profundidade.
Neste biombo, o pintor
japonês Maruyama Okyo
combina a perspectiva
atmosférica à perspectiva
linear – ilusão de espaço
tridimensional criada pela
deformação e pela redução
dos objetos,
proporcionalmente à distância
em que se encontram. O
artista buscou aqui aquilo que Maruyama Okyo. Gelo rachado. Biombo, tinta
muitos artistas do Extremo- sobre papel, 60 cm x 182,10 cm. Século XVIII.
Oriente procuravam alcançar:
a simplicidade extrema e a
proximidade entre figuração e
abstração.
Compostos de duas ou mais partes articuladas entre si, os
biombos pintados eram usados na China e no Japão para
subdividir interiores, no caso dos biombos maiores, ou apenas
para decorá-los, como é o caso deste aqui, feito para ser usado
durante a cerimônia do chá: era colocado sobre um tatame, atrás
dos utensílios usados na cerimônia, servindo-lhes de fundo.
No Extremo-Oriente (termo usado
para se referir aos países asiáticos
mais a leste, como China e Japão)
encontramos ainda uma arte religiosa
cujas raízes são complexas. O
Budismo, assim como a arte budista,
surgiu na Índia, mas viajou
longamente. Vemos aqui, escavados
na rocha, representações chinesas do
Buda (sentado) e de um Boddisatwa –
um discípulo do Buda que adiou a sua
própria Iluminação para ajudar aos
outros a alcançarem a sua.

Imagens budistas nas grutas de Yungang,


China. Séculos V-VI
Deve-se ao budismo um tipo de construção
chamado pagode. A maioria dos pagodes faz
parte de um complexo religioso cujo centro é um
templo. A estrutura e a função dos pagodes se
alterou com o tempo. Construído sobre uma
cripta que abriga relíquias budistas, este pagode
do século VI não tem escadas; sua forma alongada
se presta, somente, a simbolizar a ascensão
espiritual. No século X, relíquias foram abrigadas
no interior da parte mais alta do pagode.

Pagode no Mosteiro de Songyue. Henan, China,


523.
Este pagode, dotado de um escadaria interna,
abrigava estatuetas e textos budistas.

O Grande Pagode (ou O Grande Pagode do Ganso


Selvagem), primeira construção, com cinco
andares, de 652 d.C.; reconstruído em 704.
Tijolos, 48 m de altura.
O budismo, trazido ao Japão por
missionários, introduz no país a influência
artística chinesa. Os japoneses adaptaram às
suas particularidades aquilo que aprenderam
dos chineses. Uma das diferenças
arquitetônicas mais marcantes entre as duas
tradições é o uso mais extensivo da madeira
pelos japoneses.
O pagode mostrado aqui é outro edifício
primordialmente simbólico: não há escadas e
as sacadas dos andares superiores são
meramente decorativas. Um pilar central,
feito de um único tronco de árvore, perpassa
o pagode de alto a baixo, culminando em um
tipo de pináculo chamado kurin.

Pagode no templo Hōryūji, próximo a Nara,


Japão. Século VII.
Os jardins chineses, caracterizados
pela sua irregularidade, foram
adaptados por japoneses e
europeus. Ao lado, vemos o jardim
do templo budista de Kiyomizu-
dera, em Quioto, Japão.
A integração com a natureza e a paisagem é
característica de Kiyomizu-dera – cuja
estrutura atual data do século XVII – e de
outros templos na China e no Japão.
O uso extensivo da madeira não se limita à
arquitetura japonesa, mas ocorre também na
escultura.
Diferentemente da escultura europeia, em que o
naturalismo e a estilização se alternaram com o
passar do tempo, na escultura japonesa houve
períodos em que as duas tendências coexistiram.
Vemos, aqui, uma escultura altamente naturalista do
século XIII.

Unkei, Seshin (Vasubandu, monge e autor budista


indiano), século XIII
Entretanto, o grau de
naturalismo podia
variar: os rostos e os
panejamentos desses
dois guardiães – de
cuja feitura participou
o escultor da estátua
mostrada antes – são
bastante estilizados.

Unkei e Kakei,
guardiães do portal
do templo Todaiji,
século XIII
Para saber mais:
“Onde e quando surgiu esta
interpretação humana do
salvador, não sabemos dizê-lo:
O espírito da arte chinesa
parece ter-se desenvolvido na
http://www.periodicos.usp.br/revhistoria/article/view/121725
esteira da Questão Iconoclasta.
É rara
A China no Brasil : influencias, marcas, ecos e sobrevivências antes
chinesas da Crucificação
na arte deBrasil
e na sociedade do
Dafne e nenhuma suscita tão
http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/284345

poderosamente as emoções do
A família tosa e a construção de contemplador.
uma arte japonesa Este sentido de

compaixão na arte sacra foi


https://www.revistas.usp.br/ej/article/view/142777

A escultura budista japonesa até o período Fujiwara talvez


(552 a maior
-1185): contribuição
a arte da iluminaçãoda
Segunda Idade do Ouro ...”
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8157/tde-09112007-150941/en.php

(W. H. Janson)

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