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Leitura de torque no bráquete straight wire: uma proposta


realista de individualização
Torque expression of straightwire brackets: a realistic proposal for
individualization
Liliana Avila Maltagliati1

Resumo
Desde que foi introduzido na Ortodontia, o bráquete pré-ajustado tem recebido dife-
rentes propostas de prescrição baseadas em experiências clínicas, com expectativa de que
os valores embutidos de torque e angulação sejam lidos pelos fios ortodônticos conforme o
calibre é aumentado ou com objetivo de criar movimentações radiculares para corrigir efeitos
de angulação e inclinação decorrente da mecânica ortodôntica, incapaz de realizar movi-
mentos de corpo. Entretanto, a folga entre fio e canaleta não tem permitido que a teoria se
aplique na prática e as prescrições, no que se refere especificamente ao torque, normalmente
são subutilizadas ou nem mesmo fazem diferença na finalização dos casos. Esse artigo tem o
objetivo de propor uma nova forma de pensar em prescrição e racionalizar o seu uso para que
possamos usar de forma realista as prescrições disponíveis, aproveitando as suas vantagens.
Descritores: ????

Abstract
Since it was introduced in Orthodontics, the straightwire bracket has received different
proposals of prescription, based on clinical experience, with the expectation that the built-in
torque and angulation values are read by orthodontic wires as its size is increased or in order
to create root compensation to correct inclination effects resulting from orthodontic mechan-
ics, that is unable to perform body movements. However, the slot play has not allowed the
theory to be applyed in practice, especially as regards to torque and frequently the bracket
prescription is underutilized or even make no difference on orthodontic treatment finishing.
This article aims to propose a new way of thinking about prescription and rationalize its use
so that we can in fact take advantages of the use of a straightwire appliance.
Descriptors: ????

1
Mestre e Doutora em Ortodontia – Faculdade de Odontologia de Bauru, da Universidade de São Paulo; membro do corpo editorial das revistas
OrthoScience e SPO.

E-mail do autor:
Recebido para publicação:
Maltagliati LA.

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Como citar este artigo:


Maltagliati LA. Leitura de torque no bráquete straight wire: uma proposta realista de individualização. Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(31):.
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Introdução butidos no bráquete, independentemente da mecânica


instituída. Na prática, entretanto, sabemos que não é
Os bráquetes pré-ajustados apresentam, incor- bem assim.
poradas em seu desenho estrutural, características É importante considerar alguns resultados clínicos
anatômicas individuais dos dentes, como angulação, e científicos antes de optarmos por uma prescrição
inclinação e espessura das coroas e tendem a modifi- única para utilização em todos os casos ou escolher
car o posicionamento das mesmas em função dessas prescrições individualizadas para os pacientes. Sabe-se
características, conforme o calibre do fio é aumentado que, baseados nos trabalhos de Creekmore11 (1979),
e o alinhamento e nivelamento progridem. Os primei- há uma folga entre fio e bráquete que permite a perda
ros valores de angulação e inclinação propostos para de parte da leitura desse torque quando o fio .019” x
confecção dos bráquetes e tubos straight wire tiveram .025” é inserido em uma ranhura de .022”. Em traba-
como referência o minucioso estudo das características lho de dissertação, Bastia7 (2005) demonstrou que, em
da oclusão normal, publicados por Andrews (1971)3. casos finalizados, sem extração, com o sistema MBT, as
Após a popularização da técnica straight wire, ba- inclinações e as angulações dentárias eram mais com-
seados em experiência clínica, vários outros autores patíveis com os valores iniciais do que com os valores
propuseram modificações nos valores de prescrição de prescrição, denotando uma grande variabilidade in-
desses bráquetes1,13,19 e desenvolveram prescrições es- dividual e evidenciando a permissividade dos bráquetes
pecíficas para tratamento de determinadas más oclu- com o fio .019” x .025”. Em outro trabalho, Fattori12
sões17,20 e relações intermaxilares9. (2006) comprovou em exames de tomografia compu-
O conhecimento dessas prescrições e a relação tadorizada, que o uso de bráquetes prescrição II9, em
com os valores de oclusão normal, assim como com os casos compensatórios do padrão II, também proporcio-
efeitos da movimentação mecânica dos dentes, é de nou aumento das inclinações dentárias de uma forma
suma importância para que, ao escolher um bráquete geral demandada pelo alinhamento e pelo nivelamento
para tratar determinada má oclusão, se escolha aquele sem extração, inclusive após o uso do fio .019” x .025”
que traz a melhor prescrição individual, que vá, de fato, por 45 dias, fazendo com que os dentes que apresen-
facilitar a obtenção dos resultados desejados e plane- tavam valores próximos aos da prescrição, no início do
jados de angulação e torque, principalmente. O pro- tratamento, se distanciassem desse valor no final do
pósito desse artigo é discutir sobre a influência que o nivelamento. Apenas o fio .021” x .025” foi capaz de
tratamento ortodôntico pode ter sobre a leitura dessas gerar leitura, ainda assim, parcial, das prescrições con-
prescrições e refletir sobre até que ponto essas caracte- tidas nos bráquetes.
rísticas embutidas no bráquete são de fato transmitidas Considerando a incapacidade de leitura do fio
aos dentes e de que forma podemos melhor trabalhar .019” x .025”, principalmente quando a diferença en-
com elas. tre o torque do dente e o torque do bráquete não for
acima de 10º, há necessidade, para aproveitar o máxi-
Considerações clínicas mo das prescrições, de utilizá-las com critério. Interes-
Andrews2 (1976), quando publicou sobre o con- sante ressaltar, que essa folga do fio pode ser variável,
ceito do aparelho straight wire, enumerou as principais dependendo de características envolvendo a ranhura
vantagens desse novo aparelho3: dos bráquetes, pois as dimensões das canaletas e dos
Ser um aparelho programado que desafia o orto- fios não são 100% precisas8. A evidência disso são os
dontista a estimar o posicionamento e a relação dos resultados de estudos clínicos mostrando uma variabi-
dentes na oclusão final; lidade muito grande e uma “folga” maior que a re-
Melhor adaptação às coroas dentárias devido às gistrada em estudos laboratoriais4,10,18 (Figura 1). Além
características do desenho de cada acessório, trazendo disso, a suposta diferença na capacidade de leitura de
maior precisão na colagem dos mesmos; torque entre bráquetes autoligados, ativos e passivos
O desenho do bráquete representa, precisamente, parece não ter suporte científico, conforme mostraram
o relacionamento da coroa do dente com o plano ves- alguns autores5,6,8, quando vários modelos são testa-
tibular; dos, necessitando avaliar individualmente o modelo
Por ter incorporado a angulação e inclinação no que se deseja utilizar. No trabalho de Arreghini et al.6
aparelho, diminui-se o manuseio do arco e, conse- (2014), a média de slot play para o bráquete conven-
quentemente, os efeitos indesejados que isso possa cional foi de 18,41o, para o bráquete autoligado ativo
acarretar. 14,84o e para o bráquete autoligado passivo 28,68o.
Analisando de uma forma simplista pode-se até No trabalho de Brauchli et al.8 (2012), onde uma maior
imaginar que, ao inserir o fio mais calibroso e rígido quantidade de modelos de bráquete foi testada, todos,
da mecânica, por preenchimento pleno da canaleta, sem exceção, ultrapassaram os 10o de folga com o fio
teríamos a leitura da prescrição embutida, em todos .019” x .025” em uma ranhura .022”, atingindo uma
os seus planos e o dente finalizaria com os valores em- média global de 15,11o de folga.
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A B C
Figura 1 (A-C) – Caso clínico finalizado com prescrição straight wire, denotando diferença de inclinação dos elementos 12 e 22
(incisivos laterais superiores), mesmo após o emprego do fio .019” x .025”, por 4 meses. A prescrição do bráquete utilizada nesses
dentes era idêntica e os mesmos finalizaram com inclinações visivelmente diferentes.

A prescrição pode ser utilizada de duas formas: dividualização de bráquetes na técnica straight wire,
com caráter restritivo ou caráter permissivo, ou seja, utiliza o padrão facial como referência para as três di-
utilizada com objetivo de movimentação ou de fina- ferentes prescrições sugeridas: a prescrição Padrão, a
lização. Para movimentação, a prescrição é utilizada prescrição II e a prescrição III.
buscando restringir efeitos colaterais da mecânica, por Para a escolha da prescrição que melhor atenderia
exemplo, escolher uma prescrição com torque negativo os pacientes, o autor utilizou o degrau sagital maxilo-
para os incisivos inferiores em mecânicas de correção mandibular como guia, tanto para o diagnóstico, como
da relação de Classe II. Nesse caso, entretanto, precisa- para a relação prevista no final do tratamento. As
-se de muita cautela e critério, pois a mecânica forçará a prescrições sugeridas compensam o erro esquelético
coroa para vestibular e o fio oferecerá resistência a essa maxilomandibular, por meio de inclinações dos dentes
movimentação, fazendo com que haja um movimento anteriores, tanto de maneira a corrigir a discrepância
mais extenso de raiz. Para isso é importante verificar das bases ósseas, como para respeitar as compensa-
a espessura óssea alveolar, se comporta esse tipo de ções iniciais que os indivíduos de diferentes padrões
movimento. É importante também verificar a etiologia faciais apresentam.
dessa má oclusão, pois, se for de origem esquelética, a Essas prescrições têm a pretensão de facilitar o po-
correção da inclinação dos incisivos inferiores não pode sicionamento final dos dentes, promovendo uma me-
considerar parâmetros de um paciente padrão I como sialização acentuada, na base esquelética deficiente,
meta terapêutica15,16. por meio de suas inclinações e angulações aumentadas.
Para finalização, a prescrição é utilizada a favor do Desta maneira, o tratamento ortodôntico é simplifica-
movimento de mecânica, ou seja, se desejar vestibula- do, recorrendo-se a menos procedimentos mecânicos,
rizar os incisivos inferiores, utiliza-se um torque positivo com um tratamento ortodôntico em menor tempo.
para esses dentes, de forma que, ao chegar no último Lacarbonara et al.14 (2015) enfatizaram que há três
fio de nivelamento, que é o .019” x .025”, o mesmo fatores que influenciam a leitura de torque: a liga e
não “roube” o posicionamento adquirido com a me- calibre do fio, onde o fio de aço tem maior poder de
cânica. leitura e é proporcional ao calibre do fio; e o posiciona-
É imprescindível que, conhecendo esses fatores, mento do bráquete, onde mudanças de posicionamen-
o ortodontista pense cada caso individualmente para to para cervical ou oclusal alteram a leitura e o design
escolher a melhor prescrição. Andrews2 (1976) criticou do bráquete em relação ao material de composição e
a prescrição proposta por Roth20 (1987), que indicou ranhura. Isso é válido para qualquer modelo de bráque-
a mesma prescrição para todos os casos, além do po- te. Entretanto, a escolha da prescrição, clinicamente,
sicionamento do bráquete não ser coincidente com o sofre muita influência pela posição inicial dos dentes e
ponto EV, o que, consequentemente, altera os valo- o que planejamos para o seu final. Em se tratando de
Relato de caso / Case report

res das inclinações propostas, não caracterizando um torque, precisa-se verificar a inclinação inicial do dente,
aparelho de forma programada. Questionado sobre o a inclinação que se deseja finalizar e considerar os efei-
grande número de prescrições propostas por ele, An- tos da mecânica planejada.
drews2 (1976) concluiu que cada ortodontista deveria Ou seja, para eleger corretamente a prescrição
pesquisar os casos em suas clínicas particulares, e ver a para cada caso, precisamos diagnosticar o torque ini-
prevalência para sua utilização. cial, planejar o torque final e considerar o efeito da me-
Capelozza9 (1999), num artigo introdutório de in- cânica, tendo em mente os fatores que influenciam a
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leitura do torque mais a folga do modelo de bráquete dentro do limite de 15o de folga (por exemplo, +12o
escolhido. Trabalhando dessa forma, consegue-se ti- para o incisivo central superior na prescrição Roth ou
rar algum proveito das prescrições, que até o presente +17o na prescrição MBT) e “extra high” ou “extra low”
momento vêm sendo subutilizadas pela maioria dos torque para os valores de prescrição que ultrapassam
clínicos. o limite de 15o de folga do valor padrão (por exemplo
+22o para o incisivo central superior na prescrição Da-
mon “high torque”).

Tomando essas informações como base, observa-


Considerando que há três possibilidades de inclina- mos as Tabelas 1, 2 e 3 e identificamos o valor inicial
ção inicial e final, dentes com inclinação lingual (dimi- do dente e o que a mecânica tenderá a fazer com essa
nuída), normal ou vestibular (aumentada), e três pos- inclinação. Se a mecânica mudar em direção à inclina-
sibilidades de efeito da mecânica (aumentar, diminuir ção final desejada, escolhemos uma prescrição que se
ou não alterar), temos 27 possibilidades clínicas para assemelhe com essa inclinação final para que o último
escolher a prescrição mais indicada. fio não tire o efeito da mecânica, lembrando que essa
Há um parâmetro na escolha da prescrição, consi- prescrição pode ser padrão, “high” ou “low” torque,
deremos a folga do bráquete hipoteticamente de 15o, ou ainda “extra high” ou “extra low” torque porque
baseando-se nas últimas pesquisas que foram expostas o que vale é nos aproximar da inclinação final, seja
aqui. Assim, o bráquete que apresentar um torque que ela normal, aumentada ou diminuída. Se a mecânica
esteja no intervalo de mais ou menos 15o do torque mudar a inclinação final no sentido contrário ao dese-
que o dente apresenta, configurará um torque passive, jado, teremos que criar um momento de torque resis-
e aquele que apresentar um torque acima ou abaixo de tente, que também pode variar de padrão, “high” ou
15o, configurará um torque ativo. “low torque”, pois dependerá da inclinação inicial. Por
O torque resistente pode ser considerado aquele exemplo, se um incisivo inferior está inicialmente com
que esteja entre o torque que o dente apresenta e o inclinação normal e a mecânica vai aumentar essa incli-
limite máximo de 15o para mais ou para menos e que nação e não há o desejo desse aumento, tem que es-
exercerá um momento de torque quando a mecânica colher uma prescrição “low torque”, pois a prescrição
tender a alterar esse torque inicial do dente. padrão estará inicialmente passiva e a mecânica, con-
Para auxiliar a escolha da prescrição apropriada tando com a folga da ranhura, conseguirá aumentar
para cada caso, construímos uma tabela, onde chama- essa inclinação até o limite de 15o que, clinicamente,
mos de “padrão” os torques que representam a incli- pode ser excessiva. Então, o certo para imprimir torque
nação normal do dente (por exemplo, 7o para o inci- resistente é algum valor abaixo do normal até o limite
sivo central superior, conforme determinou Andrews2 de 15o de diferença, ou seja, não lerá o torque para
(1976) para oclusão normal), “high” ou “low” torque lingual, mas, por ser um torque de menor valor, encon-
para as prescrições que apresentarem valores para mais trará mais precocemente a resistência de rotação do fio
ou para menos, respectivamente, dos valores normais, quando a mecânica tender a aumentá-la.

Tabela 1 – Variações de indicação de torque de acordo com a inclinação inicial, final e efeitos da mecânica. Dentes inicialmente com
inclinação normal.

Inclinação Inicial Inclinação final Mecânica Prescrição Intenção de torque


Normal Normal Aumenta low torque Resistente
Normal Normal Diminui high torque Resistente
Normal Normal Não muda  padrão Passivo
Normal Vestibular Aumenta high torque Passivo
Normal Vestibular Diminui extra high torque Ativo
Normal Vestibular Não muda extra high torque Ativo
Normal Lingual Aumenta extra low torque Ativo
Normal Lingual Diminui low torque Passivo
Normal Lingual Não muda extra low torque Ativo
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Tabela 2 – Variações de indicação de torque de acordo com a inclinação inicial, final e efeitos da mecânica. Dentes inicialmente com
inclina ção vestibular.

Inclinação Inicial Inclinação final Mecânica Prescrição Intenção de torque


Vestibular Normal Aumenta extra low torque Ativo
Vestibular Normal Diminui padrão Passivo
Vestibular Normal Não muda  extra low torque Ativo
Vestibular Vestibular Aumenta padrão Resistente
Vestibular Vestibular Diminui extra high torque Resistente
Vestibular Vestibular Não muda high torque Passivo
Vestibular Lingual Aumenta extra low torque Ativo
Vestibular Lingual Diminui low torque Passivo
Vestibular Lingual Não muda extra low torque Ativo

Tabela 3 – Variações de indicação de torque de acordo com a inclinação inicial, final e efeitos da mecânica. Dentes inicialmente
com inclinação lingual.
Inclinação Inicial Inclinação final Mecânica Prescrição Intenção de torque
Lingual Normal Aumenta padrão passivo
Lingual Normal Diminui extra high torque Ativo
Lingual Normal Não muda extra high torque Ativo
Lingual Lingual Aumenta extra low torque Resistente
Lingual Lingual Diminui padrão Resistente
Lingual Lingual Não muda low torque Passivo
Lingual Vestibular Aumenta high torque Passivo
Lingual Vestibular Diminui extra high torque Ativo
Lingual Vestibular Não muda extra high torque Ativo

Caso clínico calibres de fio retangular, os valores de folga, bem


como a definição de “high torque” ou ‘low torque”
Paciente padrão III, mesofacial, com inclinação devem ser adaptados. Mecânicas com fios redondos
inicial do incisivo superior vestibular e do incisivo in- não receberão momento de torque resistente. Nesses
ferior normal. O planejamento incluiu finalizar o incisi- casos, só temos duas possibilidades: torque passivo
vo superior com inclinação vestibular e o inferior com após o final do nivelamento aceitando a mudança de
inclinação lingual. A mecânica a ser empregada não inclinação realizada pela mecânica no momento dos
iria alterar a inclinação do incisivo superior (apenas fios redondos e torque ativo com fio retangular, im-
fechamento do diastema interincisivos) e iria diminuir primindo movimento da raiz, corrigindo a mudança de
a inclinação dos incisivos inferiores para compensar a inclinação obtida durante a mecânica com fios redon-
discrepância esquelética e descruzar a mordida (retra- dos ou, ainda, imprimindo um torque que a mecânica
ção anterior). Assim, de acordo com a Tabela 2, incisi- ainda não conseguiu realizar.
vo com inclinação inicial vestibular, planejamento de Essas considerações também não são válidas para
finalizar com inclinação vestibular, mecânica não se al- as prescrições de angulação. As angulações já são mais
tera – high torque com objetivo de torque passivo. De lidas pelos fios, em função da relação de deflexão do
acordo com a Tabela 1, inclinação do incisivo inferior fio, independentemente de sua rotação, de forma que
inicial normal, planejamento de finalizar com inclina- os fios redondos já são capazes de realizar essa leitu-
ção lingual e a mecânica irá diminuir o torque – low ra. Portanto, a prescrição escolhida deve considerar as
Relato de caso / Case report

torque, com objetivo de torque passivo também. As angulações planejadas para o final do tratamento e, na
opções de prescrição para esse caso em relação a tor- necessidade de individualizá-las, realizar mudanças de
que são: MBT, prescrição III Capelozza ou prescrição posicionamento no momento da colagem do bráque-
Damon padrão. te, considerando que, no arco superior, ao posicionar
Reforçamos que essas considerações são válidas o bráquete no eixo vestibular da coroa clínica (EVCC),
apenas para mecânica em fio retangular de .019” x se abaixarmos um pouco a distal do bráquete estare-
.025” em ranhura .022”. Para ranhura .018” e outros mos removendo angulação da coroa e, se levantarmos
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essa distal, estaremos acentuando a angulação mesial abaixarmos a distal, aumentamos a angulação e se le-
da coroa e no arco inferior, vale o inverso, ou seja, se vantarmos a distal, diminuímos a angulação.

A B C
Figura 2 (A-C) – Fotos iniciais extrabucais do caso clínico.

A B C
Figura 3 (A-C) – Fotos iniciais intrabucais do caso clínico.

Figura 4 (A-C) – Telerradiografia inicial


do caso clínico.
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A B C
Figura 5 (A-C) – Fotos finais extrabucais do caso clínico.

A B C
Figura 6 – Fotos finais intrabucais do caso clínico.
Relato de caso / Case report

Figura 7 – Telerradiografia final do caso


clínico.
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Discussão 6.
2010; 80(1): 201-10.
Arreghini A, Lombardo L, Mollica F, Siciliani G. Torque ex-
Os preceitos da técnica straight wire, preconizada pression capacity of 0.018” and 0.022” bracket slots by
changing archwire material and cross section. Progress in
e desenvolvida por Andrews3 (1971), incluía a individu- Orthodontics, 2014; 15(9):1-18.
alização da terapêutica ortodôntica quando este publi- 7. Bastia FMM. Estudo das angulações e inclinações dentárias
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Conforme a técnica foi sendo difundida pela co- gia da Universidade Metodista de São Paulo. 2005. 119p.
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(1971), mas que tinham sua prescrição padrão e seu de straight wire: revisão de conceitos e sugestões da indi-
estudo sobre as 6 chaves da oclusão como referência. cações para o uso. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial.
1999; Jul/Ago; 4(4): 87-106.
Com estas novas prescrições, únicas, surgiu uma 10. Cattaneo PM, Salih RA, Melsen B. Labio-lingual root con-
nova fase na técnica straight wire, em que todos os trol of lower anterior teeth and canines obtained by acti-
indivíduos eram tratados com a mesma prescrição, ve and passive self-ligating brackets. Angle Orthod. 2013;
83(4):691-7.
individualizando-se o tratamento em suas fases finais, 11. Creekmore TD. Dr. Thomas and D. Creekmore on torque. J
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forma, era isso que fazíamos na técnica de Edgewise, 12. Fattori L. Avaliação das inclinações dentárias obtidas pela
técnica straight wire - prescrição Capelozza Classe II (Disser-
ou seja, a individualização, a confecção dos “arcos ide- tação de Mestrado). Faculdade de Odontologia da Universi-
ais”, feita nas etapas finais do tratamento ortodôntico. dade Metodista de São Paulo. 2006. 145p.
Não se pode aceitar que todos os indivíduos sejam 13. Hilgers JJ. Bioprogressive simplified the linear dynamic sys-
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começar na escolha do bráquete, seu modelo, se au- Dentistry Journal, 2015; 9: 60-64.
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toligado, passivo, se ativo e qual prescrição simplificará lo: Profile, 2012.
mais a fase de finalização e acabamento do caso, fa- 16. Maltagliati LA, Fattori L, Zanelato ACT. Aparelho straight
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prática clínica. Pro-Odontoclico 2, módulo 3, 2009, p.77-
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A filosofia da técnica straight wire começou com a 17. Mclaughlin RP, Bennett JC, Trevisi HJ. Systematic orthodon-
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Conclusão Orthodont. 1987 Sept; 21(9): 62-642.

A escolha de bráquetes ideais para cada indivíduo


deve levar em consideração a folga da canaleta e a in-
clinação inicial dos dentes, a final planejada e o efeito
da mecânica durante as fases iniciais e intermediárias
de tratamento, utilizando os torques com caráter passi-
vo, resistente ou ativo.

Referências
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pliance design - Part 1. J Clin Orthodont. 1983 June; 17(6):
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do tomografia computadorizada. 102p. [Dissertação]. São
Bernardo do Campo (SP): Faculdade de Odontologia, Uni-
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5. Archambault A, Lacoursiere R, Badawi H, Major PW, Carey
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dontic brackets - a systematic review. Angle Orthodontist

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