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01636
Resumo
Desde que foi introduzido na Ortodontia, o bráquete pré-ajustado tem recebido dife-
rentes propostas de prescrição baseadas em experiências clínicas, com expectativa de que
os valores embutidos de torque e angulação sejam lidos pelos fios ortodônticos conforme o
calibre é aumentado ou com objetivo de criar movimentações radiculares para corrigir efeitos
de angulação e inclinação decorrente da mecânica ortodôntica, incapaz de realizar movi-
mentos de corpo. Entretanto, a folga entre fio e canaleta não tem permitido que a teoria se
aplique na prática e as prescrições, no que se refere especificamente ao torque, normalmente
são subutilizadas ou nem mesmo fazem diferença na finalização dos casos. Esse artigo tem o
objetivo de propor uma nova forma de pensar em prescrição e racionalizar o seu uso para que
possamos usar de forma realista as prescrições disponíveis, aproveitando as suas vantagens.
Descritores: ????
Abstract
Since it was introduced in Orthodontics, the straightwire bracket has received different
proposals of prescription, based on clinical experience, with the expectation that the built-in
torque and angulation values are read by orthodontic wires as its size is increased or in order
to create root compensation to correct inclination effects resulting from orthodontic mechan-
ics, that is unable to perform body movements. However, the slot play has not allowed the
theory to be applyed in practice, especially as regards to torque and frequently the bracket
prescription is underutilized or even make no difference on orthodontic treatment finishing.
This article aims to propose a new way of thinking about prescription and rationalize its use
so that we can in fact take advantages of the use of a straightwire appliance.
Descriptors: ????
1
Mestre e Doutora em Ortodontia – Faculdade de Odontologia de Bauru, da Universidade de São Paulo; membro do corpo editorial das revistas
OrthoScience e SPO.
E-mail do autor:
Recebido para publicação:
Maltagliati LA.
A B C
Figura 1 (A-C) – Caso clínico finalizado com prescrição straight wire, denotando diferença de inclinação dos elementos 12 e 22
(incisivos laterais superiores), mesmo após o emprego do fio .019” x .025”, por 4 meses. A prescrição do bráquete utilizada nesses
dentes era idêntica e os mesmos finalizaram com inclinações visivelmente diferentes.
A prescrição pode ser utilizada de duas formas: dividualização de bráquetes na técnica straight wire,
com caráter restritivo ou caráter permissivo, ou seja, utiliza o padrão facial como referência para as três di-
utilizada com objetivo de movimentação ou de fina- ferentes prescrições sugeridas: a prescrição Padrão, a
lização. Para movimentação, a prescrição é utilizada prescrição II e a prescrição III.
buscando restringir efeitos colaterais da mecânica, por Para a escolha da prescrição que melhor atenderia
exemplo, escolher uma prescrição com torque negativo os pacientes, o autor utilizou o degrau sagital maxilo-
para os incisivos inferiores em mecânicas de correção mandibular como guia, tanto para o diagnóstico, como
da relação de Classe II. Nesse caso, entretanto, precisa- para a relação prevista no final do tratamento. As
-se de muita cautela e critério, pois a mecânica forçará a prescrições sugeridas compensam o erro esquelético
coroa para vestibular e o fio oferecerá resistência a essa maxilomandibular, por meio de inclinações dos dentes
movimentação, fazendo com que haja um movimento anteriores, tanto de maneira a corrigir a discrepância
mais extenso de raiz. Para isso é importante verificar das bases ósseas, como para respeitar as compensa-
a espessura óssea alveolar, se comporta esse tipo de ções iniciais que os indivíduos de diferentes padrões
movimento. É importante também verificar a etiologia faciais apresentam.
dessa má oclusão, pois, se for de origem esquelética, a Essas prescrições têm a pretensão de facilitar o po-
correção da inclinação dos incisivos inferiores não pode sicionamento final dos dentes, promovendo uma me-
considerar parâmetros de um paciente padrão I como sialização acentuada, na base esquelética deficiente,
meta terapêutica15,16. por meio de suas inclinações e angulações aumentadas.
Para finalização, a prescrição é utilizada a favor do Desta maneira, o tratamento ortodôntico é simplifica-
movimento de mecânica, ou seja, se desejar vestibula- do, recorrendo-se a menos procedimentos mecânicos,
rizar os incisivos inferiores, utiliza-se um torque positivo com um tratamento ortodôntico em menor tempo.
para esses dentes, de forma que, ao chegar no último Lacarbonara et al.14 (2015) enfatizaram que há três
fio de nivelamento, que é o .019” x .025”, o mesmo fatores que influenciam a leitura de torque: a liga e
não “roube” o posicionamento adquirido com a me- calibre do fio, onde o fio de aço tem maior poder de
cânica. leitura e é proporcional ao calibre do fio; e o posiciona-
É imprescindível que, conhecendo esses fatores, mento do bráquete, onde mudanças de posicionamen-
o ortodontista pense cada caso individualmente para to para cervical ou oclusal alteram a leitura e o design
escolher a melhor prescrição. Andrews2 (1976) criticou do bráquete em relação ao material de composição e
a prescrição proposta por Roth20 (1987), que indicou ranhura. Isso é válido para qualquer modelo de bráque-
a mesma prescrição para todos os casos, além do po- te. Entretanto, a escolha da prescrição, clinicamente,
sicionamento do bráquete não ser coincidente com o sofre muita influência pela posição inicial dos dentes e
ponto EV, o que, consequentemente, altera os valo- o que planejamos para o seu final. Em se tratando de
Relato de caso / Case report
res das inclinações propostas, não caracterizando um torque, precisa-se verificar a inclinação inicial do dente,
aparelho de forma programada. Questionado sobre o a inclinação que se deseja finalizar e considerar os efei-
grande número de prescrições propostas por ele, An- tos da mecânica planejada.
drews2 (1976) concluiu que cada ortodontista deveria Ou seja, para eleger corretamente a prescrição
pesquisar os casos em suas clínicas particulares, e ver a para cada caso, precisamos diagnosticar o torque ini-
prevalência para sua utilização. cial, planejar o torque final e considerar o efeito da me-
Capelozza9 (1999), num artigo introdutório de in- cânica, tendo em mente os fatores que influenciam a
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leitura do torque mais a folga do modelo de bráquete dentro do limite de 15o de folga (por exemplo, +12o
escolhido. Trabalhando dessa forma, consegue-se ti- para o incisivo central superior na prescrição Roth ou
rar algum proveito das prescrições, que até o presente +17o na prescrição MBT) e “extra high” ou “extra low”
momento vêm sendo subutilizadas pela maioria dos torque para os valores de prescrição que ultrapassam
clínicos. o limite de 15o de folga do valor padrão (por exemplo
+22o para o incisivo central superior na prescrição Da-
mon “high torque”).
Tabela 1 – Variações de indicação de torque de acordo com a inclinação inicial, final e efeitos da mecânica. Dentes inicialmente com
inclinação normal.
Tabela 2 – Variações de indicação de torque de acordo com a inclinação inicial, final e efeitos da mecânica. Dentes inicialmente com
inclina ção vestibular.
Tabela 3 – Variações de indicação de torque de acordo com a inclinação inicial, final e efeitos da mecânica. Dentes inicialmente
com inclinação lingual.
Inclinação Inicial Inclinação final Mecânica Prescrição Intenção de torque
Lingual Normal Aumenta padrão passivo
Lingual Normal Diminui extra high torque Ativo
Lingual Normal Não muda extra high torque Ativo
Lingual Lingual Aumenta extra low torque Resistente
Lingual Lingual Diminui padrão Resistente
Lingual Lingual Não muda low torque Passivo
Lingual Vestibular Aumenta high torque Passivo
Lingual Vestibular Diminui extra high torque Ativo
Lingual Vestibular Não muda extra high torque Ativo
torque, com objetivo de torque passivo também. As angulações planejadas para o final do tratamento e, na
opções de prescrição para esse caso em relação a tor- necessidade de individualizá-las, realizar mudanças de
que são: MBT, prescrição III Capelozza ou prescrição posicionamento no momento da colagem do bráque-
Damon padrão. te, considerando que, no arco superior, ao posicionar
Reforçamos que essas considerações são válidas o bráquete no eixo vestibular da coroa clínica (EVCC),
apenas para mecânica em fio retangular de .019” x se abaixarmos um pouco a distal do bráquete estare-
.025” em ranhura .022”. Para ranhura .018” e outros mos removendo angulação da coroa e, se levantarmos
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essa distal, estaremos acentuando a angulação mesial abaixarmos a distal, aumentamos a angulação e se le-
da coroa e no arco inferior, vale o inverso, ou seja, se vantarmos a distal, diminuímos a angulação.
A B C
Figura 2 (A-C) – Fotos iniciais extrabucais do caso clínico.
A B C
Figura 3 (A-C) – Fotos iniciais intrabucais do caso clínico.
A B C
Figura 5 (A-C) – Fotos finais extrabucais do caso clínico.
A B C
Figura 6 – Fotos finais intrabucais do caso clínico.
Relato de caso / Case report
Discussão 6.
2010; 80(1): 201-10.
Arreghini A, Lombardo L, Mollica F, Siciliani G. Torque ex-
Os preceitos da técnica straight wire, preconizada pression capacity of 0.018” and 0.022” bracket slots by
changing archwire material and cross section. Progress in
e desenvolvida por Andrews3 (1971), incluía a individu- Orthodontics, 2014; 15(9):1-18.
alização da terapêutica ortodôntica quando este publi- 7. Bastia FMM. Estudo das angulações e inclinações dentárias
cou o artigo de introdução da técnica. obtidas no tratamento ortodôntico com a utilização da pres-
crição MBT. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Odontolo-
Conforme a técnica foi sendo difundida pela co- gia da Universidade Metodista de São Paulo. 2005. 119p.
munidade ortodôntica mundial, alguns preceitos foram 8. Brauchli LM, Steineck M, Wichelhaus A. Active and passive
deixados de lado, e outros autores sugeriram prescri- self-ligation: a myth? Part 1: torque control Angle Orthod.,
2012; 82(4):663-9.
ções diferentes daquelas preconizadas por Andrews3 9. Capelozza Filho L. Individualização de bráquetes na técnica
(1971), mas que tinham sua prescrição padrão e seu de straight wire: revisão de conceitos e sugestões da indi-
estudo sobre as 6 chaves da oclusão como referência. cações para o uso. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial.
1999; Jul/Ago; 4(4): 87-106.
Com estas novas prescrições, únicas, surgiu uma 10. Cattaneo PM, Salih RA, Melsen B. Labio-lingual root con-
nova fase na técnica straight wire, em que todos os trol of lower anterior teeth and canines obtained by acti-
indivíduos eram tratados com a mesma prescrição, ve and passive self-ligating brackets. Angle Orthod. 2013;
83(4):691-7.
individualizando-se o tratamento em suas fases finais, 11. Creekmore TD. Dr. Thomas and D. Creekmore on torque. J
com o emprego de dobras de todas as ordens. De certa Clin Orthod. 1979; 13:305–310.
forma, era isso que fazíamos na técnica de Edgewise, 12. Fattori L. Avaliação das inclinações dentárias obtidas pela
técnica straight wire - prescrição Capelozza Classe II (Disser-
ou seja, a individualização, a confecção dos “arcos ide- tação de Mestrado). Faculdade de Odontologia da Universi-
ais”, feita nas etapas finais do tratamento ortodôntico. dade Metodista de São Paulo. 2006. 145p.
Não se pode aceitar que todos os indivíduos sejam 13. Hilgers JJ. Bioprogressive simplified the linear dynamic sys-
tem Part 2. J Clin Orthodont. 1987 Oct; 21(10): 716-734.
tratados de maneira semelhante, sem a individualiza- 14. Lacarbonara M, Accivile E, Abed MR, Dinoi MT, Monaco A,
ção de seu tratamento. E essa individualização deve Marzo G. et al. Variable torque prescription: state of art.
começar na escolha do bráquete, seu modelo, se au- Dentistry Journal, 2015; 9: 60-64.
15. Maltagliati LA. Sistema autoligado: teoria e prática. São Pau-
toligado, passivo, se ativo e qual prescrição simplificará lo: Profile, 2012.
mais a fase de finalização e acabamento do caso, fa- 16. Maltagliati LA, Fattori L, Zanelato ACT. Aparelho straight
zendo-se o menor número possível de dobras, porém, wire: diferenças entre as prescrições e sua importância na
prática clínica. Pro-Odontoclico 2, módulo 3, 2009, p.77-
sem a intenção de eliminá-las. 122.
A filosofia da técnica straight wire começou com a 17. Mclaughlin RP, Bennett JC, Trevisi HJ. Systematic orthodon-
era da individualização do tratamento e nesse caminho tic treatment mechanics. Mosby Editora, 2001. 324p.
18. Pandis N, Strigou S, Eliades T. Maxillary incisor torque with
estamos seguindo. O futuro será a individualização to- conventional and self-ligating brackets: a prospective clinical
tal, com o aparelho desenhado e confeccionado para trial. Orthod Craniofac Res 2006; 9: 193-198.
cada paciente, individualmente, como já é presente em 19. Ricketts RM. Bioprogressive therapy as an answer to ortho-
dontics needs - Part I. Amer J Orthodont. 1976 Sept; 70(3):
algumas técnicas. 241-268.
20. Roth RH. The straight wire appliance 17 years later. J Clin
Conclusão Orthodont. 1987 Sept; 21(9): 62-642.
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pared. J Clin Orthodont. 1976 Mar; 10(3): 174-195.
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Califórnia, LA. Wells, 1971.
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tratamento ortodôntico com bráquetes autoligados utilizan-
do tomografia computadorizada. 102p. [Dissertação]. São
Bernardo do Campo (SP): Faculdade de Odontologia, Uni-
versidade Metodista de São Paulo; 2008.
5. Archambault A, Lacoursiere R, Badawi H, Major PW, Carey
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dontic brackets - a systematic review. Angle Orthodontist