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CAICÓ-RN
2021
FRANCISCO DAS CHAGAS DOS SANTOS ALVES
CAICÓ-RN
2021
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Faculdade Católica Santa Teresinha
Biblioteca Madre Franscica Lechner
A474s Alves, Francisco das Chagas dos Santos.
87f.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Ms. Sebastião Caio dos Santos Dantas
Faculdade Católica Santa Teresinha
(Orientador/a)
_________________________________________________
Prof.ª Ozeane Araújo de Albuquerque da Silva
Faculdade Católica Santa Teresinha
(Examinador/a)
_________________________________________________
Profª. Ma. Raquel Sales de Medeiros
Faculdade Católica Santa Teresinha
(Presidente da Banca)
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia primeiramente aos meus pais, Seu Gilvan Alves e
dona maria de Fátima, por serem minha base ética e moral, como também minha
inspiração e exemplo a ser seguido diante das dificuldades que encontramos durante
nossa vida, desde já saibam que vocês são muito especiais em minha vida.
Dedico a todos os professores desde o jardim de infância, por terem sido
primordiais no meu processo de aprendizagem e conhecimento crítico, vocês mudam
vidas para o melhor.
Ao corpo docente da Faculdade Católica Santa Teresinha, por serem
fundamentais na minha construção ética e crítica, compromissada com os princípios
éticos que regem a profissão do/a assistente social.
À minha orientadora de pesquisa Priscila Brandão pela ajuda no processo de
construção, que serve como base, desta monografia.
Ao meu orientador desta monografia Sebastião Caio pela grande ajuda e
orientação na construção deste trabalho, que sem dúvida será bastante enriquecedor
para a comunidade acadêmica diante da grande qualidade de orientação.
Aos meus colegas discentes que foram fundamentais também na construção
ética e crítica no processo de minha formação.
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 86
12
1 INTRODUÇÃO
1 Marx cita como trabalho abstrato, o trabalho desprendido pelo proletário que foi tratado como uma
mercadoria, pelo fato deste ter vendido o que ele fez, conforme a sua habilidade, como moeda de troca
para determinado fim, logo seu trabalho teve um valor de troca.
2 A situação de bem estar social defendida por karl Marx faz referência a um estado em que a sociedade
usufrua de todos os direitos de forma igual, sem preconceitos, e desigualdades em todas as suas
vertentes. Logo isso só é obtido através da superação do capitalismo com a emancipação completa
dos sujeitos.
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trabalho à plenitude social, através de uma ação teleológica, pensada sob uma
concretude ou uma finalidade própria para o mesmo ser social que criou determinada
mercadoria.
Nesse sentido, os objetos e toda a organização laboral presenciadas nas
guildas, através dos artesãos, mestres de oficio, camponeses, dentre outros,
passaram a ter maior importância em relação ao seu valor útil, de uso, pois o mesmo
detém todas as características e técnicas próprias dos indivíduos que produziram.
Isto posto, convém destacar que o resultado advindo do trabalho, passara a ter
um valor não só para quem fez determinada mercadoria ou obra prima, mas também
para quem procurava trocá-lo, através do escambo.
Pois, segundo Marx (2017), todo o conteúdo ou matéria obtida do processo
laboral é constituído de características ou qualidades próprias de quem fez, como
também do local de onde foi feito. Logo, o objeto feito através de uma ação
transformadora, e derivada de uma matéria prima encontrada na natureza, passara a
ter um valor útil ou de uso que detinha em suas características ou qualidade, todo o
dispêndio de esforço e cuidado para construir determinada mercadoria.
Percebe-se então até aqui, que parte do desenvolvimento histórico produtivo
caracterizado inicialmente, diante do fato histórico produtivo de trabalho de serventia
do vassalo ao suserano, através da terra para sua subsistência, no final da idade
média, passou-se de uma questão de dependência e serventia da terra, para uma
relativa autonomia produtiva ou laboral marcada inicialmente nas guildas, o que
acabou caracterizando uma nova sociabilidade marcada pela manufatura.
Em consonância com isso, é notável também conforme a autonomia
encontrada nas guildas, uma noção ou consciência coletiva acerca das necessidades
e liberdades que os indivíduos lá encontravam. Logo vem à tona a questão de Marx
(2017) sobre o significado do trabalho para o ser social genérico, ou seja, o ser que
se encontra pleno e realizado em suas atividades sociais e laborais numa
sociabilidade.
Tendo em vista tal fato, se faz necessário também refletir sobre o significado
do trabalho ocorrido no período de tempo analisado até então. Como citado
anteriormente, a relação de trabalho existente nas sociedades pré-capitalistas e pós
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Logo surgem as primeiras fábricas, e junto a isso toda uma nova especiaria de
trabalho baseado na produção de mercadorias, feitas de forma coletiva, sistemática,
numa quantidade de horas estipuladas e negociadas entre trabalhador e empregador.
Tal revolução no modo de trabalho, segundo Pirenne (1985) acabou ganhando
grande espaço social, devido não só a influência econômica e política da classe
burguesa, mas também pelo fato dessa nova modalidade de trabalho não sofrer
interferência de intempéries climáticas. O fator climático atrapalhava e muito o modo
de trabalho manufatureiro, pois nessa situação, havia uma grande dependência em
relação a questão da qualidade e tratamento da terra, devido sua importância para
obter a matéria prima para a produção de objetos.
Como consequência, houve um forte êxodo rural para áreas urbanas devido a
localização estratégica das fábricas para o escoamento de mercadorias. Com isso,
deu-se início a um novo ciclo do trabalho, baseado na construção coletiva de
mercadorias, e elaborado num espaço de tempo estipulado pelo empregador, na qual
o ganho do trabalhador pela construção de determinada mercadoria se dá de uma
nova forma, através do salário.
À primeira vista, se tem uma impressão que essa nova forma de trabalho
poderia ser melhor devido as questões referentes a não dependência da terra ou da
natureza, como também à questão de uma relativa facilidade produtiva, que passara
a ser coletiva junto a questão dos aparatos tecnológicos, na premissa de obter maior
praticidade e agilidade a produção.
Todavia, torna-se evidente, conforme os fatos anteriormente apresentados, que
tais características não passaram de uma alienação, numa contradição que envolve
aproveitar e explorar o máximo da força de trabalho através de uma imposição ou
subsunção do capital, feita mediante a todo um conjunto produtivo, que envolve
competitividade e concorrência. Marx (2017)
Com as fábricas e as indústrias, o capitalismo passou a ditar todo o conjunto
de regras e influências sociopolíticas e culturais sob o meio social. Logo, a classe mais
afetada foi a trabalhadora, classe essa que antes dependia somente de sua terra para
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3 Ao capitalismo é fundamental ter mão de obra disposta e qualificada para desenvolver determinada
função, pois quanto mais treinada menor será o tempo para produção de determinada mercadoria.
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4Marx traz à tona o conceito de valor útil ou valor de uso, que é o valor que caracteriza as qualidades
ou técnica aplicadas para a produção de determinada mercadoria, pois a mesma detém todo um
conjunto de subjetividade, referente ao esforço e técnica aplicada que acabam agregando valor.
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o processo de exploração, pois diante de toda a precarização presente no modo de produção capitalista
e na sociedade, sempre haverá alguém que esteja desempregado disposto para ganhar valor de troca
para garantir o mínimo de subsistência. Logo, através disso, é perceptível o processo produtivo e
chantagista ao qual o capital impõe sob a força de trabalho.
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livre mercado ou laissefaire8 com sua mão invisível, Adam Smith (1982), dá lugar a
uma nova era monopolista do capital, caracterizada pelo grande controle mercantil,
feito por corporações através de suas influências econômicas e políticas.
Característica essa, que acabou interferindo na competividade mercantil, e
gerando grande acúmulo de riquezas às corporações que acabaram se sobressaindo
contra outras devido as suas influências econômicas e políticas, como também pelo
controle a questão dos preços, da oferta e demanda presentes no mercado.
Tal fato, segundo Behring & Boschetti (2011) aliado à superprodução mercantil
presente no fordismo, acabou sobrecarregando o mercado financeiro, pois mediante
a precarização social da época, pela qual somente os capitalistas tinham poder de
compra, em detrimento de uma classe proletária que só detinha de sua força de
trabalho para garantir a sua subsistência, resultou numa grande demanda de produtos
comercializados para consumo à uma pequena demanda de consumidores aptos ou
com capital para comprar.
8 Termo francês usado por Smith em sua obra a riqueza das nações, que em português significa deixe-
se fazer, tal termo, caracteriza o fenômeno na qual Adam Smith toma como reflexão de como o mercado
financeiro deve funcionar, através da demanda de produção e consequente procura por produtos para
o consumo, o mercado consegue se auto regular, por isso não é necessária a intervenção estatal na
economia.
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Como reflexo da crise do modelo de Estado de bem estar social, surge todo um
ideário liberal sob nova roupagem, com vistas a tensionar a regulamentação estatal,
como também de enxugar a máquina pública estatal na intenção de limitar a atuação
estatal na economia e consequentemente de pôr a responsabilidade, ou boa parte das
ações deste, para a sociedade civil organizada.
Concomitante ao novo pensamento liberal, ocorreu um processo reestruturante
de produção e relação de trabalho, chamado de Toyotismo. De acordo com Alves
(2012) esse modelo tem suas origens no Japão, baseado uma produção feita de forma
descentralizada, fragmentada ou terceirizada. Pois o objetivo central desse modelo de
produção é a economia de gastos baseada na procura de mão de obra barata, de
forma terceirizada.
Nesse sentido, tais inovações foram reflexos de um novo e promissor mercado
produtivo, constituído por grandes inovações tecnológicas e informacionais, como
afirma Castellis (2013) acabaram marcando o final do século XX, início do século XXI
até os dias atuais, como a internet e o smartphone, dentre outros. Foram criadas com
o propósito de facilitar a comunicação intercontinental entre os indivíduos, como
também, para aumentar e facilitar a praticidade em relação às novas tipologias do
trabalho.
Com isso, a terceirização de serviços, diante da nova morfologia do trabalho,
passou a ser constante em seu uso, principalmente de acordo com a nova e grande
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formas dos vínculos de trabalho, tendo em vista o valor de troca ofertado, até a
questão política, em que o processo de trabalho acabou se degenerando em relação
à sua segurança legal ou constitucional de direitos.
Esse fato, se evidencia numa característica que se tornou frequentemente
usada nas relações e formas de contratação de força de trabalho, com base na análise
de Antunes (2006), a questão da flexibilização das formas de contratação, através de
contratos zero hora (Zero Hour Contract), contratos esses caracterizados por um
vínculo de trabalho em que não há carga horária estipulada, na qual o trabalhador tem
que ter total dedicação à qualquer momento ou ocasião em que for necessário
trabalhar.
Tal vínculo acabou se tornando uma forma padronizada de vínculos de
emprego, principalmente através de um grande aumento do número de desemprego
concomitante com o aumento de formais informais de trabalho. Exemplos com os das
grandes companhias de tecnologia, como a Apple e a Samsung, mostram essa
evidência, uma vez que essas empresas terceirizam sua produção de forma
internacional. Há países, como a China, que têm grande número de mão de obra
barata contratadas com vínculos de trabalho zero hora. Logo, se torna banal a questão
referente a falta de direitos laborais nesses países, na qual em média se trabalha 12
horas por dia de forma intermitente. Antunes (2018)
controle, através de uma influência política social e econômica, reforçando assim sua
dominação com o passar do tempo.
Características essas que foram notáveis, principalmente anos depois, na
Inglaterra, especificamente na Era Vitoriana, pré-capitalista, em que se intensificou a
pauperização social como reação aos altos gastos e regalias da nobreza. Como
consequência, os exageros vindos da nobreza, acabou gerando inquietações a
população.
Como reflexo disso, houve um grande aumento da violência e da mortalidade,
devido ao desamparo às populações pauperizadas e excluídas socialmente, situação
essa que se agravou ainda mais e, diante das inquietudes das classes médias
burguesas, acarretou-se numa crise política, principalmente pelo motivo de que essas
classes subalternizadas estavam se organizando e manifestando-se através de
reinvindicações por melhores condições de vida e moradia. Santos (2006)
Nesse sentido, conforme cita Behring & Boschetti (2011), a reação da nobreza
inglesa foi a criação das primeiras políticas sociais, não com o propósito de amparar
e dar direitos a população mais pauperizada, mas sim com uma intenção de cooptação
e controle referente ao que era cobrado pela população à nobreza. Junto a isso,
estava o fato de que a própria Inglaterra estava num momento de aperfeiçoamento
das relações produtivas. Logo, políticas como a Lei do cercamento e as leis dos
pobres foram criadas com o objetivo alienante de controlar a população
subalternizada, oferecendo uma política social que o cooptassem a produzir nas
grandes cidades, através do êxodo rural.
Como consequência, houve uma grande quantidade de pessoas que migraram
do campo para cidade, em busca de melhores condições, diante da intenção de
cooptação feita pelo Estado inglês com a lei de cercamento, na qual foram
beneficiados os grandes latifundiários que tiveram suas terras garantidas e cercadas,
sendo então proibido o compartilhamento destas. Logo, criou-se um bolsão
populacional nas grandes metrópoles morando em situação de vulnerabilidade social,
o que acarretou numa maior intensificação da exploração de trabalho, como também,
uma intensificação da desigualdade social, que acabou resultando num alto índice de
mortalidade e violência.
Em decorrência dessa grande precarização, ao qual boa parte da Europa se
encontrava, e principalmente a Inglaterra e a França, houve grande insatisfação por
parte das classes sociais subalternizadas, como os camponeses e comerciantes.
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que até então atuavam por uma motivação humanitária, caritativa e filantrópica, sobre
a especificidade e especialidade social da assistência social, em relação à combater
ou intervir nas expressões da questão social. Tal característica, mostrou-se em
evidência quando em suas primeiras atuações, a sociedade de organização da
caridade atuava em locais específicos, próximos à fábricas e sindicatos, na intenção
indireta de, ao mesmo tempo acolher a população pauperizada, como também, de
amortizar e desmobilizar a organização dos trabalhadores.
A partir daí, de acordo com Martinelli (2000), O Serviço Social, até então
chamado de ação social, passou a ser pautada numa ação humanizada, mas também
fiscalizatória e focalista, numa perspectiva aburguesada de atenuar as expressões da
questão social mediante a intenção de ver a questão social como consequência de
um possível desvio de caráter das pessoas vulneráveis, e não como uma
consequência da relação antagônica existente entre classes.
Logo, a atuação da sociedade de organização da caridade passara a ser
atuante no sentido reformador de caráter das pessoas por boa parte do século XIX e
início do século XX, pois a situação social se agravava em decorrência das precárias
condições sociais e de trabalho, como reflexo da intensificação do trabalho fabril e
industrial, sob os interesses da classe burguesa de amortizar as manifestações da
classe trabalhadora, como precaução para que os eventos ocorridos nas insurreições
proletárias ocorridas na Europa em 1848 não se repetissem.
Não obstante disso, o Estado Burguês passara a agir com o propósito
amortizador em relação a classe trabalhista concedendo-lhes alguns direitos, sob o
pretexto liberal de fraternidade, igualdade e liberdade. São concedidos direitos
fundamentais como a educação universal e pública, como também serviços de
saneamento básico. Têm-se início então as primeiras ações governamentais no
campo social. Tais serviços prestados, passaram a ser oferecidos e acompanhados
sob uma ação social com o intuito de obter maior aproximação na análise da
pauperização e do controle social. Behring & Boschetti (2011).
Logo, a aproximação desses serviços, que passaram a ser considerados
fundamentais à princípio para o bem estar social, mas também para os propósitos da
manutenção hegemônica da influência burguesa, proporcionaram à assistência social
um novo status de organização e ação para lidar com as expressões da questão
social, uma vez que, conforme a realização de estudos e análise sociais acerca da
pauperização na Europa, e principalmente na Inglaterra, os membros da Sociedade
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necessidades em que tais sujeitos estavam. Soma-se a este fato, a questão de que a
própria Richmond tinha forte influência sob os membros da Sociedade de Organização
da Caridade, o que proporcionou forte possibilidade para que sua metodologia fosse
discutida não só em âmbito local, nos Estados Unidos, mas também em nível mundial.
Segundo Martinelli (2000), Richmond olhava a questão social e a prática social
sob uma perspectiva crítico cientifica, na qual era necessário desprender-se do módus
operante, referente ao acompanhamento dos indivíduos sob uma visão caritativa, que
ainda tinha forte influência advinda da igreja cristã. Para ela, era necessária uma
perspectiva metodológica crítico cientifico para com a questão social, feito de forma
organizativa, coletiva e teorizada cientificamente, através do que ela chamou de
trabalho social.
Tal metodologia se dava de forma mais organizada e próxima aos sujeitos,
através de visitas sociais e estudos de casos, que eram divididos no atendimento e
acompanhamento individual e em grupos. Essa configuração técnica e metodológica
se deu através da influência de diversos estudos sociológicos, como os do sociólogo
Émile Durkheim, que via a sociedade como algo ajustado, mas que caso acontecesse
algo fora dos padrões, numa perspectiva social, a sociedade poderia ser corrompida,
isso ele chamava de fatos sociais.
Nesse sentido, a prática social acabou adquirindo um caráter funcionalista, pela
qual O Serviço Social passara a ver a questão social sob uma visão reformista em
relação a precarização social, com o propósito de adequação dos indivíduos à ordem
social vigente. Através disso, O Serviço Social em sua busca identitária, passou a ter
uma confrontação metodológica mediante as suas vertentes. De um lado a prática
social européia, principalmente a Inglesa, tinha como norte ainda o caráter caritativo
presente desde suas protoformas. Do outro lado, havia a prática social norte
americana norteada por uma nova ação social, através de uma maior aproximação e
metodologia científicas sob a questão social, mediante o novo trabalho social. Barroco
(2007)
Trabalho esse que se caracterizava numa prática social no intuito de
condicionar as pessoas socialmente ao padrão social da época, ou seja, os indivíduos
que estavam numa situação de vulnerabilidade social, eram considerados pessoas
com desvio de caráter, na qual deveriam ser acompanhados com o objetivo de serem
ajustados através da prática social da assistência social a determinado padrão. Com
base nisso, torna-se lógico o avanço do Serviço Social em relação a romper com a
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influência dogmática da igreja católica, através de uma ação crítico científica, o que
acabou uma alternativa em busca pela sua identidade profissional.
Nesse ponto, influenciada por Mary Richmond em sua nova metodologia, o
Serviço Social, inicialmente, teve seu norte metodológico baseado no funcionalismo
que, conforme analisado anteriormente, pauta as análises sociais com base em um
padrão sociológico, com o intuito de condicionar os indivíduos, que vivem numa
situação considerada anormal ou desviante de tal padrão, num acompanhamento com
o objetivo de serem reformados. Essa nova metodologia, mesmo sendo inovadora que
a anterior, devido o teu caráter critico científico, acabou ainda reforçando o ethos
alienado e alienante existente na ação social, conforme o desejo de manter sob
controle os indivíduos subalternizados ao modus operandi hegemônico burguês.
Concomitante a esse novo status da prática social, estava o fato de que a
questão social se agravava conforme a crise social e econômica se instalava,
principalmente com a grande depressão de 1929, Santos (2006). Com base nisso, se
fez necessário ao Serviço Social fomentar a formação de novos profissionais para
suprir a grande demanda existente, como também para atender, de forma alienada e
alienante, a necessidade burguesa de controlar o movimento operário diante do
empoderamento desse com a União Soviética.
Por conseguinte, no início do século XX, como afirma Martinelli (2000), foram
criadas diversas escolas de Serviço Social nos Estados Unidos, visando a
necessidade de dar maior cobertura e assistência social aos indivíduos em situação
de vulnerabilidade social, só que, ainda sob numa atuação conservadora objetivada
na intenção de preparar a população ao sistema capitalista vigente. Tal fato
proporcionou também ampliação do Serviço Social em outros continentes, como o
Europeu e o sul-americano.
industrialmente, como também pelo fato de que o país, como reflexo dessa
industrialização, passou a sofrer os impactos da degradação social que esse modelo
econômico provocara.
Soma-se a esta situação, conforme afirma Fausto (2008), a característica de
que no Brasil houve uma revolução burguesa tardia, ou seja, o país permaneceu com
sua configuração política sob forte influência oligárquica agrária, que apenas se
aperfeiçoou conforme a sociedade estava se desenvolvendo. Todavia, o que
aconteceu em relação à política e a sociedade brasileira do fim do século XIX para o
início do século XX, foram uma série de conflitos com o propósito nacionalista para
combater as oligarquias que comandavam socialmente e economicamente o país.
Como consequência, a burguesia adentrou ao campo político brasileiro com o
seu projeto hegemônico através de um golpe de Estado com Getúlio Vargas. A
revolução de 30 pôs início ao projeto hegemônico burguês no Brasil de intensificar a
exploração do trabalho e a consequente acumulação de capital. Tudo isso somado
com a intenção hegemônica burguesa de manter a classe trabalhadora sob controle
em nível mundial, através do apoderamento da classe proletária com o comunismo, e
a intensificação da precarização laboral e social.
Como consequência disso, seguindo a característica mundial da prática social
vigente, junto a nova tendência metodológica pregada por Mary Richmond, em 1936
em São Paulo foi criada a primeira escola de Serviço Social no Brasil, numa
perspectiva crítico cientifica funcionalista de entender as expressões da questão social
sob uma visão reformadora do caráter social. Logo, foi criado também o Centro de
Ensino e Ação Social – CEAS de São Paulo, com o objetivo de fomentar uma base
teórico metodológica acerca do Serviço e da assistência social, como também para
uma maior formação de profissionais para a prática social, Iamamoto & Carvalho
(2015).
Assim sendo, torna-se evidente o caráter alienado e alienante também presente
na ação social aqui no Brasil, que mesmo tendo suas especificidades referentes à sua
conjuntura sócio política e econômica, acabou sendo feita inicialmente sob uma
perspectiva amortizadora acerca da questão social, culpabilizando e tensionando os
indivíduos em vulnerabilidade social ao comodismo, sem provocá-los acerca dos
motivos que os levaram a tal vulnerabilidade. Logo, a prática social no Brasil, em seu
início, acabou sendo fadada ao imediatismo, de forma superficial, focalista e fatalista.
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como também de extinguir o caráter clientelista e caritativo, que ficou por muito tempo
sendo o padrão da assistência social.
Junto a isso, e como reflexo da constituição cidadã e da lei orgânica da
assistência social, outra grande conquista foi a criação dos conselhos da assistência
social em seus níveis federal, estaduais e municipais. Essas características
reforçaram o caráter autêntico e necessário da assistência social como política de
direito e de inclusão social de forma democrática, com controle e participação social.
Soma-se a isso, tempos depois, nos anos 2000, a criação do SUAS- Sistema Único
da Assistência Social, com o propósito de proporcionar a expansão e controle social
da política, no objetivo de dar maior cobertura e inclusão social aos indivíduos em
vulnerabilidade social, numa maior aproximação e financiamento dos serviços à
população.
Todavia, a assistência social, no período pós redemocrático brasileiro,
defrontou-se com o neoliberalismo e todo o amontoado de precarização que o
envolve, referente aos tensionamentos às políticas públicas, com as contra reformas
estruturais, que incidiram na desresponsabilização Estatal para com as políticas
públicas sob o pretexto de corte de gastos, juntamente com todo um emaranhado de
reformas trabalhistas que visaram também, de forma direta e explícita, desmobilizar e
tirar direitos, que até então eram garantidos. O neoliberalismo, com todo o seu
conjunto flexibilizante das relações políticas e sociais, surgiu com o propósito
reestruturativo do capital para desestruturar o movimento e a organização trabalhista,
que foi tão importante no período de redemocratização.
Por conseguinte, restou ao Serviço Social a necessidade e pactuação dentro
da categoria, no intuito de reforçar o apoio destes à classe trabalhadora, através de
uma maior assessoria e participação política, com o objetivo de garantir e conquistar
direitos.
Através de uma ação direcionada pelo seu projeto ético e político, que visa
garantir todo o conjunto de direitos fundamentais que proporcionem a emancipação
social dos sujeitos. Com isso, mesmo diante de sua relativa autonomia, pela qual
como afirma Iamamoto (2012), o assistente social, mesmo ao exercer sua atividade
de forma especial, não deve sucumbir ao fatalismo e nem ao messianismo. Para tanto,
se faz sempre necessário reforçar e lutar por direitos, através de sua estrutura teórico-
metodológica, ética política e técnico operativa para reafirmar seu caráter materialista
e dialético contra os tensionamentos feitos pelo capital.
51
Assim sendo, será de grande importância a apreensão dos dados obtidos neste
trabalho para a problematização das categorias encontradas, com a finalidade de
compreender a realidade sobre a situação das/os profissionais da assistência social
através da confrontação das hipóteses elencadas no projeto de pesquisa.
Hipótese como a precarização dos vínculos de trabalho foi perceptível nos
relatos das profissionais, principalmente em relação a uma profissional que possui o
vínculo empregatício de pregão, na qual a mesma relata que tem o seu salário em
atraso com frequência, como também não possui carteira de trabalho assinada.
Soma-se a esse fato, os relatos de outras duas profissionais que, respectivamente,
com cargos estável e temporário, relataram também que já tiveram seus salários
atrasados, mas com menos frequência do que a profissional com vínculo empregatício
pregão, em determinado período.
Outra hipótese que foi evidenciada e verificada nas entrevistas e questionários
de três profissionais, foi o adoecimento adquirido no trabalho, tal situação, que foi
relatada pelas profissionais, se deu decorrente da alta carga de demandas para
poucos profissionais.
A hipótese desvalorização profissional e consequente polivalência também foi
observada nos relatos das profissionais, quando questionadas se elas tinham outros
vínculos de emprego, como também se, pela situação de trabalho delas, teriam
condições de fazer planejamentos familiares e profissionais. A maioria das
profissionais entrevistadas e questionadas relataram que suas condições laborais não
dão condições plenas de fazer planejamentos familiares e profissionais, ambas se
sentem desvalorizadas com essa situação.
Outra situação elencada como hipótese no projeto de pesquisa, a interferência
hierárquica no fazer profissional, foi perceptível em duas das quatro profissionais,
quando citaram que já sofreram interferência de outros funcionários em algum período
laboral. Fato este ainda característico da herança clientelista que ainda permeia a
assistência social nos dias atuais.
E por último, mas não menos importante, a hipótese da precarização no
processo interventivo desses profissionais foi evidenciada na maioria dos relatos das
profissionais, quando estas citaram que há uma precarização física e estrutural, no
que diz respeito à falta de transportes para a realização de visitas domiciliares, como
também a falta de sigilo profissional, devido a divisão de sala com outros profissionais,
53
como suporte teórico para evidenciar com outros estudos científicos, o que foi
percebido em comum nesta pesquisa.
O presente trabalho possui seu conteúdo reflexivo oriundo de dados tabulados
em gráficos e tabelas abertas que facilitaram a análise dos dados oriundos das
respostas das profissionais da assistência social. Estas, por sua vez, tiveram seus
pseudônimos caracterizados pela abreviação de Assistente Social – AS, mais o
número que identifica a ordem cronológica das entrevistas, e das respostas oriundas
do questionário das profissionais que não foram entrevistadas. Tais características
tornaram a análise dos dados mais maleável para confrontamento e apreensão destes
na elaboração deste relatório de pesquisa, como também não fere o sigilo e
identificação dessas profissionais.
Portanto, vale ressaltar as dificuldades na obtenção de dados mais completos
ou totalitários da situação dessas profissionais, com base na metodologia crítico-
dialética marxista, em virtude da situação de isolamento social, decorrente da
pandemia do coronavírus, mas vale também frisar, que tal situação não
descaracterizou a problematização feita sobre a proposta desta pesquisa.
0 0
1 ano 2 anos 3 anos ou mais
Assistentes Sociais
Fonte: Pesquisa de campo realizada com assistentes sociais do SUAS nas cidades de Caicó e São Fernando- RN,
no mês de março de 2020.
especial, que não produz algo concreto como mercadoria, mas uma força de trabalho
dotada de toda uma especialidade, formada e direcionada através do embasamento
teórico-metodológico e político, que é utilizada pelo Estado como valor de troca
alienada por um salário.
Tendo em vista essa reflexão, torna-se necessário enfatizar que os/as
assistentes sociais do setor público foram escolhidos para esta pesquisa por
justamente ser o setor que mais emprega esses profissionais. Porém, em detrimento
disso, é o setor em que mais é observado o processo de precarização e de flutuação
de cargos dessa categoria. Uma característica que corroborou com isso, no processo
de entrevista, foram as respostas das profissionais quando perguntadas sobre o
vínculo empregatício:
3
1
0
Contrato Pregão Efetivo/Concurso
público
Assistentes Sociais
Fonte: Pesquisa de campo realizada com assistentes sociais do SUAS nas cidades de Caicó e São Fernando- RN,
no mês de março de 2020.
Diante das respostas sobre o vínculo de trabalho das assistentes sociais, vistas
no gráfico 2, foi percebido que três profissionais (AS2, AS3 e AS4) são efetivas e
consequentemente têm estabilidade laboral advinda de concursos públicos, fato este
bastante importante, mas não único, para a continuidade e maior segurança laboral
dessas profissionais no setor público da assistência social, uma vez que a própria
Norma Operativa Básica referente aos recursos humanos-NOB/RH do SUAS enfatiza
a necessidade da contratação de profissionais por meio de concursos públicos, com
o objetivo de preservar a práxis profissional do/as assistentes sociais na política da
assistência social, como também de preservar o vínculo deste profissional com os
usuários da política.
Através dessas medidas, criadas e enfatizadas pelas NOB-RH SUAS, foi
notável o não cumprimento destas no que se refere forma de contratação da
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“É bem complicada essa situação, uma vez que nós que somos pregão,
somos os últimos a receber o salário, pois priorizam os estáveis e os
concursados primeiro, devido a questão da obrigatoriedade do pagamento
em dia deles. [...] outra característica degradante é a questão do momento da
contratação, onde você tem que dá uma proposta do salário que irá ganhar.”
9 O termo pejotização, segundo Antunes, refere-se à uma estratégia atual do capital de contratar
trabalhadores de forma flexibilizada, cooptando-os para que estes se registrem como pessoas jurídicas
e não físicas, para consequentemente, mediante a descaracterização de vínculo laboral não pagar
direitos trabalhistas, proporcionando assim, o corte de gastos por parte de uma empresa ou
empregador.
60
com o objetivo de não contribuir com taxas referentes aos direitos trabalhistas, pois
paga-se somente o salário bruto que foi negociado.
No que tange em relação a valorização salarial, mesmo por essa característica
ser um processo de alienação existente na relação laboral do/a assistente social, ou
seja, característico da sociabilidade burguesa atual, ele é atualmente essencial para
a subsistência dos indivíduos. Desta forma, convém adentrar acerca do significado
marxista da alienação, particularizando essa categoria com a práxis profissional do/a
assistente social.
Sendo a alienação, segundo Marx (2017), uma característica do processo
produtivo do capital, em que a força de trabalho (os trabalhadores), antes dotados de
toda a sua subjetividade, referente a mercadoria que produziam com seus próprios
instrumentais, eram sua propriedade. Com o capitalismo e as consequentes formas
de produtividade fragmentadas em massa, o trabalhador acabou perdendo toda a sua
subjetividade posta na mercadoria que ele produziu, sem seus instrumentais, pelo fato
dele vende-la por um preço (salário) imposto pelo capitalista, que detém os meios de
produção e que, consequentemente, ganhara maior valor por meio da também mais
valia produzida, e da questão oferta-procura encontrada no mercado.
Percebe-se com isso, que há todo um estranhamento acerca da subjetividade
do indivíduo que produziu determinado bem que continha características de sua
habilidade, sendo então desprovido do que havia criado, sem saber a finalidade a que
sua mercadoria levou.
Em consonância a este fato, está também a questão da apropriação do tempo
social feito pelo capitalista em relação ao trabalhador, uma vez que, pela necessidade
deste último manter sua subsistência por meio de seu valor de troca, tende a ficar
mais tempo alienado, trabalhando em detrimento de toda uma expropriação do seu
tempo e força de trabalho gerado da mais valia, que é caracterizada pelo ganho
oriundo da maior quantidade de trabalho num mesmo espaço de tempo, e mesmo
valor de troca acordado anteriormente entre o empregador e o trabalhador.
Assim sendo, essa alienação, conforme as crises esporádicas do capital
durante as últimas décadas, tornou-se cada vez mais precarizada, pois o
estranhamento antes ocorrido devido aos sujeitos serem desprovidos de seus
instrumentos de trabalho e de sua mercadoria, passou nos tempos atuais a ser
potencializado com a precarização dos próprios meios de produção, com vínculos
cada vez mais frágeis e temporários, juntamente à questão de o próprio valor de troca
61
também ser precarizado. Uma vez que, o capital tende a cooptar os indivíduos cada
vez mais a se qualificar para atender as exigências do mercado para
consequentemente ter seus valores de trocas mais valorizados.
Nesse sentido, em relação às profissionais da assistência social, a alienação
foi perceptível quando esta profissional vende sua força de trabalho por um salário,
para uma finalidade especializada, não concreta ou material, mas mediativa,
transformadora da realidade. Percebe-se então a alienação, quando este profissional
se utiliza das políticas sociais, criadas pelo Estado, como instrumento para intervir nas
expressões da questão social, que estão cada vez mais precarizadas por
consequência da má gestão ou abandono estatal, por meio de suas responsabilidades
como garantidor e provedor de direitos.
Sendo assim, o Estado que contrata o/a profissional da assistência social para
intervir nas expressões da questão social, através das políticas sociais, é o mesmo
que limita a autonomia e precariza a práxis desse/a profissional. A questão alienante
é histórica em relação a atuação estatal na precarização social, como controlador ou
amortizador em relação a correlação de forças existentes entre capital e trabalho, ou
seja, o Estado somente atuou sob a questão da pauperização no intuito de controlar
a classe trabalhadora, e não de resolver a questão referente a precarização e
exploração que esta classe sofre.
Ao ter em vista a questão da alienação, torna-se importante analisar, os relatos
das assistentes sociais, quando perguntadas sobre o quanto ganhavam mensalmente:
1
0
Até 2 salários Mais de 2 até 3 3 ou mais salários
mínimos salários mínimos mínimos
Assistentes Sociais
Fonte: Pesquisa de campo realizada com assistentes sociais do SUAS nas cidades de Caicó e São Fernando- RN,
no mês de março de 2020.
62
Através disso, o valor é obtido por diversas condições, uma é ligada sob a
quantidade de gastos que o capitalista terá em relação à manutenção dos seus meios
de produção, pois o capitalista sempre irá manter sua taxa de lucro diante dos gastos
oriundos da manutenção dos meios de produção. Já outra condição, traz a questão
da oferta e procura pelas mercadorias, ou seja, quanto maior a procura de
determinada mercadoria, maior o capitalista vai ao mercado contratar mais
trabalhadores para produzir mais. Essa característica poderá elevar o valor do salário
real dos trabalhadores mediante o aumento do lucro, mas diminuirá o salário relativo,
uma vez que os trabalhadores serão mais explorados, e consequentemente, haverá
maior incidência de extração da mais valia destes.
Desta maneira, à primeira vista, a incidência do salário parece satisfazer a
questão referente ao trabalho pago, mas logo é percebido que o salário pago é
somente o trabalho necessário mediante acordo entre o empregador e empregado.
Porém, em detrimento disso, há a questão referente a mais valia que o empregador
impõe de forma alienada sobre o empregado para aumentar o seu lucro, que vai ser
acrescido junto com o valor de uso e de troca de determinada mercadoria.
Tal característica tem semelhança com o setor público, e em específico, em
relação a condição laboral dos/as assistentes sociais, uma vez que, por meio da
precarização existente, o Estado contrata um profissional por um determinado salário
anteriormente imposto. Logo, mediante a precarização existente da falta de
profissionais nos espaços ocupacionais, a polivalência derivada disto, irá gerar uma
maior quantidade de trabalho não pago ou mais valia advindas de um profissional que
irá exercer outro papel laboral, além do seu.
Sendo assim, o valor obtido da mais valia advinda da exploração dos
profissionais em seus espaços sócio ocupacionais, através da precarização existente,
servirá para atender as exigências do mercado financeiro. Fato este que vem se
tornando evidente com a diminuição do financiamento das políticas sociais para
atender a dependência ao mercado financeiro, com o pagamento das dívidas externas
do país, Behring (2011).
Observa-se com isso, que a lógica produtivista e a consequente alienação e
dependência ao capital, que visa formar os indivíduos de forma imediata para o
mercado, com precarizações, ultrapassou a barreira do trabalho e consequentemente
interferiu também no meio sócio familiar. A coisificação dos indivíduos mostrou-se em
evidencia nessa ocasião, sendo esta lógica tão forte e alienante, que limita o ser social
64
em relação a sua necessidade laboral alienada. Com isso, torna-se importante a visão
de Marx (2002), acerca da importância da consciência de classe, e politização dos
trabalhadores na luta reivindicatória por melhores condições salariais. É necessário
que os trabalhadores tenham também participação na taxa de lucro obtida dos meios
de produção.
Logo, por meio disso, convém trazer à tona a particularidade acerca da prática
profissional dos/as assistentes sociais sobre a importância da valorização profissional
destes, uma vez que, com a alienação característica da sociabilidade burguesa, que
necessita do valor de troca como meio de sua subsistência. Para tanto, em
consonância com o que foi citado anteriormente, sobre a necessidade da união da
classe trabalhadora, se faz importante também entender que a categoria destes
profissionais esteja ciente da importância destes para a luta reivindicatória por
melhores condições laborais, maior autonomia e valorização profissional, garantia de
direitos e a luta societária pela superação da sociabilidade burguesa, e não somente
sobre a questão salarial.
Ao ter essas características, referentes a desvalorização salarial em
consonância com a subcontratação temporária da maioria destes profissionais,
presente principalmente nos espaços sócio institucionais, se faz necessário também
evidenciar a reafirmação da luta da categoria junto com seus conselhos pelo piso
salarial, conforme explicitado no Projeto de Lei nº 5.278/2009, que fixa o piso salarial
dos/as assistentes sociais para 3.720 reais mensais numa jornada de 30 horas de
trabalho semanais. Questão essa que Ricardo Antunes em entrevista para o CFESS
reitera:
[...] não basta lutar para se ter um piso. É preciso lutar para que ele seja
respeitado. Veja como exemplo professores e professoras do ensino público,
que possuem um piso salarial, mas que muitos estados e municípios não
cumprem por falta de obrigatoriedade no cumprimento da lei. Então, o
primeiro passo para que os/as assistentes sociais devem dar é conseguir a
aprovação de um piso salarial digno. Em seguida, lutar pela sua
implementação.
mensais. Sendo que a região Nordeste é a que tem maior desvalorização desses
profissionais, com um vencimento mensal em média de 1.812,45 reais.
Assim sendo, torna-se necessário refletir sob o que pensa Santos (2010) a
respeito da precarização laboral, uma vez que há uma forte tendência neoliberal de
rebaixamento dos salários em consonância com uma baixa quantidade de
funcionários. Tal fato acaba ocasionando todo um acúmulo ou sobrecarga de
demandas nas instituições, e consequentemente acaba tensionando os/as
profissionais da assistência social ao imediatismo e ao esgotamento físico e mental.
Essa sobrecarga também foi evidenciada quando as profissionais foram
questionadas sobre como se dá o cumprimento de demandas na instituição:
“Há uma grande demanda, devido ter somente eu como assistente social
responsável pelo CRAS, Serviço de Convivência e Fortalecimento de
vínculos, acompanhamento educacional jurídico. [...] diante disso, em virtude
da grande demanda vinda principalmente do setor sócio jurídico, em muitos
casos eu não consigo cumprir as demandas a tempo por causa da sobrecarga
de demandas. (AS1)
Tal reflexão condiz com o que foi respondido pelas assistentes sociais, quando
perguntadas sobre se já havia sofrido algum processo de adoecimento decorrente do
trabalho.
Diante do que foi reportado pelas profissionais, vale lembrar que essas
respostas coadunaram com a pesquisa realizada no Rio de Janeiro e Minas Gerais,
nos anos de 2008 e 2009, feita com 989 assistentes sociais, na qual quando
perguntados/as sobre as relações de trabalho, 81,5% responderam dizendo que
tinham apenas um vínculo de trabalho como assistente social, já 18,5% responderam
ter dois ou mais vínculos de trabalho. (DELGADO; AQUINO,2014).
É observável com isso, a partir da maioria das respostas apresentadas pelas
profissionais, de acordo com Marx (2011), as consequências de um ethos metabólico
do capital que vem sendo endêmico em relação as suas crises de produção, uma vez
que em seu início, na forma concorrencial, necessitava e tinha toda uma contingência
de capital variável (trabalhadores assalariados) trabalhando, mesmo em condições
degradantes, o que acabou gerando uma supérflua população desses trabalhadores
em atividade, mesmo sob as condições laborais anteriormente citadas. Entretanto,
conforme os pensamentos de Antunes (2006) e Alves (1999), a superprodução
consequente disso, em busca de maiores taxas de lucros, e as consequentes crises
de reprodução, acabou reestruturando o capitalismo em suas formas subsequentes
com a fase monopólica até o neoliberalismo atual.
68
“Já sofri uma ameaça que não foi direta, mas velada, referente à um episódio
no ano de 2017, em que estava acontecendo uma mobilização na ilha de
Santana contra o governo do Estado, pedindo que os parlamentares
votassem contra a reforma trabalhista, e devido a minha atuação junto ao
sindicato dos servidores municipais, recebi uma ligação de um funcionário
69
“Já sofri preconceito, pelo fato de alguns acharem que mulher tem menos
habilidade de que os homens, por ser mulher não seria eficiente.” (AS2)
3
1
Assistentes Sociais
Sim Não
Fonte: Pesquisa de campo realizada com assistentes sociais do SUAS nas cidades de Caicó e São Fernando- RN,
no mês de março de 2020.
É perceptível que a aprovação desta lei foi um marco histórico para a categoria,
tendo em vista tamanha precariedade existente que tensiona os/as assistentes sociais
a altas cargas de trabalho. Diante disso, vale ressaltar o que as assistentes sociais
AS2 e AS3 relataram,
“Minha carga horária semanal é de 20 horas, e uma vez que sou de outra
cidade, isso me ajuda muito na organização do meu tempo para outras
atividades”. (AS2)
Tal conquista permite que tais profissionais tenham, mesmo diante de sua
autonomia relativa, maior tempo disponível para o descanso e atividades sociais, uma
vez que tais características são fundamentais para o bem estar não só social, mas
também laboral.
Conquista esta, importante, que evidenciou a forte organização e mobilização
política e laboral da categoria para conseguir a aprovação da lei das trinta horas.
Todavia, de acordo com Iamamoto (2011), diante da importância e
especificidade laboral do/a assistente social, tais características flexíveis encontradas
72
[...] ainda que o serviço social tenha sido reconhecido como “profissão liberal”
nos estatutos legais e éticos que definem a autonomia teórico-metodológica,
técnica ético-política na condução do exercício profissional, o trabalho do
assistente social é tensionado pela relação de compra e venda da sua força
de trabalho especializada. A condição de trabalhador assalariado – seja nas
instituições públicas ou nos espaços empresariais privados “sem fins
lucrativos”, faz com que os profissionais não disponham nem tenham controle
sobre todas as condições e os meios de trabalho postos à sua disposição no
espaço institucional.
Percebe-se, pelo que foi relatado pelas profissionais, toda uma série de
desafios inerentes a sua relativa autonomia profissional, fato esse, que tem que ser
atentado por essa categoria junto a seus conselhos, no intuito de se conseguir maior
atuação política e social nas lutas e reinvindicações por condições dignas de trabalho,
uma vez que esse profissional é essencial e protagonista para a aplicabilidade,
construção e eficácia das políticas sociais. Logo, torna-se importante enfatizar a
necessidade de cumprimento de tal resolução.
Foi perceptível também, a questão do tensionamento ético que esses
profissionais sofrem mediante a precarização tanto profissional, existente a
administração pública, quando há funcionários escolhidos por recomendação política,
quanto estrutural, com os limites físicos estruturais presentes nos espaços sócio-
74
“No setor onde trabalho atualmente não houve tensionamento ético, pois há
total autonomia, mas em outro setor em que eu trabalhei, tive que presenciar
situações de não considerar a situação do usuário para a viabilização de
benefícios eventuais, o que acabou deixando o caso sem resolução.” (AS3)
Tendo em vista tais relatos, é evidente que a política de assistência social tem
que ser levada a sério, já que a potencialização das expressões da questão social,
consequências da forte exploração, maior concentração de riquezas, e da grande
desigualdade social, são reflexos degradantes que ainda pairam no país. Como
reflexo, as constantes crises do capital, derivadas de tais características, acabam
gerando grande número de usuários em vulnerabilidade social, que necessitam da
assistência social para sua subsistência.
Todavia, é fundamental entender e pôr em evidência, que a assistência social
não pode ter sua ação individualizada, referente as intervenções nas expressões da
questão social, uma vez que o ethos individualista neoliberal torna a intervenção
focalizada, com tendência ao imediatismo, sem entrosamento com as outras políticas,
como a saúde e educação, que também são fundamentais a reinserção ou inclusão
social, e consequente bem estar social.
Logo, segundo Mota (2010), é preciso acabar com o mito da assistência social
referente a visão acrítica e imediata desta sobre a sua intervenção particularizada ou
individualizada nas expressões da questão social. Para tanto, é fundamental que a
categoria dos/as profissionais da assistência social esteja também reivindicando junto
a outras áreas e profissionais, melhorias referentes as políticas públicas em geral, e
não somente em relação as políticas públicas e/ou sociais que abrangem a assistência
social.
No que tange a esses desafios, é importante analisar e problematizar acerca
da organização de tal categoria profissional mediante a precarização laboral e do
desmonte das políticas públicas e sociais provocadas pelo Estado neoliberal. É notório
a importância dos conselhos federal e estaduais no intuito de assessorar, fiscalizar e
direcionar a práxis dos/as assistentes sociais através dos projetos ético político e
societário que visam a defesa da igualdade social, como também o combate a todo
tipo de preconceitos e discriminação de classe, raça e gênero.
Nesse sentido é perceptível também, a precaução que a categoria,
representada pelos seus conselhos, tem conforme o avanço do conservadorismo na
profissão, questões como a busca pela autonomia laboral, pela maior participação
social na formulação das políticas públicas, como também a defesa pela manutenção
de tais políticas, em meio ao desmonte e tensionamento neoliberal à terceirização e
privatização, são pautas constantes nas discussões e campanhas feitas pelos
conselhos.
77
Junto a isso, também está a defesa que a categoria faz em relação ao processo
de formação profissional, a necessidade de enfatizar a teoria social marxista dialética,
em consonância com todo um embasamento teórico metodológico crítico, numa
perspectiva de aprendizado presencial libertador é um prisma que a categoria também
defende diante da precariedade tecnicista, presente na Educação à distância, e que
vêm sendo adotada pelo neoliberalismo.
Entretanto, tendo em vista a lógica da importância da educação e formação
permanente desses profissionais, sob uma perspectiva crítica, e não produtivista para
atender as querências do mercado de trabalho, é necessário frisar a eficiência da
educação permanente dos/as profissionais da assistência social, mesmo após a sua
formação, uma vez que a questão social sofre constante mutação em suas
expressões, que são reflexos da precariedade presente na correlação de forças entre
capital e trabalho.
Essa questão foi bastante enfatizada por tais profissionais, como é o caso dos
relatos a seguir,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Serviço Social, e para a sociedade em si, como objeto reflexivo não só sob a
historicidade na qual a categoria se desenvolveu, mas também como criticidade
referente a realidade e importância do fazer profissional, com o objetivo de traçar
estratégia que visem a reafirmação do projeto societário que tais profissionais
defendem mediante a forte precarização social e laboral.
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13) Você já fez alguma atividade advinda do seu trabalho em casa, para atender
os curtos prazos exigidos de outras instituições?
14) Você consegue manter o sigilo profissional em relação aos seus instrumentais,
estudos sociais e acompanhamentos dos usuários no seu espaço de atuação
profissional?
15) Você já se sentiu tensionada/o eticamente, em algum acontecimento que
poderia violar o código de ética do assistente social?
16) Há realização de capacitações para você e outros profissionais, no intuito de
mantê-los atualizados acerca de mudanças ocorridas nas políticas sociais?
17) Há uma grande quantidade de demandas no espaço em que atua? Você
consegue cumpri-las a tempo?
18) A equipe interdisciplinar em que você está inserida/o, é completa ou há
desfalques? Se tem desfalque, isso interfere no teu exercício profissional?
19) Já houve interferência, nas relações de trabalho, de outros profissionais em
seu ambiente de trabalho?
20) Você já sofreu algum tipo de preconceito em seu ambiente de trabalho?
21) Você já sofreu algum processo de adoecimento decorrente do seu trabalho?
22) Você já sofreu alguma ameaça ou constrangimento em seu ambiente de
trabalho?
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REFERÊNCIAS
FAUSTO, Bóris. História Concisa do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Edusp, 2008.
HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital. 15 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2012.
_______. Era das Revoluções. 1º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
_______. Era dos Extremos: O breve Século XX. 2ª ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
______. & ENGELS, F. A ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
______. Trabalho assalariado e capital & salário, preço e lucro. São Paulo:
Expressão Popular, 2010.
______. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-
64. 17ª ed. São Paulo: Cortez, 2018.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: Investigação Sobre sua Natureza e suas
Causas. São Paulo: Abril Cultural, 1982.