Você está na página 1de 59

Academia Brasileira de Direito do Agronegócio

Apresenta

Revista Editora
ABRADA
1ª Edição

ABRADA
06 de Abril
de 2021

www.abradaoficial.com.br

Excelência no Direito Aplicado ao Agronegócio

O DIREITO DENTRO
DO AGRONEGÓCIO
BRASILEIRO
COMO NUNCA
Editora
ABRADA

VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 1
2 • ABRADA
APRESENTAÇÃO
A ABRADA (Academia Brasileira de Direito do Agronegócio) surgiu
como um sonho, um sonho de levar o Agro na sua essência para a discussão
jurídica. Uma discussão que busca o foco no campo, um foco prático, um
foco de resolução!
O que se prega, de fato, é olhar a lei com os olhos do campo e não o campo
com os olhos da Lei!
Porque o campo é um meio diferente, encantador, apaixonante e, princi-
palmente, vital para toda a sociedade! Nesse ínterim, na nossa essência
está valo­rizar, simplificar e compartilhar conhecimento com o intuito
de proporcionar noites tranquilas de sono para aqueles que acordam na
madrugada, faça chuva ou sol, para colocar comida na mesa de cada um.
Em pouco tempo nos tornamos a maior Comunidade de Direito Aplicado
ao Agronegócio do Brasil, atualmente somos 523 membros, que pensam,
vivem e defendem o Agro de corpo e alma em um espaço onde todos sabem
que juntos somos mais fortes!
Sabem que o Agro precisa de soma e não divisão!
Sabem que o conhecimento só é válido, se compartilhado! A essência
ABRADA é sorrir, verdadeiramente, o sorriso do outro, afinal, quando o
bolo cresce, a fatia de todos aumenta!
Convido todos a partilharem um pouco do que é a nossa Família ABRADA,
um pouco do seu amor pelo agro e um pouco da partilha de quem sabe que
a multiplicação das oportunidades vem de mentes abertas e dispostas!

Luis Adriano Martins Romanni, sócio-fundador


da Academia Brasileira de Direito do Agronegócio
(ABRADA), sócio-fundador da Banca Martins
Romanni Advogados Associados, advogado com
atuação exclusiva no Agronegócio, especialista
em Direito Cível/Empresarial, Mestrando,
Professor de cursos de Extensão e Pós-Graduação
pelo Brasil e Produtor Rural.

LUIS ADRIANO
MARTINS ROMANNI
Sócio fundador da ABRADA

Lorrane Martins Romanni, sócia-fundadora da


Academia Brasileira de Direito do Agronegócio
(ABRADA), sócia da Banca Martins Romanni
Advogados Associados, advogada com atuação espe-
cializada em Assessoria Trabalhista no Agronegó­cio,
especialista em Direito e Processo do Trabalho,
graduada em Psicologia, MBA em Gestão Empresarial
(FGV), mestranda, produtora rural.

LORRANE
MARTINS ROMANNI
Sócia fundadora da ABRADA

ABRADA • 3
ÍNDICE
Clique no título do artigo
e vá direto para a página correspondente

Posse estendida de arma de fogo em propriedade rural............................. 6


Rastreabilidade no campo............................................................................... 7
Transporte de gado em pé............................................................................... 8
SISBRAJUD.................................................................................................... 9
Teoria da imprevisão contratual no agronegócio.......................................10
Por que constituir uma holding rural..........................................................12
A importância da advocacia consultiva e/ou preventiva no agronegócio.....13
Do prazo da parceria agrícola.......................................................................14
Impenhorabilidade da pequena propriedade rural....................................16
Minha posso sobre a terra está sendo ameaçada.
Como me proteger?........................................................................................18
Produtor Rural, cuidado com a falsa parceria rural..................................19
Importância da rastreabilidade: do campo para a mesa............................20
Você sabe o que são operações de Barter?...................................................21
A alienação fiduciária e a nova lei do agro..................................................22
Planejamento sucessório no agronegócio...................................................23
Seguro Agrícola...............................................................................................24
Planejamento tributário no agronegócio....................................................25
Alongamento de dívidas rurais.....................................................................26

4 • ABRADA
Banana. A fruta do mundo...........................................................................28
As peculiariadades dos contratos agrário,
em especial  os arrendamentos rurais  e seus efeitos reflexos...................30
Sustentabilidade para quem?........................................................................32
A importância da advocacia preventiva
na aplicabilidade da LGPD...........................................................................34
Legal Design aplicado ao direito do agronegócio......................................36
O agronegócio e o meio-ambiente...............................................................38
Crédito rural como propulsor de interesses da coletividade....................40
Advocacia humanizada no agronegócio......................................................42
Crédito rural....................................................................................................44
O contrato de safra.........................................................................................46
ICMS na circulação de gado.........................................................................48
Trabalho intermitente e sua compatibilidade com o agronegócio..........49
As vantagens do planejamento sucessório no agronegócio......................50
Breves considerações sobre o registro imobiliário dos imóveis rurais....52
Aplicação da mediação nos conflitos agrários............................................54
Como iniciar o planejamento sucessório familiar no agronegócio.........56
Crédito Rural..................................................................................................58

ABRADA • 5
POSSE ESTENDIDA
DE ARMA DE FOGO
EM PROPRIEDADE RURAL
Considerando o aumento da proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no
criminalidade no campo e ob- interior de sua residência ou domicílio, ou dependência
jetivando auxiliar o produtor rural desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja
para melhorar as condições ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento
de proteção as famílias resi- ou empresa.
dentes em propriedades rurais,
em 2019 foi sancionada a Lei § 5o. Aos residentes em área rural, para os fins do dis-
TATIANE VESSONI 13.870/2019, a qual alterou o posto no capítulo deste artigo, considera-se residência ou
Assessora de Juiz
e Associada ABRADA
Estatuto do Desarmamento (Lei domicílio toda a extensão do respectivo imóvel rural.
10.826/03). Ela autoriza o pro-
dutor rural que tenha posse de arma de fogo a andar armado Desta forma, quem vive no campo, poderá comprar arma-
em toda a extensão de sua propriedade rural, e não apenas mento de qualquer calibre, inclusive fuzis e espingardas,
na sede da propriedade, como era previsto. desde que preenchidos os requisitos estabelecidos por Lei,
como: ter mais de 25 anos, comprovar residência rural,
A Lei 13.870/2019, em seu art. 5o, §5o, confere um con-
certidão negativa de antecedentes criminais, documentos
ceito de posse estendida, ou seja, quem tem a posse de
pessoais, certificado de curso de tiro. Exames psicotécnicos
arma de fogo pode mantê-la no interior de sua residência
realizados profissionais habilitados pela Polícia Federal.
ou domicílio. Porém, no caso de propriedade rural,
permite que a posse de arma se estenda por toda a
No caso dos produtores rurais, não se faz necessário a
propriedade rural.
comprovação de necessidade ou ameaça efetiva à inte­
gridade física.
Vejamos a redação do art. 5o, §5o, do Estatuto do Desar-
mamento, com a alteração da Lei 13.870/2019. Vale também ressaltar que o requerente deverá ter a
posse justa da terra, excluindo, assim, os integrantes
Art. 5o. O certificado de Registro de Arma de Fogo, com de grupos como Movimento dos Trabalhadores Rurais
validade em todo o território nacional, autoriza o seu Sem Terra (MST).
VOLTAR AO
6 • ABRADA
ÍNDICE
RASTREABILIDADE
NO CAMPO
No dia 1º de Agosto de 2021 aplicação e recomendações agronômicas com referência
começa a obrigatoriedade da ao lote de utilização.
aplicação da rastreabilidade
para diversos vegetais frescos, O lote pode ser definido como o conjunto de vegetais
dentre eles melão, morango, frescos de uma mesma variedade e espécie botânica pro-
alho, cenoura, batata doce, ce- duzidos pelo mesmo produtor rural em um espaço de
bola, pimentão e abóbora. tempo delimitado e sob condições semelhantes.
LUIS ROMANNI
Advogado A rastreabilidade é, basica-
e Fundador ABRADA Importante se faz a delimitação em lotes para que se pos-
mente, um mecanismo que via-
sa efetuar controle dos produtos e proteger o consumidor
biliza o acesso de informações de origem e caminho
percorrido por um determinado produto por todos os final. A partir da delimitação de lotes é possível segre-
elos da cadeia produtiva pelo qual passou, ou seja, é a gar toda a produção final e, em caso de algum problema
habilidade específica de se seguir a movimentação de com o produto, quando enviado ao consumidor final, se
determinado produto/alimento por estágios específicos faz possível o rastreamento daquele lote defeituoso com
de produção, processamento e distribuição. maior velocidade, possibilitando um aumento do tempo
de resposta no seu recolhimento evitando-se, assim, um
O procedimento é obrigatório nas atividades de produção, possível dano à saúde da população.
industrialização, armazenamento, fracionamento, trans-
porte, distribuição, importação e/ou comercialização de Caso, mesmo sujeito ao rastreamento, o produtor rural não
alimentos, inclusive in natura, bebidas, águas envasadas, implante o processo, poderá ser submetido a sanções legais
suas matérias-primas, ingredientes e aditivos alimentares, previstas na lei 6.437 de 1.977 e lei 9.972 de 2000, como:
dentre outros.
• Advertência;
No caso do produtor rural existem, ainda, algumas outras
• Multa;
especificidades que devem ser abordadas. Uma delas é a
• Apreensão inutilização e interdição do produto;
exigência de registros do receituário agronômico, ou seja,
• Suspensão de vendas e fabricação do produto;
documentação que contenha a prescrição e orientação
técnica para a utilização de defensivo agrícola emitido por • Interdição parcial ou total do estabelecimento;
profissional legalmente habilitado. • Proibição de propaganda, dentre outras.

Tal dado constitui o chamado “Caderno de Campo”, no Sendo assim, importante se atentar aos prazos e requisi­
qual deve-se constar a relação de todos os insumos agríco- tos para a implementação do processo de rastreabilidade
las utilizados na etapa da cadeia produtiva sob responsa­ para que se esteja de acordo com as prescrições legais e
bilidade do produtor rural, com as respectivas datas de evitar sanções que acarretem prejuízos ao produtor rural.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 7
TRANSPORTE
DE GADO EM PÉ
NOTA FISCAL E GTA
A tributação deve ser analisada em seu aspecto principal,
ou seja, os valores a serem pagos de tributos. Mas tam-
bém em sua vertente acessória que são os documentos
que devem ser emitidos, apre-
sentados e carregados consigo
junto à certas transações, assim
iremos analisar brevemente os
documentos necessários para o
transporte do gado em pé para de Mercadorias e Serviços - ICMS, mas em caso de um
fins de fiscalização tributária. simples transporte entre duas fazendas do mesmo propri-
VITÓRIA etário não haverá incidência de imposto algum, somente
GARCIA CAVALCANTE
Advogada e Associada ABRADA
Verifica-se que o gado vivo é ob- deverá ser emitida a nota fiscal para formalizar, e declaran-
jeto de maior transporte no país, do nesta a inocorrência de fato gerador para ICMS.
uma vez que as fases agropecuárias se dividem em (I) cria,
(II) recria, e (III) engorda, das quais hoje no Brasil exis­tem Não obstante, deve-se lembrar que existe a fiscalização do
produtores especializados em cada uma, ou mesmo grandes poder público sobre o transporte de animais, fiscalizando
produtores com fazendas diferentes destinadas a cada por exemplo vacinas obrigatórias, e etc. Neste ínterim é o
fase, levando em consideração a estruturação diferen­ciada chamado exercício do poder de polícia do Estado, e todas
até mesmo quanto ao capim a ser plantado para cada fase. as vocês que o Estado exerce seu poder de polícia com
toda certeza ele cobrará uma taxa sobre aquele serviço.
Antes de adentrar no aspecto tributário não podemos
esquecer que o gado é mercadoria, cotado internacio- No transporte de animais não é diferente, como existe fis-
nalmente em dólar, tendo a arroba do boi característica calização sobre criação de animais o seu transporte tam-
de commodity por tal razão à luz dos órgãos de fazenda bém deve ser fiscalizado e autorizado, assim é cobrada a
pública será tratado sempre como uma mercadoria. taxa de transporte de animais, emitidas por meio da Guia
de Transporte de Animais – GTA, cuja deve ser emitida,
Assim sendo, como mercadoria sempre que houver a devidamente paga bem como portada pelo condutor do
transação de titularidade (venda ou doação), ou mesmo veículo que desloque o animal, referido documento tem o
o simples transporte (levado de uma fazenda à outra do condão de controlar o rebanho em seu aspecto sanitário.
mesmo proprietário) é necessário formalizar para o gover­
no o que está sendo transportado, e o valor que aquele Lembrando que no transporte dos animais é indispensável
bem possui, essa formalização deve ser feita por meio da os dois documentos cumulativamente, estar em mãos da
emissão da Nota Fiscal, cuja deve estar em mãos do trans- GTA ou TTA – Termo de Transporte de Animais, bem
portador desde a saída até a chegada no destino final. como da Nota Fiscal devidamente declarada, indepen-
dente da finalidade de transporte daquele animal, sendo
Veja, a nota fiscal independe da existência de tributos a que a incidência ou não de tributos é discussão diversa e
serem pagos, por isso chamamos de “obrigação acessória” não exime a obrigação de emitir e portar referidos docu­
mentos, em caso de descumprimento haverá autuação
pois não se trata de dinheiro, mas sim de formalização, de
tributária com incidência de multa, portanto não deixe de
declarar à fazenda pública o que está sendo movimentado emitir a documentação correta na hora de transportar o
e qual a importância financeira daquilo, isto é, em caso gado, é simples, fácil e bem mais em conta do que uma
de venda obviamente incidirá o Imposto sobre Circulação autuação tributária.
VOLTAR AO
8 • ABRADA
ÍNDICE
SISBAJUD
NOVO SISTEMA DE BLOQUEIOS JUDICIAIS
A cobrança de dívidas vai mui- contratos de abertura de contas corrente e de investimento;
to além de uma decisão judicial faturas de cartões crédito; contratos de câmbio; cópias de
favorável. Há um longo cami­ cheques, entre outros.
nho a ser trilhado até que haja
a satisfação dos valores devidos. Uma das novas opções será a emissão judicial de uma
A tecnologia tem auxiliado na ordem de bloqueio de ativos com possibilidade de reite­
busca pelo êxito do credor, na ração, a chamada “teimosinha”. Ou seja, o juiz emitirá a
ANA CAROLINA DE penhora online, por exemplo, ordem de bloqueio e esse documento se manterá ativo no
OLIVEIRA SOARES temos o BANCEJUD, que é o
Advogada e Associada ABRADA sistema até que o valor da dívida seja integralmente blo-
bloqueio de ativos em institu- queado. Atualmente, quando um juiz solicita bloqueio e
ições financeiras, através de ordem judicial. o valor não é suficiente para pagar a dívida, o juiz precisa
emitir nova ordem para as instituições financeira, e assim
Ativo desde o ano 2000, o BANCEJUD, com o tem-
sucessivamente, até que todo o valor seja efetivamente
po tornou-se um sistema obsoleto e sem acessibilidade
bloqueado.
para avanços tecnológicos.
Outra funcionalidade será a possibilidade de o juiz definir
Frente a necessidade de um sistema arrojado e tecnológico
uma data para o bloqueio e transferência dos ativos.
o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Procurado­ria-
Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e o Banco Central Por fim, as ordens judiciais serão dirigidas instantane­
desenvolveram o Sistema de Busca de Ativos do Poder amente ao Sistema Financeiro deixando de passar por
Judiciário (SISBAJUD). tratamento do Banco Central, desta forma os magistra-
dos terão acesso rápido e seguro, aumentando as possibli-
Esse novo sistema, além de permitir envio eletrônico de dades de êxito do bloqueio judicial.
pedidos de informações básicas sobre contas e saldos, que
já fazia parte do BacenJud, permite que juízes requeiram Como se vê, o SISBAJUD que está operando desde agosto
diretamente às instituições financeiras informações mais de 2020, com previsão de funcionalidades ativadas total-
detalhadas sobre os ativos dos devedores. mente em janeiro de 2021, promete eficiência e celeridade
ao credor, pois possuirá maior alcance, mais funcionali-
Abre-se um leque de opções aos magistrados, que ago- dades e autonomia ao judiciário, de modo a aumentar as
ra podem requisitar eletronicamente extratos bancários; chances de êxito dos bloqueios judiciais.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 9
TEORIA DA IMPREVISÃO
CONTRATUAL
NO AGRONEGÓCIO
A ordem de isolamento so- Ou seja, há possibilidade de revisão ou rescisão contratual
cial causada pela pandemia do quando ocorrerem motivos imprevisíveis e extraordinári-
COVID-19, desestabilizou os que causem desproporção entre o valor da prestação
incontáveis relações jurídicas. devida e o momento da sua execução, trazendo grande
Os contratos obviamente são desequilíbrio à capacidade de cumprimento de uma
a parte mais sensível dessas das partes. Neste caso, a parte que se sentir prejudicada
relações, pois, muitas empresas poderá ingressar em juízo requerendo ao juiz a correção
PATRICE foram obrigadas a suspender ou adequação do valor real da prestação. Entretanto, cada
FRÓES SILVA cenário é muito particular, devendo ser analisado caso
Advogada e Associada ABRADA suas ativi­dades e muitos tra-
a caso, pois, nem sempre o prejuízo de uma das partes
balhadores encontram-se, hoje,
equivale ao ganho exagerado da outra. Muitas vezes a
sem renda. Então, sem dinhe­iro no bolso como adimplir
própria álea do contrato faz com que as partes estejam
as obrigações assumidas?
cientes do risco do negócio, assim, os contratos aleatórios
Sabe-se que os contratos adquirem força vinculante uma não são contemplados pela teoria da imprevisão.
vez obedecidos seus requisitos legais, podendo sofrer al- É sempre útil relembrar os REQUISITOS exigidos para
terações apenas mediante distrato ou mediante a impos- que seja acolhida a Teoria da Imprevisão: 1. contratos de
sibilidade de prestação derivada de caso fortuito ou força execução continuada (prestações) ou diferida (pagamento
maior. As pandemias se enquadram no conceito de força futuro de uma única parcela); 2. Onerosidade excessiva
maior, sem dúvida. que consiste na alteração significativa de uma das par-
tes durante a execução do contrato (pandemia, alteração
O nosso Código Civil acolheu formalmente a teoria da do índice de correção monetária pelo Governo, etc); 3.
imprevisão prevendo a possibilidade de revisão ou res- Benefício exagerado para a outra parte (ex.: proprietári-
olução contratual quando ocorrerem motivos impre- os de imóveis locados que receberão os locativos de lojas
visíveis e extraordinários após a celebração do negócio. fechadas em razão da pandemia).
VOLTAR AO
10 • ABRADA
ÍNDICE
O agronegócio é um, se não o mais, importante setor da
economia brasileira. Tanto é, que foi o único setor que
não parou e quase não sentiu os efeitos da pandemia do
novo Coronavírus, com exceção dos setores de maior de-
pendência de mão de obra, como leite e derivados, horti-
frutigranjeiros, sobretudo os mais perecíveis, floricultura
e de biocombustíveis, além de algumas agroindústrias
mais focadas no mercado interno.

Assim, no que diz respeito aos contratos do agronegócio,


sendo o agro a atividade econômica mais importante do
país e sendo ela o pilar das exportações brasileiras e ain-
da, a atividade que mais sofre os riscos enfrentados pelo
mercado, as alterações climáticas e a variação cambial,
não se sabe ainda quais serão os impactos enfrentados em perdidas. Nesse cenário obviamente, muitos contratos
razão da pandemia. É prudente analisarmos as respostas serão inadim­plidos e cabe a nós, operadores do direito,
do mercado a fim de antes de incharmos o judiciário, tentarmos composições
"HÁ POSSIBILIDADE verificar caso a caso amigáveis, por meio de conciliações extrajudiciais ou judi-
DE REVISÃO OU RESCISÃO
os danos causados aos ciais, por mediação ou arbitragem.
CONTRATUAL QUANDO
OCORREREM MOTIVOS
contratos e às ativi-
dades do agronegócio. Obviamente, nenhuma das partes envolvidas deseja des-
IMPREVISÍVEIS E
fazer o negócio, pois, todos querem manter seus rendi-
EXTRAORDINÁRIOS"
mentos ou seus bens, e isso é justo! Portanto, como já
Estamos diante de
referido, nesse momento a melhor maneira de sanar o
uma situação completamente excepcional e superve-
conflito é o AJUSTE EXTRAJUDICIAL. Conversar
niente em que a execução de negócios jurídicos já con- ainda é a melhor saída para manter ativo um contrato e
tratados, desde um simples contrato de empreitada até satisfazer, mesmo que minimamente, ambas as partes,
complexos contratos de comercialização internacional porque afinal concessões terão de ser feitas e o “menor
de grãos, deixaram as partes contratantesabsolutamente prejuízo, é sempre o melhor”.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 11
POR QUE CONSTITUIR
UMA HOLDING RURAL?
É fato público e notório que os Com efeito, em tempos de “normalidade” poucos são
impactos da pandemia mundial aqueles que se preocupam em realizar uma previsão da
da COVID-19 foram devas- sucessão do seu patrimônio ainda em vida, o que, não
tadores, não apenas na área da raras vezes, ocasiona um grande problema familiar duran-
saúde, mas também no âmbito te o inventário, podendo perdurar por muitos anos, com-
econômico, educacional e social. prometendo a própria continuidade da atividade rural. A
Demonstrando-se um desafio situação de anormalidade ocasionada pela pandemia des-
JULIANA LEAL imprevisível e extremamente com­ pertou ainda mais a ideia da finitude humana, mesmo de
Advogada e Associada ABRADA plexo para todas as nações equa- pessoas jovens ou saudáveis, gerando angústia aos patriar-
cionar esta crise intersetorial. cas ou matriarcas ao imaginarem como ficaria o seu negócio
em caso de sua falta
No cenário econômico, em suas mais diversas esferas, não inesperada. "A HOLDING FAMILIAR
tem sido diferente. Contudo, apesar das tantas dificul- (...) É A CRIAÇÃO DE
dades enfrentadas muito antes desta pandemia, o setor do De fato, esta preocu- UM SISTEMA LEGAL QUE
agronegócio sobressaiu-se aos demais, revelando sobre- pação foi proemi- PERMITE AO PATRIARCA
maneira a sua importância na sobrevivência humana e no nente no atual OU MATRIARCA PLANEJAR
equilíbrio econômico, sendo o único setor que, segundo o senário mundial, A SUCESSÃO DO SEU
IBGE, registrou crescimento durante o período: incre- porém, o problema PATRIMÔNIO"
mento de 2,5% do PIB, demons­trando o seu protagonis- sempre existiu, e a
mo na economia brasileira. solução geralmente culminava com a instauração de um
procedimento de inventário, tão conhecido pela morosi-
O destaque deste importantíssimo segmento evidenciou dade, de altíssimo custo, submetendo-se, ainda, a um ine­
a necessidade de uma gestão mais apurada do agronegó­ vitável desgaste familiar.
cio. Não apenas em termos de eficiência da cadeia pro-
dutiva, como no aprimoramento dos negócios rurais, in- Assim como a morte é uma certeza, imaginava-se que
clusive do patrimônio dos produtores rurais, garantindo passar por este procedimento também seria inevitável, e
a manutenção e o desenvolvimento desta atividade ex- mais do que isso: os sucessores acreditavam ser natural
tremamente essencial mesmo em tempos de crise. Neste ter que vender bens para arcar com os altos custos do in-
senário, sobressaiu-se a importância de realizar o plane- ventário, sendo que esta alienação não raras vezes ocorria
jamento sucessório e proteção patrimonial dos bens dos com considerável deságio, pois o comprador sabia que o
produtores rurais. vendedor precisaria daquele valor para finalizar o seu in-
VOLTAR AO
12 • ABRADA
ÍNDICE
ventário, desequilibrando a relação negocial. Ao final das A IMPORTÂNCIA DA
contas, o patrimônio que se produziu durante toda uma
vida dificilmente seria mantido quando se passasse por
ADVOCACIA CONSULTIVA
um processo de inventário, prejudicando a manutenção E/OU PREVENTIVA NO
do padrão de vida das próximas gerações e da própria AGRONEGÓCIO
continuidade da atividade rural.
A imagem do Direito e da advo-
Foi neste contexto que ganhou ainda mais força a ideia de cacia está sempre associada à pro-
planejamento sucessório e tributário, também conhecido cessos intermináveis, recursos pro-
como holding familiar ou holding rural. O estrangeirismo telatórios e partes insatisfeitas com
do termo aparenta certa complexidade, porém, não passa a morosidade e resultado da tutela
de um instrumento existente há muito tempo no orde- jurisdicional.
namento nacional, embora não muito divulgado e pouco GIOVANA Mas não precisa ser necessaria-
utilizado nas esferas familiares, especialmente no meio rural. PÁDUA DE FREITAS mente assim. A consulta prévia a
Advogada e Associada ABRADA
um bom profissional, bem como a
A holding familiar especificamente na atividade rural é a prática de condutas preventivas podem evitar a judicialização de
criação de um sistema legal que permite ao patriarca ou situações que facilmente seriam resolvidas ou evitadas caso essas
matriarca planejar a sucessão do seu patrimônio, já de- medidas fossem adotadas.
finindo em vida toda a sucessão dos seus bens, com custos
A figura do advogado consultivo / preventivo atua justamente
extremamente inferiores ao do inventário e sem ter que nesse sentido: de se evitar ou reduzir os riscos jurídicos. Ele
passar por este processo moroso perante o Poder Judiciário. realiza um trabalho minucioso, pontuando todas as situações
que podem vir a tornarem-se litigiosas.
Trata-se da constituição de um sistema legal que envolve
as áreas de direito sucessório, empresarial e tributário, Consultar um advogado faz com que toda a “engrenagem” ou
iniciando-se com a constituição de uma Pessoa Jurídica, processo de produção funcione de acordo ou em conformidade
com a lei.
geralmente uma empresa LTDA, conhecida como célula
cofre, na qual serão depositados todos os bens, passan- Embora pouco conhecida na prática, a importância desse
do o proprietário destes bens a ter apenas a “chave” deste profissional no ramo do agronegócio é de natureza solar, não
cofre. O capital social desta empresa, portanto, vai sendo podendo ser desprezada. A assessoria especializada nesse nicho
integralizado pelos bens, através de quotas sociais, gozando prevê e evita ao mesmo tempo possíveis dissabores.
de diversas prerrogativas legais fiscais, dentre elas imuni-
O produtor rural, por mais pequeno que seja, é uma verdadeira
dades e consideráveis reduções tributárias, implicando,
empresa em todas as acepções da palavra. Ele cotidianamente
em média, numa redução de aproximadamente 80% dos lida com situações que demandam a presença e atuação efetiva
custos de um inventário. de um advogado, seja de forma preventiva ou consultiva: elabo-
ração de contratos de arrendamento e parceria, busca por finan-
Além disso, a holding funciona exatamente como um “co­ ciamento de crédito rural, negociação de dívidas, planejamento
fre”, no sentido de proteção patrimonial, ou seja, eventuais sucessório e tributário, contratação e controle da jornada de
dívidas constituídas pelas pessoas físicas em tese não afe- trabalho de seus colaboradores, licenciamentos ambientais, reg-
tam este patrimônio, sendo que os custos operacionais são ularização fundiária, constituição de condomínios rurais, dentre
totalmente absorvidos pela economia fiscal deste sistema. tantas outras.
Desta forma, a holding constitui-se como importante Como se vê, a atuação do advogado no agronegócio é de suma
instrumento de proteção e planejamento patrimonial e importância, pois ele pode mapear toda a cadeia de produção do
sucessório, disponível no ordenamento jurídico, evitando produtor rural, adequando-a de acordo com a lei, evitando-se
custos desnecessários e traumas no seio familiar, priman- dessa forma futuros prejuízos ou conflitos dolorosos, que pode-
do pela continuidade da atividade rural. riam ter sido evitados ou minimizados.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 13
DO PRAZO DA
PARCERIA AGRÍCOLA
A modalidade de parceria outrem, custando, aproximadamente, 50% dos insumos
agrícola é prevista na Lei 4.504 utilizados na cultura a ser cultivada e na oportunidade da
de 30 de novembro de 1964, ou colheita. Os frutos são divididos em uma proporção de
seja, há 56 (cinquenta e seis) 50% para cada parte.
anos vem regendo a relação
jurídica voltada para essa mo- Uma particularidade dos referidos contratos que vem
dalidade. Podemos dizer que sendo objeto de muita discussão e demanda de ordem ju-
ELAINE o Estatuto da Terra é o guia do dicial, é em relação a duração dos prazos desse contrato.
CRISTINA ARPINI direito agrário, hoje moderna-
Advogada e Associada ABRADA
mente chamado de direito vol- Observando o artigo 96,I do Estatuto da Terra, temos a
tado ao agronegócio. seguinte informação há cerca do prazo contratual:

Diferentemente da relação de ordem trabalhista, onde o Art. 96. Na parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e
colaborador (funcionário) é subordinado as ordens do extrativa, observar-se-ão os seguintes princípios:
proprietário, determinando as atividades a serem feitas,
cumprimento de horário, recebimento de salário a cada I - o prazo dos contratos de parceria, desde que não con-
30 (trinta) dias trabalhados, a parceria agrícola, podería- vencionados pelas partes, será no mínimo de três anos,
mos resumir em um tipo de sociedade. assegurado ao parceiro o direito à conclusão da colheita,
pendente, observada a norma constante do inciso I, do ar-
A “sociedade” seria em relação ao trabalho a ser desen- tigo 95;
volvido na lavoura. Ou seja, a terra continua sendo do (...)
proprietário, porém as pessoas envolvidas passam juntas,
a correr riscos de uma futura produção. V - no Regulamento desta Lei, serão complementadas,
Geralmente, o parceiro outorgado é aquela pessoa que não conforme o caso, as seguintes condições, que constarão,
sendo proprietária se dispõe a laborar na propriedade de obrigatoriamente, dos contratos de parceria agrícola,
VOLTAR AO
14 • ABRADA
ÍNDICE
"Diferentemente da relação de ordem trabalhista, onde o colaborador
(funcionário) é subordinado as ordens do proprietário, (...) a parceria
agrícola poderíamos resumir em um tipo de sociedade."
pecuária, agro-industrial ou extrativa: Portanto, analisando os dois artigos, a princípio temos
(...) uma divergência, vez que a lei no artigo 96, diz que desde
b) prazos mínimos de duração e os limites de vigência que não convencionado pelas partes a parceria será de no
segundo os vários tipos de atividade agrícola; mínimo 03(três) anos, ao revés dos decreto que informa
que toda parceria tem prazo mínimo de 03 anos.
VII - aplicam-se à parceria agrícola, pecuária, agro-
pecuária, agro-industrial ou extrativa as normas pertinen- Essa divergência tem gerado muitas discussões judiciais,
tes ao arrendamento rural, no que couber, bem como as vez que em razão de diversos problemas ocorridos com a
regras do contrato de sociedade, no que não estiver regu- parceria agrícola, geralmente o colaborador busca a par-
lado pela presente Lei. ceria para obter uma casa (sem pagar aluguel) vez que é
obrigação do proprietário ceder gratuitamente a moradia,
Segundo o mandamento do Estatuto da Terra foi criado porém, não executa os trabalhos na lavoura de forma
o Decreto 59.566/66, que o regulamenta. sa­tisfatória, gerando um desequilíbrio na parceria.

Art 12. Os contratos escritos deverão conter as seguintes Dessa forma, os produtores rurais, estão utilizando-se da
indicações: parceria agrícola com prazo mínimo de 01 (um) ano, usando
a) prazos mínimos, na forma da alínea “ b “, do inciso XI, como regra a previsão do Estatuto da Terra, convencio-
do art. 95 e da alínea “ b “, do inciso V, do art. 96 do nando o prazo de um ano.
Estatuto da Terra:
Dessa forma, constando o termo inicial e final do con-
- de 3 (três), anos nos casos de arrendamento em que trato, mesmo sendo de uma ano, respeitando é claro a
ocorra atividade de exploração de lavoura temporária e ou colheita pendente, fica afastada a aplicação do artigo 12
de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos os “a” 59.566/66, sendo essa a posição aceita pelos nossos
casos de parceria; tribunais.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 15
IMPENHORABILIDADE DA
PEQUENA PROPRIEDADE
RURAL
Diverso do que ocorre com o Tribunais a se debruçarem em cima de duas normas
imóvel urbano, a impenhora­ específicas: a) Estatuto da Terra (BRASIL, 1964), que
bilidade da propriedade rural, regula que a pequena propriedade seria medida em 4
possuí sua proteção regida ex- módulos rurais; e Lei de Reforma Agrária (BRASIL,
pressamente na Constituição 1993) que estabelece que a pequena propriedade seria
Federal. Portanto, levando a aquela de até 4 módulos fiscais.
identificação de uma impenho­
MIRON rabilidade absoluta, ou seja, Após, longos embates doutrinários e jurisprudenciais,
BIAZUS LEAL sem exceções para realização de o STJ pacificou o entendimento de que a medida de uma
Advogado e Associado ABRADA
cons­trição do bem por dívidas. pequena propriedade rural deveria ser fixada em 4 módu­los
fiscais.
Contudo, a Constituição Federal, em seu art. 5, XXVI
(BRASIL, 1988), apresenta alguns requisitos para que Superada esta barreira, formou-se no entorno deste
o imóvel seja considerado impenho­rável, quais sejam: I) ins­tituto outra problemática, agora quanto ao conceito
Imóvel seja considerado pequena propriedade rural; II) de família de subsistência.
Que seja trabalho de pela família como meio de susten-
to desta família; III) Em razão de dívidas contraídas pela Ao se debruçar sobre esta nomenclatura, os juristas e op-
família. eradores do direito não identificaram uma estrutura legal
Com relação ao primeiro requisito – Pequena Proprie- para sua definição. O que em consequência, levou-os a bus-
dade, a Carta Constitucional, determina que o tamanho car em outros ramos da ciência, especialmente a sociologia
seja parametrizado pela lei infralegal, o que levou os e economia rural. Após a interação entre as ciências acima
VOLTAR AO
16 • ABRADA
ÍNDICE
com o direito, identificou-se a seguinte conceituação de O Superior Tribunal de Justiça no mês de dezembro
família camponesa para fins de impenhorabilidade: de 2018, pacificou a controvérsia editando assim o
informativo 616, no sentido de tornar impenhorável
A definição de família camponesa por ser multifacetário, a pequena propriedade em razão de qualquer dívida
detém em sua essência, requisitos únicos como a in- contraída, inclusive aquelas gravadas com garantias
ter-relações estruturantes e hierarquizada entre seus mem- reais (hipoteca, penhor etc.).
bros quanto ao labor e organização da propriedade,
fundada no modo de vida de subsistência, bem como, o Portanto, qualquer imóvel com metragem de até 4 módu­los
comportamento de seus integrantes em dar continuidade fiscais, que esteja sendo produzida pela família camponesa e
a cultura e materialidade transferida por seus antepassa- da terra retira o seu sustento, estará protegida pelo insti-
dos, o que per si descreve a especificidade desta forma de tuto da impenhorabilidade da pequena propriedade de-
núcleo familiar. scrita no art. 5, XXVI, C.F., em face de qualquer dívida
contraída pelos membros que compõe o núcleo familiar,
Cumpre ao fim salientar que a cultura, desenvolvimento e salvaguardando portanto, o eu pequeno universo.
rotina da família de campônios, encontra seus vínculos
mais fortes com a propriedade rural, pois, é deste bem,
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
adquirido ou recebido em doação, que se constitui a BRASIL. LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964. Dispõe sobre
família, moradia, trabalho e subsistência. (LEAL, 2020, o Estatuto da Terra, e dá outras. Disponível em: providências.http://www.
p.37/38) planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm. Acesso em:30 nov. 2020.

Portanto, a família de BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO


"QUALQUER IMÓVEL subsistência é aquela BRASIL DE 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em:30 nov. 2020.
COM METRAGEM DE ATÉ em que há uma estru-
4 MÓDU­LOS FISCAIS, QUE tura organizada entre os BRASIL. LEI Nº 8.629, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1993. Dispõe sobre
ESTEJA SENDO PRODUZIDA seus membros, visando a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária,
PELA FAMÍLIA CAMPONESA laborar e extrair da pro- previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal. Disponível
E DA TERRA RETIRA O SEU priedade seu sustento. em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8629.htm#:~:text=LEI%20
Isso somado aos aspec- N%C2%BA%208.629%2C%20DE%2025%20DE%20FEVEREIRO%20
SUSTENTO, ESTARÁ PROTE-
DE%201993.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20regulamenta-
GIDA PELO INSTITUTO DA tos cultura e econômicos %C3%A7%C3%A3o%20dos. Art. Acesso em:30 nov. 2020.
IMPENHORABILIDADE DA próprio da vida rural.
PEQUENA PROPRIEDADE" LEAL, Miron Biazus. PARVA UNIVERSE E O DIREITO DE EXISTIR:
Cumpre esclarecer que a O desenvolvimento sustentável do pequeno imóvel rural por dívidas contraídas
capacidade econômica da família camponesa, não descar- pela família camponesa. Curitiba/CRV, 2020.
acteriza sua definição, haja vista que seu ponto essencial
é a sinergia de trabalho desenvolvido por todos os inte-
grantes para um bem comum, sem a necessidade de ter-
ceiros (empregados).

Além das dificuldades apresentadas acima, o instituto da


impenhorabilidade se viu envolvido novamente em uma
divergência, qual seja: Quais dívidas estão abarcadas pela
impenhorabilidade?

Até o ano de 2018, os Tribunais decidiam de forma não


uníssona, formando assim duas correntes: 1) A impenho­
rabilidade da pequena propriedade seria aplicada em
quaisquer dívidas realizadas pela família camponesa; e 2)
A impenhorabilidade da pequena propriedade seria apli-
cada para quaisquer dívidas realizadas pela família cam-
ponesa, com exceção das dívidas em que tivessem garan-
tias reais que vinculavam o imóvel em discussão.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 17
MINHA POSSE SOBRE
A TERRA ESTÁ SENDO
AMEAÇADA, COMO ME
PROTEGER?
Todo aquele que detém patri­
mônio está sujeito a disputas
pela posse e sobre a terra não é
diferente. Para esses casos nos
valemos das ações possessórias.
A ação de reintegração de pos-
se / esbulho possessório é bem
AFONSO HENRIQUE conhecida, o esbulhado (aquele
SANSÃO CORRÊA DA que teve a posse roubada / abu-
COSTA
Advogado e Associado ABRADA sada por outrem) busca provi-
mento jurisdicional para com-
bater posse violenta, precária e clandestina. Assim sendo,
esta ação cabe quando a posse já está de fato esbulhada.
O requerido nesta ação precisa estar na terra, agindo e de-
terminando como se tivesse legítima posse, gozando das
qualidade e frutos da mesma. Essas características fazem
proibitório deve impor ao réu pena pecuniária caso atente
nascer o direito a reintegração àquele que tem legítimo
direito sobre ela. contra os termos do referido documento. O direito do
possuidor encontra guarida no artigo 1.210 do CPC que
Diferentemente ocorre, quando estamos a comentar a protege o direito a posse em caso de turbação.
respeito da ação de interdito proibitório, tema sim foco
deste artigo, nessa não há esbulho consumado, o sujeito É preciso perceber também que a ação de interdito proi-
parte passiva desta ação não chegou de fato a esbulhar a bitório pode ser um importante aliado na proteção a
posse do bem em litígio, não ocupou o imóvel, ele sim a posse em áreas conflituosas. Sabe-se que, uma vez a pos-
turbou. Ou seja, ele contesta a posse da parte requerente se tomada de forma violenta e contrária ao direito, tudo
de maneira a deslegitimar o direito dela sobre o imóvel, o ficará mais difícil, inclusive a contabilização de possíveis
mesmo impede o possuidor ao pleno exercício dos direi­ prejuízos originados do problema. Já na situação do in-
tos sobre a bem. Trata-se assim de uma lesão potencial, terdito proibitório, é possível se precaver, é possível que antes
o autor embora esteja na posse, teme a perda da mesma. de se consubstanciar a tomada da posse e a ocupação
da terra, decisão com cominação de multa que impede
Importante salientar que é possível, inclusive bastante
aquele que turba de fazê-lo.
comum nesta ação, conforme o art. 555 do Código de
Processo Civil, cumular ao pedido possessório tanto a
condenação por perdas e danos quanto a indenização dos Sintetizando, trata-se de uma tutela preventiva e inibitória
frutos. Também diz o art. 561 do Código, quatro pontos que protege o possuidor contra ameaça eminente. É pos-
importantes precisam estar demonstrados na exordial: 1º sível assim, o possuidor se adiantar e impedir que o esbulho­
- a posse, 2º - a turbação, 3º - a data da turbação e 4º - a aconteça, pois, a prestação jurisdicional veio já durante ou
manutenção da posse turbada. até mesmo antes da turbação, assim sendo, o requerido
nesse tipo de processo nem chega de fato a tomar a terra
Diz inclusive o art. 567 do mesmo código, que o mandato para si não chega, desta forma, a materializar o esbulho.
VOLTAR AO
18 • ABRADA
ÍNDICE
PRODUTOR RURAL, CUIDADO
COM A FALSA PARCERIA RURAL
Entre os contratos agrários exis­ O produtor rural deve-se atentar ao fato de que a falta
tentes no país, há o contrato de de independência econômico-financeira do parceiro ou-
parceria rural. Parceria rural é torgado descaracteriza a parceria agrícola ou pecuária e
uma modalidade contratual, configura verdadeira relação de emprego. Então, o que
que de acordo com o Estatuto da acontece em uma falsa parceria é que o proprietário cede
Terra, ocorre quando a pessoa a terra, moradia, animais, sementes, máquinas, inseticidas, e,
se obriga a ceder a outra, por
às vezes, dinheiro, por exemplo, e a outra parte da relação
KAROLINE PANTOJA tempo determinado ou não, o
Advogada e Associada ABRADA cede somente o seu trabalho.
uso específico de imóvel rural,
de parte ou partes dele, incluin-
do ou não benfeitorias, com o objetivo de nele ser exercida E, a existência da falsa parceria, considera-se locação de
atividade agrícola, pecuária e outros. Isto é, na parceria, o serviço, portanto, regulado pela legislação trabalhista,
“parceiro-outorgante” (em regra, o proprietário, podendo conforme artigo 96, parágrafo único.
ser pessoa física, jurídica ou entes juridicamente des-
personalizados, a exemplo do condomínio, espólio ou a Parágrafo único. Os contratos que prevejam o pagamento
massa falida) cede para o “parceiro-outorgado” apenas o do trabalhador, parte em dinheiro e parte percentual na
uso especifico do imóvel rural, sem responsabilidade do lavoura cultivada, ou gado tratado, são considerados
imóvel, existindo entre as partes, a divisão e partilha dos simples locação de serviço, regulada pela legislação
riscos e lucros.  trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos seja de
inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário,
Nesta relação não há vinculo empregatício, consequente- locatário do serviço a quem cabe todo o risco, asse-
mente não há relação de hierarquia e subordinação. 
gurando-se ao locador, pelo menos, a percepção do
salário-mínimo no cômputo das duas parcelas.
Desta forma, a falsa parceria vem acontecer quando o
trabalhador recebe salário, parte em dinheiro e parte em
percentual na lavoura cultivada ou gado, por exemplo. Portanto, fique atento na hora da realização do contrato
Há subordinação jurídica, em que o “parceiro outorgado” de parceria rural, pois caso configure como falsa parceria
recebe ordens e comandos, exercendo sua função com poderá ensejar em uma ação trabalhista, visto que neste
dependência econômica e contínua, não restando dúvidas caso por haver características de relação “patrão e empre-
de que não se trata de relação jurídica de parceria rural. gado” será regida pela legislação trabalhista. 
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 19
IMPORTÂNCIA DA
RASTREABILIDADE:
DO CAMPO PARA A MESA
Há anos o governo brasileiro as etapas de produção primária, armazenagem, consoli-
tentava, sem sucesso entrar para dação de lotes, embalagem, transporte, distribuição, for-
a OCDE – Organização de necimento, comercialização, exportação e importação.
Cooperação para o Desenvolvi-
mento Econômico. Recente- A rastreabilidade faz o caminho inverso ao produtor ru-
mente, o presidente dos Estados ral, uma vez que o consumidor tem a possibilidade saber
Unidos manifestou apoio para a a origem e localização de um produto na cadeia logística.
DAIANE ZANATA entrada do Brasil no “clube dos Além de todos os resíduos de agrotóxicos que foram uti-
Advogada e Associada ABRADA ricos”, mas existem exigências a lizados naquele alimento adquirido através da impressão
serem cumpridas, dentre elas a de números de identificação por etiquetas impressas com
rastreabilidade. caracteres alfanuméricos, código de barras, QR Code, ou
qualquer outro sistema que permita identificar os produ-
Partindo desse princípio, estão sendo adotadas regras es- tots vegetais frescos de forma única e inequívoca.
pecíficas para o cumprimento das exigências da OCDE,
reconhecendo a importância da rastreabilidade. Para se en- O processo de monitoramento e controle deve ser reali­
quadrar nas normas, desde fevereiro de 2018 o Ministério zado por todos os entes da cadeia produtiva. Iniciando
da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA junta- pelo produtor rural, alcançando também todos os inter-
mente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – mediários logísticos até a chegada ao consumidor, cada
ANVISA publicou a Instrução Normativa Conjunta 02, qual nas etapas sob a sua responsabilidade. O procedi-
que prevê procedimentos de monitoramento e controle mento busca inibir a utilização de agrotóxicos que não
de resíduos de agrotóxicos aos entes da cadeia produtiva recomendados podendo identificar os responsáveis pelos
de vegetais frescos nacionais e importadas destinadas ao descumprimentos de normas que podem acarretar em
consumo humano. riscos para a saúde do consumidor.

Tal procedimento é conhecido como rastreabilidade, que Os registros da rastreabilidade devem conter dados míni­
é a conexão com elos da cadeia produtiva, especialmente mos que garantam a identificação do ente imediatamente
com o consumidor final. Possibilitando assim um fluxo anterior e posterior da cadeia produtiva e dos produtos
completo de informações sobre o produto, conhecendo vegetais frescos recebidos e expedidos. Uma vez que cada

VOLTAR AO
20 • ABRADA
ÍNDICE
ente será responsabilizado a medida do prejuízo causado.
VOCÊ SABE O QUE
Um dos instrumentais utilizados para o rastreamento do SÃO OPERAÇÕES
DE BARTER?
produto é o caderno de campo, que pode ser feito manual
ou eletronicamente pelo produtor rural. Devem ser regis­
tradas as aplicações de defensivos e de insumos, sendo As operações de barter surgi-
separados por cultura, talhão e variedade. Outras infor- ram no Brasil nos anos 90,
mações devem conter como data da aplicação, nome do através das tradings (empresas
produto, período de carência e a dosagem que foi aplicada comerciais que atuam como in-
naquela cultura, obrigatoriamente. termediárias) que tinham inter-
esse nos contratos de soja verde.
Cabe ressaltar que documentos como notas ficais da Tendo origem inglesa, a palavra
compra dos defensivos, fertilizantes ou qualquer insumo barter significa “troca”, que no
FRANCISCO FOGAÇA
agrícola utilizado, da venda do produto, identificação do Advogado e Associado ABRADA agronegócio trata-se da troca de
lote, receituário agronômico, bem como outros registros insumos por produção, tendo
que possam compor as informações necessárias para o como um dos grandes diferenciais o travamento do preço
monitoramento e controle de resíduos de agrotóxicos de- (via hedge) das commodities negociadas.
vem ser preservadas pelo produtor rural. As autoridades
competentes (MAPA e ANVISA) terão o prazo de 18 Atualmente, existe uma maior customização em relação
(dezoito) meses após o tempo de validade ou de expe- a essas operações, tanto na oferta de insumos onde já há
dição dos produtos vegetais frescos para solicitar ao ente pacotes destinados a determinado grupo de cultivo e até
da cadeia produtiva os registros sobre aquela cultura. mesmo insumos mecânicos, como na forma com que se
dará a operação em si. Por não possuir um regime jurídico
"RASTREABILIDADE É próprio e específico, dá-se maior liberdade para explorar a
O descumprimento
A CONEXÃO COM ELOS necessidade de cada parte envolvida no negócio.
DA CADEIA PRODUTIVA,
das normas com-
ESPECIALMENTE COM O
preendidas sujeita
O título de crédito mais utilizado nas operações de barter
CONSUMIDOR FINAL." o infrator às penali-
é a Cédula de Produto Rural – CPR. Mesmo após o surg-
dades tais como ad-
imento da Cédula Imobiliária Rural – CIR, vale ressaltar
vertência; multa; apreensão do produto, inutilização do
que, com as recentes mudanças da Lei do Agro, Lei nº
produto, interdição do produto, suspensão de vendas e/
13.986 de 7 de abril de 2020, a CPR se tornou ainda mais
ou fabricação de produto; cancelamento de registro, inter-
adequada para ser usada nas operações de troca. Princi-
dição parcial ou total do estabelecimento, dentre outras
palmente pelas novas garantias que pode oferecer, dentre
sanções administrativas, civis e penais previstas em legis- elas, o patrimônio rural em afetação. Para isso, pode-se
lação específica. utilizar tanto a CPR Física, que é exigível na data do
vencimento pela quantia e qualidade de produto nela pre-
A INC cataloga a implementação gradual da norma, sendo visto, quanto na CPR Financeira, que é exigível na data
que as culturas têm prazos diferenciados para a vigên- do vencimento pelo resultado da multiplicação do preço
cia plena finalizando em agosto de 2021, ressalta se que convencionado pela quantidade do produto especificado.
a prática da rastreabilidade busca atender as exigências
sani­tárias e as certificações de qualidade, garantindo assim a Em uma operação de troca, o produtor pode adquirir os
segurança e a saúde do consumidor. insumos de um distribuidor, emitir uma CPR e assim se
comprometer a pagar o distribuidor com o próprio
Sendo assim, a rastreabilidade vem trazer a solução para produto. A mesma operação também pode ser feita com
uma necessidade que surgiu, a transparência na cadeia intermédio de uma trading para receber os produtos
produtiva, restaurando o histórico de dados e localização e fazer o pagamento ao fornecedor. Essa flexibilidade
de um produto, atribuindo a responsabilidade devida a e liberdade de negociação, juntamente com os demais
todos os entes da cadeia produtiva, permitindo assim benefícios como segurança, liquidez, câmbio e taxa de juros
identificar o caminho percorrido pela cultura desde a pro- travados, é o que fazem o barter ganhar cada vez mais
priedade até o consumidor final. força no mercado brasileiro.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 21
A ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA E
A NOVA LEI DO AGRO
A Lei nº 13.986/20, mais que a alienação fiduciária possui um procedimento ex-
conhe­cida como a Nova Lei do ecutório específico e mais célere que a hipoteca, por exem-
Agro, foi criada com o intuito plo. Além disso, é mais vantajosa para o credor em even-
de modernizar a política de fi- tual cenário de falência ou recuperação judicial, uma vez
nanciamento do agronegócio que o bem objeto da alienação fiduciária não compõe o
brasileiro. Ela visa estimular a patrimônio do devedor, e assim, não se sujeita aos efeitos
oferta de crédito rural privado,
da recuperação judicial. Com esse arcabouço de garantias
ALINE FICAGNA inclusive de estrangeiros, e  des-
conferidas aos credores, os financiamentos tendem
Advogada e Associada ABRADA burocratizar o acesso do pro-
dutor rural ao crédito através a ficar mais acessíveis e com condições mais favoráveis,
das novas modalidades de empréstimos e garantias nela como prazos maiores e menores taxas de juros. 
previstos. No tocante, às garantias, a nova Lei do Agro
trouxe relevantes mudanças que impactaram no instituto A promulgação da Lei do Agro é, portanto, uma tentativa
da alienação fiduciária, seja de bens móveis ou imóveis.  de adequação das leis à realidade de mercado atual que
exige um aumento cada vez maior do fomento ao crédito
Uma das principais inovações trazidas pela Lei do Agro, disponibilizado para o agronegócio. 
especificamente quanto a alienação fiduciária, foi a pre-
visão expressa da possibilidade da constituição desta
No entanto, a demasiada ampliação do uso da alienação
garantia sobre produtos agropecuários e de seus sub-
fiduciária para os diversos tipos de títulos previsto na
produtos, sobre bens presentes ou futuros, fungíveis ou
infungíveis, consumíveis ou não, cuja titularidade per- Lei, aumentou o risco ao patrimônio do produtor, já que
tença ao fiduciante, devedor ou terceiro garantidor. Ou a alienação fiduciária é medida agressiva que não deixa
seja, além da alienação fiduciária de imóvel formalizada alternativas em caso de inadimplência, senão a perda do
via CPR, agora esta garantia poderá ser constituída sobre imóvel. Além disso, a nova Lei não prevê possibilidade
commodities presentes ou de safras futuras. de rescisão contratual ou prorrogação de débito por fatos
externos e imprevistos, como uma perda de sagra, difi-
Sobre a alienação fiduciária de bens imóveis, a nova Lei culdade de comercialização ou queda abrupta de preços.
do Agro promoveu importantes alterações nas Leis nº Com isso, os riscos
5.709/71 e nº 6.634/79. Ela passou a possibilitar a cons­ para o setor produ-
tituição desta garantia em favor de empresas estrangeiras tivo aumentaram "A NOVA LEI DO AGRO
ou empresas brasileiras controlados por estrangeiros, in- (...) VISA ESTIMULAR A
significativamente, já
cluindo a possibilidade de consolidação da propriedade do OFERTA DE CRÉDITO
que a Lei fixou for-
imóvel rural. O credor estrangeiro que antes da promul- RURAL PRIVADO, INCLU-
mas de executar o
gação da Lei do Agro apenas tinha acesso à garantia hi- SIVE DE ESTRANGEIROS,
patrimônio do pro- E  DESBUROCRATIZAR O
potecária ou a transferência da propriedade resolúvel do dutor sem que o cre-
bem no caso da alienação fiduciária, agora passa a contar ACESSO DO PRODUTOR
dor precise sequer ir RURAL AO CRÉDITO"
com a possibilidade de arrematar o bem imóvel rural ou
ao judiciário.
aquele localizado na área de fronteira, até então disponível
apenas para credores brasileiros.
Portanto, em que pese a Lei do Agro ter como objetivo a
É inegável que as alterações promovidas pela nova Lei do redução dos custos do crédito rural, é preciso que o pro-
Agro buscam incrementar as operações financeiras com dutor seja muito criterioso antes de vincular seu patrimô-
os títulos do agronegócio e dar maior segurança jurídica nio rural para a tomada de crédito através dos institutos
ao credor. Seja ele brasileiro ou estrangeiro, na medida em nela previstos.
VOLTAR AO
22 • ABRADA
ÍNDICE
PLANEJAMENTO
SUCESSÓRIO
NO AGRONEGÓCIO
Com o que estamos viven- Todo planejamento consiste em etapas, que são monito-
ciando hoje, torna necessária e radas e ajustadas conforme as necessidades e os cenári-
inevitável a discussão do futuro os que envolvem o negócio. Independente da escolha do
de nossos negócios. Diferente
de como acontece em outros plano de sucessão, é imprescindível contar com os instru-
países, não é de costume do bra- mentos de governança corporativa, pois a questão deixa
sileiro discutir a destinação dos de ser assunto familiar para se tornar uma estratégia em-
seus bens acumulados em vida, presarial.
KÁTIA MATTOS deixando para os herdeiros essa
Advogada e Associada ABRADA preocupação de como será reali­ O grande problema da ausência de planejamento
zada a divisão.  sucessório é o risco de cada herdeiro desejar dar uma des-
Essa cultura é, ainda, mais des­conhecida pelo produtor tinação individual à sua parte dos bens que comprometa
rural, que geralmente prefere realizar seus negócios na a continuidade do negócio familiar, o que é legalmente
base da confiança e de maneira menos formal. permitido e, portanto, totalmente possível.
Pois só de pensarmos na perda de um ente querido já nos Assim, mesmo diante de um só bem, este poderá ser divi-
entristece, e, por isso, muitas das vezes, a discussão/plane- dido em quotas iguais aos herdeiros, que farão o que bem
jamento de como ficará a administração dos bens, bem entenderem. Por exemplo, uma propriedade rural pode
como sua partilha, é postergado pelos produtores rurais, ser dividida em partes menores e cada herdeiro decidirá
pelo fato, ainda, de ser um tema que geralmente é motivo o que fazer com sua quota, o que colocará em risco a lu-
de conflito entre as famílias. cratividade da atividade rural desenvolvida na totalidade
Porém, quando não planejado essa fase da vida, ocorre da propriedade, impedindo que o legado do sucedido se
de as famílias não estarem preparadas e quando aquele perpetue ao longo das gerações.
que detiver o controle da produção ou propriedade rural Vejamos que a questão principal de não se fazer um bom
acabar falecendo, sem planejar a sucessão e a divisão de planejamento sucessório está na imprevisibilidade da
bens, serão os herdeiros quem decidirão o que fazer com tomada de decisão de cada herdeiro quando receber sua
sua parte da herança, e muitas vezes tomam medidas não parte da herança. Ainda que haja um prévio acordo, a im-
planejadas, que por várias vezes acarretam a perda do pa­
previsibilidade continua a mesma, uma vez que se algum
trimônio. Muitas vezes passou anos para se construir, em
herdeiro não se sentir satisfeito com a divisão, poderá dis-
razão de desentendimentos familiares gerados pela falta
cuti-la em um processo judicial longo, desgastante e one­
de planejamento e formalização da vontade do sucedido.
roso. Podendo até mesmo custar à boa relação da família.
É comum encontrar os mesmos obstáculos no proces-
so de sucessão em diferentes empresas rurais como, por Outro aspecto bastante importante é manter uma boa
exemplo, a resistência do patriarca em sair do comando; comunicação com todos os envolvidos. A transição do
receio de que o sucessor não tenha o devido preparo e não comando da empresa deve ser feita de forma harmoniosa
valorize o patrimônio; rivalidade entre os sucessores, e e saudável para que os negócios e as relações familiares
visões contrárias sobre o negócio da família. permaneçam e tenham vida longa.

Para que essa troca de comando seja saudável é preciso Um bom planejamento sucessório vai muito além de um
realizar um estudo aprofundado sobre as expectativas fu- mero acordo na divisão de bens, mas regula a adminis-
turas da empresa familiar. Com esse planejamento serão tração do negócio e das propriedades, quem irá trabalhar
definidas regras claras, levando em conta os anseios do nos empreendimentos, quem apenas receberá seus lucros,
gestor principal e de seus herdeiros. dentre outras questões.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 23
SEGURO AGRÍCOLA
FERRAMENTA ESTRATÉGICA PARA MITIGAR
OS RISCOS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
A atividade agropecuária apre- prejuízos causados por eventos climáticos, perdas de re-
senta certas peculiaridades, ten- ceita e incêndios que possam ocorrer na lavoura. Essas in-
do como principais desafios o denizações serão pagas caso ocorram danos causados por
alto risco climático e uma grande um ou mais riscos cobertos pela apólice. Vale informar
dependência do crédito. É influ- que o valor da cobertura será definido pelo limite máximo
enciada por diversos fatores de de indenização (LMI) das coberturas contratadas, a
risco que normalmente estão as- depender do objeto do seguro.
ELIZ REGINE sociados à ideia de adversidade O seguro agrícola não é algo tão complexo. Todavia, apre-
DE SOUZA
climática e, consequentemente senta detalhes que podem confundir o produtor e com-
Advogada e Associada ABRADA
perda de produção.  prometer severamente o seu direito. É recomendado que
Certamente, o setor agrícola é uma das grandes fontes de o agricultor, no momento da contratação do seguro,
crescimento da economia nacional, vem apresentando re- durante a sua vigência e, caso ocorra um sinistro,
sultados positivos, em especial a colheita de grãos que teve esteja assessorado por profissionais que possam lhe
recorde de produção e de preços. Porém, eventos naturais orientar tanto no que se refere à área agronômica, como
e econômicos, que recorrentemente prejudicam os produ- na área jurídica. Esses profissionais precisam conhecer
tores, causam perdas significativas nas suas lavouras e na bem a legislação e, assim, serão capazes de orientá-los da
rentabilidade do seu negócio.  melhor forma, na expectativa de garantir que o segurado
Nesta esteira, o seguro agrícola passa a ser uma ferra- não tenha a sua indenização negada. 
menta importante para transferir as consequências da Ademais, é importante que o segurado adote uma boa
ocorrência de um determinado risco do agricultor para a gestão da apólice, prestando atenção aos termos do con-
seguradora, reduzindo a possibilidade de inadimplência no trato firmado com a seguradora. Com isso, será possível
cultivo. Dando assim, condições para o segurado pagar identificar as limitações previstas nas respectivas apólic-
seus compromissos financeiros, conseguir manter a sua es, que poderão ser causa de redução da eficácia da con-
estrutura e permanecer na atividade rural. O seguro vai tratação para o segurado. Adotando essas medidas o segu-
evitar que o produtor necessite renegociar ou prorrogar seus rado evitará a exclusão ou redução da cobertura pactuada.
financiamentos, permitindo sua estabilidade econômica e, O seguro agrícola deve ser visto como um investimento,
sem dúvida, fomentando a economia da sua região. um insumo essencial para viabilizar a continuidade dos
O objetivo do seguro agrícola é garantir indenização aos negócios no campo.
VOLTAR AO
24 • ABRADA
ÍNDICE
PLANEJAMENTO
TRIBUTÁRIO
NO AGRONEGÓCIO
Conforme pesquisa divulgada A expansão do segmento traz consigo a necessidade de
pela Confederação da Agricul- utilizar tecnologias mais avançadas. O planejamento surge
tura e Pecuária do Brasil (CNA) como ferramenta para auxiliar nas dificuldades tributárias
e o pelo Centro de Estudos encontradas, com a finalidade de otimizar resultados.
Avançados em Economia Apli- Importante ressaltar que a legislação vive em constante
cada (Cepea), o Produto Inter- atualização. Todos os dias são publicados alterações legais
no Bruto (PIB) do agronegócio e surge a necessidade de o produtor rural estar amparado
FERNANDA cresceu 6,75% de janeiro a julho
ISABEL KOCH
pela lei para não ser autuado futuramente. Além de ter a
Advogada e Associada ABRADA de 2020 na comparação com o otimização dos resultados, o profissional tem uma visão
mesmo período do ano passado. de futuro e segurança jurídica maior.
A tributação reflete em todos os segmentos e, no agro- Não existe uma fórmula pronta para o planejamento
negócio, não é diferente. Com a elevada carga tributária tributário, cada caso é um caso. Ou seja, o planejamento
brasileira, os contribuintes buscam cada vez mais alcançar muda de acordo com o contribuinte, conforme suas par-
a economia fiscal. Isto deve ser feito de maneira legal, ticularidades.
através de um planejamento tributário. Assim, com o crescimento do segmento do agronegócio
Por meio do planejamento tributário é possível verificar a e com a importância desse setor na
menor carga tributária para o produtor rural. Sendo que, economia brasileira, surgiu a
o ele pode optar pela tributação na pessoa física ou jurídica, necessidade de administrar
aplicando os regimes tributários possíveis: Lucro Real, com segurança a proprie-
Lucro Presumido ou Simples Nacional. dade, de ter uma visão
de futuro do negócio e
Diante da importância do segmento do agronegócio no da implementação de
PIB brasileiro, faz-se necessário demonstrar e orientar o ferramentas para melhor
contribuinte, produtor rural, com a finalidade de reduzir, gerenciamento, propor-
adiar tributos e trazer melhores resultados, maior cionando maior competi-
lucratividade. tividade no mercado nacional.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 25
ALONGAMENTO
DE DÍVIDAS RURAIS
ATRAVÉS DA CIRCULAR SUP/ADIG
Nº 46/2019- BNDES.
Não é surpresa para ninguém tegralmente, suas dívidas contraídas junto a fornecedores
que a dificuldade no setor de insumos agropecuários e/ou de serviços rurais, a ben-
agrícola vem se arrastando de eficiadores de produtos agropecuários ou a instituições
longa data. A instabilidade fi- financeiras, inclusive decorrentes da emissão de Cédula
nanceira elevou os preços e cus-
de Produto Rural (CPR) e Certificado de Direitos Cred-
tos das lavouras, trazendo ama-
rgos prejuízos aos produtores.  itórios do Agronegócio (CDCA). 
RITA DE CÁSSIA
Advogada e Associada ABRADA O produtor pode ser financiado até 100% do valor do sal-
Por estas e outras razões, tendo
por base a Lei 9138/95, origina- do devedor limitado a R$ 20 milhões, com prazo de até
dora da Súmula 298/STJ e, para socorrer o setor agrícola 12 anos, incluindo uma carência de até 03 anos. Evidente
do país, a Diretoria do Banco Nacional de Desenvolvi- que a referida circular 46/2019, exige algumas condições
mento Econômico e Social (BNDES) aprovou, em 18 de para seu enquadramento como, por exemplo, a compro-
setembro de 2019, um novo Programa destinado à com- vação da incapacidade de pagamento em consequência de
posição de dívidas rurais, chamado “Programa BNDES dificuldade de comercialização dos produtos, frustração
Pro-CDD AGRO” que irá conceder créditos aos produ-
de safra, dentre outros.
tores para liquidação integral de dívidas. 
Trata-se de um programa de quitação e alongamen- As operações de financiamento poderão ser contratadas
to de dívidas através de recursos regulados pela circular com os 55 agentes financeiros credenciados para operar
nº 46/2019 do Banco Nacional de Desenvolvimento com recursos do Banco. Entre eles há bancos públicos,
Econômico e Social (BNDES), que contribui para equa- privados, de cooperativa, cooperativas de crédito, bancos
cionar o endividamento que existe no setor agropecuário de montadoras, agências de fomento e bancos de desen-
do País. 
volvimento e o prazo para protocolo do pedido é até
A referida Circular permite ao produtor rural, liquidar in- 30.12.2020. 
VOLTAR AO
26 • ABRADA
ÍNDICE
Dispõe o item 4.1 da Circular 46/2019, que o objetivo da
composição ao conceder um novo financiamento ao ben-
eficiário produtor não é prorrogar a dívida vencida, mas
sim, liquidá-la. Isto tem efeito significativo nas execuções
judiciais que porventura estejam cobrando do devedor o
valor a ser quitado pelo Programa. 

O governo reconhece que o setor produtivo tem interesse


econômico-social a ser preservado. A situação de endivi-
damento existente na área e de alguma forma caracteriza
uma crise que deve ser resolvida. O financiamento con-
cedido é um instrumento efetivo para o Banco atuar em
favor da agropecuária nacional.

A Circular 46/2019 lida sob este viés de atuação social,


demonstra o quanto importante é o Programa, o qual
deve ser lido e aplicado levando em conta o interesse da
sociedade como um todo, uma vez que é voltada ao bem
comum. A ideia é salvar o setor de produção de alimentos
que em tudo a isto se afeiçoa, de modo que a suspensão
das execuções contra os produtores, até formalização do
negócio, se harmoniza com o espírito social da norma.

"O PRODUTOR PODE SER A medida é voltada


FINANCIADO ATÉ 100% também, para a libe­
DO VALOR DO SALDO ração das restrições
DEVEDOR LIMITADO dos CPFs, propor-
A R$ 20 MILHÕES, COM cionando, muitas
PRAZO DE ATÉ 12 ANOS, vezes, o retorno dos
INCLUINDO UMA CARÊNCIA produtores a ativi-
DE ATÉ 03 ANOS." dade agrícola. 

Sem sombra de dúvida, um produtor rural endividado, A Academia Brasileira de Direito do Agronegócio (ABRADA)
cujo passivo muitas vezes o leva às barras da Justiça, bem é a maior comunidade de Excelência no estudo do Direito
assim aos famigerados e odiosos cadastros de restrição de
Aplicado ao Agronegócio do Brasil, sendo que contamos
crédito, se torna inoperante para oferecer ao Estado, pro-
hoje com mais de 500 membros, de todos os estados brasileiros.
duto rural que facilite organizar o abastecimento alimen-
tar mencionado no art. 23, inciso VIII, da Constituição Dentro da ABRADA temos o propósito de especialização
Federal de 1988.  constante e fomento ao Direito Aplicado ao Agro, com o
crescimento profissional de cada Associado ABRADA.
É direito do agricultor, independentemente de qualquer Acreditamos, verdadeiramente, que conhecimento só é válido
regulamento infra legal, o prolongamento de suas dívidas, se compartilhado, e que quando o bolo cresce, a fatia de
sendo a via administrativa a mais aconselhada. Contu- todo mundo aumenta. Todos que fazem parte da ABRADA
do, os  agricultores que buscam esse recurso para reaver sabem que pergunta boba é aquela que não foi feita, e que
seus créditos e tem seu pedido negado pelas instituições
juntos vamos, sempre, muito mais longe. Por segurança
bancárias precisam e devem saber que podem recorrer
à justiça na busca de resguardar o direito aqui tratado, jurídica ao produtor rural e empresas do Agronegócio, apre-
adesão a programas de alongamento de dívidas, que, por sentamos à você, através dessa revista, a maior comunidade
ser norma de caráter especifico, muitas vezes passa des- de excelência no Direito Aplicado ao Agronegócio do Brasil:
percebido e foge ao conhecimento da maioria. Nossa Família ABRADA.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 27
BANANA.
A FRUTA DO MUNDO.
A banana é uma das frutas mais Em alguns países, a fruta é um produto de exportação
importantes do mundo. Ela é gerando boa parte da renda interna. Nos últimos anos,
saborosa e rica em nutrientes, as exportações de banana cresceram muito nos países
fazendo parte da alimentação da América Latina. Dentre os clientes mais importantes
e desenvolvimento da humani- consumidores da banana, destacam-se os EUA, os países
dade há mais de 7000 anos. da UE e o Japão.
A fruta foi uma das primeiras
ADRIANO MORAES plantas frutíferas a serem cul- Entre os países que mais consomem a fruta, temos em
Advogado e Associado ABRADA
tivadas domesticamente. Uganda, um consumo per capita de 200 kg por ano.
Neste país, a banana é utilizada como fonte significativa
A banana possui muitas facilidades, além de saborosa, das necessidades diárias de carboidratos vitamina A,
é fácil de ser transportada, descascada, não estraga com B6 e C, Potássio, Fósforo e Cálcio.
tanta facilidade e pode ser consumida praticamente em
Já no Brasil, principalmente no Amazonas, a banana é a
qualquer lugar. Essa praticidade, somada com a
fruta de maior consumo, constituindo-se em um alimento
disponibilidade desse alimento no país, faz com que
básico da população carente.
a banana seja consumida por pessoas de diferentes
idades e regiões. Estudos revelam que o grande volume de banana consumida
nos mercados nacionais e internacionais é por causa da
Estima-se que a origem da banana se deu na Ásia, sendo viabilidade de produção continuada. Afinal, a bananeira
que os árabes foram os precursores em apresentar a fruta dá frutos o ano todo, possui facilidade de manejo e arma-
ao mundo. Ela chegou ao Brasil pelas mãos dos portu- zenamento da fruta verde e a simplicidade e rapidez de
gueses e espanhóis. amadurecimento. 

Para muitos países, ela é apresentada como um alimen- Além disso, a fruta gosto popular muito saborosa e rica
to complementar da dieta da população, sua cultura tem em nutrientes, sendo apreciada pela maioria das pessoas.
relevância social e econômica, gerando renda e criando As bananas são classificadas como as principais culturas
postos de trabalhos para muitas famílias que são forma- em termos de produção e comercialização entre as frutas
das por trabalhadores rurais braçais.  tropicais.
VOLTAR AO
28 • ABRADA
ÍNDICE
Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization of As principais cidades produtoras de bananas no Brasil
the United Nations), a produção mundial de banana são representadas no gráfico acima. Essa fruta, que é uma
atingiu, em 2018, aproximadamente 115,7 milhões de paixão nacional, com sabor característico, é ingrediente
toneladas. Os quatro maiores produtores foram: Índia habitual em preparações doces e salgados presentes na
com 30,8 milhões de toneladas, China com 11,2 milhões, nossa culinária. Cerca de 98% da produção é consumida in
Indonésia com 7,2 milhões, e Brasil com 6,7 milhões de natura, ou seja, quando se consome a fruta em si ou se
toneladas. utiliza a banana no preparo de bebidas, acompanhamentos
de pratos principais, sobremesas, recheios e coberturas
De acordo com as projeções da FAO, a produção mundial
de bolos, tortas e sorvetes. Os outros 2% representam os
de bananas deve crescer 1,5% ao ano, atingindo 135 mil-
alimentos industrializados, tais como chips, doces,
hões de toneladas em 2028.
banana-passa, flocos, farinha, entre outros.

A produção brasileira de banana está distribuída em to-


No que diz respeito às informações nutricionais, a
dos os estados, incluindo o Distrito Federal, destacan-
do-se, como uma das frutas mais importantes em área fruta apresenta variações quanto aos valores de energia
colhida, quantidade produzida, valor da produção e con- em função da variedade e do tamanho da porção.
sumo. Assim como no mundo, a bananicultura é caracter-  
izada como agricultura familiar e realizada em pequenas e
PRINCIPAIS FONTES:
médias propriedades.
Companhia Nacional de abastecimento (CONAB).
Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO)
Em 2018, a área plantada no país atingiu 451,4 mil hect- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
ares. Os Estados da Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Per- Empresa Brasileira de Pesquisa – Agropecuária
nambuco e Pará são os mais representativos, tanto em área (EMBRAPA): https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia40/AG01/
colhida quanto em produção de banana no Brasil. Mais arvore/AG01_28_41020068055.html.
de 95% da produção são destinados ao mercado interno. Acesso 24.11.2020.

VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 29
AS PECULIARIADADES
DOS CONTRATOS
AGRÁRIOS, EM ESPECIAL
OS ARRENDAMENTOS
RURAIS E SEUS REFLEXOS.
O presente artigo busca  uma já possui parte de um imóvel, mas deseja aumentar sua
breve reflexão sobre a espécie produção, já no viés arrendador. Essa espécie  possibilita
contratual do Arrendamen- ao proprietário da terra, possuidor ou administrador,  tor-
to Rural,  regida de forma nar seu imóvel produtivo  e sincronicamente rentável, já
sistemática, tanto pela ótica civil que por algum motivo  subjetivo o proprietário não deseja
quanto pela ótica agrária.  Tal realizar ele mesmo a lavoura ou a pecuária.
instrumento  permite a ativi-
SILVANA dade produtiva no agro por um Para melhor elucidação da espécie contratual Arren-
GOULART PEREIRA produtor que ainda não possua
Advogada e Associada ABRADA
damento Rural,  esclarecemos que a  Lei nº 4.504/64 ,
uma propriedade rural própria, Estatuto da Terra, não traz em seu bojo o conceito. Tal
na qual possa lançar seus es- disposição  encontra-se apenas  esculpida no Decreto nº
forços ou até mesmo uma ex- 59.566, no caput do artigo 3º  traz o seguinte significado:
pansão no plantio daquele que Art 3º arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual
VOLTAR AO
30 • ABRADA
ÍNDICE
uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo determi- omitidos, gerando aos contratantes, riscos, normalmente
nado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes expressivos. 
do mesmo, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias
e ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida ativ- A respeito das peculiaridades desta espécie contratual  po-
idade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, demos destacar a situação da impossibilidade de renúncia
extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel, das benfeitorias úteis e necessárias. Apesar de possível nas
observados os limites percentuais da Lei. relações horizontais, nesta espécie, a norma é cogente os
arrendatários são a prima face vulneráveis. 
A respeito da regulação desta espécie contratual é impor-
tante destacar  que o Superior Tribunal de Justiça possui Tal benesse, de ótica protecionista foi abordada com clare-
uma atuação forte na garantia da imperatividade dessas za pelo ministro Luís Felipe Salomão,  que “no contrato
regras. agrário, deverá constar cláusula alusiva quanto às ben-
Quanto às normas desta sistemática, o decreto é expresso, feitorias e havendo previsão legal no que toca ao direito
em seu art. 2º, no sentido de que as de ordem protetivas à sua indenização, a conclusão é a de que, nos contratos
previstas pontualmente em lei são irrenunciáveis, leiam-se agrários, é proibida a cláusula de renúncia à indenização
omissões não retiram direitos. pelas benfeitorias necessárias e úteis, sendo nula qualquer
disposição em sentido diverso” (BRASIL, 2015).
No tocante, a consequência pela inobservância dessa reg-
ra, o parágrafo único do art. 2º do decreto,  é claro, ao Quanto à prática contratual agrária, o que habitualmente 
dispor: “qualquer estipulação contratual que contrarie as se vê, é busca do jurista, no momento do empasse,  onde
normas estabelecidas neste artigo, será nula de pleno di- já existem contratos escritos genéricos, ou  até mesmo
reito e de nenhum efeito”  (BRASIL, 1966). verbais, no eminente ajuizamento de ação ou até mesmo
com a batalha já em curso. Em tais situações, esclarece-
O tema foi enfrentado, com maestria no informativo 564 mos, enfrentam-se não só os desafios pré-existente, como
do Superior Tribunal de Justiça, originária do Recurso também os riscos de uma decisão judicial, seja qual for
Especial 1.182.967-RS, de relatoria do Ministro Luís o resultado indubitavelmente refletirá na cadeia negocial
Felipe Salomão. A situação consistia na impossibilidade dela dependente.
de inserção, em contratos de arrendamento, de cláusulas
que envolviam a renúncia de indenização por benfeitorias Ante ao exposto,  conclui-se  que a aplicação da gestão
necessárias e úteis. contratual desde o seu nascedouro, com  equilíbrio para
arrendador e arrendatário refletirá na proteção da base da
A questão da observação das minucias do contrato de cadeia produtiva, obstando assim, prejuízos de diversas
arrendamento a cada caso  concreto,  é pauta necessária magnitudes. Pois  tão importante quanto o preparo do
para os instrumentos agrários, pois,  negociações  firma- solo e a boa escolha da semente, é também a proteção do
das apenas em contratos verbais, embora admitidas em instrumento contratual agrário, para  que a transação flua
lei,  fragilizam  garantias e obrigações legais, e não menos com rentabilidade e segurança, pois o ganho de um é o de
perigosas. São os contratos realizados de forma escrita muitos a perca de um também pode significar a perca de
genérica, na maioria das vezes, direitos e garantias são muitos. 
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 31
SUSTENTABILIDADE
PARA QUEM?
A palavra sustentabilidade se fenômenos naturais que beneficiam ou prejudicam a
tornou usual no dia a dia das sociedade.
pessoas, seja na agricultura,
no comércio ou em qualquer A conservação dos recursos naturais também está dire-
ramo e atividade. Há grupos tamente relacionada à produção agrícola, eis que seus
de pessoas que busca que seus requisitos básicos são os elementos naturais. Portanto,
negócios sejam sustentáveis, os maiores interessados na conservação do ambiente de-
DENISE MORONE outros a sustentabilidade do vem(riam) ser os próprios agricultores, uma vez que seu
PERÍGOLO negócio encontra sérios riscos caso não tenha recursos
planeta ou de algum ecossiste-
Advogada e Associada ABRADA
ma. Mas, ainda, tem aqueles que naturais disponíveis em equilíbrio para a produção.
pensam em sustentabilidade
como empecilho para o crescimento econômico. Mas Para alcançar a sustentabilidade ambiental na produção
porque existe tanta divergência? agrícola, pode-se utilizar diversas práticas de manejo
como adoção de atividades conservacionistas de solo, o
O conceito de sustentabilidade está alicerçado em três plantio em nível, construção de caixas de contenção de
dimensões distintas e complementares entre si: o social, água, rotação de culturas, cobertura de solo,  realização de
o ambiental e o econômico. Logo, a sustentabilidade é análises de solo para manejo da fertilidade, plantio direto.
sinônima que permite o desenvolvimento racional em to- Além de manejo integrado de pragas e doenças que ado-
das estas esferas (social, ambiental e econômica), de forma tam diversas cuidados antes do plantio e da necessidade
harmônica em prol do bem-estar coletivo. de utilização de agrotóxicos, como a escolha da melhor
cultivar, do espaçamento adequado, vazio sanitário, aqui-
Nesse sentido a necessidade de preservação dos recursos sição de sementes de qualidades, entre outras técnicas de
ambientais é essencial para a sobrevivência humana e para acordo com a necessidade do produtor.
o equilíbrio do planeta. As florestas, os capões de mata,
os rios e riachos possuem uma importância fundamental Importante ainda ressaltar que ao se falar em agricultura
sobre as questões climáticas, regimes de chuva e outros sustentável não estamos dizendo necessariamente de
VOLTAR AO
32 • ABRADA
ÍNDICE
agricultura orgânica, mas de uma cultivação que possui forme dos frutos, por outro o relevo montanhoso limita a
uma visão holística da propriedade. Ela tem como objetivo mecanização e exige mais mão de obra, fazendo com que
a utilização adequada dos recursos naturais, conservando-o e todo o processo seja de forma artesanal, cultivado, em sua
talvez, o multiplicando, a depender da necessidade social. maioria por pequenos agricultores familiares, o que eleva
os custos de produção.
Dessa forma, podemos perceber que cuidado ambiental na
agricultura não está relacionado apenas com o respeito a No aspecto social são inúmeros os trabalhos desenvolvi-
legislação, eis que a hermenêutica dada a essas metas-nar- dos com grupos de agricultores valorizando o papel da
rativas que tornam a questão importante. Hermenêutica mulher e dos jovens na propriedade. Na dimensão ambi-
essa, aplicável na tomada de decisões no dia a dia do cam- ental, é preciso estar atento ao manejo de solo adequado,
po, e que causa um impacto direto na política sustentável, pois chuvas com grande intensidade podem causar arraste
levando em consideração: “qual a finalidade dessa prática de solo que causam erosões, assoreamento de rios, carre-
adotada? Apenas lucro? Ou rendimento, agregado desen- gando produtos químicos para rios e nascentes, compro-
volvimento sustentável? É possível conciliar ambos? Sim”. metendo a camada fértil, e consequentemente a produção.
Uma estratégia utilizada pelos pequenos agricultores na
A dimensão social no aspecto da sustentabilidade observa
região das Matas de Minas para a viabilização do negócio
o papel do ser humano, em prol da inclusão social, valori-
é a melhoria dos cuidados no pós-colheita. Para obter
zação dos trabalhadores, visando a tão sonhada igualdade.
grãos com excelente qualidade sensorial e assim agregar
Isto posto, significa que não adianta ter uma propriedade
valor ao café. 
superprodutiva, com grande retorno econômico, que res-
peite a legislação ambiental, mas explore a mão de obra,
realize trabalho escravo, não forneça equipamentos de Portanto, para a cafeicultura de montanhas o fator qual-
proteção individual, pague diferentes salários a homens e idade dos grãos tem se tornado um importante instru-
mulheres, e não dê condições de trabalho a jovens à título mento para alcançar a sustentabilidade na cafeicultura,
de exemplo. pois melhora o retorno econômico, envolve a família na
produção sem comprometer a dimensão ambiental.
"A PRESERVAÇÃO DOS
RECURSOS AMBIENTAIS Neste ínterim, sig-
nifica que os fins não Por fim, é importante destacar que o mercado consumidor
É ESSENCIAL PARA A
justificam os meios. já está atento a produção sustentável e valoriza o trabalho
SOBREVIVÊNCIA HUMANA
E PARA O EQUILÍBRIO DO Pois, a sustentabi- do agricultor que se empenha em manufaturar alimentos
PLANETA" lidade se baseia na respeitando as boas práticas sociais, ambientais e
justiça social, mini- econômicas. Através destas análises, verifica-se que o
mizando desigualdades e promovendo a conformidade de agricultor só tem a ganhar com a produção sustentável,
direitos entre as pessoas. agregando valor não apenas a sua própria economia,
como também, a sociedade e ao planeta. Porque pensa
Entre todas as concepções, a dimensão econômica é a na manutenção dos bens indispensáveis para o equilíbrio
mais perceptível entre elas, uma vez que o cultivo agrícola, ecossistema e as futuras gerações, entre eles, a sua própria
além de ser a paixão dos agricultores é o negócio, é o em- geração futura. Portanto, sustentabilidade para eles.
preendimento que gera retorno econômico do trabalho
REFERÊNCIAS:
realizado. Um negócio sustentável próspero gera renda, BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal de 1988. Brasília. Dis-
valoriza os colaboradores e o próprio agricultor, além de ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
cuidar dos recursos ambientais, pois compreende que as htm. Acesso em 26 out. 2020. 
três dimensões são imprescindíveis para o equilíbrio e a
continuidade do negócio, denominando-o assim, como VILELA, Alyson Oliveira. A preservação ambiental na cafeicultura a luz do
sustentável. Código Florestal. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/
direito-ambiental/a-preservacao-ambiental-na-cafeicultura-a-luz-do-codi-
go-florestal-brasileiro/. Acesso em 09/11/2020. 
No âmbito da cafeicultura de montanhas, muitos são os
desafios para se encontrar o equilíbrio ou a sustentabili- VILELA, Pierre Santos; RUFINO, José Luis dos Santos. Caracterização da
dade do negócio. Se por um lado o microclima local, com Cafeicultura de Montanha de Minas Gerais.  Disponível em: http://www.
altitudes mais elevadas favorece a produção de cafés de sapc.embrapa.br/arquivos/consorcio/livros/livro_cafeicultura_de_mon-
excelente qualidade sensorial pela maturação mais uni- tanha.pdf. Acesso em 09/11/2020.

VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 33
A IMPORTÂNCIA DA
ADVOCACIA PREVENTIVA
NA APLICABILIDADE DA
LGPD
Você já adequou sua empresa tecnologia da informação pode proporcionar uma segu-
nos moldes da Lei nº 13.709/2018, rança e evitar uma possível dor de cabeça. 
Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais (LGPD). Ainda não? Com a nova Lei, muitos recorrem a modelos no Google
Saiba que qualquer tipo de em- e digitam um contrato pronto de acordo com a LGPD,
presa, inclusive a rural, terá de se fazendo ser fácil, que qualquer um pode fazer, mas, será
adequar à LGPD.  que é tão fácil assim? É necessário fazer todo um processo
RAQUEL LOPES dentro da empresa, desde a análise do ambiente até o tre-
Advogada e Associada ABRADA Para isso, é importante a busca inamento de todos que lidam com os dados. 
de um bom profissional para
fazer todo o levantamento e A advocacia preventiva garante segurança jurídica, mes-
planejamento de adequação. O mo porque é uma Lei que precisa ser cumprida, e se não
jurídico aliado ao suporte de houver esse olhar jurídico de um profissional qualificado,
VOLTAR AO
34 • ABRADA
ÍNDICE
pode vir a ter problemas depois da implementação no seu
ambiente de trabalho. 

É totalmente preventivo e eficaz a adequação imediata


da empresa na Lei supracitada, afinal, todos terão de se
adequar. Por que esperar acontecer algo não é mesmo?
Qualquer tipo de empresa que lide com dados de usuários,
colaboradores e informação de fornecedores, deve aderir à
Lei Geral de Proteção de Dados. Os dados arquivados nas
empresas estão suscetíveis ao hackeamento, inclusive os
que são de cunho pessoal! Por isso, a empresa precisa res-
guardar os dados, protegê-los juridicamente, adequando
todo o sistema de segurança da informação! Todas as
empresas, até mes-
"MUITOS RECORREM mo as rurais!  Na empresa rural ou não, familiar ou não, loja física ou
A MODELOS NO GOOGLE virtual, há um cronograma de fases que precisa ser segui-
E DIGITAM UM CONTRATO Os dados devem ser do. Pois é, não é tão simples, como sempre afirmo, e tam-
PRONTO DE ACORDO COM coletados com uma bém, não é uma“onda” que logo vai passar e todos vão esquec-
A LGPD, MAS, SERÁ QUE É finalidade e com total er. A LGPD veio para ficar e quem não se adaptar arcará
TÃO FÁCIL ASSIM?" anuência do titular com grandes problemas, desde multa ao sofrer uma fis-
(o dono dos dados calização da Autoridade Nacional de Proteção de Dados
armazenados). Toda essa segurança de dados pessoais (ANPD), até processos de titulares de dados, caso tenha
evita o vazamento e compartilhamento indevido para um vazamento ou uso indevido de suas informações.
outros fins. Alguns produtores rurais trabalham com a
agropecuária de precisão, que gera números, com máquinas O cronograma engloba as fases de compreensão,
modernas, fazendo com que haja uma produção eficiente. definição, mapeamento, criação, implementação e revisão.
Utilizam a tecnologia de informação, sensores e mapas. Tudo isso, começa no entendimento da Lei, o porquê
Assim, avaliar o ambiente empresarial, as redes, os ser- da adequação, a coleta dos termos de consentimento, o
vidores em que se armazenam os dados e aumentar armazenamento correto, a criação do plano de proteção
de dados pessoais com a definição do DPO (responsável
o mon­i­toramento de proteção, evita-se um eventual
por disseminar e proteger as informações na organização,
problema com todos os envolvidos.
companhia, empresa), a criação dos documentos garan-
tidores desta proteção, como o plano de resposta a inci-
Um dos grandes problemas de vazamento das infor-
dentes e remediação, previsto no artigo 48 da LGPD. “O
mações pessoais é o descarte incorreto de material e isso
controlador deverá comunicar à autoridade nacional
requer atenção dobrada. Os dispositivos que armazenam e ao titular a ocorrência de incidente de segurança
informações sensíveis devem ser destruídos fisicamente que possa acarretar risco ou dano relevante aos titulares.
e as informações que estão nesses dispositivos devem VI - As medidas que foram ou que serão adotadas para
ser apagadas por meio de técnicas que as tornem irrecu- reverter ou mitigar os efeitos do prejuízo”. 
peráveis. É muito importante o descarte correto da mídia
digital, assim como do papel, documento físico. Por fim, a implementação e revisão, ou seja, após deixar
tudo de acordo com a Lei, faz-se uma análise, vistoria. O
Nas empresas, pode haver banco de dados de clientes, fun- treinamento com todos os envolvidos é primordial. Então,
cionários e colaboradores temporários, armazenados em é importantíssimo reunir, sentar, conversar, para elaborar
planilhas ou livros de registros, sem o controle de como o plano baseado na realidade de cada empresa. 
esses dados são controlados, manipulados. Tal fato requer
cuidado, pois é de total importância a atenção se os dados O Agronegócio tem uma grande representatividade
estão sendo compartilhados com terceiros, guardados in- brasileira e assim como em outros setores econômicos,
determinadamente, sem controle do acesso e segurança.  precisa se adaptar à LGPD.  
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 35
LEGAL DESIGN
APLICADO AO DIREITO
DO AGRONEGÓCIO
O contato do homem com o usuários de serviços jurídicos do Direito como um todo.
Direito inicia-se logo após o
nascimento na maternidade. O Legal Design, em apertadíssima síntese, é a união do
O nascimento físico da pessoa Direito, do Design, da Tecnologia e da Experiência do
apenas legitima-se perante o Usuário. Tratando-se o Direito de uma ferramenta social
Estado com a certidão de nasci-
que faz uso, sobretudo, da linguagem, o manejo das tecno-
mento. E existir perante o Esta-
logias que o alterem não pode se afastar disso. Assim que,
ANA do é tornar-se parte de um siste-
BEATRIZ CERQUEIRA ma jurídico que, dentre outros propondo-se como uma inovação jurídica, o legal design
Legal Designer
senões, já desde esse momento, não pode se afastar do manejo da linguagem, tratando-se
e Associada ABRADA
possibilita o atendimento em esta da sua substância basilar. O que há de revolucionário
hospitais e a matrícula em creches e escolas. Nas palavras quando falamos de legal design não é, necessariamente, a
de Pontes de Miranda, “o ser pessoa é fato jurídico: com o inserção de imagens, gráficos, QRcodes e outros instru-
nascimento, o ser humano entra no mundo jurídico, como mentos do design em documentos jurídicos, mas a com-
elemento de suporte fático em que o nascer é o núcleo”. preensão do direito como um fenômeno comunicacional. 

A discussão, no direito civil, do direito de herança do nas­ Nesse ponto, é importante compreender o saber jurídico
cituro e a própria questão da criminalização do aborto
como um conhecer tecnológico. É técnica e método, envolve
mostra que, até mesmo antes do primeiro fôlego, está o
materiais, ferramentas e processos que, para serem bem
homem enredado numa teia onde o Direito tem notória
relevância. De outro lado, apesar da nossa existência ser manuseados têm necessidade de um conhecimento espe-
marcadamente jurídica, em geral, partimos do pressuposto cífico. Embora enquanto fenômeno social o direito
de que contratos e documentos jurídicos são extensos, esteja presente em diversos âmbitos da existência,
complexos e recheados de jargões que dificultam a com- enquanto tecnologia a ser dominada, o direito é um
preensão, retardam o processo de negociação e afastam os saber que é, em geral, restrito a um grupo restrito. 
VOLTAR AO
36 • ABRADA
ÍNDICE
"O LEGAL DESIGN, À medida que tecno- ponto, também se pode melhorar as relações entre em-
EM APERTADÍSSIMA logia, não é possível pregador e empregado, como é o caso de contratos tra-
SÍNTESE, É A UNIÃO conceber o direito balhados com técnicas como “histórias em quadrinhos” e
DO DIREITO, DO DESIGN, sem o seu objeto: o “video contracts”, que aproximam a linguagem truncada
DA TECNOLOGIA E DA texto, a linguagem. do direito à realidade dos trabalhadores campesinos.
EXPERIÊNCIA DO O que o legal design
USUÁRIO." se propõe é trabalhar A despeito do manejo de técnicas de design, o que o jurista
esse fenômeno comunicacional tendo como perspectiva o deve se perguntar ao passar a adotar uma postura que se
receptor da mensagem emanada pelos documentos jurídi- aproxima do design thinking são questões simples e
cos, buscando aproximá-la da realidade daquele ao qual o
pontuais: como comunicamos o direito para que ele se
direito se destina, transformando o espaço do jurídico em
torne mais engajante? Como trazer a linguagem jurídica à
uma instância mais penetrante, acessível e humanizado.
realidade daquele ao qual ela se destina? Consigo utilizar
gráficos, timelines e figuras para comunicar melhor o que
No direito do agronegócio as possibilidades disseminada
estou pontuando? Estou criando uma experiência comu-
pelo legal design e pela visual law abrem um grande leque
de métodos e técnicas a serem trabalhadas. Sendo desde nicacional adequada àquele ao qual me dirijo?
a criação de contratos que sejam mais claros, respeitando
as métricas do consentimento informado, até uma maior É necessário que nos afastemos da velha máxima que pre-
operacionalidade na comunicação em casos, por exemplo, za uma comunicação jurídica que tem como sujeitos ati-
da construção de compliance. Outro vislumbre se dá em vos advogados–advogados e advogados–juízes, ignorando
matéria de exportação, tendo em vista se tratar de par- que o ponto fulcral de qualquer acordo são as partes e a
tes que pertencem a sistemas jurídicos diferenciados, de compreensão deste acordo apenas tem a acrescentar em
forma que uma linguagem que mescle elementos gráfi- termos de segurança jurídica e consentimento informado
cos pode facilitar a compreensão dos acordos. Em outro e inequívoco.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 37
O AGRONEGÓCIO
E O MEIO AMBIENTE
O agronegócio pode ser defini- se você possui uma empresa na cidade, tenho certeza que
do como a união de diversas vai cuidar da sua manutenção e não vai querer destruir
atividades produtivas que estão seu patrimônio. A mesma lógica funciona para o produ-
diretamente ligadas à agricul- tor rural: qual o motivo dele querer destruir sua própria
tura e a pecuária. A produção propriedade?
in natura dos produtos agro-
pecuários geralmente é feita
na zona rural e sua industriali­ Se em uma propriedade rural a área de preservação per-
MARIA ELENA zação na área urbana.  manente (vegetação ao redor de algum recurso hídrico)
Advogada e Associada ABRADA não for preservada, o primeiro a sentir os efeitos negati-
Já o meio ambiente, também
chamado somente de ambiente, vos será o dono da propriedade. Afinal, ficará sem água,
envolve todas as coisas vivas e não vivas que ocupam o pois já existem pesquisas consolidadas comprovando que
planeta, que afetam os ecossistemas e a vida dos seres a vegetação é capaz de preservar os recursos hídricos. 
humanos.

Apesar do termo “meio ambiente” incluir a zona urbana e E todo imóvel rural, de acordo com o Código Florestal,
rural e as duas influenciarem toda a dinâmica da preser- deve manter além das áreas de preservação permanen-
vação de toda flora e fauna, pouco se fala na degradação
ocorrida através das construções nas cidades. A culpa fica te, quando existe algum recurso hídrico, uma área com
toda para a pecuária e a agricultura. Até mesmo as agroin- cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal.
dústrias, que ficam localizadas na zona urbana e fazem Assim o produtor é obrigado a ter reserva legal e área de
parte do agronegócio, levam menos culpa da degradação
ambiental. preservação permanente em sua propriedade rural.

Importante fazermos essa comparação, pois muitos não A reserva legal tem o objetivo de promover a conservação
conhecem a realidade da propriedade rural, mas mes-
mo assim expressam sua opinião negativa de que este é da biodiversidade. Importante ressaltar que essa reserva pode
o setor que mais destrói o meio ambiente. Dessa forma, chegar até 80% da propriedade dependendo da região do

VOLTAR AO
38 • ABRADA
ÍNDICE
país. Tal exigência não existe em nenhum lugar do mundo.
Sabemos da importância da reserva legal, mas no caso de
ser exigido um percentual de 80% acredito ser um excesso. 

Engana-se quem acha que esse percentual de 80% é uma


imposição que traz consequências negativas só para o bustíveis. Por isso, cada vez mais o produtor tem usado
grande produtor, pois quem mais sofre são os agricultores menos esses insumos e de forma mais adequada. Hoje só
familiares. Elas possuem áreas pequenas e em algumas fica no mercado quem for sustentável. 
situações inviabilizando a obtenção de financiamento
através do PRONAF (Programa Nacional de Fortaleci- Pesquisas têm comprovado cada vez mais que o agro é
mento da Agricultura Familiar), pois os bancos fazem os amigo do meio ambiente. Exemplo disso são as pesquisas
cálculos de viabilidade econômica da atividade e, quando que mostram que mesmo em pastagens com alta lotação
percebem a inviabilidade, devido ao tamanho da área, não de animais, a riqueza de matéria orgânica não permite que
liberam o crédito. o solo fique compactado. A soja, por exemplo, sequestra
mais carbono que uma floresta.
O fato é que o produtor rural brasileiro é quem mais
preserva o meio ambiente, pois todos precisam de licença Não é possível vivermos sem o agronegócio. Mas é possível
ambiental, para comercializar seus produtos, evitar multa, produzir alimento em harmonia com o meio ambiente. As
conseguir financiamento através de instituições financeiras críticas e brigas políticas não trazem nenhum benefício
etc. A Licença Ambiental só é concedida se a área de preser- para o desenvolvimento do Brasil. O que precisamos fazer
vação permanente e a reserva legal estiverem preservadas.  é produzir cada vez mais de forma sustentável e a solução
é sempre investir em pesquisa. Precisamos valo­rizar cada
Importante também ressaltar que os agrotóxicos e fer- vez mais a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa
tilizantes usados no agronegócio possuem alto custo e Agropecuária) que produz desenvolvimento e transfere
sua aplicação também, pois são usadas máquinas e com- novas tecnologias para os produtores nacionais. 
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 39
CRÉDITO RURAL
COMO PROPULSOR
DE INTERESSES
DA COLETIVIDADE

A Constituição Federal de dos 21% do PIB brasileiro, segundo dados do Centro de


1988, no artigo 192, prevê o Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/
“sistema financeiro nacional, es- USP) em parceria com a Confederação da Agricultura e
truturado de forma a promover Pecuária do Brasil (CNA). E diante do cenário cada vez
o desenvolvimento equilibrado mais explícito de aldeia global (MCLUHAN, Herbert
do país e a servir aos interesses Marshall), no qual o agronegócio estará interligado às
da coletividade” (BRASIL, R. novas tecnologias e ao progresso racional da produção, o
SEBASTIÃO CÂNDIDO F., 1988). Diante dessa per- estudo dos créditos no setor passa a ser, assim, justificado
PARREIRA RODRIGUES spectiva social, abordar-se-á e imprescindível.
Advogado e Associado ABRADA o crédito rural como pro-
pulsor de interesses comuns. Os créditos rurais são instrumentos de incentivo a pro-
Em primeira oportunidade, será versada sobre dução, investimento e comercialização. O impacto dis-
o momento do agronegócio no país, sequencialmente, o so é o significativo crescimento do setor como um todo.
conceito e objetivos do crédito rural para sociedade brasileira. Corroborando ainda com essa perspectiva, a Lei 4.829/65
institucionaliza o estímulo ao incremento ordenado dos
Primeiramente, o caráter solar que o agronegócio se investimentos rurais, custeio oportuno e adequado da
desenvolve é notório quando se percebe que inclusive a produção, comercialização de produtos e incentivo a in-
história do país etiquetou épocas com nomes de ciclos de trodução de métodos racionais de produção. 
culturas agrícolas, dentre os quais constam: ciclo da cana-
de-açúcar, do algodão, do café e da soja (REIS, Marcus).  “Capítulo I
Além disso, os números impressionam, pois a soma de Art. 1º O crédito rural, sistematizado nos termos desta
bens e serviços gerados no agronegócio em 2019 passaram Lei, será distribuído e aplicado de acordo com a política
VOLTAR AO
40 • ABRADA
ÍNDICE
de desenvolvimento da produção rural do País e tendo em aporte no setor primário pelo Estado é medida que cum-
vista o bem-estar do povo.” (BRASIL, R. F., 1965) pre preceito constitucional do sistema financeiro nacio-
nal. Pois se estrutura de forma a promover o desenvolvi-
Desde as escrituras de penhor, primeiro título de crédito
em 1937, até os novos títulos do agronegócio, o crédito ru- mento equilibrado do País e servir a interesses comuns.
ral, diferentemente de outros créditos que se disseminam Sempre com a visão de que o crédito rural é propulsor
pelo Brasil, segundo interesses abalizadamente privados, de interesses da coletividade e muito diferente da maioria
não podem desvincular-se da propulsão direcionada a dos créditos disseminados pelo Brasil de interesses emi-
melhoria do agronegócio. Com efeito, da vocação maior nentemente privados.
de melhoria na produção. O impacto disso é uma cadeia
produtiva melhor, empregos e consequente bem-estar da BIBLIOGRAFIA
população. Brasil, R. F. (1965). Lei 4.829/1965.
Fonte: Planalto: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4829.htm
Assim, percebe-se que os princípios da Política de Crédi- Brasil, R. F. (1988). Constituição.
to Rural estão interligados com a finalidade de promover Fonte: Planalto: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
crescimento sustentável e melhor qualidade de vida, isto Bulgarelli, W. (2000). Títulos de crédito. São Paulo: Atlas.
é, função social: “o dever de um aporte financeiro ao setor
McLuhan, M. (1964). Understanding Media. London: Routledge.
primário é do Estado, pois o Estado que impõe ao cidadão
Pereira, L. d. (2009). Financiamento Rural. Curitiba: Juruá.
colaborar para o bem social deve dar a ele condições para
Pereira, L. d. (s.d.). A função social do crédito agrário. Revista 16 Associação
tanto realizar.” (PEREIRA, Lutero de Paiva)
Brasileira de Direito Agrário.
Portanto, é imprescindível perceber que o dever de um Reis, M. (2018). Crédito Rural. Grupo GEN.

VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 41
ADVOCACIA
HUMANIZADA
NO AGRONEGÓCIO

Advocacia sempre foi minha local. Elas possuem pequenas plantações de pimenta,
paixão. O mais lindo dessa mandioca, maracujá, entre outros e tudo com recursos
profissão é poder escolher a área advindos de financiamentos rurais do governo. Além de
de atuação no qual nos identifi- criarem galinhas, porcos, uma ou duas vaquinhas para o
camos, aquela que faz o coração leite diário. Eles mesmos cuidam de tudo, sem ajudantes
bater mais forte e que aquece a ou funcionários. 
alma ao ver um direito sendo
LUCIANA garantido por seu bom trabalho São famílias que realmente estão começando do zero,
CARINA STEIN executado. e crescem conforme a vila também cresce, sem energia
Advogada e Associada ABRADA
elétrica, água encanada ou sinal de telefone. Elas contam
Sempre fui advogada especiali­zada no direito de família e apenas com a família e amigos que fizeram no local. São
também no setor previdenciário na área urbana no interi- carentes de informação, de orientação jurídica em vários
or do Estado de Goiás. Há alguns anos me vi migrando aspectos, nem mesmo acesso próximo ao INSS eles pos-
para o direito do Agronegócio, quando uma porta se suem.  São muitas vezes alvos de profissionais da área que
abriu no Estado do Mato Grosso, em uma pequena se aventuram por ali, a fim de obter lucro e não de garantir
vila, Santiago do Norte, considerada  extensão de direitos ou facilitar o acesso à justiça e informações.
área urbana de Paranatinga-MT. Porém, a região possui
mais de quatrocentas famílias residentes, local rodeado Sei e conheço a importância do grande produtor, mas não
de plantação de soja, que é a atividade predominante por podemos esquecer o seu começo, o caminho que tiveram
grandes e pequenos produtores rurais. Contudo, longe de que percorrer, com todos os tropeços, erros e acertos até
grandes recursos, pois está a 160 km, aproximadamente, chegar aonde chegou. Do sacrifício que cada produtor fez
da cidade mais próxima e o acesso é por estrada de chão. para chegar onde está.

Entre idas e vindas, tive contato com a realidade local vendo Nessa minha nova caminhada junto aos produtores e tra-
a luta diária de cada família que reside ali. O que mais me balhadores rurais tenho aprendido que a advocacia tem
chamou atenção foi como vivem as famílias de assentados que ser humanizada, personalizada. Portanto, não dá para
em pequenas glebas de terras, de onde plantam e colhem, ter um padrão no atendimento ou seguir uma única ficha
tirando dali o sustento para os seus. de entrevista, usar o copia e cola na petição inicial, pois
cada caso é especifico. E no agro isso é ainda muito mais
Estas famílias vivem felizes, mesmo sem ter muitas vezes pontual afinal, cada família possui uma história diferente.
o básico, residindo em pequenos barracos cobertos por No direito previdenciário de famílias rurais, por exemplo,
lonas ou outras vezes casas de madeira retirada do próprio eu sempre faço um resumo de como é a vida na região.
VOLTAR AO
42 • ABRADA
ÍNDICE
Às vezes, uso a forma como ele diz, e quando passo para Existe um rol de serviços inimagináveis que o advogado
petição eu trago para o processo a realidade familiar para do Agro deve oferecer aos trabalhadores rurais, sejam
tentar mostrar ao juiz o sentimento que aquele cliente me eles pequeno, médio ou grande. Isso também inclui os
transmitiu. Por isso não tem como ser igual. Embora até
trabalhadores rurais empregados, meeiros, posseiros, di-
use o mesmo artigo de lei, cada caso é único.
aristas, tanto na área de família e sucessões, por exemplo.
Quando digo que advocacia tem que ser humanizada, no Há um leque de serviços que todos os produtores devem
caso do Agro, isso é ainda mais presente. Isso significa que contratar, um testamento, uma holding, um inventário, ou
o advogado deve sim colocar o pé no barro ou enfrentar a aposentadoria, revisão de contrato ou seguro, confecção
poeira para conhecer a realidade do seu cliente, ver como ele de contratos de arrendamentos ou parceira, enfim, vários. 
vive, saber como é composta sua família e a distribuição de
tarefas para entender onde eles pretendem chegar.
Devemos, como advogados, estar sempre inovando, qual-
Talvez, o fato de ter iniciado a advocacia no direito de ificando, estudando e principalmente saindo da nossa
família e previ- zona de conforto. Especialmente na advocacia do agro-
"O ADVOGADO DEVE SIM negócio, buscando conhecer o seu cliente a sua realidade.
denciário, tenha
COLOCAR O PÉ NO BARRO
me direcionado para Isso inclui sim visitas na propriedade, tomar cafezinho
OU ENFRENTAR A POEIRA
o Agro, para o Rural. coado na hora e servido em copo de vidro ou caneca de
PARA CONHECER O SEU
Pois é uma relação ferro, acompanhado de bolo de fubá ou belo mané pelado,
CLIENTE, VER COMO
de confiança muito
ELE VIVE." (bolo de mandioca).  
grande quando um
cliente da área de família ou do Agro te contrata. Afinal,
se não houver essa troca entre cliente e advogado, não flui Essa presença na vida do cliente faz toda diferença, cria
a contratação. laços inquebráveis de confiança, se suas informações
forem claras e reais, sem omissão ou invenção. É tratar o cli-
A advocacia é profissão de guerreiros, e os nichos que ente como parceiro, amigo e não como número. Isso é fazer
podemos atuar e especializar são enormes. Muitos falam uma advocacia humanizada. Isso é fazer advocacia no agro.
de concorrência, mas eu gosto de dizer que quando você
trabalha com e por amor, com seus princípios e ética, nem
o céu é o limite. Pois com esses adjetivos não há barreiras Então, para concluir, como disse Aristóteles  devemos
para o crescimento profissional, seja em qualquer profis- “tratar desigualmente os desiguais na exata medida de
são. Quiçá na advocacia. suas desigualdades”.  
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 43
CRÉDITO RURAL
O EXCESSO DE GARANTIA E A EXCLUSÃO
DE BENS COM VALORES SUPERIORES AO
VALOR DO CRÉDITO
Como se sabe, o Direito Agrário tores brasileiros levando-as a leilão. Com isso prejudicando
ainda é “novidade” para muitos o desenvolvimento do País no que tange à produção
magistrados, não sendo ainda de alimentos para consumo interno e para exportação,
uma área do Direito muito fa- dentre outras culturas e manejos.
miliar para o Poder Judiciário
em determinadas regiões do A batalha é árdua, pois é possível presenciar nos dias de
País. Portanto, cabe ao Advoga- hoje uma atuação temerária partindo das instituições fi-
nanceiras que não estando satisfeitas com os lucros bili­
GUINTHER MÜLLER do levar de maneira eficiente à
Advogado e Associado ABRADA presença dos julgadores a corre- onários que vem auferindo ano após ano. Trabalhando
ta aplicação das Leis voltadas ao como verdadeiros “agiotas legalizados” ainda atuam de
agronegócio e a proteção do agricultor. Isso formará juízo maneira quase que direta no desmanche do agronegócio,
de valor futuro, por meio de jurisprudências (decisões) quando oferecem empréstimos ao produtor rural ferindo
formadas pelos Egrégios Tribunais de Justiça Brasileiros. as regras legais, passando por cima das Leis, e o que é pior,
encontrando algumas vezes respaldo junto ao Poder Judi-
A missão do jurista em nível de defesa do Agricultor Bra- ciário, que nem sempre faz valer a justiça e o bom senso
sileiro é fazer com que essas decisões sejam favoráveis ao em favor do produtor.
produtor, e ao mesmo tempo, que venham a combater os
abusos cometidos pelas instituições financeiras, que não Com isso a consequência é o resultado catastrófico que
raramente vem tomando propriedades rurais de produ- estamos vivendo na atualidade, onde cada vez mais se tem
VOLTAR AO
44 • ABRADA
ÍNDICE
notícias de produtores que estão altamente endividados e Apesar de o Direito Agrário ser praticamente uma “novi-
perdendo suas propriedades para bancos, o que é um verdadeiro dade” para o Poder judiciário, existem Leis que foram
absurdo. A legislação brasileira rege claramente a proteção do sancionadas há muito tempo com o objetivo de proteger
produtor rural, e essa proteção deve ser respeitada. o produtor rural. Elas são poucas vezes utilizadas para o
benefício do contraente de empréstimos rurais, e diante
Um exemplo de desrespeito à proteção legal que o legis­
desse desconhecimento, ocorrem as abusividades pratica-
lador pretende garantir ao produtor rural, é o excesso
das pelas instituições financeiras aqui mencionadas.
de garantias exigidas pelas instituições financeiras como
condição para fornecimento de crédito rural. Elas co- Como exemplo dessa legislação sito o Manual de Crédito
mumente extrapolam a medida do suficiente, criando Rural, que prevê em seu texto que as garantias dadas em
gigantesco desequilíbrio contratual, e impondo ao pro- empréstimos rurais devem ser convencionadas entre as
dutor brasileiro que ponha em risco grande parte de seu partes, banco e produtor, e que devem atender à capaci-
patrimônio, senão ele todo, para que este possa fazer uso dade de pagamento do produtor rural. O que quer dizer
de dinheiro emprestado visando manter ou aumentar a que toda tentativa de descontinuar a produção é ilegal,
produção em sua propriedade rural. devendo essa capacidade estar atrelada à continuidade
Por fim, não raras vezes, esta situação acaba em descon- produtiva, e não vinculada ao desmanche da produção e a
tinuidade da produção do agricultor, que se vê impossi- “extinção” da propriedade rural.
bilitado de pagar pelo crédito a ele concedido pelo banco.
Outro fato impor-
Ele acaba sendo alvo de execuções judiciais que afetam seu "O TRABALHADOR QUE
tante está inserido
patrimônio e consequentemente ocasionam a cessação da GARANTE A COMIDA NA
produção, e a quebra do empresário rural. no Código de Pro-
cesso Civil, que diz MESA DOS BRASILEIROS,
que a execução de- A GERAÇÃO DE EMPREGOS
A descontinuidade da produção na propriedade rural se
verá se dar da forma E O CRESCIMENTO DA
dá pela falta de bens a serem dados em garantia a outras
ECONOMIA NACIONAL
instituições financeiras para tomada de novos emprésti- menos onerosa para
mos, já que, normalmente, as instituições financeiras que o devedor. Ou seja, NÃO PODE SER VÍTIMA DE
concederam empréstimo anterior, tomaram como garantia em nosso entender, ABUSOS COMETIDOS POR
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
grande parte do patrimônio do produtor. Mesmo que a penhora de uma
INCONSEQUENTES"
o crédito fornecido tenha valor muito inferior quando propriedade rural
comparado com valor do patrimônio do agricultor, o que com valor muito su-
impede a busca por novos empréstimos, e a consequente perior ao valor da dívida contraída está em desacordo com
paralização da produção. a Lei, já que é possível que o produtor possa pagar suas
dívidas com os lucros advindos de sua produção, sem que
Diante desse quadro de abuso por parte das instituições
haja a necessidade de dispor de seu patrimônio em favor
financeiras, que a todo o momento buscam o enriqueci­
do banco. Sendo que eles jamais irão produzir um grão do
mento sem causa à custa do produtor rural, é possível
visualizar uma luz no fim do túnel, que nada mais é que que quer que seja em uma propriedade rural.
a redução das garantias excessivas oferecidas diante da Frise-se que, a proteção da propriedade rural é absolu-
aquisição do crédito rural. ta, e deve ser respeitada, portanto, não se deve desistir do
A partir daí que se inicia a busca pela justiça, que será direito de buscar a resolução do problema enquanto ain-
encontrada dentro do Poder Judiciário, o que depende­ da é possível. Seja por meio da prorrogação das cédulas
rá da atuação do Advogado em parceria com seu cliente de crédito rural, pela redução das garantias abusivas, seja
produtor rural, iniciando-se a busca pela redução da ga- pela extinção de execuções que sequer deveriam existir,
rantia dada em empréstimo rural mediante a liberação de enfim, o brasileiro produtor rural deve ser tratado à al-
matriculas de imóveis dados em garantia. Com seus pri- tura, pois é o trabalhador que garante a comida na mesa
meiros passos ocorrendo pela via administrativa do banco dos brasileiros, a geração de empregos e o crescimento da
credor, junto ao gerente da agência, e se não for suficiente economia nacional. Portanto, não pode ser vítima de abu-
essa via, parte-se em busca da tutela jurisdicional ofereci- sos cometidos por instituições financeiras inconsequentes
da pelo Poder Judiciário com o mesmo objetivo inicial, a que visam apenas o crescimento econômico pessoal à
liberação de garantias. revelia do bem coletivo.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 45
O CONTRATO DE SAFRA
O Contrato de Safra é um con- O Contrato de Safra é um contrato por prazo determi-
trato de trabalho específico do nado, justamente a duração da safra, sendo assim, segue
Trabalho Rural, definido pela também, todas as demais normas aplicadas aos contratos
lei 5.889/73, no parágrafo único por prazo determinado.
do artigo 14, como aquele que
tem sua “duração dependen- O que acontece se o funcionário é demitido antes do
te das variações estacionais da fim da safra? Nesse caso, deve ser pago à título de inde-
LORRANE MARTINS atividade agrária”. nização, a metade da remuneração a que o funcionário
ROMANNI
Advogada
teria direito até o fim estimado da safra, sendo que uma
e Fundadora da ABRADA O Decreto 73.626/74 veio para dica importante é fixar no contrato, somente à título de
regular a Lei do Trabalho Rural (5.889/73), especificando cálculo dessa indenização dos artigos 479 e 480, uma data
o entendimento das chamadas “variações estacionais da estimada para o fim da safra.
atividade agrária” como aquelas tarefas normalmente
executadas no período compreendido entre o preparo E se o funcionário pedir demissão antes do fim da safra?
do solo para cultivo e a colheita. Do mesmo jeito que o funcionário conta com o trabalho
até encerrar a safra, o produtor rural também conta com
A safra em si é o período em que a produção agrícola de o trabalhador para esse período, e é por isso que o empre-
cada cultura está no seu melhor momento para potencial gador também pode descontar do funcionário nesse caso,
produtivo, e por isso, é variável em cada região do Brasil os prejuízos que ele tiver por esse pedido de demissão
e do mundo, conforme as variações climáticas que favore- antecipado, limitados à metade da remuneração a que o
cem cada tipo de produção. funcionário teria direito até o fim da safra. Assim como o
VOLTAR AO
46 • ABRADA
ÍNDICE
empregador tem que pagar se demitir antes, o funcionário solo para cultivo e a colheita. Teria sentido existir um
também pode ter esse desconto se pedir demissão antes. contrato de trabalho só para isso, que não pode ser uti-
lizado na safra de determinada cultura, porque não tem
E o aviso prévio no contrato de safra, cadê? O aviso o intervalo mínimo de 6 meses entre o fim da safra e o
prévio é um instituto jurídico de proteção tanto para em- início de uma nova safra? Nem eu, e nem a jurisprudência
pregador, quanto para o trabalhador, quando o contrato consolidada acredita nisso, e é por isso que são permitidos
não tem previsão de encerramento. Para não serem pegos contratos de safra sucessivos com menos de seis meses entre
de surpresa, ambas as partes têm os 30 dias de aviso nos con- eles, desde que realmente tenha sido findada uma safra, e
tratos indeterminados, assim o empregador pode procu- posteriormente, iniciado uma nova safra. Chamo atenção
rar outro funcionário para substituir, e o trabalhador aqui somente para o entendimento do Tribunal Regional do
pode procurar outro emprego. O Contrato de Safra é de- Trabalho da 18ª Região (Goiás), que define como tempo
terminado: Dura pela safra – sendo que ambas as partes mínimo para validade desses contratos sucessivos, 60 dias
já sabem disso no momento da contratação. É por isso de intervalo entre eles. A validade de contratos de safra
que, independentemente da forma do seu encerramento, sucessivos com menos de 6 meses entre eles é reforçada
em regra, não tem aviso prévio, e nem multa de 40% sobre ainda pelo próprio artigo 452 da CLT, que dispõe sobre
o saldo de FGTS. essa possibilidade quando a expiração do contrato dependeu
da execução de serviços especializados, ou da realização
“Mas então porque o funcionário do meu vizinho foi de certos acontecimentos, que é, justamente, como
demitido em um contrato por safra e recebeu aviso enquadramos a “Safra”.
prévio?” Existe uma cláusula que pode ser acrescentada nos
contratos por prazo determinados, que se chama “cláusula Essas são apenas algumas das particularidades do
assecuratória de direito recíproco de rescisão antecipada” Contrato de Safra, sendo que é importante a análise de
(art. 481, CLT), e é aí que está o segredo do aviso prévio e cada caso concreto, cada tipo de contratação, para definir
multa de 40% nos contratos por safra! qual o contrato de trabalho ideal.

Quando tem essa cláusula de nome complicado no con-


trato, mas de entendimento simples, a diferença é que se
houver a demissão ou o pedido de demissão antecipado
(antes do fim da safra), não tem indenização da metade
da remuneração que o funcionário receberia até o fim da
safra, e, na prática, são aplicadas as mesmas regras de uma
demissão de um contrato por prazo indeterminado, ou
seja: Aviso prévio trabalhado ou indenizado, e multa de
40% no caso de demissão!

Posso fazer um contrato de experiência antes de um


contrato por safra, ou por atividade específica? Não,
porque o contrato de experiência e o contrato de safra
são dois contratos por prazo determinado diferentes, e o
artigo 452 da CLT define que quando há dois contratos
por prazo determinado com menos de 6 meses entre eles,
esses contratos são considerados indeterminados.

Opa, mas espera aí, se não pode ter um contrato de-


terminado seguido do outro com menos de 6 meses
entre eles, como é que eu faço com os meus contra-
tos de safra, já que o intervalo entre safras aqui na
minha produção é menor que seis meses? O Contrato
de Safra foi criado justamente para amparar a realidade
de trabalho das safras – variações estacionais da atividade
agrária, normalmente compreendidas entre o preparo de
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 47
ICMS NA CIRCULAÇÃO
DE GADO
Embora seja certo que o Imposto Existem decisões recentes favoráveis aos Produtores
Sobre Circulação de Merca- Rurais, apontando o entendimento consolidado do
dorias e Serviços (“ICMS”), que STJ, no sentido de que não incide ICMS na operação de
se trata da principal fonte de ar- transferência de mercadorias entre estabelecimentos do
recadação dos Estados-Mem- mesmo contribuinte.
bros, possui como fato gerador a
transferência da propriedade do O STF também já tratou do presente tema e frisou
OLÍMPIA bem, acompanhamos há tempos que “a mera saída do gado em pé de uma propriedade
SOUZA DE PAULA uma desvirtuação da incidência para outra do mesmo contribuinte, sem que ocorra a
Advogada e Associada ABRADA
do imposto.
transferência efetiva de sua titularidade, não configura
hipótese de incidência do ICMS, ainda que se trate de
A problemática sofrida por inúmeros Produtores Rurais
circulação interestadual”.
refere-se à circulação do gado sem a alteração da titulari-
dade do proprietário. Ou seja, se o pecuarista tem fazenda
em dois estados diferentes e realiza o transporte de gado Nesse mesmo contexto, no último dia 25 de junho, o
para fins de manejo, não deve incidir o ICMS. STF, ao analisar o tema 1099, reafirmou a jurisprudência
da Corte e concluiu:
Logo, o deslocamento de mercadorias entre estabeleci-
mentos de um mesmo contribuinte, ainda que localiza- Não incide ICMS no deslocamento de bens de um esta-
dos em diferentes estados da Federação, não caracteriza o belecimento para outro do mesmo contribuinte localiza-
fato gerador do tributo. No entanto, na contramão legal, dos em estados distintos, visto não haver a transferência
alguns estados insistem em desvirtuar o transporte inter- da titularidade ou a realização do ato de mercancia.
estadual de Bovinos, exigindo para tanto o recolhimento
do imposto. Portanto, é de se destacar que o entendimento dos Tri-
De qualquer modo, é importante que os pecuaristas bunais Superiores deve prevalecer e espera-se o reconhe-
saibam que a mera circulação de gado, sem a transferência cimento da inocorrência de circulação jurídica, de modo
de titularidade e sem finalidade comercial, não pode ser que os estados emitam as notas fiscais de produtor rural
considerada como fato gerador do ICMS. necessárias para o referido transporte, sem as condicionar
ao prévio recolhimento do imposto. Caso isso não acon-
Sob essa argumentação, alguns contribuintes têm buscado o teça, é possível acionar o Poder Judiciário para garantir
judiciário a fim de não serem tributados indevidamente. seu direito.
VOLTAR AO
48 • ABRADA
ÍNDICE
TRABALHO INTERMITENTE
E SUA COMPATIBILIDADE
COM O AGRONEGÓCIO
O Contrato de Trabalho Inter- o empregado terá o prazo de um dia útil, para responder
mitente é uma nova modalidade ao chamado, presumida, no silêncio, a recusa. A recusa
de contratação do trabalhador, não descaracteriza o vínculo empregatício de subordi-
que se encaixa perfeitamente
no agronegócio, nas atividades nação conforme §3º do art. 452-A da CLT. Se for aceito
desenvolvidas de forma sa- o trabalho, a parte que descumprir sem justo motivo, fica
zonal, está expressamente pre- sujeita ao pagamento de multa de 50% dos valores que
GEORGETTE visto na Consolidação das Leis seriam devidos, no prazo de 30 dias, conforme o §4º do
MELHEM ANDRAUS Trabalhistas (CLT), e foi tra-
Advogada e Associada ABRADA art. 452-A, da CLT.
zido pela Lei da Reforma Tra-
balhista (Lei 13.467 de 2017).
Dessarte, de acordo com o §6º do art. 452-A da CLT e
Assim sendo, o conceito do Contrato de Trabalho In- após o término de cada período de efetiva prestação de
termitente está presente no §3º do art. 443 da CLT, no serviços, o empregado deverá receber: remuneração; férias
qual consiste na prestação de serviços, com subordinação,
proporcionais de um terço, decimo terceiro salário pro-
não contínua, ocorrendo com alternância de períodos de
prestação de serviços e de inatividade, determinados em porcional, repouso semanal remunerado e adicionais le-
horas, dias ou meses, independentemente do tipo de ativ- gais. A contribuição previdenciária e o FGTS deverão ser
idade do empregado e do empregador. recolhidos mensalmente pela empresa nos termos do § 8º
do art. 452-A da CLT. Assim como, para os demais em-
Desta forma, nessa modalidade contratual, existe a al-
pregados, a cada 12 meses trabalhados o empregado tem
ternância entre 2 períodos, o período da prestação de
serviços subordinados e o período de inatividade, onde direito de usufruir, nos 12 meses subsequentes, um mês
ocorre suspensão do contrato de trabalho e o empregado de férias, período no qual não poderá ser convocado para
não recebe remuneração nenhuma. prestar serviços pelo mesmo empregador conforme o §9º
do art. 452-A da CLT.
Nesse sentido, durante esse tempo, o trabalhador inter-
mitente, poderá inclusive, prestar serviços de qualquer
natureza a outros tomadores de serviço, que exerçam ou E por fim, pode ainda ser objeto de negociação coletiva,
não a mesma atividade econômica, utilizando contrato de a modalidade de trabalho intermitente, de acordo com o
trabalho intermitente ou outra modalidade de contrato art. 611-A, VIII da CLT, por força do Princípio do Ne-
de trabalho.
gociado Sobre o Legislado, também fruto da Reforma
Ademais, a principal característica desse contrato de tra- Trabalhista.
balho é a descontinuidade da prestação de serviços sub-
ordinados, que pode inclusive ser realizado em qualquer
REFERÊNCIAS
ramo, não somente no agronegócio, salvo nos casos dos
VIVAS, Lídia Duarte. Direito do Trabalho / Lídia Duarte Vivas. – Rio de
aeronautas, que possuem legislação própria.
Janeiro: Grupo IBMEC Educacional, 2019.

Outrossim, o empregador deverá convocar o empregado


com pelo menos 3 dias de antecedência, podendo esta- CLT organizada / [organizadores] Leone Pereira, Marcos Scalércio, Renata
belecer em cronograma, as datas em que o empregado de- Orsi; Coordenação Marcos Antônio Araújo Junior, Darlan Barroso. –8. Ed.
verá comparecer para o trabalho, e, recebida a convocação, Atualizada – São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.

VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 49
AS VANTAGENS
DO PLANEJAMENTO
SUCESSÓRIO
NO AGRONEGÓCIO

Este ano por conta da Covid-19 MAS AFINAL, O QUE É O


PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E PARA QUE SERVE?
e por consequência do pereci­
O planejamento sucessório é um conjunto de estratégias e
mento de milhares de vidas, condutas visando a transferência do patrimônio, de forma
muito tem se falado e pesquisa- segura e efetiva, respeitando os interesses e a vontade do
do sobre testamentos, que é uma autor da herança. O objetivo de adotar este planejamento,
das ferramentas mais utilizadas ainda durante a vida do titular da herança, visa a econo-
no planejamento sucessório. mia no pagamento de impostos; prevenção de litígios e
LARISSA
BRIZOLA YARED dilapidação do patrimônio; organização e destinação dos
Advogada e Associada ABRADA
O planejamento sucessório se bens; enfim, possibilidade de maior autonomia do titular
da herança.
inicia muito antes do que se imagina, ele começa já com a
escolha adequada do regime de bens que irá reger o rela- No planejamento sucessório são utilizados diversos ins­
cionamento conjugal, uma vez que o regime de bens influ- trumentos jurídicos como: testamentos, doações, con-
encia de forma diversa no término da união, e na sucessão stituição de holding familiar; instituição do usufruto,
escolha do regime de bens quando da constituição do
causa mortis.
rela­cionamento conjugal, dentre outros.

E quando se fala em relacionamento conjugal, é impor- Entretanto, convém esclarecer que, embora o planeja-
tante lembrar que o Supremo Tribunal Federal reconhe- mento sucessório conceda ao autor da herança maior au-
tonomia, esta não é ilimitada. De acordo com o previsto
ceu a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código
no artigo 1.846 do Código Civil, pertence aos herdeiros
Civil (RE 878694), equiparando os regimes jurídicos do necessários, a metade dos bens da herança, qual seja, a
casamento e da união estável, não havendo portanto, dife­ legítima. Isto significa que, o titular do patrimônio só
renças entre cônjuges e companheiros quanto à sucessão pode dispor da metade dos seus bens, sob pena de violar
hereditária. a legítima.
VOLTAR AO
50 • ABRADA
ÍNDICE
E QUEM SÃO OS HERDEIROS NECESSÁRIOS? Note-se que, por meio da doação é possível destinar os
Segundo o artigo 1.845 do Código Civil, são herdeiros bens conforme a potencialidade de cada herdeiro; con-
necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge/ templar pessoa que não seja herdeiro necessário (desde
companheiro (STF - RE 878694), sendo que a ordem de que não viole a legítima); economizar nos impostos (em
sucessão hereditária seguirá o previsto no artigo 1.829 do alguns Estados a alíquota de doação é menor que a alíquota
CC. Portanto, é certo que havendo descendente, ascen- causa mortis); dentre outras vantagens. Enquanto que
dente ou cônjuge/companheiro, a eles será destinado a através do testamento, além de contemplar pessoa diversa
metade do patrimônio. e indicar os bens aos herdeiros, também é possível desig-
nar o administrador do negócio familiar; excluir herdeiro
ENTÃO, QUAIS VANTAGENS TRARIA O
PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO AO AGRONEGÓCIO? necessário da sucessão (nos casos previstos em lei), além
As vantagens estão principalmente na organização e des- de outras providências. Do mesmo modo, a constituição
tinação dos bens buscando a preservação do patrimônio e da holding familiar apresenta benefícios, como impedir a
dos negócios familiares. Observe-se que, apesar da obriga- interrupção abrupta da administração dos negócios,
toriedade de se destinar 50% do patrimônio aos herdeiros garantindo a perpetuidade do patrimônio.
necessários, ainda é possível ao autor da herança direcionar
os bens conforme a aptidão e interesse dos herdeiros. Percebe-se nos exemplos acima, que o planejamento
sucessório permite que nos diversos cenários existentes,
Como se sabe, o agronegócio demanda um entendimen- adotem-se condutas jurídicas diversas, podendo estas
to especializado, e com o planejamento sucessório seria ocorrer por negócio inter vivos, ou então por transmissão
possível identificar o herdeiro mais apto a administrar causa mortis, com eficácia imediata ou após a morte, res­
o negócio familiar, ou até mesmo preparar os herdeiros pectivamente. Em qualquer das hipóteses, é importante
para quando for necessário assumir a gestão do consultar um profissional habilitado para identificar a
empreendimento. melhor opção a seguir.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 51
BREVES CONSIDERAÇÕES
SOBRE O REGISTRO
IMOBILIÁRIO DOS IMÓVEIS
RURAIS
INTRODUÇÃO. tre os prédios rurais (rústicos) e urbanos: o da localização
Desde o descobrimento do e o da destinação econômica. Pelo primeiro critério, será
Brasil, a agricultura, a pecuária rural o imóvel que estiver fora dos perímetros urbanos
e o extrativismo sempre foram dos municípios; pelo segundo, será o imóvel destinado à
os maiores alicerces da economia exploração agrícola, pecuária, extrativa ou agroindustrial,
brasileira, sendo os grandes res­ qualquer que seja a sua localização. Prevalece de forma
ponsáveis pelo fomento inicial unanime o critério da destinação, previsto no art. 4o, I,
LUIZ SALZARULO
do desenvolvimento do País. do Estatuto da Terra (Lei no 4.504/1964): “para os efeitos
Advogado e Associado ABRADA desta Lei, definem-se: I – ‘Imóvel Rural’, o prédio rústi-
Assim, desde os mais remotos co, de área contínua qualquer que seja a sua localização,
tempos, o agronegócio brasileiro tem exercido impor- que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou
tante papel na sustentação do Brasil, uma vez que além agroindustrial, quer através de planos públicos de valori-
do abastecimento interno, o País tem valores expressivos
zação, quer através de iniciativa privada”
nas exportações, o que contribui muito para o equilíbrio
na balança comercial.
Na mesma linha da doutrina com relação a classificação
dos imóveis, o INCRA mantem a unicidade de classifi-
Por causa do seu clima diversificado, chuvas regulares,
cação, mesmo que haja duas ou mais áreas confinantes
energia solar abundante e enorme quantidade de áreas
prontas para a agricultura, o Brasil é um dos países com pertencentes ao mesmo proprietário ou não, desde que
maiores taxas de crescimento da produtividade agropecuária, seja mantida a unidade econômica, ativa ou potencial.
e sobre esta ótica, surge o direito agrário, regulando a cadeia
produtiva desde antes da porteira até a chegada dos produtos Este entendimento não é o mesmo dos Registros Imo-
a mesa do consumidor. biliários, que segundo o princípio registral da unitarie-
dade da matricula, o imóvel rural é a unidade imobiliária
IMÓVEIS RURAIS E O SEU REGISTRO matriculada, ou seja, como cada matrícula corresponde a
Segundo a doutrina, há dois critérios para distinção en- um imóvel mesmo se tratando de áreas contíguas, serão
VOLTAR AO
52 • ABRADA
ÍNDICE
tantos imóveis quantas forem as matrículas. O princípio Isto ocorre, porque a matéria registral tem como um de
da unitariedade da matrícula impede que uma matrícu- seus princípios basilares, a tipicidade, na qual somente
la englobe mais de um imóvel ou que seja matriculada pode ser registrado e averbado o que expressamente a lei
fração de imóvel, observada sempre a fração mínima de permite. Sob esse prisma, a Lei 6.015/73, em seu artigo
parcelamento (FMP). 167, II não prevê a averbação dos contratos de arrenda-
mento e parceria agrícola na matricula do imóvel, o que
Além da matricula, constitui pressuposto para qualquer torna possível somente seu registro perante a Serventia de
ato de registro junto ao Cartório de Registro de Imóveis,
Títulos e Documentos.
que o imóvel rural se encontre com seu cadastro regular
junto ao INCRA e à Secretaria da Receita Federal do
Brasil. Esta comprovação de regularidade é realizada atra­ Até o presente momento sabe-se que poucas Serventias
vés do CCIR, o qual somente certifica a regularidade e Extrajudiciais Imobiliárias desafiam a letra fria da Lei e
não legitima a posse ou a propriedade do imóvel. Nesse averbam os contratos de arrendamento e parceria agrícola
sentido, pode ocorrer de haver um único CCIR para mais na matricula do imóvel, pois entendem que o prin-
de uma matricula do mesmo imóvel. cipio da publicidade deve sobrepor aos demais princípios
registrais. Contudo, a solução definitiva e segura para as
REGISTRO DOS CONTRATOS Serventias Imobiliárias deve ser a aprovação do Projeto
DE ARRENDAMENTO E PARCERIA.
de Lei 7.159/2017, que prevê a inclusão do contrato de
Os contratos de arrendamento rural e parceria agrícola
descritos no Estatuto da Terra, para surtir efeito contra arrendamento rural e de parceria agrícola no rol de atos
terceiros, inclusive para comprovação da forma de uso jurídicos passíveis de averbação, devidamente elencados
da terra e responsabilidades acima elencadas, devem ser no inciso II, do artigo 167 da Lei 6.015/73. Até a plena
registrados no Cartório de Registro de Títulos e Docu- vigência da Lei que autorize a averbação na matricula do
mentos e não averbados na matrícula do imóvel junto ao imóvel, os contratos de arrendamento rural e parceria
Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição, como agrícola, ficarão sujeitos a decisões isoladas de algumas
deveria ser. Serventias Imobiliárias.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 53
APLICAÇÃO DA
MEDIAÇÃO NOS
CONFLITOS AGRÁRIOS
Segundo dados do CNJ - Con- constroem a solução para o conflito. Existem três
selho Nacional de Justiça, em modalidades: negociação, conci­l iação e mediação.
sua 16ª edição, o Relatório
A Negociação se caracteriza pela conversa direta entre
Justiça em Números 2020 (ano-
os envolvidos sem qualquer intervenção de terceiro como
base 2019), o Poder Judiciário
auxiliar ou facilitador.
finalizou 2019 com 77,1 mil-
hões de processos tramitando na A Conciliação conta com a figura de um terceiro, que é o
MAISA DIAS Justiça Brasileira. É muito difícil conciliador, e tem como propósito o acordo.
Advogada e Associada ABRADA para a máquina judiciária dar A Mediação é um processo voluntário que oferece uma
conta deste volume de processos oportunidade as partes, além da via judicial, de solucio-
em um país onde a cultura do litígio está enraizada na nar o conflito com a ajuda de um terceiro facilitador, que
sociedade. É preciso evolução desta cultura, colaboração tem como objetivo o reestabelecimento do diálogo entre
é a palavra da vez, e a legislação pátria nos incentiva a esta as partes, para que elas próprias encontrem a solução para
mudança através dos métodos alternativos de solução de o conflito.
conflitos.
É comum a ideia equivocada de que conciliação e me-
Dentro do ordenamento jurídico brasileiro, existem di- diação são idênticas, entretanto são procedimentos
versas técnicas de solução de conflitos, temos os métodos distintos. A principal diferença entre a conciliação e
heterocompositivos, procedimentos nos quais uma a mediação é o papel do terceiro, que será o conciliador
terceira pessoa resolve o conflito, quando o Juiz decide ou mediador. O conciliador pode ser mais ativo dentro
o conflito através da sentença ou pela arbitragem, proces- da audiência, opinando, incentivando ao acordo ou apre-
so privado, onde as partes elegem um árbitro, que é um sentando propostas de soluções. O mediador, através de
terceiro fora do poder judiciário para direcionar a dis- técnicas específicas de negociação e comunicação, atua
cussão. E existem os métodos alternativos de solução como terceiro imparcial, não propõe acordos e tem como
de conflitos, que são os métodos autocompositivos, função intermediar e facilitar o diálogo entre as partes em
procedimentos onde as próprias partes envolvidas é que conflito.
VOLTAR AO
54 • ABRADA
ÍNDICE
Os métodos autocompositivos são mecanismos essenciais sociedade como um todo.
para que a cultura da sentença seja superada. Todavia, faz-
se como precedente necessário a mudança de mentalidade O agronegócio está em constante progresso e tem um pa-
da sociedade, para isso, fundamental difundir o conheci- pel expressivo, necessário e primordial para o país. Tão
mento dos inúmeros benefícios da praticabilidade destes grande sua importância, são os desafios do setor, as os-
métodos, como o uso da mediação, que possibilita a res-
cilações econômicas, climáticas, comerciais, além dos
olução do conflito sem que seja necessário levar a esfera
desafios diários, como pragas, escassez de mão de obra,
judicial, e tem como principais vantagens: a celeridade,
baixo custo, sigilo, protagonismo das partes, manutenção problemas com logística, infraestrutura, armazenamen-
das relações e a geração de soluções criativas e duradouras. to, questões como endividamento bancário, são conflitos
A principal vantagem da mediação é a oportunidade da comuns do setor agrário e por consequente o aumento
comunicação, um poderoso recurso capaz de ressignificar da demanda judicial dos conflitos nessa área. É possível
e transformar sentimentos e ações. No processo judicial, a solução desses conflitos sem que os envolvidos tenham
advogados, promotores e juízes falam e sentenciam pelos liti­ que acionar o Judiciário, através do uso da mediação no
gantes. Na mediação, existe a oportunidade para as partes ramo do agronegócio em conflitos como os decorrentes de
ouvirem e serem ouvidas, criando um canal eficiente para compra e venda de insumos, contratos agrários de parce-
o desenvolvimento de soluções adequadas as reais necessi- rias e arrendamento, divisões de terras entre outros.
dades e possibilidades dos envolvidos no conflito.
Mediação é um convite ao diálogo cooperativo, sua uti-
A mediação é uma forma de empatia através do diálogo, de
modo que traduz palavras em necessidades. E se exis­te um lização como forma alternativa de resolução de conflito,
método com tantos benefícios, é preciso trazer a aplicação permite a criação de um ambiente positivo e colaborati-
deste instrumento para solução dos conflitos agrários, vo, para de forma criativa e eficiente trazer soluções para
área tão carente de atenção jurídica, embora seja um cam- os conflitos, reduzindo os riscos e prejuízos no setor do
po de suma importância para economia do país e para agronegócio.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 55
COMO INICIAR
O PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO
FAMILIAR NO AGRONEGÓCIO
Todas as pessoas sabem os cial pelos fundadores do patrimônio, é conscientizar-se
desgastes enfrentados em um do que é um plano de sucessão, quais suas vantagens e
processo de inventário, onde se possíveis riscos para que o desenvolvam de forma suave,
busca a partilha dos bens entre consistindo em um ato de amor aos filhos, definindo em
os herdeiros. Da mesma forma, vida a destinação do patrimônio e de seus negócios para
dos altos custos para que isso a perpetuidade.
seja realizado de maneira con-
creta. Quando planejamos o futuro, dificilmente os sucessores
ALLAN
MARCEL PAISANI terão problemas com a continuidade do legado deixado
Advogado e Associado ABRADAAlém disso, em certo momento por seus ascendentes, pois serão respeitadas as vontades
da vida, os fundadores do patri­ daqueles que batalharam a vida toda para construir um
mônio familiar se dão conta que, seus herdeiros/suces- patrimônio, sem que existam brigas, desentendimentos,
sores, não estão preparados para dar continuidade aos disputas judiciais, muitas vezes enfrentadas no processo
negócios familiares, seja pela falta de uma educação neste de inventário.
sentido, seja pela ausência de uma profissionalização dos
mesmos Este é mais um motivo para que seja evitado, sempre que
possível, o processo de inventário, pois é oneroso, demora­do
Mas existe em nosso ordenamento jurídico possibilidades e causa atrito na família. Quem não passou por esta
para que isso seja evitado, realizando o planejamento situação ou conhece alguém que tenha passado?
sucessório da família.
Mas não precisa ser assim.
Fato é que, tratar sobre qualquer tema envolvendo o fator
morte, geralmente, não é algo fácil, tampouco aceito nos O planejamento sucessório vem exatamente para evitar
núcleos familiares, pelo entendimento equivocado de que estes inconvenientes.
se está sendo antecipando o falecimento dos mais antigos.
2) QUANDO E COMO DEVO FALAR COM MINHA
Temos observado na prática que muitas famílias não
FAMÍLIA SOBRE O PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO?
sabem como tratar o assunto sem que haja desconfortos
O planejamento deve ocorrer quando a família estiver
ou até mesmo desentendimentos entre os envolvidos. Por
preparada, no entanto, o preparo somente vem quando
esta razão, com algumas dicas simples, podemos iniciar o
a questão é enfrentada de forma aberta e compartilhada,
planejamento sucessório.
pois é fundamental muito diálogo, transparência e sereni-
1) ENTENDA O QUE É dade para definir o futuro das próximas gerações.
O PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO
O primeiro passo a ser dado pela família, em espe- Portanto, não existe um tempo certo e determinado
VOLTAR AO
56 • ABRADA
ÍNDICE
para fazer o planejamento, mas sim a conscientização da fundadores do patrimônio.
família da necessidade em realizar um plano de sucessão.
Ao entender os conceitos e os objetivos do planejamento
Esta conscientização só é adquirida com muito diálogo, sucessório familiar, podemos elencar alguns benefícios
para que de fato seja enfrentado o fator morte e reconhe- que o sistema proporciona:
cida a necessidade de preparar os sucessores para darem
continuidade, poissomente é possível tomar a decisão • Redução da carga tributária incidente
sobre o futuro se a família estiver confortável e tranquila sobre os rendimentos da pessoa física (IRPF);
quanto aos atos que serão praticados.
• Evitar conflitos no planejamento sucessório;
3) CONSULTE UM PROFISSIONAL ESPECIALIZADO
• Retorno de capital sob
Para elaborar um plano perene e sustentável, é impre- a forma de lucros e dividendos sem tributação;
scindível a assessoria de um profissional qualificado nesta
área de atuação, tendo em vista que o desenvolvimento • Resguarda do patrimônio, tendo em vista que
do trabalho exige conhecimento em diversas áreas do direito, problemas de sucessão patrimonial são solucionados;
como civil, tributário e societário, evitando nulidades futuras. • Preservação do patrimônio pessoal perante
Nosso ordenamento jurídico possibilita explorar várias credores de uma empresa da qual a pessoa física
formas de promover o planejamento sucessório e é dever participe como sócio ou acionista;
do profissional de sua confiança expor as opções, enquan- • Proteção do patrimônio pessoal e empresarial;
to a escolha do modelo mais adequado pertence, exclusiv-
amente, à família. • Mais poder de negociação na obtenção de recursos
financeiros e nos negócios com terceiro; e
Estas são algumas dicas para que a família inicie a con-
strução do planejamento sucessório e, com estratégias • Restringe a interferência no capital social da Holding
jurídicas, seja evitado os elevados custos de um inventário, das obrigações e responsabilidades por dívidas
o conflito entre familiares, a desordem do patrimônio, ge- pessoais dos sócios, a não ser nos casos previstos
rando assim, a proteção e perpetuidade dos negócios da em lei para desconsideração da personalidade
família. jurídica em situações excepcionais.

Com atitudes simples, poderemos avançar no diálogo so- Assim, um plano de sucessão familiar permite que o fun-
bre o tema dentro do núcleo familiar, possibilitando de dador do patrimônio decida o futuro dos bens após sua
maneira harmônica a destinação dos bens e a preparação partida, profissionalizando os sucessores e perpetuando
de seus sucessores à continuidade do legado deixado pelos tudo o que foi conquistado por gerações.
VOLTAR AO
ÍNDICE ABRADA • 57
CRÉDITO RURAL
O crédito rural é essencial para
o produtor rural subsidiar o seu
plantio, sua lavoura, a sua pro-
dução. Trata-se de importante
instrumento de incentivo à pro-
dução, investimento e comer-
cialização agropecuária, além de
CAROLINA MARIANO contribuir com o crescimento
Advogada e Associada ABRADA do agronegócio como um todo.
É restrito ao campo específico do financiamento das ativ-
idades rurais para suprir as necessidades financeiras do
custeio e da comercialização da produção própria além de
capital para investimento e industrialização de produtos
agropecuários, quando efetuada por cooperativas ou pelo
produtor na sua propriedade rural. a exploração agropecuária, é possível que ocorra a uti-
lização e recebimento do financiamento por qualquer cre-
Para que o produtor possa utilizar o crédito rural, é dor em nome dos demais, desde que não exista nenhuma
necessário realizar o financiamento rural que nada mais é disposição em contrário, qualquer um deles poderá uti-
do que um conjunto de instrumentos e normas necessários a lizar-se do crédito concedido da forma que bem entender,
correta aplicação das diretrizes do crédito rural disposto não afastando a responsabilidade solidária dos demais.
em lei.
É obrigatória a demonstração prévia da destinação do fi-
O financiamento rural concedido pelos órgãos inte- nanciamento e inclusão de orçamento na cédula, com a
grantes do sistema nacional de crédito rural à pessoa apresentação dos custos dos materiais, insumos e serviços,
física ou jurídica, é efetivado por meio das células de e após a apresentação, passarão a fazer parte da cédula,
crédito previstas em lei. possibilitando a fiscalização.
Vale esclarecer que as cooperativas são autorizadas e estão Ainda vale ressaltar ser possível realizar o financiamento
regularizadas a concederem financiamentos rurais a seus para a utilização parcelada, isso ocorre quando é aberta
associados ou a suas filiadas por meio de cédulas de conta vinculada ao mútuo, ou seja, uma conta aberta com
crédito rurais. o fim específico de vincular a movimentação exclusiva de
débitos e créditos relacionados com o respectivo financia-
A Lei do Crédito Rural – lei 4.829/65, e o Decreto lei
mento rural.
167/67, devem ser obedecidos, sob pena de punição que
vão desde sanções administrativas de menor peso até o Para evitar que o produtor rural seja prejudicado, é muito
impedimento de participação no crédito rural. importante assegurar e garantir que sejam observados e
cumpridos no crédito rural o limite e prazos para a even-
Não pode ocorrer o desvio de finalidade do financiamento, tual incidência de juros nas cédulas de crédito rural, bem
como por exemplo, contratação de novo empréstimo des- como a incidência de correção monetária sobre o financia-
tinado ao pagamento de dívidas anteriores, é proibido. mento do crédito rural.
Com o crédito rural, o produtor contrairá uma dívida O Manual de Crédito Rural prevê que nenhuma outra
para custeio, investimento, comercialização ou industri- despesa pode ser exigida do produtor rural, inclusive com
alização de sua lavoura ou bens de produção, devendo ser relação aos juros, tendo em vista que o valor dos juros
idôneo, apresentar orçamento de aplicação em uma das varia de acordo com a renda anual.
atividades do crédito rural, ficando obrigado a ser fiscali­
zado ao menos uma vez no curso da operação pelo credor. Por fim, o produtor rural precisa estar ciente de que
o Manual de Crédito Rural prevê todas as regras de
Quando se tratar de mais de um emitente nas cédulas utilização dos recursos voltados para a obtenção do
rurais, como por exemplo, os condomínios destinados Crédito Rural.
VOLTAR AO
58 • ABRADA
ÍNDICE
abradaoficial.com.br

Clique nos ícones


e conheça nossos canais:

Abrada Oficial

VOLTAR AO VOLTAR AO
ÍNDICE ÍNDICE ABRADA • 59

Você também pode gostar