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AUTOMAÇÃO DE REDES DE DISTRIBUIÇÃO

DE ENERGIA ELÉTRICA
Ferdinando Crispino José Antonio Jardini Luiz Carlos Magrini Hernan Prieto Schmidt
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP-PEA)
jardini@pea.usp.br

Resumo: A automação de redes de distribuição de energia elétrica envolve a utilização de


sistemas SCADA para supervisão e controle remoto dos equipamentos espalhados ao longo
da rede elétrica. Entretanto o maior volume de aplicativos desenvolvidos, destinam-se ao
gerenciamento tanto das informações técnicas dos equipamentos e sua história, quanto das
informações espaciais, que detalham sua localização geográfica. Somam-se a eles softwares
destinados a simulação das operações na rede, afim de assegurar o seu pleno êxito. Uma das
principais ferramentas é o reconfigurador da rede, que através de interface gráfica possibilita a
visualização prévia do resultado das manobras simuladas. Um exemplo de reconfigurador
com interface baseada em pacote SIG é apresentado.

Palavras Chave: SCADA, Sistemas de Supervisão e Controle, Automação de Redes de Energia e


Centro de Controle da Distribuição, Sistema de Informações Geográficas.

1. - Introdução
Um sistema de automação da distribuição segundo definição do IEEE ("Institute of Electrical
and Electronics Engineers"), é uma combinação de subsistemas de automação que habilitam
uma empresa concessionária a monitorar, coordenar e operar alguns ou todos os componentes
do sistema elétrico em tempo real. Essa definição é bastante genérica e inclui vários
subsistemas que comumente são considerados separadamente, tais como supervisão e controle
de subestações, supervisão de controle da rede elétrica, gerenciamento de carga, medição
remota, atendimento à reclamações dos consumidores, engenharia, etc.

Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) oferecem uma tecnologia inovadora na forma


de gerar e utilizar mapas necessários à construção e gerenciamento de redes elétricas de
distribuição e energia elétrica. Essa tecnologia possibilita que programas computacionais
criem um vínculo entre objetos geográficos desenhados num mapa, com informações
alfanuméricas armazenadas em um ou mais registros de um Sistema de Gerenciamento de
Base de Dados (SGBD) relacional. O efeito resultante desta junção, aliada à capacidade de
simulação de cenários torna-se uma poderosa ferramenta organizacional e de gerenciamento,
dando origem a uma outra tecnologia denominada “Automated Mapping and Facilities
Management”, ou simplesmente AM/FM.

Dentre esses vários subsistemas que compõem a automação da distribuição destaca-se a

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supervisão da rede elétrica, em virtude dos seus equipamentos estarem geograficamente
distribuídos e muitas vezes em locais de difícil acesso, tal como ocorre em redes localizadas
fora do perímetro urbano. Essa capacidade de manobra remota de equipamentos da rede, deve
estar sintonizada com a operação da subestação alimentadora, o que conduz a uma sintonia
entre a operação da rede elétrica, com a operação da subestação.

1.1 - Supervisão da Rede


O gerenciamento e operação da rede elétrica é conduzido em instalações específicas
denominadas de Centro de Operação da Distribuição (COD) , que concentram a operação das
subestações, bem como da rede de distribuição de energia, de uma região, de modo a garantir
o suprimento de energia ao consumidor.

Para tanto, o COD deve oferecer recursos que permitam no caso de ocorrência de falha,
promover sua localização, isolamento do defeito e restabelecimento do fornecimento, no
menor tempo possível. E ainda, no caso de manutenções programadas ou para isolar defeitos,
promover a transferência da carga entre circuitos objetivando afetar o menor número possível
de consumidores.

O núcleo de um sistema de automação é denominado de sistema SCADA ("Supervisory


Control and Data Acquisition") em virtude de suas funções de coleta de dados e atuação sobre
os equipamentos no campo.

1.1.1 - Requisitos funcionais


Um sistema digital voltado a automação de sistemas elétricos deve apresentar as seguintes
funções básicas:

• Função monitoração:
Permite apresentar ao operador, graficamente ou através de desenhos esquemáticos, os
valores provenientes das medições realizadas, além das indicações de estado dos
disjuntores, chaves seccionadoras, bancos de capacitores e demais equipamentos de
interesse.
• Comando remoto:
A manobra dos equipamentos deverá ser conduzida pelo operador a partir da sala de
comando, através de interface gráfica amigável onde é apresentado o diagrama unifilar da
subestação.

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• Alarme:
Notifica o operador da ocorrência de alteração espontânea da configuração da rede
elétrica, irregularidade funcional de algum equipamento ou do sistema digital ou ainda
ocorrência de transgressão de limites operativos de medições.
• Armazenamento de dados históricos:
Todas as medições, indicações de estado, alarmes e ações do operador devem ser
armazenadas em arquivos, a fim de permitir a análise pós operativa no caso de
irregularidades.
• Gráfico de tendência:
Possibilitam ao operador observar a evolução das grandezas analógicas ao longo do
tempo.

• Intertravamento:
Efetua o bloqueio de ações de comando em chaves, disjuntores ou seccionadoras em
função da topologia.
• Bloqueio ou Sinalização:
O operador pode inibir ações de comando em equipamentos específicos, em função de
manutenções, mau funcionamento, etc.
• Manobras automáticas:
Procedimentos complexos que exigem várias manobras encadeadas, sendo cada uma deles
dependente da concretização com sucesso da anterior, podem ser automatizadas criando-
se procedimentos responsáveis pela sua execução.
• Proteção:
Responsável pela detecção de anomalias na rede, bem como seu isolamento de modo a
evitar sua propagação com possível dano aos equipamentos. Em virtude do seu tempo de
atuação ser extremamente estreito (da ordem de milissegundos), essa função é
desempenhada por equipamentos autônomos de tecnologia digital ou convencional.
• Parametrização remota:
Possibilita a substituição de valores de referência (“set points”) e de outros parâmetros
funcionais, através de canais de comunicação de dados. Dessa forma, equipamentos tais
como relés digitais de proteção, medidores, reguladores de tensão e outros equipamentos
micro-processados, podem ser re-parametrizados remotamente de modo a refletir
necessidades operacionais daquele instante.
• Comunicação de dados:
Oferece recursos para integração dos diferentes equipamentos micro-processados
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espalhados geograficamente ao longo da rede elétrica, proporcionando taxa de
transferência de dados compatível com a função e volume de dados. Suporta diferentes
meios de comunicação tais como fibras ópticas, satélites, celular, etc., de forma adequar--
se aos requisitos e disponibilidade do local. É desejável que proporcione independência
entre hardware e software tanto para os equipamentos de campo, quanto para os do
sistema SCADA, pela aderência a padrões internacionais reconhecidos, tais como DNP,
IEC 60870-5, UCA (“Utilities Communication Architecture”), etc.
• Segurança e controle de acesso:
Sistemas desassistidos, podem também assinalar a presença de pessoas não autorizadas
através de sensores instalados nas portas e janelas do ambiente, bem como se interfacear
com sistemas de detecção de incêndio, reportando ao centro de controle remoto qualquer
anomalia.
• Autodiagnóstico:
Intervalos de tempo em que o sistema SCADA esta ocioso pode ser aproveitado para
verificações de seu bom funcionamento tanto em termos de "hardware" quanto de
"software". Anomalias encontradas são sinalizadas ao operador e incluídas no quadro de
alarmes.

Além dos requisitos funcionais, o sistema digital de automação deverá ainda oferecer as
seguintes facilidades:

• Interface Homem-Máquina (IHM) amigável;


• Possibilitar a operação remota, a partir de centro de controle;
• Recursos para integração de equipamentos de campo de diferentes fornecedores.
• Facilidades para expansão através da inclusão de novas máquinas na rede.

1.1.2 - Automação de subestações


A rápida evolução tecnológica na área de controle de sistemas, tais como conceitos de
sistemas abertos, redes de comunicação de dados e programas sofisticados que promovem
funções SCADA em microcomputadores, tem conduzido a uma reformulação na arquitetura
desse sistemas de controle. Automação de subestações passou a se referir à integração de
equipamentos de campo, tais como CPs (Controladores Programáveis), UTRs (Unidades
Terminais Remotas), equipamentos digitais de medição, relés digitais de proteção,
seqüenciadores de eventos, oscilopertubógrafos, sistema de hora padrão, e rede de área local
com programa de interface homem - máquina amigável apresentando alta capacidade gráfica.

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Esse sistema deverá ser capaz de executar além das funções básicas de um sistema SCADA,
as seguintes funções:

• Função proteção:
Em vista da sua importância e velocidade de resposta, esta função é realizada por
equipamentos autônomos e redundantes. Cabe ao sistema de automação apenas monitorar
a atuação dos relés, que no caso dos relés convencionais é efetuada através de contatos
auxiliares. Já os relés numéricos apresentam a possibilidade de se transferir essa
informação via canal de comunicação de dados, além de poderem transferir
adicionalmente o estado operativo do relé obtido por meio de rotinas de autodiagnóstico.
• Religamento automático:
Algoritmo de controle que tenta restabelecer automaticamente a topologia da subestação
no caso de abertura espontânea de disjuntor.
• Controle de tensão e reativos:
Lógica de controle que visa manter o nível de tensão e o fluxo de reativos nos
barramentos, dentro de limites preestabelecidos, através da alteração automática de tapes
de transformadores e a inserção ou retirada parcial ou total de banco de capacitores.
• Oscilopertubografia:
Armazena a forma de onda de tensões e correntes em pontos previamente estabelecidos,
podendo ser disparada por evento externo tais como, atuação da proteção, abertura de
disjuntor ou chave seccionadora, taxa de variação da corrente ou tensão, etc.
• Sincronismo de tempo:
Capacidade de sincronização com fonte externa de horário padrão, com resolução de até
um milissegundo.
• Registro seqüencial de eventos:
Registra a atuação de relés de proteção, abertura e fechamento de disjuntores e chaves
seccionadoras e outras indicações de estado de interesse, com precisão de até um
milissegundo, de forma a possibilitar o encadeamento histórico das ocorrências.

1.1.3- Automação da rede primária


As funções e um sistema de automação de rede, além daquelas básicas de monitoração e
controle providas por sistemas SCADA, incluem também aquelas relativas a automação de
circuitos alimentadores, gerenciamento de carga e leitura de medidores. A leitura de
medidores inteligentes, muitas vezes é realizada por sistema independente que se interliga em
rede ao sistema SCADA da automação da distribuição.
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As funções SCADA são responsáveis pelas medições de tensão, corrente e fluxos ao longo da
rede, além da monitoração das indicações de estado de equipamentos tais como chaves,
religadores, bancos de capacitores. Possibilita ainda o telecontrole dos equipamentos, bem
como sua parametrização remota.

As funções relativas a automação de alimentadores, incluem:

• Localização de faltas:
Na ocorrência de falta permanente, que causa desligamento da rede ou de faltas de alta
impedância, que nem sempre são detectadas pelos equipamentos comuns de proteção, o
despachante baseia-se nas medições disponíveis e/ou reclamações de consumidores
indicando interrupção no fornecimento de energia, para determinar o local provável do
defeito e enviar turma de manutenção.
• Isolamento de defeitos:
Possíveis falhas que causam interrupção no fornecimento devem ser isoladas, a fim que o
suprimento possa ser restabelecido ao restante dos consumidores. Através de chaves
seccionadoras remotamente controladas, o trecho em defeito é isolado e o circuito é re-
energizado através de comando remoto ao disjuntor da subestação.
• Reconfiguração da rede:
Em caso de manobras programadas ou de caráter emergencial, trechos da rede podem
ficar isolados interrompendo o fornecimento aos consumidores. Manobrando-se
convenientemente chaves seccionadoras, pode-se eventualmente transferir trechos que
estavam desenergizados para outros circuitos, minimizando-se assim o número de
consumidores afetados.

Embora essas funções sejam suficientes para operação de um sistema de distribuição, o


sistema SCADA usualmente trabalha com desenhos esquemáticos que não representam com
fidelidade a rede elétrica, e sua localização. A sua integração com ferramentas AM/FM para
suprir essa deficiência, somadas a ferramentas computacionais avançadas voltadas operação e
controle, formam em conjunto um sistema de gerenciamento da distribuição ou DMS
("Distribution Management Systems"). São funções avançadas de um sistema DMS:

• Estimador de estado:
São algoritmos que promovem a filtragem em tempo real das medições redundantes,
removendo erros grosseiros e inconsistências. Em sistemas com deficiência em pontos de
medição da rede, o estimador de estado pode compensar essa falta fazendo uso das leituras
históricas de consumo mensal, combinando-as e adequando-as em conformidade com as
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medições disponíveis em tempo real.
• Fluxo de potência:
Permite efetuar simulações de manobras, criando cenários baseados nos valores de carga,
tensão e topologia, obtidos em tempo real. Devem ser capazes de modelar reguladores de
tensão, bancos de capacitores e cargas distribuídas.
• Curto Circuito:
Calcula os valores de correntes para curtos trifásicos, bifásicos e monofásicos, para
simulações sobre a topologia da rede baseada nas indicações de estado das chaves e
disjuntores obtidos em tempo real.
• Localização de falta:
Ferramentas baseadas em inteligência artificial e lógica “fuzzy”, utilizam as medições da
rede, combinando-as com a topologia descrita pelo sistema SCADA, para indicar o local
mais provável do defeito. Essa ferramenta é especialmente importante em circuitos
subterrâneos em face da complexidade de se efetuar inspeções.
• Controle de tensão e reativos:
Efetua a coordenação entre reguladores de tensão e bancos de capacitores, de modo a
determinar a melhor combinação entre o ajuste dos reguladores e ação de controle nos
bancos de capacitores, de modo a manter o perfil de tensão dentro dos limites operacionais
em todos os pontos da rede, com o menor nível de perdas

1.1.4 - Integração
Para o perfeito funcionamento de um sistema DMS, há necessidade de troca de informações
entre os vários sistemas que compõem a automação da distribuição, tais como:

• Automação de subestações:
Deve fornecer os valores de tensão, corrente e fator de potência no cubículo de cada
alimentador, bem como indicação e estado dos disjuntores e proteção associada. Recebe
dos algoritmos, ações de controle para manobras de disjuntores. Ações de controle que
resultem em desligamentos devem ser automaticamente registrados pelo sistema SCADA
na base de dados de ocorrências.
• Sistema SCADA da rede de distribuição:
Exporta a topologia da rede e medições disponíveis. É também responsável pelas
manobras das chaves seccionadoras e bancos de capacitores, além de parametrização
remota dos reguladores de tensão. Manobras que resultem em desligamentos devem ser
automaticamente registradas pelo sistema SCADA na base de dados de ocorrências.
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• Sistema AMR (“Automatic Meter Reading”):
Responsável pela comunicação com medidores inteligentes instalados nas dependências
dos consumidores. Pode eventualmente exportar ao sistema SCADA da rede, medições
instantâneas de consumo ou ainda sinalizar interrupção do suprimento de energia.
• Call - Center:
Registra na base de dados de ocorrências todas as reclamações pertinentes a interrupção
de energia.
• Sistema AM/FM:
Recebe do sistema SCADA da subestação, bem como do SCADA da rede de distribuição
as informações referentes a alterações da topologia da rede. Mapeia os pontos de
interrupção de energia a partir da base de dados de ocorrências.
• Base de dados de ocorrências na rede:
Armazena todas as ocorrências na rede, inclusive aquelas referentes a interrupções do
fornecimento de energia. É alimentado pelo "call-center", e sistemas SCADA da
subestação e da rede de distribuição.
• Sistemas meteorológicos:
Fornece previsão de chuvas e inundações, possibilitando o posicionamento prévio das
turmas de manutenção nas proximidades das regiões que serão mais afetadas.
• Sistema de controle das turmas de manutenção:
Efetua o controle das atividades realizadas pelas turmas de manutenção, tais como
atividades realizadas, quilometragem, tempo gasto em cada atividade, etc. Pode alimentar
o sistema AM/FM (“Automated Mapping, Facilities Management”) para que mostre
graficamente a localização das turmas de manutenção.

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2. – Reconfigurador de Rede
Em caso de falhas ou faltas na rede, os despachantes tem de se basear na sua experiência e nas
medições disponíveis para escolher a melhor alternativa de suprimento, para aquele instante.
Programas computacionais utilizam a topologia da rede e medições disponíveis para
recomendar a melhor coleção de manobras objetivando isolar trechos com defeitos, reduzir
perdas, eliminar sobrecargas em alimentadores, ou para restaurar o fornecimento.

A utilização de sistemas AM/FM na visualização de redes elétricas de distribuição abre novas


perspectivas de interface homem máquina para atividades até então executadas através da
consulta manual de mapas ou através de simulações baseadas em arquivos texto.

Com essa tecnologia é possível visualizar o mapa da região de concessão de uma determinada
empresa distribuidora de energia elétrica, juntamente com a rede de distribuição (primária e
secundária), subestações de distribuição, equipamentos (transformadores, banco de
capacitores, chaves, etc.), permitindo localização de qualquer ente através das coordenadas do
local de sua instalação, ou através da subestação ou circuito a que pertence, ou ainda através
do logradouro.

Por outro lado a base de dados alfanumérica baseada em um SGBD armazena as


características elétricas dos equipamentos representados geograficamente, tais como: postes,
trechos e circuitos primários, trechos e circuitos secundários, delimitadores primários (chave,
base fusível, banco de capacitores, disjuntores, etc), transformadores (estação primária,
estação transformadora, transformador de iluminação pública, câmara subterrânea), etc.

Sistemas AM/FM podem ainda ser integrados com aplicativos desenvolvidos em outras
linguagens de programação tais como reconfigurador de redes, proporcionando recursos para
que sejam ativados por seu intermédio, funcionando dessa forma como interface gráfica ao
usuário que seleciona graficamente os equipamentos elétricos, repassando-os ao aplicativo em
questão.

2.1 – Utilização de SIG como IHM de um Reconfigurador de


Redes de Distribuição
Referenciar informações geograficamente significa associar a um ponto geográfico, as
informações de banco de dados para descrever, analisar, estudar e planejar sobre um
determinado assunto, como no caso uma rede de distribuição de energia elétrica.

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Utilizando mapas da região onde está localizada a rede sobrepõe-se camadas contendo
informações de transformadores, chaves delimitadoras, postes e disjuntores, associando a eles
informações de um banco de dados relacional que contem dados alfanuméricos.

Pode-se então desenvolver um aplicativo para reconfigurar a rede de distribuição trocando o


estado de chaves, separando um determinado trecho ou desligando um trecho de um
determinado circuito e ligando-o em um outro e assim verificar a viabilidade da nova
configuração da rede de distribuição.

Como base para a tomada de decisão da viabilidade de realizar esta reconfiguração, utiliza-se
a queda de tensão e a corrente em cada trecho do alimentador. Analisando as várias
possibilidades de reconfiguração pode-se planejar manutenções programada em trechos da
linha bem como eventuais despachos de carga em casos de defeitos na rede de distribuição.
Na aplicação a seguir descrita a estrutura de banco de dados consistiu de tabelas pertencentes
ao ArcView (dados geográficos) e à base de dados da distribuição (dados alfanuméricos).

O relacionamento entre as tabelas é feito através de campos específicos que contém índices
comuns (“id’s”) entre as mesmas. Com esses índices, pode-se interligar várias tabelas
diferentes para se obter um propósito. O banco de dados utilizado tem a modelagem
exemplificada na Figura 1.

Fig 1. - Diagrama de implementação de base de dados da rede primária

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A base cartográfica escolhida para exemplo foi a rede de distribuição primária da região da
Cidade Universitária, São Paulo. Com uma dada estação exibida na tela, contida na tabela de
dados geográficos "ESTACAO.PAT" pode-se identificar na tabela de dados alfanuméricos
"ESTACAO", pelo campo que contém os "id's", as instalações correspondentes existentes na
estação na tabela “INSTALACAO_UT” (correspondente aos dados de potência dos
transformadores da estação). Através da tabela de instalação (transformador) pode-se
identificar todos os circuitos conectados à esta instalação pela tabela
“CIRCUITO_PRIMARIO”.
Com esses circuitos, determinam-se os trechos que compõem os circuitos pela tabela
“TRECHO_PRIMARIO”. A tabela de trechos se relaciona com a tabela de "CABOS" que
contém as características dos tipos de cabos que constituem os trechos, como resistências,
reatâncias e correntes máximas admissíveis importantes para o cálculo elétrico.
O Aplicativo aqui descrito apresenta vários temas (coberturas) que podem ser ativados ou
desativados com um clicar de mouse no tema de interesse, que está em uma coluna visível à
esquerda da tela do aplicativo (Fig. 2). Os temas estão divididos em:
• rede de circuitos primários: Contem todos os trechos dos circuito primário da estação,
divididos por número do circuito;
• transformadores: Contem todos os Transformadores da estação divididos por tipo (ET,
EP IP e CN);
• delimitadores: com dois estados "0" aberto e "1" fechado, Contem a posição de todas as
todas as chaves do circuito primária divididos em BF (Base Fusível), CH (Chave
Seccionadora), DJ (Disjuntor) e RA (Religador Automático);
• Postes: Contém todos os pontos geográficos dos postes da rede primária ;
• estação: Contem a localização geográfica da estação de distribuição.

No aplicativo existem dois tipos de teclas: buttons (no ArcView) que executam uma rotina
cada vez que é pressionado, e tools, que uma vez pressionado permanece executando uma
rotina até que seja pressionado outro botão do mesmo tipo.

Na primeira barra de ferramentas (parte superior da figura) localizam-se as teclas tipo button e
na barra logo abaixo as teclas tools.

Ao ser ativada a tecla tool "troca estado das chaves",é disparada uma rotina que possibilita
abrir ou fechar uma chave, mudando, assim, a topologia da rede primária no banco de dados.

Com essa ferramenta pode-se simular a isolação de trecho de circuito ou então transferência
de um trecho de um circuito para outro.
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Após concluída a reconfiguração desejada para a rede primária, é necessário verificar as
condições operativas da rede para a nova situação, havendo portanto necessidade de se refazer
os cálculos de fluxo de potência. Para isso, é utilizado um programa de cálculo elétrico
(dentro do mesmo sistema) que tem como entrada um arquivo gerado pelo Aplicativo (que
está aqui sendo descrito). Para gerar este arquivo, na tela há uma tecla tipo button
"Saida.TXT".

Esse arquivo contém os dados da linha, os pontos inicial e final, o comprimento dos trecho, as
cargas dos transformadores e as chaves abertas. O programa de cálculo elétrico utiliza o
algoritmo denominado "pai-filho" para ordenar os trechos por circuito desde o disjuntor da
subestação. Ordenados os trechos do circuito, é feito então o cálculo elétrico considerando
que as cargas são de corrente constante.

O programa calcula as tensões em cada barra, as correntes, as quedas de tensão, os fluxos de


potência e as perdas de cada trecho do circuito primário. Esses valores são atualizados na
tabela de atributos do circuito primário do Aplicativo, já com os campos de correntes e
tensões previamente zerados, de modo que os valores remanescentes de uma configuração
anterior não apareça na próxima.

Para executar esse evento de "zerar" os campos há uma tecla do tipo button "Zera os campos".
Para executar o programa de cálculo elétrico basta pressionar um botão tipo button "Fluxo de
Potência".

A partir destes cálculos pode-se verificar a existência de trechos do circuito com tensão
abaixo de um determinado valor, trechos com correntes acima da capacidade máxima do
cabo, ou trechos que tenham alguma característica em particular. Com essas informações
pode-se tomar decisões, e escolher a melhor opção de uma nova reconfiguração da rede.

Para exemplificar o potencial do aplicativo são mostrados a seguir alguns resultados e


conclusões obtidos a partir de reconfigurações da rede original.

A Fig. 2 mostra a tela do Aplicativo com um circulo na região da subestação e um ponto no


local onde foi requisitado a informação de tensão mostrada no quadro logo abaixo do ponto.
Vê-se um circuito selecionado em cor mais clara que vem desde a subestação até o ponto.
Escolhe-se então outro circuito que ira alimentar o circuito anterior quando forem trocados os
estados das chaves escolhidas (Figura 3).

Os dados das chaves são então armazenados nos arquivos que são utilizados para o cálculos
elétricos.

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Detalhe da fig 3

Figura 2 - Seleção do Circuito Original

Fig.3 - Manobra das Chaves

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Ao trocar o estado das duas chaves, exemplificadas na Fig. 3, a primeira, passando de aberta
para fechada e a segunda de fechada para aberta, reconfigura-se a rede para que o circuito 2
passe a alimentar o circuito 1 a partir daquele trecho.

A partir desta nova configuração são calculados os novos parâmetros e verificado se é viável a
utilização deste novo circuito para este propósito, observando as variáveis tensão e correntes
de trechos.

Analisando os valores tabelados (Fig. 4), chega-se à conclusão que esta configuração é
possível de ser executada pois:

ƒ a tensão está dentro da faixa aceitável para o ponto considerado que era o ponto onde a
tensão seria a menor possível.

ƒ os valores das correntes nos trechos não ultrapassaram os valores máximos permitidos.

Sendo assim, essa poderia ser uma das possíveis soluções para o problema em questão. Outras
soluções podem ser testadas, bastando para tanto que o usuário faça outras simulações e
verifique se os critérios pré-estabelecido de tensão e corrente foram respeitados.

Fig. 4 - Seleção do Circuito Final

A escolha final é então estabelecida por comparação das tensões e correntes obtidas em cada
caso.

O Aplicativo desenvolvido apresenta a facilidade de visualização e manipulação de dados,


que seriam de difícil entendimento quando observados somente de forma numérica.
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A manipulação de um grande número de dados faz com que seja necessário uma interface
com um banco de dados externo. No caso foi utilizado o padrão ODBC (Open Data Base
Conectivity) para conexão com o Sybase.

3. – Bibliografia
1. JARDINI, José A. Sistemas digitais para automação da geração, transmissão e
distribuição de energia elétrica. edição acadêmica, 1996.

2. PROUDFOOT, D.; TAYLOR, D. How to turn a substation into a data base server. IEEE
Computer Applications in Power, April 1999, vol. 12, nº 2, pg. 29-35.

3. Celik, Mehmet K. Integration of advanced applications for distribution automation. IEEE


Power Engineering Society, 1999 Winter Meeting, 31 jan.-4 feb., New York, USA.

4. Baran, M. E. Data requirements for real-time monitoring and control of feeders. IEEE
Power Engineering Society, 1999 Winter Meeting, 31 jan.-4 feb., New York, USA.

5. CRISPINO, F.; KIKUDA, E. T; JARDINI, J. A.; MAGRINI, L. C. Reconfiguração de


redes de distribuição utilizando-se um Sistema de Informações Geográficas. São Paulo,
1998. Projeto de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP).

6. BORLASE, S.H. Advancing to true station and distribution system integration in electric
utilities. IEEE Transactions on Power Delivery, vol.13, nº 1, January 1998, pg. 129-134.

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