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14376-Texto Do Artigo-55965-1-10-20130808
14376-Texto Do Artigo-55965-1-10-20130808
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Priscila Verdum
RESUMO – Esta produção é resultado das discussões realizadas por um grupo de alunos da disciplina
intitulada “Seminário de Prática Docente” do Curso de Pós-Graduação em Educação stricto sensu da
PUCRS. Ao longo de um semestre, esse pequeno grupo de pessoas, todos professores, envolvidos com os
diferentes níveis de educação, compartilharam experiências, leituras e ideias, com o objetivo de discutir o
conceito de prática pedagógica e pensar nas dimensões que essa envolve. Na busca de qualificar essa
discussão, fazendo um cruzamento entre teoria e prática, cada aluno da disciplina realizou uma breve
incursão no campo empírico, tendo como tema de investigação o assunto referido. O presente artigo traz os
resultados dessa incursão, que consistiu numa entrevista semi-estruturada com duas professoras: uma da
Educação Infantil e outra do Ensino Fundamental da rede pública, cujo objetivo principal foi compreender
como essas professoras pensam a ação pedagógica. Os dados obtidos com as entrevistas foram analisados à
luz da Análise Textual Discursiva (MORAES E GALIAZZI, 2007). As colocações dos sujeitos pesquisados
apontaram a prevalência de uma concepção instrumental da prática pedagógica. Entretanto, notou-se o
questionamento, o conflito das professoras sobre a percepção que têm acerca do seu fazer pedagógico. Esse
fato aponta que ter consciência das diferentes dimensões que essa prática envolve não é simples e deve ser
a principal tarefa dos cursos de formação inicial e continuada dos docentes, a fim de que os professores
possam narrar e refletir sobre os próprios saberes e fazeres e, assim, poder desenvolverem uma boa prática
Palavras-chave: Prática Pedagógica, Competência Profissional, Ação Docente.
ABSTRACT - This report is the result of discussions held by a group of students taking the "Seminar on
Teaching Practice", which is part of the Post- Degree in Education stricto sensu of PUCRS. Throughout a
semester, this small group teachers, who deal with different levels of education, shared experiences,
readings and ideas in order to discuss the concept of pedagogical practice and think about the proportions
in which it involves. With the intention to qualify this discussion, by mixing theory and practice, each
student made an empirical brief foray whose theme of the research was based on the topic of this writing.
This report shows the results of the experiment, which consisted in a semi-structured interview with two
teachers: one from kindergarten and the other from a public elementary school.The purpose was to
understand how those teachers work on their pedagogical plan. The data gathered from the interviews
were analyzed under Discourse Textual Analysis (MORAES E GALIAZZI, 2007). The observations made by
the interviwees showed the prevalence of an instrumental conception of the pedagogical practice. However,
questioning and conflict amongst the teachers on their perception about their roles could be noted. This
fact shows that being concious of the different dimensions which this practice involves is not that simple
and should be the main assigment of the initial and ongoing trainning for teachers, so that they can report
and reflect on their own knowledge and duties, and thus be able to develop a good practice.
Keywords: Teaching Practice, Professional Competence, Teaching.
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Aluna do curso de Doutorado em Educação, na linha de Formação, Políticas e Práticas em Educação pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora-Tutora Externa do curso de Pedagogia do Centro
Educacional Leonardo da Vinci. Técnica em Assuntos Educacionais do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS –
Campus Caxias do Sul).
Prática pedagógica, para quê? pelo professor. Vale lembrar, conforme ressalta
Freire (1986), que objeto a ser conhecido não é
A necessidade de superar uma visão da de posse exclusiva de um dos sujeitos que fazem
prática pedagógica como ação de transmitir o conhecimento. Para que haja construção do
conhecimento, como uma atitude de agir sobre o conhecimento, é preciso uma aproximação tanto
outro que ocupa um lugar passivo, como vimos, é do professor quanto do aluno, dinâmica na
imprescindível, se o nosso objetivo for formar direção do objeto. Ao fazer isso, o professor
cidadãos críticos e atuantes na sociedade. refaz o seu conhecimento sobre o objeto, através
Entretanto, essa é uma concepção ainda bastante da capacidade de conhecer dos alunos, em vez de
respondeu, ao ser questionada sobre em que Nas falas das duas professoras, a prática
prática, através de ações, algo que gostaria de como uma ação intencional, o que vai ao
transmitir como conhecimento para o público encontro do conceito que foi apresentado nesse
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atendimento ou não daquilo que foi planejado, Como exemplo, ela traz:
isto é, ao alcance dos objetivo previamente
estabelecidos: “Recentemente, apliquei com minha turma uma
prática em sala de aula, que os alunos, através de
recorte e colagem de palavras, tinham que
“Eu sou muita angustiada com as coisas, eu demonstrar o que aprenderam e fixaram
sempre acho que podia ter sido melhor. Eu avalio em relação ao conteúdo de classificação do
como que eu acho que procuro fazer sempre número de sílabas. Ao final, pude constatar que,
dentro daquilo que eu penso, do que eu planejo, através desta prática, alcancei os objetivos
que tem um significado que eu quero alcançar, propostos e houve um crescimento pedagógico da
mas eu me dou conta que, mesmo eu pensando turma.” (Prof. A)
assim, às vezes, eu acabo fugindo de alguma
coisa.” (Prof. B)
Com a professora “A”, temos o conceito
Que tipo de objetivos seriam esses? do que seria uma boa prática pedagógica
Apenas aqueles relacionados ao desenvolvimento associado à motivação, ao respeito àquilo que os
de habilidades, aos aspectos cognitivos, ou alunos trazem, ao estímulo ao questionamento.
estaria ela pensando na aprendizagem dos valores No entanto, ao dar um exemplo, sua concepção
e atitudes? Há de se estar atento para não fazer do que seja uma prática de êxito está relacionada
confusão entre fazer bem com o fazer o bem, ao alcance dos objetivos que previam a fixação
conforme destaca Rios (2008): de conteúdos. É importante destacar que não se é
contra à memorização, a qual é importante no
O bom trabalho é um trabalho que faz bem, isto processo de aprendizagem, entretanto, será esse
é, que fazemos bem, de uma perspectiva técnica
e política, e que se faz bem para nós e para aspecto o que melhor caracterizaria uma boa
aqueles com os quais trabalhamos, do ponto de
vista estético e, principalmente, ético. Fazemos prática pedagógica? Dentro daquela perspectiva
bem quando ensinamos o que é necessário
ensinar, quando temos consciência do
que até agora tem sido defendida nesse texto,
significado de nosso ensinamento no contexto inclusive desde a perspectiva que a própria
social, quando procuramos conhecer aqueles
com quem estamos envolvidos no processo, professora destaca, num primeiro momento, não.
quando procuramos promover a construção da
cidadania. (p.89) O que temos aqui é uma contradição, que
aparecerá também, quando esse mesma
Entretanto, o bom trabalho, a ideia do que professora falar da lembrança que tem de uma
seja uma boa prática pedagógica, como podemos boa prática pedagógica:
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Dessa vez, a professora “A” volta a “Dentro do planejamento que eu faço é quando
envolve o brincar, que eu intervenho junto, que eu
ressaltar aquelas características que ela cita, tô brincando junto com eles, e que eu consigo
transformar aquilo ali... E eles modificam o
inicialmente, como indicadores de uma boa comportamento sem sentir”. (Prof. B)
prática pedagógica: o aluno como agente ativo, a
ação que desperta interesse. Uma das reflexões Essa colocação da professora “B” parece
que podemos fazer, a partir desses desencontros, indicar que o êxito da sua atuação estaria no agir
presentes na fala da professora “A”, é sobre a com os alunos e não sobre eles, no realizar
necessidade de questionarmos nossas atividades que proporcionem uma aprendizagem,
concepções, crenças, fundamentos que embasam uma busca pelo conhecimento, em que professor
nossas ações. Pois, apesar de no discurso racional e aluno estão envolvidos numa ação que é
sobre o que caracterizaria uma boa prática intencional, isto é, que tem uma finalidade, mas
pedagógica e na evocação da lembrança do que que os caminhos trilhados para se chegar aos
seria uma boa prática pedagógica, aparecer a objetivos são construídos por todos os sujeitos
preocupação com a motivação, com o o interesse envolvidos. Nessa relação pedagógica, que
do aluno, com o seu protagonismo nesse aparece na fala da professora, professor e o aluno
processo de aprendizagem, ao falar da sua ação, são sujeitos do processo de ensino-aprendizagem,
essas características não aparecem. nesse sentido, possuindo igualdade.
Temos aqui uma dicotomização entre
prática e teoria, o que aponta para a necessidade, Formação docente e desenvolvimento de boas
conforme chama a atenção Rios (2003), do práticas: formar para agir com eficácia ou
professor voltar-se para a sua atuação e indagar- para pensar e agir criticamente?
se se na ação, e não apenas no discurso, ele tem
se preocupado em buscar repostas a perguntas Ainda sobre os achados da pesquisa,
como: O que é ensinar? Como estabelecer os destaco a questão em que se buscou compreender
vínculos entre conhecimentos, formação cultural, como as professoras viam a relação entre
desenvolvimento de hábitos, atitudes e valores? formação e desenvolvimento de boas práticas
O que é ensinar de modo que os aluno pedagógicas:
aprendam?...
“Eu não costumo fazer cursos de formação.
Quanto à fala da professora “B”, uma boa Procuro trocar experiências com as minhas
colegas, nas reuniões pedagógicas. Mas também
prática pedagógica seria aquela que não perde de acho que assim como as trocas com minhas
colegas, as formações contribuem para um
vista a sua finalidade: “[...] dentro do objetivo
melhor aperfeiçoamento e atualização das
que eu quero, de eu conseguir chegar o mais práticas pedagógicas praticadas pelo educador
em relação ao seu público alvo.” (Prof. A)
próximo possível”. (Prof. B)
E como lembrança de uma boa prática, “Ah, é tudo! Agora que eu tô fazendo esse
ela traz um exemplo de sua própria atuação: curso, assim, eu penso: não sei como é que eu
fui professora tantos anos, sem ter feito
Psicopedagogia, porque, meu Deus do céu!
E queria voltar no tempo, e queria avaliar
alguns alunos que eu avaliei de uma forma e
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que agora... [...] Então, eu acho assim, que a que isso acontece porque ele é mal formado,
formação é tudo pra tu poder ter uma
prática pedagógica boa, né? Tu não consegue porque os cursos são muito teóricos e que é
sozinha, com a tua primeira formação lá, tu
não consegue, porque ela evolui muito, ta tudo preciso modificar essa situação. Dessa maneira,
se transformando muito rápido e se tu não for o que parece, é que as ações do governo, apesar
atrás, tu não consegue, tu fica parada no
tempo e não adianta.” (Prof. B) de preverem em suas propostas a necessidade
imprescindível de articulação entre teoria e
A professora “A” acredita que a formação prática no processo de formação docente,
é importante para a atualização de técnicas, mas contraditoriamente, continuam por reforçar a
prefere atualizar seus saberes (técnicos) na troca dicotomia “competência técnica X competência
com os professores. Já a professora “B” parece política”. (RIOS, 2003).
ter uma percepção mais ampla sobre a formação, De acordo com Pérez Gómez (2001,
entendo essa como fundamental para o seu p.194), “o objetivo prioritário dos programas de
desenvolvimento profissional, para auxiliar não formação e desenvolvimento profissional dos
só na atualização dos conhecimentos técnicos, docentes deve-se situar na reconstrução do
mas também para ajudá-la a compreender a pensamento prático cotidiano, isto é, na
realidade, o contexto no qual se dá sua ação, e facilitação da reflexão”. Tal postura, não quer
poder agir nesse. A professora “B” demonstra, dizer que os saberes teóricos, metodológicos não
pois, uma maior compreensão do papel que o devam ser ensinados aos docentes, mas que
contexto atual exige do professor. apenas eles não suficientes, para que o professor
A preocupação maior parece estar, ainda, aja com eficácia.
com a transmissão do conhecimento, com o
desenvolvimento de habilidades e competências
Considerações Finais
dos alunos, embora tenhamos professores com
uma concepção mais ampla. Métodos e técnicas
atualizados são entendidos como aspectos Ao retomarmos os achados da pesquisa,
principais para que a prática seja eficiente, como podemos notar que o conceito de prática
vimos na fala de uma das professoras pedagógica ainda permanece muito arraigado à
entrevistadas. Inclusive, cabe ressaltar que essa ideia de transmissão do conhecimento, à
percepção está presente no discurso das políticas competência instrumental.
para a formação de professores do nosso país. O Conforme salientado, reiteradamente,
governo defende uma formação que não seja nesse texto, em nenhum momento discorda-se do
descontextualizada, com forte ênfase na teoria, fato de que as questões metodológicas, técnicas
em detrimento das questões de ordem não sejam relevantes, entretanto, como ressalta
metodológicas e didáticas, o que é importante. Freire (1986) a educação não é só uma questão
Entretanto, nessa lógica, as políticas de de métodos e técnicas, essa passa pela questão do
formação de professores têm sido pensadas a estabelecimento de uma relação diferente com o
partir da ideia de que o professor não sabe, de conhecimento e com a sociedade. Um das
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principais tarefas da educação, desde essa desencadear um processo de investigação-ação,
perspectiva, seria o estímulo à crítica. pois essa
Proporcionar que as pessoas adquiram uma visão
crítica que lhes permitam “ler” a sua própria [...] surge com o objectivo de contribuir para
melhorar a profissionalidade do professor,
realidade, que aprendam a razão de ser dos fatos através de um aprofundamento de sua
capacidade de análise crítica das condições em
que elas descobrem, para que possam, se não que se desenvolve o seu trabalho com os alunos,
concordarem, fazer algo a respeito, agir, os outros professores, assim como das pressões e
limitações que as estruturas sociais e
mobilizarem-se. institucionais exercem na sua atividade docente.
(STEVENSON, 1991 apud GÁRCIA, 1999, p.
A competência do professor desenvolve-se 185)
na medida em que ele vai aprendendo a
Como vimos, a sociedade atual exige uma
transformar sua prática pedagógica, por meio
educação comprometida com mudanças e
uma ação consciente, a qual exige uma postura
transformações sociais, por consequência, tal
reflexiva incessante, durante todo o processo.
exigência recai sobre os professores, os quais
Reflexão essa que não é limitada apenas ao
deverão desenvolver uma linguagem múltipla,
espaço da sala de aula, mas também ao que está
capaz de abarcar toda uma diversidade. Para que
“fora” dela, e que, no entanto, determina muito
isso ocorra é preciso mudar a lógica da formação
do que ali acontece. A competência profissional
desses profissionais que permita a esses
docente está relacionada à capacidade de
perceberem-se como sujeitos que transformam e,
compreensão da forma em que os contextos
ao mesmo tempo, são transformados pelas
condicionam e mediam o exercício profissional,
contingências da profissão. Pimenta (2005)
bem como com a capacidade de intervenção
coloca que a educação não só retrata e reproduz a
nesses âmbitos. (CONTRERAS, 2002).
sociedade, mas também projeta a sociedade
A breve investigação realizada acerca da
desejada. Por isso, vincula-se profundamente ao
concepção dos professores sobre o que seria
processo civilizatório e humano. A autora
prática pedagógica aponta que ter consciência
complementa seu pensamento dizendo que a
das diferentes dimensões que essa envolve não é
prática pedagógica, a educação tem,
simples e deve ser a principal tarefa dos cursos
historicamente, o desafio de responder às
de formação inicial e continuada dos docentes.
demandas que os contextos lhes colocam. É esse,
Para que os professores desenvolvam tal
pois, o pensamento que precisa ser construído
concepção, faz-se necessário estar presente nas
com os professores, a fim de que se possam ter
propostas de formação possibilidades em que
práticas pedagógicas, as quais consistam num:
eles possam narrar e refletir sobre os próprios
saberes e fazeres. Para isso, o estímulo ao
[...] processo de ação e de reflexão cooperativa,
exercício de indagação sobre a prática da sala de de indagação e experimentação, no qual o
professor/a aprende e ensina porque aprende,
aula e do contexto na qual essa se insere, é intervém para facilitar, e não para impor, nem
imprescindível. Indagação essa que deve substituir a compreensão dos alunos/as, a
reconstrução do seu conhecimento experencial; e
ao refletir sobre a sua intervenção exerce e
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desenvolve sua própria compreensão.
(SACRISTÁN E PÉREZ GOMÉZ, 1998, p.
379)
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