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Livro. Equaçoes Diferenciais Ordinarias Series Potencia37-Manuscrito de Livro-134-1!10!20200505
Livro. Equaçoes Diferenciais Ordinarias Series Potencia37-Manuscrito de Livro-134-1!10!20200505
e séries de potências
Reitora Márcia Abrahão Moura
Vice-Reitor Enrique Huelva
EDITORA
ISBN 978-85-230-1016-4.
Impresso no Brasil
S UMÁRIO
Apresentação 9
1 Equações diferenciais 13
1.1 EDO separável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.2 EDO linear de 1ª ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.3 EDO linear de 2ª ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
1.4 Coeficientes constantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
1.5 Coeficientes variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
A Apêndice 313
A.1 Regra de Cramer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313
A.2 EDO linear de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . . 316
A.3 Sequência monótonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331
A.4 Integral imprópria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 332
A.5 Exponencial complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335
A.6 Derivada de séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . 342
A.7 Soluções por séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . 345
Referências 353
Agradecimentos
PARA O ESTUDANTE
O Cálculo é a matemática do movimento. No primeiro curso de Cálculo,
aprendemos que as quantidades que se movem são dadas por funções
reais; os limites de funções fornecem as tendências do movimento des-
sas quantidades; as derivadas de funções fornecem as taxas de variação
dessas quantidades; e a integral é a antiderivada: dada a taxa de variação
de uma quantidade, sua integral é a quantidade original. Neste livro, va-
mos aprofundar o estudo do movimento, ampliando nossas técnicas de
integração e nosso repertório de funções.
As equações que descrevem o movimento e, de maneira mais ge-
ral, taxas de variação, são denominadas equações diferenciais ordiná-
rias (EDOs) e o fio condutor deste livro é um primeiro estudo sistemá-
tico desse tipo de equação. Os primeiros exemplos de EDOs do Capí-
tulo 1 têm origem na famosa 2ª Lei de Newton (F = ma). Por exem-
plo, na queda livre vertical sem atrito, a aceleração é constante e igual
a −g e a velocidade pode ser obtida por integração direta, obtendo
assim a conhecida velocidade do movimento uniformemente variado
v(t ) = v 0 − g t , onde v 0 é a velocidade inicial. Já na queda livre com
atrito, a aceleração depende da velocidade e não é possível obter essa
velocidade por integração direta. Outro exemplo dinâmico é um sistema
massa-mola, em que a força depende da posição e, novamente, não é
possível obter essa posição por integração direta. Um exemplo estático é
determinar a forma de um cabo suspenso sob seu próprio peso, conhe-
cido como problema da catenária. Ao final do Capítulo 1, vamos estudar
10 Apresentação
PARA O PROFESSOR
Neste livro, apresentamos uma introdução às EDOs na qual as séries de
potências aparecem pela necessidade de resolver EDOs de coeficientes
variáveis. O livro foi elaborado para o atual curso de Cálculo 2 da UnB,
cuja nova ementa consiste numa introdução às EDOs e às séries de po-
tências. O intuito dessa nova ementa, resultado da reforma dos Cálculos
implementada em 2012, é aproveitar as sinergias que existem entre esses
dois assuntos, que não costumam ser tratados no mesmo livro. Busca-
mos simplicidade e rigor, numa exposição autocontida que dá ênfase aos
conceitos essenciais e, ao mesmo tempo, a demonstrações acessíveis. A
seguir ilustramos esses princípios, apresentando algumas das contribui-
ções introduzidas no livro.
Apresentação 11
S OFTWARE LIVRE
Esse livro foi elaborado por meio do LATEX no ambiente TEXStudio, en-
quanto suas figuras foram elaboradas por meio do Inkscape, todos eles
software livres.
F = ma
= mv 0 (t )
= mx 00 (t )
Exemplos
1) Velocidade da queda livre sem atrito: numa queda livre ver-
tical sem atrito, a única força que atua no corpo é a força peso,
dada por
F = −mg
onde m é a massa do corpo, e g a aceleração da gravidade.
−mg
Nesse caso a 2ª Lei de Newton é dada pela EDO
mv 0 (t ) = −mg
e, portanto,
v 0 (t ) = −g
onde a incógnita é a função velocidade vertical v(t ). Uma vez
que a força é constante, a função incógnita pode ser encon-
trada simplesmente integrando os dois lados da EDO
Z Z
0
v (t ) d t = −g d t
v(t ) + A = −g t + B
v(0) = C
15
−mg
Nesse caso a 2ª Lei de Newton é dada pela EDO
mv 0 (t ) = −mg − bv(t )
e, portanto,
b
v 0 (t ) = −g − v(t )
m
onde a incógnita é a função velocidade vertical v(t ), definida
para t ≥ 0, isto é, a partir do instante t = 0 em que o corpo
começa a queda livre e daí em diante.
Nesse caso a força não é constante e depende da própria
função incógnita, por isso não é possível obter v(t ) integrando
os dois lados.
F = −kx
0 x
Nesse caso a 2ª Lei de Newton é dada pela EDO
mx 00 (t ) = −kx(t )
1
F = −G M m
x2
onde x é a distância entre a Terra e o asteroide, G é a cons-
tante de gravitação universal, m é a massa do asteroide e M é
a massa da Terra.
M F m
0 x
17
1
mx 00 (t ) = −G M m
x(t )2
Definição 1.1
Uma solução de uma EDO é uma função y(t ) que satisfaz a EDO. O
tipo mais simples de solução é a solução constante y(t ) = c. No con-
texto do movimento, uma solução constante também é chamada de
solução de equilíbrio, pois corresponde à ausência de movimento.
Definição 1.2
x(0) = x 0 x 0 (0) = v 0
ax + b y = c x y = 1, x 2 + y 2 = 1, etc.
coeficientes: a, b
Definição 1.3
Definição 1.4
Observe que, quando uma EDO é não linear, não faz sentido falar de
seus coeficientes nem de seu forçamento. Porém, sempre podemos falar
da ordem de uma EDO.
Definição 1.5
Por exemplo, uma EDO linear de ordem dois, ou segunda ordem, tem
a forma
a(t )y 00 (t ) + b(t )y 0 (t ) + c(t )y(t ) = f (t )
com coeficientes dados por funções conhecidas a(t ), b(t ), c(t ) e força-
mento conhecido f (t ). Vamos voltar aos exemplos anteriores para ex-
plorar todas essas definições.
Exemplos
1) Velocidade da queda livre sem atrito:
mv 0 (t ) = −mg
v(0) = v 0
C = v0
logo
v(t ) = v 0 − g t
é a única solução que satisfaz a condição inicial dada.
v 0 (t ) = −g − av(t )
(v eq )0 + av eq = −g
0 + av eq = −g
g
v eq = −
a
Portanto, temos apenas uma solução de equilíbrio
g mg
v(t ) = − =−
a b
21
mx 00 (t ) = −kx(t )
mx 00 (t ) + kx(t ) = 0
m(x eq )00 + kx eq = 0
0 + kx eq = 0
x eq = 0
x 00 (t ) + x(t ) = 0
x(t ) = c 1 x 1 (t ) + c 2 x 2 (t )
= c 1 cos(t ) + c 2 sen(t )
x0 = c1
v 0 = c2
Logo,
x(t ) = x 0 cos(t ) + v 0 sen(t )
é a única solução que satisfaz as condições iniciais dadas.
1
mx 00 (t ) = −G M m
x(t )2
É uma EDO 2ª ordem não linear, pois não pode ser colocada
na forma linear.
Podemos procurar soluções de equilíbrio fazendo x(t ) =
23
1
m(x eq )00 = −G M m
(x eq )2
1
0 = −G M m
(x eq )2
e que
µ ¶− 4
1 1 3 3
− = −µ = − p t +1
x(t )2 ³ ´2 2
¶
2
3
p3 t +1
2
Veremos que EDOs têm aplicações fora da Física, sendo uma das
principais ferramentas para se estudar as mudanças de quantidades que
variam em função de outras quantidades. Veremos também que fenô-
menos diferentes podem ser modelados pela mesma EDO. Assim, resol-
vendo a EDO matematicamente, teremos resolvido simultaneamente to-
dos os fenômenos modelados por ela.
Notação
Muitas vezes quando estiver implícito que a variável indepen-
dente é t , para simplificar a EDO, omitimos t da função incóg-
nitas escrevendo y, y 0 , y 00 , . . . , no lugar de y(t ), y 0 (t ), y 00 (t ), . . .
Por exemplo, a EDO
1
m y 00 (t ) = −G M m
y(t )2
fica
1
m y 00 = −G M m
y2
É importante lembrar que, nessa notação, tanto y quanto y 0 e
y 00 são funções de t .
y 0 = F (t )G(y)
Exemplos
1) A EDO
y 0 (t ) − t 3 y(t )2 = 0
é separável, pois pode ser escrita como
y 0 (t ) = t 3 y(t )2
onde F (t ) = t 3 e G(y) = y 2 .
2) A EDO
y 0 (t ) − t 3 y(t )2 = t 3
26 Capítulo 1. Equações diferenciais
y0 − t3y2 = t3
y 0 = t 3 (1 + y 2 )
3) A EDO
y 0 (t ) − t 3 y(t )2 = t 2
não é separável, pois o lado direito de
y 0 = t 2 (1 + t y 2 )
−mg
1.1. EDO separável 27
mv 0 (t ) = −mg − bv(t )
e, portanto,
v 0 (t ) = −g − av(t )
b
onde a = m e a incógnita é a função velocidade vertical v(t ),
definida para t ≥ 0, isto é, a partir do instante t = 0 em que o
corpo começa a queda livre e daí em diante.
Escrevendo a EDO na forma
v 0 = −g − av
F ar = bv 2
−mg
28 Capítulo 1. Equações diferenciais
mv 0 (t ) = −mg + bv 2 (t )
e, portanto,
v 0 (t ) = av 2 (t ) − g
b
onde a = m é arraste por unidade de massa.
Escrevendo a EDO na forma
v 0 = av 2 − g
Passos
1) Soluções constantes: Encontrar as raízes de
G(c) = 0
y 0 (t )
= F (t )
G(y(t ))
y 0 (t )
Z Z
dt = F (t ) d t
G(y(t ))
y = y(t ), d y = y 0 (t )d t
Vamos aplicar os passos acima para obter a solução geral das EDOs
separáveis vistas anteriormente.
Exemplos
1) Vimos que a EDO
y 0 (t ) − t 3 y(t )2 = 0
30 Capítulo 1. Equações diferenciais
y0 = t3y2
y2 = 0 ⇐⇒ y =0
y(t ) = 0
Separar: Pelo que vimos acima, essa EDO pode ser sepa-
rada
1 0
2
y = t3
y
Integrar: Integrando a equação acima
1
Z Z
y (t ) d t = t 3 d t
0
y(t )2
substituindo y = y(t ), d y = y 0 (t )d t
µZ ¶
1
Z
dy = t3 dt
y2 y=y(t )
onde
1 1
Z
2
dy =− + A
y y
e
t4
Z
t3 dt = +B
4
Isolar: Obtemos a equação
1 t4
− = +C
y 4
1.1. EDO separável 31
1 t 4 + 4C
=−
y 4
4
y(t ) = −
t4 +D
onde D = 4C é uma constante arbitrária. A solução geral da
EDO é dada pela expressão acima e pela solução de equilíbrio
y(t ) = 0.
y 0 (t ) − t 3 y(t )2 = t 3
y 0 = t 3 (1 + y 2 )
1 + y2 = 0
1
y0 = t3
1 + y2
32 Capítulo 1. Equações diferenciais
1
Z Z
y (t ) d t = t 3 d t
0
1 + y(t )2
onde
1
Z
d y = atg(y) + A
1 + y2
e
t4
Z
t3 dt = +B
4
Isolar: Obtemos a equação
t4
atg(y) = +C
4
onde C = B − A é uma constante arbitrária. Podemos isolar
y = y(t ) nessa equação algébrica aplicando a função tangente
em ambos os lados, de modo que
t4
µ ¶
y(t ) = tg +C
4
−g − av = 0 ⇐⇒ v = −g /a
1.1. EDO separável 33
Separar: Pelo que vimos acima, essa EDO pode ser sepa-
rada
1
v0 = 1
−g − av
Integrar: Integrando a equação acima
1
Z Z
0
v (t ) d t = 1 d t
−g − av(t )
1 du
µZ ¶ Z
= 1dt
u −a v=v(t )
onde
1 du
µZ ¶
1
= log | − g − av(t )| + A
u −a v=v(t ) −a
e Z
1dt = t +B
| − g − av(t )| = e −at +C
= e C e −at
= De −at
−g − av(t ) = E e −at
34 Capítulo 1. Equações diferenciais
C ATENÁRIA
e t − e −t
senh(t ) =
2
de modo que
cosh0 (t ) = senh(t )
Também não é difícil verificar que seno e cosseno hiperbólicos satisfa-
zem a equação da hipérbole unitária, de modo que
cosh2 (t ) − senh2 (t ) = 1
α
y(x)
A
H
O x
T sen(α) = P
T cos(α) = H
P = g ρL
tg(α) = y 0 (x)
e que Z xq
L= 1 + y 0 (t )2 d t
0
Substituindo essas informações na equação de equlíbrio acima, temos
que
gρ x
Z q
0
y (x) = 1 + y 0 (t )2 d t
H 0
Derivando essa equação, obtemos a seguinte EDO
gρ
q
y 00 (x) = 1 + y 0 (x)2
H
Fazendo z(x) = y 0 (x) e substituindo na EDO acima, obtemos
gρp
z 0 (x) = 1 + z(x)2
H
que é uma EDO separável. Vamos então aplicar os passos para obter a
solução z(x) que satisfaz a condição inicial
z(0) = y 0 (0) = 0
Passos
1) Soluções constantes: Encontrando as raízes de
p
1 + z2 = 0 ⇐⇒ 1 + z2 = 0
1 gρ
p z 0 (x) =
1 + z(x)2 H
1 gρ
Z Z
0
p z (x) d x = dx
1 + z(x)2 H
gρ
µZ ¶
1
Z
p dz = dx
1 + z2 z=z(x) H
onde
gρ gρ
Z
dx = x+A
H H
A determinação da integral
1
Z
p dz
1 + z2
se dá através da substituição trigonométrica hiperbólica
z = senh(t )
de modo que
d z = cosh(t ) d t
e que
1 + z 2 = 1 + senh2 (t ) = cosh2 (t )
uma vez que
cosh2 (t ) − senh2 (t ) = 1
1.1. EDO separável 39
1 1
Z Z
p dz = cosh(t ) d t
1 + z2 cosh(t )
Z
= 1dt
= t +B
H
0 = y(0) = cosh (0) +C
gρ
de modo que
H
C =−
gρ
40 Capítulo 1. Equações diferenciais
H ³ ³gρ ´ ´
y(x) = cosh x −1
gρ H
Exemplos
1) Velocidade da queda livre com atrito:
mv 0 (t ) = −mg − bv(t )
mv 0 (t ) + bv(t ) = −mg
mv 0 (t ) = −mg + bv 2 (t )
a 1 (t )y 0 + a 0 (t )y = f (t )
0
a 1 (t )y + a 0 (t )y = 0
y 0 + p(t )y = g (t )
y 0 + p(t )y = 0
onde
a 0 (t )
p(t ) =
a 1 (t )
f (t )
g (t ) =
a 1 (t )
Proposição 1.6
y 0 + p(t )y = g (t )
42 Capítulo 1. Equações diferenciais
é dada por
y(t ) = c(t )e −P (t )
onde Z
c(t ) = g (t )e P (t ) d t
e Z
p(t ) d t = P (t ) +C
Prova:
Multiplicando a EDO não homogênea pelo denominado fator inte-
grante e P (t ) , temos que
e P (t ) y 0 (t ) + p(t )e P (t ) y(t ) = g (t )e P (t )
de modo que
y(t ) = c(t )e −P (t )
1.2. EDO linear de 1ª ordem 43
onde Z
c(t ) = g (t )e P (t ) d t
Proposição 1.7
y 0 + p(t )y = 0
é dada por
y(t ) = c 1 e −P (t )
onde c 1 ∈ R.
Prova:
Basta aplicar a solução geral da não homogênea, observando que
g (t ) = 0, de modo que c(t ) = c 1 é uma constante.
Exemplos
1) A EDO
y 0 (t ) − 2t y(t ) = 0
é linear homogênea, sendo igual à sua homogênea associada.
Temos que p(t ) = −2t , de modo que
Z Z
p(t ) d t = −2t d t = −t 2 +C
onde c 1 ∈ R.
2) A EDO
t y 0 (t ) − y(t ) = t 2
é linear não homogênea e sua homogênea associada é dada
por
t y 0 (t ) − y(t ) = 0
Para t > 0, essa EDO não homogênea pode ser escrita na sua
forma normal
1
y 0 (t ) − y(t ) = t
t
e sua homogênea associada também
1
y 0 (t ) − y(t ) = 0
t
1
Z Z
p(t ) d t = − d t = − log(t ) +C
t
y(t ) = c 1 e −P (t ) = c 1 e log(t ) = c 1 t
Z
= t t −1 d t
Z
= 1dt
= t + c1
y(t ) = c(t )e −P (t )
= (t + c 1 )e log(t )
= (t + c 1 )t
onde c 1 ∈ R.
mv 0 (t ) + bv(t ) = −mg
v 0 (t ) + av(t ) = −g
onde
Z
c(t ) = −g e at d t
46 Capítulo 1. Equações diferenciais
e at
= −g + c1
a
e, portanto
e at
µ ¶
v(t ) = −g + c 1 e −at
a
g
= − + c 1 e −at
a
é a solução geral da queda livre com atrito.
mv 0 (t ) + bv(t ) = −mg
é dada por
g
v(t ) = − + c 1 e −at
a
A solução com velocidade inicial dada por
v(0) = v 0
(PVI).
O próximo resultado mostra que um PVI para uma EDO linear de 1ª
ordem sempre possui uma única solução.
Proposição 1.8
y(0) = y 0
Prova:
Fixando P (t ) uma primitiva de p(t ) e F (t ) uma primitiva de e P (t ) g (t ),
temos que a solução geral da EDO é dada por
y(t ) = c(t )e −P (t )
onde
Z
c(t ) = e P (t ) g (t ) d t
= C (t ) + c 1
y(t ) = (C (t ) + c 1 )e −P (t )
y 0 = y(0)
= (C (0) + c 1 )e −P (0)
1.3. EDO linear de 2ª ordem 49
c 1 = y 0 e P (0) −C (0)
Exemplos
1) Posição no sistema Massa-Mola-Amortecimento (MMA):
Considere o deslocamento x(t ) a partir da posição de equi-
líbrio de um bloco de massa m acoplado a uma mola, a um
amortecedor e a um forçamento externo.
50 Capítulo 1. Equações diferenciais
0 x
Pela Lei de Hooke, a força da mola é proporcional à posição e
dada por
F M = −kx(t )
onde k é a constante de Hooke da mola. Já a força de amorte-
cimento é proporcional à velocidade e dada por
F A = −bx 0 (t )
F E = f (t )
F = F A + F M + FE
mx 00 (t ) = −bx 0 (t ) − kx(t ) + f (t )
de modo que
mx 00 (t ) + bx 0 (t ) + kx(t ) = f (t )
1.3. EDO linear de 2ª ordem 51
E L
q(t )
C
A queda de tensão nas extremidades do capacitor é proporci-
onal à carga q(t ) armazenada por ele e dada por
VC = C q(t )
VR = R q 0 (t )
VL = Lq 00 (t )
52 Capítulo 1. Equações diferenciais
VE = E (t )
de modo que
VL + VR + VC = VE
ou seja
Lq 00 (t ) + R q 0 (t ) +C q(t ) = E (t )
onde L, R,C podem variar com o tempo. As condições iniciais
são dadas por
½
q(0) = q 0 carga inicial
q 0 (0) = i 0 corrente inicial
S OLUÇÃO GERAL
Uma EDO linear de 2ª ordem e sua homôgenea associada são dadas por
a 2 (t )y 00 + a 1 (t )y 0 + a 0 (t )y = f (t )
00 0
a 2 (t )y + a 1 (t )y + a 0 (t )y = 0
1.3. EDO linear de 2ª ordem 53
y 00 + q(t )y 0 + p(t )y = g (t )
y 00 + q(t )y 0 + p(t )y = 0
onde
a 1 (t ) a 0 (t ) f (t )
q(t ) = p(t ) = g (t ) =
a 2 (t ) a 2 (t ) a 2 (t )
Exemplo
Considere a EDO linear de 2ª ordem dada por
t 2 y 00 (t ) + 2t y 0 (t ) − 2y(t ) = t 5
t 2 y 00 (t ) + 2t y 0 (t ) − 2y(t ) = 0
2 2
y 00 (t ) + y 0 (t ) − 2 y(t ) = t 3
t t
2 2
y 00 (t ) + y 0 (t ) − 2 y(t ) = 0
t t
54 Capítulo 1. Equações diferenciais
de modo que
2
q(t ) =
t
−2
p(t ) =
t2
g (t ) = t 3
estão definidas no intervalo t > 0.
Proposição 1.9
é dada por
y(t ) = y p (t ) + y h (t )
Prova:
Primeiro vamos mostrar que, se z(t ) é solução da homogênea asso-
ciada, então y p (t )+z(t ) é solução da não homogênea. De fato, temos
1.3. EDO linear de 2ª ordem 55
que
¡ ¢00
¡ ¢0 ¡ ¢
y p (t ) + z(t )
+ q(t ) y p (t ) + z(t ) + p(t ) y p (t ) + z(t )
³ ´ ³ ´
= y p00 (t ) + z 00 (t ) + q(t ) y p0 (t ) + z 0 (t ) + p(t ) y p (t ) + z(t )
¡ ¢
³ ´ ¡
= y p00 (t ) + q(t )y p0 (t ) + p(t )y p (t ) + z 00 (t ) + q(t )z 0 (t ) + p(t )z(t )
¢
= g (t ) + 0
= g (t )
S OLUÇÃO DA HOMOGÊNEA
Vamos mostrar que a solução geral de uma EDO linear de 2ª ordem ho-
mogênea
y 00 + q(t )y 0 + p(t )y = 0
Exemplo
Temos que
y 1 (t ) = t e y 2 (t ) = t −2
y(t ) = c 1 t + c 2 t −2
onde c 1 , c 2 ∈ R.
y 2 (t ) 0 W (y 1 (t ), y 2 (t ))
µ ¶
=
y 1 (t ) y 1 (t )2
onde
W (y 1 (t ), y 2 (t )) = y 20 (t )y 1 (t ) − y 10 (t )y 2 (t )
é denominado o Wronskiano de y 1 (t ) e y 2 (t ). Note que o Wronskiano é
dado pelo seguinte determinante
¯ ¯
¯ y 1 (t ) y 2 (t ) ¯
W (y 1 (t ), y 2 (t )) = ¯ 0
¯ ¯
y 1 (t ) y 20 (t ) ¯
1.3. EDO linear de 2ª ordem 57
Exemplo
y 1 (t ) = t e y 2 (t ) = t −2
da Equação de Euler
t 2 y 00 (t ) + 2t y 0 (t ) − 2y(t ) = 0
é dado por
t −2 ¯¯
¯ ¯
−2
¯ t
W (t , t ) = ¯¯
(t )0 (t −2 )0 ¯
t −2 ¯¯
¯ ¯
¯ t
= ¯¯
1 −2t −3 ¯
= t (−2t −3 ) − t −2 (1)
= −3t −2
Então
W (y 1 (t ), y 2 (t )) = ce −Q(t )
58 Capítulo 1. Equações diferenciais
onde c ∈ R e Z
q(t ) d t = Q(t ) +C
Prova:
Por simplicidade, vamos denotar W (y 1 (t ), y 2 (t )) por
W (t ) = y 20 (t )y 1 (t ) − y 10 (t )y 2 (t )
de modo que
W 0 (t ) = (y 20 (t )y 1 (t ) − y 10 (t )y 2 (t ))0
= y 200 (t )y 1 (t ) + y 10 (t )y 20 (t )
−y 100 (t )y 2 (t ) − y 20 (t )y 10 (t )
= y 200 (t )y 1 (t ) − y 100 (t )y 2 (t )
W 0 (t ) + q(t )W (t ) = 0
W (t ) = ce −Q(t )
1.3. EDO linear de 2ª ordem 59
onde c ∈ R e Z
q(t ) d x = Q(t ) +C
Exemplo
A Equação de Euler
t 2 y 00 (t ) + 2t y 0 (t ) − 2y(t ) = 0
2 2
y 00 (t ) + y 0 (t ) − 2 y(t ) = 0
t t
de modo que
2
q(t ) =
t
Segue-se que
Q(t ) = 2 log(t )
de modo que, pela Fórmula de Abel, temos que
W (t ) = ce −Q(t ) = c t −2
Proposição 1.11
Prova:
Vamos mostrar que (A) é equivalente a (B) e, depois, que (B) é equi-
valente a (C).
Para mostrar que (A) e (B) são equivalentes, primeiro lembramos
que
W (y 1 (t ), y 2 (t )) = ce −Q(t )
onde c ∈ R. Segue-se então que
W (y 1 (t 0 ), y 2 (t 0 )) 6= 0
c 6= 0
W (y 1 (t ), y 2 (t )) 6= 0
para todo t .
Para mostrar que (B) e (C) são equivalentes, primeiro lembramos
que
y 2 (t ) 0 W (y 1 (t ), y 2 (t ))
µ ¶
=
y 1 (t ) y 1 (t )2
1.3. EDO linear de 2ª ordem 61
Proposição 1.12
y h (t ) = c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t )
onde c 1 , c 2 ∈ R.
Prova:
Como y 1 (t ) e y 2 (t ) são soluções fundamentais, temos que
W (y 1 (t ), y 2 (t )) = y 20 (t )y 1 (t ) − y 10 (t )y 2 (t ) 6= 0
z(t ) a y 2 (t )
= + c1
y 1 (t ) b y 1 (t )
z(t ) = c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t )
(c 1 y 100 (t )+c 2 y 200 (t ))+ q(t )(c 1 y 10 (t )+c 2 y 20 (t ))+ p(t )(c 1 y 1 (t )+c 2 y 2 (t )) = 0
Exemplos
1) Temos que
y 1 (t ) = t e y 2 (t ) = t −2
2 2
y 00 (t ) + y 0 (t ) − 2 y(t ) = 0
t t
para t > 0. Temos então que a solução geral dessas duas EDO
para t > 0 é dada por
y(t ) = c 1 t + c 2 t −2
onde c 1 , c 2 ∈ R.
mx 00 (t ) = −kx(t )
k
onde p(t ) = m e q(t ) = 0. Temos que
µq ¶ µq ¶
k k
x 1 (t ) = cos mt e x 2 (t ) = sen mt
onde c 1 , c 2 ∈ R.
y 00 + q(t )y 0 + p(t )y = g (t )
será dada a partir da solução geral da sua homogêna associada por meio
do método denominado Variação dos Parâmetros.
Passos
1) Variar os parâmetros: Procurar uma solução da EDO não
homogênea da forma y(t ) = c 1 (t )y 1 (t ) + c 2 (t )y 2 (t ), substi-
tuindo os parâmetros c 1 e c 2 da solução geral c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2
da homogêna associada por funções c 1 (t ) e c 2 (t ), que são as
novas incógnitas.
y(t ) = y 1 (t )c 1 (t ) + y 2 (t )c 2 (t )
segue-se que
y 0 (t ) = y 10 (t )c 1 (t ) + y 20 (t )c 2 (t ) +
+ c 10 (t )y 1 (t ) + c 20 (t )y 2 (t )
c 10 (t )y 1 (t ) + c 20 (t )y 2 (t ) = 0
y 0 (t ) = y 10 (t )c 1 (t ) + y 20 (t )c 2 (t )
de modo que
y 00 (t ) = y 100 (t )c 1 (t ) + y 200 (t )c 2 (t ) +
+ c 10 (t )y 10 (t ) + c 20 (t )y 20 (t )
y 00 (t ) = y 100 (t )c 1 (t ) + y 200 (t )c 2 (t )
+ c 10 (t )y 10 (t ) + c 20 (t )y 20 (t )
g (t ) = c 10 (t )y 10 (t ) + c 20 (t )y 20 (t )
66 Capítulo 1. Equações diferenciais
y 10 (t )c 10 (t ) + y 20 (t )c 20 (t ) = g (t )
Proposição 1.13
é dada por
y(t ) = c 1 (t )y 1 (t ) + c 2 (t )y 2 (t )
onde
g (t )y 2 (t )
Z
c 1 (t ) = − dt
W (t )
g (t )y 1 (t )
Z
c 2 (t ) = dt
W (t )
Prova:
Basta notar que c 1 (t ) = C 1 (t ) + c 1 e também que c 2 (t ) = C 2 (t ) + c 2 ,
onde c 1 , c 2 ∈ R. A solução dada pelo método da Variação dos Parâ-
metros pode então ser escrita como
y(t ) = (C 1 (t ) + c 1 ) y 1 (t ) + (C 2 (t ) + c 2 ) y 2 (t )
¡ ¢ ¡ ¢
= C 1 (t )y 1 (t ) +C 2 (t )y 2 (t ) + c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t )
y p (t ) = C 1 (t )y 1 (t ) +C 2 (t )y 2 (t )
68 Capítulo 1. Equações diferenciais
y h (t ) = c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t )
Exemplo
Vimos que
y 1 (t ) = t e y 2 (t ) = t −2
são soluções fundamentais da EDO
2 2
y 00 (t ) + y 0 (t ) − 2 y(t ) = 0
t t
que é a homogênea associada à EDO não homogênea
2 2
y 00 (t ) + y 0 (t ) − 2 y(t ) = t 3
t t
Vimos também que o Wronskiano dessas duas soluções fun-
damentais é dado por
W (t ) = −3t −2
y(t ) = c 1 (t )y 1 (t ) + c 2 (t )y 2 (t )
g (t )y 2 (t )
Z
c 1 (t ) = − dt
W (t )
t 3 t −2
Z
= − dt
−3t −2
1.3. EDO linear de 2ª ordem 69
t3
Z
= dt
3
t4
= + c1
12
e
g (t )y 1 (t )
Z
c 2 (t ) = dt
W (t )
t 3t
Z
= dt
−3t −2
t6
Z
= − dt
3
t7
= − + c2
21
A solução geral da EDO não homogênea é então dada por
t4
µ 7
t
µ ¶ ¶
y(t ) = + c 1 t + − + c 2 t −2
12 21
5 5
t t
= − + c 1 t + c 2 t −2
12 21
t5
= + c 1 t + c 2 t −2
28
Observe que
t5
y p (t ) =
28
é uma solução particular da EDO não homogênea, enquanto
y h (t ) = c 1 t + c 2 t −2
y(t ) = y p (t ) + y h (t )
x(0) = x 0 x 0 (0) = v 0
onde c 1 , c 2 ∈ R e s
k
ω=
m
é a frequência natural de vibração desse sistema massa-mola.
Temos então
x 0 (t ) = −c 1 ω sen(ωt ) + c 2 ω cos(ωt )
x 0 = x(0) = c 1
v 0 = x 0 (0) = c 2 ω
Proposição 1.14
y(0) = y 0 y 0 (0) = v 0
Prova:
Fixando soluções fundamentais y 1 (t ) e y 2 (t ) e uma solução particu-
lar y p (t ) , temos que a solução geral da EDO é da forma
y(t ) = c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t ) + y p (t )
Segue-se que
y 0 (t ) = c 1 y 10 (t ) + c 2 y 20 (t ) + y p0 (t )
72 Capítulo 1. Equações diferenciais
y 0 = y(0)
= c 1 y 1 (0) + c 2 y 2 (0) + y p (0)
v 0 = y 0 (0)
= c 1 y 10 (0) + c 2 y 20 (0) + y p0 (0)
y 00 + q(t )y 0 + p(t )y = 0
Proposição 1.15
é dada por
y(t ) = y 0 y 1 (t ) + v 0 y 2 (t )
Prova:
Para mostrar que y 1 (t ) e y 2 (t ) são fundamentais, basta notar que seu
Wronskiano em t = 0 é diferente de zero. De fato
¯ ¯ ¯ ¯
¯ y 1 (0) y 2 (0) ¯ ¯ 1 0 ¯
¯ y 0 (0) y 0 (0) ¯ = ¯ 0 1 ¯ = 1 6= 0
¯ ¯ ¯ ¯
1 2
y(t ) = c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t )
de modo que
y 0 (t ) = c 1 y 10 (t ) + c 2 y 20 (t )
Segue-se então das condições iniciais que
y 0 = y(0)
= c 1 y 1 (0) + c 2 y 2 (0)
= c1
74 Capítulo 1. Equações diferenciais
v 0 = y 0 (0)
= c 1 y 10 (0) + c 2 y 20 (0)
= c2
como queríamos.
Exemplo
As soluções canônicas da EDO
mx 00 (t ) + kx(t ) = 0
1
x 1 (t ) = cos(ωt ) e x 2 (t ) = sen(ωt )
ω
p
onde ω = k/m. De modo que a solução com condições ini-
ciais ½
x(0) = x 0
x 0 (0) = v 0
é dada por
1
x(t ) = x 0 cos(ωt ) + v 0 sen(ωt )
ω
y 00 + q y 0 + p y = 0
r 2 + qr + p = 0
Exemplo
A EDO y 00 − 5y 0 + 6y = 0 pode ser escrita como
(D 2 − 5D + 6)y = 0
76 Capítulo 1. Equações diferenciais
r 2 − 5r + 6 = 0
(r − 2)(r − 3) = 0
(D − 2)(D − 3)y = 0
(D − 2)y = 0
1.4. Coeficientes constantes 77
(D − 3) (D − 2)y = 0
| {z }
=0
y 1 = e 2t
y 2 = e 3t
raízes características: r 1 , r 2 ∈ R, r 1 6= r 2
soluções fundamentais: e r 1 t , e r2 t
e r1 t
e r2 t
Exemplo
y 00 (t ) − y 0 (t ) − 2y(t ) = 0
equação característica: r 2 − r − 2 = 0
soluções fundamentais: e −t , e 2t
Exemplo
A EDO y 00 − 6y 0 + 9y = 0 pode ser escrita como
(D 2 − 6D + 9)y = 0
r 2 − 6r + 9 = 0
(r − 3)(r − 3) = 0
(D − 3)(D − 3)y = 0
(D − 3)y = 0
(D − 3) (D − 3)y = 0
| {z }
=0
y 1 = e 3t
80 Capítulo 1. Equações diferenciais
y 2 = t e 3t
er t , t er t
1.4. Coeficientes constantes 81
raiz característica: r ∈ R
soluções fundamentais: e r t , t er t
t er t
er t
Exemplo
y 00 (t ) + 2y 0 (t ) + y(t ) = 0
82 Capítulo 1. Equações diferenciais
equação característica: r 2 + 2r + 1 = 0
raízes características: r = −1
soluções fundamentais: e −t , t e −t
R AÍZES COMPLEXAS
Novamente, vamos primeiro analisar o que acontece num exemplo.
Exemplo
A EDO y 00 − 8y 0 + 25y = 0 pode ser escrita como
(D 2 − 8D + 25)y = 0
r 2 − 8r + 25 = 0
como
(r − (4 + 3i ))(r − (4 − 3i )) = 0
Podemos eliminar o número imaginário i observando que
(D − 4)2 + 32 y = 0
¡ ¢
(D − 4)2 + 32 y = (D 2 − 8D + 25)y
¡ ¢
= y 00 − 4y 0 + 25y
de modo que
(D − 4)2 + 32 e 4t z = (D − 4)2 e 4t z + 32 e 4t z
¡ ¢
= e 4t z 00 + 32 e 4t z
= e 4t (z 00 + 32 z)
= 0
84 Capítulo 1. Equações diferenciais
z 00 + 32 z = 0
y 1 = e 4t z 1 = e 4t cos(3t ), y 2 = e 4t z 2 = e 4t sen(3t )
e at cos(bt ), e at sen(bt )
e at cos(bt )
e at sen(bt )
Exemplo
y 00 (t ) + 2y 0 (t ) + 5y(t ) = 0
equação característica: r 2 + 2r + 5 = 0
raízes características: r 1 , r 2 = −1 ± 2i
M ECÂNICA QUÂNTICA
A descrição quântica dos fenômenos subatômicos é probabilística. Por
exemplo, ao invés de descrevermos a posição de uma partícula subatô-
mica, descrevemos qual a probabilidade de encontrá-la em uma certa
região. Essa probabilidade é dada pela equação de Schroedinger, que é o
análogo quântico da Segunda Lei de Newton. Vamos descrever essa pro-
babilidade em algumas situações para mostrar a importância das EDOs
lineares de coeficientes variáveis nesse processo.
X 2 (x)
x1 x2
O SCILADOR HARMÔNICO
Exemplo
Quando λ = 0, a energia é mínima e a equação de Hermite é
dada por
y 00 (x) − 2x y 0 (x) = 0
e pode-se mostrar que suas soluções polinomiais são propor-
cionais a y(x) = 1 de modo que a densidade é proporcional a
2
X 2 (x) = e −x , ou seja, é a distribuição normal, cujo gráfico está
ilustrado na primeira figura desta seção.
mω2 ¡ 2
x + y2
¢
V (x, y) =
2
Exemplo
Quando a energia é mínima, então a energia em cada um dos
eixos x, y é mínima. Segue-se do exemplo unidimensional
2 2
que X 2 (x) = e −x e analogamente Y 2 (y) = e −y , de modo que
a densidade de probabilidade nesse caso é proporcional a
2
+y 2 ) 2
e −(x = e −r
p
onde r = x 2 + y 2 é distância do ponto (x, y) à origem. Ob-
serve que a densidade diminui à medida que r aumenta,
como ilustrado pela figura abaixo.
2
e −r
y
x
2
Observe também que os orbitais são dados por e −r cons-
tante, de modo que r é constante, ou seja, cada orbital é um
círculo no plano x, y centrado na origem.
mω2 ¡ 2
x + y 2 + z2
¢
V (x, y, z) =
2
Exemplo
Quando a energia é mínima, como no exemplo bidimensional,
2 2 2
segue-se que X 2 (x) = e −x , Y (y) = e −y e Z (z) = e −z , de modo
que a densidade de probabilidade nesse caso é proporcional a
2
+y 2 +z 2 ) 2
e −(x = e −r
p
onde r = x 2 + y 2 + z 2 é distância do ponto (x, y, z) à ori-
2
gem. Observe que os orbitais são dados por e −r constante,
de modo que r é constante, ou seja, cada orbital é uma esfera
no espaço x, y, z centrada na origem.
1.5. Coeficientes variáveis 91
ÁTOMO DE HIDROGÊNIO
r
y
φ
1 ¡ 2 0 ¢0 2mr 2 e2 1
µ ¶
r R (r ) − − − E = λ(λ + 1)
R(r ) ħ2 4π²0 r
92 Capítulo 1. Equações diferenciais
Φ(φ) = 1
e, uma vez que a longitude φ não aparece nessa equação, cada orbital é
uma superfície de revolução em relação ao eixo z.
Considerando primeiro a componente radial, fazendo a mudança de
escala p
−2mE
x= r
ħ
e procurando soluções na forma
onde y (n) (x) denota a n-ésima derivada de y(x), pode-se mostrar que a
função y(x) satisfaz a denominada equação de Laguerre
0≤µ≤λ<ν
Exemplos
1) Para o orbital s, temos que λ = 0, de modo que µ = 0 e ν > 0.
Por simplicidade, vamos considerar seu menor nível de ener-
gia ν = 1. A equação de Laguerre fica
R(r ) = x 0 e −x y 0 (2x)
R(r ) = e −x
(1 − x 2 )y 00 (x) − 2x y 0 (x) = 0
Θ(θ) = 1
R(r )Θ(θ) = e −x = c
R(r ) = xe −x
Θ(θ) = x = cos(θ)
y(x) = c 0 + c 1 x + c 2 x 2 + c 3 x 3 + · · · + c N x N
y(x) = c 0 + c 1 x + c 2 x 2 + · · · + c n x n + · · ·
1.5. Coeficientes variáveis 97
Exemplo
Consideremos a equação de Hermite
y(x) = c 0 + c 1 x + c 2 x 2 + · · · + c n x n + · · ·
y 0 (x) = 0 + c 1 + c 2 2x + · · · + c n nx n−1 + · · ·
8y(x) = 8c 0 + 8c 1 x + 8c 2 x 2 + · · · + 8c n x n + · · ·
+ (8c 1 − 2c 1 + 6c 3 )x
+ (8c 2 − 4c 2 + 12c 4 )x 2
+ ···
+ ···
= 0
c 0 = y 1 (0) = 1 c 1 = y 10 (0) = 0
de modo que
y 1 (x) = 1 + 0 · x + c 2 x 2 + · · · + c n x n + · · ·
2·0−8
c2 = c 0 = −4 · 1 = −4
2·1
µ ¶
2·2−8 1 4
c4 = c 2 = − · (−4) =
4·3 3 3
2·4−8 4
c6 = c4 = 0 · = 0
6·5 3
e, a partir daí, temos c 8 = c 10 = · · · = 0, uma vez que, pela
equação de recorrência, cada coeficiente par é obtido a partir
da multiplicação pelo coeficiente par anterior. Uma vez que
c 1 = 0, temos que c 3 = c 5 = · · · = 0, pois, pela equação de recor-
rência, cada coeficiente ímpar é obtido a partir da multiplica-
ção pelo coeficiente ímpar anterior. Obtemos assim a solução
4
y 1 (x) = 1 − 4x 2 + x 4
3
que de fato é um polinômio de grau N = 4.
100 Capítulo 1. Equações diferenciais
y 1 (x)
c 0 = y 2 (0) = 0 c 1 = y 20 (0) = 1
de modo que
y 2 (x) = 0 + 1 · x + c 2 x 2 + · · · + c n x n + · · ·
2(n − 4)
(n + 2)(n + 1)
N OTAÇÃO DE SOMATÓRIO
Para encontrar soluções polinomiais, será conveniente adotar a notação
mais sucinta de somatório
N
cn x n = c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + c N x N
X
y(x) =
n=0
Uma vez que não sabemos de antemão o grau N , novamente vamos es-
crever
∞
cn x n = c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + cn x n + · · ·
X
y(x) =
n=0
Proposição 1.16
∞ ∞
cn x n e d n x n são polinômios, então
X X
Se
n=0 n=0
∞ ∞ ∞
cn x n + dn x n = (c n + d n )x n
X X X
(S)
n=0 n=0 n=0
102 Capítulo 1. Equações diferenciais
∞ ∞
(P) x k cn x n = c n x n+k
X X
n=0 n=0
Prova:
Uma vez que
∞
cn x n = c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + cn x n + · · ·
X
n=0
∞
dn x n = d0 + d1 x + d2 x 2 + · · · + dn x n + · · ·
X
n=0
= (c 0 + d 0 ) + (c 1 + d 1 )x + (c 2 + d 2 )x 2 + · · · + (c n + d n )x n + · · ·
∞
(c n + d n )x n
X
=
n=0
e também que
∞
xk cn x n = x k c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + cn x n + · · ·
X ¡ ¢
n=0
= c 0 x k + c 1 x 1+k + c 2 x 2+k + · · · + c n x n+k + · · ·
∞
c n x n+k
X
=
n=0
Proposição 1.17
∞
c n x n é um polinômio, então
X
Se
n=0
µ ∞ ¶0 ∞
n
c n nx n−1
X X
cn x =
n=0 n=0
µ ∞ ¶00 ∞
n
c n n(n − 1)x n−2
X X
cn x =
n=0 n=0
Prova:
Uma vez que a derivada da soma é a soma das derivadas, segue-se
que
µ∞ ¶0 ∞ ∞
n n 0
c n nx n−1
X X¡ ¢ X
cn x = cn x =
n=0 n=0 n=0
uma vez que sua parcela com n = 0 é nula, enquanto podemos começar
o somatório de y 00 (x) em n = 2
∞
y 00 (x) = c n n(n − 1)x n−2
X
n=2
Exemplo
Considere o polinômio
∞
cn x n
X
y(x) =
n=0
de modo que
∞ ∞
y 0 (x) + x 2 y(x) = c n nx n−1 + c n x n+2
X X
n=1 n=0
Exemplo
Consideremos novamente a equação de Hermite
que µ ∞ ¶
n−1
X
0
−2x y (x) = −2x c n nx
n=0
∞
−2c n nx n
X
=
n=0
e que
∞
y 00 (x) = c n n(n − 1)x n−2
X
n=2
2(n − 4)
c n+2 = cn
(n + 2)(n + 1)
∞
cn x n = c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + cn x n + · · ·
X
n=0
com infinitos coeficientes c n não nulos. Neste capítulo vamos dar sen-
tido para essas somas infinitas de potências, as denominadas séries de
potências, ampliando o alcance desse método de solução de EDOs e, ao
mesmo tempo, ampliando nosso repertório de funções. Vamos começar
com um exemplo.
Exemplo
No capítulo anterior, vimos como resolver o PVI de primeira
110 Capítulo 2. Séries de potências
ordem 0
(1 − x)y (x) = y(x)
y(0) = 1
P∞ n
Para procurarmos uma solução polinomial y(x) = n=0 c n x
do PVI, substituimos na EDO
∞ ∞
(1 − x)y 0 (x) = (n + 1)c n+1 x n − nc n x n
X X
n=0 n=0
∞
((n + 1)c n+1 − nc n )x n
X
=
n=0
∞
cn x n
X
=
n=0
n +1
c n+1 = cn = cn
n +1
1
+x
+x 2
···
0
Podemos então obter uma expressão simples para essa soma
infinita a partir da semelhança dos seguintes triângulos retân-
gulos
1
+x
+x 2
A ··· B
x2
x
x − x2
1
1−x
C
Observe que as hipotenusas do primeiro e do segundo triân-
gulos destacados têm a mesma inclinação, pois
1 − x x − x2
=
1 x
Como elas têm um ponto em comum, essas duas hipotenusas
formam uma reta. Repetindo esse raciocínio, obtemos uma
reta de C até B e, portanto, um triângulo retângulo ABC tal
112 Capítulo 2. Séries de potências
que AC = 1 e
AB = 1 + x + x 2 + x 3 + x 4 + · · ·
1
y(x) = 1 + x + x 2 + x 3 + x 4 + · · · = (2.1)
1−x
1
Note que y(x) = de fato é solução do PVI, pois y(0) =
1−x
1e
1
(1 − x)y 0 (x) = (1 − x) = y(x)
(1 − x)2
Entretanto, note que a igualdade (2.1) foi obtida apenas para
x ∈ [0, 1). Por exemplo, para x = 21 temos
1 1 1 1 1
1+ + + + +··· = =2
2 4 8 16 1 − 12
1 1
+
2 1
+
4
···
0 2
Por outro lado, para x = 1, nenhum dos lados da igualdade
tem valor real.
1
1+1+1+1+1+··· =
1−1
Já para x = 2, o lado esquerdo é infinito, equanto o lado direito
é −1.
1
1 + 2 + 4 + 8 + 16 + · · · = = −1
1−2
2.1. Sequências 113
2.1 S EQUÊNCIAS
O limite de sequências expressa a ideia de aproximações sucessivas, que
é uma das ideias fundamentais do Cálculo 2.
Exemplo
Podemos aproximar a área de uma circunferência de raio 1
pela área a n do polígono regular de n lados inscrito nessa cir-
cunferência: quanto maior o número n de lados, mais pró-
ximo a área a n fica da área da circunferência.
a0 , a1 , a2 , a3 , . . . , an , . . .
a3 a2 a0 a1 an
0
an
a
...
...
2 3 4
lim a n = a
an → a
Proposição 2.1
• Operações:
• Desigualdades:
(i) Se a n ≥ b n , então
lim a n ≥ lim b n
lim c n = c
116 Capítulo 2. Séries de potências
lim a n = a
Exemplos
1) Considere uma corda de um instrumento musical vibrando
presa a duas extremidades. No primeiro harmônico dessa
corda, o primeiro nó ocorre apenas na outra extremidade. No
segundo harmônico dessa corda, o primeiro nó ocorre na me-
tade da corda. No terceiro harmônico dessa corda, o primeiro
nó ocorre em um terço da corda, e assim em diante.
1
1/2
1/3
1/4
1/5
1/6
1/7
1
an =
n
2.1. Sequências 117
Claramente, temos
1
lim
=0
n
pois é um limite do tipo limitado sobre infinito.
0, 1, 2, 3, . . . , n, . . .
0, 2, 4, 6, . . . , 2k, . . .
1, 3, 5, 7, . . . , 2k + 1, . . .
Claramente, temos
−1 1
Observe que
a 2n = 1 e a 2n+1 = −1
Temos que limn→∞ a n não existe, uma vez que a sequência
alternada não se aproxima de nenhum valor à medida que n
118 Capítulo 2. Séries de potências
4) Considere a sequência
10n
an =
n!
Para os primeiros termos dessa sequência, temos que
100 1000
a 0 = 1 < a 1 = 10 < a 2 = = 50 < a 3 = = 166, 6 . . .
2! 3!
o que dá a impressão de que a n tenderia ao infinito. Mas, de
fato, ela cresce até n = 10 e depois decresce para zero. Para ver
isso, primeiro expandimos
10n 10 10 10 10
an = = · ··· ·
n! n n −1 2 1
e observamos que não podemos usar a regra do produto para
calcular esse limite, uma vez que o número de fatores é cada
vez maior e essa regra só vale para um número fixo de fatores.
Para determinar esse limite, o que fazemos é eliminar to-
dos os fatores menores do que um, com a exceção do menor
deles, de modo a obter um número fixo de fatores. Observe
que, para n > 10, temos que
10 1010
0 ≤ an ≤ ·
n 10!
2.1. Sequências 119
Proposição 2.2
• Funções:
lim f (a n ) = f (lim a n )
Exemplos
p
n
1) Considere o limite lim e. Escrevendo
e x = exp(x)
temos que
p
µ ¶
n
1 1
e = e = exp
n
n
de modo que
p
µ ¶ µ ¶
n 1 1
lim e = lim exp = exp lim = exp(0) = 1
n n
2) Temos que
³ n ´ ³ n ´
lim log = log lim = log (1) = 0
n +1 n +1
onde passamos o limite para dentro de log(x), pois essa é uma
2.1. Sequências 121
n (n)0 1
lim = lim = lim = 1.
n +1 (n + 1)0 1
pois
lim n = ∞ = lim n + 1.
1 n
µ ¶
3) Considere o limite lim 1 + . Observe que não podemos
n
passar o limite para dentro
1 n 1 n
µ ¶ µ ¶
lim 1 + 6= lim 1 +
n n
1 n 1 n
µ ¶ µ µ ¶ ¶ µ µ ¶¶
1
1+ = exp log 1 + = exp n log 1 +
n n n
1 n
µ ¶ µ µ ¶¶
1
lim 1 + = exp lim n log 1 +
n n
122 Capítulo 2. Séries de potências
onde
log 1 + n1
µ ¶ ¡ ¢
1
lim n log 1 + = lim 1
n n
é uma indeterminação do tipo 0/0. Aplicando L’Hospital, ob-
temos
1 ³ 1´
− n2
log 1 + n1 1 + n1
¡ ¢
1
lim 1
= lim 1
= lim 1
=1
n − n 2 1 + n
1 n
µ ¶
lim 1 + = exp(1) = e
n
S EQUÊNCIA DE F IBONACCI
Considere a denominada sequência de Fibonacci a n dada da seguinte
maneira: seus dois primeiros passos são iguais a um, ou seja, a 1 = a 2 = 1.
Para obtermos os demais passos, utilizamos a seguinte recorrência
a n+2 = a n+1 + a n
a n+1
rn =
an
1
lim r n+1 = 1 +
lim r n
e então
1
φ = 1+
φ
Multiplicando a igualdade acima por φ, temos que esse limite é solução
da seguinte equação quadrática
φ2 − φ − 1 = 0
p
1+ 5
φ=
2
0 1 φ
2.2 S ÉRIES
As séries expressam a ideia de somas com infinitas parcelas, que é um
dos princípios fundamentais apresentados neste livro. Por exemplo, para
aproximar a área de uma circunferência de raio 1 usando apenas a área
de triângulos, basta iniciar com a área a 0 do triângulo inscrito. A essa
área, some-se a área a 1 de três triângulos apoiados nos lados do triân-
gulo anterior. A essas duas áreas, some-se a área a 2 de seis triângulos
apoiados nos lados dos triângulos anteriores, e assim em diante.
a0 a1 a2
a0 a0 + a1 a0 + a1 + a2
126 Capítulo 2. Séries de potências
a0 + a1 + a2 + · · · + an + · · ·
a0 , a1 , a2 , . . . , an , . . .
s0 = a0
s1 = a0 + a1
s2 = a0 + a1 + a2
..
.
sm = a0 + a1 + a2 + · · · + am
..
.
a0 +a 1 +a 2 ··· +a m
0 s0 s1 s2 · · · s m−1 s m
lim s m = a 0 + a 1 + a 2 + · · · + a n + · · ·
m→∞
Observe que fazemos essa soma infinita de modo seriado: somando pri-
meiro a 0 , depois somando a 1 , depois somando a 2 e assim em diante.
2.2. Séries 127
Por isso damos a essa soma infinita o nome de série. Muitas vezes, será
conveniente utilizarmos a notação de somatório.
Notação
1) A m-ésima soma parcial de a n é denotada por
m
X
sm = an = a0 + a1 + a2 + · · · + am
n=0
a0
a1
a5
2 3 a4 ... an ...
Definições
Exemplos
1) A série
X∞ 1 1 1 1
n
= 1+ + +···+ n +···
n=0 2 2 4 2
é a soma de todos os termos da progressão geométrica de ra-
1
zão .
2
1 1
+
2 1
+
4
···
0
2.2. Séries 129
1 1 1
1, , , · · · , n , · · ·
2 4 2
enquanto a sequência das suas somas parciais é dada por
s0 = 1
1
s1 = 1 +
2
1 1
s2 = 1 + +
2 4
..
.
1 1 1
sm = 1 + + + · · · + m
2 4 2
..
.
1
sm = 2 −
2m
1 1
+
2 1
+
4
···
0 2
1
−
4
o que será provado mais adiante. Segue-se que
lim s m = 2
130 Capítulo 2. Séries de potências
X∞ 1 1 1 1
n
= 1 + + + + · · · = 2.
n=0 2 2 4 8
converge.
2) Considere a série
∞
X
1 = 1+1+1+···+1+···
n=1
1, 1, 1, · · · , 1, · · ·
s1 = 1
s2 = 1 + 1
s3 = 1 + 1 + 1
..
.
m vezes
z }| {
sm = 1 + 1 + 1 + · · · + 1
..
.
Segue-se que
lim s m = lim m = ∞
de modo que a série
∞
X
1 = 1 + 1 + 1 + · · · + 1 + · · · = ∞.
n=1
diverge para ∞.
2.2. Séries 131
3) Considere a série
∞
(−1)n = 1 − 1 + 1 − 1 + · · · + (−1)n + · · ·
X
n=0
s0 = 1
s1 = 1−1 = 0
s2 = 1−1+1 = 1
s2 = 1−1+1−1 = 0
..
.
½
1, m par
sm =
0, m ímpar
..
.
apenas diverge.
Se a série ∞
P
n=0 a n converge, é intuitivo que as parcelas a n da soma se
tornam cada vez menores. De fato, temos o seguinte resultado.
Proposição 2.3
132 Capítulo 2. Séries de potências
∞
X
a n converge =⇒ lim a n = 0
n=0
Prova:
Como a série converge, temos que lim s m = s ∈ R. Assim, as somas
parciais são dadas por
s n−1 = a 0 + a 1 + a 2 + · · · + a n−1
sn = a 0 + a 1 + a 2 + · · · + a n−1 + a n
T ESTE DA DIVERGÊNCIA
O resultado anterior anterior implica o seguinte critério para a divergên-
cia de uma série numérica.
∞
X
a n diverge
6= 0 =⇒
lim a n n=0
=0 =⇒ inconclusivo
2.2. Séries 133
Prova:
Se a série convergisse, pelo resultado anterior, deveríamos ter
lim a n = 0. Logo, se lim a n 6= 0, a série não pode convergir, ou seja,
ela diverge. Quando lim a n = 0, tanto a série pode convergir, como
no caso da série geométrica de razão 12 , quanto a série pode divergir,
como no caso da série harmônica, que será analisada adiante.
Exemplos
1) Temos, pelo Teste da Divergência, que a série
∞
X
1 = 1+1+1+1+···
n=1
S ÉRIE HARMÔNICA
A série harmônica é dada pela soma dos termos da sequência harmônica
X∞ 1 1 1 1 1 1
= 1+ + + + +···+ +···
n=1 n 2 3 4 5 n
...
1 2 3 4 5 6 7 8 ...
1 1 1 1 1
1, , , , , · · · , , · · ·
2 3 4 5 n
s1 = 1
1
s2 = 1 +
2
1 1
s3 = 1 + +
2 3
..
.
1 1 1
sm = 1 + + + · · · +
2 3 m
..
.
2.2. Séries 135
Proposição 2.5
X∞ 1
=∞
n=1 n
Prova:
Vamos dar uma ideia da demonstração: uma maneira mais rigorosa
de provar isso será vista mais adiante. A ideia é organizar os termos
da soma infinita da série da seguinte maneira (veja figura abaixo)
∞ 1
≥ 12
X
= 1
n=1 n
1
+ ≥ 12
2
1 1
+ + ≥ 14 + 14 = 12
3 4
1 1 1 1
+ + + + ≥ 18 + 18 + 81 + 18 = 12
5 6 7 8
1 1 1 1 1 1 1 1
+ + + +···+ ≥ 16 + 16 + 16 + · · · + 16 = 21
9 10 11 16
+···
1 1
2 2
1 1
4 4 1 1 1 1 ...
8 8 8 8
1 2 3 4 5 6 7 8 ...
S ÉRIES TELESCÓPICAS
∞
X
Uma série a n é denominada telescópica quando seu termo geral é da
n=0
forma
a n = r n − r n+1
s0 = r 0 − r 1
s 1 = (r 0 −
r r
1 ) + ( 1 − r2) = r0 − r2
s 2 = (r 0 −
r
1 ) + (r
1 −r r
2 ) + (2 − r3) = r0 − r3
..
.
s m = (r 0 −
r r
1 ) + ( r
1 − r
2 ) + ( r
2 − r
3 ) + · · · + (m − r m+1 ) = r 0 − r m+1
..
.
quando esse limite existe. As séries telescópicas são um dos raros casos
onde conseguimos determinar o valor da série, quando ela converge.
Exemplos
1) A série
∞
X 1 1 1 1 1
= + + + +···
n=2 n(n − 1) 2·1 3·2 4·3 5·4
converge ou diverge?
Temos que
1
lim =0
n(n − 1)
de modo que o Teste da Divergência é inconclusivo. Sua m-
ésima soma parcial é dada por
1 1 1
sm = + +···+
2 6 m(m − 1)
1 1 1
= −
n(n − 1) n − 1 n
138 Capítulo 2. Séries de potências
1
= 1−
m
sobram apenas a primeira parte do primeiro termo e a se-
gunda parte do último termo. Segue-se que
1
lim s m = lim 1 − =1
m
de modo que a série converge e, mais ainda, que
∞
X 1
=1
n=2 n(n − 1)
2) A série
∞
X ³ n ´ µ ¶
1
µ ¶
2
µ ¶
3
µ ¶
4
log = log + log + log + log +···
n=1 n +1 2 3 4 5
converge ou diverge?
Temos que ³ n ´
lim log =0
n +1
de modo que o Teste da Divergência é inconclusivo. Sua m-
ésima soma parcial é dada por
µ ¶
1
µ ¶
2 ³ m ´
s m = log + log + · · · + log
2 3 m +1
2.2. Séries 139
= − log(m + 1)
de modo que
∞
X ³ n ´
log = −∞
n=1 n +1
S ÉRIES GEOMÉTRICAS
A soma de todos os termos da progressão geométrica de razão x fornece
a série
∞
xn = 1 + x + x2 + · · · + xn + · · ·
X
n=0
1, x, x 2 , · · · , x n , · · ·
140 Capítulo 2. Séries de potências
s0 = 1
s1 = 1 + x
s2 = 1 + x + x 2
..
.
sm = 1 + x + x 2 + · · · + x m
..
.
Proposição 2.6
Temos que
lim x n = 0
<1
=⇒
n→∞
|x|
≥1 lim x n 6= 0
=⇒
n→∞
Prova:
Se x = 0, então x n = 0 para todo n, de modo que lim x n = 0. Logo,
podemos supor que x 6= 0. Temos que
|x n | = |x|n
n
= e log |x|
= e n log |x|
Segue-se que
0, |x| < 1
lim |x n | = lim e n log |x| = 1, |x| = 1
n→∞ n→∞
∞, |x| > 1
2.2. Séries 141
lim |x n | = 0
n→∞
se, e só se,
lim x n = 0
n→∞
Proposição 2.7
Temos que
∞
1
xn =
X
<1 =⇒
n=0 1−x
|x|
∞
x n diverge
X
≥1 =⇒
n=0
Prova:
Se |x| ≥ 1, temos que lim x n 6= 0, de modo que, pelo Teste da Diver-
n
gência, ∞
P
n=0 x diverge.
Se |x| < 1, temos que lim x n = 0, de modo que o Teste da Diver-
gência é inconclusivo. Consideramos então as somas parciais
sm = 1 + x + x 2 + · · · + x m
142 Capítulo 2. Séries de potências
e observamos que
xs m = x + x 2 + x 3 + · · · + x m+1
(1 − x)s m = 1 − x m+1
1 − x m+1
sm =
1−x
Pelas regras de limite, segue-se que
1
lim s m = .
1−x
∞ 1
xn =
X
n=0 1−x
Exemplos
1) Temos que
X∞ 1 1 1 1 1
n
= 1+ + + +···+ n +···
n=0 2 2 4 8 2
X∞ 1 X∞ µ 1 ¶n 1
n
= = =2
n=0 2 n=0 2 1 − 12
2.2. Séries 143
1 1
+
2 1
+
4
···
0 2
2) Temos que
X∞ (−1)n 1 1 1 (−1)n
n
= 1 − + − + · · · + +···
n=0 3 3 9 27 3n
X∞ (−1)n X∞ µ −1 ¶n 1 3
n
= = =
1 − − 31
¡ ¢
n=0 3 n=0 3 4
1
+
9
···
0 3
4
1
−
3
3) Temos que
∞
2n = 1 + 2 + 4 + 8 + · · · + 2n + · · ·
X
n=0
|2| ≥ 1.
4) Temos que
∞
(−1)n = 1 − 1 + 1 − 1 + · · · + (−1)n + · · ·
X
n=0
Proposição 2.8
∞
X ∞
X
Se an e b n convergem, então
n=0 n=0
∞
X
(S) (a n ± b n ) converge e
n=0
∞
X ∞
X ∞
X
(a n ± b n ) = an ± bn
n=0 n=0 n=0
2.2. Séries 145
∞
X
(C) ca n converge e
n=0
∞
X
µ ∞
X
¶
ca n = c an
n=0 n=0
Prova:
∞
X ∞
X
Como an e b n convergem, temos que
n=0 n=0
m
X ∞
X
lim an = an
m→∞
n=0 n=0
m
X ∞
X
lim bn = bn
m→∞
n=0 n=0
são números reais.
∞
X ∞
X
= an + bn
n=0 n=0
∞
X
Para (a n − b n ), a prova é a mesma.
n=0
Exemplos
1) Combinando duas séries geométricas que convergem, te-
mos
∞ µ 1 (−1)n
¶ ∞ µ ¶n ∞ µ 1 ¶n
X (S) X 1 X
n
− n = − −
n=0 2 3 n=0 2 n=0 3
3 5
= 2− =
4 4
2.2. Séries 147
1
2) A seguinte série se parece com uma geométrica de razão 2
∞
X 1 1 1 1
= + + +···
n=0 2n+1 2 4 8
µ ¶
(C ) 1 1 1
= 1+ + +···
2 2 4
1
= 2=1
2
logo, ela converge para 1. De outro modo
∞
X 1 X∞ 1 1
n+1
= n
n=0 2 n=0 2 2
µ∞ ¶
(C ) 1 X 1
= =
2 n=0 2n
1
= 2=1
2
X∞ 1 1 1 1
n
= + + +···
n=2 3 9 27 81
µ ¶
(C ) 1 1 1
= 1+ + +···
9 3 9
13 1
= =
92 6
148 Capítulo 2. Séries de potências
X∞ 1 ∞
X 1
n
=
n=2 3 n=0 3n+2
X∞ 1 1
= 2 n
n=0 3 3
µ∞ ¶
(C ) 1 X 1
= =
32 n=0 3n
13 1
= =
92 6
c 0 , c 1 x, c 2 x 2 , . . . , c n x n , . . .
e as somas parciais
s0 = c0
s1 = c0 + c1 x
s2 = c0 + c1 x + c2 x 2
..
.
sm = c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + cm x m
..
.
2.3. Séries de potências 149
∞
cn x n = c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + cn x n + · · ·
X
n=0
c0 , c1 , c2 , . . . , cn
Para cada valor fixado de x, obtemos uma série numérica. Dizemos que a
série de potências converge em x quando essa série numérica converge.
Uma série de potências também pode ser vista como uma função de
x. Nesse ponto, é conveniente fazermos uma analogia com o conceito de
função derivada, abordado no início do curso de Cálculo 1. A derivada
de uma função f (x) no ponto x é definida pelo limite do quociente de
Newton de f (x) entre x e x + h quando h tende a zero, dado por
f (x + h) − f (x)
lim
h→0 h
f (x + h) − f (x)
f 0 (x) = lim
h→0 h
Exemplo
Considerando f (x) = x 2 , temos que
(x + h)2 − x 2
f 0 (x) = lim
h→0 h
150 Capítulo 2. Séries de potências
Como
(x + h)2 − x 2 x 2 + 2xh + h 2 − x 2
= = 2x + h
h h
temos que
f 0 (x) = lim 2x + h = 2x
h→0
Exemplo
Considerando a série geométrica de razão x, dada por
f (x) = 1 + x + x 2 + x 3 + · · ·
∞
xn
X
=
n=0
temos que
m
xn
X
f (x) = lim
m→∞
n=0
2.3. Séries de potências 151
Como
m 1 − x m+1
xn = 1 + x + x2 · · · + xm =
X
n=0 1−x
temos que
1 − x m+1 1
f (x) = lim =
m→∞ 1 − x 1−x
para todo x tal que |x| < 1. Quando x é tal que |x| ≥ 1, esse
limite é infinito ou não existe.
O domínio da função
f (x) = c 0 + c 1 x + c 2 x 2 + · · · + c n x n + · · ·
∞
cn x n
X
=
n=0
f (0) = c 0 + c 1 · 0 + c 2 · 02 + · · · + c n · 0n + · · ·
= c0
converge.
Exemplos
1) A série geométrica de razão x é uma série de potências
∞
xn = 1 + x + x2 + · · · + xn + · · ·
X
f (x) =
n=0
152 Capítulo 2. Séries de potências
com coeficientes
1, 1, 1, . . . , 1, . . .
e tem domínio
½ ∞ ¾
n
x ∈R:
X
dom( f ) = f (x) = x converge
n=1
= {x ∈ R : |x| < 1}
= (−1, 1)
−1 0 1
uma vez que a série geométrica converge apenas para esses
valores de x. Já vimos que
∞ 1
xn =
X
f (x) =
n=0 1−x
0
uma vez que p(x) é uma soma finita.
com coeficientes
1 1 1
0, 1, , , . . . , , . . .
2 3 n
Note que o termo constante é nulo e por isso c 0 = 0. Para que
valores de x ela converge? Isto é, qual o domínio de f (x)?
Por exemplo, para x = 1 obtemos a série harmônica
X∞ 1 1 1 1
= 1+ + +···+ +···
n=1 n 2 3 n
que diverge.
Proposição 2.9
∞ ∞
cn x n e d n x n convergem, então
X X
Se, para x, as séries
n=0 n=0
154 Capítulo 2. Séries de potências
∞ ∞ ∞
cn x n + dn x n = (c n + d n )x n
X X X
(S)
n=0 n=0 n=0
∞ ∞
(P) x k cn x n = c n x n+k
X X
n=0 n=0
Prova:
Temos que
∞ ∞ ∞ ∞
cn x n + dn x n = (c n x n + d n x n ) = (c n + d n )x n
X X X X
n=0 n=0 n=0 n=0
e também que
∞ ∞ ∞
xk cn x n = x k cn x n = c n x n+k
X X X
n=0 n=0 n=0
Exemplo
Temos que
∞ 1 ∞ 1
x3 xn = x3xn
X X
n=0 n! n=0 n!
∞ 1
x n+3
X
=
n=0 n!
∞ 1
xn
X
=
n=3 (n − 3)!
T ESTE DA CAUDA
Temos que
∞
X
an = a0 + a1 + · · · + an + · · ·
n=0
= (a 0 + a 1 + · · · + a k−1 ) + (a k + a k+1 + · · · + a n + · · · )
∞
X
= (a 0 + a 1 + · · · + a k−1 ) + an
n=k
∞
X
a n = a k + a k+1 + · · · + a n + · · ·
n=k
156 Capítulo 2. Séries de potências
a1
... a k−1 a k+1
0 ak ... an ...
∞
X ∞
X
A cauda a n converge ⇐⇒ a série a n converge
n=k n=0
∞
X ∞
X
A cauda a n diverge ⇐⇒ a série a n diverge
n=k n=0
Prova:
∞
X
Para m ≥ k, temos que a soma parcial da série a n fica
n=0
m
X
an = a0 + a1 + a2 + · · · + am
n=0
= (a 0 + a 1 + a 2 + · · · + a k−1 ) + (a k + a k+1 + · · · + a m )
m
X
= (a 0 + a 1 + a 2 + · · · + a k−1 ) + an
n=k
Uma vez que a 0 +a 1 +a 2 +· · ·+a k−1 é uma quantidade finita que não
2.4. Testes de convergência 157
T ESTE DA COMPARAÇÃO
∞
X
Temos que a série |a n | é tal que suas somas parciais s m formam uma
n=0
sequência monótona
s 0 = |a 0 |
s 1 = |a 0 | + |a 1 |
s 2 = |a 0 | + |a 1 | + |a 2 |
..
.
s m = |a 0 | + |a 1 | + |a 2 | + · · · + |a m |
s m+1 = |a 0 | + |a 1 | + |a 2 | + · · · + |a m | + |a m+1 |
..
.
Neste caso, o limite lim s m sempre existe e temos então apenas duas pos-
sibilidades
Propriedades
∞
X
|a n | ≤ ∞.
n=k
Se
0 ≤ |a n | ≤ |b n | para n ≥ k
então
∞
X ∞
X
|a n | ≤ |b n |
n=k n=k
de modo que
∞
X ∞
X
|a n | = ∞ =⇒ |b n | = ∞
n=k n=k
∞
X ∞
X
|b n | < ∞ =⇒ |a n | < ∞
n=k n=k
2.4. Testes de convergência 159
|b 0 |
|b 1 |
|b 2 |
|a 0 |
|a 2 | ... |b n |
|a 1 |
|a n | ...
Prova:
Se
0 ≤ |a n | ≤ |b n | para n ≥ k
então
m
X m
X
|a n | ≤ |b n |
n=k n=k
∞
X
Se |a n | = ∞, então a desigualdade acima “empurra” a outra
n=k
∞
X
cauda para que |b n | = ∞.
n=k
∞
X
Se |b n | < ∞, então a desigualdade acima “empurra” a outra
n=k
∞
X
cauda para que |a n | < ∞.
n=k
160 Capítulo 2. Séries de potências
Exemplo
Vamos mostrar que a série 2-harmônica
X∞ 1 1 1 1 1 1
2
= 1 + + + + · · · + +···
n=1 n 4 9 16 25 n2
1 1
2
<
n n(n − 1)
X∞ 1 X∞ 1
2
≤ 2
=1<∞
n=2 n n=2 n − n
X∞ 1
Pelo Teste da cauda, segue-se que a série 2
converge.
n=1 n
T ESTE DA INTEGRAL
A integral imprópria (ver Apêndice A.4) pode ser usada para determinar
a convergência ou a divergência de algumas séries com termos não ne-
gativos e decrescentes.
Proposição 2.12
e Z ∞ ∞
X
an d n = ∞ =⇒ an = ∞
k n=k
Prova:
Como a(x) é decrescente e como a n = a(n), considerando os retân-
gulos de base 1 que vão de k até m + 1 acima do gráfico
ak
...
a k+1
am ...
temos que
Z m+1
a k + a k+1 + . . . + a m ≥ a(x) d x
k
Considerando agora os retângulos de base 1 que vão de k até m
abaixo do gráfico
...
a k+1 a k+2
am ...
temos que Z m
a k+1 + . . . + a m ≤ a(x) d x
k
Juntando essas duas informações, temos que
Z m+1 Z m
a(x) d x ≤ a k + a k+1 + . . . + a m ≤ a k + a(x) d x
k k
R∞
Se a integral imprópria k a(x) d x diverge, segue-se da primeira de-
sigualdade acima que aRsérie de termos sem sinal ∞
P
a diverge.
n=k n
∞
Se a integral imprópria k a(x) d x converge, segue-se da última de-
sigualdade acima que ∞
P
a é uma série de termos sem sinal limi-
n=k n
tada que, portanto, converge.
Exemplos
1) Temos que
Z ∞ 1 £ ¤∞
d n = log(n) 1 = ∞,
1 n
de modo que
X∞ 1
= ∞.
n=1 n
Xm 1
− log(2) ≤ log(m + 1) − log(m) − log(2) ≤ − log(m) + ≤0
n=2 n
Somando 1, obtemos
Xm 1
0 ≤ 1 − log(2) ≤ − log(m) + ≤1
n=1 n
2) Temos que
∞ 1 ∞
· ¸
1
Z
dn = − = 1 < ∞,
1 n2 n 1
de modo que
X∞ 1
2
< ∞.
n=1 n
Observe que
X∞ 1 1
2
= 1 + + · · · > 1.
n=1 n 4
164 Capítulo 2. Séries de potências
· 1−p ¸∞ 1
Z ∞
1 n se p > 1
p
dn = = p −1
1 n 1−p 1
∞ se p < 1
de modo que
X∞ 1
p
< ∞,
n=1 n
quando p > 1 e
X∞ 1
p
= ∞,
n=1 n
quando p < 1.
Uma vez que já analisamos separademente o caso p = 1,
temos que a série p-harmônica é tal que
∞ 1 ½
X < ∞ se p > 1
p = ∞ se p ≤ 1
n=1 n
4) Temos que
Z ∞ 1 £ ¤∞
d n = log(log(n)) 2 = ∞,
2 n log(n)
de modo que
∞
X 1
= ∞.
n=2 n log(n)
Proposição 2.13
Se
∞
X
|a n | = |a 0 | + |a 1 | + |a 2 | + · · · < ∞
n=0
então
∞
X
an = a0 + a1 + a2 + · · ·
n=0
converge.
a0
a1 a5
|a 3 | |a 4 |
|a 2 | ...
a2 a4 ...
a3
Prova:
Separamos as partes positiva e negativa de a n , escrevendo
an = bn + cn
onde ½
an , an ≥ 0
bn =
0, a n < 0
166 Capítulo 2. Séries de potências
b0
b1 b5
...
e ½
0, a n ≥ 0
cn =
an , an < 0
c2 c4 ...
c3
Temos que
0 ≤ b n = |b n | ≤ |a n |
e também que
0 ≤ −c n = |c n | ≤ |a n |.
Pelo teste da comparação, segue-se que
∞
X ∞
X
bn ≤ |a n | < ∞
n=0 n=0
e também que
∞
X ∞
X
−c n ≤ |a n | < ∞.
n=0 n=0
2.4. Testes de convergência 167
converge.
Exemplos
1) Temos que
X∞ (−1)n
2
n=1 n
X∞ (−1)n
n=1 n
vez que
∞ ¯ (−1)n ¯
¯ ¯ ∞
X X 1
¯ n ¯= = ∞.
¯ ¯
n=1 n=1 n
Proposição 2.14
converge.
Prova:
Considere
Como a n > 0 e a n − a n+1 > 0 para todo n, temos que s 2k > 0. Temos
também que
s 2k = s 2k−2 − a 2k−1 + a 2k < s 2k−2
2.4. Testes de convergência 169
de modo que
0 < s 2k < s 2k−2 < · · · < s 2 < s 0
Segue-se que s 2k é uma sequência decrescente e limitada, de modo
que existe s tal que
lim s 2k = s.
Além disso, temos que
s 2k+1 = s 2k − a 2k+1
de modo que
lim s 2k+1 = lim s 2k − lim a 2k+1 = s
uma vez que, pelo teorema do sanduíche, lim a 2k+1 = 0, já que 0 <
a 2k+1 < a k . Como a sequência dos s m com m par e com m ímpar
convergem para o mesmo s, não é difícil mostrar que a lim s m = s, o
que demonstra que a série converge.
Exemplos
1) Temos que a série harmônica alternada
∞ 1
(−1)n
X
n=1 n
1 1 1 X∞ 1
+ +···+ +··· =
2 4 2n n=1 2n
1
Como podemos colocar o fator 2
em evidência, segue-se que
1 1 1 1X ∞ 1
+ +···+ +··· = =∞
2 4 2n 2 n=1 n
3) Temos que
∞ 1
(−1)n
X
n=2 n log(n)
converge, uma vez que é uma série alternada e que
¯ ¯
¯(−1)n
¯ 1 ¯
¯= 1
¯ n log(n) ¯ n log(n)
4) Temos que
∞ n +1
(−1)n
X
n=1 n
não converge, pois, apesar de ser uma série alternada e de
¯ ¯
¯(−1)n n + 1 ¯ = n + 1
¯ ¯
¯ n ¯ n
T ESTE DA RAIZ
Se tomamos o termo geral x n de uma série geométrica com razão x e
extraímos a raiz n-ésima do seu módulo, obtemos de volta o módulo da
razão p
n
|x n | = |x|
Como a convergência de uma série de uma série geométrica depende de
o módulo de sua razão ser menor ou maior que um, definimos, para uma
série numérica qualquer, o módulo de sua razão no infinito pelo seguinte
limite p
lim n |a n |
n→∞
Temos que
∞
X
<1 =⇒ a n converge
n=0
∞
p
n
lim |a n | X
>1 =⇒ a n diverge
n=0
=1 =⇒ inconclusivo
Prova:
A ideia é comparar a série dos módulos com uma série geométrica.
p p
1) Se lim n |a n | < 1, então n |a n | fica abaixo de 1 para n grande e,
portanto, abaixo de algum x < 1 positivo para n maior que algum
k, isto é pn
|a n | < x < 1 para n ≥ k
Elevando ambos os lados à n-ésima potência, temos
|a n | < x n para n ≥ k
onde a série geométrica converge, pois sua razão satisfaz 0 < x <
∞
X
1. Pelo Teste da cauda, segue-se que |a n | < ∞. Pelo Teste da
n=0
∞
X
convergência absoluta, segue-se que a n converge.
n=0
2.4. Testes de convergência 173
p
n
2) Se lim |a n | > 1, então, existe k, tal que
p
n
|a n | > 1 para n ≥ k
|a n | > 1 para n ≥ k
X∞ 1
A série 2-harmônica 2
converge e é tal que
n=1 n
s¯ ¯
n
¯ 1 ¯ 1
lim ¯¯ 2 ¯¯ = lim p =1
n ( n)2
n
Exemplos
X∞ n2
1) n
converge?
n=0 2
174 Capítulo 2. Séries de potências
X∞ (−3)n
2) 3
converge?
n=1 n
Pelo Teste da raiz
s¯
n¯
¯
n ¯ (−3) ¯ 3
¯
lim ¯ 3 ¯ = p =3>1
n (lim n n)3
∞ 1
x n con-
X
3) Para quais valores de x a série de potências
n=1 n
verge?
O Teste da raiz permite que testemos diversos valores de x
ao mesmo tempo: pelo Teste da raiz
s¯ ¯
n ¯ 1 n¯
¯ ¯ |x|
lim ¯ x ¯ = p
n
= |x|
n n
X∞ (−1)n
n=1 n
T ESTE DA RAZÃO
Se tomamos o termo geral x n de uma série geométrica com razão x e
extraímos a raiz n-ésima do seu módulo, obtemos de volta o módulo da
razão ¯ n+1 ¯
¯x ¯
¯ x n ¯ = |x|
¯ ¯
Temos que
∞
X
<1 =⇒ a n converge
n=0
¯ ¯
¯ a n+1 ¯
∞
lim ¯
¯ ¯ X
an ¯
>1 =⇒ a n diverge
n=0
=1 =⇒ inconclusivo
Prova:
A ideia é, novamente, comparar a série dos módulos com uma série
geométrica.
¯ ¯ ¯ ¯
¯ a n+1 ¯ ¯ a n+1 ¯
1) Se lim ¯¯ ¯ a ¯ fica abaixo de 1 para n grande e,
¯ < 1, então ¯ ¯
an ¯ n
portanto, abaixo de algum x < 1 positivo para n maior que algum
k, isto é ¯ ¯
¯ a n+1 ¯
¯ a ¯<x <1 para n ≥ k
¯ ¯
n
Segue-se que
¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯
¯ a k+1 ¯ ¯ a k+2 ¯ ¯ a n−1 ¯ ¯ a n ¯
¯ ¯,¯ ¯, ··· , ¯ ¯,¯ ¯<x
¯ a ¯ ¯a ¯ ¯a ¯ ¯a ¯
k k+1 n−2 n−1
2.4. Testes de convergência 177
Escrevendo
¯ ¯¯ ¯ ¯ ¯¯ ¯
¯ a k+1 ¯ ¯ a k+2 ¯ ¯ a n−1 ¯ ¯ a n ¯
|a n | = |a k | ¯
¯ ¯ ¯ ¯ ··· ¯ ¯ ¯ ¯
a k ¯ ¯ a k+1 ¯ ¯ a n−2 ¯ ¯ a n−1 ¯
Logo
∞ ∞
x n−k
X X
|a n | < |a k |
n=k ¡n=k
= |a k | 1 + x + x 2 + x 3 + · · ·
¢
1
= |a k | <∞
1−x
onde a série geométrica converge pois sua razão satisfaz 0 < x <
X∞
1. Pelo Teste da cauda, segue-se que |a n | < ∞. Pelo Teste da
n=0
∞
X
convergência absoluta, segue-se que a n converge.
n=0
¯ ¯
¯ a n+1 ¯
2) Se lim ¯
¯ ¯ > 1, então, existe k, tal que
an ¯
¯ ¯
¯ a n+1 ¯
¯ a ¯>1
¯ ¯ para n ≥ k
n
de modo que
|a n+1 | > |a n | para n ≥ k
Isso mostra que |a n | é positiva e crescente para n ≥ k, de modo
que lim |a n | 6= 0 e, portanto, que lim a n 6= 0. Pelo Teste da diver-
X∞
gência, segue-se que a n diverge.
n=0
178 Capítulo 2. Séries de potências
¯ ¯
¯ a n+1 ¯
3) Para mostrar que o caso lim ¯¯ ¯ = 1 é inconclusivo, vamos dar
an ¯
um exemplo em que essa igualdade é satisfeita mas a série di-
verge, e dar outro exemplo em que essa igualdade é satisfeita mas
a série converge.
X∞ 1
A série harmônica diverge e é tal que
n=1 n
¯ 1 ¯
¯ ¯
¯ n+1 ¯ n
lim ¯ 1 ¯ = lim =1
¯
n
¯ n +1
X∞ 1
A série 2-harmônica 2
converge e é tal que
n=1 n
¯ 1 ¯
¯ (n+1)2 ¯
¯ ¯ n2
lim ¯ 1 ¯ = lim =1
¯ 2 ¯ (n + 1)2
n
Exemplos
1) Considere a série de potências
∞ 1 x2 x3 x4
xn = 1 + x +
X
+ + +···
n=0 n! 2 3! 4!
Exemplos
1) A série geométrica de razão x é uma série de potências
f (x) = 1 + x + x 2 + x 3 + · · ·
∞
xn
X
=
n=0
com domínio
½ ∞ ¾
x ∈R: xn converge = {x ∈ R :
X
|x| < 1} = (−1, 1)
n=1
−1 0 1
uma vez que a série geométrica converge apenas para esses
valores de x.
Já vimos que
∞ 1
xn =
X
f (x) =
n=0 1−x
2) A série de potências
1 1 1
f (x) = x − x 2 + x 3 − x 4 + · · ·
2 3 4
∞ (−1)n−1
xn
X
=
n=1 n
2.5. Domínio e raio de convergência 181
(−1) n−1 n
x
n
Pelo teste da raiz
s¯
n−1 ¯ r
n ¯ (−1) n
¯ n 1 n
lim ¯ ¯ x ¯¯ = lim |x|
n→∞ n n→∞ n
|x|
= lim p
n
n→∞ n
= |x|
de modo que
∞ (−1) n−1
xn
X
|x| < 1 =⇒ converge
n=1 n
∞ (−1) n−1
xn
X
|x| > 1 =⇒ diverge
n=1 n
O Teste da raiz não nos diz o que ocorre quando |x| = 1, isto
é, quando x = ±1. Analisamos esses casos diretamente substi-
tuindo esses valores de x na série de potências
X∞ (−1) n−1
x =1 =⇒ converge
n=1 n
182 Capítulo 2. Séries de potências
1
pelo Teste da série alternada, pois n decresce para 0.
∞ (−1) n−1
(−1)n =
X
x = −1 =⇒
n=1 n
∞ 1
(−1)2n−1
X
=
n=1 n
∞
X 1
= − diverge
n=1 n
(−1)2n−1 = −1
−1 0 1
Mais à frente neste capítulo, veremos que
∞ (−1)n−1
x n = log(1 + x)
X
f (x) =
n=1 n
3) A série de potências
1 1 1
f (x) = x + x2 + x3 + · · ·
2 8 24
2.5. Domínio e raio de convergência 183
X∞ 1 n
= n
x
n=1 n2
1 n
x
n2n
Pelo teste da raiz
s¯ ¯
n ¯ 1 |x|
¯ ¯
lim ¯ n x n ¯¯ = lim p
n
n→∞ n2 n→∞ n2
|x|
=
2
de modo que
|x| X∞ 1 n
< 1 =⇒ n
x converge
2 n=1 n2
|x| X∞ 1 n
> 1 =⇒ n
x diverge
2 n=1 n2
o que é equivalente a
X∞ 1 n
|x| < 2 =⇒ n
x converge
n=1 n2
X∞ 1 n
|x| > 2 =⇒ n
x diverge
n=1 n2
184 Capítulo 2. Séries de potências
O Teste da raiz não nos diz o que ocorre quando |x| = 2, isto
é, quando x = ±2. Analisamos esses casos diretamente substi-
tuindo esses valores de x na série de potências
X∞ 1 n X ∞ 1
x =2 =⇒ n
2 = diverge
n=1 n2 n=1 n
∞ 1
(−1)n 2n
X
= n
n=1 n2
∞ 1
(−1)n
X
= converge
n=1 n
1 1 1
f (x) = 1 + x + x 2 + x 3 + x 4 + · · ·
2 6 24
∞ 1
xn
X
=
n=0 n!
0
Mais à frente neste capítulo, veremos que
∞ 1
xn = ex
X
f (x) =
n=0 n!
para todo x.
5) A série de potências
n!x n
= lim (n + 1)|x|
n→∞
= ∞
[−2, 2)
(−∞, ∞)
Proposição 2.17
2.5. Domínio e raio de convergência 187
Temos que
∞
c n x n converge
X
< 1 =⇒
³ ´
n=0
p
lim n |c n | |x|
n→∞
ou ∞
c n x n diverge
X
µ ¯ ¯¶
¯ c n+1 ¯ > 1 =⇒
lim ¯ |x|
n=0
¯
n→∞ ¯ c n ¯
= 1 =⇒ inconclusivo
Prova:
Fixado x, temos uma série numérica com termo geral
cn x n
onde
|c n x n | = |c n ||x|n
de modo que
p ³p ´ ³ p ´
n n
lim |c n x n | = lim |c n ||x| = lim n |c n | |x|
n→∞ n→∞ n→∞
e
|c n+1 x n+1 |
¯ ¯ ¯ ¯¶
¯ c n+1 ¯ ¯ c n+1 ¯
µ
lim = lim ¯
¯ ¯ |x| = lim ¯
¯ ¯ |x|
n→∞ |c n x n | n→∞ c n ¯ n→∞ c n ¯
Proposição 2.18
intervalos
Prova:
Para simplificar a prova, vamos supor a existência do limite
p
lim n |c n | = L
n→∞
∞
c n x n diverge
X
L|x| > 1 =⇒
n=0
logo
1
|x| < =⇒ a série de potências converge
L
1
|x| > =⇒ a série de potências diverge
L
Segue-se que o domínio da série de potências é um intervalo cen-
trado na origem com raio R = 1/L.
têm todos o mesmo raio R. Assim, o raio de convergência R nos diz ape-
nas o tamanho do domínio da série de potências, pois não diz qual des-
ses intervalos o domínio é (veja os Exemplos mais acima). Observe tam-
bém que podemos ter R = 0, e nesse caso o domínio da série de potên-
2.6. Derivada e integral 189
D ERIVADA
Tomando o devido cuidado com o domínio, podemos derivar uma série
de potências termo a termo como se fosse um polinômio
µ ∞ ¶0
n
¢0
c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + cn x n + · · ·
X ¡
cn x =
n=0
= 0 + c 1 + c 2 2x + · · · + c n nx n−1 + · · ·
Proposição 2.19
∞
c n x n com raio de convergência R > 0. Temos que
X
Seja
n=0
µ ∞ ¶0 ∞
n
c n nx n−1
X X
cn x =
n=0 n=1
∞
c n+1 (n + 1)x n
X
=
n=0
Prova:
Primeiro vamos provar que
∞ ∞
cn x n c n+1 (n + 1)x n
X X
f (x) = e g (x) =
n=0 n=0
temos que
1 ∞
cn x n
X
|x| < =⇒ converge
Lf n=0
1 ∞
cn x n
X
|x| > =⇒ diverge
Lf n=0
∞
c n+1 (n + 1)x n , cujos coefici-
X
Pelo Teste da razão aplicado a g (x) =
n=0
entes são
c n+1 (n + 1)
denotando ¯ ¯
¯ c n+2 (n + 2) ¯
L g = lim ¯¯ ¯
n→∞ c n+1 (n + 1) ¯
temos que
1 ∞
c n+1 (n + 1)x n
X
|x| < =⇒ converge
Lg n=0
1 ∞
c n+1 (n + 1)x n
X
|x| > =⇒ diverge
Lg n=0
2.6. Derivada e integral 191
¯ ¯
¯ c n+1 ¯
= lim ¯¯ ¯·1 = Lf
n→∞ c n ¯
Agora vamos mostrar que f 0 (x) = g (x). Para isso, usamos a defi-
nição de derivada
f (x + h) − f (x)
f 0 (x) = lim
h→0 µ h
1 X ∞ ∞ ¶
n n
X
= lim c n (x + h) − cn x
h→0 h n=0 n=1
∞ (x + h)n − x n
µ ¶
X
= lim cn
h→0 n=0 h
∞
c n n(x + h n )n−1
X
= lim
h→0 n=0
(x + h)n − x n
= n(x + h n )n−1 ,
h
para algum h n tal que |h n | < |h|. Quando |x| < R, as séries convergem
absolutamente e podemos provar (Proposição A.13) que
∞ ∞
c n n(x + h n )n−1 = c n nx n−1
X X
lim
h→0 n=1 n=1
192 Capítulo 2. Séries de potências
de modo que
∞
c n nx n−1
X
f 0 (x) =
n=1
∞
c n+1 (n + 1)x n
X
=
n=0
= g (x)
Exemplo
Vimos que
∞ 1 x2 x3 x4
xn = 1 + x +
X
+ + +···
n=0 n! 2! 3! 4!
∞ 1
nx n−1
X
=
n=1 n!
∞ 1
x n−1
X
=
n=1 (n − 1)!
∞ 1
xn
X
=
n=0 n!
x2 x3
= 1+x + + +···
2! 3!
∞ 1
xn = ex
X
Mais adiante neste capítulo, veremos que
n=0 n!
para x ∈ (−∞, ∞).
I NTEGRAL
Tomando o devido cuidado com o domínio, podemos integrar uma série
de potências termo a termo como se fosse um polinômio
∞
Z µX ¶ Z
n
c0 + c1 x + c2 x 2 + · · · + cn x n + · · · d x
¡ ¢
cn x dx =
n=0
x2 x3 x n+1
= c0 x + c1 + c2 + · · · + cn + · · · +C
2 3 n +1
Proposição 2.20
∞
c n x n com raio de convergência R > 0. Temos que
X
Seja
n=0
∞ ∞ x n+1
Z µX ¶
n
X
cn x dx = cn + C
n=0 n=0 n +1
∞ c
n−1
xn
X
= + C
n=1 n
194 Capítulo 2. Séries de potências
Prova:
Primeiro vamos provar que
∞ ∞ c
n−1 n
cn x n
X X
f (x) = e F (x) = x
n=0 n=1 n
temos que
1 ∞
cn x n
X
|x| < =⇒ converge
Lf n=0
1 ∞
cn x n
X
|x| > =⇒ diverge
Lf n=0
∞ c
X n−1 n
Pelo Teste da razão aplicado a F (x) = x , cujos coeficientes
n=1 n
são
c n−1
n
denotando ¯ c ¯
¯ n ¯
L F = lim ¯ cn+1
¯ ¯
n→∞ ¯ n−1 ¯
¯
n
2.6. Derivada e integral 195
temos que
1 ∞ c
X n−1 n
|x| < =⇒ x converge
LF n=1 n
1 ∞ c
X n−1 n
|x| > =⇒ x diverge
LF n=1 n
∞ ³c ´0
X n−1 n
= x
n=0 n
∞ c
n−1
nx n−1
X
=
n=1 n
∞
c n−1 x n−1
X
=
n=1
∞
cn x n
X
=
n=0
∞
cn x n
X
vale para (−R, R). Isso mostra que F (x) é uma primitiva para
n=0
196 Capítulo 2. Séries de potências
vale para (−R, R), onde F (x) é dada pela série de potências que que-
ríamos.
Exemplos
1) Vimos que
1 1 ∞
(−x)n
X
= =
1 + x 1 − (−x) n=0
∞
(−1)n x n
X
=
n=0
∞ x n+1
(−1)n
X
= + C
n=0 n +1
∞ (−1)n−1
xn
X
= + C
n=1 n
x2 x3 x4
= x− + − + · · · +C
2 3 4
vale para x ∈ (−1, 1). Substituindo x = 0 em ambos lados, te-
2.6. Derivada e integral 197
mos que
02 03 04
0 = log(1) = 0 − + − +··· + C
2 3 4
de modo que C = 0. Segue-se então que
∞ (−1)n−1
xn
X
log(x + 1) =
n=1 n
x2 x3 x4
= x− + − +···
2 3 4
vale para x ∈ (−1, 1).
É possível mostrar que a igualdade acima também vale
para x = 1, de onde segue o curioso fato de que
X∞ (−1)n−1
log(2) =
n=1 n
1 1 1
= 1− + − +···
2 3 4
é a soma da série harmônica-alternada.
A igualdade acima pode valer para x = −1?
2) Vimos que
1 1 ∞
(−x 2 )n
X
= =
1 + x 2 1 − (−x 2 ) n=0
∞
(−1)n x 2n
X
=
n=0
198 Capítulo 2. Séries de potências
∞ x 2n+1
(−1)n
X
= + C
n=0 2n + 1
x3 x5 x7
= x− + − + · · · +C
3 5 7
vale para x ∈ (−1, 1). Substituindo x = 0 em ambos lados, te-
mos que
03 05 07
0 = atg(0) = 0 − + − +··· + C
3 5 7
de modo que C = 0. Segue-se então que
∞ (−1)n
x 2n+1
X
atg(x) =
n=0 2n + 1
x3 x5 x7
= x− + − +···
3 5 7
vale para x ∈ (−1, 1).
É possível mostrar que a igualdade acima também vale
para x = 1, de onde segue o curioso fato de que
π
= atg(1)
4
X∞ (−1)n
=
n=1 2n + 1
1 1 1
= 1− + − +···
3 5 7
2.6. Derivada e integral 199
Proposição 2.21
Se
∞
cn x n
X
f (x) =
n=0
f (n) (0)
cn =
n!
para todo n.
Prova:
Temos que
f (x) = c 0 + c 1 x + c 2 x 2 + c 3 x 3 + c 4 x 4 + · · · ,
f 0 (x) = c 1 + c 2 2x + c 3 3x 2 + c 4 4x 3 + · · · ,
f (1) (0)
c1 =
1!
Calculando a derivada segunda, temos que
f (2) (0)
c2 =
2!
Calculando a derivada terceira, temos que
f (3) (0)
c3 =
3!
Para os outros valores de n, podemos proceder de forma análoga.
Corolário 2.22
Se
∞ ∞
cn x n = dn x n
X X
n=0 n=0
2.7. Série de Taylor 201
cn = dn
para todo n.
Prova:
Definindo
∞ ∞
cn x n dn x n
X X
f (x) = e g (x) =
n=0 n=0
segue-se que
Exemplos
1) Considere a função
0, x ≤0
f (x) =
e − x1 , x > 0
0
Podemos mostrar que
0, x <0
(n)
f (x) =
e − x1 p ¡ 1 ¢ , x > 0
n x
f (n) (0)
=0
n!
para todo n ≥ 0. Logo
∞ f (n) (0) ∞
xn = 0x n
X X
n=0 n! n=0
= 0 + 0x + 0x 2 + 0x 3 + · · ·
= 0
6= f (x)
f (n) (x) = e x
n ≥ 0, de modo que
f (n) (0) 1
=
n! n!
para todo n ≥ 0. Logo, a série de Taylor de e x é dada por
∞ f (n) (0) ∞ 1
xn = xn
X X
n=0 n! n=0 n!
x2 x3
= 1+x + + +···
2 3!
que tem raio de convergência R = ∞, como já vimos. Resta
mostrar que e x é igual à sua série de Taylor e, para isso, vamos
mostrar que essa série de Taylor satisfaz o PVI
y 0 (x) = y(x)
½
y(0) = 1
∞ 1
nx n−1
X
=
n=1 n!
∞ 1
x n−1
X
=
n=1 (n − 1)!
∞ 1
xn
X
=
n=0 n!
de modo que
f (2k) (x) = (−1)k sen(x)
para todo k ≥ 0. Por outro lado, as primeiras derivadas ímpa-
res são dadas por
de modo que
f (2k+1) (x) = (−1)k cos(x)
para todo k ≥ 0. Segue-se então que
(n) 0, n = 2k
f (0)
= (−1)k
n! , n = 2k + 1
(2k + 1)!
∞ (−1)k
(2k + 1)(2k)x 2k−1
X
=
k=1 (2k + 1)!
∞ (−1)k
x 2k−1
X
=
k=1 (2k − 1)!
∞ (−1)k+1
x 2k+1
X
=
k=0 (2k + 1)!
∞ (−1)k
x 2k+1
X
= −
k=0 (2k + 1)!
∞ (−1)k
(2k + 1)x 2k
X
=
k=0 (2k + 1)!
∞ (−1)k
x 2k
X
=
k=0 (2k)!
S ÉRIE BINOMIAL
Nesta seção, vamos determinar a série de Taylor da função binomial
f (x) = (1 + x)a . Quando a é um número natural, essa série se transforma
numa soma e obtemos a famosa fórmula do binômio de Newton. Aliás,
foi assim que o próprio Newton procedeu há mais de três séculos.
Exemplos
1) As primeiras derivadas de f (x) = (1 + x)a são dadas por
de modo que
temos que
¯¡ a ¢
n+1 ¯
¯
¯ n+1 x
¯ ¯a −n ¯
lim ¯ ¡a ¢ n ¯ = lim ¯ x¯
¯ ¯ ¯
n→∞ ¯ x ¯ n→∞ n + 1
n
¯ a − n ¯¯
= ¯ lim ¯ |x|
¯
n→∞ n + 1
= | − 1||x|
= |x|
y(0) = 1
cuja única solução é (1 + x)a . De fato, seja
à !
∞ a
xn
X
y(x) =
n=0 n
= a y(x)
T
v
L
T0
L0
Se a régua possui comprimento L 0 e o relógio possui pe-
ríodo T0 quando estão parados, o comprimento e o período
em movimento são dados por
s
v2 T0
L = L0 1− e T=s
c2
v2
1−
c2
v2
−1 < − <1
c2
podemos utilizar a série binomial para calcular o compri-
mento e o período em movimento. Segue-se então que
¶1
v2 2
µ
L = L0 1 − 2
c
à !µ ¶n
X 1
∞ v2
= L0 2 − 2
n=0 n c
1 v2 1 v4
µ ¶
= L0 1 − − +···
2 c2 8 c4
e também que
¶− 12
v2
µ
T = T0 1− 2
c
212 Capítulo 2. Séries de potências
∞ − 1 µ v 2 ¶n
à !
X
= T0 2 − 2
n=0 n c
2
1v 3 v4
µ ¶
= T0 1 + + +···
2 c2 8 c4
Vamos agora procurar soluções EDOs lineares por meio de séries de po-
tências
y(x) = c 0 + c 1 x + c 2 x 2 + c 3 x 3 + · · ·
Lembramos que
y 0 (x) = c1 + c 2 2x + c 3 3x 2 + c 4 4x 3 + · · ·
y 00 (x) = c 2 2 + c 3 3 · 2x + c 4 4 · 3x 2 + c 5 5 · 4x 3 + · · ·
2.8. Soluções de EDOs por séries de potências 213
De outro modo
∞
cn x n
X
y(x) =
n=0
∞
c n nx n−1
X
y 0 (x) =
n=0
∞
c n+1 (n + 1)x n
X
=
n=0
∞
c n n(n − 1)x n−2
X
y 00 (x) =
n=0
∞
c n+1 (n + 1)nx n−1
X
=
n=0
∞
c n+2 (n + 2)(n + 1)x n
X
=
n=0
Exemplos
1) Primeiro, consideramos uma equação de coeficientes cons-
tantes
y 00 (x) + y(x) = 0
Vamos procurar soluções da forma
∞
cn x n
X
y(x) =
n=0
214 Capítulo 2. Séries de potências
Substituindo
∞
y 00 (x) = c n+2 (n + 2)(n + 1)x n
X
n=0
c n+2 (n + 2)(n + 1) + c n = 0
−1
c n+2 = cn
(n + 2)(n + 1)
vez que
−1 −1
c2 = c0 = c0
(0 + 2)(0 + 1) 2!
−1 −1 −1 (−1)2
c4 = c2 = c0 = c0
(2 + 2)(2 + 1) 4 · 3 2! 4!
−1 −1 (−1)2 (−1)3
c6 = c2 = c0 = c0
(4 + 2)(4 + 1) 6 · 5 4! 6!
.. ..
. .
(−1)k
c 2k = c0
(2k)!
−1 −1
c3 = c1 = c1
(1 + 2)(1 + 1) 3!
−1 −1 −1 (−1)2
c5 = c3 = c1 = c1
(3 + 2)(3 + 1) 5 · 4 3! 5!
−1 −1 (−1)2 (−1)3
c7 = c5 = c1 = c1
(5 + 2)(5 + 1) 7 · 6 5! 7!
.. ..
. .
(−1)k
c 2k+1 = c1
(2k + 1)!
216 Capítulo 2. Séries de potências
(−1)k
c0 , n = 2k
cn = (2k)!
(−1)k
c1 , n = 2k + 1
(2k + 1)!
de modo que
(−1)k
, n = 2k
cn =
(2k)!
0, n = 2k + 1
de modo que
0, n = 2k
cn = (−1)k
, n = 2k + 1
(2k + 1)!
x 2 y 00 + (3x − 1)y 0 + y = 0
Temos que
∞
x 2 y 00 = x 2 n(n − 1)c n x n−2
X
n=0
∞
n(n − 1)c n x n
X
=
n=0
∞ ∞
(3x − 1)y 0 = 3x nc n x n−1 − (n + 1)c n+1 x n
X X
n=0 n=0
218 Capítulo 2. Séries de potências
∞
[3nc n − (n + 1)c n+1 ]x n
X
=
n=0
de modo que
∞
[n(n − 1)c n + 3nc n + c n − (n + 1)c n+1 ]x n = 0
X
n=0
c n+1 = (n + 1)c n
x ≤0
0,
y(x) = −1
e x , x >0
x
é uma solução da equação acima. Essa função pode ser es-
crita como y(x) = x f 0 (x), onde f (x) é a função do primeiro
exemplo da seção Série de Taylor. Como f (x) possui todas as
derivadas em todos os pontos da reta, o mesmo vale para essa
solução y(x), que, no entanto, não pode ser escrita como uma
série de potências.
que µ ∞ ¶
n
X
8y(x) = 8 cn x
n=0
∞
8c n x n
X
=
n=0
que µ ∞ ¶
n−1
X
0
−2x y (x) = −2x c n nx
n=0
∞
−2c n nx n
X
=
n=2
e que
∞
y 00 (x) = c n n(n − 1)x n−2
X
n=2
2(n − 4)
c n+2 = cn
(n + 2)(n + 1)
c 0 = y 1 (0) = 1 c 1 = y 10 (0) = 0
2·0−8
c2 = c 0 = −4 · 1 = −4
2·1
µ ¶
2·2−8 1 4
c4 = c 2 = − · (−4) =
4·3 3 3
2·4−8 4
c6 = c4 = 0 · = 0
6·5 3
e, a partir daí, temos c 8 = c 10 = · · · = 0, uma vez que, pela
equação de recorrência, cada coeficiente par é obtido a partir
da multiplicação pelo coeficiente par anterior. Uma vez que
c 1 = 0, temos que c 3 = c 5 = · · · = 0, uma vez que, pela equa-
ção de recorrência, cada coeficiente ímpar é obtido a partir da
multiplicação pelo coeficiente ímpar anterior. Obtemos assim
a solução
4
y 1 (x) = 1 − 4x 2 + x 4
3
que é um polinômio de grau N = 4.
222 Capítulo 2. Séries de potências
y 1 (x)
c 0 = y 2 (0) = 0 c 1 = y 20 (0) = 1
2(n − 4)
(n + 2)(n + 1)
não é um polinômio.
Podemos obter o raio de convergência dessa série de po-
tências a partir da fórmula de recorrência. De fato, basta notar
2.8. Soluções de EDOs por séries de potências 223
que ¯ ¯
¯c 2(k+1)+1 ¯ ¯ ¯
¯ 2(k+1)+1 x 2
¯ c 2k+3 ¯
lim ¯ ¯ = |x| lim ¯ ¯=0
¯ ¯
k→∞ ¯ c 2k+1 x 2k+1 ¯ k→∞ c 2k+1
¯
c 2k+3 2((2k + 1) − 4)
lim = lim =0
k→∞ c 2k+1 k→∞ (2k + 3)(2k + 2)
y 1 (x) y 2 (x)
0 L
y(x) x
E ω4 J 2
µ ¶
2
a = EI, b = ω J 1+ , c= − ρω2
G IG
onde E e G dependem do material da viga, sendo conhecidos como mó-
dulos de Young e de cisalhamento, I e J dependem também da geome-
tria da seção transversal da viga, sendo conhecidos como momentos de
inércia e de inércia polar, e ρ é a densidade linear da viga.
a n r n + a n−1 r n−1 + · · · + a 1 r + a 0 = 0
D y = y0
de modo que
D 2 y = DD y = D y 0 = y 00
e, de modo mais geral, que
D n y = y (n)
Denotando
p(D) = a n D n + a n−1 D n−1 + · · · + a 1 D + a 0
podemos definir
a n D n + a n−1 D n−1 + · · · + a 1 D + a 0 y
¡ ¢
p(D)y =
= a n y (n) + a n−1 y (n−1) + · · · + a 1 y 0 + a 0 y
p(D)y = 0
Proposição 3.1
(p(D)q(D))y = p(D)(q(D)y)
Além disso, se
p(D)y = 0
q(D)z = 0
228 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
então
p(D)q(D)(y + z) = 0
Prova:
Se
p(D) = a n D n + · · · + a 1 D + a 0
q(D) = b m D m + · · · + b 1 D + b 0
segue-se que
q(D)y = b m y (m) + · · · + b 1 y 0 + b 0 y
(p(D)q(D))y = p(D)(q(D)y)
= q(D)p(D)y + p(D)q(D)z
= q(D)(p(D)y) + p(D)(q(D)z)
= q(D)0 + p(D)0
= 0
Exemplo
A EDO y 00 − y = 0 pode ser escrita como
(D 2 − 1)y = 0
r 2 − 1 = (r + 1)(r − 1)
Afirmamos que
D 2 − 1 = (D + 1)(D − 1)
De fato,
(D 2 − 1)y = (D + 1) (D − 1)y
| {z }
=0
= (D + 1)0
= 0
(D 2 − 1)y = (D − 1) (D + 1)y
| {z }
=0
= (D − 1)0
= 0
(D + 1)y = 0 e (D − 1)y = 0
3.1. Raízes características 231
Pela Proposição 3.1, temos que a soma das soluções das equações
(D − r 1 )m1 y = 0
(D − r 2 )m2 y = 0
..
.
(D − r k )mk y = 0
é solução da EDO original. Como uma dada raiz r pode ser complexa, va-
mos primeiramente determinar a solução geral complexa dessas EDOs.
Posteriormente nesta seção, vamos utilizar a Proposição A.11 para obter
a solução geral real da EDO original como sendo a parte real da solução
geral complexa da EDO original.
Proposição 3.2
Escrevendo
y(t ) = e r t z(t )
temos que
(D − r )m y = e r t D m z
232 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
(D − r )m y = 0
é dada por
y(t ) = P (t )e r t
Prova:
Vamos provar que
(D − r )m y = e r t D m z
por indução em m. Para m = 1, temos
(D − r )e r t z = (e r t z)0 − r ze r t = e r t z 0 = e r t D z
Supondo que a fórmula vale para m −1, vamos mostrar que vale para
m. De fato, temos que
(D − r )m e r t z = (D − r )[(D − r )m−1 e r t z]
= (D − r )e r t D m−1 z
= e r t DD m−1 z
= er t Dm z
(D − r )m y = 0
(D − r )m y = e r t D m z = 0
3.1. Raízes características 233
que é equivalente a
Dm z = 0
A solução geral dessa última EDO é obtida por m integrações, de
modo que
z(t ) = P (t ) = C 1 +C 2 t + · · · +C m t m−1
onde C 1 ,C 2 , . . . ,C m são constantes complexas arbitrárias.
P 1 (t )e r 1 t + P 2 (t )e r 2 t + · · · + P k (t )e r k t
Proposição 3.3
Prova:
Vamos demonstrar essa proposição por indução no grau de P (t ). Se
234 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
er t
Z
P (t )e r t d t = P +C = Q(t )e r t +C
r
er t er t
Z Z
rt
P (t )e d t = P (t ) − P 0 (t ) dt
r r
er t
Z
P 0 (t ) d t = R(t )e r t + A
r
er t
Z
P (t )e r t d t = P (t ) − R(t )e r t − A = Q(t )e r t +C
r
Teorema 3.4
P 1 (t )e r 1 t + P 2 (t )e r 2 t + · · · + P k (t )e r k t
Prova:
Pelo que observamos acima, resta apenas mostrar que toda solução
possui essa forma. Vamos demonstrar esse resultado por indução no
número de raízes distintas. Quando temos apenas uma raiz distinta,
o resultado segue da Proposição 3.2. Supondo que já demonstramos
o resultado para k raízes distintas, vamos mostrar que também é vá-
lido para k + 1 raízes distintas. Nesse caso, a EDO pode ser escrita
como
Escrevendo
u = (D − r k+1 )mk+1 y
temos que u satisfaz a EDO
u(t ) = P 1 (t )e r 1 t + P 2 (t )e r 2 t + · · · + P k (t )e r k t
(D − r k+1 )mk+1 y = P 1 (t )e r 1 t + P 2 (t )e r 2 t + · · · + P k (t )e r k t
Escrevendo
y = e r k+1 t z
pela primeira parte da Proposição 3.2, temos que
e r k+1 t D mk+1 z = P 1 (t )e r 1 t + P 2 (t )e r 2 t + · · · + P k (t )e r k t
de modo que
Agora podemos obter a solução geral real de uma EDO linear com
coeficientes constantes. Lembramos que, como os coeficientes são reais,
as eventuais raízes complexas sempre aparecem aos pares conjugados
com a mesma multiplicidade.
Teorema 3.5
3.1. Raízes características 237
p(t )e r t
Prova:
Pela Proposição A.11, a solução geral real da EDO original é dada pela
parte real da solução geral complexa da EDO original. Além disso, a
parte real de uma soma é a soma das partes reais.
Se r é uma raiz real com multiplicidade m, ela determina a par-
cela P (t )e r t na solução geral complexa, com P (t ) = p(t )+i q(t ), onde
p(t ) e q(t ) são polinômios em t com coeficientes reais quaisquer e
com grau menor que m. Segue-se que a parte real de P (t )e r t é dada
por p(t )e r t .
Se a ±i b é um par de raízes complexas conjugadas com multipli-
cidade m, elas determinam as parcelas R(t )e (a+i b)t +U (t )e (a−i b)t na
solução geral complexa, com R(t ) = r (t ) + i s(t ) e U (t ) = u(t ) + i v(t ),
onde r (t ), s(t ), u(t ), v(t ) são polinômios em t com coeficientes reais
238 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
segue-se que a parte real de R(t )e (a+i b)t +U (t )e (a−i b)t é dada por
Exemplos
1) O resultado anterior recupera a solução geral de
y 00 + q y 0 + p y = 0
c1 e r1 t + c2 e r2 t
Se ela possui uma raiz real única r , então ela tem multiplici-
dade dois e determina a parcela (c 1 + c 2 t )e r t , uma vez que o
polinômio da parcela tem grau, no máximo, um. A solução
geral nesse caso é dada então por
c1 e r t + c2 t e r t
2) A EDO de 3ª ordem
(D − 2)3 y = 0
y(t ) = (c 1 + c 2 t + c 3 t 2 )e 2t
3) A EDO de 3ª ordem
(D − 2)2 (D + 5)y = 0
4) A EDO de 2ª ordem
(D 2 − 4D + 13)y = 0
5) A EDO de 4ª ordem
(D 2 − 4D + 13)2 y = 0
r 4 + 3r 2 − 4 = 0
s 2 + 3s − 4 = 0
s1 = 1 e s 2 = −4
r 1 = 1, r 2 = −1, r 3 = 2i , r 4 = −2i
Exemplos
1) Considere a EDO não homogênea de 1ª ordem
(D − 2)y = 3e −5t
A homogênea associada é
(D − 2)y = 0
y h (t ) = c 1 e 2t
(D + 5)y = 0
(D − 2)y = 3e −5t
=⇒ (D + 5)(D − 2)y = (D + 5)(3e −5t )
=⇒ (D + 5)(D − 2)y = 0
3
y(t ) = c 1 e 2t − e −5t
7
(D − 2)y = 4e 2t
(D − 2)y = 0
(D − 2)y = 4e 2t
=⇒ (D − 2)(D − 2)y = (D − 2)(4e 2t )
=⇒ (D − 2)2 y = 0
y(t ) = c 1 e 2t + At e 2t
y(t ) = c 1 e 2t + 4t e 2t
Passos
1) Homogênea: Fatorar a homogênea associada usando o ope-
rador derivada D e obter sua solução geral.
3.2. Coeficientes a determinar 245
Observe que usar a tabela anterior é como resolver uma EDO ao con-
trário: dado um forçamento no lado esquerdo, devemos descobrir qual
raiz característica igual a r , e com qual multiplicidade m, devemos ter
numa EDO para que o forçamento seja uma de suas soluções. Ao utilizar
essa raiz com multiplicidade e o operador derivada D, obtemos, no lado
direito, o anulador desse forçamento.
246 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
O SCILAÇÕES FORÇADAS
Vimos no primeiro capítulo que o movimento sem força externa de um
sistema massa-mola sem amortecimento e de um circuito LC sem resis-
tência são modelados pela mesma EDO homogênea
y 00 + ω2 y = 0
(D − i ω)(D + i ω)y = 0
y h (t ) = c 1 cos(ωt ) + c 2 sen(ωt )
y 00 + ω2 y = L cos(w 0 t )
(D − i ω0 )(D + i ω0 )
3.2. Coeficientes a determinar 247
Segue-se que
(D − i ω)2 (D + i ω)2 y = 0
Exemplo
Pode-se mostrar que, quando uma função y(t ) possui crescimento ex-
ponencial, ou seja, quando
£ ¤ existem constantes c e M tais que |y(t )| ≤
ct
Me , a transformada L y possui domínio da forma (a, ∞). Uma vez
que não será de utilidade para os resultados deste capítulo, não vamos
nos preocupar em determinar os domínios das diversas transformadas a
serem consideradas.
L INEARIDADE DA TRANSFORMADA
Uma das propriedade mais simples da transformada é que a transfor-
mada da combinação linear é a combinação linear das transformadas.
Proposição 3.6
Prova:
Temos que
Z ∞
e −st (a y(t ) + bz(t )) d t
£ ¤
L a y + bz =
0
Z ∞
= ae −st y(t ) + be −st z(t ) d t
0
250 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
Z ∞ Z ∞
−st
= a e y(t ) d t + b e −st z(t ) d t
0 0
£ ¤
= aL y + bL [z]
Exemplos
1) Temos que
L 3e 2t − 2e −3t = 3L e 2t − 2L e −3t
£ ¤ £ ¤ £ ¤
1 1
= 3 −2
s −2 s +3
2) Temos que
e at − e −at
· ¸
L [senh(at )] = L
2
µ ¶
1 1 1
= −
2 s−a s+a
µ ¶
1 2a
=
2 (s − a)(s + a)
a
=
s − a2
2
T RANSFORMADA DA DERIVADA
A mais importante propriedade da transformada é que ela transforma
derivar em relação à variável t em multiplicar pela variável s. Essa é a
propriedade que a torna útil na resolução de PVIs, como veremos mais
adiante nesta seção.
3.3. Transformada de Laplace 251
Proposição 3.7
Temos que
L y 0 = sL y − y(0)
£ ¤ £ ¤
Prova:
A demonstração se baseia na regra da integração por partes e no fato
de que ¡ −st ¢0
e = −se −st
Segue-se então que
Z ∞
L y0 = e −st y 0 (t ) d t
£ ¤
0
Z ∞
£ −st ¤∞
= e y(t ) 0 − −se −st y(t ) d t
Z ∞ 0
= −y(0) + s e −st y(t ) d t
0
£ ¤
= sL y − y(0)
Exemplo
Outra forma de obter a transformada de y(t ) = e at , é primeiro
252 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
y(0) = 1
1
L e at = L y =
£ ¤ £ ¤
s−a
Proposição 3.8
Temos que
L y 00 = s 2 L y − s y(0) − y 0 (0)
£ ¤ £ ¤
Prova:
Temos que
L y 00 = L (y 0 )0
£ ¤ £ ¤
= sL y 0 − y 0 (0)
£ ¤
= s sL y − y(0) − y 0 (0)
¡ £ ¤ ¢
= s 2 L y − s y(0) − y 0 (0)
£ ¤
Segue-se que
L y 000 = L (y 00 )0
£ ¤ £ ¤
= sL y 00 − y 00 (0)
£ ¤
Exemplos
1) Vamos obter a transformada de y(t ) = cos(t ) usando que
ele é a solução do PVI
00
y = −y
y(0) = 1, y 0 (0) = 0
s 2 L y − s y(0) − y 0 (0) = s 2 L y − s = −L y
£ ¤ £ ¤ £ ¤
y(0) = 0, y 0 (0) = 1
s 2 L y − s y(0) − y 0 (0) = s 2 L y − 1 = −L y
£ ¤ £ ¤ £ ¤
solução do PVI
(n+1)
y =0
= s n+1 L y − n!
£ ¤
= 0
n!
L t n = L y = n+1
£ ¤ £ ¤
s
Exemplo
Considere o PVI
00 0
y + 3y + 2y = 0
y(0) = 1, y 0 (0) = −2
256 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
L y 00 + 3y 0 + 2y = L [0] = 0
£ ¤
L y 00 + 3L y 0 + 2L y = 0
£ ¤ £ ¤ £ ¤
s 2 L y −¡ s y(0) 0
¡ £ ¤ ¢
£ ¤− y (0)¢ +
+3 sL y − y(0)£ +¤
+2L y = 0
e as condições iniciais
s 2 L y −£(s ¤− 2) +
£ ¤
+3sL y −£3+¤
+2L y = 0
s 2 + 3s + 2 L y = (s − 2) + 3 = s + 1
¡ ¢ £ ¤
temos que
£ ¤ s +1
L y =
s 2 + 3s + 2
Uma vez que
s 2 + 3s + 2 = (s + 1)(s + 2)
segue-se que
1
= L e −2t
£ ¤ £ ¤
L y =
s +2
Vamos ver mais adiante neste capítulo que isso de fato implica
que
y(t ) = e −2t
3.3. Transformada de Laplace 257
D ESLOCAMENTO
O efeito, sobre a transformada, de multiplicarmos uma função y(t ) pela
função e at é deslocarmos a variável s para a variável s − a.
Proposição 3.9
Temos que
L y(t )e at (s) = L y(t ) (s − a)
£ ¤ £ ¤
Prova:
Temos que
Z ∞
at
e −st y(t )e at d t
£ ¤
L y(t )e (s) =
0
Z ∞
= e (a−s)t y(t ) d t
Z0 ∞
= e −(s−a)t y(t ) d t
0
£ ¤
= L y(t ) (s − a)
Exemplo
Uma vez que
n!
L t n (s) = n+1
£ ¤
s
258 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
L t n e at (s) = L t n (s − a)
£ ¤ £ ¤
n!
=
(s − a)n+1
Por exemplo
1
L t e −t =
£ ¤
(s + 1)2
Exemplo
Considere o PVI
00 0
y + 2y + y = 0
y(0) = 0, y 0 (0) = 1
L y 00 + 2y 0 + y = L [0] = 0
£ ¤
L y 00 + 2L y 0 + L y = 0
£ ¤ £ ¤ £ ¤
s 2 L y −¡ s y(0) 0
¡ £ ¤ ¢
£ ¤ − y (0) ¢+
+2 sL y − y(0)£ +¤
+L y = 0
3.3. Transformada de Laplace 259
e as condições iniciais
s 2 L y £− 1+
£ ¤
¤
+2sL y£ +¤
+L y = 0
s 2 + 2s + 1 L y = 1
¡ ¢ £ ¤
temos que
£ ¤ 1
L y =
s 2 + 2s + 1
Uma vez que
s 2 + 2s + 1 = (s + 1)2
segue-se que
£ ¤ 1 £ −t ¤
L y = = L te
(s + 1)2
Vamos ver mais adiante neste capítulo que isso de fato implica
que
y(t ) = t e −t
M UDANÇA DE ESCALA
O efeito, sobre a transformada, de multiplicarmos a variável t por uma
constante positiva b é dividirmos tanto a transformada quanto a variável
s por b.
Proposição 3.10
260 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
Temos que
£ ¤ 1 £ ¤³ s ´
L y(bt ) (s) = L y(t )
b b
Prova:
Temos que Z ∞
e −st y(bt ) d t
£ ¤
L y(bt ) (s) =
0
1 ∞ −¡ s ¢t
Z
£ ¤
L y(bt ) (s) = e b y(t ) d t
b 0
1 £ ¤³ s ´
= L y(t )
b b
Exemplos
1) Uma vez que
1
L [ sen(t )] (s) =
s2 + 1
3.3. Transformada de Laplace 261
1 ³s´
L [ sen(bt )] (s) = L [ sen(t )]
b b
1 1
=
b s 2 +1
¡ ¢
b
1 b
=
b2 s2
+1
b2
b
=
s2 + b2
Utilizando a regra do deslocamento, temos que
b
=
(s − a)2 + b 2
Por exemplo
2
L e −t sen(2t ) =
£ ¤
(s + 1)2 + 4
1 ³s´
L [ cos(bt )] (s) = L [ cos(t )]
b b
s
1 b
= ¡ s ¢2
b +1
b
1 s
=
b2 s2
+1
b2
s
=
s2 + b2
262 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
s−a
=
(s − a)2 + b 2
Por exemplo
s +1
L e −t cos(2t ) =
£ ¤
(s + 1)2 + 4
Exemplo
Considere o PVI
00 0
y + 2y + 5y = 0
y(0) = 0, y 0 (0) = 2
L y 00 + 2y 0 + 5y = L [0] = 0
£ ¤
L y 00 + 2L y 0 + 5L y = 0
£ ¤ £ ¤ £ ¤
s 2 L y −¡ s y(0) 0
¡ £ ¤ ¢
£ ¤ − y (0) ¢+
+2 sL y − y(0)£ +¤
+5L y = 0
3.3. Transformada de Laplace 263
e as condições iniciais
s 2 L y £− 2+
£ ¤
¤
+2sL y£ +¤
+5L y = 0
s 2 + 2s + 5 L y = 2
¡ ¢ £ ¤
temos que
£ ¤ 2
L y =
s 2 + 2s + 5
Uma vez que
s 2 + 2s + 1 = (s + 1)2 + 4
segue-se que
£ ¤ 2 £ −t ¤
L y = = L e sen(2t )
(s + 1)2 + 4
Vamos ver mais adiante neste capítulo que isso de fato implica
que
y(t ) = e −t sen(2t )
D ERIVADA DA TRANSFORMADA
£ ¤
Enquanto a transformada da derivada se relaciona com multiplicar L y
pela variável s, a derivada da transformada se relaciona com multiplicar
£ ¤
y pela variável −t . Primeiro vamos mostrar que a transformada L y (s)
é uma função contínua em relação à variável s.
Proposição 3.11
264 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
Temos que
£ ¤ £ ¤
lim L y (s + h) = L y (s)
h→0
Prova:
Temos que
Z ∞ Z ∞
−(s+h)t
e −st y(t ) d t
£ ¤ £ ¤
L y (s + h) − L y (s) = e y(t ) d t −
Z0 ∞ ³ ´
0
e −(s+h)t − e −st
= −t e −(s+c)t ,
h
para algum c tal que |c| < |h| < 1. Usando que o módulo da integral é
menor ou igual à integral do módulo, segue-se que
¯Z ∞ ¯
−(s+c)t
¯ £ ¤ £ ¤ ¯ ¯ ¡ ¢ ¯
¯L y (s + h) − L y (s)¯ = |h| ¯ e −x y(t ) d t ¯¯
¯
0
Z ∞
e −(s+c)t ¯−x y(t )¯ d t
¯ ¯
≤ |h|
Z0 ∞
e −(s−1)t ¯−x y(t )¯ d t
¯ ¯
≤ |h|
0 ¯¤
£¯
= |h|L ¯−x y ¯ (s − 1)
3.3. Transformada de Laplace 265
onde utilizamos que e −(s+c)t < e −(s−1)t . Por sanduíche, segue-se que
£ ¤ £ ¤
lim L y (s + h) = L y (s)
h→0
£ ¤
Agora vamos determinar a derivada de L y (s) em relação à variável
s.
Proposição 3.12
Temos que
£ ¤0 £ ¤
L y (s) = L −t y (s)
Prova:
Temos que
£ ¤ £ ¤
£ ¤0 L y (s + h) − L y (s)
L y (s) = lim
h→0 h
Z ∞ µ −(s+h)t
e − e −st
¶
= lim y(t ) d t
h→0 0 h
Z ∞
= lim −t e −(s+c)t y(t ) d t
h→0 0
£ ¤
= L −t y (s)
Exemplos
1) Temos que
L t e at = −L −t e at
£ ¤ £ ¤
£ ¤0
= −L e at
1 0
µ ¶
= −
s−a
1
=
(s − a)2
2) Temos que
I NJETIVIDADE DA TRANSFORMADA
Quando temos que a tranformada da solução de um PVI é igual à trans-
formada de uma função conhecida, precisamos saber se isso implica que
a solução do PVI é igual a essa função conhecida. Primeiro precisamos
do seguinte lema.
Lema 3.13
Se
∞
cn t n
X
y(t ) =
n=0
∞
cn L t n
£ ¤ X £ ¤
L y =
n=0
Prova:
Usando a linearidade da transformada, temos que
" #
£ ¤ k−1
X £ n¤ ∞
X n
L y = cn L t + L cn t
n=0 n=k
de modo que
" #
£ ¤ k−1 £ n¤ ∞
cn t n
X X
L y − cn L t = L
n=0 n=k
n
para todo k, onde usamos que ∞
P
n=0 c n t é absolutamente conver-
gente, uma vez que seu raio de convergência é infinito. Agora, para
todo u > 0, segue-se que
¯ ¯ Ã !
¯ £ ¤ k−1 ¯ Z u ∞
cn L t n ¯ ≤ e −st |c n |t n d t
X £ ¤ X
¯L y −
¯ ¯
¯ n=0
¯ 0 n=k
à !
Z ∞ ∞
−st n
X
+ e |c n |t d t
u n=k
à !Z
∞ u
|c n |u n e −st d t
X
≤
n=k 0
Z ∞ µ ∞ ¶
−st n
X
+ e |c n |t dt
u n=0
temos que
∞ ∞ ∞
¯ ¯ Z µ ¶
¯ £ ¤ X £ n ¤¯ −st
X n
¯L y − c n L t ¯¯ ≤ e |c n |t dt
¯
n=0 u n=0
de modo que
∞
cn L t n
£ ¤ X £ ¤
L y =
n=0
Proposição 3.14
L [w] = L [z] =⇒ w =z
Prova:
Se
L [w] = L [z]
pela linearidade da transformada, temos que
L [w − z] = L [w] − L [z] = 0
Definindo
y = w −z
basta então mostrarmos que
y =0
onde x = 1/s ∈ (0, R), para algum R > 0. Segue-se então que c n n! = 0,
para todo n ≥ 0, de modo que c n = 0, para todo n ≥ 0, mostrando que
y = 0.
L −1 [Y (s)] = y(t )
£ ¤
se Y (s) = L y(t )
que está bem definida, uma vez que y(t ) é única pela injetividade da
transformada. As transformadas das funções já consideradas até aqui,
3.4. Transformada inversa 271
n!
t ner t
(s − r )n+1
b
e at sen(bt )
(s − a)2 + b 2
s−a
e at cos(bt )
(s − a)2 + b 2
As transformadas das funções elementares são denominadas frações par-
ciais e suas transformadas inversas são as respectivas funções elementa-
res, o que é apresentado na tabela abaixo, obtida da tabela acima sim-
plesmente trocando suas colunas.
Y (s) L −1 [Y (s)]
n!
t ner t
(s − r )n+1
b
e at sen(bt )
(s − a)2 + b 2
s−a
e at cos(bt )
(s − a)2 + b 2
Em geral, não é tão fácil calcular a transformada inversa de uma dada
função Y (s).
F UNÇÕES RACIONAIS
Nos PVIs considerados por nós até agora, a transformada da solução é,
em geral, o que denominamos de função racional em s, dada por
P (s)
Y (s) =
Q(s)
272 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
onde P (s) e Q(s) são polinômios, tais que o grau de P (s) é menor do que
o grau de Q(s). Nesse caso, podemos escrever a transformada inversa de
Y (s) como uma combinação linear de funções elementares.
Proposição 3.15
−1 P (s)
· ¸
L = · · · + A 1 e r t + A 2 t e r t + A 3 t 2 e r t + · · · + A m t m−1 e r t + · · ·
Q(s)
· · · + Ae at sen(bt ) + B e at cos(bt ) + · · ·
Prova:
Temos que
Q(s) = a n s n + · · · + a 1 s + a 0
e que
P (s) = b n−1 s n−1 + · · · + b 1 s + b 0
onde a n 6= 0. Considere agora o PVI homogêneo
(n) 0
an y + · · · + a1 y + a0 y = 0
de modo que
..
.
¡ ¢
+a 1 sL[y] − y 0
+a 0 L[y] = 0
£ ¤ R(s)
L y =
Q(s)
onde
an y 0 = b n−1
a y + a y = b n−2
n−1 0 n 1
.. .. ..
. . .
a y + · · · + a n−1 y n−3 + a n y n−2 = b1
2 0
a 1 y 0 + · · · + a n−2 y n−3 + a n−1 y n−2 + a n y n−1 = b 0
de modo que
P (s)
· ¸
−1
L = y(t )
Q(s)
onde y(t ) é a solução do PVI.
O resultado segue do que sabemos sobre a solução geral da EDO
homogênea de coeficientes constantes do PVI que, de acordo com
a Seção 3.1, é determinada por suas raízes características que são
precisamente as raízes de Q(s).
Passos
1) Raízes do denominador: Determinar as raízes de Q(s). Va-
mos considerar apenas o caso em que Q(s) possui raízes reais
r com multiplicidade m e raízes complexas conjugadas sim-
ples a ± i b. Devemos então escrever o denominador da se-
guinte forma:
y(t ) = · · · + A 1 e r t + A 2 t e r t + A 3 t 2 e r t + · · · + A m t m−1 e r t + · · ·
· · · + Ae at sen(bt ) + B e at cos(bt ) + · · ·
ais:
P (s) 1
= · · · + A1
· · · (s − r )m · · · ((s − a)2 + b 2 ) · · · s −r
1
+A 2 +
(s − r )2
2
+A 3 +···
(s − r )3
(m − 1)!
· · · + Am +···
(s − r )m
b
···+ A +
(s − a)2 + b 2
s−a
+B +···
(s − a)2 + b 2
Exemplos
1) Considere o PVI
00 0 −3t
y + 6y + 9y = e
y(0) = 1, y 0 (0) = 2
1
L y 00 + 6y 0 + 9y = L e −3t =
£ ¤ £ ¤
s +3
Podemos então utilizar a linearidade da transformada
1
L y 00 + 6L y 0 + 9L y =
£ ¤ £ ¤ £ ¤
s +3
as regras da transformada das derivadas
s 2 L y −¡ s y(0) 0
¡ £ ¤ ¢
£ ¤ − y (0) ¢+
+6 sL y − y(0) +
£ ¤ 1
+9L y =
s +3
e as condições iniciais
s 2 L y −£(s ¤+ 2) +
£ ¤
+6sL y − 6+
£ ¤ 1
+9L y =
s +3
Colocando a transformada da solução do PVI em evidência
1 (s + 8)(s + 3) + 1
s 2 + 6s + 9 L y = s + 8 +
¡ ¢ £ ¤
=
s +3 s +3
3.4. Transformada inversa 277
temos que
£ ¤ (s + 8)(s + 3) + 1 s 2 + 11s + 25
L y = =
(s + 3)(s 2 + 6s + 9) (s + 3)(s 2 + 6s + 9)
(s + 3)(s 2 + 6s + 9) = (s + 3)3
s 2 + 11s + 25 1 1 2
3
=A +B 2
+C
(s + 3) s +3 (s + 3) (s + 3)3
1
A = 1, B = 5, C=
2
Solução do PVI: Segue-se que
1
y(t ) = e −3t + 5t e −3t + t 2 e −3t
2
é a solução do PVI.
2) Considere o PVI
00 0 t
y − 4y + 4y = e
y(0) = 0, y 0 (0) = 0
1
L y 00 − 4y 0 + 4y = L e t =
£ ¤ £ ¤
s −1
Podemos então utilizar a linearidade da transformada
1
L y 00 − 4L y 0 + 4L y =
£ ¤ £ ¤ £ ¤
s −1
as regras da transformada das derivadas
s 2 L y −¡ s y(0) 0
¡ £ ¤ ¢
£ ¤ − y (0) ¢+
−4 sL y − y(0) +
£ ¤ 1
+4L y =
s −1
3.4. Transformada inversa 279
e as condições iniciais
s 2L £y ¤ +
£ ¤
−4sL y +
£ ¤ 1
+4L y =
s −1
Colocando a transformada da solução do PVI em evidência
1
s 2 − 4s + 4 L y =
¡ ¢ £ ¤
s −1
temos que
£ ¤ 1
L y =
(s − 1)(s 2 − 4s + 4)
Raízes do denominador: Temos que r = 1 é raiz simples
de s − 1, e r = 2 é raiz dupla de s 2 − 4s + 4, de modo que o de-
nominador pode ser escrito como
y(t ) = Ae t + B e 2t +C t e 2t
1 1 1 1
2
=A +B +C
(s − 1)(s − 2) s −1 s −2 (s − 2)2
= (A + B )s 2 + (−4A − 3B +C )s + 4A + 2B −C
A = 1, B = −1, C =1
y(t ) = e t − e 2t + t e 2t
é a solução do PVI.
3) Considere o PVI
00 0
y + 4y + 13y = 2
y(0) = 0, y 0 (0) = 0
2
L y 00 + 4y 0 + 13y = L [2] =
£ ¤
s
Podemos então utilizar a linearidade da transformada
£ ¤ 2
L y 00 + 4L y 0 + 13L y =
£ ¤ £ ¤
s
3.4. Transformada inversa 281
s 2 L y −¡ s y(0) 0
¡ £ ¤ ¢
£ ¤ − y (0) ¢+
+4 sL y − y(0) +
£ ¤ 2
+13L y =
s
e as condições iniciais
s 2L £y ¤ +
£ ¤
+4sL y +
£ ¤ 2
+13L y =
s
Colocando a transformada da solução do PVI em evidência
¢ £ ¤ 2
s 2 + 4s + 13 L y =
¡
s
temos que
£ ¤ 2
L y =
s(s 2 + 4s + 13)
Raízes do denominador: Temos que r = 0 é raiz simples de
s, e a ± bi = −2 ± 3i são raízes complexas conjugadas simples
de s 2 + 4s + 13, de modo que o denominador pode ser escrito
como
s(s 2 + 4s + 13) = s((s + 2)2 + 32 )
Combinação de funções elementares: Podemos então es-
crever a solução como
2 1 3 s +2
2 2
= A +B 2 2
+C
s((s + 2) + 3 ) s (s + 2) + 3 (s + 2)2 + 32
282 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
2 4 2
A= , B =− , C =−
13 39 13
Solução do PVI: Segue-se que
2 4 2
y(t ) = − e −2t sen(3t ) − e −2t cos(3t )
13 39 13
é a solução do PVI.
4) Considere o PVI
00 0
y − 2y + 2y = cos(t )
y(0) = 1, y 0 (0) = 0
s 2 L y −¡ s y(0) 0
¡ £ ¤ ¢
£ ¤ − y (0) ¢+
−2 sL y − y(0) +
£ ¤ s
+2L y =
s2 + 1
e as condições iniciais
s 2 L y£ −
£ ¤
¤ s+
−2sL y + 2
£ ¤ s
+2L y =
s2 + 1
Colocando a transformada da solução do PVI em evidência
s (s − 2)(s 2 + 1) + s
s 2 − 2s + 2 L y = s − 2 +
¡ ¢ £ ¤
=
s2 + 1 s2 + 1
temos que
£ ¤ s 3 − 2s 2 + 2s − 2
L y =
(s 2 + 1)(s 2 − 2s + 2)
Raízes do denominador: Temos que a ±b = 0±i são raízes
complexas conjugadas simples de s 2 + 1 e que a ± b = 1 ± i são
raízes complexas conjugadas simples de s 2 − 2s + 2, de modo
que o denominador pode ser escrito como
s 3 − 2s 2 + 2s − 2 1 s
= A +B +
(s 2 + 1)((s − 1)2 + 1) s2 + 1 s2 + 1
1 s −1
C 2
+D
(s − 1) + 1 (s − 1)2 + 1
B +D 1
=
A − 2B +C − D = −2
−2A + 2B + D = 2
2A +C − D = −2
2 1 2 4
A=− , B= , C =− , D=
5 5 5 5
3.5. Funções definidas por partes 285
2 1 2 4
y(t ) = − sen(t ) + cos(t ) − e t sen(t ) + e t cos(t )
5 5 5 5
é a solução do PVI.
c t
Definida por
½
0 se t < c
u c (t ) =
1 se t ≥ c
c t
c d t
3.5. Funções definidas por partes 287
Proposição 3.16
y 1 (t ) se t < c 1
y
2 (t ) se c 1 ≤ t < c 2
.
y(t ) = ..
y (t ) se c n−1 ≤ t < c n
n
y n+1 (t ) se t ≥ c n
y2 y n+1
yn
y1
c1 c2 c n−1 cn t
Então
¡ ¢ ¡ ¢
y(t ) = y 1 (t ) 1 − u¡c1 (t ) + y 2 (t ) u c1¢(t ) − u c2 (t ) + · · ·
· · · + y n (t ) u cn−1 (t ) − u cn (t ) + y n+1 (t )u cn (t )
288 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
Exemplo
Num circuito RLC, uma bateria de 12 volts é ligada no instante
t = 5 e desligada no instante t = 7. A carga q(t ) no capacitor
satisfaz o seguinte PVI
00 0
q + 4q + 3q = 12 (u 5 (t ) − u 7 (t ))
q(0) = 2
0
q (0) = −2
Proposição 3.17
Temos que
L u c (t )y(t ) = e −cs L y(t + c)
£ ¤ £ ¤
Prova:
Pela definição
Z ∞
e −st u c (t )y(t )d t
£ ¤
L u c (t )y(t ) = (3.1)
0
Z ∞
= e −st y(t )d t (3.2)
c
3.5. Funções definidas por partes 289
Exemplo
Temos que u c (t ) = u c (t ) · 1, logo
1
L [u c (t )] = e −cs L [1] = e −cs
s
Exemplo
Num circuito RLC, uma bateria de 12 volts é ligada no instante
t = 5 e desligada no instante t = 7. A carga q(t ) no capacitor
290 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
L q 00 + 4L q 0 + 3L q = 12L [u 5 (t )] − 12L [u 7 (t )]
£ ¤ £ ¤ £ ¤
s 2 L ¡q −£ 2s¤ + 2¢ +
¡ £ ¤ ¢
+4 sL q − 2 +
12 12
+3L q = e −5s − e −7s
£ ¤
s s
Colocando a transformada da solução do PVI em evidência
12 12
s 2 + 4s + 3 L q = 2s + 6 + e −5s − e −7s
¡ ¢ £ ¤
s s
temos que
2s + 6 12 12
+ e −5s − e −7s
£ ¤
L q =
s 2 + 4s + 3 s(s 2 + 4s + 3) s(s 2 + 4s + 3)
Exemplos
3.5. Funções definidas por partes 291
1) Se y(t ) = t n e r t , então
Corolário 3.18
Temos que
Prova:
O resultado segue da proposição anterior, uma vez que
Passos
A) Utilize a proposição acima e proceda£ como
¤ usualmente
para obter a transformada da solução L y , que sempre po-
derá ser escrita como
modo que
L y = L y 0 (t ) + e −c1 s L y 1 (t ) + · · · + e −cn s L y n (t )
£ ¤ £ ¤ £ ¤ £ ¤
y(t ) = y 0 (t ) + u c1 (t )y 1 (t − c 1 ) + · · · + u cn (t )y n (t − c n )
Exemplo
Num circuito RLC, uma bateria de 12 volts é ligada no instante
t = 5 e desligada no instante t = 7. A carga q(t ) no capacitor
satisfaz o seguinte PVI
00 0
q + 4q + 3q = 12 (u 5 (t ) − u 7 (t ))
q(0) = 2
0
q (0) = −2
Já vimos que
£ ¤ 2s + 6 −5s 12 −7s 12
L q = + e − e
s 2 + 4s + 3 s(s 2 + 4s + 3) s(s 2 + 4s + 3)
−5s −7s
= Q 0 (s) + e Q 1 (s) − e Q 1 (s)
onde
2s + 6 12
Q 0 (s) = Q 1 (s) =
s 2 + 4s + 3 s(s 2 + 4s + 3)
294 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
2 4 6 2
Q 0 (s) = Q 1 (s) = − +
s +1 s s +1 s +3
de onde obtemos as respectivas transformadas inversas
q 0 (t ) = 2e −t q 1 (t ) = 4 − 6e −t + 2e −3t
q(t ) = q 0 (t ) + u 5 (t )q 1 (t − 5) − u 7 (t )q 1 (t − 7)
= 2e −t +
+u 5 (t ) 4 − 6e −(t −5) + 2e −3(t −5)
¡ ¢
é a solução do PVI.
o que ilustra a praticidade da função degrau para lidar com funções de-
finidas por partes.
Exemplos
1) Um planeta de massa m se movimenta sob a força central
de uma estrela de massa M num plano coordenado em que a
estrela fica na origem e o planeta na posição (x, y).
Fy m
y
Fx
F
α
M
α
0 x
1 1
F x = −G M m cos(α) F y = −G M m sen(α)
d2 d2
onde G é a constante da gravitação universal. A Segunda Lei
296 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
mx 00 = F x
½
m y 00 = F y
Usando que
x y
cos(α) = sen(α) = d = (x 2 + y 2 )1/2
d d
a Segunda Lei de Newton fornece o seguinte sistema não li-
near de 2ª ordem e duas incógnitas
x
mx 00 = −G M m 2
(x + y 2 )3/2
y
m y 00 = −G M m
(x 2 + y 2 )3/2
x2 + y 2 = R2
GM
x 00 = − 3 x
R
y 00 = − G M y
R3
3.6. Sistema de EDOs 297
x(t ) = R cos(ωt )
y(t ) = R sen(ωt )
α β
X −→ Y −
→Z
X 0 = −αX
3.6. Sistema de EDOs 299
Y 0 = αX − βY
Exemplos
1) O sistema de EDOs da gravitação de dois corpos no plano
x y é de 2ª ordem para x e de 2ª ordem para y. O sistema não
é linear, pois nem a primeira nem a segunda equação é linear.
O sistema de EDOs do decaimento de isótopos é linear de 1ª
ordem.
i3
C R L
i 3 = i 1 + i 2.
Ri 10 + Ri 20 +C i 1 = 0
½
Li 20 + Ri 1 + Ri 2 = 0
k1 k2
m1 m2
y1 y2
Pela Lei de Hooke, a força de uma mola é proporcional à sua
distorção. Observe que a distorção da primeira mola é y 1 , uma
vez que essa mola está fixada na parede, enquanto a distorção
da segunda mola é y 2 − y 1 , uma vez que essa mola está fixada
no primeiro corpo. A Segunda Lei de Newton, aplicada ao pri-
meiro corpo, nos dá
m 1 y 100 = −k 1 y 1 + k 2 (y 2 − y 1 )
m 2 y 200 = −k 2 (y 2 − y 1 )
uma vez que apenas a segunda mola atua nele, com força na
direção oposta à distorção da mola. Segue-se que as posições
302 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
satisfazem
m 1 y 100 = −(k 1 + k 2 )y 1 + k 2 y 2
½
m 2 y 200 = k2 y 1 − k2 y 2
Exemplo
Já vimos que, num circuito RC submetido a uma força ele-
tromotriz nula, a resistência consome toda a carga do capaci-
tor, portanto, a corrente do circuito tende a zero exponencial-
mente. O mesmo acontece com a corrente de um circuito RL
submetido à força eletromotriz nula.
3.6. Sistema de EDOs 303
de modo que
½
sL[i 1 ] − i 1 (0) + sL[i 2 ] − i 2 (0) + 2L[i 1 ] = 0
sL[i 2 ] − i 2 (0) + L[i 1 ] + L[i 2 ] = 0
¯ ¯
¯ (s + 2) 2 ¯
¯ ¯
¯ 1 1 ¯ (s + 2) − 2 s
L[i 2 ] = ¯ ¯= = 2
¯ (s + 2) s ¯ (s + 2)(s + 1) − s s + 2s + 2
¯ ¯
¯ 1 (s + 1) ¯
−2 ± 2i
∆ = 4 − 8 = −4, = −1 ± i
2
Segue-se que o denominador se escreve como
s 2 + 2s + 2 = (s + 1)2 + 1
de modo que
s +2
L[i 1 ] =
(s + 1)2 + 1
s
L[i 2 ] =
(s + 1)2 + 1
Determinando i 1 (t ) e i 2 (t ) como nas seções anteriores, é facil
obter
i 1 (t ) = e −t cos(t ) + e −t sen(t )
i 2 (t ) = e −t cos(t ) − e −t sen(t )
i 3 (t ) = 2e −t cos(t )
Isso mostra que dois circuitos que não oscilam sozinhos po-
dem oscilar quando são acoplados, mesmo sem nenhuma
força eletromotriz externa.
S ISTEMAS DE 1ª ORDEM
Um estudo sistemático de sistemas de EDOs pode ser feito estudando os
sistemas de 1ª ordem uma vez que todo sistema de EDOs pode ser trans-
formado num sistema de 1ª ordem. Isso é bem ilustrado pela a Segunda
Lei de Newton, que é de 2ª ordem na posição mas de 1ª ordem na velo-
cidade. Por exemplo, considere um sistema massa-mola-amortecedor.
Sua posição y(t ) é solução da EDO
m y 00 = −k y − b y 0
v(t ) = y 0 (t )
y0 = v
que é um sistema de 1ª ordem na posição e na velocidade.
Podemos usar essa mesma ideia para transformar qualquer EDO ou
sistema de EDOs de ordem 2, 3 ou maior num sistema de EDOs de 1ª
ordem com mais funções incógnitas: basta introduzir progressivamente
as derivadas como novas funções incógnitas. Assim EDOs de todas as
ordens e os sistemas de EDOs de todas as ordens podem ser reduzidos a
sistemas de EDOs de 1ª ordem (com mais funções incógnitas).
Para simplificar a exposição, de agora em diante, vamos considerar
apenas sistemas de EDOs lineares homogêneos de coeficientes constan-
tes.
Exemplos
306 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
az 000 + bz 00 + c z 0 + d z = 0
a y 00 + b y 0 + c y + d z = 0
ax 0 + bx + c y + d z = 0
m 2 v 20 = k 2 y 1 − k 2 y 2
Introduzindo as velocidades v 1 = y 10 e v 2 = y 20 , temos que o
sistema de 1ª ordem com quatro incógnitas
m 1 v 10 −(k 1 + k 2 )y 1 + k 2 y 2
=
m 2 v 20
= k2 y 1 − k2 y 2
y 10 = v1
y 20
= v2
3.6. Sistema de EDOs 307
x 0 = ax + b y
½
y0 = cx + d y
temos que
½
(a − D)x + by = 0
c x + (d − D)y = 0
Podemos interpretar esse último sistema como um sistema linear onde
D aparece nos coeficientes. Imitando o método de Cramer, podemos
isolar x aplicando (d − D) na primeira equação, aplicando multiplicação
por −b na segunda equação e somando as equações
Exemplo
O movimento de um sistema massa-mola sem amortecimento
e com m = k é dado pela EDO de 2ª ordem
y 00 = −y
E XPONENCIAL DE MATRIZES
Considere o sistema de EDOs na forma matricial
µ 0¶ µ ¶
x ax + b y
=
y0 cx + d y
µ ¶µ ¶
a b x
=
c d y
Colocando
x 0 (t )
µ ¶ µ ¶ µ ¶
a b x(t )
X 0 (t ) = A= X (t ) =
y 0 (t ) c d y(t )
Exemplo
O sistema linear de 1ª ordem para a posição e a velocidade do
massa-mola com k = m é
µ ¶0 µ ¶µ ¶
v 0 −1 v
=
y 1 0 y
310 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
x 0 (t ) = ax(t )
½
x(0) = c
x(t ) = e at c
t2 t3
e At = I + At + A 2 + A3 + · · ·
2! 3!
onde A 2 = A¡A, A 3
¢ = A A A, . . ., são as potências da matriz A, e I é a matriz
identidade 0 1 . É imediato que, para t = 0, temos e 0 = I e é possível
1 0
provar que
¢0 t2 t3
e At = A + A2 t + A3 + A4 + · · ·
¡
2! 3!
2 3
2t 3t
µ ¶
= A I + At + A +A +···
2! 3!
= Ae At
3.6. Sistema de EDOs 311
Exemplo
Considere o sistema linear de 1ª ordem para a posição e a ve-
locidade do massa-mola
µ ¶0 µ ¶µ ¶
v 0 −1 v
=
y 1 0 y
A0 = I A 2 = −I A4 = A2 A2 = I ...
A1 = A A 3 = A 2 A = −A A5 = A4 A = A ...
Portanto, e t A é
à 2
t4
! Ã !
− t2!
µ ¶
1 0 0 4!
0
+ 2 + t4
+ ...
0 1 0 − t2! 0 4!
t3 5
à ! à !
− t5!
µ ¶
0 −t 0 3! 0
+ + 3 + t5
+ ...
t 0 − t3! 0 5!
0
µ ¶
cos(t ) − sen(t )
=
sen(t ) cos(t )
312 Capítulo 3. Ordem superior e sistemas
¡ c1 ¢
e a solução do sistema com condição inicial C = c2 é dada
por
µ ¶µ ¶ µ ¶
tA cos(t ) − sen(t ) c 1 c 1 cos(t ) − c 2 sen(t )
e C= =
sen(t ) cos(t ) c 2 c 1 sen(t ) + c 2 cos(t )
Proposição A.1
Se ¯ ¯
¯ a b ¯
¯ ¯ 6= 0
¯ c d ¯
cx + d y = f
314 Apêndice A. Apêndice
Prova:
Para obtermos x, primeiro multiplicamos a primeira linha do sis-
tema por d e a segunda linha do sistema por b, de modo que
ad x + bd y = ed
bc x + bd y = fb
(ad − bc)x = ed − f b
de modo que ¯ ¯
¯
¯ e b ¯¯
ed − f b ¯ f d ¯
x= =¯ ¯
ad − bc ¯¯ a b ¯¯
¯ c d ¯
Para obtermos y, primeiro multiplicamos a primeira linha do sis-
tema por c e a segunda linha do sistema por a, de modo que
ac x + bc y = ce
ac x + ad y = a f
(ad − bc)y = a f − ce
A.1. Regra de Cramer 315
de modo que ¯ ¯
¯
¯ a e ¯¯
a f − ce ¯ c f ¯
y= =¯ ¯
ad − bc ¯¯ a b ¯¯
¯ c d ¯
Proposição A.2
Se ¯ ¯
¯ a 11 a 12 · · · a 1n ¯
¯ ¯
¯ a 21 a 22 · · · a 2n ¯
¯ 6= 0
¯ ¯
¯ .. .. ..
¯ . . ··· . ¯
¯ ¯
¯ a
n1 a n2 · · · a nn ¯
.. .. .. .
= ..
. + . + ··· + .
a n1 x 1 + a n2 x 2 + · · · + a nn x n = b n
316 Apêndice A. Apêndice
onde
a k (t )
p k (t ) =
a n (t )
f (t )
g (t ) =
a n (t )
são funções contínuas para todo t tal que a n (t ) 6= 0.
A.2. EDO linear de ordem superior 317
S OLUÇÃO DA HOMOGÊNEA
Assim como no caso de uma EDO linear homogênea de 2ª ordem, a solu-
ção geral de uma EDO linear homogênea de ordem superior é dada pela
combinação linear
y(t ) = c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t ) + · · · + c n y n (t )
Então
W (y 1 (t ), y 2 (t ), . . . , y n (t )) = ce −P n−1 (t )
onde c ∈ R e Z
p n−1 (t ) d t = P n−1 (t ) +C
Prova:
Por comodidade, vamos denotar o Wronskiano
W (y 1 (t ), y 2 (t ), . . . , y n (t )) apenas por W (t ). Basta então provar-
mos que o Wronskianos satisfaz a seguinte EDO
W 0 (t ) + p n−1W (t ) = 0
W (t + h) − W (t ) =
¯ y (t +h) y 2 (t +h) ··· y n (t +h)
¯ ¯ y 1 (t ) y 2 (t ) ··· y n (t ) ¯
¯ 10 ¯ ¯ 0 ¯
¯ y 1 (t +h) y 20 (t +h) ··· y n0 (t +h) ¯ ¯ y 1 (t ) y 20 (t ) ··· y n0 (t ) ¯
.. .. .. ¯ ¯ .. .. .. ¯
¯ ¯ ¯ ¯
=¯ ¯−¯ .
¯
¯ y (n−2).(t +h) . . ¯ ¯ (n−2) (t ) . . ¯¯
¯ 1 y 2(n−2) (t +h) ··· y n(n−2) (t +h) ¯ ¯ y 1 y 2(n−2) (t ) ··· y n(n−2) (t ) ¯
¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y (n−1) (t +h)
¯ ¯ y (n−1) (t ) y 2(n−1) (t ) ··· y (n−1) (t )
¯
1 n 1 n
A.2. EDO linear de ordem superior 319
W (t + h) − W (t ) =
¯ y (t +h) y 2 (t +h) ··· y n (t +h)
¯ ¯ y 1 (t ) y 2 (t ) ··· y n (t )¯
¯ 10 ¯ ¯ 0 ¯
¯ y 1 (t +h) y 20 (t +h) ··· y n0 (t +h) ¯ ¯ y 1 (t +h) y 20 (t +h) ··· y n0 (t +h) ¯
.. .. .. .. .. ..
¯ ¯ ¯ ¯
=¯ ¯−¯ ¯+
¯ ¯ ¯ ¯
¯ y (n−2).(t +h) . . . . .
(n−2)
y 2(n−2) (t +h) yn(n−2)
(t +h) ¯ ¯ y 1 (t +h) y 2(n−2) (t +h) ··· yn(n−2)
(t +h) ¯
···
¯ ¯ ¯
¯ 1
¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y (n−1) (t +h)
¯ ¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y (n−1)
(t +h)
¯
1 n 1 n
¯ y 1 (t ) y 2 (t ) ··· y n (t ) ¯ ¯ y 1 (t ) y 2 (t ) ··· y n (t )¯
¯ 0 ¯ ¯ ¯
¯ y 1 (t +h) y 20 (t +h) ··· y n0 (t +h) ¯ ¯ y 10 (t ) y 20 (t ) ··· y n0 (t )
¯
.. .. .. .. .. ..
¯ ¯ ¯ ¯
+¯ ¯−¯ ¯+
¯ ¯ ¯ ¯
¯ y (n−2).(t +h) .
y 2(n−2) (t +h) ···
. .
y n(n−2) (t +h) ¯ ¯ y 1(n−2) (t +h)
¯ ¯ .
y 2(n−2) (t +h) ··· yn(n−2)
.
(t +h) ¯
¯
¯ 1
¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y (n−1) (t +h)
¯ ¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y (n−1) (t +h)
¯
1 n 1 n
..
.
¯ y (t +h) y 2 (t +h) ··· y n (t +h)
¯ ¯ y 1 (t ) y 2 (t ) ··· y n (t ) ¯
¯ 10 ¯ ¯ 0 ¯
¯ y 1 (t +h) y 20 (t +h) ··· y n0 (t +h) ¯ ¯ y 1 (t ) y 20 (t ) ··· y n0 (t ) ¯
.. .. .. ¯ ¯ .. .. .. ¯
¯ ¯ ¯ ¯
+¯ ¯−¯ .
¯
. . . ¯ ¯ (n−2) (t ) . . ¯¯
y 2(n−2) (t ) y n(n−2) (t ) ¯
¯ y (n−2) y 2(n−2) (t ) yn(n−2)
(t ) ¯ ¯ y 1
¯ 1 (t ) ··· ···
¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y (n−1) (t +h)
¯ ¯ y (n−1) (t ) y 2(n−1) (t ) ··· y (n−1) (t )
¯
1 n 1 n
W (t + h) − W (t ) =
¯ y (t +h)−y (t ) y 2 (t +h)−y 2 (t ) ··· y n (t +h)−y n (t ) ¯
¯
¯ 1 0 1
¯ y 1 (t +h) y 20 (t +h) ··· y n0 (t +h) ¯
.. .. ..
¯ ¯
=¯ ¯+
¯ ¯
¯ y (n−2).(t +h) .
y 2(n−2) (t +h) ···
.
y n(n−2) (t +h)
¯
¯ 1 ¯
¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y n(n−1) (t +h)
¯
1
¯ 0 y 1 (t ) 0 y 2 (t ) ··· y n (t )
¯ ¯
¯
¯ y 1 (t +h)−y 1 (t ) y 20 (t +h)−y 20 (t ) ··· y n0 (t +h)−y n0 (t ) ¯
.. .. ..
¯ ¯
+¯ ¯+
¯ ¯
¯ y (n−2).(t +h) .
y 2(n−2) (t +h) ···
.
y n(n−2) (t +h)
¯
¯ 1 ¯
¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y n(n−1) (t +h)
¯
1
..
.
W (t + h) − W (t )
=
h
¯ y (t +h)−y (t ) y (t +h)−y (t ) y n (t +h)−y n (t )
¯
¯ 1 h 1 2
h
2 ··· h
¯
¯ 0 0
y n0 (t +h)
¯
¯ y 1 (t +h) y 2 (t +h) ··· ¯
. .. ..
¯ ¯
=¯
¯ .. . .
¯+
¯
¯ y (n−2) (t +h) y (n−2) (t +h) ··· y n(n−2) (t +h)
¯
¯ 1 2 ¯
¯ y (n−1) (t +h) y (n−1) (t +h) ··· y n(n−1) (t +h)
¯
1 2
¯ y (t ) y 2 (t ) ··· y n (t )
¯
¯ 0 1 0 ¯
¯ y1 (t +h)−y1 (t ) y 0 (t +h)−y 0 (t ) 0 (t +h)−y 0 (t ) ¯
yn n
2 2 ···
h h h
¯ ¯
.. .. ..
¯ ¯
¯ ¯+
¯ y (n−2).(t +h) . .
¯ ¯
y 2(n−2) (t +h) ··· yn(n−2)
(t +h) ¯
¯
¯ 1
¯ y (n−1) (t +h) y 2(n−1) (t +h) ··· y (n−1)
(t +h)
¯
1 n
..
.
W (t + h) − W (t )
W 0 (t ) = lim =
h→0 h
¯ 0 ¯ ¯
y 20 ··· y n0 ¯ ¯ y 1 y2 yn
¯ y1 ··· ¯ ¯ y1 y2 ··· yn ¯
00
y 200 y n00
¯ 0
y 20 y n0
¯ ¯
y 20 ··· y n0 ¯ ¯ y 1 ¯ y1
¯ 0 ··· ···
¯ y1
¯ ¯ ¯
.. ¯¯ + ¯¯ .. .. .. ¯ ¯ .. .. .. ¯
¯ ¯ ¯ ¯
= ¯¯ ... ..
¯
. . ¯ ¯ (n−2) . . . ¯ + · · · + ¯ . . . ¯
(n−2) (n−2) ¯ ¯ y (n−2)
¯ y (n−2) y (n−2) ··· y n(n−2) ¯ ¯ y 1 y2 ··· yn y 2(n−2) ··· y n(n−2) ¯
¯
1 2 ¯ ¯ 1
¯ y (n−1) y (n−1) ··· y n(n−1) ¯ ¯ y 1(n−1) y 2(n−1) (n−1) ¯ ¯ y (n) y 2(n) (n) ¯
¯ ¯
··· y n 1 ··· y n
1 2
322 Apêndice A. Apêndice
¯ y1 ··· yn ¯
y 10 y n0
¯ ¯
¯ ··· ¯
.. ..
¯ ¯
+¯ . .
¯ ¯
¯
y 1(n−2) ··· y n(n−2)
¯ ¯
¯ ¯
(n−2)
n−2 y 1 −···−p 1 y 10 −p 0 y 1 −p n−2 y n(n−2) −···−p 1 y n0 −p 0 y n
¯ −p ···
¯
Proposição A.4
Prova:
Vamos mostrar que (A) é equivalente a (B) e, depois, que (B) é equi-
valente a (C).
324 Apêndice A. Apêndice
W (y 1 (t 0 ), y 2 (t 0 ), . . . , y n (t 0 )) 6= 0
c 6= 0
W (y 1 (t ), y 2 (t ), . . . , y n (t )) 6= 0
para todo t .
Para mostrar que (B) e (C) são equivalentes, basta lembrar que
um determinante é não nulo se e só se suas colunas são linearmente
independentes.
Proposição A.5
y(t ) = c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t ) + · · · + c n y n (t )
onde c 1 , c 2 , . . . , c n ∈ R.
A.2. EDO linear de ordem superior 325
Prova:
Seja z(t ) uma solução qualquer da EDO. Temos que
W (z(t ), y 2 (t ), . . . , y n (t )) = ae −P n−1 (t )
W (y 1 (t ), y 2 (t ), . . . , y n (t )) = be −P n−1 (t ) 6= 0
W (z(t ), y 2 (t ), . . . , y n (t )) − c 1W (y 1 (t ), y 2 (t ), . . . , y n (t ))) =
¯ z(t ) y 2 (t ) ··· y n (t ) ¯ ¯ y 1 (t ) y 2 (t ) ··· y n (t ) ¯
¯ 0 ¯ ¯ 0 ¯
¯ z (t ) y 20 (t ) ··· y n0 (t ) ¯ ¯ y 1 (t ) y 20 (t ) ··· y n0 (t ) ¯
= ¯ .. .. .. ¯ − c 1 ¯ .. .. .. ¯ = 0
¯ ¯ ¯ ¯
¯ . . . ¯¯ ¯ . . . ¯¯
y 2(n−1) (t ) ··· y (n−1) (t )
¯ z (n−1) (t ) ¯ y (n−1) (t ) y 2(n−1) (t ) ··· y (n−1) (t )
n 1 n
z(t ) − c 1 y 1 (t ) = c 2 (t )y 2 (t ) + · · · + c n (t )y n (t )
z 0 (t ) − c 1 y 10 (t ) = c 2 (t )y 20 (t ) + · · · + c n (t )y n0 (t )
.. .. ..
. . .
c 20 (t )y 2 (t ) + · · · + c n0 (t )y n (t ) = 0
c 20 (t )y 20 (t ) + · · · + c n0 (t )y n0 (t ) = 0
.. .. ..
. . .
c 20 (t )y 2(n−2) (t ) + · · · + c n0 (t )y n(n−2) (t ) = 0
A.2. EDO linear de ordem superior 327
c 20 (t ) = · · · = c n0 (t ) = 0
z(t ) = c 1 y 1 (t ) + c 2 y 2 (t ) + · · · + c n y n (t )
Passos
1) Variar os parâmetros: Tentar uma solução da EDO não ho-
mogênea da forma y(t ) = c 1 (t )y 1 (t ) + · · · + c n (t )y n (t ), substi-
tuindo os parâmetros c 1 , . . . , c n da solução geral c 1 y 1 (t ) + · · · +
c n y n (t ) da homogêna associada por funções c 1 (t ), . . . , c n (t ),
que são as novas incógnitas.
y(t ) = y 1 (t )c 1 (t ) + · · · + y n (t )c n (t )
y 0 (t ) = y 10 (t )c 1 (t ) + · · · + y n0 (t )c n (t )
+ y 1 (t )c 10 (t ) + · · · + y n (t )c n0 (t )
328 Apêndice A. Apêndice
Impondo que
y 1 (t )c 10 (t ) + · · · + y n (t )c n0 (t ) = 0
temos que
y 0 (t ) = y 10 (t )c 1 (t ) + · · · + y n0 (t )c n (t )
y 00 (t ) = y 100 (t )c 1 (t ) + · · · + y n00 (t )c n (t )
+ y 10 (t )c 10 (t ) + · · · + y n0 (t )c n0 (t )
Impondo que
y 10 (t )c 10 (t ) + · · · + y n0 (t )c n0 (t ) = 0
temos que
y 00 (t ) = y 100 (t )c 1 (t ) + · · · + y n00 (t )c n (t )
y 1 (t )c 10 (t ) + · · · + y n (t )c n0 (t ) = 0
y 10 (t )c 10 (t ) + · · · + y n0 (t )c n0 (t ) = 0
.. .. ..
. . .
y 1(n−2) (t )c 10 (t ) + · · · + y n(n−2) (t )c n0 (t ) = 0
A.2. EDO linear de ordem superior 329
y(t ) = y 1 (t )c 1 (t ) + · · · + y n (t )c n (t )
y 0 (t ) = y 10 (t )c 1 (t ) + · · · + y n0 (t )c n (t )
y 00 (t ) = y 100 (t )c 1 (t ) + · · · + y n00 (t )c n (t )
.. .. ..
. . .
g (t ) = y 1(n−1) (t )c 10 (t ) + · · · + y n(n−1) (t )c n0 (t )
y 1 (t )c 10 (t ) + · · · + y n (t )c n0 (t ) = 0
y 10 (t )c 10 (t ) + · · · + y n0 (t )c n0 (t ) = 0
.. .. ..
. . .
y 1(n−2) (t )c 10 (t ) + · · · + y n(n−2) (t )c n0 (t ) = 0
y 1(n−1) (t )c 10 (t ) + · · · + y n(n−1) (t )c n0 (t ) = g (t )
330 Apêndice A. Apêndice
Proposição A.6
Proposição A.7
Prova:
Para o item A, vamos supor que a n é não crescente. Definimos o
conjunto
C = {a n : n ∈ N}
e o conjunto
B = {b : b ≤ a n para todo n ∈ N},
ilustrados pela figura abaixo.
a n(ε) < a + ε.
Portanto
n ≥ n (ε) =⇒ 0 ≤ a n − a < ε,
mostrando que a n → a. O caso em que a n é não decrescente pode
ser facilmente obtido do caso demonstrado acima, considerando-se
a sequência não crescente −a n .
Para o item B, vamos supor que a n é não decrescente. Como a n
não é limitada, para todo R > 0, existe um m tal que R < a m . Por-
tanto, definindo n(R) = m, segue-se que
n ≥ n (R) =⇒ R < am ≤ an
segue-se que
Z ∞
f (x) d x = lim [F (x)]ta = [F (x)]∞
a
a t →∞
Para funções positivas, esse limite sempre existe, podendo ser finito ou
infinito.
Exemplos
1) Temos que Z ∞
cos(x) d x
0
não existe, uma vez que
Z
cos(x) d x = sen(x) +C
e que o limite
[ sen(x)]∞
0 = lim ( sen(t ) − sen(0)) = lim sen(t )
t →∞ t →∞
não existe.
2) Temos que Z ∞ 1
d x = ∞,
1 x
uma vez que
1
Z
d x = log |x| +C
x
e que o limite
£ ¤∞ ¡ ¢
log |x| 1 = lim log(t ) − log(1) = lim log(t ) = ∞.
t →∞ t →∞
3) Temos que Z ∞ 1
d x = 1,
1 x2
334 Apêndice A. Apêndice
1 ∞
· ¸ µ ¶
1 1
− = lim − + = 1.
x 1 t →∞ t 1
Proposição A.8
Temos que
Z ∞ ¤∞
Z ∞
0
g 0 (x) f (x) d x
£
f (x)g (x) d x = f (x)g (x) a −
a a
e também que
Z ∞ 1
Z ∞
f (bx) d x = f (x) d x
a b ab
Prova:
Temos que
Z Z
0
f (x)g (x) d x = f (x)g (x) − g 0 (x) f (x) d x
A.5. Exponencial complexa 335
e que Z t ¤t
Z t
f 0 (x)g (x) d x = f (x)g (x) a − g 0 (x) f (x) d x.
£
a a
Fazendo t → ∞, segue-se que
Z ∞ Z ∞
0
¤∞
g 0 (x) f (x) d x.
£
f (x)g (x) d x = f (x)g (x) a −
a a
1
Z Z
f (bx) d x = f (t ) d t .
b
Temos então que
Z ∞ 1
Z ∞
f (bx) d x = f (t ) d t ,
a b ab
t2 t3 t4 t5
et = 1 + t + + + + +···
2! 3! 4! 5!
336 Apêndice A. Apêndice
(i t )2 (i t )3 (i t )4 (i t )5
ei t = 1 + i t + + + + +···
2! 3! 4! 5!
Agrupando as potências pares e as potências ímpares e colocando i em
evidência nas potências ímpares, temos que
i 2t 2 i 4t 4 i 2t 3 i 4t 5
µ ¶ µ ¶
it
e = 1+ + +··· +i t + + +···
2! 4! 3! 5!
de modo que
t2 t4 t3 t5
µ ¶ µ ¶
it
e = 1− + +··· +i t − + +···
2! 4! 3! 5!
e (a+i b)t = e at e i bt
de modo que
Exemplos
1) Temos que
2) Temos que
3) Temos que
y(t ) = f (t ) + i g (t )
y 0 (t ) = f 0 (t ) + i g 0 (t )
338 Apêndice A. Apêndice
Exemplo
Temos que
³ ´0
ei t = ( cos(t ) + i sen(t ))0
= − sen(t ) + i cos(t )
= i ( cos(t ) + i sen(t ))
= i ei t
Proposição A.9
Prova:
(1) Por comodidade, vamos suprimir a variável independente da no-
tação. Considere
y = f +ig, z = u +iv
de modo que
y 0 = f 0 + i g 0, z0 = u0 + i v 0
A.5. Exponencial complexa 339
y z = f u − g v + i ( f v + g u)
de modo que
(y z)0 = f 0 u + u 0 f − (g 0 v + v 0 g ) + i ( f 0 v + v 0 f + g 0 u + u 0 g )
y 0 z = f 0 u − g 0 v + i ( f 0 v + g 0 u)
e que
y z 0 = f u0 − g v 0 + i ( f v 0 + g u0)
Somando essas duas equações, temos que
y 0 z + y z 0 = (y z)0
Exemplo
Temos que
³ ´00 ³ ´0
ei t = i ei t
³ ´0
= i ei t
= i (i e i t )
= −e i t
340 Apêndice A. Apêndice
y 00 (t ) + y(t ) = 0
Proposição A.10
Temos que
³ ´0
e (a+i b)t = (a + i b)e (a+i b)t
Prova:
Uma vez que
e (a+i b)t = e at e i bt
pela regra da derivada do produto, temos que
³ ´0 ¡ ¢ ³ ´0
0
e (a+i b)t = e at e i bt + e i bt e at
e que
³ ´0
e i bt = ( cos(bt ) + i sen(bt ))0
= −b sen(bt ) + i b cos(bt )
A.5. Exponencial complexa 341
= i b ( cos(bt ) + i sen(bt ))
= i be i bt
de modo que
³ ´0 ³ ´
e (a+i b)t = ae at e i bt + i be i bt e at
¡ ¢
= (a + i b)e at e i bt
= (a + i b)e (a+i b)t
Proposição A.11
Se
y(t ) = f (t ) + i g (t )
a 2 y 00 (t ) + a 1 y 0 (t ) + a 0 y(t ) = 0
f (t ) e g (t )
Prova:
342 Apêndice A. Apêndice
Temos que
y(t ) = f (t ) + i g (t )
y 0 (t ) = f 0 (t ) + i g 0 (t )
y 00 (t ) = f 00 (t ) + i g 00 (t )
Multiplicando a primeira linha por a 0 , a segunda por a 1 e a terceira
por a 2 , temos que
a 0 y(t ) = a 0 f (t ) + i a 0 g (t )
a 1 y 0 (t ) = a 1 f 0 (t ) + i a 1 g 0 (t )
a 2 y 00 (t ) = a 2 f 00 (t ) + i a 2 g 00 (t )
Comos a parte real e a parte imaginária têm que ser nulas, segue-se
que f (t ) e g (t ) também são soluções dessa homogênea.
Lema A.12
|s m − t m | ≤ |s − t |nr m−1
A.6. Derivada de séries de potências 343
Prova:
É fácil verificar que
como desejávamos.
Proposição A.13
∞
a n x n uma série de potências com raio R > 0. Se |h n | < |h|,
X
Seja
n=0
então
∞ ∞
a n n(x + h n )n−1 = a n nx n−1
X X
lim
h→0 n=1 n=1
Prova:
Temos que
¯∞ ∞
¯ ¯∞ ¯
n−1 n−1 ¯ n−1 n−1 ¯
¯X X ¯ ¯X ¯
¯
¯ a n n(x + h n ) − a n nx ¯ = ¯
¯ a n n((x + h n ) −x )¯
n=1 n=1 n=1
∞
|a n |n ¯(x + h n )n−1 − x n−1 ¯
X ¯ ¯
≤
n=0
Como x ∈ (−R, R), temos que |x| < r , para algum r < R. Para h sufici-
entemente pequeno, temos que |x + h n | < r , uma vez que |h n | < |h|.
Usando o lema, com s = x + h n , com t = x e com m = n − 1, segue-se
que
de modo que
¯∞ ∞
¯ ∞
n−1 n−1 ¯
|a n |n|h n |(n − 1)r n−2
¯X X ¯ X
¯
¯ a n n(x + h n ) − a n nx ¯ ≤
n=1 n=0 n=1
Logo
¯∞ ∞
¯
n−1 n−1
¯X X ¯
¯
¯ a n n(x + h n ) − a n nx ¯ ≤ |h|L
¯
n=1 n=0
n−2
onde L = ∞
P
n=1 |a n |n(n −1)r não depende de h. O resultado segue
então por sanduíche.
A.7. Soluções por séries de potências 345
Proposição A.14
∞
X ∞
X
Sejam cn e d n duas séries que convergem absolutamente.
n=0 n=0
Então µ ∞
X
¶µ ∞
X
¶ ∞
X
cn dn = en
n=0 n=0 n=0
onde
n
X
en = c n−k d k .
k=0
Prova:
Vamos primeiro mostrar que
µ ∞
X
¶µ ∞
X
¶ ∞
X
|c n | |d n | = En ,
n=0 n=0 n=0
onde
n
X
En = |c n−k ||d k |
k=0
onde [x] denota a parte inteira de x. Essa desigualdade pode ser vi-
sualizada por meio da seguite matriz. O primeiro termo da desigual-
346 Apêndice A. Apêndice
de modo que
¯µ m ¶µ m ¶ m ¯ µm ¶µ m ¶ m
¯ X X X ¯ X X X
¯
¯ cn dn − en ¯ ≤
¯ |c n | |d n | − En
n=0 n=0 n=0 n=0 n=0 n=0
Corolário A.15
∞ ∞
cn x n e d n x n duas séries que convergem absoluta-
X X
Sejam
n=0 n=0
mente. Então
µ ∞ ¶µ ∞ ¶ ∞
n n
en xn
X X X
cn x dn x =
n=0 n=0 n=0
onde
n
X
en = c n−k d k
k=0
Prova:
Segue-se da proposição anterior e do fato de que
à !
n n
n−k k
c n−k d k x n
X X
c n−k x dk x =
k=0 k=0
348 Apêndice A. Apêndice
y(0) = y 0 , y 0 (0) = y 1
Proposição A.16
Prova:
Escrevendo
∞ ∞
pn xn qn x n
X X
p(x) = e q(x) =
n=0 n=0
à !
∞ X n
c k p n−k x n
X
=
n=0 k=0
e que
µ ∞ ¶µ ∞ ¶
0 n n
X X
y (x)q(x) = c n+1 (n + 1)x qn x
n=0 n=0
à !
∞ X n
c k+1 (k + 1)q n−k x n
X
=
n=0 k=0
para que y(x) seja solução do PVI, somando as equações acimas, te-
mos que
à !
∞ n
c k+1 (k + 1)q n−k + c k p n−k x n
X X
0= c n+2 (n + 2)(n + 1) +
n=0 k=0
C 0 = |c 0 | e C 1 = |c 1 |
350 Apêndice A. Apêndice
C n+1 M n −1
lim = lim + =1
Cn n n +1
como queríamos.
Proposição A.17
Se p(x) e q(x) são séries de potências, então todo PVI possui uma
solução y(x) dada por uma série de potências que converge pelo
menos em (−R, R), onde R é o menor dos raios de converência de
p(x) e q(x).
Prova:
352 Apêndice A. Apêndice
y(0) = y 0 , y 0 (0) = y 1
z(0) = y 0 , z 0 (0) = y 1