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A PÁSCOA UM EXEMPLO DE RITUAL QUE SOFRE TRANSFORMAÇÃO.

Semana Santa ou simplesmente Páscoa. A data em que os cristãos lembram a paixão, crucificação,
morte e ressurreição de Jesus Cristo, por meio de diversos ritos religiosos sofreu diversas transformações
ao longo dos milhares de anos que já se passaram. Desde a vinda de Jesus, os rituais e devidas homenagens
ao Senhor têm mudado e sofreram alterações diversas, seja por interesses comercias, ou por imposições das
religiões que seguem o cristianismo. Para a maior religião seguidora do cristianismo, que é o catolicismo,
as mudanças não foram tantas. No entanto, essa visão vai de encontro com a de estudiosos que relatam que
as transformações são inúmeras.
Segundo o professor e fundador do curso de Ciência das Religiões na Universidade Federal da Paraíba,
Severino Celestino, a Páscoa não é cristã. De acordo com ele, é uma data judaica e é preciso entender a
história para que fique claro todos os acontecimentos e as mudanças que ocorreram.
“Primeiro é importante lembrar que a Páscoa não é cristã, a Páscoa é judaica. A palavra pêssarr em
hebraico, que significa passar por sobre, e está lá no Êxodo capítulo 12, significa ar, que é o que se chama a
décima praga do Egito, aonde os hebreus pintaram suas casas com sangue, porque quando o espírito de
Deus viesse passaria por sobre aquelas casas e não destruiria os primogênitos. Por isso que o povo recebeu
a liberdade do Egito depois de 400 anos de escravidão, então aí começou o êxodo, que tem origem
exatamente nesta palavra pêssarr”, explicou.
De acordo com o professor Severino, as comemorações no judaísmo, diferente das outras religiões,
mantêm as mesmas tradições ao longo da história. “O judeu ainda hoje comemora, ao contrário da era
moderna, que mudou muita coisa, eles comemoram com o que chamam de seder, que significa ordem em
hebraico. Então é uma comemoração, um ritual que relembra aquela época. Tem o ovo, tem um osso
inteiro que não pode ser quebrado, porque o carneiro tinha que ser comido com a família, também com o
pão sem fermento, que é o pão ázimo em hebraico”, explicou.
Transformação ao longo do tempo
O professor Celestino conta também que a comemoração da última Páscoa judaica foi feita na
presença de Jesus Cristo e explicou a transformação que foi feita ao longo do tempo pela Igreja Católica.
“Jesus como era judeu comemorou a última Páscoa judaica com os discípulos. Se você pegar lá no
evangelho, os discípulos dizem assim: mestre onde vamos comemorar a festa dos ázimos? Porque a festa
dos ázimos é a festa do pêssarr ou da páscoa judaica. Então Jesus comemorou a páscoa judaica", relatou.
Ele ainda segue questionando. "Agora o que é que a igreja transformou? O que acontece é que Jesus
comemorou aquela páscoa no sentido de que o espírito de Deus passou sobre o Egito e libertou os seus
ancestrais da escravidão. Agora a igreja diz que a páscoa significa passagem da morte de Jesus para a sua
ressurreição, este é o conceito cristão”, afirmou.
E a análise feita pelo professor é que isso aconteceu porque Jesus introduziu coisas novas naquela páscoa.
“Ele introduziu o lava-pés, mostrando que nós precisamos ser humildes, porque o lavar os pés era um
símbolo natural daquela época em que os senhores que chegavam de viagem, e como as estradas eram
poeirentas e eles andavam de sandália, então o escravo vinha lavar os pés dele, e Jesus como se fosse
escravo de todos eles, pegou uma toalha, lavou os pés dos discípulos e disse: eu faço isso para que vocês
também façam uns aos outros", relembrou.
Para Serverino Celestino, Jesus usou uma festa tradicional judaica para inovar uma mensagem de
humildade, de fraternidade e de servidão para os seus discípulos. "Ele também comemora o vinho, mas o
vinho não é como a igreja introduziu. No judaísmo a primeira benção é com o vinho, que eles dizem uma
mensagem em hebraico, que significa: graças ó Deus nosso Senhor, porque nos desse o fruto da videira.
Essa é a oração do judeu. Primeiro a oração do vinho e depois do pão, que o pão é partido, molhado no sal
e distribuído, isso na judaica. No cristianismo, se inverteu. Primeiro é o pão, a bênção da hóstia depois o
vinho. O judeu comemora sua festa no sábado, a igreja criou o domingo, então a partir da origem já tem
diferença’’, explicou.
Interesses comerciais interferindo
De acordo com o professor, um dos fatores que alterou as tradições ao longo dos séculos foi o
econômico e, segundo ele, o verdadeiro significado da páscoa foi ficando esquecido. Dentro desse contexto
ele fez uma análise de duas das tradições mais populares da páscoa atualmente, que é o fato de não comer
carne e a tradição dos ovos de chocolate.
“Aí vem a questão do mercantilismo na páscoa. Na minha época de criança, não se podia comer carne, que
foi uma indução da igreja católica, porque não tem nada no evangelho que se proíba comer carne, muito
menos Jesus. O judeu tem o ritual para comer carne, ele não come é sangue, mas a carne ele come. Então
isso foi uma coisa que foi surgindo com o tempo, com os costumes, e com os interesses comerciais, porque
a páscoa é uma festa espiritual, que não era para ser envolvida com ovo nem muito menos com coelho.
Aonde é que coelho põe ovos? Então são muitas coisas que as pessoas nem se preocupam de refletirem e
acabam adotando, porque o interesse é puramente comercial”, afirmou o professor.
Verdadeiro significado
Para o professor, mais do que seguir tradições e costumes, é preciso para quem é cristão, acima de
tudo seguir aqueles valores que foram propostos por Jesus Cristo nos primórdios. “Para nós cristãos,
páscoa não é simplesmente a passagem da morte para a ressurreição. Essa é uma visão da igreja católica.
Agora eu falando como cientista e como cristão que sou, que aquela mensagem de Jesus é uma mensagem
de mudança, que aquele acontecimento no cenáculo é uma marco entre judaísmo e cristianismo que a partir
dali nós teríamos uma mensagem nova, de amor, de servidão de perdão, de compreensão e entendimento
entre os povos. A Páscoa é uma das festas mais tradicionais do calendário cristão e tem suas origens baseadas tanto
na tradição judaica como em elementos pagãos que foram apropriados de povos cristianizados, como os germânicos.
Essa celebração possui data móvel e o seu sentido cristão relembra a crucificação e ressurreição de Cristo. A
palavra Páscoa em português deriva do termo em hebraico “Pessach”.
Tradição primitiva
A quaresma é mencionada, pela primeira vez, em 334, por Atanásio (Ep. fest. 6,13; cf. 13,8); depois por Egéria (Itin.
27-29).
a) A Semana Santa parece ser uma instituição surgida da devoção dos primeiros peregrinos cristãos, que iam à Terra
Santa para viverem no próprio lugar dos diversos momentos da paixão de Cristo. A primeira narração detalhada
desta semana foi conservada no itinerarium Egeriae, do fim do séc. IV (30-38). São estes os dados: no Domingo de
Ramos vai-se ao Monte das Oliveiras e se desce para a cidade em procissão, com ramos de oliveira e de palmeira nas
mãos (cf. Mc 11,1-10 e par.; Jo 12,1.12-19); ao que parece, no mesmo dia, realizava-se a redditio symboli (46) pelos
catecúmenos, como no Ocidente. Na terça-feira faz-se a leitura do sermão escatológico dos evangelhos (Mc 13,5-57
e par.) no Monte das Oliveiras; na quarta-feira, lê-se a narrativa da traição de Judas (Mc 14,10-11 e par.) no Santo
Sepulcro.

b) O Tríduo pascal realmente começa na quinta-feira à tarde. Em Jerusalém, passa-se a noite de quinta para
sexta em vigília no Monte das Oliveiras e no Getsêmani (Mc 14,32-52 e par.); na Síria, durante esta vigília,
comemora-se a instituição da eucaristia (cf. Afraates, Demonstr. 12). Na Sexta--feira Santa – sempre de
acordo com a narração de Egéria – reevoca-se, de manhã cedo, Jesus que comparece diante de Pilatos (Mc
15,2-15 e par.) e a flagelação (Mc 15,16-20 e par.) Ao meio-dia, mostra-se o lenho da cruz encontrado por
Helena, e se faz depois leitura da narração da Paixão, acompanhada pelas profecias do AT, durante três
horas. Alguns fiéis fazem vigília também na noite da sexta-feira para o sábado. O dia do Sábado Santo não
tem ofício especial; em todas as igrejas jejua-se, em lembrança da “ausência do esposo” (Mc 2,20 e par.) e
do “repouso” de Cristo (Const. Apost. VII, 23,4; VIII, 47,67), mas recorda-se também sua descida aos
infernos que, para a tradição bizantina, se tornará o primeiro sinal de sua vitória sobre o reino da morte (cf.
Anfil. De Icônio, Or. in diem sabbati s. 1). A vigília pascal na noite do sábado para o domingo é o ponto
culminante da festa: “a mãe de todas as santas vigílias, durante a qual o mundo inteiro está a vigilar”
(Agost., Serm. 219). A realização da vigília deita suas raízes na tradição da celebração pascal primitiva,
como se reflete ainda na Didascália siríaca do séc. III: “Permanecei unidos num mesmo lugar,
perseverando na vigília durante a noite inteira, fazendo súplicas e orações, lendo os Profetas, o Evangelho e
os Salmos, com temor e tremor, numa súplica fervorosa, até a terceira hora da noite que segue o sábado, e
então comei, entregai-vos à alegria, regozijai-vos, exultai, porque Cristo, penhor de nossa ressurreição,
ressuscitou” (V, 19). No séc. IV (e provavelmente já na Tradição Apostólica do séc. III; cf. Tertul., De
bapt. 19,1), a vigília pascal é também o momento solene do batismo; as homílias catequéticas tanto
ocidentais como orientais nos descrevem com minúcias os ritos e os símbolos batismais. Com o declínio do
catecumenato da Igreja antiga (pela generalização do batismo das crianças), a vigília pascal perderá
importância, junto também com todo o Tríduo pascal; afortunadamente, está-se redescobrindo esta “mãe
das vigílias” em todas as igrejas.

c) Oitava de Páscoa. Nos oito dias que se seguiam à Páscoa, dá-se aos novos batizados a instrução
mistagógica sobre os sacramentos recém-recebidos, isto é, o batismo, a unção e a eucaristia, como também
uma explicação do Pai-nosso. No Domingo in albis ou Quasimodo geniti, que assinala o fim da oitava, os
catecúmenos trazem pela última vez suas vestes brancas.
Pentecostes: Os 50 dias que separam a Páscoa de Pentecostes formam o tempo pascal, qui est proprie dies
festus (Tertul., De bapt. 19,2). É ainda a partir do séc. IV que a festa da Ascensão, no 40 o dia depois da
Páscoa, é atestada (Itin. Egeriae 42).

Tradição Judaica

A Páscoa cristã baseia-se na Pessach (“passagem”, em hebraico), celebração de tradição judaica


que relembra a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito. A Páscoa comemorada pelos hebreus era
realizada próximo da época que marcava o início da primavera. Na tradição judaica, essa festa em
referência à libertação da escravidão no Egito foi uma ordem direta de Javé a Moisés, que a transmitiu
para o povo hebreu conforme o relato bíblico: Chamou pois Moisés a todos os anciãos de Israel, e disse-
lhes: Escolhei e tomai vós cordeiros para vossas famílias, e sacrificai a páscoa. Então tomai um molho de
hissopo, e molhai-o no sangue que estiver na bacia, e passai-o na verga da porta, e em ambas as ombreiras,
do sangue que estiver na bacia; porém nenhum de vós saia da porta da sua casa até a manhã. Porque o
Senhor passará para ferir aos egípcios, porém quando vir o sangue na verga da porta, e em ambas as
ombreiras, o Senhor passará aquela porta, e não deixará o destruidor entrar em vossas casas, para vos ferir.

Portanto guardai isto por estatuto para vós, e para vossos filhos para sempre.
E acontecerá que, quando entrardes na terra que o Senhor vos dará, como tem dito, guardareis este culto.
E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este?
Então direis: Este é o sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito,
quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o povo inclinou-se e adorou.
Êxodo 12:21-27
Tradição Cristã: Apesar de o Cristianismo ter surgido de uma seita derivada do Judaísmo, o significado
da páscoa cristã é diferente, pois relembra os três dias da morte até a ressurreição de Cristo. A ressurreição
de Cristo é um dos principais pilares da fé cristã, o que evidencia a importância dessa festa no calendário
da religião. Cristo, visto como Cordeiro de Deus, ofereceu-se em sacrifício para salvar a humanidade do
pecado. Depois de ter sido crucificado e morto, ressuscitou após três dias. A crucificação e ressurreição de
Cristo teriam acontecido exatamente na época de realização do festival judaico, o que criou um paralelo
entre as duas comemorações. Na tradição cristã católica, a páscoa encerra a Quaresma, que é basicamente
um período de quarenta dias marcado por jejuns. A última semana da Quaresma, chamada de Semana
Santa, é iniciada pelo Domingo de Ramos, que marca a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém; passa pela
Sexta-feira da Paixão, que faz referência à morte de Cristo; e é finalizada no Domingo de Páscoa, que
celebra a ressurreição de Cristo.
A data da Páscoa foi instituída pela Igreja durante o Concílio de Niceia, em 325 d.C.. A Igreja
determinou que a primeira lua cheia após o equinócio de primavera seria a data para iniciar-se a
comemoração da Páscoa. O equinócio marca o início da primavera no hemisfério norte.

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