Você está na página 1de 282

DIREITO

EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Direito Empresarial e Fundamentos

Apresentação da disciplina

Olá, estudante!

Seja bem-vindo à disciplina de Direito Empresarial e Fundamentos!

Você sabe como as leis são importantes em relação a quase


tudo o que fazemos, não é verdade? Desde o respeito às
normas de trânsito até as compras que realizamos pela internet
há sempre uma lei para regular cada uma dessas situações.
Na área empresarial não é diferente. Existem leis específicas
são direcionadas exclusivamente para regular as atividades
empresariais e que são, portanto, estudadas pelo Direito
Empresarial.

O Direito Empresarial é uma área bem específica, porque recai


apenas sobre as leis aplicadas ao cotidiano das empresas.
Ele serve ao estudo dos conceitos de empresa, empresário,
estabelecimento, sociedade, entre muitos outros. Ao longo das
aulas, você vai perceber, inclusive, que algumas palavras que
costuma utilizar no dia a dia não têm o significado que você
imagina, ao menos não tecnicamente falando.

Você sabia que, no Brasil, uma empresa não serve apenas


para gerar lucro para os proprietários? Durante as aulas,
você vai aprender que ela também tem outras finalidades
obrigatórias, como a geração de bem-estar à sociedade, o
que deve ser feito em consequência da função social que elas
devem preencher. Além disso, você ainda vai entender como
é importante respeitar a legislação para evitar consequências
mais graves, como o uso do patrimônio pessoal dos sócios para
pagar as dívidas da sociedade, situação que é excepcional,
mas permitida pela lei em alguns casos.

Agora é hora de iniciar o aprendizado e descobrir muito sobre


esta importante disciplina.

Bons estudos!
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fundamentos de Direito Empresarial

Introdução

Olá! Bem-vindos à disciplina de Direito Empresarial e Fundamentos!

Nesta unidade de aprendizagem vocês irão conhecer os


principais conceitos e institutos do moderno direito empresarial
a partir das noções básicas de direito e da sua aplicabilidade
nas relações sociais e repercussões jurídicas.

Vocês sabiam que o direito empresarial é um dos ramos do


direito privado e está relacionado a todos os outros ramos do
Direito? E que as normas de conduta são o resultado da análise
que fazemos das leis?

É o que vamos compreender a partir de agora.

Bons estudos!
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Noções de direito e normas de


conduta social.

As noções de direito e normas de conduta social são temas


essenciais para a compreensão dos fundamentos do Direito
Empresarial. A seguir, abordaremos as interações do direito e
sociedade e os conceitos-chave de lei, norma e ordenamento
jurídico.

Noções de direito
Vamos iniciar por uma questão inquietante: o que é Direito?

O Direito, em síntese, representa o conjunto de leis, usos, costumes


e regras, que reflete a interação e a integração entre os fatos
e valores sociais e as normas produzidas pelos operadores do
Direito, como forma de garantir o exercício pleno de direito e o
cumprimento de deveres, orientando e disciplinando a vida em
sociedade. A figura a seguir ilustra essa relação.

Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2017.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Portanto, cabe ao direito, além de normatizar as relações sociais,


também buscar equilibrá-las. As pessoas em conflito recorrem ao
Poder Judiciário em busca de uma solução para o tal litígio que
enfrentam (chama-se isso de tutela estatal, em termos técnicos).

Para chegar a esse ponto, no entanto, é preciso primeiro criar as leis


que regem o país e a vida em sociedade. Quem as elabora são os
legisladores – senadores, deputados federais, deputados estaduais
e vereadores e, em algumas situações específicas, também o
Presidente da República. Essa responsabilidade foi dada a eles pela
Constituição Federal de 1988, em vigor no país hoje.

As leis, por sua vez, são as previsões normativas escritas que


resultam da finalização desse procedimento legislativo que
ocorre em âmbito federal (senadores e deputados federais),
estadual (deputados estaduais) e municipal (vereadores). As
leis estão disponíveis para acesso da população por meio dos
códigos e em previsões esparsas, como é o caso, por exemplo,
da Lei n.º 11.101, de 2005, que dita as regras sobre falências, e da
Lei n.º 7.357, de 1985, que dispõe sobre o cheque.

Já a norma jurídica é o produto da análise e interpretação que


fazemos das leis. É expressão máxima da adequação do fato, da
legislação e dos valores de cada época. É o que acontece, por
exemplo, com o resultado do termo legal casamento, que, antes,
era compreendido apenas como a união entre homem e mulher e,
hoje, é estendido também para as uniões homoafetivas. O direito
brasileiro baseia-se em uma estrutura normativa que privilegia
os fatos e valores sociais, para a posterior elaboração legislativa.
Tudo isso junto compõe o chamado ordenamento jurídico.

Ordenamento jurídico é o conjunto de todas as leis, em sentido


amplo, que estão em vigência e que, portanto, são válidas e
aplicáveis no Brasil. A quantidade de leis que existem hoje no país
é enorme, o que faz do nosso ordenamento jurídico um vasto
campo de regras que precisam ser conhecidas e aplicadas no
cotidiano das empresas, como retratado no exemplo da imagem,
a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: ®Kzenon, Shutterstock, 2017.

E qual a relação do ordenamento jurídico com o direito


empresarial? Todas as regras do Direito Empresarial estão no
ordenamento jurídico brasileiro. Na verdade, essas normas
estão, em grande parte, previstas no Código Civil brasileiro,
em vigor no país desde 2002. Lá encontramos regras sobre a
formação das sociedades, a administração das empresas, os
tipos de sociedade, entre outras. Mas como já mencionamos
anteriormente, além do Código Civil, outras leis também servem
para regular o Direito Empresarial. É o caso da Lei n.º 11.101, de
2005, que trata, especificamente, de falências.

As leis são elaboradas pelo Poder


Legislativo e servem para disciplinas
vários aspectos da sociedade, como as
atividades empresarias.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Direito Empresarial contemporâneo


O Direito Empresarial contemporâneo é um dos ramos mais
modernos da atual sistemática jurídica. Basicamente, ele abrange
todo o exercício profissional de atividade econômica organizada
que envolve a produção e circulação de bens e serviços existente
no Brasil hoje, com exceção das atividades de cunho intelectual,
como veremos mais adiante.

Porém, as intensas relações comerciais e empresariais acabaram


exigindo novas interpretações dos fundamentos mais tradicionais
do direito empresarial, como o estabelecimento comercial e as
bases de interpretações contratuais, especialmente em relação
ao avanço do comércio eletrônico e do direito dos consumidores
em ambiente virtual, como mostra a imagem a seguir.

Fonte: ®Rido, Shutterstock, 2017.

Mostras disso é a necessidade de se regulamentar novos institutos


como o e-commerce. Segundo Teixeira (2015), isso

representa o futuro do comércio. Existem milhares


de oportunidades de negócios espalhadas pela
rede, e é muito provável que uma pesquisa de
preços na internet lhe trará não só o menor preço,
como o melhor produto. Apesar do gargalo
representado pelo “analfabetismo digital” de uma
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

grande parcela da população, o e-commerce já


desponta junto a uma geração que nasceu com
o computador no colo. O crescimento do número
de internautas na última década é espantoso
(TEIXEIRA, 2015, p. 33).

O Direito Empresarial regula todas


as relações empresarias, desde as
convencionais até aquelas que são
decorrentes de inovações tecnológicas.

Direito Empresarial e as relações com outros


ramos do Direito
Em termos de organização didática, o Direito, de uma forma
geral, é dividido, tradicionalmente, em dois grandes ramos ou
categorias: o Direito Público e o Direito Privado. O primeiro é,
em resumo, aquele que regula as relações entre o Poder Público
e os particulares, como acontece com o Direito Tributário, que
prevê a forma como os contribuintes pagarão os tributos, por
exemplo. O Direito Privado, por sua vez, engloba os ramos do
Direito que regulam as relações dos particulares entre si. É o
caso do Direito Civil, que prevê as mais variadas regras para os
diferentes tipos de relações firmadas entre particulares, como,
por exemplo, a parcela que cada filho deve receber de herança
em decorrência da morte dos pais.

O Direito Empresarial, objeto do nosso estudo, estaria


contemplado em qual dessas categorias?

Vamos analisar: o Direito Empresarial está regulamentado em


grande parte no Código Civil de 2002, como já mencionamos
anteriormente. Ele acaba, portanto, alinhando-se ao direito
privado, uma vez que é dinâmico e cambiante. Conforme Teixeira
(2015, p. 32), ocupa-se “de negócios de massa, diferente dos
demais, notadamente do Direito Civil, que tem a peculiaridade
de ser mais conservador e estável nas suas relações e quanto às
mudanças, tratando de atos isolados”.

O Direito Empresarial regula vários assuntos contextualizados


às atividades empresariais e se relaciona com vários ramos do
Direito, como podemos observar na imagem a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

regulamenta os tipos
direito societário de sociedades

relativo à recuperação judicial


direito falimentar e falências

regulamenta marcas, patentes,


direito industrial desenhos industriais, entre

direito cambiário atinente aos títulos de crédito

Direito direito da cuida da os aspectos de


Empresarial concorrência concorrência desleal

relativo ao sistema financeiro


direito bancário privado

direito do mercado
de capitais mercado de ações e derivativos

relativo às embarcações
direito marítimo e tripulações

disciplina as regras de seguros


direito securitário de pessoas e bens (coisas)

Essa relação do Direito Empresarial com os demais ramos do


Direito permite que as demandas sociais, a interpretação
da lei e a harmonização com o ordenamento jurídico pátrio
sejam resguardados pelas normas de direito empresarial
contemporâneas.

As divisões do Direito Empresarial nos


permitem diagnosticar cada ponto
de abrangência da legislação, o que
facilita a atuação profissional.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fundamentos de Direito Empresarial

Introdução

Caro aluno(a),

Nesta unidade de aprendizagem daremos continuidade ao


estudo dos conceitos e estruturas que fundamentam o direito
empresarial. Vamos conhecer a relação que esse ramo do Direito
tem com a sistemática do processo legislativo, suas premissas
e principais procedimentos, os entes estatais envolvidos, os
institutos jurídicos e as espécies normativas.

Você sabia que, para cada lei que é aprovada no Brasil, existe um
longo processo de elaboração legislativa que a antecede?

Para que você possa entender como isso funciona, vamos


aprofundar os estudos para compreender como são produzidas
as leis no país, hoje. Isso vai permitir que você saiba como as
regras aplicadas ao Direito Empresarial foram criadas.

Vamos conhecer cada uma dessas etapas juntos?


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Processo de elaboração das leis.


Fontes do direito

As leis, enquanto fontes do direito, são essenciais para a


instrumentalização e operacionalização do Direito, porque
é delas que decorrem os direitos e deveres que todos devem
observar. Desta forma, conhecer e compreender a forma como
elas são feitas é uma importante ferramenta para o estudo do
Direito Empresarial e também do Direito, como um todo.

O processo de elaboração das leis no Brasil está regulamentado


por uma lei específica para tal, que orienta como tudo deve ser
feito. Trata-se da lei complementar nº. 95, de 26 de fevereiro
de 1998, que dispõe ainda sobre a redação, a alteração e a
consolidação de cada uma das novas normas que surgirem no
país. A lei complementar 95/98 existe em conformidade ao que
determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal
de 1988, que estabelece a existência de uma lei específica para
consolidar esses atos normativos que ela própria menciona.

O mesmo art. 59 apresenta ainda as sete espécies de lei ou


espécies normativas autorizadas a existir no Brasil, como mostra
a ilustração a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Emendas à
Constituição

Leis
complementares

Leis
ordinárias

Espécies Leis
normativas delegadas

Medidas
provisórias

Decretos
legislativos

Resoluções

Cada uma dessas espécies normativas prevista na Constituição


Federal desempenha importante papel na estrutura do Direito
brasileiro. Funciona assim: as normas trazidas pela própria
Constituição são as de maior hierarquia e ocupam o topo da
pirâmide de todo o ordenamento jurídico do país. Isso significa
que todas as outras leis aprovadas no país devem estar de
acordo com o que a Constituição orienta e apresenta.

As demais leis estão situadas logo abaixo, sem que se possa


falar de hierarquia entre elas, ao menos de modo geral. Você
aprenderá, na sequência, que cada espécie legislativa tem uma
razão de ser específica e que algumas delas dificilmente são
aplicadas no Direito Empresarial, como é o caso, por exemplo,
do decreto legislativo e da resolução, que, em regra, costumam
servir para questões mais internas do Poder Legislativo.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Aplicação das normas de direito empresarial –


Parte I
Conhecer a conceituação e a estrutura de cada espécie
normativa prevista na Constituição Federal é de extrema
importância para identificar o alcance e a função que cada uma
tem em relação ao Direito Empresarial. Imagine, por exemplo,
que uma resolução municipal passe a prever o horário de
colocação de mesas e cadeiras de restaurantes em calçadas.
Conforme você vai aprender, esse tipo de determinação não
pode advir de uma resolução, mas apenas por meio de lei.

Vamos analisar o conceito de cada espécie normativa e a


hierarquia existente entre elas?

A primeira delas, para começar, é a Proposta de Emenda


à Constituição (PEC). A PEC não pode ser apresentada por
qualquer pessoa e nem pode tratar de qualquer assunto. Apenas
o Presidente da República, um terço dos deputados federais ou
dos senadores ou mais da metade das assembleias legislativas
dos Estados podem sugerir uma emenda à Constituição. Essa
restrição se justifica devido à segurança e à estabilidade
que a Constituição oferece ao país. Quanto mais difícil a sua
modificação, maior a certeza de que tudo continuará a ser da
mesma maneira.

Além disso, as chamadas cláusulas pétreas, que compõem o


texto constitucional, também estão imunes a qualquer tipo de
PEC. A Constituição Federal traz quatro cláusulas pétreas em seu
texto. São elas: a forma federativa de Estado, os requisitos do
sufrágio (voto direto, secreto, universal e periódico), separação
dos poderes e direitos e garantias individuais. Não sendo cláusula
pétrea, qualquer assunto pode receber proposta de emenda.

Para ser aprovada, a PEC é discutida e votada em dois turnos


no Senado e também na Câmara do Deputados, após aprovada
na comissão especial da referida Casa. A aprovação só ocorre
quando três quintos do total de deputados e também de
senadores votam a favor da proposta. Em 1988, no texto original
da Constituição, o divórcio só era possível de acontecer após
a separação judicial que já durava mais de um ano ou, então,
mediante a comprovação da separação de fato por mais de
dois anos. Em virtude de uma Emenda à Constituição, contudo,
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

suprimiu-se essa necessidade de uma separação prévia inicial


e viabilizou-se o divórcio direto, que atualmente é utilizado no
Brasil e agiliza o procedimento, como retrata a imagem a seguir:

Fonte: Shutterstock, 2017.

As leis complementares, por sua vez, são adotadas sempre que


há previsão constitucional orientando a sua existência para
regulamentar alguma determinada matéria específica. É o caso,
como vimos, da lei complementar 95/98, que passou a tratar do
processo de elaboração das leis devido à uma orientação dada
pelo art. 59 da Constituição. O mesmo aconteceu em 2006,
com a instituição do Estatuto Nacional da Microempresa e da
Empresa de Pequeno Porte, originária de uma lei complementar
(nº 123) que decorreu da determinação do art. 146, inciso III,
alínea “d” da Constituição.

Para ser aprovada, as leis complementares exigem a aprovação


por maioria absoluta do Senado e Câmara dos Deputados, ou
seja, a metade mais um do total de cadeiras, independente do
parlamentar estar ou não presente naquela sessão. Se uma das
duas casas possui 100 cadeiras, por exemplo, a maioria absoluta
será, portanto, 51, como ilustra a imagem a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: corgarashu, Shuttertock, 2017.

As leis ordinárias apresentam procedimento legislativo menos


engessado do que as PECs e as leis complementares, uma vez
que, para serem aprovadas, exigem maioria simples mais um
dos votos dos parlamentares da Câmara dos Deputados e do
Senado. Ao contrário da maioria absoluta, a maioria simples não
contabiliza o total de cadeiras existente em cada Casa, mas,
sim, apenas a quantidade de parlamentares presentes naquela
sessão específica em que a lei ordinária está sendo discutida.
Se apenas 300 comparecerem, por exemplo, a lei pode ser
considerada aprovada com 151 votos.

As leis ordinárias costumam disciplinar assuntos constitucionais


que não foram reservados à lei complementar. Ou seja: a
própria Constituição pede a regulamentação de determinado
assunto, mas não exige que ela seja feita por lei complementar,
autorizando, assim, a lei ordinária para cumprir esse papel.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A maioria das leis que utilizamos no dia a dia são ordinárias,


como o Código de Defesa do Consumidor (lei n° 8.078, de 1990)
e o Código Civil (lei n° 10.406, de 2002). As leis ordinárias são,
inclusive, as mais comuns do país hoje. Só em âmbito federal,
elas já ultrapassam a quantidade de 13,5 mil.

Já as leis delegadas são de atribuição exclusiva do Presidente


da República, que deve solicitar a delegação (ou autorização) da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal sobre o assunto que
irá legislar, respeitados os limites constitucionais. A Constituição
não admite que seja objeto de lei delegada, por exemplo, as
matérias reservadas à lei complementar, nem as leis sobre
organização do Poder Judiciário e do Ministério Público. Esta
espécie legislativa, contudo, está em completo desuso. A última,
de n° 13, foi editada em 1992. Isso porque as medidas provisórias
são mais fáceis de serem utilizadas pelo Presidente, porque ele
não precisa de autorização do Congresso para expedi-las.

As medidas provisórias são adotadas apenas pelo Presidente da


República em casos de relevância e urgência, que são definidos
por ele com base em critérios políticos, como a necessidade
de mudar as regras de pagamento do seguro-desemprego,
por exemplo. Esses critérios, no entanto, não são suscetíveis de
revisão pelo Poder Judiciário.

Os efeitos de uma medida provisória são imediatos e sua vigência


tem prazo determinado: duram apenas 60 dias, prorrogáveis
por igual período (ou seja, só podem existir por, no máximo,
120 dias). Porém, depende de aprovação dos parlamentes da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal por maioria simples
mais um para ser transformada em lei. Por exemplo, após a
Reforma Trabalhista (editada pela Lei n.° 13.467/17), o Presidente
da República editou a Medida Provisória n.° 808/17, que alterou
vários aspectos da reforma original, como o trabalho da gestante
em ambiente insalubre, por exemplo.

Os decretos legislativos são atos exarados exclusivamente


pelo Congresso Nacional (junção do Senado e Câmara dos
Deputados), para regulamentar assuntos de sua competência,
por exemplo, ratificação de atos internacionais. As resoluções,
no âmbito federal, ocupam-se da veiculação de matéria de
competência privativa da Câmara dos Deputados e do Senado,
conforme dispõe os artigos 51 e 52 da Constituição Federal.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Ao eleger o Presidente da República,


a sociedade lhe confere poderes para
que, em nome de todos, eleja o que é
urgente e relevante ao ponto de gerar
a edição de uma medida provisória.

Diagnóstico de antinomias nas normas do Direito


As antinomias representam as contradições e os conflitos – reais
ou aparentes – que existem no ordenamento jurídico decorrente
de diferentes interpretações dadas aos textos legais. Quando
uma lei é produzida, imagina-se que ela alcance um efeito
específico, mas isso nem sempre acontece, já que, com a sua
utilização, outros efeitos podem surgir - muitos deles, inclusive,
indesejados.

O Código de Defesa do Consumidor é um exemplo disso, no que


diz respeito ao direito de arrependimento no prazo de até sete
dias para as compras feitas pela internet, telefone ou catálogo.
Quando o dispositivo foi criado, imaginava-se que o consumidor
fizesse o uso correto de tal direito, mas alguns passaram a utilizá-
lo com má-fé, chegando, inclusive, a adquirir um par de sapatos e
usá-los em uma festa, por exemplo, para, no dia seguinte, devolvê-
lo à loja alegando arrependimento.

Nesse caso, porém, como solucionar a questão? A regra deve


ser mantida ou eliminada do Código? Até o momento ela está
mantida, pois, embora exista um efeito indesejado, ele ocorre
excepcionalmente.

Em relação ao direito empresarial, as suas regras específicas


devem ser analisadas no contexto geral das demais leis brasileiras
e também se elas são compatíveis com a Constituição Federal
e com a interpretação dada pelos Tribunais e pela doutrina.
A antinomia surge pela interpretação, e também é por meio
dela que se elimina. É sempre necessário ponderar e buscar o
equilíbrio, conforme retrato da figura a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Lightspring, Shuttertock, 2017.

As empresas, por exemplo, não servem apenas para gerar lucro


a seus proprietários. A Constituição impõe que as atividades que
elas exercem estejam sempre voltadas ao bem-estar geral, à
proteção dos valores sociais do trabalho, entre outras finalidades.
Com o uso da expressão função social em vários dispositivos
jurídicos, o legislador deixa claro a preocupação com a sociedade
e com o bem-estar de todos e não apenas dos proprietários.

Essas noções precisam ficar muito claras porque você deve


interpretar as regras do direito empresarial à luz dessas
considerações. Como compatibilizar, então, as previsões:
capitalismo x função social? Nesses casos, temos conflitos
aparentes entre as normas jurídicas, uma vez que é plenamente
possível que a empresa desempenhe suas funções e tenha
medidas e políticas de responsabilidade social.

Cabe ao empresário, no desempenho


de seus direitos e deveres, implementar
ações relacionadas à função social da
empresa.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fundamentos de Direito Empresarial

Introdução

Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo(a) à terceira unidade de aprendizagem de


Direito Empresarial e Fundamentos!

Nessa aula vamos aprender as ferramentas para identificar as


normas jurídicas válidas e sua eficácia e eficiência frente às
diversas situações-problemas do cotidiano.

É muito importante que você saiba reconhecer a diferença entre


esses requisitos de validade, eficácia e eficiência, pois essas são
as características marcam todas as leis, inclusive as que ditam
regras sobre Direito Empresarial. Conhecer as diferenças permite
que você programe a atuação da empresa de forma correta
e saiba, exatamente, quando os efeitos de uma lei passarão a
incidir sobre os cidadãos.

Você saberia responder o que acontece se uma lei for publicada


hoje, determinando o aumento de um certo tributo? O pagamento
do valor atualizado deve ser feito imediatamente?

Ao fim dessa aula, você aprenderá a responder essas e outras


indagações mediante a compreensão das definições de validade,
eficácia e eficiência.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Validade, eficiência e eficácia da


norma jurídica

Após passar pelo regular processo de elaboração, as leis são


publicadas. A partir daí, passam a existir novos elementos que
precisam ser analisados para constatar se a norma jurídica é
realmente válida, eficaz e eficiente, pressupostos básicos para
que ela possa entrar em vigor.

Cada esfera de análise da norma jurídica revela características


próprias, que são fundamentais para que ela alcance o resultado
esperado, ou seja, que surta, na sociedade, os efeitos que foram
idealizados durante o seu processo de construção.

O primeiro elemento a ser analisado na norma jurídica é a


validade. Para que uma lei seja considerada válida é preciso
confrontar o caminho que ela percorreu até ser publicada e
aquele que deveria ter percorrido. Mais do que isso, também se
confronta o conteúdo que ela apresenta com os direitos previstos
na Constituição Federal.

O segundo elemento de análise é a eficácia da norma. É esse


requisito que revela o que é necessário fazer para que a lei
obtenha efeitos imediatos, como a eventual revogação de outras
leis e a potencialidade para produzir direitos ou gerar deveres.

O terceiro e último elemento é o da eficiência. É quando se visa


a converter o conteúdo escrito das leis em realidade para a
sociedade.

Agora, vamos analisar cada um desses elementos isoladamente.

Validade da norma jurídica.


Uma norma jurídica válida é aquela que resulta de um regular
processo legislativo. Isso significa dizer, em outras palavras,
que ela foi elaborada, analisada e aprovada da forma correta e
agora faz parte do ordenamento jurídico (o conjunto de leis de
um país, em sentido amplo).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A validade de uma norma jurídica contempla elementos ou


requisitos formais e materiais. Os formais referem-se à etapa
de produção da lei propriamente dita, desde a pessoa que
apresentou o projeto até o seu trâmite regular (se a votação
foi realizada corretamente, por exemplo). Cada etapa desse
processo deve trilhar o caminho correto e previsto pela legislação.

A principal fonte jurídica que aponta qual é o trâmite correto,


tratando dos requisitos formais da norma jurídica, é a Constituição
Federal, apresentada pela figura a seguir:

Fonte: Alexander Mak, Shutterstock, 2017.

É a Constituição que expõe os procedimentos a serem seguidos


no começo, no meio e no fim do processo legislativo e as principais
regras de competência de cada um dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário e o que eles estão autorizados a fazer
e a forma de agir. É importante lembrar, nesse contexto, que ao
Poder Executivo compete a gestão do Estado; ao Legislativo, a
produção e fiscalização das leis; e, ao Judiciário, a resolução dos
conflitos que lhe são submetidos.

Já os requisitos materiais da norma jurídica dizem respeito ao seu


conteúdo e evitam que ele seja contrário aos direitos previstos
na Constituição. Não poderia o Código Civil, por exemplo, prever
que o exercício da atividade empresarial sirva apenas à obtenção
de lucro para o empresário, pois isso levaria a uma lesão da
Constituição Federal, que prevê que a ordem econômica deve
assegurar o bem-estar geral e respeitar os valores sociais do
trabalho, entre outras garantias (art. 170).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Dessa forma, estando cumpridos os requisitos formais e


materiais, a norma jurídica precisa de vigência para produzir
efeitos jurídicos. E isso se dá a partir do momento que a lei é
aprovada e passa a entrar em vigor.

Mas quando uma lei entra em vigor? No mesmo dia em que é


publicada na Imprensa Oficial?

Como regra, o Direito brasileiro considera que, entre a publicação


da lei no Diário Oficial e o início da sua vigência, deve haver
um prazo específico para que as novas regras sejam divulgadas
de forma satisfatória a todos e a sociedade possa se adaptar
a elas. Esse prazo é variável porque é fixado pelos próprios
parlamentares, de acordo com critérios escolhidos por eles. No
entanto, no caso de leis de pequena repercussão (como uma lei
que cria o “dia do administrador”, por exemplo), a vigência pode
ter início no mesmo dia da publicação.

A validade da norma jurídica pressupõe


o cumprimento dos requisitos formais,
materiais e de vigência.

Eficácia da norma jurídica.


A eficácia da norma jurídica refere-se a uma dupla possibilidade.
A primeira diz respeito à eventual necessidade de revogação
de outras normas que estejam em vigor e lhe sejam contrárias.
Nesses casos, ela pode ser questionada judicialmente, caso seu
conteúdo esteja violando a Constituição.

A segunda está relacionada ao seu potencial para produzir


efeitos em casos reais (LENZA, 2017). Uma lei municipal que
altere os valores do Imposto sobre Serviços (ISS), por exemplo,
pode ser publicada no Diário Oficial em julho e iniciar a sua
vigência nesta mesma data, mas a sua eficácia só vai começar,
de fato, em 1° de janeiro do ano subsequente. Isso porque há
uma previsão constitucional expressa nesse sentido, que
protege o contribuinte e lhe garante o direito à segurança e ao
planejamento. Esta proteção está prevista no art. 150, inciso III,
alínea “b” da Constituição. Neste caso, a lei é válida, mas sua
eficácia surtirá efeitos apenas em momento posterior, como
mostra a figura a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2017.

Silva (2011) ainda menciona que as normas constitucionais podem


apresentar diferentes eficácias, que podem ser plenas, contidas
e limitadas, como veremos a seguir. Apesar disso, no entanto, elas
sempre terão aplicabilidade, mesmo que dependam de alguma
outra lei fora da Constituição que faça essa integração (norma
infraconstitucional integradora).

A norma de eficácia plena é aquela que já produz todos os seus


efeitos de forma imediata, independente de regulamentação. O
direito à saúde, previsto na Constituição e sem necessidade de
uma segunda norma para regulamentá-lo, é um exemplo.

A norma de eficácia contida, por sua vez, é aquela que produz


efeitos amplos, mas que, ao mesmo tempo, pode sofrer limitação
em algum determinado momento. É o caso, por exemplo, do
direito ao exercício profissional da advocacia que só pode ser
exercido mediante aprovação no exame aplicado pela Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Já a norma de eficácia limitada é a que não produz efeito algum


até que outra lei a regulamente seja aprovado. É o caso do
direito à proteção do consumidor, retratado na figura a seguir.
Apesar de previsto pela Constituição, no art. 5°, inciso XXXII, só
foi regulamentado pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Fonte: Shutterstock, 2017.

As normas constitucionais que


apresentam eficácia plena garantem
aplicação imediata ao caso concreto.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Eficiência da norma jurídica


Apresentados os conceitos de validade e de eficácia da norma
jurídica, passamos agora à análise da eficiência da norma
jurídica.

O que é ser eficiente? O dicionário Michaelis diz que é aquilo


que desempenha adequadamente sua função, algo apto, capaz
e hábil. A norma jurídica eficiente é exatamente isso: está
adequada ao fato social, representa os valores da sociedade
em que está inserida e entrega à sociedade uma proteção que
satisfaz as suas necessidades (tutela satisfativa, em termos
técnicos), como mostra a figura a seguir:

Fonte: sirtravelalot, Shutterstock, 2017.

É o caso, por exemplo, da concordata, que existia antigamente


no ordenamento jurídico brasileiro. À época, a concordata
impunha aos empresários determinados prazos e condições
de pagamentos totalmente desconexos da realidade, como a
vinculação à necessidade de um prévio ou simultâneo pedido
de falência. Em busca da eficiência desta norma, o instituto
jurídico da concordata foi reformulado e substituído. Hoje,
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

a nova lei que vigora (nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005)


não vincula mais o pagamento à falência. Em seu lugar, a
nova norma regula a recuperação judicial e a extra judicial
e a falência do empresário e da sociedade empresária com
condições de preenchimento mais fácil para os envolvidos,
como a possibilidade de que a recuperação seja feita de forma
independente da falência, por exemplo.

Agora que você já conhece os elementos de validade, eficácia e


eficiência da norma jurídica, veja a ilustração abaixo, que resume
o conteúdo:

Validade

Espécies Normas
Normativas Jurídicas Eficiência

Emendas à Constituição, leis


complementares, leis
ordinárias, leis delegadas,
medidas provisórias, decretos Eficácia
legislativos e resoluções.

A norma jurídica será eficiente desde


que sua aplicação, além de eficaz,
traga proveito e segurança jurídica.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Conceituação de empresário

Introdução

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à quarta unidade de


aprendizagem da disciplina, em que você vai adentrar de vez na
área de estudo do Direito Empresarial. A partir de agora, vamos
aprender sobre o conceito de empresário e as características e
requisitos básicos que ele deve apresentar para conseguir, de
fato, exercer a atividade empresária na forma como ela está
prevista pela lei civil.

Como você deve imaginar, existem muitos pontos muito


interessantes a serem abordados neste estudo! Um dos mais
relevantes é a unificação de quase todas as normas de direito
comercial ou empresarial em um único compilado: o Código
Civil de 2002.

Você sabia que esse movimento de unificação civil do direito


comercial foi resultado de novas perspectivas para o Direito, não
só empresarial, mas de todo o ordenamento jurídico?

Você vai aprender isso e muito mais nesta unidade!

Vamos nessa?
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O empresário e o Código Civil

A unificação do regramento do direito obrigacional foi de grande


importância para o direito empresarial porque estabeleceu a
incidência de diversos princípios, como veremos nos tópicos
seguintes, para todo este ramo do direito, que passou a ser
regrado, quase exclusivamente, no Código Civil. Assim, neste
tópico, você vai descobrir como se deu essa unificação, além de
ter noções introdutórias acerca dos conceitos de empresário e
suas características.

Unificação do direito obrigacional

Antes de começar, vamos esclarecer para você o que é o direito


obrigacional: trata-se do ramo jurídico que engloba todo tipo
de obrigações jurídicas, como, por exemplo, quaisquer tipos
de contratos em que os contratantes assumam obrigações.
Os negócios jurídicos, que constituem o direito empresarial,
também estão entre essas obrigações.

Parece que o próprio termo, direito obrigacional, já justifica a


união de seus objetos em uma só lei, não é?

Hoje em dia sabemos que o direito obrigacional foi unificado


no Código Civil, mas nem sempre foi assim. Para analisar a
necessidade de unificação do direito obrigacional no Código
Civil, primeiro temos que observar os motivos que levavam à
sua separação, representada na figura a seguir.

Fonte: style-photography, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Antes do estabelecimento do Código Civil de 2002, toda a


legislação de interesse do direito comercial estava regrada
no Código Comercial de 1850 em virtude dos conceitos que
estabeleciam os objetos do direito comercial à época.

Nesse contexto, em meados do século XIX, os objetos do direito


comercial eram os atos comerciais, que estavam regrados no
Código Comercial, enquanto que, com o regramento do conceito
de empresário no Código Civil de 2002, passamos a ter como
objeto do direito empresarial o empresário tal como foi definido
na lei civil.

Além disso, antes do Código Civil de 2002, muitos diziam que


a dicotomia entre esses dois ramos jurídicos se dava porque
o direito comercial era considerado um direito internacional
e, portanto, universalista, devido à influência dos tratados
internacionais comerciais em seu regramento. Justamente por
esse caráter, ele não poderia se misturar com o direito civil, que
seria personalíssimo (inerente às pessoas) e nacional por sua
própria natureza, já que cuida de assuntos nacionais internos
e de direitos privados da pessoa, como o direito de família, por
exemplo (NEGRÃO, 2012).

Só que, com o passar do tempo, isso mudou. As novas perspectivas


legais que foram surgindo em virtude de modernas situações
fático-sociais, como a irradiação da boa-fé objetiva (princípio
que exige que as partes que celebram qualquer negócio jurídico
a jam não somente de acordo com o direito, mas de acordo
com padrões éticos retirados do direito e da sociedade, cuja
compreensão é realizada pelos juízes e tribunais), para todo o
ordenamento jurídico, fez com que tivéssemos a necessidade
de aproximar essas duas áreas em um regramento específico e
conjunto de todos os negócios jurídicos obrigacionais, levando à
unificação do direito obrigacional.

Dessa forma, pelo surgimento e a aplicação legal de novos


princípios, principalmente o da boa-fé objetiva, que passaram
a regular diversos ramos do Direito (no nosso caso, o direito
obrigacional), foi necessário o seu regramento em um único
diploma legal, como sintetizado na figura a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: STILLFX, Shutterstock, 2017.

Isto ocorreu para além da facilidade que uma positivação


(regramento) das relações jurídicas obrigacionais traz para os
operadores do direito (juízes, advogados, promotores), mas,
principalmente, pela necessidade de propagação de princípios
positivados na lei civil, como, por exemplo, a preservação do
equilíbrio econômico financeiro de todos os contratos, inclusive
os relativos ao direito empresarial.

Perceba então a influência de postulados legais, como o da


proibição da onerosidade excessiva, que busca resguardar o
equilíbrio econômico financeiro dos contratos e salvaguardar
todos os negócios jurídicos obrigacionais e, como parte deles,
os comerciais.

Esses postulados vêm da nova perspectiva não patrimonialista


do direito, ou seja, aquela em que não se procura proteger
simplesmente o direito patrimonial à propriedade de seu titular,
mas sim os direitos de toda a sociedade que podem advir da
propriedade.

Assim, veja que o direito civil procura resguardar direitos


extrapatrimoniais (que não têm uma apreciação patrimonial
necessária como o direito à moradia, educação, por exemplo)
das partes, principalmente por meio do princípio da boa-fé
objetiva.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Esse princípio se caracteriza pela necessidade das partes, ao


celebrar um negócio jurídico, de agir com a mais absoluta
boa-fé, verificada objetivamente, isto é, sem a necessidade de
comprovação de qualquer elemento interno, subjetivo, de sua
conduta.

Assim, verificamos a possibilidade, por exemplo, em um contrato


em que se nota que os compromissos firmados se tornaram
excessivamente onerosos (onerosidade excessiva) para uma das
partes, além do que se poderia ser interpretado segundo a boa-
fé, de sua finalização ou adequação para que a boa-fé possa ser
reestabelecida.

Fonte: ASDF_MEDIA, Shutterstock, 2017.

Note que, nesse contexto, para que a aplicação do postulado da


boa-fé objetiva pudesse ocorrer de maneira fluída, também para
o direito empresarial foi necessário o regramento, no mesmo
diploma, do direito civil e do direito empresarial.

A unificação do direito obrigacional foi


uma resposta jurídica e necessária aos
novos anseios e relações sociais.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Conceito e elementos de empresário


É importante você saber que, a partir da unificação do direito
obrigacional e com a mudança da legislação comercial para
o Código Civil, o conceito de empresário passou a ter grande
importância porque representa a adoção da Teoria da Empresa.

Essa teoria vai ser estudada com detalhes nas unidades


seguintes, mas, só para você ter dimensão de sua relevância
para o estudo que desenvolvemos aqui, ela pode ser definida
como o deslocamento do objeto do direito comercial dos atos
praticados pelo comércio para a figura do empresário, como
definida no Código Civil.

A partir daí, o direito comercial também passa a ser chamado de


direito empresarial, tendo em vista a adoção da teoria da empresa
e a centralidade do conceito de empresário. A transformação é
representada pela figura a seguir.

Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2017.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Você pode entender o conceito de empresário como aquele que


exerce, de maneira profissional, atividade econômica organizada
para a produção ou circulação de bens e serviços. Veja que essa
conceituação está prevista de maneira muito semelhante no
artigo 966 do Código Civil.

Como podemos perceber, a lei é bastante clara ao estabelecer


quem é considerado empresário para o ordenamento jurídico
brasileiro. Mas, para analisar essa definição com mais detalhes,
é importante analisar cada um dos elementos mencionados pela
lei, como mostra a ilustração a seguir:

Empresário

Atividade Produção ou
Profissionalismo econômica circulação de
organizada bens e serviços

O primeiro elemento a ser analisado, o termo profissionalmente,


costuma ser dividido pela doutrina em três aspectos: a
pessoalidade, a habitualidade e o monopólio de informações.

Vamos ver agora as características de cada elemento.

A pessoalidade considera empresário todo aquele que contrata


funcionários e contrai obrigações para o exercício da atividade
econômica, assumindo o risco da atividade e organizando os
fatores de produção. Perceba que assim podemos estabelecer a
diferença entre empregados e o empresário, já que os primeiros
não realizam a atividade empresária em nome próprio, mas em
nome do patrão, o empresário.

Já a habitualidade determina que só será empresário aquele que


realizar atividade empresarial de maneira contínua e habitual. E
o que isto quer dizer? Que não é empresário aquele que exerce
atividade empresária esporádica e/ou de forma temporária,
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

testando um produto ou mudando de rumo por conta de uma


crise financeira, por exemplo.

O último aspecto, o monopólio de informações, é considerado


por muitos doutrinadores o mais relevante dos elementos do
profissionalismo porque estabelece que o empresário, por ser
profissional, tem as informações mais relevantes sobre a sua
atividade, devendo informá-las aos seus consumidores.

O segundo elemento legal – a atividade econômica organizada


– também precisa ser dividido em três para ser analisado com
coerência. O primeiro deles, a atividade, pode ser definida como
elemento funcional da teoria da empresa. Assim, se o empresário
faz circular e/ou produz bens e serviços, essa atividade que ele
realiza é justamente a empresa, o meio que ele usa para essa
circulação ou produção.

Já o termo econômica diz respeito à geração de lucro. Em outras


palavras, a atividade empresarial só será econômica se puder
produzir lucros (COELHO, 2016), como você pode ver na imagem
a seguir:


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Shutterstock, 2018.

Mas atenção: o objetivo da atividade econômica não precisa ser


gerar lucros, mas é preciso tê-los, já que, para qualquer empresa
se manter funcionando, os lucros são essenciais em uma
sociedade capitalista. Pense em uma instituição de educação
religiosa, por exemplo: ela pode até não buscar os lucros como
objeto e fim de sua atividade, mas precisa deles para se manter
em funcionamento, certo?

Por fim, a característica de organização da atividade empresarial


está relacionada aos fatores de produção: capital, mão de obra,
insumos e tecnologia, que serão estudados em profundidade
nas próximas unidades.

O terceiro grupo – a produção ou a circulação de bens e serviços


– significa que o empresário, por meio de sua atividade, será o
responsável por produzir e circular (vender) mercadorias (bens)
e serviços.

Assim, você pode compreender a circulação de bens e serviços


como o trabalho exercido pelo comerciante, que funciona como
intermediário que faz circular os bens e serviços entre aquele
que produz e o que consome, ou seja, o consumidor. A figura a
seguir simboliza um processo de compra.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Shutterstock, 2017.

Já a produção de bens e serviços pode ser entendida como


a atividade industrial que representa o ato responsável pela
existência de um bem e/ou serviço.

Para que se compreenda o que é


empresário, devemos entender cada
um dos seus elementos.

4.1.3 Exercício da atividade empresária


Agora que você já aprendeu a definição de empresário segundo
a lei, é hora de analisar o que compõe a atividade que ele exerce.
Vamos lá?

Existem duas formas de exercício da atividade empresária: o


exercício individual da empresa (feito pelo empresário individual)
e o exercício coletivo (que ocorre por meio da sociedade
empresária), conforme você pode observar na ilustração a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Empresário Individual

Exercício da Atividade Empresária

Sociedade empresária

O empresário individual – que é aquele que exerce


individualmente a atividade empresarial –, com o devido registro
como pessoa física na junta comercial, terá o exercício de sua
atividade considerado como individual. Por outro lado, caso esse
mesmo empresário aceite sócios, poderá mudar seu registro e
sua atividade passará a ser uma sociedade empresária, ou seja,
de exercício coletivo.

Uma das características do exercício individual da atividade


empresária é a responsabilização ilimitada do empresário,
ou seja, com o seu próprio patrimônio, além daquele que ele
destinou à empresa, pelas obrigações por ela assumidas.

Já o segundo tipo de exercício da atividade empresária, a


sociedade empresária, se caracteriza pelo exercício coletivo da
atividade empresarial por meio da pluralidade de sócios que
compõem a empresa, devendo ser registrada na junta comercial
quando se forma a pessoa jurídica da sociedade empresária.
Dessa forma, esse exercício da atividade empresária será, na
maioria das vezes, de responsabilidade limitada dos sócios pelas
obrigações da empresa no limite do patrimônio desta.

O exercício plural da atividade


empresária se dá por meio das
sociedades, enquanto que o singular se
dá por meio do empresário individual.

Assim, chegamos ao final de mais uma unidade de aprendizagem,


em que você teve a oportunidade de entender o conceito de
empresário e as principais características e requisitos necessários
ao exercício da atividade empresarial, na forma estabelecida
pela lei.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Aspectos práticos da atividade do


empresário

Introdução

Nesta unidade, você vai aprender um pouco mais a respeito da


atuação do empresário, focando em seus aspectos práticos de
acordo com o que é determinado pela legislação pertinente.

Você também vai ver como se dão questões do uso indevido


de créditos e da personalidade jurídica no cotidiano forense, ou
seja, como os tribunais abordam tais questões.

Você sabia que as ações que identificam o empresário também


podem ser objeto de escolha por parte do sujeito da atividade?

Esta é uma abordagem que poucos conhecem, mas que tem


grande impacto para o reconhecimento das ações que podem
ser típicas de empresário.

Veremos estas questões e muito mais nesta unidade!

Vamos começar?
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Tipos de ações que identificam o que


é ser empresário

Neste nosso primeiro tópico, você vai poder identificar as ações


que propriamente caracterizam o empresário. A seguir, vamos
estabelecer as ações que caracterizam aqueles que, diante de
determinadas condições, serão empresários. Ao final do tópico,
vamos abordar também curiosidades acerca daqueles que
poderão optar pela empresalidade.

Das ações típicas de empresário


Como você viu na unidade anterior, o conceito de empresário
presente no artigo 966 do Código Civil considera o "[...]
empresário quem profissionalmente exerce atividade econômica
organizada para a produção ou circulação de bens e serviços"
(BRASIL, 2012). Você viu também, na unidade anterior, que o
ordenamento jurídico brasileiro considera a seguinte divisão para
empresário: profissionalismo, atividade econômica organizada e
propriedade ou circulação de bens e serviços. A divisão nesses
elementos nos permite melhor determinar o seu significado.

Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Dessa maneira, a partir da divisão realizada na unidade anterior,


podemos estabelecer os critérios para a percepção da atuação
típica do empresário, os quais englobam os conceitos de
economicidade, organização e profissionalidade. Vamos então
abordar essas definições para que você possa compreender as
ações do empresário.

Quando falamos de economicidade, trata-se de uma ação típica


de empresário aquela criadora de riqueza de bens e serviços
que podem ser valoradas patrimonialmente para o mercado
consumidor (NEGRÃO, 2012).

Já o aspecto atuação organizada se dá a partir da organização,


feita pelo empresário, dos fatores de produção (capital, mão de
obra, insumos e tecnologia).

Por fim, para que possa ser considerado empresário, a atuação


do sujeito precisa ser realizada de maneira profissional, ou seja,
com habitualidade e pessoalidade. Veja no esquema a seguir as
características da atuação empresária:

Profissionalidade

Empresário

Organização Economicidade

Fonte: Adaptado de NEGRÃO, 2012, p. 72.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Assim, você pode perceber a atuação do empresário por meio


dos elementos presentes no conceito de empresário do artigo
966 do Código Civil, dada a sua dupla importância tanto para
a compreensão do conceito de empresário quanto para a
identificação de sua forma específica de agir.

Para o reconhecimento das ações


típicas de empresário, temos que nos
utilizar dos elementos de seu conceito
legal de maneira específica.

Dos que não são empresários e o


"elemento de empresa"

Embora tenhamos aprendido como reconhecer as ações típicas


de empresário, a lei estabeleceu critérios que determinam
aqueles que não podem ser empresários. Vejamos como isto
ocorre.

Fonte: Scanrail1, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

De fato, o artigo 966, parágrafo único, do Código Civil determina


que "[...] não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda
com o concurso de colaboradores, sa" (BRASIL, 2002).

Assim, de acordo com o entendimento da lei, podemos dizer


que todos aqueles que exercem atividade intelectual não são
considerados empresários, exceto se o exercício de sua profissão
constituir elemento de empresa.

Mas quem são exatamente os profissionais intelectuais impedidos


legalmente de ser empresários?

Bem, podemos estabelecer logo de início que os profissionais


intelectuais são aqueles que trabalham principalmente com
venda dos produtos diretos de seu intelecto. Portanto, o
profissional do intelecto artístico fornece ao consumidor os
produtos de uma obra de arte, quaisquer que sejam que, por
sua vez, vêm do seu intelecto. Já os profissionais intelectuais de
natureza científica fornecem serviços ou produtos provenientes
de seus conhecimentos científicos, obras científicas; e os
literários, obras de literatura, como livros, periódicos etc.

A partir dessa breve explicação, você saberia mencionar um


profissional intelectual que não é considerado empresário?
Alguns exemplos são os médicos, os advogados, os escritores, os
escultores dentistas, entre vários outros, como representados na
figura a seguir.

Fonte: ESBProfessional, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Mas por que a lei os exclui da classificação de empresários?

Isto ocorre porque entende-se que o acesso a muitas dessas


profissões não é livre, dependendo de formação intelectual mais
severa ou do simples talento. Além disso, durante o exercício de
muitas dessas profissões, existem regras éticas, como o estatuto
da OAB, por exemplo, que impedem a livre concorrência e
a produção em larga escala, característicos das atividades
empresariais.

Outra razão é que, pela própria forma de atuação dos sujeitos


dessas atividades, normalmente o próprio serviço prestado
ou produto fornecido impede que algumas características da
empresa, como a produção em larga escala, estejam presentes.

Contudo, você não deve se esquecer do que diz a última parte


do disposto no parágrafo único do artigo 966 do Código Civil:
"[...] salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa" (BRASIL, 2002). Isto quer dizer que, quando o exercício
da profissão intelectual constituir elemento de empresa, os
profissionais intelectuais serão considerados empresários. Isto
não esclarece muita coisa, não é? Precisamos saber o que se
entende por elemento de empresa e, para explicá-lo, temos duas
correntes predominantes. Vejamos.

A primeira, capitaneada por Sylvio Marcondes, entende que o


elemento de empresa seria a complexidade da atividade gerada
por outras atividades exercidas além da atividade preponderante
do profissional intelectual. Nesse caso, você pode pensar como
exemplo clássico o veterinário que vende ração ou oferece
hospedagem para cachorros.

Já a segunda posição, ma joritária e aceita pelo Superior Tribunal


de Justiça, entende que se pode definir como empresário
aquele que, no exercício de sua atividade, deixa de prestá-la
em caráter personalíssimo (relacionado somente à pessoa) e
em nome próprio, atuando com organização, profissionalismo e
economicidade. Seria o caso do veterinário que abre uma clínica
veterinária e tem outros profissionais trabalhando para ele. Nesse
caso, a atividade adquire complexidade com a necessária atuação
conforme o empresário, com profissionalidade, economicidade e
organização, como mencionamos antes. Agora ficou mais fácil
de entender, não é verdade?
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A constatação da ação empresarial


envolve também a percepção dos que
não podem ser empresários e quando
passam a ser.

Da opção de ser empresário


Um caso curioso é o daquele que exerce atividade econômica
rural, já que a sua ação determinante para a condição de
empresário é o registro na junta comercial.

De fato, é nesse sentido que dispõe o artigo 971 do Código Civil


(BRASIL, 2002):
O empresário, cuja atividade rural constitua
sua principal profissão, pode, observadas as
formalidades de que tratam o art. 968 e seus
parágrafos, requerer inscrição no Registro Público
de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso
em que, depois de inscrito, ficará equiparado,
para todos os efeitos, ao empresário sujeito a
registro.

Produtor Registro junta


rural comercial Empresário

Essa faculdade de escolha do regime empresarial dada ao


produtor rural vem do reconhecimento da lei de que no Brasil,
ao contrário da Europa, por exemplo, o pequeno produtor não
tem atuação econômica relevante, daí que normalmente não se
registra como empresário, ao contrário das grandes empresas
que, pelas necessidades de sua atuação, certamente se registram.

É importante destacar que o produtor rural que leva a sua


atividade a registro tem todas as vantagens inerentes a este,
como, por exemplo, a proteção da personalidade jurídica da
empresa, cujo patrimônio passa a responder pelos negócios
jurídicos que celebrar.

A faculdade dada ao produtor rural de


ser reconhecido como empresário ou
não se origina de um reconhecimento
legal de uma situação real.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Vetores de interpretação do direito


empresarial

Neste tópico, você vai descobrir como exercer a atividade


empresarial de acordo com a lei, do que se trata a personalidade
jurídica e no que constitui o seu uso indevido. Vamos lá?

Do exercício regular da atividade empresarial


Como você deve ter percebido no decorrer de nossos estudos,
não é o registro que determina o ser empresário ou não, mas
sim o preenchimento dos requisitos estabelecidos na lei para
qualificar alguém como empresário.

Dessa forma, para ser considerado empresário, é necessário


atender aos requisitos estabelecidos no artigo 966 do Código
Civil, que determinam que será considerado empresário aquele
que, profissionalmente, exerce atividade econômica organizada
para a circulação ou produção de bens e serviços.

Embora o registro seja obrigatório para o empresário, segundo o


disposto no artigo 967 do Código Civil, ninguém vira empresário
por meio dele. Nesse contexto, o registro é apenas um mecanismo
da lei para proteger a atividade econômica da empresa, por
meio da personalidade jurídica, por exemplo.

O empresário e as sociedades empresariais que não registram as


suas atividades são denominados, respectivamente, empresário
irregular e sociedade em comum e não somente perdem diversos
benefícios conferidos pela lei, mas estão sujeitos a várias sanções,
como você vai ver nas unidades seguintes que aprofundam esses
temas.

Assim, o empresário e a sociedade serão regulares caso realizem


o registro, mas não perdem a qualidade de empresários na
hipótese de não atenderem à demanda da lei.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2018.

Por fim, é importante destacar que outros imperativos legais


estabelecem obrigações aos empresários para que exerçam suas
atividades de acordo com a lei, como escriturar regularmente
todos os livros obrigatórios e levantar balanço patrimonial e de
resultado econômico a cada ano.

O exercício da atividade empresarial


não depende do cumprimento do
que é determinado por lei, mas o seu
exercício regular sim.

Da personalidade jurídica
Aprendemos na unidade anterior que o empresário individual
em geral tem responsabilidade patrimonial, ilimitada por todos
os negócios jurídicos que celebra. Já os sócios das sociedades
empresárias normalmente têm responsabilidade patrimonial
limitada aos bens que destinaram à empresa, ou seja, ao
contrário do empresário individual, os seus bens particulares não
respondem pelas obrigações assumidas pela empresa.

Isto se deve à personalidade jurídica conferida às sociedades


empresárias e às empresas individuais de responsabilidade
limitada que, ao contrário do empresário individual, têm
patrimônio separado de seus componentes subjetivos. Nesse
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

sentido, a personalidade jurídica nada mais é que uma ficção


estabelecida pela lei e que dela decorre. É claro que uma pessoa
jurídica não tem uma existência biológica, física, mas, para
facilitar a vida em sociedade, se confere a ela uma personalidade
permitindo que lhe sejam concedidos direitos e obrigações
(NEGRÃO, 2012). A figura a seguir representa uma personalidade
jurídica.

Fonte: agsandrew, Shutterstock, 2018.

Assim, a personalidade jurídica é uma ficção jurídica e, por isso


mesmo, só nasce quando o direito tem ciência dela, o que se dá
por meio do registro.

Você vai estudar os efeitos da personalidade jurídica em


profundidade um pouco mais adiante em nossa disciplina,
mas, para este momento, é importante você saber que a
personalidade jurídica confere proteções ao empresário, além
das já mencionadas, e permite, como salientamos, que o seu
patrimônio fique protegido de eventuais dívidas por parte da
empresa com personalidade jurídica própria.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Essa proteção à personalidade jurídica é frequentemente


conhecida como o véu da personalidade jurídica, já que protege
os empresários e sócios das empresas de várias formas. Para
nós, como veremos a seguir, a mais relevante é a patrimonial.

A proteção da personalidade jurídica


visa a fomentar o desenvolvimento das
empresas e, como consequência, da
comunidade como um todo.

Do uso indevido da personalidade jurídica


Aproveitando-se desse véu de proteção concedido pela
personalidade jurídica, muitos empresários ou sócios de
empresas fazem o uso errado do instituto para encobrir ações
contrárias à lei e ao direito.

Como veremos mais adiante com detalhes, uma das características


da personalidade jurídica é a unidade patrimonial que, para
nós, neste momento, se caracteriza por cada pessoa, natural ou
física, possuir apenas um patrimônio.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Em razão disso, muitos empresários ou sócios fazem o uso


indevido dos créditos, dinheiro, da empresa ou de seus próprios,
no intuito de não cumprir as obrigações contratuais assumidas.
Você tem ideia de como isto acontece?

Existem inúmeras situações em que isso poderia ocorrer, mas um


bom exemplo é o caso em que empresários ou sócios da empresa
se utilizam desta para adquirir coisas para si, entendendo que
depois o patrimônio da empresa será responsabilizado e não o
seu.

Essa situação, além de muitas outras, é definida como fraude,


em que o sócio ou empresário se aproveita da personalidade
jurídica da empresa para que possa cometer essas ações ilícitas,
como representado na figura a seguir.

Fonte: Andrey_Popov, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Contra a atitude fraudulenta dos empresários, os tribunais


adotaram a teoria da desconsideração da personalidade jurídica,
que, positivada em nosso Código Civil, impede que os sócios
ou empresários fraudadores se beneficiem da personalidade
jurídica da empresa para que não arquem com as obrigações
legais assumidas.

A desconsideração da personalidade
jurídica é a arma da lei para coibir
ações ilegais.

Até aqui, você teve contato com os aspectos práticos da atividade


do empresário, observando desde ações que o caracterizam até
a regularidade e irregularidade em sua atuação.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Atividade empresarial e
teoria da empresa

Introdução

Nesta unidade, você vai estudar a teoria da empresa, seu


desenvolvimento e suas características mais relevantes, dando
os primeiros passos para compreender o dia a dia das atividades
empresárias.

De difícil conceituação, o objeto e o próprio direito empresarial


foram alvos de grandes mudanças ao longo da história, não
só por conta das muitas alterações sociais que ocorreram em
nossa sociedade e obrigaram a uma mudança do Direito, mas
também pelas diferentes aproximações do conhecimento que os
estudiosos do ramo realizaram ao longo do tempo.

Durante seus estudos sobre direito empresarial, provavelmente


você já deve ter ouvido se referirem ao direito empresarial como
direito comercial e vice-versa. Será que existe alguma diferença
entre as denominações? Aprenderemos isto e muito mais nesta
unidade!

Vamos lá?
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Atividades empresarial e comercial

Neste tópico, você será capaz de entender o porquê das


denominações direito empresarial e direito comercial, a evolução
histórica que permitiu uma diferenciação entre os dois termos
para que possamos, por fim, determinar a diferença entre uma
atividade empresarial e uma comercial. Vamos começar!

Da etimologia do direito comercial


Grande parte dos doutrinadores de direito empresarial ou
direito comercial se referem ao ramo do direito por este, já que
entendem que o direito empresarial é apenas uma evolução do
comercial. A figura a seguir representa um processo evolutivo.

Fonte: Strakovskaya, Shutterstock, 2018.

De fato, o direito empresarial é uma evolução do direito comercial


e se utiliza dos conhecimentos adquiridos durante a vigência
daquele. Por isso, talvez o mais adequado seja empregarmos a
nomenclatura direito comercial e de empresa ou empresarial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Mas por que utilizamos o nome direito empresarial?

O Código Civil de 2002 unificou todas as relações obrigacionais,


inclusive a grande maioria das relações comerciais, agora sob o
título de "Direito de Empresa" na parte especial do livro II.

Assim, podemos notar que a denominação direito empresarial é


utilizada pelo que foi previsto em lei que, por sua vez, acolheu a
teoria da empresa, como veremos a seguir.

O direito empresarial é a evolução


que o direito comercial experimentou
ao longo do tempo, é um novo
desdobramento de um direito antigo.

História: do direito comercial ao empresarial


Os estudiosos de direito comercial discutem muito sobre seu
início, não chegando até hoje a um consenso. Embora tenhamos
várias teorias sobre o assunto, grande parte da doutrina entende
que o direito comercial surgiu com a burguesia.

Nesse sentido, Ascarelli (apud NEGRÃO, 2012) explica que foi


na civilização das comunas que o direito comercial começou
a afirmar-se em contraposição à civilização feudal, mas
também distinguindo-se do direito romano comum, que quase
simultaneamente se constituía e se impunha. O direito comercial
aparece, por isso, como um fenômeno histórico, cuja origem é
ligada à afirmação de uma civilização burguesa e urbana, na
qual se desenvolveu um novo espírito empreendedor e uma
nova organização dos negócios. Essa nova civilização surgiu,
justamente, nas comunas italianas.

A primeira fase do direito comercial pode ser estabelecida entre


os séculos XII e XVI e se caracterizava por ser um direito de
classe, ou seja, inerente a todos aqueles que trabalhavam com o
comércio e se filiavam a uma corporação de comerciantes.

As corporações de ofício é que ditavam todas as regras relativas


ao direito comercial, obviamente com o apoio do monarca.
Também detinham poderes políticos, na medida em que
zelavam por sua própria honra; executivos, porque garantiam o
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

cumprimento de suas próprias leis e estatutos e administravam


o seu próprio patrimônio; e judiciais, para julgar as controvérsias
relativas ao direito comercial. A figura a seguir representa uma
empresa que se utiliza do direito comercial na transação dos
seus produtos.

Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.

Em um segundo momento, a partir da promulgação do Código


Napoleônico, em 1806, o direito comercial deixa de ser um direito
que tem como objeto apenas a classe dos comerciantes das
corporações e passa a ser um direito mais abrangente, ou seja,
regulando todo ato de comércio independentemente de quem o
realizou.

A conceituação estanque de atos de comércio, porém, encontrou


problemas na aplicação do direito, porque as relações entre as
pessoas mudam com muita velocidade e a cada momento novos
e diferentes atos comerciais podem surgir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A fase atual do direito empresarial, ainda em construção, teve


início com a edição do Códice Civil da Itália, em 1942, em que o
objeto do direito comercial passou a ser o empresário por meio
da positivação da teoria da empresa.

Para chegarmos à atual concepção de


direito empresarial, foi necessária uma
construção milenar no aprimoramento
do direito comercial.

Da dogmática das fases do direito comercial e a


diferença entre atividade comercial e empresarial
Já vimos os principais períodos de desenvolvimento do direito
empresarial, mas ainda faltou uma pequena parte relativa à
classificação doutrinária de cada período. Vamos vê-la agora.

A mudança dos destinatários do direito


comercial teve papel fundamental em
suas diversas concepções jurídicas.

A divisão do direito comercial, idealizada pelo professor Carvalho


Mendonça, é feita a partir das mudanças em seu objeto e, como
você perceberá, varia de acordo com as épocas que acabamos
de estudar.

O primeiro conceito é o subjetivista corporativo, relativo ao


período da Idade Média, em que o objeto do direito comercial
eram os afiliados às corporações de ofício.

A partir do Código Napoleônico, o direito comercial passa


a ter um novo objeto, representado pelos atos de comércio e
ganhando a nomenclatura de conceito objetivo.

Na fase atual do direito comercial, temos o conceito empresarial,


em que, a partir da teoria da empresa, o objeto do direito do
comércio passa a ser aquele que exerce atividade empresária,
conforme detalha o quadro a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Conceito subjetivista corporativo: comerciante é aquele que pratica a mercancia, subordinando-


se à corporação de mercadores e sujeitando-se às decisões dos cônsules dessas corporações.

Conceito objetivo: “Comerciante é aquele que pratica com habitualidade e profissionalidade


atos de comércio” (Vivante).

Conceito moderno (empresarial ou subjetivo-empresarial): considera-se empresário quem


exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de
bens ou de serviços, excluída a profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa (novo Código Civil, artigo 966 e parágrafo único).
Fonte: Adaptado de NEGRÃO, 2012, p. 50.

Com isso ficou mais fácil distinguir atividade comercial de


atividade empresarial, não é mesmo?

Assim, você pode entender atividade empresarial como aquela


que está em conformidade com os conceitos de empresário
presentes no Código Civil, ou seja, aquele que exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a
circulação de bens e serviços, ao passo que a atividade comercial
é aquela que, de conceito objetivo, está em conformidade com
o que é descrito pela lei como atividade de comércio.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Teoria da empresa e atividades


econômicas civis

Agora, você vai ter a oportunidade de conhecer um pouco mais


da teoria da empresa que dá a sustentação ao moderno direito
empresarial, assim como as atividades econômicas civis que
não estão sujeitas a esse ramo do direito.

Teoria da empresa
Como já mencionamos, o Código Civil italiano de 1942 mudou
a incidência do direito comercial dos atos de mercancia,
previamente definidos, para regular especificamente todo ato
de produzir ou circular bens e serviços de forma empresarial.

Ainda que a teoria da empresa tenha sido positivada somente


em 2003, com a vigência do novo Código Civil, desde os anos
1960 a doutrina e a jurisprudência a reconheciam.

A teoria da empresa foi positivada por meio do conceito de


empresário, em nosso Código Civil que, como já vimos nas
unidades anteriores, determina basicamente que é empresário
aquele que exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para produção ou circulação de bens e serviços.

Apesar da difícil conceituação de empresa, muitos teóricos


tentaram estabelecer um conceito satisfatório, dos quais se
destacaram o italiano Asquini e sua teoria poliédrica e o brasileiro
Bulgarelli, como veremos a seguir.

A teoria da empresa representa o novo


enfoque do direito comercial que busca
regular a circulação de bens e serviços
empresarial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Os elementos da empresa e sua


definição

A primeira teoria de relevância sobre os elementos da empresa


foi a poliédrica, que dividia a empresa em quatro aspectos: o
subjetivo, formado pelo empresário, o funcional, o objetivo e o
corporativo.

Dessa forma, o aspecto subjetivo se dá na figura do empresário,


que é o sujeito da empresa e opera a atividade econômica
organizada para o mercado de forma profissional, como
simbolizado na figura a seguir.

Fonte: Minerva Studio, Shutterstock, 2018.

No aspecto funcional, a empresa é caracteriza pela atividade


empresarial que se dirige para um determinado objetivo
produtivo.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O elemento objetivo, por sua vez, é definido por meio do


complexo de bens corpóreos e incorpóreos, móveis e imóveis,
que são utilizados para exercer a atividade empresarial.

Por fim, temos o elemento corporativo, que caracteriza a


empresa como o resultado da organização pessoal formada
pelo empresário e também por aqueles que colaboram com ele.

Já Burgarelli discorda do elemento corporativo proposto por


Asquini, determinando como elementos da empresa apenas
os três anteriores, ou seja, o empresário, a empresa e o
estabelecimento comercial.

A partir da teoria de Asquini, a mais aceita no Brasil, podemos


definir empresa como uma atividade econômica, organizada, de
produção ou circulação de bens e serviços para o mercado, que
é exercida, profissionalmente, pelo empresário (ASQUINI, 1943
apud NEGRÃO, 2012).

O conceito de empresa é de
difícil definição, mas a chave para
estabelecê-lo é o estudo dos elementos
da empresa.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Atividades econômicas civis


Apesar de o direito comercial ter passado a ser regulado pelo
Código Civil, a dicotomia entre o juscomercialismo e o direito civil
nunca foi realmente superada, motivo pelo qual temos atividades
econômicas que não são objeto do direito empresarial.

Essas atividades são conhecidas como atividades econômicas


civis (representadas pelas sociedades simples, ao contrário das
atividades empresariais que formam as sociedades empresárias)
e podem ser divididas em quatro: aquela desenvolvida por
quem não se enquadra no conceito legal de empresário, a
dos profissionais intelectuais, a dos empresários rurais não
registrados na junta comercial e a das cooperativas.

Com relação àqueles que não se enquadram no conceito de


empresário, elemento subjetivo da empresa, temos que partir
das características enumeradas na unidade anterior para saber
se estamos diante de um empresário ou não.

Já o profissional intelectual não é empresário devido à previsão


específica do artigo 966, parágrafo único do Código Civil (BRASIL,
2002) que diz: "[...] não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística,
mesmo que com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo
se o exercício da profissão constituir elemento de empresa". A
figura a seguir simboliza um profissional intelectual.

Fonte: Ollyy, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Dessa maneira, médicos, advogados e escritores, por exemplo,


não serão considerados empresários exceto se o exercício de
sua profissão constituir elemento de empresa, ou seja, se o
profissional organizar os fatores de produção para exercer sua
profissão, não sendo mais a sua atividade intelectual o elemento
preponderante, mas sim o seu atuar como empresário.

O produtor rural no Brasil pode optar, por meio do registro de


sua empresa, se deseja ou não ser uma sociedade empresária.
Caso se registre na junta comercial, será; caso o contrário, não.
Nesse caso, temos um exemplo de regramento que leva em
consideração o elemento funcional da empresa.

Por último, temos as cooperativas que, por opção da lei, não


serão consideradas atividades empresárias; não importa qual é
o objeto da sociedade, ela será sempre simples.

As quatro atividades econômicas civis


não são regidas pelo direito comercial
e formam o que chamamos de
sociedades simples.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Exercício profissional efetivo e


fatores de produção

Neste último tópico, você vai aprender um pouco sobre quem


pode exercer a atividade empresarial, quais são os impedimentos
e exigências para que se possa ser empresário e, ao final, veremos
quais são os fatores de produção e sua relação com a atividade
empresarial. Pronto(a)?

Requisitos para o exercício efetivo da atividade


empresária
Na verdade, se não estiver impedida, nas situações que veremos
a seguir, qualquer pessoa que tenha capacidade civil pode ser
empresária e, por conseguinte, exercer atividade empresarial.

Você sabe quando se adquire capacidade civil completa?

Aos dezoito anos completos se adquire a capacidade civil


completa e, como o Código Civil de 2002 determina em seu
artigo 972, poderão exercer a atividade de empresário os que
estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem
legalmente impedidos.

Mas você observou que dissemos capacidade completa?


Isso porque aqueles que têm dezesseis anos completos são
considerados relativamente incapazes, ou seja, podem praticar
alguns atos da vida pública sem a chancela de um responsável,
como votar, por exemplo.

Além disso, todos os que tiverem dezesseis anos completos


podem ser emancipados, seja por seus pais, por decisão judicial
ou até por meio dos outros instrumentos admitidos em lei e
poderão ser empresários.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Shutterstock, 2018.

No entanto, não podemos nos esquecer dos casos em que


a capacidade civil cessa, como em um acidente grave que
comprometa as faculdades mentais da pessoa. E aí, o que
acontece? Nessas situações, o empresário poderá continuar
exercendo sua atividade, mas deverá ser devidamente assistido,
se a incapacidade for parcial, ou representado, se for total.

Todos que têm capacidade civil, na


forma da lei, poderão ser empresários
com dezoito anos ou com dezesseis, se
emancipados.

Dos impedimentos legais


A lei estipula vários impedimentos para exercer a atividade
empresária. Estudaremos cada um deles neste subtópico,
observando suas características e particularidades.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Os primeiros impedidos são os agentes políticos que, para


preservar a atuação inerente ao cargo, não podem exercer a
atividade empresarial. Também não se poderia conceber que
um empresário falido que não conseguiu administrar os próprios
bens tenha capacidade de administrar os bens públicos.

A proibição, porém, não atinge todos os agentes políticos porque


não há qualquer proibição ao exercício da atividade empresária
para o Presidente da República, ministros de estado, prefeitos
municipais e secretários municipais, embora todos estejam sob
a égide dos princípios de direito administrativo em sua atuação.
Um agente político é representado na figura a seguir.

Fonte: corgarashu, Shutterstock, 2018.

É importante você saber que a proibição aos agentes políticos


também varia em extensão, já que magistrados e membros do
Ministério Público podem participar de sociedades empresárias
como cotistas, e deputados e senadores não podem ser
proprietários, diretores ou controladores de empresa que goze
de favor em razão de contrato com pessoa jurídica de direito
público.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Ainda sobre os componentes do Estado, os servidores públicos, via


de regra, também não podem exercer atividade empresária. Sua
limitação, assim como a dos agentes políticos, varia de acordo
com a função que desempenham e das normas estipuladas no
estatuto da classe.

Dessa forma, presidente e conselheiros do CADE (Conselho


Administrativo de Defesa Econômica), por exemplo, não podem
exercer atividades empresariais, seja na forma de controlador,
administrador, presidente ou preposto de quaisquer empresas.

Os condenados por crime falimentar também podem ser


impedidos de exercer a atividade empresária; contudo, para
que isto aconteça, é necessário que, em sua condenação, o juiz
mencione expressamente a proibição.

Outros impedidos são os falidos e os sócios de empresa falida de


responsabilidade ilimitada desde a decretação da falência até
a decisão de extinção das obrigações devidas. Isso porque lhes
falta idoneidade financeira para que possam exercer a atividade
empresarial, podendo seu patrimônio e, como parte disso, a
própria nova empresa vir a responder pelas dívidas (NEGRÃO,
2012).

Da mesma forma, os penalmente condenados não poderão


exercer atividade empresária desde que o impedimento seja
determinado por meio de pena acessória e de caráter temporário.

Por fim, temos a figura do estrangeiro, cujo impedimento para


exercer atividades empresárias não é total, já que a ele não é
permitido exercer a exploração de atividade de lavra de recursos
minerais e exploração de energia hidráulica, bem como, se não
naturalizado ou naturalizado há menos de dez anos, explorar
atividades de radiofusão sonora e de sons e imagens e empresas
jornalísticas.

Ressalte-se que ao estrangeiro que esteja no Brasil com visto


de turista é vedado exercer atividade empresária de forma
individual, visto que não pode exercer qualquer atividade
remunerada, mas nada lhe impede de constituir ou participar
de empresa.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O impedimento legal se dá em
razão do agente e sua relação com
a atividade exercida, determinando,
dessa forma, proibições específicas.

Fatores de produção
É na organização dos fatores de produção que se dá o papel
preponderante do empresário, assim, é empresário aquele que
profissionalmente e com habitualidade organiza os fatores de
produção.

A função principal do empresário é


organizar os fatores de produção para
que a atividade empresária possa
atingir os seus objetivos.

Mas, afinal, quais são os fatores de produção?

Os fatores de produção são quatro: capital, mão de obra,


insumos e tecnologia (COELHO, 2016). O capital é representado
pelos recursos financeiros que o empresário tem a seu dispor
e a mão de obra são os funcionários da empresa que realizam
as atividades necessárias ao seu andamento. Os insumos são
os elementos necessários para a confecção de determinado
produto ou serviço e, por fim, a tecnologia são os recursos
modernos utilizados na empresa para que ela atue da melhor
forma na consecução de suas tarefas.

Esse fatores interagem entre si, conforme representado na figura


a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Mão de
Capital obra

Tecnologia Insumos

Portanto, até este ponto de nossos estudos, podemos ver o


quão importante é a organização dos fatores de produção para
qualquer atividade empresarial; qualquer empresa de sucesso
depende da competência de seu empresário em ordená-los.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Aspectos gerais do estabelecimento


empresarial

Introdução

Nesta unidade, você vai aprender sobre um dos elementos da


teoria da empresa: o estabelecimento empresarial. Nosso estudo
terá como meta ensinar fatores práticos e teóricos que vão a judar
você a entender os principais aspectos do estabelecimento
empresarial.

Talvez você não saiba, mas, para chegarmos à nossa compreensão


atual de estabelecimento empresarial, foi necessário um grande
volume de trabalho por parte dos doutrinadores, pois mais de
quinze teorias foram abordadas para que chegássemos somente
a um dos aspectos indispensáveis para o entendimento do
estabelecimento comercial.

Calma! Não vamos abordar todas essas teorias, apenas as mais


relevantes para que as nossas lições permitam que você exerça
e entenda o direito empresarial na prática.

Vamos aos estudos!


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Estabelecimento empresarial:
conceito e natureza jurídica do
estabelecimento empresarial

Neste tópico, você vai ter contato com o conceito, jurídico e


doutrinário, de estabelecimento comercial, além de conhecer a
função das características da universalidade e unidade para o
estabelecimento comercial, finalizando com a natureza jurídica
do estabelecimento empresarial. Pronto(a) para começar?

Conceito de estabelecimento empresarial


O conceito de estabelecimento comercial remonta à mesma
época em que a teoria da empresa foi estabelecida nos moldes
aceitos em nosso ordenamento jurídico.

Nesse sentido, as origens do conceito atual de estabelecimento


comercial vêm do Código Civil italiano de 1942, que define o
estabelecimento empresarial como: “L’azienda è il complesso dei
beni organizati dall’imprenditore per l’essercizio dell’impresa”, ou
seja, azienda é o complexo de bens que serão organizados pelo
empresário para o exercício da empresa (NEGRÃO, 2012, p.83).
Esse termo acabou popularizando o uso jurídico de referência ao
estabelecimento empresarial como patrimônio aziendal.

Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Outro conceito de estabelecimento empresarial parte da


estipulação da doutrina francesa que se refere ao estabelecimento
comercial como fonds de commerce; para nós, seria fundo de
comércio, termo bastante usado em provas para ingresso em
carreiras públicas.

Requião (1998 apud NEGRÃO, 2012, p. 84), por sua vez, conceitua
estabelecimento empresarial como “[...] complexo de bens
materiais e imateriais pelos quais o comerciante explora
determinadas atividades de comércio”.

Além destes, temos o conceito contido nas lições do professor


Oscar Barreto Filho (apud NEGRÃO, 2012, p. 92), que chega
a diversas conclusões para determinar o conceito de
estabelecimento comercial:

Trata-se de um complexo de bens incorpóreos e corpóreos;

São instrumentos do comerciante no exercício de sua atividade produtiva;

Não se configura como complexo de relações jurídicas do comerciante no exercício do comércio


e, dessa forma, não constitui um patrimônio comercial distinto do civil;

É formado por bens econômicos;

Os bens são constituídos por uma destinação unitária dada pela vontade do comerciante;

São instrumentos da vontade do comerciante.

A partir disso, Negrão (2012, p. 92) define estabelecimento


comercial como o "[...] complexo de bens materiais e imateriais
que constituem o instrumento utilizado pelo comerciante para a
exploração de determinada atividade mercantil".

O conceito de Oscar Barreto Filho é de vital importância para nós,


já que parece ser o acolhido por nosso Código Civil de 2002, que
dispõe, em seu artigo 1.142, que estabelecimento comercial é “[...]
todo complexo jurídico de bens organizados, para o exercício de
empresa, por empresário ou sociedade empresária”.

No artigo seguinte, a lei civil ainda amplia o ensinado pelo


professor com a admissão da universalidade de fato, que você
vai estudar melhor no próximo tópico, tornando-a objeto de
negócios jurídicos.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Temos muitos conceitos de


estabelecimento empresarial, cada um
com pontos de vista relevantes para a
compreensão da matéria.

Universalidade e unidade
Os conceitos que vimos até aqui estabelecem a necessidade de
destinação, realizada pelo empresário, de um conjunto de bens
que compõem o estabelecimento empresarial. Ao fazer isso, o
empresário cria um patrimônio necessário ao desenvolvimento
das atividades da empresa, ou seja, o patrimônio empresarial.

Universalidade e unidade são


conceitos-chave para entendermos
também a constituição e as obrigações
inerentes ao patrimônio.

Mas será que isto implica que uma mesma pessoa jurídica ou
física terá mais de um conjunto de bens? Na verdade não, porque,
no direito brasileiro, cada pessoa possui somente um patrimônio.

Dessa forma, fica estabelecida a unidade patrimonial, que é o


conjunto de bens pertencentes a uma pessoa e que somente uma
pessoa pode ter – uma pessoa não pode ter dois patrimônios.

Por meio do Código Civil, nossa legislação evita o uso de


patrimônio, referindo-se a ele como complexo de relações
jurídicas e, nos artigos 90 e 91, estabelece a seguinte distinção:

Universalidade de fato: pluralidade de bens singulares (corpóreos, como uma loja, por exemplo),
que, pertinentes a uma pessoa, tenham destinação unitária;

Universalidade de direito: abstrações de coisas como a herança, complexo de relações jurídicas


de uma pessoa dotadas de valor econômico.

No caso do empresário individual, trata-se do princípio da


unidade, pois, embora aparentemente uma mesma pessoa
natural tenha dois patrimônios, a constituição da empresa
individual trará o surgimento de outra pessoa jurídica detentora
do patrimônio da empresa.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Mas onde a universalidade se encaixa nessas proposições?

A universalidade nada mais é do que o total de patrimônio unitário


que uma pessoa física ou jurídica possui e que responderá pelas
obrigações que ela assumir.

COMPLEXO DE RELAÇÕES JURÍDICAS DE UMA EMPRESA INDIVIDUAL DE


RESPONSABILIDADE ILIMITADA OU DE UMA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

=
COMPLEXO DE BENS ORGANIZADO PARA O EXERCÍCIO DESSAS EMPRESAS
Fonte: Adaptado de NEGRÃO, 2012, p. 99.

Natureza jurídica de estabelecimento empresarial


Como dissemos em nossa introdução, são muitos os conceitos
que embasam diferentes naturezas jurídicas, mas, para o nosso
atual estudo, vamos mencionar só os conceitos da doutrina
clássica e os dois da doutrina moderna de maior aplicabilidade
no atual direito brasileiro. A figura a seguir representa uma
biblioteca, muito comum em escritórios jurídicos.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Stokkete, Shutterstock, 2018.

É importante você saber que nenhuma das doutrinas clássicas é


aceita no direito moderno, por isso, seu estudo mais aprofundado
pode servir apenas para um maior conhecimento sobre os temas.

Essas doutrinas são parecidas por revestir o estabelecimento


empresarial de diversas características, variáveis conforme
a teoria, que o tornam desde uma pessoa jurídica até uma
instituição sui generis, o que não está em conformidade com o
direito brasileiro.

As teorias modernas, embora sejam muitas, como as clássicas,


têm duas vertentes principais: os imaterialistas, que consideram
o estabelecimento empresarial imaterial e distinto dos elementos
materiais que o constituem, e as universalistas, que veem o
estabelecimento como universalidade, de fato, pois o concebem
como a união de vários elementos complementares entre si, em
função de uma comum destinação econômica (NEGRÃO, 2012).

A teoria ma joritariamente adotada no Brasil foi a universalista


porque está em uma maior harmonia com nossos preceitos
legais e doutrinários desenvolvidos sobre o estabelecimento
empresarial.

As duas teorias mais vistas em nossa


doutrina atual se diferem em relação
à materialidade e universalidade do
estabelecimento empresarial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Estabelecimento empresarial

Neste tópico, você vai estudar os diferentes elementos


que compõem o estabelecimento empresarial, além do
estabelecimento empresarial virtual e a sua constituição em
forma de sociedades contratuais. Vamos começar?

Elementos do estabelecimento empresarial


Agora que você já viu todos os conceitos e a natureza jurídica do
estabelecimento empresarial, vamos analisar os elementos que
constituem o estabelecimento.

Como vimos no tópico anterior, podemos dizer que estabelecendo


empresarial é, basicamente, o complexo de bens organizados,
incorpóreos ou corpóreos, fungíveis e consumíveis, divisíveis ou
não (NEGRÃO, 2012). Dessa maneira, podemos exemplificá-los
assim:

ELEMENTOS DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

BENS INCORPÓREOS BENS CORPÓREOS

•• sinais distintivos, nome comercial objetivo, •• nos estabelecimentos industriais, terrenos,


título e insígnia do estabelecimento, edifícios, construções, usinas, armazéns,
marcas de produto ou serviço, marcas de máquinas, equipamentos, produtos
certificação, marcas coletivas; acabados,

•• privilégios industriais, patentes de •• matéria-prima, etc.;


invenção e de modelos de utilidade,
registro de desenhos industriais; •• nas atividades intermediárias:
mercadorias, instalações, mobiliário e
•• obras literárias, artísticas ou científicas; utensílios;

•• ponto ou local da empresa; •• nas empresas de transporte: veículos,


etc.;
•• direitos decorrentes dos contratos em
geral. •• nas atividades bancárias: dinheiro, títulos.
Fonte: Adaptado de NEGRÃO, 2012, p. 100.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Assim, ficam claros todos os elementos que tradicionalmente


formam o estabelecimento empresarial. E atenção: o rol descrito
no quadro é apenas exemplificativo e não esgota todos os tipos
de bens, tanto por esse motivo quanto porque parte da doutrina
ainda inclui outros elementos.

De fato, alguns incluem o aviamento e a expectativa de lucros


futuros como elemento da empresa, mas a melhor doutrina os
classifica como qualidade ou atributo do estabelecimento.

Também há aqueles para quem a clientela poderia ser entendida


como elemento da empresa, mas também são contestados
porque, para parcela doutrinária significativa, a clientela não
passaria de situação de fato.

Os elementos do estabelecimento
empresarial podem ser qualificados
segundo diversos critérios, mas são
basicamente definidos como corpóreos
e incorpóreos.

Estabelecimento empresarial virtual


A própria definição de estabelecimento empresarial virtual
levanta algumas questões, já que, pelo que vimos até aqui,
qualquer bem incorpóreo, como um site na internet, poderia
consistir em elemento do estabelecimento empresarial, como
representado na figura a seguir: a amazon.com comercializa,
basicamente, pela internet.

Fonte: Annette Shaff, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

No entanto, o sentido ao qual se refere à nomenclatura remete


à noção de estabelecimento como local onde se desenvolve a
atividade da empresa.

Mas, afinal, podemos dizer que atualmente existe estabelecimento


empresarial virtual?

Para podermos responder a essa pergunta, você precisa entender


que, a partir de sua popularização, a internet passou a ser usada
como meio de celebração de negócios e, nesse ponto, pensou-
se na denominação estabelecimento empresarial virtual, que se
diferenciaria do estabelecimento empresarial físico pelo fato de
poder ser acessado pela via eletrônica, ao passo que o físico
demandaria o deslocamento (COELHO, 2016).

Só que esse entendimento não prevalece mais, e a internet é


apenas mais um meio de venda de que o empresário dispõe,
mais um canal de vendas eletrônico do que um tipo de
estabelecimento.

Assim, o estabelecimento empresarial virtual nada mais é do


que o meio pelo qual se faz o comércio eletrônico, e não um tipo
de estabelecimento empresarial diferenciado.

Existem três tipos de comércio eletrônico que prevalecem


atualmente:

B2B (business to business): os compradores são empresários e compram nesta qualidade;

B2C (business to consumer): celebrado entre um empresário e um consumidor;

C2C (consumer to consumer): celebrado entre dois consumidores.

Fonte: Oleg Zhevelev, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Portanto, fica evidente que o critério utilizado para se estabelecer


o conceito de comércio eletrônico foi o subjetivo, que o define
por meio das partes que celebram o negócio jurídico.

Para a doutrina moderna, o


estabelecimento empresarial virtual
não se trata de um estabelecimento
diferente, mas sim de um canal de
negócios.

Estabelecimento empresarial virtual e as


sociedades contratuais
As sociedades contratuais são aquelas que têm como elemento
sujeito o registro, que consta das formalidades exigidas em lei,
o contrato social. Assim, basicamente são aquelas em que o
contrato social é o instrumento que constitui a sociedade.

As sociedades, sujeitas a registro dessa maneira, podem ser de


quase todos os tipos sociais, com exceção das anônimas, das
comanditas por ações e das cooperativas, cujo instrumento
pertinente para registro será o estatuto social, como simbolizado
na figura a seguir.

Fonte: pogonici, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Quanto aos estabelecimentos empresarias virtuais, que são


parte do estabelecimento empresarial normal e um canal de
comércio, toda empresa que seja virtual deve se registrar na
junta comercial como qualquer outra empresa.

O endereço eletrônico da empresa representa o seu domínio


que cumpre duas funções. E quais são essas funções? Bom, a
primeira é estabelecer uma interconexão de equipamentos
entre o computador do consumidor com os equipamentos da
página do vendedor; a outra função é similar a um título de
estabelecimento em relação ao ponto, já que identifica o canal
de vendas de um empresário na rede mundial de computadores
(COELHO, 2016).

Esse endereço eletrônico poderá também ser registrado no


Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), uma
associação civil de direito privado sem fins lucrativos que, desde
dezembro de 2005, cuida dos registros de domínio no Brasil.

Por ter a mesma natureza jurídica do


estabelecimento empresarial físico
e fazer parte dele, o virtual deve ser
registrado da mesma maneira.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Diferenças entre ponto


empresarial e praça

Finalmente chegamos ao nosso último tópico, em que


terminaremos nossos estudos acerca do estabelecimento
empresarial! Nas linhas seguintes, você vai entender as
características de ponto empresarial e praça e suas principais
diferenças, alienação empresarial e a proteção ao ponto e, por
fim, os conceitos e diferenças entre freguês e cliente.

Características e diferenças:
ponto empresarial e praça
O ponto empresarial é o local onde o empresário fixa seu
estabelecimento para que ali possa exercer sua atividade, é
bem incorpóreo do estabelecimento empresarial.

Dessa forma, repare que a palavra estabelecimento está sendo


usada de maneiras distintas aqui: a primeira significa o local
onde se exerce a atividade, enquanto a segunda se refere ao
estabelecimento empresarial que, vale lembrar, é o conjunto
jurídico de bens para o exercício da empresa, organizado por
empresa ou empresário, como representado na figura a seguir.

Fonte: Tupungato, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Embora não seja a abordagem deste tópico, ressaltamos que o


Direito protege o ponto comercial de diversas maneiras; uma
delas é a proteção do locatário ou do proprietário caso venha
a ter o uso de seu ponto empresarial prejudicado. Isso porque,
considerado bem incorpóreo, o ponto empresarial é o local onde
o empresário lucra com a sua atividade e, portanto, tem direito,
inclusive, a receber lucros cessantes caso seu ponto tenha certos
tipos de problemas.

A praça não tem uma definição jurídica estanque e varia


conforme o caso concreto a ser analisado. As definições trazidas
por dicionários, por exemplo, falam sobre comunidade comercial
e financeira de uma cidade, local aberto onde se compra e vende
ou até economia de uma cidade.

Desse modo, a praça, para o nosso estudo, pode ser estabelecida


pelo conceito de local onde a empresa poderá buscar os seus
lucros. É até onde o negócio alcança.

Assim, veja que temos duas diferenças entre ponto empresarial


e praça: a primeira é que ponto tem uma definição segura, a
praça não; a segunda é que o ponto é o local em que a empresa
exerce suas atividades e a praça é o local limite, até onde essas
atividades podem alcançar a clientela.

Praça e ponto empresarial são dois


lados da mesma moeda, mas são dois
lados diferentes.

Alienação do estabelecimento
empresarial e proteção ao ponto

A alienação do estabelecimento empresarial também é conhecida


como trespasse e tem dois requisitos básicos: a necessidade de
registro do trespasse na junta comercial para que produza efeitos
perante terceiros e a notificação dos credores da empresa para
que anuem expressamente ou tacitamente após trinta dias.

O trespasse (forma de contrato para a transferência de


titularidade) protege o ponto empresarial e o estabelecimento
empresarial de diversas maneiras. As mais importantes são:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

a proibição de concorrência com a empresa adquirente


do estabelecimento trespassado pelo prazo de cinco anos,
sub-rogação automática, pela compradora, das obrigações
assumidas pela empresa vendedora e responsabilização pelas
dívidas contabilizadas da vendedora pela compradora.

A alienação do estabelecimento
empresarial deve ser feita com a
proteção de credores, compradores e
até de vendedores.

Cliente e freguês
Para concluir esta unidade, você vai descobrir se, do ponto de
vista da ciência jurídica, há diferenças entre os termos cliente e
freguês.

Os clientes podem ser definidos como aqueles que mantêm uma


relação de procura continuada do estabelecimento para compra
de seus produtos ou serviços. Já o conceito de freguesia não
tem uma definição uníssona na doutrina. Uns a definem como
clientes dos profissionais liberais, enquanto outros a colocam
como aqueles que se referem às qualidades subjetivas presentes
na empresa com a qual fazem negócios.

Clientela ≠ Freguesia ?
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Embora alguns ainda afirmem que clientela e freguesia têm


como diferenças o fato de o primeiro ser o cliente fiel enquanto
o segundo é o acidental ou experimental, o fato é que a lei, em
diversas passagens, não diferencia um do outro, motivo pelo qual
não há uma distinção científica entre os dois na ciência jurídica.

A lei não estabelece qualquer critério


diferenciador entre freguês e cliente,
tratando os dois como sinônimos do
conceito de cliente.

Assim, chegamos ao fim dos nossos estudos acerca dos aspectos


mais importantes para o conhecimento do estabelecimento
empresarial, em que você pode aprender também acerca dos
elementos que se relacionam com ele, como o ponto empresarial
e a praça.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Estabelecimento empresarial e atos


do registro de empresa

Introdução

Nesta unidade, você vai poder se aprofundar ainda mais no estudo


do registro das empresas, o caminho a ser percorrido tanto por
quem registra quanto pelos órgãos responsáveis pelo registro,
além de analisar efeitos jurídicos relacionados ao registro, como
a inatividade da empresa e o empresário irregular.

Embora nosso caminho neste tópico de estudo trate mais sobre


a parte prática do direito empresarial, vamos abordar também
aspectos teóricos relacionados ao instituto do registro de
empresas.

Um bom exemplo desse enfoque é a mudança da perspectiva


em relação ao registro da empresa com o passar dos anos.
Você sabia que as características do registro das empresas
se modificaram muito ao longo dos anos conforme a teoria do
direito comercial vigente?

Aprenderemos isso e muito mais neste capítulo!

Vamos adiante!
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Aspectos gerais do registro de


empresas

Vamos dar o primeiro passo em nosso estudo a partir do


conhecimento dos principais aspectos do registro de empresas,
começando pelo panorama histórico do registro e passando por
suas finalidades e efeitos, bem como pela estrutura dos órgãos
do registro das empresas no Brasil.

Panorama histórico do registro de empresas


O percurso do registro de empresas, tendo em vista seu objeto
empresa, se modifica juntamente com sua história. Por isso,
você precisa se lembrar das teorias que deram fundamento à
compreensão atual de empresa e que já foram abordadas nas
unidades anteriores.

Podemos dizer que o direito empresarial, ou comercial, teve três


teorias orientadoras que se baseavam em diferentes critérios
para explicar qual era o objeto do direito empresarial.

A visão mais antiga é conhecida como subjetivo-corporativista,


que vem da Idade Média e determinava que somente aqueles
que faziam parte das corporações de ofício poderiam ser
comerciantes. A partir do século XIX, temos a teoria objetiva,
que estabelecia que aqueles que praticavam atos de comércio
eram objeto do direito comercial, culminando na teoria atual de
empresa, que centra na figura do empresário o objeto do direito
empresarial, ou comercial.

Nesse contexto, o surgimento do registro das empresas se deu


a partir da fase subjetivo-corporativista (final da Idade Média).
Perceba que o registro era obrigatório, uma vez que a própria
qualidade de comerciante era inerente ao registro junto às
corporações de ofício.

Em um segundo momento, com a instauração da teoria francesa


dos atos de comércio no século XIX, o registro deixa de ter essa
importância fundamental, sendo estabelecido na França, por
exemplo, somente a partir de 1929, em decorrência da Primeira
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Guerra Mundial, com a finalidade de registrar a nacionalidade


dos proprietários das empresas.

É importante destacar, contudo, que no Brasil a situação foi


diferente. O primeiro ato que determinou o registro no Brasil veio
da monarquia portuguesa que, mesmo sob a égide da teoria
dos atos de comércio, determinou que estes fossem registrados.
A figura a seguir simboliza a situação brasileira demandada da
monarquia portuguesa.

Fonte: kalomirael, Shutterstock, 2018.

A partir daí, tivemos diversas legislações que determinavam o


registro partindo dessa perspectiva dos atos de comércio até
chegar ao registro do empresário como o conhecemos nos dias
de hoje.

Nesse período, surgiram várias leis que regularam a atividade


empresarial, com destaque para as que até hoje determinam
como se dá o registro de empresas: a Lei n. 8.934/1994 e o Código
Civil de 2002. O registro de empresas é exigido pela lei, embora a
teoria da empresa estabeleça que será considerado empresário
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

e objeto do direito empresarial quem realiza profissionalmente


atividade econômica organizada para a produção ou circulação
de bens e serviços. Em resumo, o registro é obrigatório, mas não
constitui, via de regra, o empresário ou sociedade empresária.

O desenvolvimento da teoria da
empresa e do registro das empresas é
inter-relacionado dada a relação entre
registro e empresa.

Finalidades e efeitos do registro


Atualmente, a Lei n. 9.834/1994 estabelece a função do registro
empresarial para as atividades mercantis e afins, por meio de
seu artigo 1o e incisos que estipulam como finalidades do registro:

Dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas
mercantis;

Cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no Brasil e manter atualizadas


as informações pertinentes;

Proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como a seu cancelamento.

Observe, na figura a seguir, um sistema de controle físico de


registros.

Fonte: jdwfoto, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

E quanto aos efeitos jurídicos do registro?

Bom, estes variam conforme estejamos tratando de empresário


individual, empresa individual de responsabilidade limitada ou
sociedade empresária. Assim, os efeitos jurídicos são, no primeiro
caso, a concessão de proteção jurídica e gozo das prerrogativas
próprias de empresário, tratamento fiscal e registrário favorecido,
quando se tratar de pequeno e microempresário, e nos dois
últimos casos, além desses efeitos, faz nascer a pessoa jurídica
(NEGRÃO, 2012).

Além de estabelecer os trâmites sob os


quais o registro deverá se desenvolver,
a lei estabelece por que o registro é
necessário.

Estrutura dos órgãos de registro no Brasil


A estrutura dos órgãos de registro no Brasil não é um tema fácil,
já que sofreu diversas mudanças ao longo dos anos e ainda está
passando por várias reformas.

No entanto, a atual estrutura dos órgãos de registro das atividades


mercantis e afins se dá por meio do Sistema Nacional de Registro
de Empresas Mercantis (Sinrem), que tem como órgão central
o Departamento de Registro Empresarial e Integração (Drei) e,
como órgão subordinado a este, as juntas comerciais. Observe o
esquema a seguir, que ilustra os órgãos de registro de empresas
mercantis:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sinrem

Drei

Juntas
comerciais

O Drei, como órgão central do sistema de registros brasileiro,


substituiu o antigo Departamento Nacional de Registro do
Comércio (DNRC) e tem como funções a orientação, supervisão,
coordenação e normatização no plano técnico, e supletiva
no plano administrativo, das atividades de registro público
de empresas mercantis e atividades afins, conforme a Lei n.
8.934/1994, ou Lei do Registro Público de Empresas Mercantis e
Atividades Afins.

Já as juntas comerciais, que devem estar presentes em cada


unidade federativa conforme disposição legal, têm a função de
execução e administração das atividades relativas ao registro,
também de acordo com a mesma lei.

A atividade registral ainda passa por


diversas mudanças no Brasil. Um
exemplo disso se dá em relação à
microempresa.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Atos do registro da empresa e


processo decisório do registro de
empresa

Neste tópico, você terá a oportunidade de aprender


especificamente como se dá o processo de registro de empresas,
começando pelos elementos necessários ao registro, passando
pelos atos de registro de empresas para, ao final, analisar o seu
processo decisório. Vamos lá?

8.2.1 Elementos necessários ao registro


Os elementos indispensáveis ao registro das empresas são
apresentados nas duas leis centrais que regulam o registro de
empresas que, como já mencionamos, são o Código Civil de
2002 e a Lei n. 8.934/1994.

As exigências para que o registro se aperfeiçoe variam conforme


o tipo de empresa, assim, apesar de termos alguns requisitos
gerais que podem ser aplicados a todos os tipos, temos também
requisitos específicos para diferentes tipos societários ou de
empresas.

Os elementos essenciais ao registro estão dispostos no artigo


968 do Código Civil e são:

Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á


mediante requerimento que contenha:

I - o seu nome, nacionalidade, domicílio estado


civil e, se casado, o regime de bens;

II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa


que poderá ser substituída pela assinatura
autenticada com certificação digital ou meio
equivalente que comprove a sua autenticidade,
ressalvado o disposto no inciso I do § 1o do art. 4o
da Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro
de 2006;

III - o capital;

IV - o objeto e a sede da empresa.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Atenção! Esses elementos a princípio são aplicados ao empresário


individual, mas, considerando sua função de identificar a atividade
empresária e o empresário, são reproduzidos, de acordo com
as peculiaridades referentes às sociedades, no artigo 997 do
Código Civil, que determina:

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante


contrato escrito, particular ou público, que,
além de cláusulas estipuladas pelas partes,
mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e
residência dos sócios, se pessoas naturais, e a
firma ou a denominação, nacionalidade e sede
dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da
sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda
corrente, podendo compreender qualquer
espécie de bens, suscetíveis de avaliação
pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o
modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja
contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da
administração da sociedade, e seus poderes e
atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e
nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não
subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

A figura a seguir simboliza uma checagem em possíveis cláusulas


contratuais.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: JNT Visual, Shutterstock, 2018.

Assim, podemos perceber que os elementos identificadores


necessários ao registro da sociedade devem ser estipulados por
meio do contrato ou estatuto, dependendo do tipo de societário
escolhido, como sociedade limitada ou sociedade anônima,
enquanto que, no caso do empresário individual, devem estar no
requerimento de inscrição.

Quanto aos elementos exigidos na lei específica de registro de


empresas mercantis e atividades afins, ou Lei n. 8.934/1994, o
artigo 37 esclarece que:

Art. 37. Instruirão obrigatoriamente os pedidos


de arquivamento:
I - o instrumento original de constituição,
modificação ou extinção de empresas mercantis,
assinado pelo titular, pelos administradores,
sócios ou seus procuradores;
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

II - declaração do titular ou administrador, firmada


sob as penas da lei, de não estar impedido
de exercer o comércio ou a administração de
sociedade mercantil, em virtude de condenação
criminal;
III - a ficha cadastral segundo modelo aprovado
pelo DNRC;
IV - os comprovantes de pagamento dos preços
dos serviço correspondentes;
V - a prova de identidade dos titulares e dos
administradores da empresa mercantil.

Dessa maneira, observe que há uma complementação entre as


duas leis que estipulam os elementos básicos para o registro
da empresa. Apesar disso, outras modalidades societárias e de
empresas podem ter outras exigências, como deve ser estudado
em seu âmbito específico.

A afetação de capital constitui uma


importante diferença entre sócios e
empresário individual, pois, neste, todo
o seu patrimônio é afetado.

Atos de registro de empresas


Os atos de registro de empresas podem ser divididos em três
conforme determina o artigo 32 da Lei n. 8.934: a matrícula,
o arquivamento e a autenticação, conforme representado na
figura a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Matrícula

Arquivamento

Autenticação

Atos de registro

Vamos agora nos aprofundar no entendimento de cada ato de


registro.

A matrícula é o ato de inscrição na junta comercial dos


profissionais conhecidos como auxiliares de comércio. São
eles: tradutores públicos, intérpretes comerciais, leiloeiros,
trapicheiros (administradores de armazéns onde se guardam
mercadorias importadas ou para exportações) e administradores
de armazéns gerais (tem como finalidade a guarda e a emissão
de títulos especiais que as representam) (NEGRÃO, 2012). Além
da matrícula, os tradutores públicos e intérpretes deverão ser
nomeados.

O próximo ato, conhecido como arquivamento, é aquele por


meio do qual se registra o empresário, seja pessoa física ou
jurídica. No primeiro caso, o arquivo é relacionado à inscrição
do empresário individual e, no segundo, o arquivo se remete à
constituição, alteração ou extinção contratual das sociedades
empresárias.

Por fim, temos a autenticação de documentos, que se remete


aos instrumentos de escrituração, ou livros comerciais, e pode
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

ser entendida como um requisito extrínseco de validade do


documento, já que atesta sua regularidade e é aplicado também
aos auxiliares de comércio (COELHO, 2016).

Matrícula, arquivamento e autenticação


são as atividades básicas do registro
e condição para o regular exercício da
atividade empresária.

Processo decisório do registro de empresa


A junta comercial é responsável pela análise dos documentos
sujeitos a registro, devendo negar o seu registro se verificar que
apresenta vícios. Esses vícios são conhecidos como de forma
ou sanáveis, ou seja, aqueles que não atendem às formalidades
legais, a exemplo dos elementos descritos no subtópico 8.2.1,
não cabendo à junta indeferir o registro, em relação a vícios, em
outras situações (COELHO, 2016).

O processo decisório do registro de empresas a ser realizado


na junta comercial pode ser feito por meio de decisão singular,
artigo 42 da Lei n. 8.934/1994, ou por meio de decisão colegiada,
artigo 41 da referida lei. A figura a seguir representa uma
formalidade legal.

Fonte: Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Processa-se pelo regime de decisão colegiada o arquivamento


dos atos constitutivos relativos à sociedade anônima, como no
caso dos estatutos, por exemplo. A decisão colegiada também
é responsável pelo arquivamento das assembleias gerais,
conselhos de administração, atos de fusão, incorporação, cisão
e transformação de qualquer sociedade empresária, além dos
relacionados a consórcio de empresas ou grupo de sociedades e
do julgamento de quaisquer recursos acerca dos atos de registro,
mesmo que as decisões desses atos não sejam colegiadas.

Já a decisão singular – que cabe ao presidente da junta ou vogal,


componentes do plenário responsável pelas decisões colegiadas
por ele indicado – compreende todos os demais atos de registro,
ou seja, matrícula, arquivamento e autenticação.

A decisão colegiada cuida de atos de


registro específicos e funciona como
órgão recursal da junta comercial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Inatividade da empresa e empresário


irregular

A partir de agora, abordaremos os aspectos relativos à não


regularização das obrigações do empresário e da sociedade
empresária e seus efeitos. Dessa forma, você vai estudar a não
regularização dos livros mercantis e dos balanços patrimoniais,
a inatividade da empresa e o empresário irregular. Mãos à obra!

Da irregularidade dos livros e


do balanço patrimonial
Como você viu nas unidades anteriores, são obrigações do
empresário o registro da empresa, a escrituração dos livros
obrigatórios e o levantamento do balanço patrimonial e de
resultado econômico a cada ano, como representado na figura
a seguir.

O empresário
individual ou a
sociedade empresária
deve

Fazer o levantamento
Efetivar o Registro Realizar a escrituração do balanço patrimonial
da Empresa dos livros obrigatórios e de resultado
econômico

Vamos entender as consequências das irregularidades no registro


e nos atos de registro nos tópicos seguintes, concentrando-nos,
neste tópico, nas irregularidades na escrituração dos livros
obrigatórios e do balanço patrimonial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Os livros empresariais podem ser divididos em obrigatórios, que


podem ser comuns, cujo único exemplo é o diário ou especiais
(se dão em relação a certas atividades que podem ser exercidas
pelo empresário), além de facultativos, que são aqueles que não
acarretam nenhuma sanção ao empresário, caso não existam ou
estejam irregulares, e se destinam a um melhor desenvolvimento
da atividade empresária.

Fonte: Bacho, Shutterstock, 2018.

Todos os livros empresariais apresentam requisitos intrínsecos,


que são aqueles pertinentes à técnica contábil estudada na
contabilidade, e extrínsecos, que correspondem à segurança dos
livros empresariais. Os livros empresariais devem apresentar
termos de abertura e encerramento, além de estar autenticados
– ponto que mais interessa para os nossos estudos – nas juntas
comerciais (COELHO, 2016).

O não atendimento a qualquer dos requisitos, seja extrínseco


ou intrínseco, bem como a ausência de um livro obrigatório,
acarreta diversas sanções que podem ser tanto de natureza civil
– como a presunção de veracidade dos fatos alegados pela parte
contrária no processo civil caso o empresário não apresente os
livros obrigatórios – quanto penal, em que se considera crime
falimentar a irregularidade ou ausência de livro obrigatório.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Quanto ao levantamento dos balanços patrimoniais e de


resultado econômico, a sua irregularidade ou ausência também
constitui crime falimentar, mas os empresários e sociedade
empresária os realizam principalmente por outros motivos, como
a obrigação tributária de que empresários, ao pagar o Imposto
de Renda, realizem o balanço patrimonial e a possibilidade de
responsabilização pessoal dos administradores das sociedades
anônimas caso não realizem o balanço.

As obrigações de escrituração
e balanço patrimonial são tão
importantes quanto o registro
da atividade para empresários e
sociedade empresária.

Inatividade da empresa
A inatividade da empresa decorre do previsto no artigo 60 da
Lei n. 8.934/1994, que dispõe: “A firma individual ou a sociedade
que não proceder a qualquer arquivamento no período de dez
anos consecutivos deverá comunicar à junta comercial que
deseja manter-se em funcionamento”.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Aqui, note que o arquivamento serve de parâmetro para a


declaração de inatividade do empresário, de forma que é
considerada inativa a empresa que não realiza qualquer
arquivamento no período de dez anos.

O efeito do não arquivamento no período de dez anos e da


não comunicação à junta comercial do desejo de se manter em
funcionamento é o cancelamento do registro da empresa ou da
sociedade empresária.

Apesar disso, você deve se atentar ao fato de que, para que se


proceda ao cancelamento do registro do empresário ou sociedade
empresária, é necessária a comunicação aos interessados, que
pode ser feita, inclusive, por edital. A figura a seguir indica
veículos de comunicação utilizados para divulgação de atos das
empresas.

Fonte: qvist, Shutterstock, 2018.

Desse modo, caso seja atendida a comunicação por parte


daqueles que são interessados, a inatividade será desfeita; no
entanto, caso não seja, será feito o cancelamento do registro,
como já mencionamos.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

No caso dos empresários, se desejarem reativar o registro, deverão


realizar os procedimentos de constituição (requerimento, no caso
de empresário individual, ou arquivamento de ato constitutivo,
para sociedades), não tendo direito ao mesmo nome empresarial
se já não estiver disponível (caso outro empresário o tenha
registrado naquele estado).

Quanto às sociedades empresárias, o cancelamento de seu


registro não acarreta a sua dissolução ou liquidação (formas
de extinção da pessoa jurídica), por exemplo, apenas a sua
caracterização como sociedade irregular.

O prazo de dez anos sem qualquer


arquivamento e a ausência de
comunicação à junta são os requisitos
para a inatividade empresária.

Empresário irregular
Já abordamos superficialmente o tema do empresário irregular
na unidade 5, quando vimos as implicações do registro para
a caracterização ou não de uma sociedade ou pessoa como
empresários, você se lembra?

Além disso, como já vimos em unidades anteriores, o que constitui


alguém como empresário é o preenchimento das características
estipuladas no artigo 966 do Código Civil.

Assim, as consequências de exercer as atividades empresárias de


forma irregular, ou seja, sem o devido registro ou sem preencher
os demais requisitos legais, afastam as prerrogativas legais que
estimulam o desenvolvimento das atividades, minimizando seus
riscos.

O empresário irregular também é conhecido como de fato ou


informal, termos que reconhecem que este é empresário, ainda
que não registrado.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

É importante você saber que, pelo uso frequente de todas essas


expressões acerca do empresário, via de regra, o informal e
o irregular têm uma diferença, porque o primeiro é aquele
que não se registrou, enquanto que o segundo é aquele cuja
inscrição foi feita, mas ainda não regularizada de acordo com
o previsto na lei.

Quanto aos efeitos jurídicos do empresário irregular, podemos


destacar que ele não pode proceder à recuperação judicial de
empresas, à autofalência, não tem o direito a requerer a falência
de outra empresa e não pode fazer uso da escrituração contábil
como prova.

Existem também as sociedades irregulares, cujos efeitos se


assemelham muito àqueles do empresário irregular e serão
estudados com mais detalhes na unidade 10.

O registro do empresário permite


a minimização do risco inerente à
atividade empresária, por meio das
facilidades concedidas pela lei.

Nesses termos, podemos concluir que o ato de não registrar


uma empresa impõe diversos ônus ao empresário porque ele
continua a ser sujeito de obrigações, mas não de direitos.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Nome empresarial e
propriedade intelectual

Introdução

O tema que você vai estudar nesta unidade é muito relevante


para a atividade empresarial e será composto, basicamente, de
nome empresarial e propriedade intelectual.

Aqui, você vai entender como os temas de direito empresarial se


entrelaçam e perceber a importância do conhecimento de cada
um para a compreensão do direito empresarial como um todo.

Nesse contexto, você vai ver como os assuntos já abordados de


direito empresarial – estabelecimento empresarial e registro –
se relacionam com o material a ser estudado nesta unidade.

Embora acreditemos que você tenha reconhecido o destaque


que esses assuntos têm para o direito empresarial, talvez não
tivesse percebido quão relevantes são para o estudo de outros
temas, não é?

Então, vamos lá, pois esta matéria é muito interessante!


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Nome empresarial: aspectos gerais e


natureza jurídica

No primeiro tópico de nossos estudos, você vai conhecer as


principais correntes doutrinárias que tentaram estabelecer a
natureza jurídica, ou seja, os elementos que compõem a sua
estrutura jurídica específica, do nome empresarial, além dos
sistemas de formação do nome empresarial e da proteção que
lhe é conferida pelo registro. Pronto(a) para começar?

Natureza jurídica do nome empresarial


Como você verá, a natureza jurídica do nome empresarial não
é um tema fácil, já que o seu regramento legal e as concepções
doutrinárias sobre o disposto em lei trazem questionamentos
importantes e divergentes sobre a sua natureza. A figura a seguir
simboliza a natureza jurídica de uma empresa.

Fonte: Oleg Troino, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O nome empresarial é dividido em:

firma, formada a partir do nome do empresário ou dos sócios da empresa, sendo chamada de
firma individual, no primeiro caso, e firma social, no segundo;

denominação, que pode adotar qualquer expressão linguística, seguida do objeto social da
empresa.

Nesse sentido, o Código Civil de 2002 estabelece: “[...] considera-


se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de
conformidade com este Capítulo, a partir desta classificação a
doutrina divide o nome empresarial em duas funções, objetiva
e subjetiva”. E qual a diferença entre as duas funções? Bom, de
acordo com Negrão (2012), a objetiva se relaciona com a função
do nome empresarial de prover a individualização da empresa
no universo de diversas outras, ao passo que a subjetiva se
relaciona com a pessoa do empresário.

Assim, especificamente quanto à sua função objetiva, temos quatro


teorias que explicam a natureza jurídica do nome empresarial.
Vejamos: a primeira entende que o nome empresarial seria
um direito de propriedade imaterial, assemelhando-se àquele
das marcas e patentes. Em outro entendimento, há aqueles
que acreditam ser um direito pessoal substituto do direito de
personalidade a partir da perspectiva empresarial, sendo um
direito de personalidade empresarial. Outros ainda entendem
ser um direito pessoal do empresário que tem o objetivo de
reprimir a concorrência desleal. Por fim, temos aqueles que
pregam a perspectiva constitucional do nome empresarial. Você
vai estudar agora cada corrente com mais detalhes.

A primeira corrente define o nome empresarial como um direito


de propriedade imaterial que guarda semelhança com o direito
inerente às marcas e patentes industriais, tema que você verá
em nosso último tópico.

Nesse sentido, o nome empresarial consiste em uma verdadeira


propriedade industrial, e as relações jurídicas que cria são
semelhantes àquelas estabelecidas pelas marcas e patentes,
por exemplo. É importante você entender que o nome
empresarial, sob essa perspectiva, não recai sobre um direito de
personalidade, mas sim sobre o estabelecimento empresarial,
como demonstrativo de sua qualidade e confiabilidade.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Atualmente, essa teoria sobre a personalidade jurídica do


nome empresarial perdeu um pouco de espaço, já que o nome
empresarial não pode ser entendido como análogo à propriedade
industrial, a qual, como produto da criação intelectual, se separa
de seu criador, caracterizando-se como direito autônomo em
relação à personalidade de quem o criou.

O nome empresarial, ao contrário, se vincula à pessoa da qual


advém, no caso das firmas como veremos; mesmo quando não
tem essa vinculação, forma denominativa, não pode ser alienado,
como é o caso dos objetos da propriedade industrial, de acordo
com o artigo 1.164 do Código Civil.

A segunda corrente entende que o nome empresarial é inerente


ao direito de personalidade. Embora reconheça o seu valor
patrimonial, prega que este não é propriedade, principalmente
por seus efeitos jurídicos, já que não pode ser objeto de cessão ou
transferência e é condição para a concessão da personalidade,
sendo, assim, um direito dessa natureza. Esta é criticada, pois a
simples definição do nome como direito de personalidade ignora
a valoração patrimonial que confere ao estabelecimento, uma
vez que representa – e aí guarda semelhança com as marcas –
uma identificação da qualidade e confiança que se pode ter em
um estabelecimento, por exemplo.

Na terceira ideia sobre a natureza jurídica de nome, temos uma


perspectiva utilitária do nome empresarial, em que ele é visto
por sua utilidade, ou seja, um direito pessoal que pretende evitar
a concorrência desleal. De acordo com Negrão (2012), essa
visão é criticada porque sua perspectiva pouco acrescenta ao
conteúdo prático jurídico da proteção concedida.

Mesclando os critérios estabelecidos pelas outras definições,


mas sem se filiar a uma especificamente, temos a perspectiva
constitucional que, a partir do estabelecido no artigo 5 XXIX
da Constituição Federal, define o nome empresarial como
um direito pessoal, que busca resguardar o interesse social
e fomentar o desenvolvimento tecnológico e econômico,
além de ser protegido contra a concorrência desleal. Nesse
sentido, a Constituição Federal aparentemente se alinhou com
a perspectiva da pessoalidade do nome empresarial com a
proteção contra a concorrência desleal, posição que é defendida
por Negrão (2012).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A natureza jurídica do nome


empresarial deve ser estabelecida em
razão de sua perspectiva delimitada
constitucionalmente.

Você entendeu as quatro teorias que explicam a natureza


jurídica do nome empresarial? Bom, então agora vamos aos
estudos dos sistemas de formação do nome empresarial!

Sistemas de formação do nome empresarial


Existem três sistemas para a formação do nome empresarial: o
da veracidade, o da plena liberdade e o eclético ou misto. Cada
um estabelece diferentes critérios para a formação do nome
empresarial, como você vai ver a seguir.

O sistema da veracidade determina que o nome empresarial, no


caso das firmas – espécie de nome empresarial, como veremos
no próximo tópico – que se relacionam com o nome do titular
ou sócios da empresa, deverá ser a reprodução do nome destes,
como simbolizado na figura a seguir.

Fonte: d3images, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Já no de ampla liberdade, pelo contrário, não há correlação


necessária entre a firma e o nome do titular ou dos sócios que
formam a empresa, dando ampla possibilidade aos interessados
na escolha do nome. Quanto ao critério eclético, exige-se que
apenas o primeiro nome do empresário faça parte do nome
empresarial, no caso das firmas, é claro.

No Brasil, foi expressamente adotado o critério da veracidade,


tendo em vista o disposto no artigo 34 da Lei n. 8.934/1994.
Nesse sentido, não podemos deixar de mencionar que, além da
veracidade, a lei estabelece o requisito da novidade do nome
empresarial. Você sabe o que isto significa? Significa que é
necessário que ele seja inédito, não podendo ser igual ao de
outras empresas no mesmo ramo de atividade e no mesmo
estado, apenas. Como você deve imaginar, pode haver situações
em que o nome empresarial é igual a outro no mesmo estado
e ramo de atividade; em casos assim, o Código Civil, em seu
artigo 1.163, único, dá a solução ao dispor que, “Se o empresário
tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar
designação que o distinga”.

Existem várias teorias acerca dos


sistemas de formação dos nomes
empresariais, mas no Brasil se adotam
os critérios da veracidade e novidade.

Direitos conferidos ao nome empresarial


por meio do registro
Como podemos perceber a partir do que foi estabelecido sobre
a natureza jurídica do nome empresarial, este não pode ser
objeto de registro na lei de proteção à propriedade intelectual.
Contudo, essa lei e outros dispositivos legais concedem
proteções indiretas ao nome empresarial. Para entender melhor,
veja o esquema a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Direito de
Reclamação

Registro do
Nome
Empresarial
Direito de Direito de
Proibição Contestação

Fonte: Adaptado de NEGRÃO, 2012, p. 227.

Assim, você deve perceber que as ações protetivas ao nome


empresarial apresentam esses três conteúdos básicos, que
conferem ao lesado o direito de reclamar quando houver
recusa injustificada de seu nome empresarial por parte de
outrem, de contestar quando outro dele se utilizar e a de proibir
a sua utilização por outro. As medidas protetivas poderão ser
invocadas administrativamente, perante o Instituto Nacional
de Propriedade Intelectual (Inpi), ou judicialmente, por meio de
ações de proibição ou indenizatórias (NEGRÃO, 2012).

Especificamente, podemos mencionar como mecanismos


protetivos ao nome que o elemento diferenciador do nome
não poderá ser reproduzido ou imitado em marcas a ponto de
causar confusão ou associação indevida, não pode ser usado
indevidamente em produto destinado a venda ou estoque e
é passível de indenização, requerida por seu titular, quando
ocorrer violação por atos de concorrência desleal, entre outros
(NEGRÃO, 2012).

A proteção conferida ao nome


empresarial por conta do registro pode
ser requisitada administrativamente
perante o Inpi ou judicialmente.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Agora que você compreendeu quais são as correntes doutrinárias


que tentaram estabelecer a natureza jurídica, os sistemas de
formação do nome empresarial e os direitos conferidos ao nome
empresarial por meio do registro, você vai aprender sobre nome
e denominação empresarial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Nome e denominação empresarial

Neste tópico, você vai aprender as diferentes espécies do nome


empresarial, como se dá a formação do nome e, por fim, os
aspectos mais relevantes na alteração do nome empresarial.
Vamos lá?

Espécies do nome empresarial


As espécies do nome empresarial podem ser divididas em três:
a firma individual, a firma social (também conhecida como
firma comercial ou razão social) e a denominação. Embora todas
as espécies tenham o gênero nome empresarial em comum,
apresentam estrutura e destinação diferentes (NEGRÃO, 2012),
como representado na figura a seguir.

Fonte: Shutterstock, 2018.

Quanto à firma e à denominação, estas se diferem na estrutura,


porque enquanto a primeira é sempre formada pelos nomes civis
dos sócios, administradores, diretores ou titulares da empresa, a
segunda pode ser composta por qualquer palavra seguida do
objeto social da empresa.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Com relação à destinação, fica fácil perceber que a firma se


remete à identidade dos empresários ou sócios das empresas,
fazendo referência a qualidades pessoais ou mistas, quando
se referir a uma sociedade como limitada, LTDA e ao sócio, por
exemplo, ao passo que a denominação se refere a sociedades
de capitais a mistas, ou seja, as sociedades anônimas e as de
comandita por ações, por exemplo.

Entre a firma social e a firma individual, a estrutura é a mesma,


já que ambas são compostas pelo nome completo ou abreviado
dos sócios e do empresário, respectivamente.

Apesar disso, a sua destinação é diversa. Você consegue imaginar


o porquê? As firmas individuais são relacionadas ao empresário
individual e às Empresas Individuais de Responsabilidade
Limitada (Eireli), ao passo que as firmas sociais se destinam à
sociedade empresária, embora não se confundam com o regime
jurídico adotado pela empresa, como você verá no tópico
seguinte.

Contudo, em virtude da previsão do artigo 980-A, 1o, do Código


Civil, as Eirelis também podem adotar denominação no seu
nome empresarial, de modo que o termo não fica sujeito apenas
às sociedades empresárias.

As espécies do nome empresarial têm


a mesma origem, mas sua estrutura
e destinação variam muito, conforme
suas funções.

Formação do nome empresarial


Você já viu no tópico anterior que o sistema de formação do nome
utilizado no Brasil adotou o critério da veracidade, auxiliado pelo
elemento da novidade, como previsto no Código Civil.

No entanto, é importante você perceber que a formação do


nome empresarial varia conforme as diferentes espécies de
nome empresarial, que são: firma individual, firma social e
denominação.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Nas lições de Negrão (2012), o nome empresarial pode ser


formado das seguintes maneiras:

a) a firma individual é constituída pelo nome


do empresário, admitindo- se o acréscimo de
designação mais precisa de sua pessoa ou do
gênero de atividade e, no caso da empresa
individual de responsabilidade limitada, a
expressão ‘EIRELI’

b) o nome do empresário deve distinguir-se de


qualquer outro já inscrito na Junta Comercial, na
unidade da Federação;

c) na hipótese de o nome ser comum a outros


empresários já registrados, o interessado deve
acrescentar designação que o distinga

d) a firma social pode ser utilizada por todas as


sociedades, à exceção da anônima, e é constituída
pelo nome dos sócios, que respondem solidária
e ilimitadamente pelas obrigações contraídas
pela sociedade, salvo quando se tratar de
sociedade limitada e em comandita por ações,
que devem, obrigatoriamente, fazer uso das
expressões ‘limitada’ e ‘comandita por ações’,
respectivamente

e) a denominação pode ser utilizada pelas


empresas individuais de responsabilidade
limitada , pelas sociedades limitadas , sociedades
em comandita por ações e sociedades anônimas,
sendo formada por expressão linguística não
vedada em lei, acrescida da designação de
seu objeto social e das expressões ‘EIRELI’,
para as primeiras e os correspondentes ao tipo
societário: ‘limitada’ ou ‘ltda.’ para as segundas,
‘comandita por ações’ para as terceiras e
‘sociedade anônima’, ‘s/a’, ‘companhia’ ou ‘cia.’
para as últimas.

Tendo em vista o foco desta unidade, você estudará apenas a


nomeação dos tipos societários aos quais o autor se remete na
citação, estabelecendo suas características mais adiante, em
momento oportuno. A figura a seguir simboliza o aspecto legal
de uma firma individual.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Shutterstock, 2018.

Como você pode observar, existem diversas regras para a


formação do nome, mas é possível afirmar que todas advêm
da conjugação dos sistemas de formação do nome empresarial
com as particularidades inerentes a cada espécie do nome
empresarial e dos tipos de empresa a que se referem.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Adotando os critérios trabalhados anteriormente, veja um


exemplo: uma empresa cujo objeto social fosse a venda de
colchões, caso adotasse a firma social, se chamaria Cláudia
Barros e Paula Barros LTDA”, já se escolhesse a denominação,
poderia ser “Barato Colchões LTDA”, enquanto que, se fosse
utilizar-se da firma individual, deveria ser composta somente
pela empresária “Paula Barros colchões especializados Eireli”.

São muitos os critérios para a


formação do nome empresarial,
mas o seu entendimento passa pela
compreensão da veracidade e da
novidade.

Alteração do nome empresarial


A alteração do nome empresarial pode se dar de duas maneiras:
voluntária ou involuntária, ou seja, não dependendo da simples
manifestação de vontade do empresário ou sociedade
empresária. Vamos ver como isto ocorre?

Ao contrário do nome civil, o nome empresarial pode ser alterado


por simples vontade do empresário e da sociedade empresária,
na hipótese de os sócios com poderes para alteração assim
decidirem, desde que respeitadas as regras já analisadas sobre
a formação do nome empresarial (COELHO, 2016).

A outra forma de alteração do nome empresarial, involuntária,


que também pode ser chamada de obrigatória ou vinculada,
ocorre em diversos casos, podendo ser dividida em dois grupos:
aqueles que se justificam pela irradiação do princípio da
veracidade e aqueles que não têm relação com este. Veja no
esquema a seguir as causas de mudança do nome empresarial:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Outros elementos
Advindas do princípio justificadores da
da veracidade mudança do nome
empresarial

Saída, retirada, exclusão Transformação: a sociedade


ou morte de sócio, cujo empresária pode alterar o seu
nome civil constava da tipo societário (passando de
firma social limitada para anônima, por
exemplo)

Alteração do tipo de sócio


quanto à sua responsabilidade Lesão a direito de outro
pelas obrigações sociais, se o empresário pelo sistema de
seu nome civil integrava o proteção ao nome empresarial
nome empresarial

Alienação do estabelecimento
empresarial por ato entre
vivos

Fonte: Adaptado de COELHO, 2016, p. 57.

Embora cada um dos tipos de alteração obrigatória do nome


empresarial apresente detalhes inerentes a algumas variáveis
acerca de casos concretos, podemos dizer que seu objetivo é
prevalecer os direitos do empresário e aqueles relativos às
previsões legais acerca do nome.

O princípio da veracidade e da
proteção do nome são instrumentos
que estabelecem o caminho para a
mudança do nome empresarial.

Para encerrar esta unidade de aprendizagem, você verá as


noções de propriedade intelectual e marca empresarial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Noções de propriedade intelectual e


marca empresarial

Nesta última parte de nossos estudos, você aprenderá sobre


propriedade intelectual e suas subespécies, marca empresarial
e as principais diferenças existentes entre marca e nome
empresarial.

Propriedade intelectual: definição e elementos


Você já deve ter ouvido falar a respeito da propriedade intelectual,
certo?

A propriedade intelectual é gênero do qual se originam o direito


autoral e a propriedade industrial. Assim, você pode entendê-la
como o conjunto de regras dos bens imateriais ou incorpóreos, ou
seja, que não têm existência física e se originam da inteligência
ou invenção de seu autor ou inventor (TEIXEIRA, 2016). A imagem
a seguir mostra a propriedade intelectual como gênero:

Propriedade
Industrial

Direito
Autoral

Propriedade
Intelectual
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Mas do que se trata, especificamente, direito autoral e


propriedade industrial?

O direito autoral cuida das obras artísticas, literárias, científicas,


entre outras, que têm expressões estéticas, ligadas às sensações
corporais, às percepções, ao estado de espírito, a símbolos, etc.

O direito autoral é regulado pela Lei n. 9.610/1998, que define


os direitos autorais em seu artigo 1o como os “direitos do
autor” e aprofunda o conceito em seu artigo 7o, que permite
compreendermos que as obras intelectuais são criações do
espírito, protegidas por lei, expressas por qualquer meio,
conhecido ou que se invente no futuro.

Já a propriedade industrial, ao contrário do direito autoral,


pertence ao ramo do direito empresarial e tem como objeto: os
registros de marcas e desenhos industriais, além de patentes
de invenção e de modelos de utilidade, como previsto na Lei
n. 9.279/1996, artigo 2o I a III, que estabelece o regramento da
propriedade industrial (COELHO, 2016).

Segundo Teixeira (2016), é conhecida como propriedade


industrial porque o setor industrial foi o primeiro a registrar
marcas, patentes e invenções, o que hoje em dia é feito, em larga
escala, pelos prestadores de serviços e comércio.

A proteção à propriedade industrial está prevista na Constituição


Federal, artigo 5o XXIX, que, juntamente com a lei de propriedade
industrial (Lei n. 9.279/1996), formam o seu sistema protetivo.

A propriedade intelectual engloba


aquilo que provém do intelecto, tendo
como suas espécies mais importantes
a propriedade industrial e o direito
autoral.

Marca empresarial: aspectos relevantes


Tanto a marca quanto o desenho industrial são elementos da
espécie propriedade industrial que vem do gênero propriedade
intelectual e conferem proteção aos interessados a partir do
registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

É importante você entenda que o registro dos desenhos


industriais e marcas empresariais é tido como ato constitutivo
do direito de exploração exclusiva de seu objeto, o que, na
prática, determina que a anterioridade do registro e não da
utilização é que vai conferir direitos aos interessados.

Quanto ao objeto próprio de nosso estudo, as marcas


empresariais, podemos defini-las como um sinal distintivo,
visualmente perceptível, que é utilizado para diferenciar um
produto ou serviço de outro idêntico ou semelhante, além de
identificar a qualidade de um produto e sua origem (NEGRÃO,
2012).

Em resumo, a marca funciona como um elemento que distingue


certos aspectos da empresa, como produtos e serviços, por meio
de mecanismos visuais perceptíveis, a exemplo do sinalizado na
figura a seguir para “marca registrada”.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Matthias Pahl, Shutterstock, 2018.

A lei da propriedade industrial adotou uma tríplice concepção de


marca empresarial. Nesse sentido, na forma do artigo 123 da lei,
a marca poderá ser de produtos e serviços: “[...] aquela usada
para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante
ou afim, de origem diversa” (inciso I); marca de certificação: “[...]
aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou
serviço com determinadas normas ou especificações técnicas,
notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado
e metodologia empregada” (inciso II); e marca coletiva, usada
para identificar produtos ou serviços provindos de membros de
uma determinada entidade (inciso III).

Veja quais são os requisitos para o registro da marca de acordo


com Coelho (2016):

novidade relativa, em que a expressão linguística ou sinal da marca não precisam ser inéditos,
apenas a sua utilização naquele segmento empresarial tem essa necessidade;

não colidência com marca notória; aqui, ainda que a marca, McDonald’s, por exemplo, não tenha
registro, será protegida pelo direito da propriedade industrial, tendo em vista o disposto no
artigo 126 da LPI;

não impedimento (artigo 124 da LPI), que estatui que não podem ser registrados como marca
determinados elementos, como armas oficiais do estado, designação ou sigla de entidade de
órgão público, exceto pelo próprio órgão, bandeira, emblema, medalha, distintivo e monumentos
oficiais.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Desde que preenchidos os seus


requisitos, o registro trata de
verdadeira proteção à marca daquele
que o fizer primeiro.

Distinções entre marca e nome empresarial


Você já deve ter visto que a marca muitas vezes é confundida
com outros instrumentos do direito empresarial, como o nome
empresarial, título do estabelecimento e insígnia. Por isso, você
vai ver a seguir as diferenças desses instrumentos para a marca
empresarial. A figura a seguir aponta diferenças de marca de
um mesmo produto.

Fonte: Andrey_Kuzmin, Shutterstock, 2018.

A marca empresarial, como já vimos, é bem incorpóreo que


procura diferenciar produtos e serviços, por meio de sinais
visíveis, de outros semelhantes ou idênticos. Já o nome
empresarial é utilizado para se referir a pessoa do empresário
ou sócios e que é a razão social da empresa, que consta em
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

possíveis processos judiciais, além de mostrar o regime jurídico


da empresa. O título do estabelecimento é a designação do
estabelecimento empresarial e a insígnia, assim como o título
do estabelecimento, serve para designá-lo, com uma diferença
na forma, já que o título se reveste da nominativa, na medida
em que se utiliza de palavras que nomeiam algo e a insígnia da
emblemática, porque se utiliza um sinal ou emblema, formado
por figuras, desenhos, símbolos, conjugados, ou não, com
expressões nominativas (NEGRÃO, 2012) .

No caso específico das diferenças entre o nome empresarial e


da marca, destacamos que o seu registro também é feito em
lugares diferentes: o da marca é feito no Instituto Nacional de
Propriedade Intelectual (Inpi), e o nome empresarial na junta
comercial, com a criação da personalidade jurídica.

Com isso chegamos ao fim desta unidade, em que aprendemos


sobre o nome empresarial, suas noções fundamentais e
elementos constituintes, além da propriedade intelectual e suas
principais características e componentes.
O objeto da marca e suas
características para fins de registro
permitem sua diferenciação de
elementos semelhantes do direito
empresarial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Estruturação da sociedade
empresária

Introdução

Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a mais uma unidade de


aprendizado!

A partir de agora, você vai estudar as principais características


da sociedade empresária, aprendendo sobre seu conceito,
elementos, personalização e sua irregularidade.

Assim, você vai perceber como a sociedade empresária é


constituída a partir da união dos elementos necessários para
sua formação, além de algumas diferenças que ela tem em
relação a outras formas de atividade empresária.

Por exemplo, você sabia que nem toda pessoa jurídica que exerce
atividade empresária pode ser considerada uma sociedade
empresária?

Você vai estudar isso e muito mais nos tópicos seguintes!

Vamos lá?
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedade empresária:
noções básicas e conceito

Vamos abrir nossos estudos desta unidade conhecendo o


conceito de sociedade empresária, assim como os seus elementos
e a função social das empresas e da sociedade empresária.
Pronto(a) para começar?

Conceito de sociedade empresária


O melhor lugar para começarmos nosso estudo sobre o conceito
de sociedade empresária é na lei, já que ela o define com bastante
clareza no artigo 982 do Código Civil, que diz: “[...] salvo as
exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que
tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário
sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”.

O conceito legal, porém, deve ser aprofundado para que


possamos melhor definir o seu sentido. Dessa forma, vamos
analisar com você dois dos alicerces da sociedade empresária:
a pessoa jurídica e a atividade empresarial.

Para começar, é importante você entender que a pessoa jurídica


empresária – aquela que exerce atividade econômica de
empresa – é a que pode ser considerada empresária. Mas só o
critério da pessoa jurídica não é suficiente para que possamos
determinar se uma sociedade é considerada empresária ou não,
já que apenas algumas pessoas jurídicas que exercem atividade
definida como empresarial é que são consideradas sociedades
empresárias, daí as exceções mencionadas no artigo 982 do
Código Civil.

Nosso ordenamento jurídico estabeleceu todas as pessoas


jurídicas existentes sob a sua proteção e podemos dividi-las em
dois grandes grupos: as de direito privado e as de direito público
interno e externo. Entenda melhor no quadro a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Pessoas jurídicas

Pessoas jurídicas de direito privado Pessoas jurídicas de direito público

Externo Interno
Associações
União
Sociedades (simples e
Estados
empresárias)
Estados estrangeiros Distrito Federal
Fundações
Todas as pessoas regidas Territórios
Empresas públicas
pelo direito internacional
público (exemplos: ONU, Municípios
Sociedades de economia mista
OEA, Opep, Otan, etc.)
Autarquias
Empresas individuais de
responsabilidade limitada
Demais entidades de caráter
público criadas por lei.
Fonte: Adaptado de NEGRÃO, 2012, p. 94.

Como você pode notar no quadro, as pessoas jurídicas de


direito público externo e interno se relacionam com funções
tipicamente estatais e não serão objeto de nossos estudos
porque não estão sob a égide do direito empresarial e não são
sociedades empresárias.

No entanto, existem algumas empresas que são pessoas jurídicas


e exercem atividade empresária, mas não são consideradas
sociedades empresárias porque têm denominação diversa em
razão de suas características.

Nesse grupo, podemos destacar a sociedade de economia


mista, como, por exemplo, a Petrobrás, e as empresas públicas,
a exemplo dos Correios, que são empresas estatais, criadas pelo
estado, e que têm, em razões diferentes, capital estatal investido
nelas. A figura a seguir representa uma empresa do ramo da
indústria.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Terry Kettlewell, Shutterstock, 2018.

Quanto ao critério da atividade empresarial, podemos excluir


as fundações e associações. Você saberia dizer por quê? Bom,
as fundações e associações não são sociedades empresárias
porque não buscam o lucro em sua atuação e não atuam de
modo empresário.

Por fim, é importante que você saiba diferenciar sociedades


simples e empresárias. Enquanto as sociedades empresárias
exercem atividade profissional, habitual, organizada e com o
intuito de lucro para a produção e circulação de bens e serviços,
as sociedades simples não exercem atividade de maneira
empresarial e sim por meio da atuação específica do profissional
intelectual, como você já estudou nas unidades anteriores.

É bom destacar também que as sociedades por ações,


independentemente de buscarem lucro ou exercerem atividade
de maneira empresarial, são sempre consideradas empresárias,
e as cooperativas, independentemente de exercerem atividade
empresária, são sempre simples.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Assim, após a análise das pessoas jurídicas definidas no código


e das diferenças de cada uma para a sociedade empresária,
inclusive em relação à atividade empresarial, podemos defini-
la como pessoa jurídica de direito privado, não estatal, que
explora empresarialmente seu objeto social ou adota a forma de
sociedade por ações (COELHO, 2016).

A definição de sociedade empresária


passa primeiro por tudo aquilo que não
pode ser, dessa forma, caracterizado.

Elementos da sociedade empresária


Podemos dividir os elementos da sociedade empresária em
gerais – aplicados a todas as sociedades – e em específicos,
que são essenciais para que uma sociedade seja considerada
empresária.

As sociedades devem ser formadas por atos jurídicos,


representados pelo instrumento constitutivo da sociedade, que,
conforme o artigo 104 do Código Civil, “[...] deverão ser fruto
do consenso, ter objeto lícito e forma prescrita ou não proibida
pela lei”. Assim, podemos dizer que os elementos gerais das
sociedades são: o consenso, objeto lícito e a forma.

O elemento do consenso diz que a formação de uma sociedade


deve ser fruto da vontade implícita ou explícita dos sócios sem
vícios em sua manifestação, ou seja, sem nenhum vício sobre a
sua vontade, como simbolizado na figura a seguir. Você saberia
citar ao menos um desses vícios? Bom, podemos mencionar,
como exemplos, o erro (quando se tem uma falsa percepção
sobre a realidade), o dolo (quando alguém induz alguém a erro)
e a coação (quando alguém exige um ato de vontade por meio
de ameaça).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2018.

Quanto ao objeto, devemos entendê-lo como o objeto social


da sociedade, que se caracteriza por aquilo que a atividade
pretende explorar economicamente, como a venda de laticínios,
por exemplo.

O objeto precisa ser lícito, não contrário à lei, possível (sua


operacionalização deve ser possível) física e juridicamente, de
acordo com as leis da natureza e do ordenamento jurídico e
determinado, pois o objeto deve estar precisamente delimitado
e determinado na constituição da sociedade.

Por fim, temos a forma do ato jurídico, ou seja, do instrumento


constitutivo da sociedade, que pode ser qualquer uma (oral, por
exemplo) – lembrando que a forma escrita permite à sociedade
o registro e os benefícios legais dele decorrentes. Assim,
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

para ser considerada empresária, a sociedade deve adotar a


forma escrita, pois só podem ser empresárias as sociedades
registradas, com exceção da sociedade empresária em conta
de participação, que será analisada em outro momento de
nossos estudos.

Já com relação aos elementos específicos da sociedade


empresária, podemos dividi-los em contribuição dos sócios para
o capital social, participação dos sócios nos lucros e perdas e
a affectio societatis (TOMAZETTE, 2017).

A contribuição inicial dos sócios é essencial para que uma


sociedade forme o seu capital social, que é aquele vinculado
ao objeto social da sociedade. Constitui requisito fundamental
para a formação da sociedade empresária, já que provê meios
econômicos para que a sociedade comece a desenvolver a sua
atividade e dá garantias aos seus fornecedores, por exemplo.

Já a participação dos sócios nos lucros estipula que os sócios


devem poder participar dos lucros da sociedade e também de
suas perdas, o que não significa que todos devem participar da
mesma forma dos lucros e perdas, mas que devem participar. A
figura a seguir representa gráficos de evolução de uma operação
no tempo, muito utilizados no acompanhamento das empresas.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: NikoNomad, Shutterstock, 2018.

O último elemento essencial da atividade empresária é a affectio


societatis, que pode ser definida como a confiança mútua e
vontade de operação em conjunto para obter determinados
benefícios, ou ainda um propósito igual dos contratantes para se
unir a fim de alcançar um resultado almejado (TOMAZETTE, 2017).

Assim, a affectio societatis é estabelecida na formação da


sociedade quando os sócios se manifestam expressamente
declarando sua vontade de perseguir um objeto social em
comum, mas sua incidência não termina aí, já que deve estar
presente durante toda a atividade da sociedade empresária,
representada pela vontade dos sócios ao perseguir objetivos
comuns.

Por fim, é importante você lembrar que uma sociedade deve


ser constituída por pluralidade de sócios, ou seja, duas ou
mais pessoas. É por isso que as empresas individuais de
responsabilidade limitada (Eirelis), por exemplo, não podem ser
chamadas de sociedades empresárias.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O affectio societatis é um dos


elementos específicos de maior
importância para a formação da
sociedade empresaria.

Função social da sociedade empresária


Agora que você já teve contato com o conceito e os elementos da
sociedade empresária, vamos ver de que se trata a sua função
social.

A função social se estabelece para a empresa a partir do artigo


5o, XXIII, em que se determina que a propriedade atenderá à sua
função social. Dessa forma, a empresa (e, em decorrência disso,
a sociedade empresária), como propriedade organizada para
obter o lucro, deve atuar observando a sua função social, como
simbolizado na figura a seguir.

Fonte: Sergey Nivens, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A função social da sociedade empresária corresponderia, então,


à atuação da empresa de acordo com os seus fins econômicos,
mas respeitando os direitos fundamentais (considerados
inerentes aos direitos de toda pessoa em sua vida em sociedade)
na sociedade em que se insere, como, por exemplo, os direitos do
meio ambiente, do trabalho e de outras garantias fundamentais.

Assim, uma sociedade empresária que atue procurando


contratar minorias estaria realizando a sua função social porque
estria agindo pensando em contribuir com a sociedade em que
está inserida. Da mesma forma, uma sociedade que realize a
sua atividade produtiva por meio de tecnologias limpas, como
aquelas que poluem menos o meio ambiente, estaria observando
a sua função social.

Como você pode notar, as sociedades empresárias podem atuar


de diversas maneiras respeitando a sua função social e os direitos
fundamentais, como os do trabalho e do meio ambiente, o que
deve sempre ser observado por qualquer sociedade empresária.

Os administradores da sociedade
empresária também realizam a sua
função social quando agem pensando
na sociedade em que a empresa está
inserida.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Personalidade jurídica da
sociedade empresária

Neste tópico, você vai retomar o que aprendeu na unidade 5


sobre a personalidade jurídica, mas agora com foco nos seus
efeitos para a sociedade empresária. Também vamos ver as
classificações das sociedades empresárias, finalizando esta
parte com uma abordagem sobre as sociedades contratuais
menores e das limitadas. Vamos lá?

Noções básicas de personalidade jurídica da


sociedade empresária
Como vimos na unidade 5, a personalidade jurídica é uma ficção
jurídica feita pela lei, portanto, tem o poder de permitir que
certas pessoas possam exercer alguns atos.

A pessoa jurídica é a espécie personalizada do gênero sujeito


de direitos, definido como todo aquele que pode ser credor ou
devedor de direitos e obrigações.

O conceito de sujeito de direitos é muito abrangente e


engloba desde sujeitos de direito despersonalizados até os
personalizados. A diferença entre as duas espécies é que os
entes personalizados podem fazer tudo que a lei não proíbe;
já os despersonalizados, como a massa falida (surge a partir
da decretação de falência e consiste nos bens e interesses
do falido e de suas dívidas), somente aquilo que a lei permite
expressamente.

Assim, você pode ver que a personalização ou despersonalização


tem o poder de limitar a atuação dos sujeitos de direito, na forma
da lei. Só que as suas regras têm algumas exceções, como, por
exemplo:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

os atos típicos de pessoa natural, como o casamento, não podem ser praticados por pessoa
jurídica mesmo que a lei deixe de prever proibição expressa;

os atos jurídicos de essência de alguns sujeitos despersonalizados podem ser praticados por estes
ainda que a lei não lhes permita expressamente, como na celebração de contrato de trabalho;

a pessoa jurídica estatal só pode praticar ato jurídico se autorizada expressamente por lei,
como preveem os princípios do direito administrativo (COELHO, 2016).

Fonte: justaa, Shutterstock, 2018.

Portanto, as sociedades empresárias, via de regra, são sujeitos


de direito personalizados (com a exceção das sociedades
empresárias em conta de participação) e podem praticar tudo
aquilo que não é vedado pela lei.

Além disso, existem consequências específicas para as


sociedades empresárias que vêm de sua personalização, como
a titularidade negocial (a sociedade empresária é a titular dos
negócios jurídicos que celebra e não o seu sócio), a titularidade
processual (a sociedade empresária tem capacidade para estar
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

em juízo, ou seja, pode ser parte em processos judiciais) e a


responsabilidade patrimonial (a sociedade empresária tem um
patrimônio diverso dos seus sócios, que responderá por suas
obrigações).

As sociedades empresárias se
constituem em sujeitos personalizados
que podem fazer tudo aquilo que
não é proibido por lei, com algumas
ressalvas.

As classificações das sociedades empresárias


As sociedades empresárias podem ser classificadas de acordo
com vários critérios, mas aqui vamos apresentar para você
apenas os mais relevantes, que são: pela responsabilidade
dos sócios pelas obrigações sociais; quanto ao regime de
constituição e dissolução da sociedade; e quanto às condições
para a alienação da participação societária.

Antes de desenvolver cada uma dessas classificações, é importante


você saber quais são os tipos de sociedade empresária previstos
em lei, já que vamos mencionar sua relação com alguns critérios
de classificação das sociedades empresárias.

Nesse sentido, são tipos de sociedades empresárias: a


sociedade anônima (Lei das S.A, n. 6.404/1976), a sociedade
limitada (artigos 1.052 a 1.087 do Código Civil), a sociedade
em comandita por ações (Lei das S.A, 6.404/1976), a sociedade
em comandita simples (artigos 1.045 a 1.051 do Código Civil), a
sociedade em nome coletivo (artigos 1,039 a 1,044 do Código
Civil) e a sociedade em conta de participação (artigos 991 a
996 do Código Civil). Estas três últimas são conhecidas como
sociedades contratuais menores, como você verá na unidade 13.

No esquema a seguir, fica mais fácil para você visualizar os tipos


de sociedade empresária:


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedade
em comandita
por ações

Sociedade
em comandita Sociedade
simples Limitada

Sociedades
empresárias

Sociedade
Sociedade em conta de
Anônima participação

Sociedade
em nome
coletivo

Pela autonomia do patrimônio dos sócios em relação ao da


sociedade, conceito que você estudou nas unidades anteriores,
podemos classificar as sociedades empresárias quanto à
responsabilidade dos sócios em:

sociedades ilimitadas: os sócios respondem ilimitadamente, com seu patrimônio pessoal


inclusive, pelas obrigações da sociedade. Neste tipo se enquadram somente as sociedades em
nome coletivo;

sociedades mistas: parte dos sócios respondem de maneira ilimitada e outros limitadamente pelas
obrigações sociais. Aqui se encontram as sociedades em conta de participação em comandita
simples e comandita por ações e as sociedades limitadas, em que os sócios respondem de
maneira limitada, somente com a parcela de seu patrimônio que foi destinado à sociedade,
enquadrando-se neste tipo as sociedades anônimas e as limitadas.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Quanto à classificação das sociedades empresárias com relação


à sua formação, elas podem ser divididas em:

contratuais: o instrumento constitutivo é o contrato social, e temos como exemplos as sociedades


em nome coletivo, comandita simples e limitada;

sociedades institucionais: formadas por meio do estatuto social, englobam as sociedades


anônimas e em comandita por ações.

Por fim, podemos classificar as sociedades empresárias com


relação às condições para alienação da participação societária
dos sócios em:

sociedades de pessoas: os sócios têm o direito de vetar a entrada de estranhos ao quadro social;

sociedades de capitais: os sócios não têm esse direito.

A principal diferença entre as duas classificações é que, na


sociedade de pessoas, os sócios se unem devido às características
pessoais de cada um, e na sociedade de capitais o motivo da
união não é pessoal, mas atingir o objeto social e gerar lucros.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Assim, na sociedade de pessoas, o affectio societatis que vimos


anteriormente fica mais evidente, já que os sócios entram
em sociedade devido às características pessoais de cada
um, buscando atingir objetivos específicos. Como exemplo
de sociedades empresárias deste tipo, você pode pensar na
sociedade em comandita simples e a sociedade em nome
coletivo. Quanto às sociedades de capitais, podemos dizer que a
sociedade anônima sempre será deste tipo.

As diferentes classificações da
sociedade empresária permitem
uma primeira aproximação das
características dos tipos societários.

Sociedades contratuais menores X Sociedades de


responsabilidade limitada
As sociedades contratuais menores são assim conhecidas devido
ao seu pouquíssimo uso como tipo de sociedade empresária.
Sendo assim, podemos estabelecer como sociedades contratuais
menores a sociedade em comandita simples, a sociedade em
nome coletivo e a sociedade em conta de participação. A figura
a seguir simboliza a formação de uma sociedade.

Fonte: eans, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Quanto às sociedades de responsabilidade limitada, como


vimos no tópico anterior, são aquelas em que a responsabilidade
dos sócios pelas obrigações sociais é limitada à parcela de seu
patrimônio destinada ao seu capital social. São desta espécie
as sociedades anônimas e as limitadas.

No contexto abordado neste tópico, podemos dizer que a


principal diferença entre os tipos societários que se incluem
nas sociedades empresárias de responsabilidade limitada e
aqueles que fazem parte das sociedades contratuais menores é
a responsabilização dos sócios pelas obrigações sociais, já que
nos tipos societários das sociedades contratuais menores temos
dois tipos de responsabilização:

mista, no caso das sociedades em conta de participação e em comandita simples;

ilimitada, no caso de uma sociedade em nome coletivo.

Já nas sociedades de responsabilização limitada, temos a


responsabilidade limitada dos sócios, ao patrimônio por eles
destinado à sociedade, tanto quando se tratar de sociedade
anônima quanto de sociedade limitada. Não se preocupe: você
vai estudar as peculiaridades de cada uma dessas sociedades,
inclusive como se dá especificamente a responsabilização dos
sócios, nas unidades seguintes.

A responsabilização dos sócios pelas


obrigações sociais é o que distingue
as sociedades contratuais menores
das sociedades de responsabilidade
limitada.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedade em comum
perante o código civil

Em nosso último tópico, você vai ter a oportunidade de aprender


sobre as sociedades em comum, partindo de algumas noções
básicas sobre o termo, que nos darão os subsídios para entender
os efeitos das sociedades em comum para os sócios, para
terceiros e para a empresa. Vamos lá?

Noções básicas das sociedades em comum


O termo sociedade em comum passou a ser usado a partir da
entrada em vigor do Código Civil de 2002, pois o antigo sistema
de direito comercial utilizava os termos sociedade irregular e
sociedade de fato.

Dessa maneira, a nova lei que cuida do direito empresarial uniu


as duas classificações, sociedade de fato e irregular, em uma
só: a sociedade em comum. No esquema a seguir, você pode
visualizar a união das sociedades comum e de fato na sociedade
em comum:

Sociedade
Irregular

Sociedade
em comum
Sociedade
de Fato

Existem muitas classificações de sociedade em comum e de fato,


estabelecidas em sede doutrinária, mas os posicionamentos
mais aceitos são de Rubens Requião e Pontes de Miranda, para
quem a sociedade de fato é aquela que sequer tem instrumento
constitutivo e que obviamente não o registra; as sociedades
irregulares, por sua vez, têm o instrumento de constituição,
contrato social ou estatuto, mas não o levam a registro.
Assim, como você pode perceber, a sociedade em comum é,
independentemente de ser de fato ou irregular, aquela cujos atos
constitutivos não foram levados a registro.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Embora todas as definições de sociedade irregular e de


fato sejam relevantes para o conhecimento dos diferentes
posicionamentos da doutrina sobre as sociedades de fato
e sociedades irregulares, o ponto é que essa definição tem
poucos aspectos práticos, já que sua diferença só tem um efeito
prático, em relação ao sócio, como veremos no tópico seguinte.

É assim que se posiciona o Código Civil de 2002, em seu artigo


986, quando trata do capítulo inerente às sociedades em comum:
“[...] enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á
a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto
neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele
forem compatíveis, as normas da sociedade simples”.

Como você deve ter notado, a definição da lei abrange tanto


os termos sociedade irregular quanto de fato, mas outros
dispositivos, como vamos ver a seguir, estabelecem diferenças
importantes, tornando essencial o reconhecimento dos dois tipos
de sociedade.

O novo sistema comercial juntou as


concepções de sociedade irregular e
de fato nas sociedades em comum. 

Efeitos jurídicos da sociedade em comum em


relação aos sócios e terceiros
Para facilitar a sua compreensão do conteúdo deste tópico,
vamos dividi-lo, estudando primeiro os efeitos da sociedade em
comum para os sócios e depois os seus efeitos sobre terceiros,
simbolizado na figura a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Michael D Brown, Shutterstock, 2018.

Os sócios, como o próprio nome diz, são aqueles que formam a


sociedade. No caso da sociedade em comum, as consequências
em relação a eles são principalmente de responsabilização
patrimonial pelas obrigações assumidas pela sociedade.

Nesse contexto, os sócios de sociedade em comum respondem


ilimitadamente, com seu patrimônio pessoal, e solidariamente,
ou seja, juntamente com a sociedade, por obrigações que esta
assumir.

O Código Civil estabelece essa responsabilização no capítulo da


sociedade em comum, em seu artigo 990, que diz: “Todos os
sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024,
aquele que contratou pela sociedade”.

A leitura do dispositivo pode levar a um entendimento diferente


daquilo que tínhamos mencionado sobre a responsabilização
dos sócios, introduzindo o conceito do benefício de ordem, que
é uma vantagem concedida pelo direito para que se cobre
primeiro quem deu causa à dívida (para nós, a sociedade) e, em
segundo lugar, quem é solidário em seu pagamento: os sócios.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Esse benefício de ordem é concedido porque o patrimônio da


sociedade em comum é conhecido como patrimônio especial,
que pertence aos sócios e não à empresa, em condomínio, ou seja,
cada um tem uma parte, a princípio, indivisível do patrimônio.

Dessa maneira, o benefício de ordem regrado no dispositivo


estabelece que esse patrimônio especial dos sócios e destinado
à sociedade seja responsabilizado em primeiro lugar para,
depois, se pensar no patrimônio pessoal dos sócios, com exceção
daquele sócio que diretamente contratou pela sociedade, já que
este não terá direito ao benefício de ordem, como ressaltado
pela lei em seu artigo 990.

Outro efeito jurídico da sociedade em comum em relação aos


sócios se dá por meio da prova quanto à existência da sociedade,
pois demanda, segundo o artigo 987 do Código Civil, prova
escrita. E é aí que está o principal efeito jurídico das sociedades
de fato: por não terem instrumento de constituição da sociedade,
seus sócios não podem provar a sua existência, enquanto que,
na sociedade irregular, por ter o instrumento constitutivo, essa
prova é possível, a exemplo do que representa a figura a seguir.

Fonte: Andrey_Popov, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

E, afinal, quem são os terceiros?

São todos aqueles que têm algum tipo de relação com a


sociedade em comum, mas não fazem parte dela. Os principais
efeitos em relação aos terceiros dizem respeito à prova de
existência da sociedade em comum: caso queiram cobrar uma
dívida dela, por exemplo, isto pode ser feito por qualquer meio e
não somente por prova escrita.

A sociedade em comum tem como


consequência, para os sócios, a
responsabilização ilimitada e solidária
pelas obrigações sociais.

Efeitos jurídicos da sociedade em


comum para as empresas

Como você deve se lembrar, os principais efeitos jurídicos da


sociedade em comum para as empresas já foram abordados nas
unidades anteriores, quando falamos de empresário irregular,
sendo idênticos aos que vêm da irregularidade do empresário.

Apesar dessa semelhança, as particularidades da sociedade


empresária devem ser observadas, como a responsabilização
ilimitada e solidária dos sócios, acima mencionada, pelas
obrigações sociais da empresa. Nesse contexto, não custa
relembrar as consequências da sociedade em comum para as
empresas, como a ilegitimidade ativa para requerer a falência
e recuperação judicial (a empresa não pode requerer falência
e recuperação judicial, embora possa ser objeto de pedido de
falência por parte de outros) e a ineficácia probatória dos livros
comerciais.

Por fim, para poder regularizar qualquer sociedade em comum,


os sócios precisam comparecer à junta comercial e realizar o
registro do instrumento constitutivo da sociedade por meio do
ato de arquivamento.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Os efeitos jurídicos para a empresa da


sociedade em comum são os mesmos
que para o empresário irregular, dadas
as particularidades de cada um.

Com isso, finalizamos mais uma unidade de aprendizagem,


em que abordamos a estruturação da sociedade empresária
e aspectos relativos à sua atuação, como sua função social,
irregularidade e regularização. Assim, você já tem condições de
avançar em nossos estudos, aprendendo, na próxima unidade,
sobre trespasse e princípios da função social da empresa.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Trespasse e princípios da função


social da empresa

Introdução

Nesta unidade, nosso objetivo é aprofundar com você os


conhecimentos sobre o trespasse, a função social da empresa e
a liquidação de empresas.

Para isso, vamos retomar as lições já aprendidas nas unidades


anteriores sobre o trespasse e a função social da empresa
com uma abordagem mais minuciosa, compreendendo, entre
outros aspectos, as definições dos institutos e suas principais
implicações para o direito empresarial.

Ao final desta unidade, você vai estudar sobre o instituto da


liquidação das empresas, entendendo onde e como ele se insere
e quais são as suas principais características.

Vamos lá?
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Trespasse: o trespasse como


importante instituto jurídico

Vamos abrir nossos estudos sobre o trespasse abordando as


noções básicas sobre este tema. Depois, vamos analisar aspectos
mais práticos de sua operacionalização, principalmente em
relação aos débitos trabalhistas, tributários e na falência e
recuperação judicial. Pronto(a) para começar?

Trespasse: noções básicas


Quando tratamos do estabelecimento empresarial nas unidades
anteriores, você lembra que definimos o trespasse como a
alienação do estabelecimento empresarial? A figura a seguir
representa uma transferência, que também é entendida como
trespasse (transferência da titularidade de um bem).

Fonte: arka38, Shutterstock, 2018.

Pois bem, aprendemos que o estabelecimento empresarial é


uma universalidade de fato e, dessa maneira, pode ser alienado
como um todo. Essa alienação ganha o nome de trespasse.

É importante você saber que o termo trespasse é uma criação


da doutrina, mas quer dizer o mesmo que transferência, cessão
e alienação.

Mas, afinal de contas, o que é o trespasse?


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O trespasse tem como característica a transferência da


titularidade do estabelecimento empresarial, em que se passa
ao adquirente os bens necessários ao exercício da atividade
empresária, ou seja, tudo aquilo que é indispensável para a
funcionalidade do negócio.

Por conta disso, a alienação parcial também pode ser regida


pelas regras inerentes ao trespasse, desde que importe na
transferência dos elementos necessários à funcionalidade da
empresa.

Mas atenção: não se pode considerar trespasse a simples


venda de cotas ou ações de uma empresa se dessa venda não
se transferirem os bens necessários ao exercício da atividade
empresarial e/ou a titularidade do estabelecimento.

Assim, em uma situação hipotética em que alguém compra


ações de um supermercado, essa pessoa não estará realizando
o trespasse se dessa compra não ocorrer a transferência e
titularidade do estabelecimento, o que é muito comum na
compra de ações na bolsa de valores.

Ao tratar do tema do trespasse nos artigos 1.144 a 1.149, o Código


Civil tem o objetivo de proteger principalmente os credores da
empresa cujo estabelecimento será trespassado.

Nesse sentido, a lei diz que os credores da empresa devem


ser notificados pessoalmente, seja por carta com aviso de
recebimento ou notificação extra judicial, por exemplo, para
que em 30 dias manifestem, expressa ou tacitamente, sua
concordância com a venda do estabelecimento sob pena de
ineficácia do trespasse caso não sejam notificados.

O Código Civil também aponta a responsabilização solidária


(aquela em que o devedor solidário responde juntamente com
o devedor principal) do alienante pelas obrigações vencidas, a
partir da publicação do trespasse, ou das vincendas (aquelas
que ainda vão vencer), a partir do momento em que vencerem,
ambas durante o período de um ano.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Perceba que isso se dá porque o adquirente, de acordo com


o regramento do Código Civil, é o novo responsável pelas
obrigações da empresa, desde que estejam regularmente
contabilizadas, na medida em que sucede o alienante a partir
do trespasse do estabelecimento empresarial.

Contudo, no caso das obrigações de caráter pessoal firmadas com


o estabelecimento, ou seja, em razão da pessoa do empresário,
essa sub-rogação (substituição) não ocorrerá. Além disso, para
que o trespasse tenha qualquer efeito perante terceiros, precisa
ser devidamente averbado na junta comercial.

Por fim, o alienante não pode fazer concorrência ao adquirente


nos cinco anos subsequentes à transferência, exceto se houver
autorização expressa deste.

A lei também protege os credores do


estabelecimento trespassado por meio
da exigência de sua notificação pessoal
do trespasse.

Trespasse: débitos tributários e trabalhistas


A partir das noções gerais que estabelecemos no subtópico
anterior, devemos nomear algumas características inerentes
a certos tipos de débitos da empresa trespassada, como os
trabalhistas e os tributários.

Os créditos de natureza trabalhista recebem tratamento


diferenciado em diversos diplomas legais e, para o nosso
estudo, não poderia ser diferente, já que proveem o sustento do
trabalhador.

Nesse sentido, o artigo 448 da CLT (Consolidação das


Leis do Trabalho) diz que os contratos de trabalho dos
respectivos empregados não serão afetados pela mudança na
propriedade ou na estrutura jurídica da empresa.

A leitura do dispositivo poderia levar ao entendimento de que


o alienante ainda continua responsável pelos débitos vindos do
direito do trabalho, mas veja que a CLT ressalta que os débitos
serão de responsabilidade do sucessor da empresa, ou seja, do
adquirente.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Apesar disso, poderemos ter a responsabilização solidária do


alienante/sucedido, nos casos de fraude no trespasse, e quando
a sucessão do alienante – na responsabilidade pelos contratos
trabalhistas – puder provocar comprometimento das garantias
trabalhistas anteriormente estabelecidas.

Quanto ao tratamento diferenciado conferido aos débitos


tributários, o seu objetivo é proteger o dinheiro público,
representado pelos valores devidos ao fisco (administração
pública responsável pelo arrecadamento de impostos).

Não são todos os débitos tributários que gozam do tratamento


diferenciado, caso ocorra o trespasse do estabelecimento,
mas só aqueles devidos em razão do exercício da atividade
empresarial, como representado na figura a seguir.

Fonte: Stokkete, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O artigo 133 do CTN (Código Tributário Nacional) diz que os


débitos tributários são de responsabilidade do adquirente
independentemente de sua contabilização, exigência do artigo
1.146 do Código Civil, tendo prevalência sobre este.

O mesmo dispositivo ressalta que a responsabilidade do alienante


pelos débitos de natureza tributária pode ser subsidiária (aquela
responsabilidade em que se cobra primeiro do responsável
direto pela obrigação e, caso este não tenha meios para saldar
a dívida, se cobra o devido do devedor subsidiário): “[...] se este
prosseguir na exploração [da atividade] ou iniciar dentro de seis
meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo
ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão” (BRASIL,
2002) ou nenhuma caso não explore mais qualquer atividade.

A lei regula a responsabilização do alienante dessa forma em


virtude do que entende ser a sua capacidade de pagar os
débitos tributários. Por isso, caso desenvolva uma nova atividade,
presume-se que o alienante tem condição de arcar com as
dívidas tributárias, enquanto que, se não desenvolver, acredita-
se que não teria meios de pagar pelos débitos tributários.

Finalmente, veja que as partes, alienante e adquirente, podem


acordar em sentido diverso ao da responsabilização estabelecida
em lei, mas o acordo só vale para as partes e não para o fisco.

Os débitos tributários e trabalhistas


gozam de proteção legal diferenciada
no trespasse devido aos direitos que
salvaguardam.

O trespasse na recuperação judicial e na falência


O trespasse do estabelecimento empresarial também tem
particularidades quando estamos diante de falência ou
recuperação judicial – que também pode ser extra judicial – de
uma empresa.

A falência é uma medida que se aplica à empresa para que ela


feche as portas e venda seus ativos (bens da empresa suscetíveis
a apreciação econômica) para o pagamento de credores; a
recuperação judicial, por sua vez, é um regime que permite o
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

pagamento diferido das dívidas de uma empresa, justamente


para superar uma crise financeira, saldar as suas dívidas e evitar
a falência.

Fonte: forestpath, Shutterstock, 2018.

A responsabilização do adquirente/sucessor pelas dívidas da


empresa não ocorrerá nos casos de falência ou recuperação
judicial da empresa. No primeiro caso, para estimular a aquisição
do estabelecimento da empresa e satisfação dos créditos dos
credores e, no segundo caso, para que se incentive a recuperação
da empresa sob nova, e talvez melhor, administração.

O adquirente não será responsável pelos créditos tributários


nem trabalhistas, segundo a posição ma joritária dos tribunais,
do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

É importante você lembrar que a não responsabilização dos


adquirentes não salvaguarda atos fraudulentos. Assim, se o
adquirente for sócio do devedor, parente, em linha reta ou
colateral até o quarto grau, consanguíneo ou afim, ou puder ser
identificado como seu representante, há presunção de má-fé no
trespasse, o que afasta o benefício da não responsabilização
(TOMAZETTE, 2017).

A não responsabilização do
adquirente da empresa, na falência
e na recuperação judicial, objetiva
estimular a continuidade da atividade
empresária.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Princípio da função social da


empresa e da preservação da
atividade empresarial

A partir daqui, vamos aprofundar os conhecimentos aprendidos


nas unidades anteriores quando abordamos a função social da
empresa, você se lembra? Assim, vamos começar nossos estudos
pela função social da propriedade, da qual vem a função social
da empresa, para depois aprender um pouco mais sobre ela e
acerca do princípio da preservação da atividade empresarial.
Vamos lá?

Função social da propriedade


Antes de analisar propriamente a função social da propriedade,
vamos primeiro definir os elementos que compõem o conceito
especificamente: função e social.

Embora a denominação função social seja muito utilizada,


tanto na doutrina como na prática do direito empresarial, a
definição do termo ainda é nebulosa, devido à grande gama de
interpretações possíveis acerca de seu significado.

Nos dicionários, a palavra função é definida, no sentido que mais


nos interessa, como obrigação a cumprir ou papel a desempenhar.
Já social pode ser entendido como relativo à sociedade humana
no contexto aqui abordado.

Assim, considerando o sentido das palavras que a compõem,


você pode entender a função social como uma obrigação ou
papel a desempenhar naquilo que se refere à sociedade humana.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Masson, Shutterstock, 2018.

Esse conceito é meio vago, concorda?

Pois é, a função social de qualquer ramo jurídico será sempre


o resultado da interpretação jurídica prevalente em um
determinado momento histórico sobre quais interesses, que se
julga da sociedade, deverão ser protegidos.

Dessa forma, para que você alcance o significado da função


social da propriedade, deve saber que a forma que o direito lhe
deu ao longo dos anos se modificou muito.

No entanto, qualquer que fosse a interpretação da função


social da propriedade, ela sempre foi pautada pela tentativa de
conciliação entre os interesses do proprietário e os interesses
coletivos, onde se encontra a função social.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Assim, a função social da propriedade privada não deve se


ocupar apenas dos direitos que o titular da propriedade tem,
mas também que a sua propriedade exerça a sua função social,
evitando o seu subaproveitamento ou não uso.

Um exemplo disso é a desapropriação de terras que não estão


sendo utilizadas por seus proprietários para a moradia de famílias
desabrigadas, como vemos nos jornais esporadicamente.

A função social da propriedade pode ser extraída do artigo 5o,


XXIII, e do artigo 170, III da Constituição Federal que dispõe:

Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:

[...]

XXIII - a propriedade atenderá a sua função


social;

Art. 170. A ordem econômica, fundada na


valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:

III - função social da propriedade;

Assim, note que a função social da propriedade deve ser


aplicada no caso concreto a partir da comparação entre os
valores jurídicos, como propriedade privada e direito à moradia,
no caso da desapropriação de terras para que cumpram sua
função social, por exemplo. Dessa forma, na comparação entre
institutos legais, podemos verificar se determinada propriedade
atende à sua função social.

Como você deve imaginar, o instituto da função social da


propriedade tem reflexo em diversos ramos do direito, desde
o direito ambiental até o direito do consumidor, tendo grande
importância também para o direito empresarial, pois tem
relação direta com a função social da empresa, como veremos
no próximo tópico.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A função social da propriedade é um


conceito amplo, mas sua incidência
sempre se dará da comparação entre
interesses particulares e coletivos.

Função social da empresa


A função social da empresa se relaciona com a da propriedade
privada porque a empresa é também propriedade privada,
apesar de ter funções diversas de outros tipos de propriedade.

Como você já viu em unidades anteriores e deve se lembrar,


as empresas são instituições voltadas para o exercício de
atividade econômica organizada, produzindo riqueza por
meio da circulação e/ou produção de bens e/ou serviços. Essa
riqueza sem dúvida beneficia os empresários e os sócios das
empresas, mas também àqueles que estão envolvidos direta e
indiretamente com a empresa, como empregados, fornecedores
(e seus empregados que têm trabalho), os clientes, que podem
ser consumidores ou outras empresas, o mercado, que ganha
com a concorrência de diversas empresas e com a complexidade
dos diversos bens e serviços que o compõem, o Estado, com
impostos, a região em que a empresa atua com os benefícios
decorrentes da circulação de riquezas, além de muitos outros
benefícios que deixam claro que a empresa exerce uma função
importante na sociedade e não somente para os sócios ou
empresários.

Assim, você pode observar que a empresa atua para produzir


lucro e dividendos para os seus sócios e ainda gera empregos,
paga impostos, oferece serviços, etc. E é nesses aspectos de sua
atuação que encontramos sua função social.

Além disso, assim como a função social da propriedade privada,


na qual a função social da empresa tem as suas raízes, a proteção
dos interesses coletivos na atuação da empresa está em diversos
ramos do direito, como no direito ambiental.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A função social da empresa é protegida por diversos dispositivos


legais, que orientam a atuação da empresa para que ela cumpra
o seu papel social. Entre esses dispositivos, o mais importante
para nosso objeto de estudo é o artigo 47 da Lei de Falências,
n. 11.101/2005, que dispõe sobre a recuperação judicial e o seu
papel na efetivação do princípio da preservação da empresa
para que ela desempenhe a sua função social. Veja a imagem a
seguir, que ilustra a relação entre recuperação judicial, o princípio
da preservação da empresa e a função social da empresa
estabelecida no artigo 47 da lei de falências:

Função social
da empresa
Princípio da preservação
da empresa
Recuperação
judicial

O princípio da preservação da empresa é consequência da sua


função social, como você vai ver no próximo tópico, e esses
temas estão presentes na lei de recuperação judicial, que você
vai ver com mais detalhes no último ponto de nossos estudos.

A empresa não funciona apenas como


instrumento de lucro para os sócios,
afinal, realiza importantes funções
sociais, como a geração de emprego.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Princípio da preservação da empresa


Como vimos no tópico anterior, o princípio da preservação da
empresa se origina da sua função social, que, embora não se
esgote naquele princípio, é a sua razão.

Assim, é preciso preservar a atividade empresária, como


representado na figura a seguir, tendo em vista os benefícios
que ela traz para a coletividade, a judando a realizar a função
social da empresa.

Fonte: mamagio, Shutterstock, 2018.

Nesse sentido, o princípio da preservação da empresa determina


a continuidade das atividades de produção de riquezas
como algo a ser protegido, já que a extinção da empresa não
prejudicaria apenas empresários ou sócios, mas todos aqueles
que com ela se relacionam, direta ou indiretamente, como
trabalhadores, fornecedores, consumidores e o Estado Assim,
você pode perceber como o princípio da preservação das
empresas é fundamental para a realização da função social
destas porque procura garantir a continuidade da geração de
riquezas inerente à atividade empresarial.

O princípio da preservação das


empresas é uma das muitas criações
jurídicas para garantir a função social,
nesse caso, das empresas.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O mecanismo para preservação das


empresas e noções de liquidação
das empresas

Em nosso último tópico, você vai aprender um pouco sobre o


mecanismo de preservação das empresas, que consiste na
recuperação judicial. Você vai descobrir ainda como ocorre
a dissolução das empresas, que nos dará os subsídios para a
análise de sua liquidação.

Do mecanismo de preservação das empresas


Você já deve ter deduzido, pelo caminho que percorremos até
aqui, que o mecanismo de efetivação do princípio da preservação
das empresas é a recuperação judicial.

A partir da definição mais superficial que fizemos no primeiro


tópico, a recuperação judicial pode ser entendida como a
faculdade dada aos devedores que se enquadram no conceito
de empresário ou sociedade empresária que possibilita a
reorganização da empresa a fim de evitar a sua extinção. Isto
é feito por meio de facilidades concedidas pela lei, como a
postergação do pagamento das dívidas e sua redução, além de
outras vantagens, desde que tenham sido aprovadas no plano
de recuperação judicial.

Em outras palavras, podemos entender que a recuperação judicial


é o mecanismo de preservação da atividade empresária, cuja
opção é facultada ao devedor empresário, ou sócio de sociedade
empresária, e que lhes confere uma série de benefícios para que
possam reorganizar a sua atividade e saldar as dívidas com os
seus credores, evitando, assim, a falência e descontinuidade de
seus negócios.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Shutterstock, 2018.

A recuperação judicial está regrada no artigo 47 da Lei n. 11.101,


que diz:

[...] recuperação judicial tem por objetivo


viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de
permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses
dos credores, promovendo, assim, a preservação
da empresa, sua função social e o estímulo à
atividade econômica.

Assim, como já mencionamos anteriormente, fica claro que a


recuperação judicial busca a preservação da empresa para que
ela realize a sua função social, certo?

Podemos definir os objetivos e os princípios fundamentais da


recuperação judicial segundo o esquema a seguir:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Recuperação judicial

Objetivos

1 º: manter a fonte produtora


2º: manter o emprego dos trabalhadores
3° atender ao interesse dos credores

Princípios fundamentais

- Princípio da preservação da empresa


- Princípio da função social da empresa

Fonte: Adaptado de MAMEDE, 2013, p. 436.

Mas atenção: quanto ao objetivo de manutenção da fonte


produtora, este se dá em relação à empresa e não na pessoa do
empresário ou do sócio. O instituto da recuperação judicial tem o
objetivo de salvaguardar a empresa e não o devedor empresário
em si.

Apesar de não podermos abordar mais profundamente a


recuperação judicial, já que ela é objeto do direito falimentar
que se encontra fora do nosso foco de estudos neste momento,
devemos destacar que existem diversos requisitos a serem
preenchidos para que se possa requerer a recuperação judicial
de uma empresa.

Vejamos o esquema a seguir, que ilustra adequadamente


os elementos necessários para que se realize a opção pela
recuperação judicial:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

- Inscrição regular
- Exercício regular da
Ser empresário atividade há mais de
dois anos

Requisitos para optar pela - Recuperação judicial há


recuperação judicial Não ter obtido
menos de 5 anos

Não ter sido condenado - O empresário


em crime previsto na - O administrador societário
Lei n. 11.1O1/2005 - O sócio controlador

Fonte: Adaptado de MAMEDE, 2013, p. 436.

Além disso, com a intenção de proteger os direitos de terceiros


que queiram celebrar negócios jurídicos com a empresa ou
sociedade em recuperação judicial, esta deve ser averbada nos
registros da empresa e o nome da empresa/sociedade deve ser
seguido da expressão “em recuperação judicial”.

Tendo em vista tudo o que foi dito em relação à recuperação


judicial, você pôde entender como ela funciona? Lembre-se de
que se trata de um instrumento fundamental para a preservação
da empresa e da consecução de sua função social.

Os objetivos da recuperação judicial


nada mais são do que o reflexo dos
vários aspectos da função social que
ela procura garantir.

Aspectos gerais da dissolução das empresas


A dissolução lato sensu é como denominamos o processo de
encerramento da sociedade/empresa que objetiva a extinção
de sua pessoa jurídica e pode ser dividida em dissolução stricto
sensu, liquidação e extinção.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A dissolução stricto sensu é representada pelos fatos que deram


origem ao processo de dissolução da sociedade, alterando seu
objetivo de realizar o objeto social e auferir lucros para o acerto
de sua situação patrimonial e divisão dos bens entre os sócios.

Esse elemento da dissolução da sociedade está previsto nos


artigos 1.033 e 1.034, nos quais são mencionadas as diversas
causas de dissolução da empresa que podem ser divididas
– embora essa divisão não seja unânime na doutrina – em
dissolução de pleno direito, como no caso da expiração do
prazo contratual da sociedade, dissolução judicial, que ocorre
quando a anulação do processo de constituição da sociedade,
por exemplo, e dissolução consensual, que tem como exemplo a
situação em que os sócios resolvem extinguir a sociedade.

É importante você lembrar que no momento da dissolução stricto


sensu ainda existe a pessoa jurídica, mas esta deve praticar
exclusivamente atos para a consecução de seu novo objetivo, e
o instrumento ou sentença de dissolução deve ser averbado no
registro da empresa. Além disso, o nome da empresa/sociedade
em dissolução deve estar acompanhado, ao final, da expressão
em liquidação, para a proteção de terceiros que venham a
negociar com a empresa.

O próximo passo para a dissolução lato sensu da sociedade é


a liquidação, que será abordada no subtópico seguinte, mas
podemos defini-la superficialmente como uma série de ações
que buscam apurar o patrimônio da sociedade para, se possível,
dividi-lo entre os sócios.

Por fim, temos a extinção, na qual se dá efetivamente a finalização


da personalidade jurídica e será o ponto em que normalmente
se extingue o processo de dissolução lato sensu das sociedades.

A dissolução das sociedades pode


ser resultado de decisões judiciais,
resoluções de pleno direito ou
consenso entre os sócios.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Da liquidação das empresas


A liquidação das empresas é uma das etapas da dissolução
lato sensu das sociedades/empresas e consiste na apuração do
ativo da empresa (bens que a empresa tem) e de seu passivo,
pagamento do passivo (dívidas da empresa) e partilha do
eventual saldo entre os sócios da empresa.

Fonte: Gitanna, Shutterstock, 2018.

Nessa fase, a sociedade/empresa, personalidade jurídica, ainda


existe, mas apenas para realizar os processos relacionados
à liquidação; ela não deve realizar novos negócios, o que
fica evidente para terceiros pelo termo em liquidação que
acompanhará o seu nome.

A liquidação pode ser amigável, feita espontaneamente sem a


intervenção judicial, ou judicial, e não guarda correspondência
com o tipo de dissolução, stricto sensu, da sociedade. Assim,
podemos ter uma dissolução judicial com uma liquidação
amigável, por exemplo.

O Código Civil prevê a liquidação nos artigos 1.102 a 1.112, nos


quais deixa clara a importância do liquidante que, escolhido
pelos sócios ou pelo juiz, deve realizar as etapas da liquidação.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Assim, em um primeiro momento, o liquidante levanta o


patrimônio da empresa, realizando diversos procedimentos para
que possa inventariar todos os bens da empresa.

A seguir, o liquidante faz o pagamento dos credores da empresa,


podendo inclusive vender bens da sociedade caso seja necessário
para o pagamento das dívidas.

Em outro momento, o liquidante realiza a partilha do saldo se


houver entre os sócios da sociedade e deve realizar o pagamento
de uma só vez, mas pode pagar de forma rateada caso a maioria
dos sócios prefira assim.

Finalizadas essas três etapas, o liquidante deve convocar uma


assembleia geral dos sócios para a prestação final de contas
(final porque o liquidante tem o dever de prestar contas aos
sócios da empresa durante todo o processo de liquidação), que,
se aprovadas, constarão da ata da reunião da assembleia, que
será averbada no registro da empresa levando a sua extinção,
como determina o artigo 1.109 do Código Civil.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A liquidação das sociedades se


desenvolve por meio do liquidante que
realizará todas as etapas necessárias à
finalização de seu processo.

Assim, chegamos ao fim de mais uma unidade, em que


aprendemos sobre o trespasse, a função social da empresa e a
sua dissolução com foco em uma de suas etapas, a liquidação.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Desconsideração da personalidade
jurídica e constituições das
sociedades contratuais

Introdução

Seja bem-vindo(a) à unidade 12 da nossa disciplina!

A partir de agora, você vai estudar a desconsideração da


personalidade jurídica e aspectos relacionados à constituição
das sociedades contratuais.

Se uma empresa tem um débito e não consegue quitá-lo, o


patrimônio do sócio pode ser utilizado para o pagamento, ainda
que ele se oponha? Nesta unidade, você vai aprender a distinguir
essas situações para responder com tranquilidade a questões
como esta.

Esta unidade vai servir para que você possa identificar


claramente os aspectos da separação patrimonial entre pessoa
jurídica e pessoa física, e também para poder identificar espécies
societárias e analisar requisitos da responsabilidade civil.

Vamos nessa?
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Desconsideração da personalidade
jurídica à luz do Código Civil
brasileiro

Apesar de a separação patrimonial entre pessoa jurídica e


pessoa física ser a regra utilizada pela legislação brasileira, existe
exceção. Neste tópico, você vai aprender sobre ela, assim como
sobre os requisitos para que ocorra, conforme as disposições do
Código Civil.

Razões para a desconsideração da


personalidade jurídica
A personalidade jurídica é um elemento robusto, uma verdadeira
barreira que divide o patrimônio da sociedade empresária do
patrimônio de cada um dos sócios. Perceba que a existência
dessa barreira é fundamental para que as pessoas tenham
segurança para explorar a atividade econômica, pois, do
contrário, evitariam atuar como empresárias.

De plano, então, é possível imaginar que a quebra dessa


barreira é uma medida excepcional e que deve ser evitada. Isso
porque a desconsideração da personalidade jurídica faz com
que o patrimônio pessoal dos sócios possa ser utilizado para
o pagamento de dívidas da sociedade empresária. Em outras
palavras, significa que seu carro pode ser utilizado para pagar
alguma dívida da sua empresa, por exemplo. Por isso também
as hipóteses dessa quebra de barreira devem ser bem claras na
legislação – só que isto é assunto para o tópico seguinte (12.2). A
figura a seguir simboliza a análise de possível fraude à legislação.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Tashatuvango, Shutterstock, 2018.

A desconsideração da personalidade jurídica depende de situações


graves. Mas você consegue imaginar quais são essas situações?
A fraude à legislação, em sentido amplo, é o objeto a ser punido
pelo sistema, como o uso das leis para enganar credores e gerar
enriquecimento indevido, por exemplo. Nesses casos, para evitar
que a barreira do sistema seja utilizada para proteção de condutas
ilícitas (ou seja, contra a lei), foi instituída uma ferramenta específica:
a desconsideração da personalidade jurídica.

Portanto, verificamos que a desconsideração da personalidade


jurídica é um instrumento criado pela legislação para combater
eventuais abusos, hipóteses nas quais é possível alcançar o
patrimônio pessoal dos sócios para a satisfação de credores de
qualquer natureza.

A proteção patrimonial pode ser


rompida quando a sociedade
empresária violar a legislação e a
boa-fé que se espera que mantenha
constantemente.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A desconsideração da personalidade
jurídica no Código Civil
A desconsideração da personalidade jurídica, mecanismo
excepcional como mencionado, está prevista no artigo 50 do
Código Civil de 2002. É necessário conhecer o seu conteúdo:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade


jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade,
ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir,
a requerimento da parte, ou do Ministério Público
quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares
dos administradores ou sócios da pessoa jurídica
(CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO, 2002).

Então, para que possa haver a quebra da barreira que separa o


patrimônio da pessoa jurídica do patrimônio da pessoa física dos
sócios, é preciso um abuso. Mas qual espécie de abuso você acha
que pode gerar essa consequência? Um abuso que se caracteriza
pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. Você sabe
o que significam essas expressões? É importante se familiarizar
com elas, porque são os termos utilizados pela legislação.

O desvio de finalidade é uso da sociedade empresária de uma


forma divorciada do que se espera. Nesse sentido, como você
já viu em unidades anteriores, toda empresa deve exercer uma
função social, ou seja, ela não serve apenas para gerar lucro aos
sócios-proprietários, independentemente de qualquer coisa. Ela
deve, também, valorizar o trabalho humano e prezar pela livre
concorrência, conforme determina o artigo 170 da Constituição.

Agora, imagine uma empresa que comercializa produtos piratas


ou que destrói o meio ambiente, em completo desrespeito das
normas ambientais. Pense em uma empresa que lança toneladas
de poluentes em um rio que abastece determinado município,
sem nenhuma preocupação com a população que ali reside.
Nesse caso, você acha justo que a separação do patrimônio
da pessoa física dos sócios possa evitar que eles paguem
pelo prejuízo causado, caso o patrimônio da empresa não seja
suficiente? Os legisladores brasileiros acharam que isto não era
justo, e por isso permitiram a desconsideração da personalidade
jurídica nesse caso, como se retrata na figura a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte:Andrey_Popov, Shutterstock, 2018.

Já a confusão patrimonial ocorre quando o sócio mistura o


patrimônio e as contas dele com as da empresa. Isto acontece
quando não podemos identificar a diferença entre a movimentação
financeira da pessoa jurídica e da pessoa física dos sócios, ou seja,
quando há uma verdadeira confusão. Por exemplo: contas de água
da residência dos sócios sendo pagas com o dinheiro do caixa
da empresa, prestação do veículo da empresa sendo debitada na
conta corrente de um dos sócios, etc.

Você sabe quem pode determinar a desconsideração da


personalidade jurídica? Veja que, em qualquer caso, a
desconsideração da personalidade jurídica depende de uma
decisão judicial, que pode ser pedida em um processo a juizado
por qualquer interessado (como um credor, por exemplo) ou pelo
Ministério Público.

Duas ocorrências geram a


desconsideração da personalidade
jurídica: desvio de finalidade ou
confusão patrimonial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Casos de desconsideração da
personalidade jurídica
O estudo de alguns casos práticos de desconsideração da
personalidade jurídica é fundamental para que você possa
compreender completamente o seu conteúdo. Por isso você vai
conhecer duas situações para poder analisar o alcance do artigo
50 do Código Civil (que você conheceu no tópico anterior).

No primeiro deles, imagine que três pessoas uniram esforços


para cometer algumas fraudes em determinado município
brasileiro. O que eles pretendem é o seguinte: vão vender
equipamentos usados de informática como se fossem novos.
Os três sabem que a maior parte desses equipamentos sequer
funciona, mas, como vão cobrar preços muito baixos e vender
pela internet, já vão ter lucrado o suficiente quando os primeiros
processos forem a juizados. Nesse caso, qualquer consumidor
prejudicado pode processar a sociedade empresária para
obter reembolso do que pagou, mais indenização por eventuais
perdas e danos, e o limite patrimonial da empresa não será um
obstáculo para o recebimento caso fique provado o desvio de
finalidade da empresa. Também, nesse caso, o Ministério Público
pode processar os três sócios e pedir a desconsideração da
personalidade jurídica. A figura a seguir aborda o ritual de uma
ação jurídica.

Fonte: SlavkoSereda, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Mas e quando uma empresa para de atuar sem providenciar


a devida baixa na Junta Comercial? Será este um motivo para
a desconsideração da personalidade jurídica? Para o Superior
Tribunal de Justiça, não. Em qualquer caso, a desconsideração da
personalidade jurídica só pode ser determinada, como medida
excepcional, quando ficar provada a má-fé dos sócios (conforme
decisão do Recurso Especial 1.306.553-SC).

A interpretação da Justiça, como você pode ver, é razoável e


busca evitar o excesso de rigor da legislação.

O bom senso deve pautar a


interpretação da legislação. Não
é qualquer ato de inadimplência
que gera a desconsideração da
personalidade jurídica.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Aspectos legais da personalidade


da pessoa jurídica

Você sabe qual é a diferença entre pessoa jurídica e pessoa física?


Quando uma pessoa constitui uma sociedade empresária, ela
deixa de ser pessoa física e passa a ser pessoa jurídica? Essas
questões motivam o desenvolvimento deste tópico, que vai falar
sobre a distinção entre pessoas físicas e jurídicas e também
sobre a responsabilidade civil das últimas.

A distinção entre pessoa física e pessoa jurídica


Você já deve ter ouvido a seguinte pergunta: se uma pessoa
“abre” uma empresa, deixa de ser pessoa física e passa a ser
pessoa jurídica? A resposta, evidentemente, é não. Mas por quê?
É indispensável conhecer a distinção entre pessoas físicas e
jurídicas para não ter dúvida sobre a questão.

Pessoa física é expressão sinônima de pessoa humana, condição


que ninguém perde, exceto pela morte. Já pessoa jurídica é uma
ficção do Direito, isto é, uma criação que viabiliza o exercício de
direitos e deveres pela empresa.

A pessoa física, então, pode ser titular de uma ou mais pessoas


jurídicas, mas nunca deixará de ser pessoa física. A pessoa
jurídica é criada para viabilizar a exploração da atividade
econômica, a exemplo do ilustrado na figura a seguir, e está no
centro do Direito Empresarial, que é o ramo do Direito que regula
as relações das empresas.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: tommistock, Shutterstock, 2018.

Mas por que pessoas físicas com interesse na exploração da


atividade econômica devem constituir uma pessoa jurídica? Por
que simplesmente não iniciam as atividades em nome próprio
e sem nenhum registro? Por várias razões, mas a principal delas
é a determinação do sistema legal brasileiro, que considera
irregular a empresa exercida sem o devido registro.

Na verdade, a ausência do registro gera a sonegação tributária,


além da falta de segurança a credores. Para evitar situações
como essas, a legislação impõe o registro, sob pena de multa.
Portanto, engana-se quem crê que a ausência de registro vai
isentar a sociedade da tributação, pois, além do pagamento
de todos os tributos (devidos pelas sociedades regularmente
registradas), vai haver incidência de multas, juros e correção
monetária. E pior: pode haver a configuração de crimes, que
serão processados perante a Justiça.

A pessoa física nunca perde essa


condição, exceto com a morte. O fato
de integrar uma pessoa jurídica não lhe
retira a condição primária.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A pessoa jurídica como sujeito


de direitos e obrigações
Como uma ficção do Direito, a pessoa jurídica constitui um
sujeito de direitos e de obrigações. Ela permite a obtenção de
créditos, a contratação por particulares e pelo Poder Público,
assim como gera o dever de pagar tributos, direitos trabalhistas,
entre inúmeras outras obrigações.

Veja que os direitos e as obrigações da pessoa jurídica são


independentes e autônomos em relação aos direitos e obrigações
de cada um dos sócios. Assim, as dívidas contraídas pela
empresa devem ser pagas por ela e, em caso de inadimplência,
o patrimônio que será objeto de penhora (em processo judicial) é
apenas o da empresa. Você também pode encontrar a autonomia
das obrigações na formação do capital social, que ocorre a partir
de uma união de esforços dos sócios, que entregam parte do
patrimônio pessoal para viabilizar a constituição e o registro da
sociedade, conforme você estudou na unidade 8. A figura a seguir
ilustra a responsabilidade dos sócios que poderá comprometer
seu próprio patrimônio.

Fonte: Mathias Rosenthal, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Mas atenção: lembre-se de que o Código Civil brasileiro prevê


a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica
sempre que houver desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
Nesses casos, o patrimônio dos sócios poderá ser alcançado de
maneira excepcional, como você já estudou.

A pessoa jurídica, além da


personalidade própria e independente
da personalidade dos sócios, tem
direitos e obrigações privativas.

A responsabilidade da pessoa jurídica


Por conta dos direitos e das obrigações que alcançam a pessoa
jurídica, ela sem dúvida tem responsabilidade. Mas você sabe o
que isso significa em termos técnicos? Significa que ela responde
pelas obrigações que descumprir, sempre que o descumprimento
gerar prejuízo a alguém. A partir do momento em que uma
obrigação não é cumprida, surge a responsabilidade, que gera
a pessoa prejudicada pelo descumprimento do direito de ter
reparado o seu prejuízo.

Veja que a pessoa jurídica, nesse contexto, é responsável pelos


prejuízos que os seus prepostos (ou seja, pessoas contratadas
pela sociedade, como funcionários, representantes comerciais,
etc.) causem a terceiros, sejam estes diretamente vinculados a
ela por meio de contratos ou não. Por exemplo: se o funcionário de
uma empresa de funilaria bate o veículo de um cliente ao realizar
uma verificação de serviço, vai gerar o dever de indenizar, dever
que vai alcançar o cliente (que mantém contrato de reparo do
veículo) e eventuais terceiros sem relação com o contrato em
questão (como o proprietário de outro veículo envolvido no
acidente, por exemplo, como retratado na figura a seguir).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: loraks, Shutterstock, 2018.

Mas assim como a pessoa jurídica deve indenizar prejuízos


que gerar, também pode ser indenizada pelos que sofrer. Isto
alcança tanto os danos materiais como os danos morais. Por
exemplo: se uma pessoa publica uma notícia falsa na internet,
informando que determinada empresa vende produtos
falsificados e, por conta disso, a empresa sofre forte queda
nas suas vendas, o responsável pela notícia caluniosa vai ter
que indenizar a empresa pela queda nas vendas (o que se
calcula com base nas médias dos meses anteriores), bem como
pela lesão à imagem da empresa. Repare que a indenização
por danos materiais é o pagamento pela queda nas vendas,
enquanto a indenização por danos morais é o pagamento pela
agressão à imagem da empresa.

A pessoa jurídica tem responsabilidade,


isoladamente, por danos que causar a
terceiros.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Os efeitos e a autonomia patrimonial

Por conta da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, como


fica a questão dos débitos que ela eventualmente não consiga
pagar? Neste tópico, você vai aprender sobre o assunto, além
de estudar as consequências, inclusive judiciais, da insuficiência
do patrimônio da pessoa jurídica em relação aos débitos que
assumir. Vamos lá?

A autonomia patrimonial e os débitos


da pessoa jurídica
Com a constituição regular da pessoa jurídica surge a autonomia
patrimonial desta, elemento que incentiva a exploração da
atividade econômica por conta da segurança gerada aos sócios,
que sabem antecipadamente que seu patrimônio pessoal será
diferenciado do patrimônio empresarial.

Por causa dessa autonomia patrimonial, a pessoa jurídica pode


assumir obrigações em nome próprio, como financiamentos
bancários. Por exemplo: para adquirir um imóvel para
implantação de uma filial, a empresa vai contratar um
empréstimo com determinada instituição financeira. Nesse
caso, como garantia de pagamento, pode oferecer o imóvel no
qual funciona a sua sede. Mas e se houver inadimplemento?
Se não houve má-fé dos sócios, a instituição financeira vai
poder penhorar o imóvel da sede da empresa. Na sequência,
se persistir o inadimplemento, esse imóvel vai ser vendido em
juízo e o saldo utilizado para quitar o empréstimo. Por exemplo:
se o empréstimo foi de R$ 500.000,00 e a empresa ficou
inadimplente quando ainda restavam R$ 200.000,00 para
pagamento, a instituição financeira vai ficar com o valor que
resta para quitação da dívida e devolver o saldo, se houver,
para a empresa contratante. Isto ocorre quando o valor do
imóvel da sede, dado em garantia, supera o valor do débito.
Por exemplo: se o valor do débito é de R$ 200.000,00 e o valor
da venda do imóvel dado em garantia é de R$ 600.000,00, o
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

montante de R$ 400.000,00 vai ser entregue à empresa. Mas


e se o imóvel dado em garantia for vendido por quantia menor
do que o valor da dívida? Nesse caso, o processo de execução
vai continuar até que todo o débito seja quitado.

A pessoa jurídica é autônoma para


contrair empréstimos bancários, sendo
seu patrimônio suficiente para ser
utilizado como garantia.

A insuficiência do patrimônio da pessoa jurídica


para quitação dos seus débitos
Agora, temos um problema grave quando o patrimônio da
pessoa jurídica não basta para a quitação dos seus débitos,
ou seja, quando o passivo supera o ativo. E aí, o que acontece?
Nesse caso, a primeira situação que deve ser analisada é se há
possibilidade (real) de recuperação ou se o problema é insanável.

Existem empresas que mantêm considerável nível de


endividamento sem que isso comprometa suas atividades ou
sua responsabilidade quanto ao pagamento dos seus credores.
É o caso de empresas que administram valores relacionados
a vales-alimentação, por exemplo. Em um ou outro momento,
o passivo dessas empresas pode superar o ativo sem que isso
gere uma situação de falência.

Só que, em regra, espera-se que as empresas mantenham ativo


maior que o passivo. E, em caso contrário, algumas situações
podem surgir como alternativas ao pagamento dos credores. A
negociação administrativa, ou seja, sem a utilização do Poder
Judiciário, é o método preferencial, como sinalizado na figura a
seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Adam Gregor, Shutterstock, 2018.

Com a aprovação do Novo Código de Processo Civil se evidenciou


a necessidade de solução alternativa de conflitos, ou seja, de
solução que não passe pelo Poder Judiciário. Isso porque a
estrutura judiciária brasileira está sobrecarregada de processos,
que custam caro e demoram para terminar.

Mas você consegue imaginar por que não se dá preferência ao


processo judicial? Porque a solução consensual é melhor, já que
torna possível a pacificação social, que ocorre com mais facilidade
quando as próprias partes envolvidas no conflito resolvem as
pendências que criaram as situações de discordância. No caso
das empresas, quando resolvem os problemas que enfrentam
diretamente com os credores ou consumidores, possibilitam
novas negociações e a eliminação do conflito, o que mais
dificilmente ocorre quando a lide (ou seja, o conflito) permanece
judicializada.

Mas qual é a diferença entre conciliação e mediação? Ambas


contam com a presença de um terceiro que faz a intermediação
das partes em conflito. A primeira serve à solução de conflitos
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

mais simples, e a segunda à resolução de conflitos com maior


complexidade. Além disso, repare que, na mediação, o papel
do mediador é de mera indução de comportamentos, diferente
da conciliação, em que o conciliador adota perfil mais incisivo,
inclusive mediante a sugestão de soluções ao conflito.

Muitas vezes, porém, as partes não estão dispostas a celebrar


um acordo para encerrar um conflito, ou simplesmente não
conseguem chegar a um ponto comum. Isto é muito comum
quando a empresa passa por grave dificuldade financeira e
não tem condições de aceitar planos de pagamento dos seus
débitos, por mais facilitados que sejam.

É o patrimônio da pessoa jurídica


que é utilizado para a satisfação dos
débitos que não forem voluntária e
pontualmente pagos.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

As medidas judiciais diante da inadimplência da


pessoa jurídica
Em muitos casos não é possível obter uma solução administrativa
entre credores e devedores. Aí, caberá ao Poder Judiciário a
resolução do conflito, o que se faz mediante um processo judicial,
como ilustrado na figura a seguir.

Fonte: Lisa S., Shutterstock, 2018.

Especificamente com relação à insuficiência patrimonial da


pessoa jurídica, o credor pode optar por diferentes ações,
dependendo da qualidade do crédito que possua. Por exemplo:
se o credor tem um cheque, pode a juizar ação de execução, que
é a mais rápida entre as disponíveis. Por outro lado, se ele não
tem documentos claros, como um contrato, deve a juizar ação de
conhecimento, que é um processo destinado a provar, primeiro,
a existência do crédito e, somente na sequência, a execução do
valor devido.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Há também um modo eficaz de cobrança da pessoa jurídica


inadimplente: trata-se do pedido de falência (que é um
processo de cobrança da pessoa jurídica inadimplente). A
falência é uma medida excepcional, pois gera desemprego,
perda de arrecadação tributária e encerramento das atividades
empresariais, o que gera impacto na economia e na concorrência.
Esse pedido pode ser feito quando o devedor, sem motivo
justo, não paga na data de vencimento uma obrigação que é
líquida, que está materializada em um ou mais títulos executivos
protestados e que não supere 40 salários mínimos na data em
que o pedido de falência é apresentado (conforme prevê o
artigo 94, inciso I da Lei n. 11.101/2005). Obrigação líquida é que
já apresenta, de imediato, o seu valor. Veja que o prévio protesto
dos títulos que originam o débito é necessário, e também que
o valor deles, somado, supere 40 salários mínimos e que não
tenha sido apresentada relevante razão de direito que justifique
a inadimplência.

O pedido de falência também pode ser feito quando o devedor


que já está sendo processado por qualquer quantia líquida não
paga o débito, nem deposita o valor em uma conta judicial ou
nomeia bens à penhora (conforme prevê o artigo 94, inciso II
da Lei n. 11.101/2005). Perceba a importância de evitar processos
judiciais, pois, depois de instaurados, a ausência de pagamento
ou apresentação de bens para serem penhorados já pode dar
causa à abertura de um processo de falência.

Em resumo, as formas de cobrança judicial da pessoa jurídica


devedora são as seguintes:

Processo de execução Quando há título que permite a cobrança imediata.

Processo de conhecimento Quando há necessidade de constituir o título antes da execução.

Quando o débito supera 40 salários mínimos e não foi pago no


Processo de falência vencimento nem teve relevante razão de direito apresentada como
justificativa.

A inadimplência da pessoa jurídica gera


a possibilidade de processos judiciais.
Até mesmo a falência pode ser pedida
pelos credores da empresa devedora.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Constituições das sociedades


contratuais e classificação
das sociedades

Quais são as espécies de sociedades? Além da sociedade


anônima e da sociedade limitada, existe alguma outra? Neste
tópico, você vai descobrir quais são as espécies de sociedades,
distinguindo entre as contratuais e as não contratuais. Também
vai aprender sobre os requisitos à constituição das sociedades e
sobre a classificação destas.

As sociedades contratuais e não contratuais


As sociedades empresárias podem ser classificadas, quanto ao
regime de constituição, em contratuais e não contratuais (ou
institucionais). As primeiras são constituídas por meio de um
contrato social, enquanto as últimas são constituídas por meio de
um estatuto social (TEIXEIRA, 2015). A figura a seguir simboliza
um contrato social.

Fonte: Shutterstock, 2018.

Importante: a diferença entre as sociedades contratuais e não


contratuais não se resume ao modo de constituição. A forma de
dissolução delas também é diferente. As sociedades contratuais
não se dissolvem pela vontade da maioria dos sócios, pois se
assegura aos minoritários a continuidade da sociedade. Já
as sociedades não contratuais podem ser extintas mediante
deliberação da maioria (TEIXEIRA, 2015).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Você sabe qual a fonte das normas das sociedades contratuais e


das institucionais? O principal conjunto de regras que regem as
sociedades contratuais é o Código Civil. Já o principal conjunto
normativo das sociedades não contratuais é a Lei das Sociedades
por Ações (Lei n. 6.404/1976).

Mas, afinal, quais são as espécies de sociedades contratuais


e as de sociedades não contratuais? Em suma, as sociedades
contratuais e não contratuais podem ser assim esquematizadas:

Sociedade limitada

Sociedades Sociedade em nome coletivo

contratuais Sociedade em comandita simples

Sociedade em conta de participação

Sociedades não Sociedade anônima

contratuais Sociedade em comandita por ações

A diferença entre as sociedades


contratuais e as não contratuais está
no fato de que as primeiras utilizam
contratos sociais e as últimas estatutos.

Constituição das sociedades contratuais


A constituição das sociedades contratuais é feita por meio de
acordo de vontades, que se formaliza por meio de um contrato
social. Esse contrato deve ser registrado perante a Junta
Comercial. Cada estado tem a sua junta comercial, que tem
competência para todos os atos de registro empresarial.

O ato de registro que viabiliza a constituição das sociedades


contratuais é a inscrição. É por meio dela que a Junta Comercial
recebe o primeiro documento de uma sociedade. Esse contrato
deve preencher os requisitos estipulados pelo Código Civil, que
são os seguintes:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante con-


trato escrito, particular ou público, que, além de
cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e


residência dos sócios, se pessoas naturais, e a
firma ou a denominação, nacionalidade e sede
dos sócios, se jurídicas;

II - denominação, objeto, sede e prazo da


sociedade;

III - capital da sociedade, expresso em moeda


corrente, podendo compreender qualquer espé-
cie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o


modo de realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja


contribuição consista em serviços;

VI - as pessoas naturais incumbidas da adminis-


tração da sociedade, e seus poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e


nas perdas;

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiaria-


mente, pelas obrigações sociais.

Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros


qualquer pacto separado, contrário ao disposto
no instrumento do contrato.

Mas e se o contrato apresentado na junta comercial não


preencher os requisitos exigidos pelo Código Civil? Nesse caso,
será solicitada regularização aos interessados e o registro só vai
ser efetivado depois da correção de todos os problemas. A figura
a seguir representa a conferência de prazos na Junta Comercial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: arka38, Shutterstock, 2018.

Nesse contexto, é importante você saber que o prazo de registro


dos documentos da sociedade na junta comercial é de 30 dias.
Respeitado o prazo, a eficácia do ato vai ser retroativa à data de
elaboração do documento registrado. Perdido o prazo, o registro
vai ser feito da mesma maneira, mas a eficácia só vai ocorrer
depois da prática do ato registral, ou seja, não será retroativo à
data de elaboração do documento.

Você pode consultar um modelo de contrato social de constituição


de sociedade limitada no site da Jucesp Bauru, indicado ao final
desta unidade.

O contrato de constituição da
sociedade empresária deve preencher
os requisitos fixados pelo Código
Civil ou não será registrado pela junta
comercial.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Classificação das sociedades


Classificar é atribuir rótulo a um objetivo a partir de determinado
ponto de vista. Conforme muda o ponto de vista, muda a
classificação. Nesse contexto, você precisa ter em mente que
não há classificação correta ou incorreta, mas que cada uma
se presta a revelar determinadas características do objeto
observado. No caso, o objeto são as sociedades. Aqui, vamos
analisar as classificações: quanto ao ato constitutivo, em relação
à composição e quanto à responsabilidade dos sócios.

Ao analisar as sociedades em relação ao ato constitutivo, a


doutrina as classifica em contratuais e não contratuais (ou
institucionais). Você aprendeu sobre isso no tópico anterior, o
que dispensa repetição.

Já com relação à composição, as sociedades podem ser


classificadas em:

sociedade de pessoas: quando a ênfase do modelo societário reside nas pessoas que o integram
(TEIXEIRA, 2015);

sociedade de capital: quando a ênfase do modelo societário recai sobre o capital, ou seja, sobre
o dinheiro (TEIXEIRA, 2015), como ilustrado na figura a seguir.

Fonte: Catarina Belova, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

São exemplos de sociedades de pessoas a sociedade em


comandita simples e a sociedade em nome coletivo. Já a
sociedade anônima e a sociedade em comandita por ações
são exemplos de sociedades de capital. No caso da sociedade
limitada, ela pode ser de pessoas ou de capital, dependendo do
que o seu contrato social dispõe.

Outra classificação importante das sociedades se dá em relação


à responsabilidade dos sócios. Vejamos:

limitada: quando há separação entre o patrimônio da pessoa jurídica em relação ao da pessoa


física dos sócios (TEIXEIRA, 2015);

ilimitada: quando não há separação patrimonial entre pessoa jurídica e pessoa física dos sócios
(TEIXEIRA, 2015);

mista: quando há sócios com características de outras espécies (de responsabilidade limitada
e ilimitada).

Tanto nas sociedades limitadas como nas anônimas, a


responsabilidade dos sócios é limitada. Por isso, aliás, são as mais
utilizadas. Já na sociedade em nome coletivo a responsabilidade
dos sócios é ilimitada. No caso da sociedade em comandita
simples, a responsabilidade dos sócios é mista, pois alguns têm
responsabilidade limitada (os sócios comanditários) e outros
têm responsabilidade ilimitada (os sócios comanditados).

Em resumo, a classificação das sociedades pode ser assim


esquematizada:

Quanto ao ato Contratuais

constitutivo Não contratuais (institucionais)

Quanto à Sociedade de pessoas

composição Sociedade de capital

Limitada
Quanto à
responsabilidade Ilimitada
dos sócios
Mista
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Objeto das sociedades,


responsabilidade e qualidades
dos sócios

Quais sociedades podem ser consideradas empresárias? Existe


uma lista preestabelecida? Neste tópico, você vai analisar o
objeto das sociedades, assim como a qualidade dos sócios
e a responsabilidade destes, principalmente em relação às
obrigações que assumem por conta do vínculo societário.

Objeto das sociedades


Como você já estudou em unidades anteriores, as sociedades
podem ser empresárias e não empresárias. As primeiras têm
o exercício da empresa como objeto, ou seja, o exercício de
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação
de bens ou de serviços (artigo 966 do Código Civil). Por outro
lado, consideramos sociedade não empresária o exercício de
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
a exemplo do ilustrado na figura a seguir, ainda com o concurso
de auxiliares ou colaboradores, exceto quando o exercício dessas
profissões constituir elemento de empresa.

Fonte: Eugenio Marongiu, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

As sociedades empresárias são as que exercem atividade voltada


à obtenção de lucro. É por isso que até mesmo profissionais
intelectuais podem ter que registrar uma sociedade, sempre
que, durante a execução da atividade, for possível identificar a
combinação dos elementos de empresa.

Por exemplo: se três contabilistas dividem custos de um imóvel


para manter determinado escritório, integram uma sociedade
simples, isto é, não empresária. Por outro lado, quando há uma
estrutura mais complexa de profissionais e colaboradores, de
modo que seja possível identificar a organização da atividade
econômica, gerando a produção de serviços, o registro como
empresa vai ser necessário.

Note, então, que é o objeto que define se uma sociedade é


empresária ou não. Não existe uma lista de atividades na
legislação que te permita concluir pela necessidade ou não
do registro perante a junta comercial. Isto até já ocorreu na
legislação brasileira, quando estava em vigência o Código
Comercial, de 1850. Contudo, ele foi revogado pelo Código Civil
de 2002. Diferentemente do Código Comercial, que adotava
a teoria dos atos de comércio, o Código Civil adota a teoria
da empresa, que preza pela natureza do que é executado em
detrimento de uma lista padronizada. Isto permite que, com a
evolução da sociedade, novas atividades não fiquem à margem
da legislação, o que é muito importante, especialmente no atual
contexto de inovações tecnológicas.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O exercício de profissão intelectual não


elimina, por si só, o dever de registro
da sociedade como empresária, caso
presentes os requisitos legais.

Qualidade dos sócios


Os sócios integram e constituem a sociedade empresária. Suas
funções e qualidades estão definidas no contrato social de cada
empresa. Eles podem ser chamados de majoritários, quando
têm considerável quantidade de quotas do capital social, ou de
minoritários, quando a sua participação for menor em relação às
quotas sociais. A figura a seguir ilustra a composição de recursos
de uma sociedade.

Fonte: Miriam Doerr Martin Frommherz, Shutterstock, 2018.

Por exemplo: imagine uma sociedade com quatro sócios, em que


um tem 70% do capital social e cada um dos outros três tem 10%.
Nesse caso, você consegue identificar quais são os minoritários?
Os três sócios com quota equivalente a 10% do capital social
cada são minoritários.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A importância da participação dos sócios minoritários aumenta


à medida que o capital social que eles têm também se eleva.
Por exemplo: caso os sócios minoritários representem ao menos
um quinto do capital social, o Código Civil (artigo 1.066) lhes
assegura o direito de nomear um membro para o Conselho
Fiscal da sociedade limitada.

O contrato social também pode atribuir a um ou mais sócios


a qualidade de administrador. A forma e as características da
administração mudam de acordo com a sociedade. Em algumas,
a escolha pode ser feita de maneira mais simples; já em outras,
como a limitada, a escolha muda de acordo com a integralização,
total ou parcial, do capital social, como veremos mais adiante.

A responsabilidade do sócio administrador é enorme, conforme


você vai estudar no tópico seguinte.

Ainda com relação aos sócios, é importante você notar que eles
têm vários direitos, como a participação no resultado social, que
é proporcional às quotas de cada um. Lembre-se, porém, de que
esse resultado pode ser positivo (lucro) ou negativo (prejuízo). No
último caso, podem-se compensar as perdas de um determinado
período com os lucros dos períodos posteriores. Além disso, o
sócio que trabalha pela empresa tem direito ao recebimento do
pro labore, que pode ser comparado ao salário recebido por um
funcionário e que não se confunde, portanto, com a participação
nos resultados.

Além dos direitos relacionados a recebimentos, os sócios também


têm assegurada a possibilidade de fiscalizar a administração
da empresa e de contribuir para as deliberações sociais. Essas
possibilidades, quando bem exercidas, contribuem para o
sucesso da atividade empresarial.

Os sócios minoritários não ficam


completamente alheios à administração
da sociedade limitada, precisam estar
atentos às possibilidades dadas pela lei.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Responsabilidade dos sócios


Todos os sócios apresentam responsabilidade em relação à
sociedade empresária que integram. A primeira delas é a de
integralizar a sua parte do capital social, conforme tiver sido
acordado no contrato social.

Por meio da integralização, o sócio entrega o que prometeu


à sociedade, como simbolizado na figura a seguir, quando da
celebração do seu ato de constituição ou por ocasião de alguma
alteração do contrato social.

Fonte: Beto Chagas, Shutterstock, 2018.

No caso das sociedades limitadas, o artigo 1.052 do Código Civil


prevê que cada sócio tem a responsabilidade limitada ao valor
das suas quotas. No entanto, todos têm responsabilidade solidária
em relação à integralização do capital social. Solidariedade
significa que um sócio pode ser responsabilizado pela ausência
de integralização completa do capital social de outro. Significa
que, se a pessoa jurídica for cobrada judicialmente (por qualquer
credor, por exemplo), o sócio que integralizou completamente
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

sua quota pode ter que pagar pelo sócio que não cumpriu a
mesma obrigação. Mas isso não é injusto? De forma alguma: a
sociedade deve cumprir os compromissos assumidos com os
credores e a sociedade. Mas a legislação assegura o direito de
regresso (ou seja, de ressarcimento) ao sócio que pagou pela
integralização das quotas do outro.

A integralização do capital social, aliás, influencia até na nomeação


do administrador da sociedade empresária. Enquanto o capital
social não estiver totalmente integralizado, a designação de
administrador não sócio dependerá da aprovação unânime dos
sócios. Só que, se o capital social já estiver integralizado, o voto
de dois terços dos sócios é suficiente à eleição do administrador
(conforme artigo 1.061 do Código Civil).

A escolha do administrador não sócio, na sociedade limitada,


pode ser sintetizada do seguinte modo:

Designação de administrador não sócio – Sociedade limitada


Capital social Totalmente integralizado Parcialmente integralizado

Quórum Unanimidade dos sócios Dois terços dos sócios

No caso do sócio administrador, a responsabilidade que ele tem


é maior porque ele assina pela empresa e se aproxima, mais
do que os demais, das obrigações assumidas pela sociedade
empresária. Por essa razão é que o Código Tributário Nacional
prevê que:

Art. 135. São pessoalmente responsáveis


pelos créditos correspondentes a obrigações
tributárias resultantes de atos praticados com
excesso de poderes ou infração de lei, contrato
social ou estatutos:

[...]

III - os diretores, gerentes ou representantes de


pessoas jurídicas de direito privado.

Note, no entanto, que a responsabilidade pessoal depende da


comprovação da prática de atos com excesso de poderes ou
infração da lei ou contrato social.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Outra responsabilidade do administrador está relacionada à


prestação de contas aos demais sócios, prevista nos termos
do artigo 1.020 do Código Civil. Esse dispositivo legal também
obriga o administrador a apresentar inventário anual, assim
como balanço patrimonial e balanço de resultado econômico.

Os sócios têm responsabilidades entre


eles, como a de integralizar o capital
social, o que influencia até na escolha
do administrador não sócio.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Forma de constituição das


sociedades e sócio da sociedade
contratual

Como se constitui a sociedade empresária? Efetuado o registro,


é possível alterá-lo? Neste tópico, para finalizar nossa unidade,
você vai estudar a constituição das sociedades, assim como a
possibilidade e o meio adequado para sua alteração. Você vai
descobrir também quais são os requisitos da responsabilidade
civil em relação aos sócios. Preparado(a)? Vamos lá!

A constituição das sociedades


A constituição da sociedade empresária se dá por meio da
elaboração e posterior registro do contrato social, feito na junta
comercial, como você estudou. Você também conheceu os
requisitos do contrato social, que são estipulados pelo artigo 997
do Código Civil. Agora precisamos aprofundar o tema.

Para viabilizar a constituição de uma sociedade, é preciso


primeiro a comunhão de vontades entre as partes que desejam
se tornar sócias, ou seja, desejam explorar conjuntamente a
atividade econômica e dividir os resultados da empreitada,
sejam positivos ou negativos.

O local da exploração da atividade econômica também é


fundamental para a constituição das sociedades, além da
definição do seu objeto e a estipulação do nome empresarial,
como representado na figura a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: MarcinBalcerzak, Shutterstock, 2018.

Quando você estiver elaborando ou analisando um contrato


social, lembre-se de que o capital social e a participação de
cada sócio em relação à integralização e à divisão de quotas
são elementos que devem estar expressamente previstos. Do
contrário, a junta comercial poderá negar o registro.

No contrato social também deve ser prevista a participação de


cada sócio nos lucros e nas perdas, assim como a(s) pessoa(s)
incumbida(s) da administração, que pode(m) ser sócio(s) ou não
sócio(s), e os respectivos poderes.

O contrato social é o documento


de constituição da sociedade
empresária, que deve expressar clara
e detalhadamente todos os seus
requisitos.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Alterações do contrato social


Após o registro, a sociedade empresária inicia as suas atividades
regularmente e pode, a qualquer momento, fazer alterações
do seu contrato social. Você sabe qual o nome dessa operação
jurídica? Essas alterações são chamadas de averbações, cujas
regras básicas estão previstas no artigo 999 do Código Civil. Para
modificar qualquer assunto que constitua requisito do contrato
social (conforme você estudou no tópico 12.4.2), precisamos do
consentimento de todos os sócios.

Já as modificações de assuntos que não constituam o rol daqueles


requisitos, basta a maioria absoluta dos sócios (ou seja, a metade
mais um). Mas nada impede que o contrato social preveja que
todas as modificações devam ser objeto de concordância da
unanimidade dos sócios, o que aumenta o rigor que o próprio
Código Civil disciplinou como regra.

As formalidades previstas no artigo anterior (mencionadas pelo


parágrafo único do artigo 999) têm a ver com o respeito ao
prazo de 30 dias para registro. Se o documento for levado à
junta comercial nesse prazo, o registro vai ter eficácia retroativa
à data da sua produção. Do contrário, a eficácia só vai incidir
depois da efetivação do registro.

O prazo para que a alteração do contrato social possa ser


levada a registro e a consequência da sua obediência podem
ser sintetizados do seguinte modo:

Eficácia retroativa à data de elaboração do documento.

Por exemplo: admitido novo sócio com poder de administração em 10 de janeiro,


o contrato social alterado deve ser levado a registro em até 30 dias. Se isso
Registro em for feito, os documentos que ele tenha eventualmente assinado, na condição
de administrador, a partir de 11 de janeiro vão ter plena validade. Mas, se o
até 30 dias
prazo de 30 dias for perdido, esses documentos serão inválidos. Imagine que o
contrato tenha sido levado a registro em 15 de fevereiro (após os 30 dias) e que
a junta comercial o tenha efetivado em 15 de março. Nesse caso, o novo sócio
administrador só vai poder assinar documentos a partir de 15 de março, sendo
nulos os que ele eventualmente tenha assinado em data anterior.

Registro após
Efeitos jurídicos somente a partir da efetivação do registro pela junta comercial.
30 dias
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Por exemplo: se houver alteração da sede da empresa, vai haver a


necessidade de modificar o contrato social. Nesse caso, como essa
modificação é feita? Apaga-se o endereço anterior (do contrato
original) e insere-se a nova informação, ou o endereço novo
vai ser acrescentado sem prejuízo da manutenção do anterior,
como registro do histórico de mudanças? Por segurança jurídica,
insere-se o novo endereço no contrato, que fica atualizado, mas
não se apagam as redações anteriores, que ficam registradas e
são públicas.

A quantidade de sócios também pode ser alterada no curso da


existência empresarial. A retirada de um ou mais sócios ou a
mera substituição são frequentes e devem ser averbadas no
contrato social.

O capital social também pode ser alterado, para mais ou para


menos. Em qualquer caso, deve-se fazer a devida atualização da
divisão das quotas sociais por conta das modificações.

Até aqui, você pôde constatar que as relações entre os sócios da


sociedade são complexas, não é mesmo? Por isso, podem surgir
situações de responsabilidade sempre que ocorre prejuízo a
outro sócio ou à pessoa jurídica.

O contrato social pode ser alterado


por meio de averbação, mas o prazo
de 30 dias para registro deve ser
atentamente observado.

Os sócios da sociedade contratual e a


responsabilidade civil
A responsabilidade civil surge quando alguém descumpre
uma obrigação fixada por lei ou por contrato. Ela traz o dever
de indenizar em razão dos prejuízos gerados, que podem ser
materiais ou morais. Em qualquer caso, para que alguém tenha
que indenizar outra pessoa, três requisitos são fundamentais: a
culpa, o dano e o nexo de causalidade.

Culpa é conduta intencional (também chamada de dolo)


ou, ainda que sem intenção, mas caracterizada por ato de
negligência, imprudência ou imperícia. A negligência é a omissão.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A imprudência é o excesso (quando o motorista dirige a 80km/h


em via cuja velocidade máxima é de 50km/h, por exemplo). Já a
imperícia é a falta de conhecimento técnico.

As espécies de culpa podem ser assim sintetizadas:

Dolo (intenção)

Culpa Negligência

(em sentido amplo) Imprudência

Imperícia

Dano é o prejuízo em si, que deve ser real. Não se admite a


indenização sem a comprovação da ocorrência do dano e, mais
do que isso, da sua extensão, a exemplo do ilustrado na figura
a seguir. Isso porque é preciso quantificar o prejuízo para que a
indenização seja justa, ou seja, para que não gere enriquecimento
indevido nem ressarcimento insuficiente.

Fonte: Tatiana Belova, Shutterstock, 2018.

Além da prova da culpa e do dano, é preciso provar a relação


entre eles, ou seja, o nexo de causa que permita concluir que
o prejuízo ocorreu por conta da conduta culposa do agente.
Caso não seja possível ter certeza de que o prejuízo ocorreu em
virtude disso, a indenização não vai ser devida.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Por exemplo: imagine que o sócio administrador ficou incumbido


de levar a registro uma alteração do contrato social da empresa,
que aumentava o valor do capital social. A alteração é necessária
para permitir que a empresa participe de uma licitação, que
tem essa exigência. Contudo, o sócio perdeu o prazo de 30 dias,
que geraria a eficácia retroativa ao registro. Agora, a empresa
não vai poder participar da licitação, pois não preenche o
requisito exigido. Nesse caso, o sócio desidioso descumpriu uma
obrigação? Em caso positivo, pode ser obrigado a indenizar a
pessoa jurídica, que perdeu a chance de participar em licitação?
Em uma situação como essa, você deve analisar a situação com
atenção e com base em provas, mas a princípio podemos dizer
que existe responsabilidade do sócio que gerou a perda do prazo
e o consequente prejuízo, cabendo à empresa a juizar ação de
indenização.

Note que um sócio tem responsabilidade em relação ao outro, a


par da responsabilidade que a empresa tem perante terceiros.
Em todo caso, a legislação brasileira não pactua com a geração
de prejuízo sem a devida reparação, independentemente da
relação em que isto ocorra.

São três os requisitos da


responsabilidade civil: culpa, dano e
nexo de causalidade. Ausente algum
deles, não haverá o dever de indenizar.

Com isso, encerramos a presente unidade de aprendizagem,


que te forneceu conhecimentos de alta relevância para a sua
atividade profissional. Você aprendeu sobre a desconsideração
da personalidade jurídica e sobre a constituição das sociedades
empresárias, noções que garantem um trabalho de qualidade e
evitam problemas.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedades contratuais:
fundamentos e classificação

Introdução

Seja bem-vindo(a) à unidade 13, em que vamos apresentar a


você assuntos muito importantes sobre as sociedades e sobre
personalidade jurídica!

A partir de agora, você vai estudar as sociedades contratuais


menores, isto é, a sociedade em comandita simples, a sociedade
em nome coletivo e a sociedade em conta de participação. Você
já viu alguma delas sendo utilizada?

Nesta unidade, também vamos estudar aspectos relevantes


sobre a personalidade jurídica. Você acha possível que uma
empresa explore atividades econômicas sem ser considerada
uma pessoa jurídica? Agora você vai aprender detalhes sobre
essa situação.

Esta unidade serve, portanto, para que você possa identificar


claramente quais são as sociedades contratuais menores e suas
características, e também vamos identificar as sociedades sem
personalidade jurídica.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Aspectos gerais das sociedades


contratuais menores

Neste tópico, você vai estudar aspectos gerais das sociedades


contratuais menores. Vamos aprender seus conceitos e espécies,
além de identificar os requisitos dos respectivos contratos sociais
e a possibilidade de quebra dessas sociedades. Pronto(a) para
começar?

Conceito e espécies
Sociedades contratuais menores são aquelas pouco utilizadas
no cotidiano empresarial brasileiro, especialmente porque
nenhuma delas oferece a proteção patrimonial que se encontra
na sociedade limitada, que separa e limita a responsabilidade
da pessoa jurídica em relação à pessoa física dos sócios. Isto
significa que o patrimônio da empresa e dos seres humanos
que a integram são claramente separados. Todas as vantagens
e desvantagens precisam ser amplamente discutidas entre os
sócios, a exemplo do que se retrata na figura a seguir.

Fonte: Phovoir, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Já nas sociedades contratuais menores, todos ou alguns tipos


de sócios têm responsabilidade ilimitada, o que inibe o uso
dessas modalidades societárias diante do risco. A exploração da
atividade econômica mediante a limitação da responsabilidade
já é arriscada, especialmente por conta da existência do incidente
da desconsideração da personalidade jurídica, mas esse risco
cresce consideravelmente quando perdemos a barreira de
separação patrimonial, que é exatamente o que verificamos nas
sociedades contratuais menores.

Mas, afinal, quais são as sociedades contratuais menores? São


três:

Sociedade em nome coletivo


Sociedades contratuais
Sociedade em comandita simples
menores
Sociedade em conta de participação

Você vai estudar detalhes de cada uma delas durante o desen-


volvimento desta unidade de aprendizagem. Neste momento,
vamos ter contato com generalidades sobre as espécies, ok?

A sociedade em conta de participação é diferente da sociedade em


nome coletivo e da sociedade em comandita simples em relação
à personalidade jurídica. Uma vez constituídas as primeiras,
temos uma pessoa jurídica. Já a constituição da sociedade em
conta de participação não gera uma pessoa jurídica, cabendo
a um ou mais sócios (os ostensivos) a representação e, em
consequência, a responsabilidade por todos os atos praticados.

Das três sociedades contratuais


menores, uma não tem personalidade
jurídica: a sociedade em conta de
participação.

Quebra das sociedades contratuais menores


Qualquer sociedade empresária pode quebrar, ou seja, pode
ver os débitos superarem os créditos de modo que não seja
possível recuperar a atividade empresarial. A figura a seguir
representa um empresário possivelmente na quebra de uma
sociedade empresária.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Minerva Studio, Shutterstock, 2018.

No caso da sociedade em conta de participação, o Código


Civil considera patrimônio especial a contribuição dos sócios
(ostensivos e participantes, que você vai estudar nos próximos
tópicos), mas com validade apenas entre eles. Por ter a natureza
próxima a de um contrato, exige-se, como um dos atos de
encerramento da sociedade em conta de participação, o dever
de prestação de contas pelo sócio ostensivo, que é o responsável
pela administração.

Note que tanto a sociedade em nome coletivo quanto a sociedade


em comandita simples podem falir. Em ambos os casos, o processo
de falência segue as exigências da Lei n. 11.101/2005, que é a lei
geral de falências e recuperação judicial e extra judicial.

A falência é o processo judicial que


determina o encerramento da pessoa
jurídica e se aplica a várias sociedades.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O contrato social das sociedades contratuais


menores
A sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita
simples e a sociedade em conta de participação são espécies
que integram o gênero sociedades contratuais menores. Entre
elas há semelhanças e diferenças em relação ao respectivo
modo de constituição, que se dá por meio de um contrato social.

O contrato social da sociedade em nome coletivo e o da


sociedade em comandita simples devem apresentar cláusulas
que contêm os requisitos que já estudamos anteriormente, como
a qualificação dos sócios, o capital da sociedade, a denominação,
etc., como ilustrado na figura a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Shutterstock, 2018.

No caso da sociedade em nome coletivo, o Código Civil ainda


determina expressamente que se indique a firma social (que é
o nome empresarial adotado para essa espécie de sociedade),
indicação que, por força do artigo 1.046 do Código Civil, também
se aplica à sociedade em nome coletivo.

No caso da sociedade em conta de participação não temos a


mesma exigência para o contrato social. O Código Civil, aliás,
concedeu ampla liberdade em relação à forma de constituição
dessa modalidade societária ao prever que ela não depende de
qualquer formalidade e pode ser provada por todos os meios
admitidos em direito (como testemunhas, documentos, etc.).

Admite-se, então, que a sociedade em conta de participação


(que, conforme você vai estudar mais adiante, é uma sociedade
na qual apenas uma categoria de sócio assume, de forma
ilimitada, a responsabilidade pelas atividades da empresa) seja
constituída de modo verbal? A resposta é positiva, mas devemos
estar atentos aos riscos de uma operação dessa natureza.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Imagine criar uma sociedade na qual um dos sócios assume


responsabilidade ilimitada e outro não, sem documentar com
detalhes os termos do objeto que vai ser executado. O risco é
alto demais e deve ser evitado.

Por segurança, portanto, é importante documentar o contrato


social da sociedade em conta de participação, ou seja, fazê-lo por
escrito. Nele devem ser especificadas todas as peculiaridades
da sociedade, valores investidos, forma de divisão dos lucros,
tempo de validade da contratação caso ela seja feita por prazo
determinado, entre outras.

Podemos utilizar os requisitos do contrato social da sociedade


em nome coletivo e da sociedade em comandita simples à
sociedade em conta de participação? Sim, com as adaptações
necessárias em virtude das características que você vai estudar
ao longo desta unidade. Por exemplo: de nada adianta registrar
o contrato social da sociedade em conta de participação, pois
ela nunca vai adquirir personalidade jurídica.

As sociedades contratuais menores


devem ter seus contratos sociais
registrados na junta comercial, exceto a
sociedade em conta de participação.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedades em nome coletivo e


sociedades em comandita simples

Neste tópico, você vai analisar as características da sociedade


em nome coletivo e da sociedade em comandita simples. Por
conta das peculiaridades dos sócios da sociedade em comandita
simples, você vai estudá-la em um subtópico à parte. Vamos lá!

Sociedade em nome coletivo


A sociedade em nome coletivo só pode ser formada por pessoas
físicas, todos com responsabilidade solidária e ilimitada em
relação às obrigações da sociedade. É disciplinada pelos
artigos 1.039 a 1.044 do Código Civil, e a ela também são
aplicáveis as disposições da sociedade simples (previstas nos
artigos 997 a 1.038).

O contrato social da sociedade em nome coletivo deve ser


elaborado obedecendo aos requisitos previstos no artigo
997 do Código Civil. Além deles, devemos mencionar a firma
social (que é o nome empresarial adotado para essa espécie
de sociedade). Esse contrato deve ser levado a registro na
junta comercial do estado em que a sociedade estiver sendo
constituída.

A sociedade em nome coletivo pode ser constituída para


exploração de atividades comerciais, industriais ou para a
prestação de serviços, como demonstrado na figura a seguir.
Pode ser adotada, por exemplo, por três pessoas que desejem
iniciar a prestação de serviços de manutenção em aparelhos de
ar-condicionado.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.

Uma peculiaridade da sociedade em nome coletivo é que ela


viabiliza que a participação dos sócios, para a integralização do
capital social, não seja feita somente com dinheiro ou bens, mas
também com a prestação de serviços.

Por não limitar a responsabilidade dos sócios, torna-se pouco


atrativa e, em consequência, pouco adotada no cotidiano
empresarial.

Nesse contexto, é importante você saber que, embora a


responsabilidade ilimitada e solidária entre os sócios seja
regra, o parágrafo único do artigo 1.039 do Código Civil prevê a
possibilidade de implantação da responsabilidade subsidiária
entre os sócios. E o que isto quer dizer? Que eles podem
limitar a responsabilidade de cada um, o que não vai ter valor
entre terceiros, evidentemente. Por exemplo: imagine que na
sociedade entre João, Camila e Lucas, a responsabilidade
de Lucas tenha sido limitada ao valor da sua participação
no capital social. Nesse caso, na hipótese de insucesso da
empresa, o prejuízo de Lucas está limitado a isso, diferente do
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

prejuízo que João e Camila sofrerão. Como essa limitação não


tem efeitos perante terceiros, qualquer credor pode cobrar
indistintamente qualquer um dos três, caso o patrimônio da
empresa não seja suficiente, inclusive Lucas. Embora Lucas
tenha que pagar (já que a limitação da responsabilidade não
alcança terceiros), ele pode obter reembolso de João e Camila
na sequência, considerando a limitação estabelecida entre os
três desde o início.

Os sócios da sociedade em nome coletivo não podem ser pessoas


jurídicas, mas apenas pessoas físicas. Essa sociedade, que é de
responsabilidade ilimitada, gera um alto risco à pessoa física dos
sócios, que podem ser obrigados a responder com bens pessoais
em caso de insucesso da sociedade, ou seja, caso ela quebre.

Nada impede que no contrato social da sociedade em nome


coletivo, ou por acordo unânime posterior, os sócios limitem
entre a si a reponsabilidade de cada um, mas atenção: disposição
dessa natureza vale apenas entre os sócios e não altera a
responsabilidade ilimitada deles perante terceiros.

A administração da sociedade é de competência exclusiva


dos sócios, diferente da sociedade limitada, que admite a
administração por terceiro.

A dissolução da sociedade em nome coletivo pode ocorrer:

pelo vencimento do seu prazo de duração, nos termos do inciso I do artigo 1.033 do Código Civil;

pelo acordo unânime dos sócios;

pela deliberação da maioria absoluta dos sócios (ou seja, de metade mais um), no caso de
sociedade por prazo indeterminado;

pela falta de pluralidade dos sócios, quando não reconstituída no prazo de 180 dias;

pela perda da autorização para funcionar, quando for o caso;

pela falência.

Não há diferentes categorias de sócios


na sociedade em nome coletivo, pois
todos têm a mesma responsabilidade,
que é ilimitada.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedade em comandita simples


A sociedade em comandita simples pode ser formada apenas
por pessoas físicas ou por pessoas físicas e pessoas jurídicas.
Temos duas claras categorias de sócios, diferente da sociedade
em nome coletivo: os comanditados e os comanditários, que você
vai estudar no subtópico seguinte, por conta das peculiaridades.

O contrato social da sociedade em comandita simples deve ser


elaborado obedecendo aos requisitos previstos no artigo 997
do Código Civil. Deve especificar claramente, também, quem
são os sócios comanditados e quem são os comanditários. Note
que esse contrato deve ser levado a registro na junta comercial,
assim como o contrato social de uma sociedade limitada ou de
uma sociedade em nome coletivo.

Aplicam-se à sociedade em comandita simples as regras da


sociedade em nome coletivo, conforme prevê o artigo 1.046
do Código Civil. Esse artigo também prevê que aos sócios
comanditados cabem os mesmos direitos e obrigações dos
sócios da sociedade em nome coletivo.

O regime misto de sócios da sociedade em comandita simples,


que impõe que alguns tenham responsabilidade ilimitada,
torna essa espécie pouco atrativa no cotidiano empresarial,
especialmente quando comparada à sociedade limitada, na qual
nenhum dos sócios tem responsabilidade ilimitada. A figura a
seguir simboliza uma sociedade.

Fonte: Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

E como ocorre a dissolução da sociedade em comandita simples?


Pelas seguintes razões:

vencimento do seu prazo de duração, nos termos do inciso I do artigo 1.033 do Código Civil;

acordo unânime dos sócios;

deliberação da maioria absoluta dos sócios (ou seja, de metade mais um), no caso de sociedade
por prazo indeterminado;

falta de pluralidade dos sócios, quando não reconstituída no prazo de 180 dias;

falta de uma das categorias dos sócios, quando não recomposta no prazo de 180 dias;

perda da autorização para funcionar, quando for o caso;

falência.

Há um regime misto de sócios na


sociedade em comandita simples,
alguns com responsabilidade ilimitada,
o que torna esse modelo pouco
atrativo.

Sócios da sociedade em comandita simples


Como vimos, são duas as categorias dos sócios da sociedade
em comandita simples:

Sócios da sociedade em Comanditados

comandita simples Comanditários

Ambas devem necessariamente estar presentes nessa


modalidade societária. Sócios comanditados são exclusivamente
pessoas físicas, com responsabilidade solidária e ilimitada
pelas obrigações sociais. Já os sócios comanditários podem
ser pessoas físicas ou jurídicas, necessariamente responsáveis
somente pelo valor da respectiva quota social.

Os sócios comanditários podem participar das deliberações


da sociedade e também podem fiscalizar as operações
dela. Só que eles não podem praticar atos de gestão nem
podem ter o nome na firma social, pois do contrário vão estar
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

sujeitos às responsabilidades do sócio comanditado, ou seja,


à responsabilidade ilimitada. A figura a seguir simboliza uma
prática de fiscalização empresarial, atividade permitida aos
sócios comanditários.

Fonte: Zadorozhnyi Viktor, Shutterstock, 2018.

Nada impede, contudo, que o sócio comanditário seja nomeado


procurador da sociedade em comandita simples, desde que a
nomeação seja para a realização de negócio determinado e com
poderes especiais. Mas o que acontece se a um sócio comanditário
for outorgada procuração com poderes gerais e para celebração
de qualquer negócio? Nesse caso, diante da violação da estrutura
da sociedade em comandita simples, esse sócio vai assumir as
responsabilidades dos sócios comanditados. Procuração, para
que você não fique com nenhuma dúvida, é um documento por
meio do qual uma pessoa dá poder de representação a outra. É
um documento simples, mas muito importante!

Por força de expressa previsão legal, a morte de um sócio


comanditário não gera a extinção da sociedade. Nesse caso,
teremos mera substituição do de cujus (ou seja, do falecido)
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

pelos sucessores, a quem caberá designar um representante.


No entanto, nada impede que os sócios disponham de forma
diferente no contrato social para prever, por exemplo, que no
caso de morte de um dos sócios ele não vai poder ser substituído.

Somente o sócio comanditado pode administrar a sociedade em


comandita simples. Mas o que acontece se, por qualquer motivo,
faltar sócio com essa qualidade? Nesse caso, o Código Civil
permite que os sócios comanditários nomeiem um administrador
provisório enquanto o sócio comanditado ausente não for
substituído, o que deve ocorrer no prazo máximo de 180 dias. Mas
e se essa substituição não for feita? Aí dissolve-se a sociedade,
por força de lei (artigo 1.051, II do Código Civil).

Os sócios na sociedade em comandita


simples podem ser comanditados
(apenas pessoas físicas) ou
comanditários (pessoas físicas ou
jurídicas).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedades em conta de participação

Neste tópico, você vai aprender exclusivamente sobre a sociedade


em conta de participação, uma modalidade diferente das demais,
especialmente em relação à personalidade jurídica. Você vai
examinar aspectos relacionados ao seu quadro societário e ao
seu patrimônio. Preparado(a)? Vamos lá!

Características gerais da sociedade em conta de


participação
A sociedade em conta de participação tem características
diferentes da sociedade limitada, tanto em relação à sua
constituição como em relação aos sócios que a integram. As
principais regras que regem a sociedade em conta de participação
estão previstas nos artigos 991 a 996 do Código Civil.

O título “conta de participação” é empregado “[...] para designar


o fato de o sócio oculto participar de uma sociedade a qual é
administrativa por sócio ostensivo, ou seja, por conta deste”
(TEIXEIRA, 2015).

Veja que o registro da sociedade em conta de participação


não precisa ser feito na junta comercial. O Código Civil é claro
ao prever, no artigo 992, que a constituição dessa modalidade
societária não depende de nenhuma formalidade e que ela pode
ser provada por todos os meios admitidos em direito (ou seja,
documentos, testemunhas, entre outros).

Atenção: a desnecessidade de registro na junta comercial não


significa que a sociedade em conta de participação não tenha o
dever de se inscrever no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas
(CNPJ). Essa inscrição deve ser feita, especialmente porque
permite ao Poder Público a cobrança de todos os tributos devidos
pela empresa.

Mas a sociedade em conta de participação não tem personalidade


jurídica, já que a responsabilidade pessoal e exclusiva do sócio
ostensivo (ou seja, do sócio que negocia perante terceiros
e aparece como o responsável pela atividade). Por força de
previsão expressa do artigo 993 do Código Civil, mesmo
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

que o contrato social seja levado a registro, a sociedade em


conta de participação vai continuar a ser uma sociedade não
personificada.

A sociedade em conta de participação é uma espécie societária


pouco utilizada para o exercício da atividade econômica. Nesse
sentido, note que até mesmo a quantidade de artigos dedicados
à sua disciplina normativa, pelo Código Civil, é singela: apenas
seis artigos foram utilizados à imposição das suas regras,
diferente da sociedade limitada, que foi regulada em 35 artigos!

O recurso da exemplificação é sempre útil à aplicação das


definições aprendidas. Então, imagine um carpinteiro que
recebeu um grande pedido para fabricação de móveis. Para
assumir o trabalho, que vai ser muito lucrativo, ele precisaria
contratar vários funcionários, mas não tem condições financeiras
para isso. Nesse caso, porém, ele pode constituir uma sociedade
em conta de participação com um investidor, que vai entregar
os recursos que ele precisa em troca da participação nos lucros
dos móveis que ele vender em razão dessa contratação. Essa
situação pode ser por prazo determinado, ou seja, ser exclusiva
para essa negociação, ou pode ser por prazo indeterminado, caso
o investimento e a participação nos lucros persista. Em qualquer
caso, tudo deve ser detalhadamente previsto no contrato social
da sociedade em conta de participação. A figura a seguir retrata
o carpinteiro do exemplo apresentado.

Fonte: Stokkete, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Um dos fatores que gera a baixa utilização da sociedade em


conta de participação é a responsabilidade dos sócios. Nessa
sociedade, temos duas modalidades de sócios, sendo que uma
delas se responsabiliza ilimitadamente, conforme você vai
estudar no subtópico a seguir.

Ainda que registrada na junta


comercial, a sociedade em conta
de participação não adquire
personalidade jurídica.

Sócios da sociedade em conta de participação


A sociedade em conta de participação tem duas modalidades
de sócios:

Sócio ostensivo
Sócios da sociedade em conta
de participação Sócio participante (também chamado
de sócio oculto)

É importante que você entenda a diferença entre eles porque


isto permite compreender uma das razões que faz com essa
modalidade societária seja preterida em relação a outras.

Sócio ostensivo é o que exerce a atividade que constitui o objeto


social da empresa. Ele exerce o objeto de forma individual e
mediante responsabilidade própria e exclusiva. Isto significa que
é somente o sócio ostensivo quem se obriga perante terceiros.

Caso ha ja algum conflito de interesses, ou caso seja gerado


algum prejuízo a um cliente, apenas o sócio ostensivo vai
ocupar a posição de réu na ação judicial, considerando a
determinação do Código Civil nesse sentido. É por isso, aliás, que
o sócio participante também é chamado de sócio oculto, como
simbolizado na figura a seguir.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Peshkova, Shutterstock, 2018.

Sócio participante é o que participa dos resultados da sociedade


em conta de participação, mas que não assume o exercício do
objeto social (ou seja, não executa a atividade da empresa, como
a produção de móveis, no caso de uma carpintaria) nem tem
responsabilidade sobre esse exercício. A única obrigação que o
sócio participante tem é em face do sócio ostensivo, de acordo
com o que constar no contrato de constituição da sociedade em
conta de participação.

Por exemplo: João atua no ramo da construção civil e foi


procurado para executar uma obra às suas custas, mas não tem
recursos. Nesse caso, João pode se associar a outras pessoas
que tenham esses recursos, mas que não queiram participar da
execução da obra (este é o objeto da sociedade). Essas pessoas
são investidores, que querem fornecer os recursos e participar
dos lucros. Para viabilizar a negociação entre João e essas
pessoas, eles podem constituir uma sociedade em conta de
participação. Note que a responsabilidade por qualquer prejuízo
em relação ao cliente (pessoa que procurou João para execução
da obra) é assumida apenas por João. Veja também que, nesse
caso, a sociedade vai ser por prazo determinado, pois, assim que
a obra se encerrar, o objeto já vai estar finalizado.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sócio oculto ou participante é aquele


desconhecido perante terceiros,
porque não assume as negociações
em nome próprio nem pratica atos de
administração.

Aspectos patrimoniais da sociedade em


conta de participação
Os aspectos patrimoniais da sociedade em conta de participação
são diferentes de outras modalidades societárias, como a
sociedade limitada, por exemplo. A separação patrimonial –
que é a marca característica da sociedade limitada – não está
presente na sociedade em conta de participação porque essa
sociedade não tem personalidade jurídica.

Na sociedade em conta de participação, a responsabilidade


é assumida de forma própria e exclusiva pelo sócio ostensivo.
É ele que, perante terceiros, responde pela dívidas e tem a
legitimidade para cobrar os créditos da sociedade em conta de
participação.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O sócio participante não pode tomar decisões ou interferir, por


qualquer modo, nas relações entre o sócio ostensivo e os terceiros
(inclusive e, especialmente, clientes). Mas o que acontece se o
sócio participante fizer isso, ou seja, se intervier nessa relação?
Nesse caso, a responsabilidade do sócio participante passa a ser
solidária com o sócio ostensivo. Em outras palavras, ambos vão
ter responsabilidade própria e não apenas o ostensivo, como
representado na figura a seguir.

Fonte: Mathias Rosenthal, Shutterstock, 2018.

O patrimônio da sociedade em conta de participação é


constituído pela contribuição do sócio participante, juntamente
com a do sócio ostensivo. Esse conjunto é chamado de patrimônio
especial pelo Código Civil, mas essa especialização só produz
efeitos em relação aos sócios (artigo 994, § 1o), porque, como
mencionamos, a sociedade em conta de participação não tem
personalidade jurídica, o que a impede de gozar dos benefícios
da separação patrimonial.

O patrimônio da sociedade em conta


de participação é formado pela união
entre os bens do sócio ostensivo e do
participante.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedades não personificadas e


personalidade jurídica

Neste tópico, você vai estudar as sociedades com personalidade


jurídica e as despersonificadas. Vamos aprender as características
de cada uma e o enquadramento das sociedades previstas pela
legislação brasileira.

Personalidade jurídica
O primeiro passo para que você possa compreender a diferença
entre sociedades personificadas e não personificadas é a
identificação do que é personalidade jurídica. Para isso, vamos
relembrar a diferença entre pessoa física e pessoa jurídica?

Pessoa física, expressão sinônima de pessoa natural, é a pessoa


humana. Embora pareça uma redundância se referir a alguém
como pessoa humana, você já tem condições de constatar
o contrário. O uso do termo humana serve para distingui-la
de pessoa jurídica. A figura a seguir simboliza organizações
empresárias de personalidade jurídica.

Fonte: PHOTOCREO Michal Bednarek, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Pessoa jurídica é uma criação do Direito, ou seja, da legislação.


Essa criação serve para viabilizar direitos e deveres às
sociedades, associações e outras formas de organizações que
têm uma personalidade que não pode ser confundida com a dos
respectivos membros. Portanto, veja que tanto uma pessoa física
(ou humana) como uma pessoa jurídica têm personalidade.

Mas por que há necessidade dessa criação? Por que as pessoas


jurídicas são necessárias? Imagine você na condição de
sócio de uma empresa. Sem a pessoa jurídica, que diferencia
claramente a empresa de você, o Poder Público teria que cobrar
os tributos diretamente de você, podendo tomar diretamente
o seu patrimônio no caso de inadimplência, por exemplo. Por
outro lado, ao criar a pessoa jurídica, já se viabiliza, com mais
facilidade, a cobrança dos tributos, que vão ser direcionados a
ela e não aos respectivos sócios.

Nesse contexto, veja que não são apenas empresas que têm
personalidade jurídica, ou seja, que podem ser pessoas jurídicas.
Associações (como associação de moradores ou associação de
combate a maus tratos contra animais, por exemplo), igrejas
e fundações (fundações são organizações sem fins lucrativos,
criadas para exercer atividades culturais, educacionais, de
assistência social, entre outras) são exemplos de organizações
que também são pessoas jurídicas. Cada uma tem um CNPJ
próprio. Nenhuma, no entanto, é registrada na junta comercial
porque não exerce atividade econômica.

As pessoas jurídicas que não exploram atividades econômicas


devem se registrar no cartório de registro público de pessoas
jurídicas. É partir do registro que elas adquirem a personalidade
jurídica.

Em resumo, portanto, temos a seguinte regra:

Local de registro
Sociedades que exploram atividades
Junta comercial
econômicas

Organizações que não exploram atividades Cartório de registro público de pessoas


econômicas jurídicas
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A pessoa jurídica serve para organizar


o sistema de exploração das atividades
econômicas porque separa o patrimônio
das empresas e das pessoas físicas.

Até agora você aprendeu a diferença entre pessoas físicas e


jurídicas, além de ter identificado quem pode ser considerado
uma pessoa jurídica. Diante desse contexto, o que é uma
sociedade não personificada? Essa indagação é o que motiva o
desenvolvimento do nosso próximo subtópico!

Sociedades não personificadas e sociedades


personificadas
Sociedade não personificada é a que não tem personalidade
jurídica. Em outras palavras, é uma sociedade que não pode
ser considerada uma pessoa jurídica. Significa que em relação
a ela o Direito não lança a ficção criada para distinguir entre a
empresa e a pessoa física dos sócios.

Como consequência da ausência de personalidade jurídica


existe a responsabilidade pessoal dos integrantes da sociedade
não personificada. Isto implica a possibilidade de utilizar os
bens pessoais dos sócios para satisfazer eventuais dívidas da
sociedade, tendo em vista a ausência de separação patrimonial,
como retratado na figura a seguir.

Fonte: Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A sociedade não personificada não tem seu ato constitutivo, ou


seja, seu contrato social registrado na junta comercial. Segundo
previsão expressa do Código Civil, temos duas sociedades sem
personalidade jurídica: a sociedade em comum e a sociedade
em conta de participação.

Sem a personalidade jurídica da


sociedade, a consequência natural é a
responsabilização pessoal dos sócios.

Sociedades personificadas
Sociedade personificada é a que tem personalidade jurídica, isto
é, uma sociedade que forma uma pessoa jurídica. Significa que,
em relação a ela, o Direito lança a ficção criada para distinguir
entre a empresa e a pessoa física dos sócios.

Por conta da personalidade jurídica que alcança as sociedades


personificadas, existe a separação entre o patrimônio da pessoa
jurídica e o patrimônio da pessoa física dos sócios. Isto gera uma
margem de segurança aos que desejam explorar a atividade
econômica, margem que pode ser maior ou menor, dependendo
do modelo de sociedade adotado.

No caso da sociedade limitada, por exemplo, há forte separação


entre o patrimônio da pessoa jurídica e da pessoa física dos
sócios. O patrimônio destes não pode ser alcançado por dívidas
da sociedade, exceto quando for declarada judicialmente a
desconsideração da personalidade jurídica, o que não é uma
situação normal. A figura a seguir simboliza uma organização
societária.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Miriam Doerr Martin Frommherz, Shutterstock, 2018.

Já em outras sociedades, como a sociedade em nome coletivo,


por exemplo, a margem de segurança da separação patrimonial
é menor. Isso porque a responsabilidade dos sócios é ilimitada,
conforme prevê o artigo 1.039 do Código Civil. Nesse caso, embora
o patrimônio da pessoa jurídica deva ser utilizado primeiro para
o pagamento dos débitos existentes, e só na sequência se possa
avançar ao patrimônio pessoal dos sócios, note que não há uma
barreira como a que encontramos na sociedade limitada.

No caso das sociedades com responsabilidade ilimitada, o credor


não pode executar (ou seja, tomar em razão de um processo
judicial) diretamente o bem pessoal dos sócios. Ele deve
primeiro executar os bens da sociedade, e somente no caso de
inexistência ou insuficiência é que vai poder executar os bens
pessoais dos sócios. Note que, se você estivesse diante de uma
sociedade limitada, o poder do credor terminaria na execução
dos bens da sociedade, pois não há a possibilidade de alcançar
os bens dos sócios.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

As sociedades personificadas são: a sociedade simples; a


sociedade em nome coletivo; a sociedade em comandita simples;
a sociedade limitada; a sociedade anônima; a sociedade em
comandita por ações; e a sociedade cooperativa.

As sociedades com personalidade


jurídica são a regra do Direito
Empresarial brasileiro, conforme
previsão do Código Civil.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Definição das sociedades não


personificadas

Neste tópico, você vai estudar exclusivamente as sociedades sem


personalidade jurídica. Depois de conhecer as características e
responsabilidade delas, vamos analisar a sociedade em comum
em dois subtópicos. Vamos nessa?

Características e responsabilidades das


sociedades não personificadas
Sociedades não personificadas são, como você já estudou, as que
não têm personalidade jurídica. Elas podem ser definidas como
sociedades que exploram a atividade econômica sem formar
uma pessoa jurídica e, em consequência, sem que verifiquemos
a separação patrimonial entre a empresa e a pessoa física dos
sócios.

Caracteristicamente, a sociedade sem personalidade jurídica é


aquela não registrada na junta comercial. No caso da sociedade
em conta de participação, em razão da sua natureza legal,
considerando que o próprio Código Civil a previu entre as
sociedades não personificadas. Já no caso da sociedade em
comum, em função da sua informalidade, conforme você vai
estudar com mais detalhes no tópico a seguir.

As sociedades não personificadas estão reguladas pelos artigos


986 a 996 do Código Civil. Os artigos 986 a 990 preveem regras
sobre a sociedade em comum, enquanto os artigos 991 a 996
estipulam as regras da sociedade em conta de participação.
Lembre-se: sempre que estiver em dúvida sobre alguma
característica dessas sociedades, privilegie a análise do texto
legal, pois é a partir dele que toda obra de doutrina ou decisão
judicial é elaborada. A figura a seguir simboliza a interpretação
de regras do Código Civil, cujas necessidades são regidas.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Ollyy, Shutterstock, 2018.

A consulta à legislação não é um ato para profissionais do


Direito. Na verdade, profissionais de todas as áreas precisam
saber manusear textos legais, pois essa atividade vai diferenciar
você no mercado de trabalho. Ao consultar o texto da lei, você
vai poder resolver problemas com segurança, pois vai estar
pesquisando diretamente da fonte.

Por exemplo: imagine que sua empresa é credora de uma


sociedade em conta de participação e que ela tem um débito
que está negociando com você. Durante a negociação, um dos
sócios da sociedade em conta de participação te disse que
inscreveu o respectivo contrato social no cartório e que, por
conta disso, essa sociedade tem personalidade jurídica, o que te
impede de cobrar qualquer quantia dos sócios. Nesse caso, se
você pesquisar no Código Civil, vai encontrar o seguinte artigo:
“Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios,
e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro
não confere personalidade jurídica à sociedade”. Sua resposta,
portanto, vai estar pronta e ser proveniente de fonte segura.
Veja que, mesmo que o ato constitutivo da sociedade em conta
de participação seja inscrito em qualquer registro, ela jamais vai
ter personalidade jurídica.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A consulta às leis não é atividade


exclusiva do profissional do Direito.
Profissionais de todos os setores devem
executar essa atividade!

Sociedade em comum
Sociedade em comum é a sociedade que explora a atividade
econômica sem o devido registro na junta comercial. Ela também
é chamada de sociedade irregular ou de sociedade de fato,
como já vimos em unidades anteriores. Mas por que sociedade
de fato? Porque ela existe no “mundo dos fatos”, mas não existe
no “mundo do Direito”. Uma sociedade é de direito quando está
regularmente registrada. Por outro lado, é apenas uma sociedade
de fato quando não tem o registro.

A sociedade em comum é muito utilizada no Brasil, a contragosto


do Poder Público. Você consegue imaginar o porquê? Porque o
registro de uma sociedade na junta comercial implica custos
iniciais e custos mensais. Tributos em geral e despesas com
escritórios especializados em registro contábeis são débitos
que elevam o custo de produção e por isso são desprezados por
quem explora a atividade econômica.

Por exemplo: imagine que duas amigas queiram montar uma loja
para venda de vestuário. Se elas apenas comprarem as roupas,
alugarem um ponto comercial e começarem a vender, vão ter
um custo. Contudo, se fizerem o devido registro da sociedade na
junta comercial, vão ter um custo inicial maior e custos mensais
igualmente maiores.

Nesse caso, então, a sociedade em comum é a mais vanta josa


da legislação brasileira, correto? De modo algum! Isso porque
a sociedade em comum exerce atividades de forma irregular.
O Direito não tolera dificuldades financeiras. O alto valor dos
tributos ou a quantidade de burocracia para manter uma
empresa não são fatores que impedem a aplicação das punições
previstas em lei. É por isso que se pune quem não observa o
dever de registro.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Ao não se registrar na junta comercial, a finalidade da sociedade


em comum é não recolher tributos. E atenção: esse não
recolhimento é a sonegação tributária, conduta que configura
crime! Quem não se registra não fica isento do dever de pagar
tributos, pois do contrário haveria um incentivo à irregularidade,
que prejudicaria aqueles que atuam de maneira regular.

Fonte: Mopic, Shutterstock, 2018.

A sociedade que atua sem registro pode sofrer a fiscalização do


Poder Público a qualquer momento e, quando isso ocorre, todos
os tributos que ela deixou de pagar vão ser cobrados com juros,
correção monetária e altas multas. Tudo isso sem prejuízo do
processo criminal pela sonegação.

A sociedade em comum representa


um alto risco aos respectivos sócios,
porque não preenche nenhum dos
requisitos exigidos pela legislação.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A sociedade em comum, então, gera um alto risco aos respectivos


sócios. E esses sócios estão protegidos pela responsabilidade
limitada? É a esta questão que vamos responder no subtópico
a seguir.

Sócios da sociedade em comum


Não há diferença entre os sócios da sociedade em comum.
Diferente de alguns modelos societários, nos quais podemos
identificar diferentes categorias de sócios, alguns com
responsabilidade limitada e outros com responsabilidade
ilimitada, por exemplo, na sociedade em comum todos mantêm
o mesmo nível de responsabilidade, que é ilimitada.

O artigo 990 do Código Civil prevê que todos os sócios têm


responsabilidade solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.
Além disso, esse dispositivo exclui o benefício de ordem daquele
que contratou pela sociedade.

Mas o que isso significa?

Benefício de ordem é uma regra que obriga o credor a buscar


primeiro o patrimônio da empresa para satisfazer o seu crédito
e, se inexistente ou insuficiente, que então possa alcançar o
patrimônio pessoal do sócio. Em outras palavras, primeiro se
cobra a empresa, e depois, se não houver dinheiro ou patrimônio
suficiente, aí sim se cobra o sócio. Agora, note que na sociedade
em comum não temos esse benefício, ou seja, o sócio que
contratou em nome da sociedade (representando-a, portanto)
pode ter o patrimônio pessoal diretamente atingido pelos débitos
da sociedade.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O Código Civil facilitou aos terceiros a forma de comprovar


a existência da sociedade em comum e dificultou a mesma
comprovação entre os sócios. Isso porque o artigo 987 prevê
que os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, só podem
provar a existência da sociedade por escrito. Já os terceiros
podem provar essa existência por qualquer modo (testemunhas,
documentos, etc.). Com isso fica claro o rigor da lei em relação
aos que escolheram não se registrar antes de exercer atividades
econômicas, e o tom brando para auxiliar terceiros que tenham
eventualmente contratado com a sociedade irregular (o que
facilita a cobrança de créditos não pagos, por exemplo).

Em resumo, temos:

Forma de comprovação da existência da sociedade em comum


Para terceiros Qualquer meio de prova admitido em Direito

Para sócios Somente por escrito

O sócio da sociedade em comum pode responder por crime de


sonegação em âmbito estadual e também em âmbito federal.
Pela sonegação de tributos municipais (como o imposto sobre
serviços) ou estaduais (como o Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias – ICMS), o Ministério Público Estadual promove a
ação penal contra o sonegador. Já pela sonegação de tributos
federais (como o imposto sobre a renda), o Ministério Público
Federal denuncia o sócio, o que lhe rende consideráveis prejuízos
(custo com advogado, pagamento de multa, sem prejuízo da
possibilidade de prisão, a depender dos antecedentes do réu).

Não há distinção entre os sócios da


sociedade em comum, visto que todos
têm responsabilidade ilimitada.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Distinção entre os sócios e


diferenças de administração
entre os tipos de sociedade

Neste tópico, para finalizar nossa unidade de estudo, você


vai descobrir as diferenças entre os sócios das sociedades
empresárias, que em alguns modelos societários ostentam
características idênticas, mas em outros assumem funções
bem diferentes. Você também vai estudar as diferenças de
administração entre os tipos societários. Vamos lá!

Diferenças entre os sócios das


sociedades empresárias
Os sócios das sociedades empresárias previstas pelo Código
Civil não apresentam características idênticas. Em cada modelo
de sociedade podemos identificar diferenças entre os tipos
de sócios, que variam desde a responsabilidade (limitada ou
ilimitada) até os poderes (de representar ou de participar de
deliberações).

Com relação às sociedades não personificadas, você aprendeu


que na sociedade em comum os sócios mantêm a mesma
condição, com responsabilidade solidária e ilimitada pelas
obrigações sociais, além de enfrentarem maior rigor da
legislação.

Ainda com relação às sociedades não personificadas, você


estudou que temos duas modalidades de sócios na sociedade
em conta de participação: o ostensivo e o participante. O sócio
ostensivo é que o assume a responsabilidade perante terceiros, a
qual é ilimitada. Já o sócio participante se obriga apenas perante
o sócio ostensivo, ou seja, não se obriga perante terceiros.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Em resumo:

Na sociedade em nome coletivo, temos apenas pessoas físicas, todas com responsabilidade
solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.

Na sociedade em comandita simples, tanto pessoas físicas como pessoas jurídicas podem ser
sócias. No caso dos sócios comanditados, apenas pessoas físicas podem assumir essa condição,
as quais têm responsabilidade solidária e ilimitada pelas obrigações sociais. Já no caso dos
sócios comanditários, a responsabilidade se limita ao valor da respectiva quota, admitindo-se
que tanto a pessoa física como a jurídica assumam essa condição.

Na sociedade limitada, todos os sócios têm a responsabilidade restrita ao valor das respectivas
quotas. O grupo de sócios com a menor fração do capital social é considerado minoritário,
mas ainda assim tem alguns poderes, como a nomeação de um membro para o conselho fiscal,
desde que somem ao menos um quinto do capital social.

Veja no quadro a seguir uma síntese de algumas das principais


diferenças entre as sociedades contratuais estudadas nesta
unidade de aprendizagem, como base no que especificam os
respectivos artigos do Código Civil (base legal.

Sociedade Sociedade
Sociedade em Sociedade em
em comandita em conta de
nome coletivo comum
simples participação

Previsão legal 1.039 a 1.044 1.045 a 1.051 991 a 996 986 a 990

Apenas uma Comanditados Ostensivos e Apenas uma


Espécies de sócios
espécie e comanditários participantes espécie

Quem pode Somente Somente sócio Somente sócio Não há


administrar? sócios comanditado ostensivo previsão legal

Pode utilizar a Lei de


Sim Sim Sim Não
Falências?

É utilizada com
Não Não Não Sim
frequência no Brasil?

Gera sonegação de
Não Não Não Sim
tributos ao país?

Precisamos analisar criteriosamente


as disposições do Código Civil para
identificar as diferenças entre as
espécies de sócios em cada espécie
societária.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Diferenças de administração entre as sociedades


Cada modalidade societária tem características próprias
de administração, de acordo com as respectivas previsões
constantes do Código Civil. Algumas permitem a participação
de terceiros na função de administrador (como a sociedade
limitada), outras impedem que não sócios sejam designados a
essa atividade (como a sociedade em nome coletivo).

Na sociedade em comum, qualquer sócio pode praticar os atos


de administração. Em consequência, os bens sociais (ou seja, os
bens da empresa) respondem pelos atos de gestão praticados
por qualquer um deles, exceto quando houver pacto expresso
de limitação de poderes, que não valerá perante terceiros –
salvo se existir prova de que estes conheciam ou que deveriam
conhecer esse pacto. Essa prova é feita com a apresentação de
um contrato com cláusula expressa nesse sentido, por exemplo.

Na sociedade em conta de participação, a administração é


feita exclusivamente pelo sócio ostensivo e em nome próprio. O
sócio participante não participa da administração, sob pena de
assumir responsabilidade caso o faça.

A sociedade em nome coletivo somente pode ser administrada


por sócios e o uso da firma é privativo dos que tenham esses
poderes, nos termos do contrato social. Entre os sócios, um pode
ser indicado para administrar a sociedade, ou essa incumbência
pode ser por todos ao mesmo tempo.

Na sociedade em comandita simples, somente o sócio


comanditado pode ser designado à administração. Mas o que
acontece se o sócio comanditário praticar atos de gestão?
Nesse caso, ele vai ficar sujeito à responsabilidade do sócio
comanditado, que é ilimitada.

Na sociedade limitada, qualquer sócio pode ser designado


para administrá-la. Além disso, terceiros também podem ser
nomeados para essa incumbência. As regras para administração
da sociedade limitada estão previstas nos artigos 1.060 a
1.065 do Código Civil. Entre as obrigações do administrador,
podemos destacar o dever de elaborar inventário, de balanço
patrimonial e balanço do resultado econômico ao final de cada
exercício social.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Em algumas sociedades, todos os


sócios podem exercer atos de gestão,
diferente de outras, nas quais esses
atos são restritos a determinadas
categorias.

Responsabilidade dos sócios pelos atos de


administração
Você deve imagina que a nomeação de um administrador é ato
de muita importância no contexto da atividade empresarial.
Ele será o principal responsável pelo sucesso ou pelo insucesso
da empresa, de acordo com as decisões que tomar durante a
condução dos trabalhos que foi incumbido de executar.

O administrador é o principal representante da sociedade


empresária perante terceiros (credores, clientes e sociedade
em geral). Falhas cometidas pelo administrador podem quebrar
uma empresa e, dependendo da natureza da sociedade, arruinar
o patrimônio pessoal dos sócios.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Independentemente de ser o administrador sócio ou não sócio,


todos devem estar atentos às atividades que ele desempenha e
devem fiscalizar, entre outros atos, se o pagamento de todas as
obrigações tributárias está sendo rigorosamente observado. A
sonegação pode implicar altas dívidas perante o Poder Público
e, dependendo da natureza do ato praticado, pode gerar o
alcance do patrimônio pessoal dos sócios, inclusive na sociedade
de responsabilidade limitada, mediante a desconsideração da
personalidade jurídica.

Fonte: CoraMax, Shutterstock, 2018.

Por isso, lembre-se de que o administrador executa atos em


nome da sociedade e muito do que ele decide pode gerar
consequências aos sócios, o que demanda atenção e diligência
apurada, tanto no momento da nomeação como durante o
desenvolvimento dos atos de gestão.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Além de escolher o administrador, o


sócio deve fiscalizar os seus atos, pois
graves prejuízos podem ser imputados
à sociedade em decorrência deles.

Nesta unidade, você adquiriu importantes noções sobre as


sociedades contratuais menores. Estudou a sociedade em nome
coletivo, a sociedade em comandita simples, a sociedade em
conta de participação e sociedade irregular. Agora, você já sabe
como proceder, caso se depare com alguma dessas modalidades
na sua atividade profissional.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedade limitada e tipos de


reestruturação empresarial reguladas
pelo Código Civil

Introdução

Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à última unidade desta


disciplina!

Neste estudo, você vai ter a oportunidade de analisar assuntos


muito importantes sobre as sociedades limitadas e sobre
reestruturação empresarial, nos termos previstos pelo Código
Civil. Você vai estudar as diferenças entre as sociedades
contratuais e as institucionais, com ênfase na sociedade limitada.
Vai aprender que, além do Código Civil, a desconsideração da
personalidade jurídica também pode ser aplicada com base no
Código de Defesa do Consumidor e da legislação ambiental.

Depois de estudar as quotas sociais, as deliberações dos sócios e a


administração da sociedade limitada, você vai conhecer hipóteses
de reestruturação societária. Você sabe como resolver a situação
de um sócio que deixa de cumprir suas obrigações sociais? E de
um sócio que comete ato tão grave a ponto de comprometer a
continuidade da sociedade? É possível expulsá-lo?

Nesta unidade, também vamos estudar os remédios empresariais,


que são mecanismos da legislação que podem ser utilizados
em momentos de crise empresarial. Por fim, você vai estudar
as operações empresariais de fusão, cisão, incorporação e
transformação.

Então vamos lá, pois temos muito trabalho pela frente!


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Sociedade limitada: diferenças entre


sociedade contratual e institucional

Neste tópico, você vai estudar as diferenças entre as sociedades


contratuais e institucionais. Na sequência, vamos iniciar o estudo
específico sobre a sociedade limitada, modalidade societária
mais utilizada no contexto do Direito Empresarial brasileiro.

Sociedade contratual
As sociedades empresárias são classificadas, quanto ao regime
de constituição, em contratuais e em institucionais. Sociedade
contratual é aquela constituída por contrato social, que deve ser
elaborado de acordo com as exigências previstas no Código Civil.
Precisamente, esse contrato social deve observar os requisitos
previstos no artigo 997 do Código Civil, conforme exigência
contida no artigo 1.054 do mesmo código.

Após a elaboração do contrato social, ele deve ser levado a


registro. Mas quem faz o registro? É a Junta Comercial. Como você
vai estudar no tópico seguinte, a sequência de atos necessários
à constituição da sociedade institucional é diferente.

A disciplina normativa da sociedade contratual é feita pelo


Código Civil, diferente da sociedade institucional, como você vai
ver mais adiante em nosso estudo. São contratuais a sociedade
em nome coletivo, a sociedade em comandita simples e a
sociedade limitada.

Veja que a forma de tomada das decisões também é diferente


entre a sociedade contratual e a institucional. No caso da
sociedade contratual, o Código Civil estipula regras sobre a forma
de nomeação de administradores e sobre quem pode ocupar
essa função (algumas categorias de sócios, ou até terceiros, no
caso da sociedade limitada).
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Ollyy, Shutterstock, 2018.

As alterações do contrato social, a expulsão de sócio minoritário


e a dissolução da sociedade também dependem de deliberação
em assembleia (ou seja, de discussão e votação pelos sócios),
que, em alguns casos, exige unanimidade de votos. Estes também
são aspectos diferentes da sociedade contratual em relação ao
que se verifica na sociedade institucional.

Quanto à dissolução (ou seja, ao encerramento) da sociedade


contratual, o Código Civil prevê que ela pode ocorrer pelo
vencimento do seu prazo de duração ou pelo consenso unânime
dos sócios, quando for celebrada por prazo determinado. No
entanto, se for celebrada por prazo indeterminado, pode ser
dissolvida por deliberação da maioria absoluta dos sócios.

A sociedade contratual também se encerra pela falta de


pluralidade de sócios, quando não for recomposta no prazo
de 180 dias, pela perda da autorização para funcionar, quando
exigida, ou pela falência.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Já as causas de dissolução da sociedade institucional são


previstas de modo diverso pela legislação, como você vai ver a
seguir.

O contrato social é o principal


instrumento de regência das
sociedades contratuais. Abaixo da lei,
ele é a principal fonte de regras.

Sociedade institucional
As sociedades empresárias, como vimos, são classificadas em
contratuais e em institucionais. Sociedade institucional é aquela
constituída por estatuto, que deve ser elaborado de acordo com
as exigências previstas na Lei n. 6.404/1976, chamada de Lei das
Sociedades Anônimas.

Lembre-se de que a regência das sociedades institucionais não


é feita pelo Código Civil, mas por uma lei específica: a Lei n.
6.404/1976. São institucionais a sociedade em comandita por
ações e a sociedade anônima.

A constituição da sociedade institucional demanda três fases:

1 providências preliminares;

2 constituição propriamente dita;

3 providências complementares.

Na sociedade institucional, compete à assembleia geral


deliberar sobre alterações no estatuto, nomeação e destituição
de administradores, suspensão de direitos de acionistas
inadimplentes, deliberação sobre operações de incorporação,
fusão e cisão, entre outras atribuições.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Shutterstock, 2018.

Quanto à dissolução da sociedade institucional, ela pode ocorrer


de pleno direito, por decisão judicial ou por decisão administrativa.
Elas estão previstas pelos artigos 206 a 218 da Lei n. 6.404/1976.

A dissolução de pleno direito ocorre:

pelo término do prazo de duração da sociedade;

pela extinção da autorização para funcionar, quando for o caso;

nos casos previstos pelo estatuto;

por deliberação da assembleia geral;

pela falta de pluralidade de acionistas não reconstituída até o ano seguinte ao que se constatar
a existência de apenas um.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A dissolução por decisão judicial ocorre:

pela anulação da constituição da sociedade, em ação que pode ser proposta por qualquer
acionista;

quando ficar provado que a sociedade não preenche o seu fim, em ação que pode ser proposta
por acionistas que representem ao menos 5% do capital social;

em caso de falência.

Por fim, a dissolução por decisão administrativa depende de


legislação especial, conforme você pode conferir no inciso III do
artigo 206 da Lei n. 6.404/1976.

O estatuto está para a sociedade


anônima e para a sociedade em
comandita por ações como o contrato
social está para as sociedades
contratuais.

Sociedade limitada
Neste subtópico, vamos ver a principal modalidade de sociedade
contratual: a sociedade limitada. Na verdade, você vai estudá-la
durante toda esta unidade, que dedica atenção à modalidade
societária mais adotada para a exploração da atividade
econômica no Brasil. Isto ocorre, como você aprendeu, em
função da limitação da responsabilidade dos sócios à respectiva
participação social.

A sociedade limitada não se inclui entre as sociedades


contratuais menores (sociedade em nome coletivo, sociedade em
comandita simples e sociedade em conta de participação). Ela
confere maiores possibilidades aos sócios, além da mencionada
separação patrimonial mediante responsabilidade que se limita
à quota social.

O nome empresarial da sociedade limitada é acompanhado da


sigla “Ltda.” ou da expressão por extenso. Essa determinação
serve para informar a todos o tipo societário adotado, assim
como se exige na sociedade anônima, cujo nome empresarial é
acompanhado da sigla “S.A.” ou do termo “Companhia”.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O contrato social da sociedade limitada estipula a participação


de cada sócio no capital social, o que influencia na repartição
dos lucros e na participação dos prejuízos. Note que o capital
social é necessariamente constituído por investimentos dos
sócios, não se admitindo a mera prestação de serviços como
forma de participação.

Fonte: Shutterstock, 2018.

É importante você lembrar que a legislação brasileira não


viabilizava a exploração da atividade econômica mediante
responsabilidade limitada de apenas uma pessoa. A constituição
da sociedade era indispensável, o que gerava a criação de muitas
“sociedades de fachada”. Por exemplo: A gostaria de abrir uma
empresa de manutenção de aparelhos de ar-condicionado,
mas, para não se inscrever como empresário individual e ter
responsabilidade ilimitada, convidava B para que “apenas figurasse
no contrato social”. Na prática, B não tinha nenhuma participação
na sociedade, mas apenas “emprestava” o nome para que A
pudesse abrir uma empresa de responsabilidade limitada.

Em 2011 (por meio da Lei n. 12.441), contudo, o Código Civil foi


alterado para permitir a constituição da empresa individual
de responsabilidade limitada, o que corrigiu o problema. Note,
porém, que diferente do que se ouve popularmente, o Código
Civil não autoriza a sociedade de apenas uma pessoa, o que soa
incoerente, inclusive. O que se permite é a empresa individual
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

de responsabilidade limitada. Aliás, quando falta a pluralidade


de sócios na sociedade limitada, o sócio remanescente pode
optar por substituir o sócio ausente ou transformar a sociedade
limitada em empresa individual de responsabilidade limitada.

Embora a inserção da empresa individual de responsabilidade


limitada tenha viabilizado a criação de empresas por apenas
uma pessoa e com o benefício da limitação patrimonial, a espécie
mantém uma característica que ainda dificulta a sua utilização:
a exigência de um capital social de ao menos 100 salários
mínimos, totalmente integralizado no momento da constituição.
Observe que isto implica custo que, na prática, faz com que
muitos continuem instituindo sociedades de “fachada”, que são
as que têm um sócio que efetivamente executa as atividades
empresariais e outro que é meramente figurativo.

A limitação da responsabilidade dos


sócios ao montante da respectiva
participação societária é atributo da
sociedade limitada.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Legislação aplicável às sociedades


limitadas: o Código Civil e leis
esparsas

Neste tópico, você vai estudar a legislação aplicável às


sociedades limitadas, oportunidade em que vai identificar
a relevância do Código Civil, bem como conhecer outras leis
que também servem para disciplinar aspectos das sociedades
limitadas.

O Código Civil, o Código de Defesa do


Consumidor e a legislação ambiental
A principal fonte de regras que regem as sociedades limitadas
é o Código Civil. Como você aprendeu, as principais regras do
Direito Empresarial brasileiro estão nesse código, o que inclui o
conjunto de artigos que traçam as principais regras relacionadas
à sociedade limitada.

Fonte: nobeastsofierce, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990) também é


aplicável às sociedades limitadas, que devem observar fielmente
suas disposições, sob pena de sofrer consequências graves, como
a desconsideração da personalidade jurídica, por exemplo.

Mas não é qualquer situação relacionada ao Direito do Consumidor


que gera a desconsideração da personalidade jurídica. Lembre-
se de que essa medida é excepcional, especialmente porque
quebra a regra da separação patrimonial, que é uma das
principais garantias para que as pessoas possam explorar a
atividade empresária no Brasil.

Com base no Código de Defesa do Consumidor, a desconsideração


da personalidade jurídica também pode ocorrer no caso de
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da
pessoa jurídica provocados por má administração.

Além disso, o 5o do artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor


é claro ao prever que também pode ser desconsiderada a
personalidade da pessoa jurídica sempre que ela constituir
obstáculo à indenização de prejuízos causados aos consumidores.
Note, portanto, que a regulação da proteção aos direitos dos
consumidores foi severa, pois permite em vários casos que se
quebre a barreira que separa o patrimônio da pessoa jurídica
em relação ao patrimônio da pessoa física dos sócios.

Com a evolução do conhecimento sobre a necessidade


de preservação do meio ambiente surgiram instrumentos
que facilitam indenizações caso ele seja, de algum modo,
prejudicado. O meio ambiente é indispensável à qualidade de
vida da sociedade, tanto das atuais como das futuras gerações.
Por isso, a sociedade empresária deve manter atenção e cuidado
constante em relação à legislação ambiental, pois do contrário
pode sofrer graves prejuízos, que podem alcançar o patrimônio
pessoal dos sócios.

A responsabilidade das pessoas jurídicas por danos causados ao


meio ambiente alcança as esferas administrativa, cível e penal.
Na seara administrativa, a sociedade empresária pode ser
obrigada a pagar multa ao município ou ao estado, por exemplo.
As punições administrativas podem alcançar, por exemplo, a
cassação do alvará de funcionamento da empresa. Na esfera
cível, a indenização pelos prejuízos causados é a sanção mais
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

comum. E a pessoa jurídica ainda pode ser responsabilizada na


esfera penal por violações à legislação ambiental, ou seja, pode
cometer crimes.

Em qualquer caso, a personalidade jurídica pode ser


desconsiderada se configurar obstáculo para o ressarcimento
dos prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. Isso
porque, ao sopesar interesses, a lei privilegia o interesse público,
mediante a proteção do meio ambiente, contra o interesse
dos sócios de determinada sociedade que utilizam a barreira
de separação patrimonial para deixar de reparar danos que
causaram.

A principal fonte normativa das


sociedades limitadas é o Código Civil,
que disciplina assuntos relacionados à
constituição, administração, etc.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Lei Complementar n. 123/2006


A Constituição Federal brasileira previu a necessidade de
tratamento diferenciado e favorecido para micro e pequenas
empresas. Como você já deve ter observado, o pequeno negócio
é preponderante no Brasil e depende de auxílio do Poder Público
para que resista à concorrência das grandes empresas, que
conseguem preços e condições diferenciadas por conta do porte
econômico que apresentam.

Fonte: sirtravelalot, Shutterstock, 2018.

Especificamente para viabilizar o tratamento favorecido que a


Constituição previu, foi editada a Lei Complementar n. 123, de 14
de dezembro de 2006, que é conhecida como Estatuto Nacional
da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Trata-se de
uma lei com 89 artigos que, entre outros benefícios, garante
tributação simplificada para as empresas enquadradas no
regime que ela prevê. Mas você sabe como uma empresa pode
ser classificada como micro ou pequena? A Lei Complementar n.
123/2006 prevê que a receita bruta anual da empresa:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

não seja superior a R$ 360.000,00 para ser considerada microempresa;

seja superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 para ser considerada uma
pequena empresa.

A Lei Complementar n. 123/2006 ainda prevê outros benefícios,


como a exclusividade em participações de licitações cujo
valor não supere R$ 80.000,00, conforme determina o inciso
I do artigo 48. Mas você sabe o que é uma licitação? É um
procedimento de compra que o Poder Público é obrigado a
realizar antes de adquirir produtos ou serviços. Nesse caso,
portanto, utiliza-se a estrutura do Poder Público para privilegiar
as micro e as pequenas empresas, o que é compatível com a
Constituição Federal.

A existência das micro e das pequenas


empresas é protegida no Brasil para
que possam suportar a concorrência
das grandes empresas.

Lei n. 12.441/2011
A Lei n. 12.441, de 11 de julho de 2011, instituiu importantes
modificações ao Código Civil. Por meio dela, criou-se a
possibilidade de uma pessoa, individualmente, exercer a
atividade empresária por meio de responsabilidade limitada.
Antes, o empresário que quisesse atuar individualmente
responderia de forma ilimitada.

A Lei n. 12.441/2011 tinha por objetivo também eliminar as


sociedades “de fachada”. Por exemplo: você queria abrir uma
loja de roupas, mas, para evitar a responsabilidade ilimitada
decorrente da exploração individual da atividade empresária,
convidava um parente (mãe, primo, etc.) para ser um “sócio de
fachada”. O parente constava no contrato social, mas apenas
formalmente, pois não tinha nenhuma participação na empresa.
Muitas vezes, o capital social era dividido da seguinte maneira:
99% das quotas para você e 1% para o parente. Com essa
manobra, viabilizava-se a exploração da atividade econômica
com responsabilidade limitada.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Michael D Brown, Shutterstock, 2018.

Para evitar as sociedades “de fachada”, a Lei n. 12.441/2011


inseriu o artigo 980-A ao Código Civil para dar ao empresário
individual o mesmo benefício da sociedade limitada, mas com
uma exigência: o capital social não pode ser inferior a 100 salários
mínimos e deve ser integralizado no momento da constituição
da empresa.

Com a exigência do capital social mínimo, muitos ainda


continuam criando sociedades “de fachada”, pois o Código Civil
não exige valor mínimo para o capital social das sociedades
limitadas. Como podemos ver, então, ainda não se alcançou a
solução completa do problema.

A empresa individual de
responsabilidade limitada permite ao
empresário os mesmos benefícios da
separação patrimonial concedidos à
sociedade limitada.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Responsabilidade limitada dos sócios


e administração da sociedade
Neste tópico, você vai estudar as quotas e a responsabilidade dos
sócios da sociedade limitada. Vamos aprender sobre o dever de
integralizar o capital social e a possibilidade de transferências
de quotas. Na sequência, você vai identificar as deliberações
dos sócios na sociedade limitada, oportunidade em que vai
descobrir que alguns assuntos são de mais difícil aprovação do
que outros. Ao final do tópico, vamos analisar a administração da
sociedade limitada, que pode ser feita por profissional externo
ou por sócios. Podemos seguir? Vamos lá!

Quotas e responsabilidade dos sócios na


sociedade limitada
O capital social da sociedade limitada é dividido em quotas. As
quotas, por sua vez, são distribuídas entre os sócios, em partes
iguais ou desiguais, dependendo do que estipular o contrato social.

Embora a responsabilidade dos sócios da sociedade limitada se


limite ao valor da sua quota, há uma hipótese de solidariedade
em relação à estimação dos bens conferidos ao capital social,
conforme você pode consultar no 1o do artigo 1.055 do Código
Civil.

Fonte: bakhistudio, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

É de cinco anos, contados da data do registro de constituição


da sociedade, o prazo para exata estimação dos bens atribuídos
ao capital social, ato pelo qual todos os sócios respondem
solidariamente.

Por exemplo: se A, B e C constituíram uma sociedade limitada


e se comprometeram a entregar, cada um, R$ 20.000,00 para
formar o capital social, a partir do momento em que todos
tiverem entregado a prestação que lhes cabe, a responsabilidade
por dívidas da sociedade fica limitada à respectiva participação,
não podendo ter o patrimônio pessoal comprometido. Só que,
se B tiver integralizado apenas metade da parte que lhe cabia
(R$ 10.000,00), A e C podem ser obrigados a pagar esse valor a
credores da sociedade, o que extrapola a quota de participação
de cada um. Nesse caso, depois de realizar o pagamento,
vão poder obter reembolso de B, mediante o que se chama,
tecnicamente, de direito de regresso.

As quotas são indivisíveis em relação à sociedade, podendo ser


iguais ou desiguais, embora na prática dos negócios as quotas
tenham igual valor, sendo subscritas conforme a contribuição de
cada sócio para a formação do capital social.

Quanto à transferência das quotas, cabe ao contrato social


estipular a forma de transmissão para outros sócios ou para
terceiros.

No entanto, se o contrato social for omisso, a regra válida é a


seguinte: o sócio pode ceder parcial ou totalmente sua quota
a quem seja sócio, independentemente da concordância dos
demais; ou a terceiro, desde que não ha ja oposição de mais de
um quarto do capital social.

E o que acontece se um sócio não integraliza a quota que lhe


cabia? Nesse caso, os demais sócios podem tomar essa quota
para si ou transferi-la a terceiros, situação em que o titular
original será excluído. Por conta da exclusão, ele vai receber o
valor porventura pago até então, descontados os juros de mora,
as prestações previstas no contrato social e outras despesas
necessárias.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Os sócios podem adquirir quotas


uns dos outros e até mesmo partes
das quotas sociais, mas a alienação
a terceiros somente é admitida
excepcionalmente.

Deliberações dos sócios na sociedade limitada


A sociedade limitada pode ser administrada por um ou mais
sócios. Pode também ser administrada por terceiros. Nada
impede, aliás, a constituição de um conselho de administração
(ou seja, de um órgão que decida em conjunto), caso em que o
contrato social pode prever a necessidade de decisões conjuntas.
De qualquer forma, o Código Civil prevê assuntos que somente
podem ser decididos por deliberação dos sócios. Eles constam
dos artigos 1.071 a 1.080, que também preveem regras para que
as deliberações sejam feitas.

Os assuntos que dependem necessariamente de deliberação


dos sócios são os seguintes (artigo 1.071 do Código Civil):

aprovação das contas da administração;

designação de administradores, quando feita em ato separado;

destituição de administradores;

modo da remuneração dos sócios, quando não estabelecida em contrato;

modificação do contrato social;

a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;

nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;

pedido de recuperação judicial ou extra judicial.

Além desses assuntos, outros podem ser estipulados no contrato


social ou por meio de outras leis.

As decisões dos sócios são tomadas por quantidades diferentes


de votos, a depender do assunto analisado. Dependem do voto
de ao menos três quartos do capital social as seguintes matérias:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Quórum de 3/4 (necessário à aprovação das seguintes matérias)


Modificação do contrato social

A incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação

Dependem dos votos correspondentes a mais da metade do


capital social os seguintes assuntos:

Quórum de maioria do capital social


Designação de administradores, quando feita em ato separado

Destituição de administradores

Modo da remuneração dos sócios, quando não estabelecida em contrato

Pedido de recuperação judicial ou extra judicial

Já as demais matérias podem ser votadas pela maioria dos


votos dos presentes, exceto quando o contrato social ou alguma
lei não exigir quantidade maior.

Fonte: aurielaki, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

As deliberações dos sócios são tomadas em reunião ou


assembleia, cuja convocação deve ser feita pelos administradores
sempre que a lei ou o contrato social assim determinar. Veja que
essas deliberações são tomadas por maioria de votos, que são
contados segundo o valor das quotas de cada um.

O artigo 1.010 do Código Civil prevê que, nas deliberações, a


maioria absoluta corresponde a mais da metade do capital social.
Mas o que acontece se houver empate? Nesse caso, prevalece
a opção escolhida pelo maior número de sócios. Mas e se ainda
assim persistir o empate? Nesse caso, somente um juiz pode
decidir.

É desnecessária a reunião ou assembleia para as decisões em


relação aos assuntos mencionados anteriormente quando todos
os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto
delas (3o do artigo 1.072 do Código Civil).

Além do administrador, a reunião ou assembleia pode ser


convocada:

por sócio, quando o primeiro retardar a convocação por mais de 60 dias, em violação da lei ou
do contrato social;

por titulares de mais de 1/5 do capital social, quando não atendido, no prazo de 8 dias, pedido de
convocação devidamente fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas;

pelo conselho fiscal, quando houver retardo da convocação da assembleia dos sócios ou sempre
que ocorrer motivo grave e urgente.

O Código Civil impõe diferentes


quóruns para que a sociedade limitada
pratique seus atos, de acordo com a
complexidade de cada matéria.

C
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Administração da sociedade limitada


A administração da sociedade limitada pode ser feita por sócios
ou por terceiros. Esse modelo diferencia e favorece o uso dessa
modalidade societária em relação a outras, que não admitem
terceiros na atividade de administração. As regras sobre a
administração da sociedade limitada estão previstas nos artigos
1.060 a 1.065 do Código Civil.

Fonte: bluebay, Shutterstock,2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A sociedade limitada pode ser administrada por uma ou mais


pessoas, que podem ser designadas no contrato social ou em
ato separado. Admite-se até mesmo que a administração seja
atribuída conjuntamente a todos os sócios. Nesse caso, a inclusão
de nova pessoa no quadro sócio lhe confere, automaticamente, a
condição de administrador? Não, conforme prevê expressamente
o parágrafo único do artigo 1.060 do Código Civil.

Embora a administração da sociedade limitada possa ser feita


por terceiro, ou seja, por não sócio, existem regras rígidas que
devem ser obedecidas para sua nomeação. Se o capital social
não estiver totalmente integralizado, vai ser necessária a
aprovação da unanimidade dos sócios para a designação de
terceiro como administrador. Por outro lado, se o capital social
estiver totalmente integralizado, é preciso aprovação de dois
terços do capital social.

O exercício do cargo de administrador termina pelo decurso do


prazo, quando previsto, ou pela destituição, que pode ocorrer em
qualquer tempo. A destituição de administrador sócio depende
da aprovação de sócios titulares de, no mínimo, dois terços do
capital social, exceto se o contrato social estipular requisito
diverso.

O término do exercício do cargo de administrador deve ser


averbado no registro competente, no prazo de 10 dias após a
sua ocorrência. O prazo reduzido se justifica pela importância
de tornar público o fato, para evitar que terceiros possam ser
prejudicados ao negociar com quem não tem mais poderes de
gestão, por exemplo.

Se o administrador renunciar à sua função, esse ato vai produzir


efeitos: em relação à sociedade, no momento em que esta tomar
conhecimento da sua comunicação, que deve ser escrita; em
relação a terceiros, após a averbação e publicação.

A saída e chegada de um administrador


é ato de extrema relevância e por isso
precisa ser averbado para que se torne
de conhecimento geral.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Reestruturação societária

Neste tópico, você vai ver quais são os casos de modificação


da estrutura societária da sociedade limitada. Vamos analisar
hipóteses como morte, retirada do sócio por vontade espontânea,
expulsão e incapacidade de acordo com as disposições do
Código Civil.

Estrutura societária da sociedade limitada


A estrutura da sociedade limitada é estabelecida no ato de
constituição e claramente apresentada no contrato social. Só que
existem várias razões que implicam a necessidade de mudanças,
que reestruturam o quadro societário. Em alguns casos, a
reestruturação é um dever que, se não for observado, vai gerar
a dissolução da sociedade (como a ausência de pluralidade de
sócios, por exemplo).

A morte é uma das situações que gera a necessidade de


reestruturação societária. Quando o sócio falece, liquida-se a sua
quota, oportunidade em que o valor correspondente é pago aos
herdeiros. Nada impede, contudo, que o contrato social preveja
situação diversa. Também é possível que os sócios remanescentes
optem por dissolver a sociedade, conforme autoriza o inciso II do
artigo 1.028 do Código Civil. Por acordo entre os herdeiros e os
sócios remanescentes, também é possível admitir a substituição
do sócio falecido.

Além da morte, qualquer sócio pode optar por se retirar da


sociedade por espontânea vontade. Se estivermos diante de uma
sociedade por prazo indeterminado, a retirada vai demandar
prévia notificação aos demais sócios, o que deve ser feito com
antecedência mínima de 60 dias. No caso de sociedade por
prazo determinado, a retirada do sócio somente é admitida se
for judicialmente comprovada a ocorrência de uma justa causa,
conforme exige o artigo 1.029 do Código Civil. Nesses casos, nos
30 dias subsequentes à notificação, os demais sócios podem
optar pela dissolução da sociedade.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Shutterstock, 2018.

Mas atenção! Estas não são as únicas hipóteses que geram a


necessidade de reestruturação do quadro societário. A prática
de alguns atos e a incapacidade também podem gerar a
necessidade de modificação do quadro societário, conforme
você vai ver nos tópicos a seguir.

Os efeitos da morte do sócio precisam


ser acordados quando da elaboração
do contrato social, pois várias situações
podem surgir com a sua ocorrência.

Resolução da sociedade em relação a sócio


minoritário no caso da prática de ato inegável
gravidade
Você sabia que é possível que um sócio minoritário seja expulso
do quadro societário da sociedade limitada? Isto ocorre mediante
deliberação da maioria que representa mais da metade do
capital social. Só que a expulsão não pode ocorrer por qualquer
motivo: é indispensável que o sócio minoritário esteja colocando
em risco a continuidade da empresa e que tenha praticado atos
de inegável gravidade.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: Fonte: Tom Wang, Shutterstock, 2018.

A expulsão é, tecnicamente, chamada de resolução da sociedade


em relação ao sócio retirado. Embora o Código Civil preveja essa
possibilidade, é imprescindível que o contrato social preveja a
possibilidade de exclusão do sócio por justa causa, pois, sem essa
previsão, não vai ser possível aplicar a operação de expulsão.

Também não é possível expulsar o sócio sem que ha ja prova


da colocação da sociedade em risco, o que demanda a
demonstração da prática dos atos de inegável gravidade. Se o
sócio fornece informações confidenciais da sociedade a uma
empresa concorrente, por exemplo, pratica atos que justificam
a sua expulsão. Se tem mera desavença com outros sócios, aí já
não há motivo hábil que fundamente a expulsão.

Repare que a finalidade da expulsão é manter a empresa, de


modo a manter a arrecadação de tributos, a geração de empregos
e a movimentação da economia. O direito não se importa com
desavenças entre sócios. Por isso, situações que não impactem
a própria existência da sociedade não são aptas a motivar a
expulsão do sócio minoritário.

Antes de expulsar o sócio minoritário, a sociedade deve lhe


comunicar sobre a intenção e lhe conferir direito de defesa.
Se não agir dessa maneira, a expulsão poderá ser anulada
judicialmente.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A expulsão somente pode ser consumada em reunião ou


assembleia convocada especialmente para essa finalidade e
desde que o acusado tenha sido informado de maneira prévia,
com tempo suficiente que permita sua presença e exercício do
direito de defesa.

Após a decisão de expulsão, altera-se o contrato social. Como


regra, o valor da quota do sócio expulso vai ser liquidado (e
pago ao sócio em dinheiro, no prazo de 90 dias, salvo acordo em
sentido diverso) e o capital social reduzido, mas é possível que os
demais sócios supram o valor da quota para evitar essa redução.

A comprovação do ato de inegável


gravidade e do risco de continuidade
da sociedade empresária são
indispensáveis à expulsão do sócio
minoritário.

Resolução da sociedade em relação a sócio


minoritário no caso de incapacidade ou falta
grave no cumprimento das obrigações sociais
Além da expulsão do sócio minoritário no caso da prática de
ato de inegável gravidade, que coloque em risco a continuidade
da empresa, também pode haver a resolução da sociedade em
relação a apenas um sócio em outras situações, conforme prevê
o artigo 1.030 do Código Civil.

Precisamente, o sócio minoritário da sociedade limitada pode ser


excluído no caso de incapacidade superveniente. A incapacidade
é a perda da capacidade civil, ou seja, da possibilidade de
compreender e decidir por si só. Perdida a capacidade,
inviabiliza-se a prática de atos de administração patrimonial.
Note, no entanto, que a incapacidade deve ser superveniente, ou
seja, após a constituição da sociedade. Por exemplo: se o sócio
sofreu um acidente de veículo que lhe causou danos cerebrais
irreversíveis, pode ser excluído da sociedade.

Além da incapacidade, o sócio da sociedade limitada também


pode ser excluído se praticar falta grave no cumprimento de
suas obrigações. Note que, aqui, não é necessário que a falta
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

ameace a continuidade da empresa, diferente da hipótese


que você estudou no tópico anterior. Por isso, a exclusão pela
falta grave não pode ser feita no âmbito da própria sociedade,
diferente da hipótese que você estudou no tópico anterior.

Tanto a exclusão por incapacidade como a exclusão pelo


cometimento de falta grave no desempenho das obrigações
sociais só podem ocorrer mediante processo judicial. Além disso,
ambas as situações devem contar com a iniciativa da maioria dos
demais sócios. Sem isso, não é possível excluir o sócio incapaz
nem o sócio que cometeu a falta grave.

Fonte: SlavkoSereda, Shutterstock, 2018.

Em ambos os casos, consumada a exclusão por decisão judicial,


a quota do sócio será liquidada, oportunidade em que ele vai
receber o valor correspondente, no prazo de 90 dias. Mas atenção!
Nada impede que os demais sócios possam suprir a redução do
capital social mediante a aquisição do valor correspondente.

O juiz só expulsará o sócio quando


se convencer de que esta é a
melhor solução, o que depende da
comprovação do descumprimento das
obrigações sociais.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Remédios empresariais:
noções básicas e conceitos

Agora, você vai descobrir quais são os três remédios empresariais,


compreendidas nesse conceito as ferramentas da Lei n.
11.101/2005, ou seja, a recuperação extra judicial, a recuperação
judicial e a falência. Primeiro, você vai compreender noções
básicas sobre esses institutos e, depois, vai analisar algumas das
suas características. Preparado(a)?

Noções gerais sobre a recuperação extra judicial,


judicial e falência
A recuperação extra judicial, a judicial e a falência são reguladas
pela Lei n. 11.101/05. Esta é a fonte de todas as regras que regem
esses três remédios empresariais.

Mas por que eles são chamados de remédios? Você tem algum
palpite?

É porque servem para corrigir problemas graves dos empresários


individuais ou das sociedades empresárias. Assim como uma
pessoa adoece e precisa de remédios para se curar, uma sociedade
também precisa de mecanismos para voltar ao mercado, no
caso da recuperação judicial ou extrajudicial, ou para encerrar
definitivamente as suas atividades, no caso da falência.

Os três mecanismos podem ser utilizados quando há situação


de crise na sociedade empresária, que se configura quando
há excesso de débitos e insuficiência de créditos. Em qualquer
caso, a participação do Poder Judiciário é exigida pela Lei n.
11.101/05, que prevê que compete ao juiz do local do principal
estabelecimento do devedor, ou da filial de empresa que
mantiver sede fora do Brasil, a homologação do plano de
recuperação extra judicial, o deferimento da recuperação
judicial ou a decretação da falência.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Compete ao Poder Judiciário apreciar


o pedido de recuperação judicial e o
de falência, assim como homologar o
plano de recuperação extra judicial.

Vamos aprender mais detalhes sobre cada uma dessas situações


nos tópicos seguintes.

Recuperação extra judicial e judicial


A recuperação tem por objetivo salvar a sociedade empresária
da falência. É a última medida antes da quebra e pode ser feita
de modo extra judicial ou judicial. A recuperação judicial está
prevista nos artigos 47 a 74 da Lei n. 11.101/2005. Já a recuperação
extra judicial está prevista nos artigos 161 a 167 da mesma lei.
Essas medidas substituíram a concordata, figura da legislação
revogada que também visava a evitar a falência.

Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.

Mas quem pode requerer a recuperação judicial? Apenas o


devedor que preencher os seguintes requisitos:
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

exercício regular de atividade empresária há mais de dois anos;

não ser falido e, se o foi, que suas obrigações estejam extintas;

não ter obtido a recuperação judicial há menos de cinco anos, ainda que como ME ou EPP;

não ter sido condenado ou não ser, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada
por crime falimentar.

Vários atos podem ser utilizados como instrumentos de


recuperação da empresa em crise. A concessão de prazo para
pagamento de obrigações já vencidas ou a vencer é uma
delas. Operações societárias, como cisão, incorporação, fusão
e transformação (que você vai estudar mais adiante), também
podem ser adotadas, assim como a alteração do controle
societário, a substituição de administradores e até mesmo, em
relação aos empregados da empresa, a redução de salários,
compensação de horários e a redução de jornada, desde que
ha ja acordo ou convenção coletiva de trabalho nesse sentido, o
que se faz com a participação do sindicato dos trabalhadores.

Note que o pedido de recuperação judicial é feito ao juiz, que


pode deferi-lo ou não. Credores também se manifestam sobre
a pretensão da sociedade que pretende obter o benefício,
admitindo-se, inclusive, que o pedido de recuperação judicial
seja convertido em falência.

E no caso da recuperação extra judicial? Ela poderá ser efetivada


quando a sociedade empresária preencher os requisitos
apresentados anteriormente, mas, em vez de pedir judicialmente
o instrumento, negocia com os credores o plano de recuperação.
Aceito o plano pelos credores, a sociedade empresária pode
levá-lo a juízo para mera homologação.

A recuperação judicial e extra judicial


são figuras que substituem a
concordata, prevista pela legislação revogada pela Lei
n. 11.101/2005.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Falência
A falência é o ato de encerramento da sociedade empresária
que não obteve sucesso na exploração da atividade econômica.
Diante da superação do passivo pelo ativo, de modo irrecuperável,
a falência promove o fim das atividades da empresa e busca, na
medida do possível, organizar o que restou da sociedade para que
os débitos existentes sejam quitados. Perceba que seu objetivo é,
portanto, reduzir o impacto da quebra perante a sociedade.

Fonte: Palto, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

A falência está regulada nos artigos 75 a 160 da Lei n. 11.101/2005.


Em decorrência do impacto que gera e da complexidade que
tem, somente pode ser decretada judicialmente. Em outras
palavras, significa que apenas um juiz pode decretar que uma
sociedade empresária faliu.

Com a falência, promove-se o afastamento do devedor das


atividades empresárias, com a finalidade de preservar e otimizar
a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos da
empresa, inclusive os intangíveis. Ela gera também o vencimento
antecipado dos débitos do devedor.

Mas em quais casos o juiz decreta a falência de uma sociedade


empresária? Em várias situações, todas previstas no artigo 94
da Lei n. 11.101/2005, entre as quais podemos destacar algumas:

a ausência de pagamento, no vencimento, de obrigação materializada em título executivo


protestado cujo valor seja maior do que 40 salários mínimos;

o descumprimento, no prazo fixado, de obrigação assumida no plano de recuperação judicial;

a simulação de transferência do seu principal estabelecimento para burlar a legislação ou para


prejudicar credor.

As pessoas que podem requerer a falência são as seguintes:

O próprio devedor

Pessoas que podem O cônjuge sobrevivente (quando o devedor morre), qualquer herdeiro do
devedor ou o inventariante
requerer a falência
do devedor O cotista ou o acionista do devedor

Qualquer credor

Durante o processo de falência, é estabelecida uma lista de


créditos para que se possa identificar a ordem de recebimentos
dos valores apurados. Nessa classificação, ocupam a primeira
posição os créditos trabalhistas de até 150 salários mínimos por
credor e os decorrentes de acidentes do trabalho.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Veja que, após a falência, o devedor fica impedido de explorar


novamente a atividade econômica, exceto se cumprir todas as
obrigações remanescentes, o que deverá comprovar judicialmente.

A falência é o desfecho não desejado


da atividade empresária, situação
que muitos sequer cogitam quando
constituem uma sociedade empresária.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Diferenças entre fusão, incorporação,


cisão e transformação

Neste tópico, para finalizar nossa disciplina, você vai estudar


as diferenças entre as operações empresariais de fusão,
cisão e transformação. Cada uma delas vai ser analisada em
tópico autônomo, para facilitar a sua compreensão sobre as
características de cada uma delas, de acordo com a legislação
de regência. Vamos nessa?

Fusão empresarial
Fusão é a operação empresarial que se consuma mediante a
união de duas ou mais sociedades para formação de uma nova
sociedade. As sociedades que se unem são extintas, e todos os
direitos e obrigações delas são transferidos à nova sociedade.
Para facilitar seu entendimento, observe o esquema a seguir:

Empresa ‘‘A’’ Empresa ‘‘B’’ Empresa ‘‘C’’

Empresa ‘‘X’’

Por exemplo: imagine que a empresa A e a empresa B se uniram


para constituir a empresa X. A empresa A deixou de pagar horas
extras para dez empregados. Agora, com a extinção da empresa
A, será que esses empregados podem cobrar as horas extras não
pagas da empresa X? A resposta é positiva, pois a empresa X
assume todas as obrigações das empresas A e B, o que inclui a
responsabilidade por atos irregulares que qualquer uma delas
tenha praticado.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2018.

E quais são os passos para uma operação de fusão?

Ela deve ser decidida pela sociedade em assembleia. Na


ocasião, deve-se aprovar o projeto do ato constitutivo da nova
sociedade (ou seja, do contrato social ou estatuto), assim como o
plano de distribuição do capital social. Após a aprovação desses
documentos, nomeiam-se peritos para avaliar o patrimônio da
sociedade.

Assim que os peritos concluem o trabalho e apresentam o laudo


de avaliação patrimonial, os administradores convocam reunião
ou assembleia para que os sócios tomem conhecimento do
documento e decidam sobre a constituição definitiva da nova
sociedade.

Publicados os atos relativos à fusão, o credor que tiver sido


prejudicado pela operação pode pleitear a anulação judicial da
operação no prazo de até 90 dias. Para evitar a anulação, a
nova sociedade pode promover o depósito da quantia pleiteada
pelo credor.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Processos judiciais, como você sabe, costumam demorar para


que sejam encerrados. Muitos anos passam até que o processo
judicial finalmente alcance o desfecho. Nesse intervalo de tempo,
várias situações podem acontecer. Assim, o que você acha que
acontece se, durante a ação de anulação da fusão proposta
pelo credor prejudicado, ocorrer a falência da nova sociedade?
Nesse caso, o Código Civil confere ao credor o direito de pedir a
separação dos patrimônios, para que tenha o seu crédito pago
pelo montante apurado em relação à sociedade original.

O desaparecimento de duas ou mais


sociedades que dão origem a uma
nova é viabilizado pela legislação
brasileira por meio da fusão.

Cisão e incorporação empresarial


A cisão é a operação empresarial de separação de uma sociedade
empresária em duas ou mais novas sociedades.

Fonte: FedericaMilella, Shutterstock, 2018.


DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Por exemplo: a sociedade A, após conflitos entre os sócios, se


separa em sociedades X e Y. Nesse caso, a sociedade original se
extingue e surgem duas novas sociedades, conforme mostra o
esquema a seguir:

Empresa ‘‘A’’

Empresa ‘‘X’’ Empresa ‘‘Y’’

Já a incorporação ocorre quando uma sociedade empresária


absorve uma ou mais sociedades. Por exemplo: a sociedade X
absorve as sociedades A, B e C, caso em que remanescerá apenas
a primeira, extinguindo-se as últimas. Nesse caso, a sociedade
que incorpora as demais lhes sucede em todos os direitos e
obrigações, conforme você pode conferir no esquema a seguir:

Antes da incorporação:

Empresa ‘‘A’’ Empresa ‘‘B’’

Empresa ‘‘C’’ Empresa ‘‘X’’

Depois da incorporação:

Empresa ‘‘X’’

Antes da consumação da operação empresarial, os sócios da


sociedade incorporada devem aprovar as suas bases e o projeto
de reforma do ato constitutivo. Se isto ocorrer, após a aprovação,
devem-se autorizar os administradores a praticarem os atos
necessários à incorporação, conforme prevê o 1o do artigo 1.117
do Código Civil.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Já a deliberação dos sócios da sociedade incorporadora


compreende a nomeação de peritos, que devem avaliar o
patrimônio líquido da sociedade a ser incorporada.

Com a aprovação dos atos de incorporação, a sociedade


incorporadora vai declarar a extinção da sociedade incorporada,
com a respectiva averbação na junta comercial.

Publicados os atos relativos à cisão ou à incorporação, o credor


que tiver sido prejudicado pela operação pode pleitear a anulação
judicial da operação no prazo de até 90 dias. Para evitar a
anulação, a sociedade (incorporadora ou a resultante da cisão)
pode promover o depósito da quantia pleiteada pelo credor.

Assim como acontece em relação à fusão, se antes do término


do processo de anulação da cisão ou da incorporação ocorrer a
falência da nova sociedade, ao credor é conferido o direito de
pedir a separação dos patrimônios, para que tenha o seu crédito
pago pelo montante apurado em relação à sociedade original.

Cisão é a divisão de uma sociedade


para criação de duas ou mais,
enquanto que incorporação é a
absorção de uma ou mais sociedades
por outra.

Transformação empresarial
A transformação é a operação empresarial de mudança do tipo
societário adotado pela sociedade empresária. Para que ela seja
feita, devemos observar as regras de constituição e inscrição do
modelo societário que vai ser adotado. Não há necessidade de
dissolução ou liquidação da sociedade.

Por exemplo: dois amigos instituíram uma sociedade em conta


de participação, que lhes parecia ser um modelo adequado ao
trabalho que pretendiam realizar. Ao final do trabalho, decidiram
seguir na exploração da atividade econômica, agora de modo
definitivo; para isso, acordaram o uso da sociedade limitada. A
operação de conversão da sociedade em conta de participação
para a sociedade limitada é a transformação. Para concretizá-
la, precisamos observar todos os requisitos de constituição
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

da sociedade limitada. O contrato social, por exemplo, deve


ser elaborado com os requisitos exigidos pelo artigo 1.054 do
Código Civil.

A transformação depende do consentimento unânime dos


sócios, exceto se prevista no ato constitutivo. No último caso,
o sócio dissidente pode se retirar da sociedade, recebendo o
valor da sua quota em dinheiro, no prazo de 90 dias, a partir
da liquidação, exceto se o contrato social contiver previsão de
forma diversa.

Os direitos dos credores não podem alterar nem por qualquer


modo prejudicar os direitos dos credores. Evidentemente, os
direitos da sociedade transformada não sofrem alteração por
conta da operação empresarial consumada.

No caso de falência da sociedade transformada, ela produz


efeitos em relação a todos os sócios da nova sociedade, do
mesmo modo. Mas atenção! Há uma exceção que pode ser
utilizada por titulares de créditos anteriores à transformação.
Estes podem requerer que a falência da sociedade transformada
produza efeitos apenas em relação aos sócios que, no tipo
societário anterior, a eles estariam sujeitos. Lembre-se de que
na sociedade em conta de participação, por exemplo, apenas o
sócio ostensivo está sujeito à falência.

A transformação permite que uma


sociedade altere o seu tipo societário
sem a necessidade de extinguir uma
para criar outra.

Assim encerramos esta unidade, na qual você estudou as


diferenças entre as sociedades contratuais e institucionais,
com ênfase para a sociedade limitada. Em relação a esta, você
aprendeu sobre a legislação que lhe é aplicável, sobre as quotas,
deliberações e responsabilidade dos sócios, sobre a atividade
de administração, a reestruturação societária, os remédios
empresariais e sobre as diferenças entre as operações de fusão,
incorporação, cisão e transformação. Com isso, acreditamos que
agora você está capacitado(a) a atuar na operacionalização
da atividade empresarial e comercial, aplicando as normas
norteadoras para esses ramos do direito.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

Referências bibliográficas

BRASIL. Presidência da República. Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 17
jan. 2018.

______. Presidência da República. Decreto-lei n. 5.452, de 1o


de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
Del5452.htm>. Acesso em: 23 jan. 2018.

______. Presidência da República. Lei n. 8.934, de 18 de novembro


de 1994. Dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e
Atividades Afins e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8934.htm>. Acesso em: 15
jan. 2018.

______. Presidência da República. Lei n. 9.279, de 14 de maio


de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade
industrial. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L9279.htm>. Acesso em: 17 jan. 2018.

______. Presidência da República. Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro


de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos
autorais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em: 17 jan. 2018.

______. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro


de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 12
jan. 2018.

______. Presidência da República. Lei n. 11.101, de 9 de fevereiro de


2005. Regula a recuperação judicial, a extra judicial e a falência
do empresário e da sociedade empresária. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.
htm>. Acesso em: 23 jan. 2018.

______. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Divergência


em RESP n. 1.306.553-SC. Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJE:
12/12/2014.
DIREITO EMPRESARIAL E
FUNDAMENTOS

COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Revista


dos Tribunais, 2016.

JUCESP. Escritório Regional Bauru. Modelos – Contratos. Bauru:


Jucesp, 2018. Disponível em: <http://www.jucespbauru.com.br/
contratos.php>. Acesso em: 31 jan. 2018.

LENZA, P. Direito constitucional Esquematizado®, 21st edição.


Editora Saraiva, 2017.

MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro. São Paulo: Atlas, 2005.


4V.

______. Direito Empresarial Brasileiro. 4. ed. São Paulo: Atlas,


2010. Vol. 1.

______. Manual de Direito Empresarial I. 8. ed. São Paulo: Atlas,


2013.

NEGRÃO, R. Manual de Direito Comercial e de Empresa. São Paulo:


Saraiva, 2012. V. 1.

REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva,


2005. V. 1

SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed.


São Paulo: Malheiros, 2011.

TEIXEIRA, T. Direito Empresarial Sistematizado: doutrina,


jurisprudência e prática. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

______. Direito Empresarial Sistematizado: doutrina,


jurisprudência e prática. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

TOMAZETTE, M. Curso de Direito Empresarial: teoria geral e


direito societário. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017. V. 1.
to
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Você também pode gostar