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UNIVERSIDADE FEEVALE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FÁBIO FELIPE JAKOBY

HOLDING COMO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Novo Hamburgo

2022/2
FÁBIO FELIPE JAKOBY

HOLDING COMO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Direito
pela Universidade Feevale.

Orientador: Prof. Me. Marina Furlan

Novo Hamburgo
2022/2
FÁBIO FELIPE JAKOBY

Trabalho de Conclusão do Curso de Direito, com o título HOLDING COMO


INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO, submetido ao corpo docente
da Universidade Feevale, como requisito necessário para a obtenção do Grau de
Bacharel em Direito.

Encaminho o presente trabalho para avaliação de banca examinadora:

__________________________________________
Prof. Me. Marina Furlan
Orientadora

__________________________________________
Prof.
Banca Examinadora

__________________________________________
Prof.
Banca Examinadora

Novo Hamburgo, 18 de novembro de 2022


AGRADECIMENTOS

À Deus, por ter me dado energia, saúde e força para superar as dificuldades
relacionadas ao trabalho e ao curso de Direito.
À minha orientadora, Marina Furlan, pela oportunidade de orientação e
confiança.
À minha noiva, Luciana Figueiró, que presenciou todos os momentos da
elaboração desta pesquisa, prestando apoio e paciência sempre que necessário.
Ao meu pai, Geraldo Jakoby Júnior, por ser o meu maior professor nestes anos
de curso de Direito.
À minha mãe, Janaína Jakoby, por todo o suporte que me fornece.
RESUMO

Trata-se de estudo quanto a aplicação de empresa denominada Holding como


instrumento de planejamento sucessório, tanto familiar como empresarial. O objetivo
central do estudo é abordar as vantagens e desvantagens da utilização deste meio
como forma de organização sucessória, bem como demonstrar o procedimento
tradicionalmente usado às relações sucessórias. Propõe-se, assim, através de
pesquisa bibliográfica, mediante a observação de, principalmente, obras publicadas
por especialistas das áreas do direito, sendo este o principal método de elaboração
do trabalho, concluir sobre as possibilidades e importância do planejamento
sucessório por meio da holding. Nesse sentido, conclui-se que a utilização deste tipo
empresarial na elaboração de uma organização sucessória é de suma importância
para a plena continuidade de empresas ditas como familiares, além de possibilitar ao
sucedido a proteção do seu patrimônio por meio de cláusulas contratuais específicas,
bem como a apresentação de vantagens tributárias a partir de sua utilização,
reduzindo os custos quando comparado ao inventário tradicional, este sendo judicial
ou extrajudicial.

Palavras-chave: Planejamento Sucessório; Tributário; Holding; Empresa Familiar;


ABSTRACT

This is a study regarding the application of a company called Holding as an


instrument of succession planning, both family and business. The main objective of the
study is to address the advantages and disadvantages of using this medium as a form
of succession organization, as well as to demonstrate the procedure traditionally used
in succession relations. It is therefore proposed, through bibliographical research,
through the observation of, mainly, works published by specialists in the areas of law,
which is the main method of elaboration of the work, to conclude on the possibilities
and importance of succession planning through the holding. In this sense, it is
concluded that the use of this type of business in the elaboration of a succession
organization is of paramount importance for the full continuity of companies said to be
family-owned, in addition to enabling the successor to protect their assets through
specific contractual clauses, as well as such as the presentation of tax advantages
from its use, reducing costs when compared to the traditional inventory, the latter being
judicial or extrajudicial.

Keywords: Succession Plannig; Tributary; Holding; Family Company;


7

LISTA DE SIGLAS

CC Código Civil

CF Constituição Federal

COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CPC Código de Processo Civil

CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

IRPF Imposto de Renda Pessoa Física

IRPJ Imposto de Renda Pessoa Jurídica

ITBI Imposto de Transmissão sobre Bens Imóveis

ITCMD Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação

PIS Programa de Integração Social

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1 HOLDING.............................................................................................................. 13

1.1 CONCEITO ......................................................................................................... 13


1.2 ORIGEM ............................................................................................................. 18
1.3 NATUREZA JURÍDICA ....................................................................................... 20
1.4 ESPÉCIES DE HOLDING ................................................................................... 22
1.4.1 Holding Pura.................................................................................................... 23
1.4.2 Holding Mista .................................................................................................. 23
1.4.3 Holding de Controle ........................................................................................ 24
1.4.4 Holding de Participação ................................................................................. 25
1.4.5 Holding de Administração.............................................................................. 25
1.4.6 Holding Imobiliária .......................................................................................... 26
1.4.7 Holding Derivada ............................................................................................ 27
1.4.8 Holding Setorial .............................................................................................. 27
1.5 DA HOLDING FAMILIAR E PATRIMONIAL........................................................ 27
1.5.1 Holding Familiar .............................................................................................. 28
1.5.2 Holding Patrimonial ........................................................................................ 29
1.6 DA DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA .......... 32

2 FUNDAMENTOS DO DIREITO SUCESSÓRIO .................................................... 35

2.1 CONCEITO ......................................................................................................... 35


2.2 PRINCÍPIOS ....................................................................................................... 37
2.2.1 Princípio da Função Social da Herança ........................................................ 38
2.2.2 Princípio da Territorialidade .......................................................................... 38
2.2.3 Princípio da Temporariedade......................................................................... 39
2.2.4 Princípio do Respeito à Vontade Manifestada ............................................. 40
2.2.5 Princípio non ultra vires hereditatis .............................................................. 41
2.2.6 Princípio da Saisine ........................................................................................ 41
2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL ............................................................... 42
2.4 SUCESSÃO FAMILIAR PÓS-MORTE ................................................................ 44
2.4.1 Sucessão Legítima ......................................................................................... 44
2.4.2 Sucessão Testamentária ................................................................................ 47
9

2.5 ABERTURA DA SUCESSÃO, INVENTÁRIO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL E


PARTILHA DE BENS ................................................................................................ 50
2.5.1 Da Abertura da Sucessão .............................................................................. 50
2.5.2 Do Inventário Judicial e Extrajudicial ........................................................... 52
2.5.3 Da Partilha de Bens ........................................................................................ 53

3 DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS AVALIADAS PELA UTILIZAÇÃO DA


HOLDING NO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO .................................................... 55

3.1 DA PREVENÇÃO DE CONFLITOS FAMILIARES .............................................. 55


3.2 DAS VANTAGENS TRIBUTÁRIAS ..................................................................... 57
3.3 DAS EMPRESAS FAMILIARES ......................................................................... 63
3.4 DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS .................................................................... 68
3.4.1 Do Usufruto ..................................................................................................... 68
3.4.2 Da Incomunicabilidade ................................................................................... 69
3.4.3 Da Impenhorabilidade .................................................................................... 71
3.4.4 Da Inalienabilidade ......................................................................................... 71
3.4.5 Da Reversibilidade .......................................................................................... 72
3.5 DAS DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA HOLDING COMO MEIO DE
PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO ............................................................................. 73

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 75

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 80
10

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto de pesquisa buscar entender as


vantagens e desvantagens em planejar de forma organizada a forma que irá decorrer
a sucessão de bens causa mortis no momento oportuno, seja no âmbito familiar, com
a devida partilha dos bens entre os herdeiros legais, assim como, também, na hipótese
do falecido exercer função de empresário, possuindo a própria empresa, o que
acarretará na divisão da quotas sociais da companhia e, de igual forma, deverá ser
escolhido um novo administrador que assumirá o cargo do falecido.
Hoje em dia, os meios tradicionais de transferência de bens do de cujus aos
sucessores ainda são os tradicionais, através da sucessão legítima e fazendo o uso
de instrumentos judiciais e extrajudiciais de inventário. Outro meio bastante usado,
que foge do que geralmente é feito, é quando o sucedido deixa declarado, em
testamento, o desejo de destinar parte do seu patrimônio a certas pessoas,
respeitando as limitações legais.
Acontece que a busca por meios estratégicos de sucessão está cada vez mais
em pauta na sociedade, com o intuito de escapar dos procedimentos lentos, custosos
e demasiadamente burocráticos, concernentes aos processos judicias e extrajudiciais
de inventário. Destaca-se que, mesmo nos casos em que a sucessão testamentária
existir, ainda assim o processo de inventário e a consequente partilha de bens são
necessárias, uma vez que o testamenteiro só poderá dispor de metade do seu
patrimônio por esta ferramenta.
Nesse contexto, importante é saber das possibilidades e formas de
planejamento sucessório existentes atualmente, o que é o objeto desta pesquisa,
focando, principalmente, no planejamento através da utilização de empresas holding.
Diferentemente do uso do testamento, em que a pessoa fica limitada a certos
requisitos legais, e mesmo assim precisará ser aberto o processo de inventário para
que a vontade do falecido tenha efeitos jurídicos legais, a operação feita pela holding
não necessita de abertura deste procedimento no momento da morte do sucedido,
sendo este um dos pontos chave para a importância deste instrumento.
O objetivo do trabalho é entender a dinâmica desta forma de planejamento, as
vantagens que podem ser aproveitadas a quem dela fazer uso, da mesma maneira
em que abordada as desvantagens da sua aplicação.
11

Busca-se trazer ao leitor os problemas principais em que não só os herdeiros,


mas também a pessoa que considera a ideia de planejar as questões sucessórias da
sua partida, possuem nestas circunstâncias, uma vez que o sucedido poderá dispor
com mais liberdade do seu patrimônio, havendo mais autonomia no momento de
escolher a destinação dos seus bens, do futuro de eventual empresa e da proteção
que gostaria de ter no tempo da transmissão.
Nesse sentido, trata-se de pesquisa explicativa, observando e identificando os
fatores que determinam a aplicação do instrumento da holding como meio de
planejamento sucessório.
Sendo a pesquisa bibliográfica, o principal método utilizado é o dedutivo na
elaboração do trabalho, busca-se o embasamento a responder os objetivos da
pesquisa através de teses, dissertações, artigos acadêmicos e com ênfase a obras
publicadas pelos maiores especialistas do assunto na doutrina brasileira, além de
contemplar e estar de acordo com a legislação e a jurisprudência do país.
São três capítulos que discorrem sobre o mencionado tema, trazendo aspectos
essenciais à compreensão do tema, com o propósito de engrandecer o conhecimento
e curiosidade acerca do assunto, popularizando este importante momento que muitas
vezes é ignorado pelas pessoas.
A pesquisa é iniciada, a partir do primeiro capítulo, demonstrando um panorama
geral sobre a empresa holding, conceituando-a, exibindo uma breve conjuntura
histórica da sua origem, expondo os tipos e formas previstos em lei, e as mais
relevantes aplicações deste tipo empresarial no mundo jurídico, com destaque na área
de sucessões.
Posteriormente, com o objetivo de esclarecer aspectos fundamentais ao
entendimento do foco da pesquisa, o segundo capítulo desta pesquisa adentra na
esfera do direito sucessório, apresentando os elementares princípios que norteiam a
transmissão de patrimônio do sucedido aos sucessores no momento da morte,
princípios estes que devem ser considerados dentro de um planejamento sucessório,
pois constam como objetivo da herança.
Ainda no capítulo segundo, busca-se aclarar o que são e como, na prática,
decorrem as sucessões legítimas e as sucessões testamentárias, com a consequente
abertura de processo de inventário, que poderá ser tanto judicial como extrajudicial,
12

finalizando com a partilha dos bens do falecido aos herdeiros determinados pelo
processo.
Diante deste embasamento necessário, o terceiro capítulo irá demonstrar,
finalmente, as vantagens que estão presentes quando escolhido fazer a utilização de
empresa holding para planejar a sucessão do patrimônio, assim como nos casos em
que ela poderá ser melhor aplicada e que sua aplicação terá mais sentido,
especialmente nas hipóteses de existir um número elevado de bens e que estes
costumam ser locados, ou, ainda, quando o falecido exercer função de empresário e
possuir empresa própria.
Apresentadas as vantagens, aborda-se as desvantagens que o uso deste
instrumento pode ocasionar às pessoas vinculadas ao procedimento, para que, a
partir de todos os pontos apresentados no trabalho, os leitores possam chegar às
próprias conclusões acerca da possibilidade e necessidade do planejamento
sucessório às suas vidas, fazendo com que as pessoas deixem de empregar este
planejamento, que pode facilitar a sua vida e de gerações futuras, por simples receio
e falta de conhecimento.
13

1 HOLDING

Iniciando-se pela conceitualização, neste capítulo serão tratados os pontos


introdutivos sobre holding, como a origem desta forma empresarial, bem como a sua
natureza jurídica.
Da mesma forma, buscando proporcionar um panorama geral sobre este
instituto e suas aplicações no sistema comercial brasileiro, será apontado os
diferentes tipos empresariais e espécies das holdings que estão previstos e existem
no nosso ordenamento jurídico, abrangendo as possibilidades de operação para cada
tipo jurídico e suas finalidades.
Neste ínterim, será abordado especialmente o instrumento da holding familiar,
que será o elemento principal de estudo desta pesquisa, demonstrando a utilização
deste instrumento para a gestão e administração dos negócios, como também o
próprio planejamento sucessório.

1.1 CONCEITO

Primeiramente, cabe entender o significado da palavra hold, que serve como


base para a conceituação deste tipo empresarial. To hold, do inglês, é traduzido para
o português como “deter”, “segurar”, “conter” ou “controlar”, dentre outras traduções
que exemplificam certas funções desta espécie empresária, caracterizando algumas
de suas características.1
Dito isso, a holding, ou holding company, é qualificada por ser uma sociedade
que opera como detentora de bens e direitos, a partir da preliminar integralização do
capital social da empresa com o patrimônio selecionado. Estes bens integralizados
vão desde bens “comuns”, como bens imóveis e móveis, até os mais peculiares, como

1 ECKERT, A.; CRESTANI, T.; MECCA, M. S. Vantagens do planejamento tributário através da


constituição de uma holding patrimonial. Revista Brasileira Multidisciplinar, v. 21, n. 3, p. 48-58,
2018, p. 50. Disponível em: https://www.revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/view/568.
Acesso em: 20 jun. 2022.
14

participações societárias e bens de propriedade industrial, a exemplo de marcas e


patentes.2
Ou seja, a partir da integralização do capital social da empresa – da holding –
a pessoa jurídica passa a então controlar os bens que nela foram inseridos, fazendo
jus à tradução do inglês, “controle”. A holding, diante deste ato oneroso, passa a deter
o domínio sobre seus bens integrados, adquirindo como objetivo administrá-los da
maneira que supra as expectativas societárias a que ela foi criada, respeitando as
estratégias impostas.3
De forma concisa, uma holding é conceituada pelo autor Marlon Tomazette da
seguinte forma:

As holdings são sociedades operacionais, constituídas para o exercício do


poder de controle ou para a participação relevante em outra s sociedades.
Dentro desta função, as holdings apresentam-se como um meio
extremamente útil para centralizar o controle de um grupo, descentralizando
a administração, gerindo de forma unificada grupos de sociedades, que se
têm difundido pela prática econômica moderna.4

De acordo com as conceituações, em síntese, holding se trata de uma empresa


que detém a maioria das ações de uma ou mais empresas em determinada empresa
– e tal participação constitui-se como atividade principal. Logo, o que se observa é
que a forma de sociedade como holding permite a centralização do controle efetivo de
um grupo através da descentralização da administração.5
Em torno do conceito de holding, outros se fazem necessários para de maneira
mais adequada se estudar o referido instituto jurídico-econômico. Sendo assim, a Lei
nº 6.404/1976 (Lei de Sociedade por Ações) fornece normativos que são capazes de
prestar esclarecimentos acerta do funcionamento da estruturação do poder
econômico. Inclusive, o mencionado regulamento aborda, de maneira minuciosa, os

2 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento
jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 14. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
04 abr. 2022.
3 LEMOS Jr, Eloy Pereira; SILVA, Raul Sebastião Vasconcelos. Reorganização societária e blindagem

patrimonial por meio de constituição de holding. Revista Scientia Iuris, v. 18, n. 2, p. 55-71, 2014, p.
60. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/issue/view/1032. Acesso em: 20 jun.
2022.
4 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. São Paulo:

Saraiva, 2021, p. 274. E-book. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555592658/. Acesso em: 11 abr. 2022.
5 DIAS, Norton Maldonado; MARTINS, Barbara Piovesan. Benefícios da Holding Familiar como forma

de planejamento no Brasil. Científic@ - Multidisciplinary Journal, v. 6, n. 2, pp. 64–83, 2020, p. 68.


Disponível em: http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/cientifica/article/view/3499/2879.
Acesso em: 20 jun. 2022.
15

aspectos primordiais que se encontram necessários para a conceituação de uma


sociedade do tipo holding. Tópicos como: sociedade controladora e sociedade
subsidiária; acionista controlador; exercício do poder de controle; acordo de
acionistas; ações sem direito a voto; grupo de sociedades formalmente constituídos –
são elementos que circundam o instituto jurídico-econômico das holdings. Deste
modo, para melhor ser conceituado o instituto propriamente dito - que se configura
como objeto deste estudo – faz-se necessário também definir os elementos que o
circundam.6
A globalização e o desenvolvimento da economia de mercado na
contemporaneidade tornam fundamentais o assunto em comento - dada a sua
necessária relevância para a economia e o direito societário. O que se observa, de
acordo com Tarcísio Teixeira, é que, nesta inter-relação acima mencionada, é
qualificada como uma formação de uma pirâmide hierárquica de holdings,
denominada pirâmide societária ou pirâmide empresarial. Isto acontece, pois, onde,
ao mesmo tempo em que uma empresa assume a posição de subsidiária em relação
às empresas que estão acima dela, ela também assume a posição de controladora
em relação às empresas que estão abaixo dela. Pontua-se que tal posição assumida
pela empresa em relação às demais, no que tange a sua superioridade hierárquica
piramidal, é definida pela participação majoritária que ela possui em relação às demais
empresas.7
A própria holding é controladora de outras sociedades, enquanto subsidiárias
são as empresas controladas. O interessante é que, mesmo as subsidiárias sendo
controladas por uma holding, elas também podem ser acionistas majoritárias de outras
empresas. Assim sendo, elas serão ao mesmo tempo controladas e subsidiárias, mas
também controladoras – holding – nas empresas em que possuem maior participação
acionária.8
Um dos aspectos que diferem a holding das outras empresas é o ponto em que
sua preocupação principal deixar de ser o mundo externo, como o mercado atuante e

6 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 6.404/1976, de 15 de Dezembro de 1976. Dispõe sobre


as Sociedades por Ações. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm.
Acesso em: 10 Abr. de 2022.
7 TEIXEIRA, Tarcísio, Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 7. ed. São

Paulo: Saraiva, 2018, p.255.


8 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São

Paulo: Saraiva, 2021, p. 274. E-book. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555592658/. Acesso em: 11 abr. 2022.
16

propensões dos clientes, e se concentra em uma visão interna do negócio. Para o


objetivo da holding, a relevância não está na prestação do serviço em si, ou na
comercialização de produtos, mas sim na eficiência e nas vantagens econômicas, a
partir de sua instauração e das técnicas adotadas, nas suas empresas que estão
sendo controladas ou que são coligadas. A holding mira melhorias e rentabilidade com
base em fatores internos, na maior parte dos casos. Elas buscam diferenciar-se das
outras companhias pelo característico envolvimento a respeito da atividade
econômica de um terceiro, ao invés de se preocupar com a própria prestação de
atividade empresarial.9
Mas uma das funções mais importantes das holdings é o controle centralizado
de diversas pessoas jurídicas. Desde o início da sua constituição, esta sociedade
procura organizar e centralizar as atividades de administração entre as companhias
coligadas em apenas uma empresa. Quanto mais as empresas controladas pela
holding lucrarem, é um forte indicativo de que o trabalho e as estratégias utilizadas
mediante ela estão gerando os resultados esperados.10
A partir de uma visão internacional, uma companhia holding é entendida,
normalmente, apenas na sua finalidade controladora e centralizadora, conhecida
assim como uma holding pura. É assim que conceitua Lagerquist, quando
compreende esta sociedade como uma empresa que possui ações suficientes de
outras para controlá-las operacional e financeiramente. 11
As sociedades holdings podem ser formadas com diversos intuitos. São as
suas intenções que norteiam qual tipo de holding será a mais adequada para
determinada situação. Podem ser puras, de controle, de participação, de
administração, mistas, patrimoniais e imobiliárias. Cada tipo possui suas

9 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.
4. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso
em: 04 abr. 2022.
10 DIAS, Norton Maldonado; MARTINS, Barbara Piovesan. Benefícios da Holding Familiar como forma

de planejamento no Brasil. Científic@ - Multidisciplinary Journal, v. 6, n. 2, pp. 64–83, 2020, p. 75.


Disponível em: http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/cientifica/article/view/3499/2879.
Acesso em: 20 jun. 2022.
11 LAGERQUIST, 2012, apud, LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo:

Cengage Learning Brasil, 2012, p. 5. E-book. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso em: 04 abr. 2022.
17

características e planejamentos próprios, que serão abordados com mais atenção no


de decorrer da pesquisa.12
Conforme a caracterização exposta pelo autor Gladston Mamede, a holding é
por ele definida como:

A chamada holding familiar não é um tipo específico, mas uma


contextualização específica. Pode ser uma holding pura ou mista, de
administração, de organização ou patrimonial, isso é indiferente. Sua marca
característica é o fato de se enquadrar no âmbito de determinada família e,
assim, servir ao planejamento desenvolvido por seus membros, considerando
desafios como organização do patrimônio, administração de bens, otimização
fiscal, sucessão hereditária etc.13

Os autores João Bosco Lodi e Edna Pires Lodi possuem a seguinte visão sobre
este tipo empresarial:

As sociedades holdings, diferentemente daquelas empresas tradicionais,


conhecidas como operadoras (que visam à produção ou circulação de bens
e serviços) formam grupos societários, o que possibilita, desta forma, o
compartilhamento da gerência e do controle. Sua atividade não visa,
diretamente, a relação entre fornecedor e consumidor, mas garantir melhor
rentabilidade aos sócios e às empresas em que participa.14

Portanto, para a criação de uma holding, os aspectos de conhecimentos


técnicos vão muito além do jurídico, necessitando de demasiado entendimento em
questões contábeis e econômicas, uma vez que a principal finalidade, na enormidade
dos casos, é o aumento de lucro, além de ter um panorama geral do lugar em que
está sendo inserido, lidando com os riscos e tendo ciência de onde se quer chegar a
partir da sua implementação.15
Porém, é importante frisar que, segundo a Autora Dayane de Almeida Araujo,
a Holding não se difere como empresa de nenhuma outra, havendo viabilidade de ser
definida como sociedade limitada, sociedade simples, sociedade em nome coletivo,

12 MANGANELLI, D. L. Holding Familiar como estrutura de planejamento sucessório em empresas


familiares. Revista de Direito, v. 8, n. 02, p. 95–118, 2017, p. 100. Disponível em:
https://periodicos.ufv.br/revistadir/article/view/1789. Acesso em: 20 jun. 2022.
13 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 11-12. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
04 abr. 2022.
14 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.

8. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso


em: 04 abr. 2022.
15 ARAUJO, Elaine Cristina de; ROCHA, Arlindo Luiz Junior. HOLDING: visão societária, contábil e

tributária. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2021, p. 9. E-Book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/187970/pdf/0?code=HibIH6625hWiX9onP/oXrvlCY
mxDQFiBiXkZp5RAnMKDZLGvp581fSIIhMgwU3yHDos9OPHKWMmV+ZtoV/cK5A==. Acesso em: 10
abr. 2022.
18

sociedade em comandita simples, sociedade anônima, sociedade em comandita por


ações, ou, inclusive, na modalidade Eireli. A holding apenas não poderá ser do tipo
cooperativa, pois os requisitos para este tipo empresarial não vão ao encontro deste
tipo empresarial.16
Neste contexto, o objeto social da companhia se torna de suma importância,
pois é o fator que delimitará as atividades comerciais que serão exercidas pelo tipo
empresarial. Será através desta escolha que surgirão diversos efeitos significativos à
companhia, desde repercussões tributárias, até mesmo sobre responsabilidade dos
administradores.17

1.2 ORIGEM

O surgimento da utilização deste tipo empresarial foi no ano de 1780, no Estado


da Pensilvânia, nos Estados Unidos, quando, a partir de uma permissão outorgada
por lei, autorizou que empresas detivessem participações em capitais de companhias
distintas. Apoiado no sucesso que foi a implementação deste sistema empresarial,
rapidamente os outros estados da federação norte americana souberam e se
interessaram neste modelo de negócio, difundindo seu uso comercial em todo o
território do país. As holdings auxiliaram no desenvolvimento e crescimento da
indústria no país, uma vez que as empresas despendiam de menos recursos para
aprovisionamento e distribuição dos serviços e produtos da empresa, pois
beneficiavam-se das facilidades de controle do negócio, com base na criação destas
companhias. Após o conhecimento dos benefícios deste tipo empresarial nos Estados
Unidos da América, a Europa, iniciou a utilização deste instrumento, entretanto,
mantendo algumas dúvidas quanto a legalidade e legitimidade jurídica da organização
desta companhia. Com iniciativa na Alemanha, seguida de países como Itália e
Espanha, as incertezas em relação a validade desta ferramenta jurídica empresarial
ocorria em virtude da alegação de que a holding caracterizava uma mera renovação

16 ARAUJO, Dayane de Almeida. Planejamento tributário aplicado aos instrumentos sucessórios.


1. ed. São Paulo: Almedina Brasil, 2018, p. 105. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788584933648/. Acesso em 10 abr. 2022.
17 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. 8. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 10 abr. 2022.
19

do mesmo patrimônio, sendo assim, considerada por alguns economistas como uma
empresa fictícia.18
Acontece que essas hesitações não foram o suficiente para que o uso desta
empresa não fosse disseminado no meio jurídico-econômico. Em virtude dessa
propagação, no Brasil, o marco inicial da holding foi após a publicação da Lei nº
6.404/1976, mais conhecida como Lei das Sociedades Anônimas, conforme o Artigo
2º, §3º, descrito abaixo:

Art. 2º: Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não
contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
§ 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda
que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar
o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais. 19

Como explicado por Edna Pires Lodi e João Bosco Lodi, o nascimento da
holding começou quando da aparição de Empresas-mãe e de suas empresas filiadas.
Com base neste contexto, empresa-mãe é a empresa que se dá o surgimento de um
grupo empresarial, após o seu desenvolvimento e avanço econômico, possuindo
condições financeiras e fluxo de caixa capazes de constituir novas companhias e
adquirir bens. Nesse sentido, as empresas coligadas, por mais que independentes da
empresa-mãe, na prática eram dependentes da administração da sua instituidora. A
partir desta conjuntura, a criação de uma holding veio a facilitar o controle centralizado
de todas as empresas, bem como a sustentação econômica como um todo, se
tornando uma das razões da concepção deste tipo empresarial. A utilização da holding
favoreceu a transferência de recursos entre as empresas coligadas e a empresa-mãe
e, consequentemente, auxiliou do progresso financeiro e comercial apoiado da sua
implementação. 20
Surpreendentemente, a utilização deste instrumento não se iniciou através de
empresas multinacionais. Foram companhias nacionais que testaram e aperfeiçoaram
a aplicação desta estrutura organizacional de empresa. Apenas após essas

18 COMPARATO, Fabio Konder; SALOMÃO, Calixto Filho. O Poder de Controle na Sociedade


Anônima. 6. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2013, p. 142. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5131-3/. Acesso em: 12 abr. 2022.
19 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 6.404/1976, de 15 de Dezembro de 1976. Dispõe sobre

as Sociedades por Ações. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm.


Acesso em: 10 Abr. de 2022.
20 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.

15. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso


em: 04 abr. 2022.
20

experiências em sociedades locais, multinacionais se beneficiaram com o emprego


da holding em seus negócios, facilitando a movimentação de recursos financeiros no
Brasil. 21
Como já citado, a expressão é derivada do inglês, significando deter, sustentar.
Esse é um dos motivos que o autor Gladston Mamede busca designar a holding como
uma sociedade que detém participações societárias de outras sociedades, podendo
ter sido constituída exclusivamente para esta finalidade, sendo assim uma sociedade
de participação, ou não exclusivamente, como o exemplo das holding companys
mistas. 22
À vista desses elementos, a aplicação da holding nada mais é do que uma
evolução administrativa no mundo empresarial. Os empresários que unem o
conhecimento deste instrumento e integram às suas necessidades na administração
e controle dos seus negócios, possuem vantagem em relação aos concorrentes e
benefícios administrativos consideráveis. Mas cabe ressaltar que a utilização deste
instrumento não é recomendável para qualquer empresa. É preciso entender o
panorama geral do negócio para a aplicação e adequação às suas necessidades.23

1.3 NATUREZA JURÍDICA

No que se refere à natureza jurídica das companhias holdings,


doutrinariamente segue-se um padrão no entendimento dos juristas que dissertam
sobre o assunto. Seguindo os ditames da doutrina majoritária sobre o tema, estas
empresas poderão ser registradas tanto como sociedades simples, como sociedades
empresárias. Dentre estas duas opções, será escolhida a forma da sociedade por

21 DE OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Holding, Administração Corporativa e Unidade


Estratégica de Negócio: uma abordagem prátiva. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 15. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522494941/. Acesso em: 06 abr.
2022.
22 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 14. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
10 abr. 2022.
23 TEIXEIRA, Tarcísio, Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 7. ed.

São Paulo: Saraiva, 2018, p.257.


21

consequência do cumprimento das expectativas da utilização da holding, bem como


a depender das estratégias que serão usadas para a sua implementação. 24

Neste sentido, as sociedades empresárias e as sociedades simples, isso de


acordo com as conclusões do autor Marlon Tomazette, são conceituadas da seguinte
forma:

As sociedades empresárias exercem atividade própria de empresário (art.


982 do Código Civil) que esteja sujeito a registro, vale dizer, elas exercem
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou
serviços e a lei lhes impõe uma obrigação de registro.
De outro lado, seriam sociedades simples aquelas destinadas ao exercício
das demais atividades econômicas, como as atividades de natureza
intelectual, científica ou artística (art. 966, parágrafo único, do Código Civil),
salvo se constituírem elemento de empresa. Tal classificação se deve ao
papel secundário que a organização dos fatores da produção toma em tais
atividades, nas quais o caráter pessoal é que predomina, em oposição à
atividade do empresário, em que a organização assume papel predominante.
25

Importante destacar que a diferença entre sociedade empresária e sociedade


simples não está somente no intuito lucrativo do negócio, pois, apenas este quesito,
não é o bastante para distinguir essas duas espécies empresariais. Isso ocorre pelo
fato de existirem sociedade simples que buscam, como objetivo principal, o
auferimento de lucro. São exemplos as sociedades jurídicas, compostas por
advogados.26
O Código Civil assevera que há dois tipos de empresas, a sociedade simples e
a sociedade empresarial, como antes citado e conforme está disposto na lei, abaixo
transcrita:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade


que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a
registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária
a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce

24 LEMOS Jr, Eloy Pereira; SILVA, Raul Sebastião Vasconcelos. Reorganização societária e blindagem
patrimonial por meio de constituição de holding. Revista Scientia Iuris, v. 18, n. 2, p. 55-71, 2014, p.
62. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/issue/view/1032. Acesso em: 20 jun.
2022.
25 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. São Paulo:

Saraiva, 2021, p. 132. E-book. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555592658/. Acesso em: 11 abr. 2022.
26 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de empresa. 25. ed. São Paulo:

Saraiva, 2013, pg. 139.


22

profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o


concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa. 27

A respeito do tema, também é importante destacar o entendimento de Gladston


Mamede, acerca da natureza jurídica das sociedades:

De abertura, a diferença está no registro: sociedades simples são registradas


nos Cartórios de Registro Público de Pessoas Jurídicas; sociedades
empresárias, por seu turno, nas Juntas Comerciais. A distinção não é singela,
considerando que as Juntas Comerciais têm um controle mais rígido sobre
os atos empresariais, atos societários e afins. A interferência dos
Registradores é, habitualmente, bem menor, assim como seu poder de
intervenção, ao contrário do que se passa com as Juntas, que têm órgãos
deliberativos com poder para julgamento, ainda que contra eles se possa
recorrer ao Judiciário. Os registradores têm o poder de suscitar dúvidas junto
ao Poder Judiciário. Aqui, também, há uma outra distinção importante: muitas
das discussões sobre os atos da Junta Comercial deverão ser submetidas à
Justiça Federal, já que desempenham função federal delegada. Em oposição,
os atos registrais civis são discutidos na Justiça Estadual. 28

Entretanto, indo de encontro ao pensamento majoritário sobre a natureza


jurídica das holdings, Fábio Konder Comparato e Calixto Salomão Filho entendem
que, mesmo quando é criada apenas uma sociedade de participação, também
conhecida e chamada de holding pura – que será explicado posteriormente –, ainda
assim ela é organizada para a prestação de um serviço e, por este motivo, havendo
uma empresarialidade autônoma da holding, a sua natureza jurídica sempre será de
uma sociedade empresária.29

1.4 ESPÉCIES DE HOLDING

Existem diferentes variações de holdings, cada uma com suas peculiaridades,


mas sempre buscando o mesmo objetivo: vantagens administrativas e financeiras.

27 BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 15
nov. 2022.
28 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 118. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
10 nov. 2022.
29 COMPARATO, Fabio Konder; SALOMÃO, Calixto Filho. O Poder de Controle na Sociedade

Anônima. 6. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2013, p. 141. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5131-3/. Acesso em: 12 abr. 2022.
23

1.4.1 Holding Pura

A holding pura é utilizada para a participação no capital de outras empresas,


tendo como atividade manter a titularidade de quotas e ações de outra ou outras
companhias. A partir disso, também são conhecidas como sociedades de
participação, pelo motivo de terem como finalidade participar e colaborar com outras
companhias.30
Por terem unicamente a atribuição de conter as ações de outras empresas, a
holding pura pode controla-las de qualquer lugar, o que facilita a sua transferência
para onde for mais conveniente para a companhia, principalmente pela questão
monetária. Entretanto, parte da doutrina entende que, nos dias atuais, constituir uma
sociedade holding pura é praticamente incapaz.31
Defende-se que, de forma temporária, a criação desta espécie de holding pode
ser eficaz para evitar a pulverização próxima de uma sociedade, ou a perda do poder
controlador. Porém, a sociedade de participação também pode ser constituída com o
intuito de centralização das atividades administrativas que são realizadas por todas
as companhias que dela fazem parte.32

1.4.2 Holding Mista

Já a holding mista, além de seu objetivo de participar de outras empresas, ela


igualmente conta com a exploração de atividades comerciais. Nesse sentido, além de

30 LEMOS Jr, Eloy Pereira; SILVA, Raul Sebastião Vasconcelos. Reorganização societária e blindagem
patrimonial por meio de constituição de holding. Revista Scientia Iuris, v. 18, n. 2, p. 55-71, 2014, p.
65. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/issue/view/1032. Acesso em: 20 jun.
2022.
31 TEIXEIRA, Tarcísio, Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 7. ed.

São Paulo: Saraiva, 2018, p.258.


32 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.

53. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso


em: 04 abr. 2022.
24

comportar as necessidades e atribuições de uma holding pura, integra serviços ou


produtos capazes de produzir receitas à companhia. 33
Conforme conceituação do autor Glasdton Mamede, a holding mista pode ser
considerada:

Uma sociedade que não se dedica exclusivamente à titularidade de


participação ou participações societárias (quotas e/ou ações), mas que se
dedica simultaneamente a atividades empresariais em sentido estrito, ou
seja, à produção e/ou circulação de bens, prestação de serviços etc. 34

Portanto, a holding mista pode ser uma sociedade que tenha a prática de
estipuladas atividades comerciais como objeto social, mas também detém o controle
de quotas e ações de outras empresas. No Brasil, é considerada a mais comumente
utilizada dentre os tipos que serão abordadas neste capítulo.35

1.4.3 Holding de Controle

As holdings de controle são sociedades usadas como um modo de garantia ao


controle societário das companhias. Da mesma forma, essa espécie de holding facilita
a comunicação e um célere consenso enquanto das decisões que se referem ao
controle da empresa.36
A sociedade de participação (holding pura) é confundida com as holdings de
controle, por possuírem funções compatíveis uma com a outra. Entretanto, a principal
distinção é que a sociedade de controle tem como objetivo principal a retenção de
ações e quotas de outras sociedades que sejam o bastante para adquirir o seu

33 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,
sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. 8. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 10 abr. 2022.
34 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 18. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
10 abr. 2022.
35 MANGANELLI, D. L. Holding Familiar como estrutura de planejamento sucessório em empresas

familiares. Revista de Direito, v. 8, n. 02, p. 95–118, 2017, p. 105. Disponível em:


https://periodicos.ufv.br/revistadir/article/view/1789. Acesso em: 20 jun. 2022.
36 ARAUJO, Elaine Cristina de; ROCHA, Arlindo Luiz Junior. HOLDING: visão societária, contábil e

tributária. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2021, p. 5. E-Book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/187970/pdf/0?code=HibIH6625hWiX9onP/oXrvlCY
mxDQFiBiXkZp5RAnMKDZLGvp581fSIIhMgwU3yHDos9OPHKWMmV+ZtoV/cK5A==. Acesso em: 10
abr. 2022.
25

controle societário. Em sentido similar, mas contrário, a sociedade de participação visa


a titularidade de quotas e ações de outras companhias, mas não especificamente o
controle destas. 37
Nestes casos, as pontuadas distinções estarão estipuladas nas cláusulas dos
referentes contratos sociais, regulando os atos societários e administrativos cabíveis
em determinadas situações. 38

1.4.4 Holding de Participação

Esta espécie de holding é uma sociedade de participação, entretanto, participa


de forma minoritária nas outras companhias. Inicialmente, havia sido criada para
adquirir participação de apenas 5% no capital de renomadas empresas internacionais.
A ideia era que profissionais melhores qualificados estivessem responsáveis pelo
controle e administração de grandes empresas, enquanto os proprietários das
companhias apenas recebiam os dividendos e lucros. É bastante aplicada à pequenos
acionistas que não desejam ter envolvimento nas decisões das companhias.39

1.4.5 Holding de Administração

Holding de administração, ou administrativa, possui uma visão focada na


administração profissional das operadoras de empresas. São responsáveis pela
centralização da administração de outras sociedades, dedicando-se à elaboração de

37 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento
jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 19. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
10 abr. 2022.
38 LEMOS Jr, Eloy Pereira; SILVA, Raul Sebastião Vasconcelos. Reorganização societária e blindagem

patrimonial por meio de constituição de holding. Revista Scientia Iuris, v. 18, n. 2, p. 55-71, 2014, p.
58. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/issue/view/1032. Acesso em: 20 jun.
2022.
39 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.

50. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso


em: 04 abr. 2022.
26

planos estratégicos para as companhias, estruturação de metas e construção de


orientações às empresas.40
O objetivo é substituir a administração de um grupo de empresas, que são
administradas por pessoas físicas, por uma administração mais organizada e
profissional, passando para a holding o poder de decisão sem a interferência de
terceiros. Outra vantagem das holdings de administração é que elas promovem
proteção ao nome dos sócios, em virtude de não ser registrado através das pessoas
físicas por de trás das empresas. 41

1.4.6 Holding Imobiliária

Este tipo de holding é destinado para as empresas organizadas a serem


proprietárias de bens imóveis. A partir da sua implementação, a empresa obtém
benefícios fiscais na compra e venda de imóveis, bem como no recebimento de
valores referentes aos aluguéis dos bens que integram o seu capital. Estas empresas
também podem oferecer serviços de construção, reforma, manutenção e demais
afazeres referentes ao mercado imobiliário no geral, devendo as atividades serem pré-
definidas contratualmente, em razão da carga tributária que será prevista na
particularidade dos casos. 42

40 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.
50. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso
em: 04 abr. 2022.
41 ARAUJO, Elaine Cristina de; ROCHA, Arlindo Luiz Junior. HOLDING: visão societária, contábil e

tributária. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2021, p. 6. E-Book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/187970/pdf/0?code=HibIH6625hWiX9onP/oXrvlCY
mxDQFiBiXkZp5RAnMKDZLGvp581fSIIhMgwU3yHDos9OPHKWMmV+ZtoV/cK5A==. Acesso em: 10
abr. 2022.
42 ARAUJO, Elaine Cristina de; ROCHA, Arlindo Luiz Junior. HOLDING: visão societária, contábil e

tributária. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2021, p. 5. E-Book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/187970/pdf/0?code=HibIH6625hWiX9onP/oXrvlCY
mxDQFiBiXkZp5RAnMKDZLGvp581fSIIhMgwU3yHDos9OPHKWMmV+ZtoV/cK5A==. Acesso em: 10
abr. 2022.
27

1.4.7 Holding Derivada

Como o próprio nome sugere, a holding derivada acontece pelo aproveitamento


de uma companhia já existente, transformando-a em uma empresa holding. Esta
forma de transformação empresarial é relevante principalmente nas hipóteses em que
a empresa a ser aproveitada possui bens imóveis consideráveis financeiramente, pois
pode ser beneficiada tributariamente, conforme explicado quando falado sobre a
holding imobiliária. Este tipo de holding necessita de um menor capital de investimento
para a sua criação, pois apenas se torna essencial a alteração do contrato da empresa
que será aproveitada.43

1.4.8 Holding Setorial

É encarregada de reunir diversas empresas com objetivos em comum, ou seja,


estas companhias prestam serviços e comercializam produtos nos mesmos setores
entre si. De alguma forma, estas empresas possuem planejamentos coincidentes,
como na área industrial, econômica, agrícola, publicitária, entre outras. Normalmente,
as holdings setoriais são lideradas por uma empresa que é especialista no setor em
questão, servindo como parâmetro para o desenvolvimento das outras companhias. 44

1.5 DA HOLDING FAMILIAR E PATRIMONIAL

Por se tratarem, principalmente, do objeto de estudo desta pesquisa, se dará


maior atenção à conceituação destes dois tipos de holdings, que serão desenvolvidos
a seguir.

43 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.
51. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso
em: 04 abr. 2022.
44 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.

50. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso


em: 04 abr. 2022.
28

1.5.1 Holding Familiar

A holding familiar tem importante atuação nas situações que envolvem


empresas familiares. Por isso que, um dos objetivos da sua implementação é evitar
brigas e discussões entre os componentes do grupo familiar, o que poderia calhar em
problemas internos e na depreciação da empresa.45
Ela busca separar os grupos familiares, facilitando o topo administrativo de
quem a opera. Assim, protege a empresa de eventuais conflitos de um número
considerável de quotistas.46
Pelas circunstâncias relevantes do grande número de empresas familiares
existentes no Brasil, a holding familiar igualmente serve para definir os
administradores que serão responsáveis a dar seguimento ao negócio comercial no
caso de falecimento de algum dos sócios, tentando evitar, assim, o perdimento de
toda uma vida de dedicação e emprego de energia.47
São inúmeros os episódios em que empresas familiares foram à falência devido
a morte de seu administrador. Portanto, este planejamento é de suma importância
para que a empresa consiga sobreviver. 48
As questões peculiares deste tipo de holding é justamente os seus
componentes, visto que a intenção é de limitar-se a uma família, como forma de
planejamento escolhido por seus próprios membros, principalmente pelo patriarca ou
matriarca, que ainda em vida pode suceder o que tiver interesse, deixando a

45 LEMOS Jr, Eloy Pereira; SILVA, Raul Sebastião Vasconcelos. Reorganização societária e blindagem
patrimonial por meio de constituição de holding. Revista Scientia Iuris, v. 18, n. 2, p. 55-71, 2014, p.
60. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/issue/view/1032. Acesso em: 20 jun.
2022.
46 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.

51. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/. Acesso


em: 04 abr. 2022.
47 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 94. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
10 abr. 2022.
48 MANGANELLI, D. L. Holding Familiar como estrutura de planejamento sucessório em empresas

familiares. Revista de Direito, v. 8, n. 02, p. 95–118, 2017, p. 106. Disponível em:


https://periodicos.ufv.br/revistadir/article/view/1789. Acesso em: 20 jun. 2022.
29

administração de seu patrimônio de forma organizada, e por vezes possuindo uma


melhoria na carga tributária da empresa.49
É por isso que não faz sentido a ideia de aproveitamento das vantagens que
uma sociedade de ações poderia fornecer, pois o objetivo é justamente a conservação
patrimonial da família, não desejando se aproximar de terceiros ou outras
companhias, constituindo-se uma sociedade empresária limitada. Por este motivo, a
holding familiar, assim como a holding patrimonial, servem como forma de
planejamento sucessório, além das demais funções que se obtém de sua utilização.
É por isso que estas holdings podem ser confundidas, pois são aplicadas em áreas
comuns.50

1.5.2 Holding Patrimonial

Este tipo de holding, objeto principal da pesquisa, é constituído principalmente


para a detenção, controle e administração de bens. Entre as vantagens da sua
constituição, leva-se em consideração a centralização da administração de uma
grande quantidade de patrimônio, por exemplo. 51
Além disso, pode consolidar, de forma breve e imediata, o controle que os
herdeiros exercerão pelos bens dispostos e integrados ao tipo societário Holding
Patrimonial, quando sobrevier a morte de quem a constituiu, no caso de um
planejamento sucessório.52
A holding patrimonial é hoje, no Brasil, uma das mais utilizadas no meio
empresarial. Isso ocorre porque a sua aplicação pode resultar em redução

49 ARAUJO, Dayane de Almeida. Planejamento tributário aplicado aos instrumentos sucessórios.


1. ed. São Paulo: Almedina Brasil, 2018, p. 105. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788584933648/. Acesso em 10 abr. 2022.
50 TEIXEIRA, Tarcísio, Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 7. ed.

São Paulo: Saraiva, 2018, p.259.


51 ECKERT, A.; CRESTANI, T.; MECCA, M. S. Vantagens do planejamento tributário através da

constituição de uma holding patrimonial. Revista Brasileira Multidisciplinar, v. 21, n. 3, p. 48-58,


2018, p. 50. Disponível em: https://www.revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/view/568.
Acesso em: 20 jun. 2022.
52 RASMUSSEN, U.W, 1988, apud ARAUJO, Elaine Cristina de; ROCHA, Arlindo Luiz Junior.

HOLDING: visão societária, contábil e tributária. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2021, p.
235. E-Book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/187970/pdf/0?code=HibIH6625hWiX9onP/oXrvlCY
mxDQFiBiXkZp5RAnMKDZLGvp581fSIIhMgwU3yHDos9OPHKWMmV+ZtoV/cK5A==. Acesso em: 10
abr. 2022.
30

considerável dos impostos pagos pela companhia, a partir dos meios de elisão fiscal
nela empregados.53
A constituição desta empresa também tem, como citado, uma função de
proteção patrimonial aos bens que compõem o seu capital. Nos dias atuais, além dos
riscos que corre, uma pessoa física que adquiri e mantém bens com valores elevados
em seu nome despende de custos do mesmo nível. Desde o estágio da compra, da
transmissão ao seu nome e até a mantença e administração dos bens, todas estas
fases consomem recursos financeiros do comprador. Entretanto, com a criação de
uma holding controladora do patrimônio, a companhia recebe todos os bens do seu
sócio, o qual começa a reter quotas da sociedade. Evidente que a sua utilização não
isenta a empresa e suas aquisições de todo e qualquer tipo de imposto, mas pode
diminuir significativamente no montante de cada uma delas.54
No planejamento sucessório, o detentor do patrimônio, após a transferência de
seus bens para a sociedade, antecipa a sucessão por meio da destinação das quotas
da empresa aos sucessores escolhidos. Nestes casos, para haver uma segurança do
detentor do patrimônio, enquanto ainda vivo, para que possa usufruir dos seus bens,
tanto para uso como para recebimento de eventuais dividendos, e que assegure a não
interferência de terceiros no patrimônio, o contrato social é constituído contendo
cláusulas restritivas de direitos, que ratificam os direitos do sócio doador e dos
herdeiros que estarão compondo a sociedade.55
Uma das cláusulas mais usadas nestes casos é a de incomunicabilidade dos
bens, que protege os herdeiros, quando casados, a depender do regime de
casamento que são regidos. Nesse caso, o regime de bens deve ser considerado,
pelo fato de haver diferenças entre a comunicabilidade dos bens de herança entre
cada regime. 56

53 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de empresa. 25. ed. São Paulo: editora
Saraiva, 2013, pg. 5.
54 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 94. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
20 jun. 2022.
55 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. 110. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 10 abr. 2022.
56 LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2012, p.

101. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522112647/.


Acesso em: 04 abr. 2022.
31

Além dela, a cláusula de reserva de usufruto tem muita importância nestas


situações. O instituto do usufruto é conceituado por Silvio Rodrigues da seguinte
forma:

De modo que no usufruto, como em todos os direitos reais so-bre coisas


alheias, há simultaneamente dois titulares de direitos diversos, recaintes
sobre a mesma coisa. O nu-proprietário, que ostenta a condição de dono; o
usufrutuário a quem compete o uso e gozo da coisa. 57

Ou seja, apesar de o doador já ter instituído o direcionamento das quotas


sociais, quando do momento da sua morte, ele continuará mantendo o usufruto dos
bens até o seu falecimento, para poder fazer uso e gozo dos bens enquanto achar
necessário.58
A cláusula de inalienabilidade dos bens, comumente empregadas nos contratos
sociais das holdings patrimoniais, garante ao doador que os bens que compõem o
capital da sociedade não poderão ser alienados enquanto as restrições impostas
contratualmente permanecerem ativas. 59
Ao se falar de doação de bens, a cláusula de reversibilidade é, da mesma
forma, de extrema importância. Esta cláusula assegura que, caso o donatário venha
a falecer previamente, ou seja, antes do doador, que está planejando a sucessão, o
bem que a ele iria ser objeto de doação irá retornar ao patrimônio do doador. Quando
essa fatalidade acontece, é normal que o doador prefira que os bens retornem ao seu
patrimônio, para que assim seja possível a reavaliação do planejamento sucessório e
da distribuição das quotas da sociedade. Nos casos em que não há esta cláusula de
reversibilidade mencionada, as quotas que iriam pertencer ao donatário falecido serão
objeto de inventário, mesmo que o doador ainda esteja em vida, pelo motivo da
inexistência da cláusula que obrigaria o retorno ao estado quo, podendo ocasionar da

57RODRIGUES, Silvio, 2003, APUD SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica
do planejamento societário, sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. 296. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 10 abr. 2022.
58 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. 110. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 10 abr. 2022.
59 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. 116. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 10 abr. 2022.
32

sucessão dos bens para terceiros que o patriarca ou matriarca não gostariam que
fossem vinculados.60
É por isso que diversos autores compreendem que a holding patrimonial é, nos
dias atuais, a mais necessária no cotidiano das pessoas. Ela é capaz de amplificar o
patrimônio pessoal do sócio, através da distribuição das quotas, proteger os bens e,
ainda, economizar tributações do âmbito imobiliário e, se pensado com este objetivo,
sucessório. São por estas razões que estes dois tipos de holdings serão objeto de
maior aprofundamento nos estudos desta pesquisa, demonstrando suas vantagens e
desvantagens nas aplicações, principalmente no que se refere ao planejamento
sucessório.61

1.6 DA DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Para a finalização do capítulo, é relevante destacar uma situação jurídica


cabível a acontecer quando da utilização da holding, principalmente das holdings
familiares e patrimoniais. A desconsideração inversa da personalidade jurídica,
disposta no Código de Processo Civil, em seu artigo 133, ocorre quando há uma
confusão patrimonial ou desvio de finalidade da empresa em relação aos seus
sócios.62
A ocorrência da desconsideração da personalidade jurídica possui duas
vertentes. A comum, que é a regida pelo artigo citado do Código de Processo Civil. E
a inversa, que se trata esse subcapítulo. A primeira é usada nos casos em que se
requer ultrapassar a autonomia empresarial, para que a empresa cumpra suas
obrigações através dos bens dos sócios que fazem parte da sociedade. A segunda
refere-se ao alcance dos bens que estão integralizados à empresa, para que estes

60 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,
sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. 119. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 10 abr. 2022.
61 ECKERT, A.; CRESTANI, T.; MECCA, M. S. Vantagens do planejamento tributário através da

constituição de uma holding patrimonial. Revista Brasileira Multidisciplinar, v. 21, n. 3, p. 48-58,


2018, p. 51. Disponível em: https://www.revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/view/568.
Acesso em: 20 jun. 2022.
62 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015. Código de Processo

Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso


em: 10 abr. de 2022.
33

atendam e quitem os fortuitos inadimplementos que algum dos sócios possa estar
realizando.63
Nesse sentido, é assim que dispõe o autor Fábio Ulhoa Coelho sobre o referido
tema:

Em síntese, a desconsideração é utilizada como instrumento para


responsabilizar sócio por dívida formalmente imputada à sociedade. Também
é possível, contudo, o inverso: desconsiderar a autonomia patrimonial da
pessoa jurídica para responsabilizá-la por obrigação do sócio. A fraude que a
desconsideração invertida coíbe é, basicamente, o desvio de bens. O
devedor transfere seus bens para a pessoa jurídica sobre a qual detém
absoluto controle. Desse modo, continua a usufruí-lo, apesar de não serem
de sua propriedade, mas da pessoa jurídica controlada. Os seus credores,
em princípio, não podem responsabilizá-lo executando tais bens. É certo que,
em se tratando de pessoa jurídica de uma sociedade, ao sócio é atribuída a
participação societária, isto é, quotas ou ações representativas de parcelas
do capital social. Essas são, em regra, penhoráveis para a garantia do
cumprimento das obrigações do seu titular (apenas são impenhoráveis as
quotas sociais de sociedade limitada de pessoas). 64

Sobre o assunto, o STJ já decidiu que:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE


TÍTULO JUDICIAL. ART. 50 DO CC/02. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA INVERSA. POSSIBILIDADE. I – A ausência de
decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados impede o
conhecimento do recurso especial. Súmula 211/STJ. II – Os embargos
declaratórios têm como objetivo sanear eventual obscuridade, contradição ou
omissão existentes na decisão recorrida. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC,
quando o Tribunal a quo pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a
questão posta nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes para
embasar a decisão, como ocorrido na espécie. III – A desconsideração
inversa da personalidade jurídica caracteriza-se pelo afastamento da
autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre na
desconsideração da personalidade propriamente dita, atingir o ente coletivo
e seu patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por
obrigações do sócio controlador. IV – Considerando-se que a finalidade da
disregard doctrine é combater a utilização indevida do ente societário por
seus sócios, o que pode ocorrer também nos casos em que o sócio
controlador esvazia o seu patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa
jurídica, conclui-se, de uma interpretação teleológica do art. 50 do CC/02, ser
possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica, de modo a
atingir bens da sociedade em razão de dívidas contraídas pelo sócio
controlador, conquanto preenchidos os requisitos previstos na norma. V – A
desconsideração da personalidade jurídica configura-se como medida
excepcional. Sua adoção somente é recomendada quando forem atendidos
os pressupostos específicos relacionados com a fraude ou abuso de direito
estabelecidos no art. 50 do CC/02. Somente se forem verificados os
requisitos de sua incidência, poderá o juiz, no próprio processo de execução,
“levantar o véu” da personalidade jurídica para que o ato de expropriação

63 PEREIRA, Lucas Lobo. Responsabilidade Tributária e Desconsideração da Personalidade


Jurídica no novo CPC. 1. ed. São Paulo: Grupo Almedina, 2019, p. 77. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788584935239/. Acesso em: 15 nov. 2022.
64 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, Cap. 27, item

5.1.
34

atinja os bens da empresa. VI – À luz das provas produzidas, a decisão


proferida no primeiro grau de jurisdição, entendeu, mediante minuciosa
fundamentação, pela ocorrência de confusão patrimonial e abuso de direito
por parte do recorrente, ao se utilizar indevidamente de sua empresa para
adquirir bens de uso particular. VII – Em conclusão, a r. decisão atacada, ao
manter a decisão proferida no primeiro grau de jurisdição, afigurou-se
escorreita, merecendo assim ser mantida por seus próprios fundamentos.
Recurso especial não provido. 65

A má gestão de uma holding familiar e patrimonial pode gerar este tipo de


consequência quando, por exemplo, os bens que constituem a sociedade estão sendo
usufruídos especialmente pelos sócios, desaproximando-se dos objetivos da
constituição da empresa. Ao se propor a criação de uma holding, é necessário
entender que os bens que pertencem à companhia devem estar sendo utilizados
apenas em favor da atividade empresarial escolhida, sendo vedada a aplicação para
fins que venham a beneficiar pessoalmente os sócios. Quando usados de maneira
errada, a sanção para esta irregularidade é chamada de desconsideração inversa da
personalidade jurídica. Nestes casos, em uma eventual execução contra um dos
sócios da holding, não só os bens pessoais dos sócios, mas as suas quotas na
empresa também poderão ser levadas à penhora. 66

65 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 948117 MS 2007/0045262-5. Relatora:


Ministra Nancy Andrighi. Data de julgamento: 22 jun. 2010. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/15661975/inteiro-teor-15661976. Acesso em: 15 nov.
2022.
66 CARDOSO FILHO, Fernando Augusto Correia. A desconsideração inversa da personalidade jurídica

como instrumento de sustentabilidade empresarial na sociedade em rede. Amazon's Research and


Environmental Law, v 2, n. 3, p. 89-106 2014, p. 95. Disponível em:
https://www.faar.edu.br/portal/revistas/ojs/index.php/arel-faar/article/view/140. Acesso em 20 jun. 2022.
35

2 FUNDAMENTOS DO DIREITO SUCESSÓRIO

Neste capítulo serão abordadas as matérias fundamentais do direito sucessório


à luz da legislação brasileira, para que se compreenda as hipóteses de aplicações em
que cada uma se adapta.
Além disso, o modo e o momento no qual acontece a transmissão da herança,
bem como o processo de inventário e a decorrente partilha, também serão pontos
debatidos no presente capítulo.

2.1 CONCEITO

Quando se pensa no termo “sucessão”, ele quer dizer, em um sentido geral, a


prática de uma pessoa tomar o lugar de outra. Esse ato, no direito sucessório, consiste
na transferência de determinados direitos e titularidade sobre bens definidos. Seja
uma compra e venda, em uma doação, em uma cessão, ou qualquer modo que resulte
em obter o domínio ou o direito de determinado bem, a sucessão é o efeito que estará
presente.67
Conforme esclarece o autor Dimas Messias, a sucessão, juridicamente, é
quando:

Uma pessoa insere-se na titularidade de uma relação jurídica que lhe advém
de uma outra pessoa, ou, por outras palavras, é a continuação em outrem de
uma relação jurídica que cessou para o respectivo sujeito, constituindo um
dos modos, ou títulos, de transmissão ou de aquisição de bens ou de direitos
patrimoniais. 68

Em sua generalidade, a sucessão jurídica pode ocorrer de duas formas, sendo


por ato inter vivos ou causa mortis. Tem-se por sucessão inter vivos aquelas que
acontecem através, principalmente, da declaração de vontade da pessoa humana por
ambas as partes, presente na maioria dos contratos. Nestas, o ato deve ocorrer

67 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2021, p. 6. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/.
Acesso em: 15 jun. 2022.
68 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.

15. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
36

enquanto os agentes estão ainda em vida, no qual o comprador irá assumir o espaço
do vendedor em relação ao seu bem, ou ainda quando o donatário assume a
titularidade do objeto fruto da doação, e assim sucessivamente. Entretanto, não é
apenas através da vontade dos agentes que tais sucessões acontecem, pois podem
decorrer de decisões judiciais, eventos naturais e até mesmo de ações humanas com
abstração da vontade, porém, assim compreendidas pela legislação.69
De modo contrário, a sucessão causa mortis, também conhecida como
sucessão hereditária, surge a partir da causa morte de uma pessoa. Tal
acontecimento emerge diversos efeitos jurídicos, entre eles a transferência patrimonial
para seus sucessores legais. São nessas situações em que o transmitente é referido
através de diferentes termos, como: “morto, falecido, prafalecido, defunto, autor da
herança, inventariado, hereditando, transmitente, de cujus, decujo, passado”.70
O termo de cujus, frequentemente usado nestas situações, é de origem latina,
originária da frase cujus sucessione agitur, em tradução para o português seria
“aquele cuja sucessão se trata”, ou seja, se referindo ao autor da herança objeto do
direito sucessório.71
Desta forma, entende-se que, o ramo do direito das sucessões no direito
civilista, é o responsável pela regulação desta transferência de direitos, bens, dívidas
e valores deixados pelo de cujus aos seus herdeiros, uma vez que a herança significa
todo o patrimônio que o falecido deixa, sendo ele ativo, como bens e valores em
contas bancárias, ou passivos, como dívidas e execuções. Evidente que, para a
sucessão de fato ocorrer, não apenas o falecimento do sucedido é necessário, mas
também a sobrevivência de seus sucessores.72
Segundo o autor civilista Paulo Luiz Lobo, é importante ressaltar quais são os
bens que podem ser transferidos através do direito das sucessões:

69 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira D. Direito das Sucessões. 4. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p.
13. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597017328/. Acesso
em: 15 jun. 2022.
70 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva,

2021, p. 6. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
71 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.

16. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
72 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.

17. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
37

Nem todos os bens juridicamente tuteláveis podem ser objeto do direito das
sucessões. Duas limitações são essenciais:
(1) os bens devem ter natureza patrimonial, cujos títulos sejam suscetíveis de
ingresso no tráfico jurídico e de valoração econômica;
(2) os bens devem integrar relações privadas. 73

Nesta banda, os bens que não são considerados patrimoniais, ou, patrimoniais,
porém indisponíveis, não poderão ser objeto de transmissão entre sucedido e
sucessor. Nesse caso, não só os bens, mas também pretensões patrimoniais, como
ações de indenização em favor do falecido, também serão parte da herança aos seus
sucessores. Sobre as dívidas, a legislação brasileira entende que deve haver um limite
ao serem transmitidas, não ocasionando danos ao próprio patrimônio dos herdeiros.
Este princípio é conhecido como pré-exclusão da responsabilidade ultra vires (além
da força), visando proteger o patrimônio pessoal dos sucessores, diferentemente de
como acontecia no passado, em que as dívidas, em sua totalidade, eram repassadas
aos herdeiros da herança.74
Portanto, em sua generalidade, o direito sucessório, através da legislação
vigente e dos princípios que a permeiam – que adiante serão comentados, tem como
propósito a normatização de como será feito a transmissão do patrimônio deixado pelo
falecido aos seus herdeiros. Nestes episódios, o imprescindível a ser compreendido é
o que deve ser transferido, para quem deve haver esta transmissão e a quantidade
que deve ser sucedida.75

2.2 PRINCÍPIOS

Assim como qualquer ramo do direito, o direito sucessório também é regulado


através de princípios que norteiam a sua aplicação e a forma de que é legislado.
Dentre eles, aqui, será mencionado os seis princípios que, na opinião do autor Dimas

73 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2021, p. 6. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/.
Acesso em: 15 jun. 2022.
74 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 18. E-book.

Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.


2022.
75 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira D. Direito das Sucessões. 4. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p.

14. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597017328/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
38

Messias, são considerados os principais, sendo eles: o princípio da função social da


herança, o princípio da territorialidade, o princípio da temporariedade, o princípio do
respeito à vontade manifestada, o princípio non ultra vires heredita e o princípio da
saisine. 76

2.2.1 Princípio da Função Social da Herança

Este princípio busca destacar a importância da transferência de patrimônio do


falecido aos seus herdeiros como forma de auxiliar na própria mantença destes. Além
disso, a transmissão dos bens para os herdeiros necessários, também apresenta a
garantia da solidariedade familiar. Os bens transmitidos não deixam de ter sua função
social sobre a propriedade com a transmissão, isto é, assim como o bem possuía esta
função enquanto propriedade do de cujus, continuará sendo mantida no momento em
que é transferido aos seus sucessores, o que mostra a grande relação entre este
princípio com o princípio constitucional da função social da propriedade. 77

2.2.2 Princípio da Territorialidade

Este mesmo princípio está relacionado ao artigo 23 do Código de Processo


Civil, o qual determina que a autoridade judiciária brasileira é a competente, de forma
exclusiva e absoluta, para julgar os inventários em que os bens estejam situados em
solo brasileiro. Essa definição independe do domicílio do falecido ou dos sucessores,
bem como se o de cujus e os herdeiros são brasileiros ou estrangeiros. Quando os
bens são localizados no Brasil, obrigatoriamente serão por aqui objeto de processo
de inventário. Isso não impede que haja a chamada “pluralidade de juízo sucessório”,

76 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.
17. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/. Acesso
em: 15 jun. 2022.
77 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. Novo Curso de Direito Civil -

Direito das Sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 23. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555594812/. Acesso em: 16 jun. 2022.
39

nas hipóteses em que existam bens fixados no Brasil e outros em país distinto. Nesse
sentido, se transcreve o artigo 23:

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer


outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de
testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil,
ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
domicílio fora do território nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder
à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. 78

O presente princípio ganha ênfase no momento da aplicação da legislação na


sucessão, bem como da competência para que se inicie um eventual inventário. Este
princípio está relacionado com o domicílio do de cujus, com a sucessão de brasileiro
falecido no exterior, estrangeiros falecidos no Brasil, etc. A partir destas premissas, se
encontra a autêntica legislação capaz a reger a situação. 79

2.2.3 Princípio da Temporariedade

Este princípio é estipulado, principalmente, pelo disposto no artigo 1.787 do


Código Civil de 2002, no qual dispõe:

Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao


tempo da abertura daquela. 80

Nesse sentido, por exemplo, o princípio da temporariedade é seguido pela


Súmula 112 do Supremo Tribunal Federal, que sustenta:

78 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015. Código de Processo


Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso
em: 10 abr. de 2022.
79 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira D. Direito das Sucessões. 4. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p.

14. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597017328/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
80 BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 15


nov. 2022.
40

O imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao


tempo da abertura da sucessão. 81

Este também é o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, declarando,


conforme a decisão citada, que é referência às questões deste tema, que a lei vigente
à época da morte é a que deve incidir sobre o imposto:

2. Pelo princípio da saisine, a lei considera que no momento da morte o autor


da herança transmite seu patrimônio, de forma íntegra, a seus herdeiros.
Esse princípio confere à sentença de partilha no inventário caráter
meramente declaratório, haja vista que a transmissão dos bens aos herdeiros
e legatários ocorre no momento do óbito do autor da herança.
3. Forçoso concluir que as regras a serem observadas no cálculo do ITCD
serão aquelas em vigor ao tempo do óbito do de cujus.
4. Incidência da Súmula 112/STF. 82

Assim sendo, entende-se que a lei válida para regular um inventário, por
exemplo, é a que estava em vigência no momento em que houve a morte do sucedido,
e não no momento de abertura do inventário ou partilha de bens.83

2.2.4 Princípio do Respeito à Vontade Manifestada

O presente princípio é relacionado às intenções em que o falecido demonstrou


durante a sua vida. Tendo como exemplo o documento testamentário, o falecido pode
demonstrar, ainda em vida, o desejo de transmitir parte de seu patrimônio, quando da
existência de herdeiros necessários, ou a sua totalidade na falta deles. Esse desejo
deve produzir os seus devidos efeitos mesmo post mortem quando se inicia o
processo de transmissão dos bens aos sucessores, respeitando a vontade do seu
titular primário. 84

81 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 112 do STF. Disponível em:


https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=30&sumula=2043. Acesso em: 15
nov. 2022.
82 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1142872/RS. Relator: Ministro Humberto

Martins. Data de julgamento: 10 out. 2010. Disponível em:


https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/5923434. Acesso em: 15 nov. 2022.
83 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.

18. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
84 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. Novo Curso de Direito Civil -

Direito das Sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 28. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555594812/. Acesso em: 16 jun. 2022.
41

2.2.5 Princípio non ultra vires hereditatis

Este princípio, em sua tradução livre, significa “não além das forças da
herança”. 85
O referido princípio vai de encontro à lei que vigorava antigamente, na vigência
do Código Civil Brasileiro de 1916, com origem do Direito Romano, no qual coagia os
sucessores a pagarem eventuais dívidas e obrigações do seu sucedido, mesmo que
tais dívidas e obrigações ultrapassassem o benefício recebido através da herança. 86
Acontece que, a partir do Código Civil de 2002, os herdeiros não são mais
responsabilizados por estes passivos que excedem o proveito econômico auferido
pelos bens do de cujus, princípio este que está alicerçado, principalmente, em função
do artigo 1.792 do Código Civil87:

“Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da


herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário
que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados.”

Hipótese que pode acontecer é, por ato espontâneo do herdeiro, pagar casuais
credores em dinheiro, para que o patrimônio do inventário se destine unicamente para
ele, ou seja, não é obrigatório o pagamento das dívidas do falecido através dos bens
deixados. É facultado aos herdeiros o pagamento.88

2.2.6 Princípio da Saisine

Por último, cabe ressaltar a importância do princípio da Saisine em nosso


ordenamento jurídico, com ênfase no direito sucessório. A Saisine pode ser

85 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira D. Direito das Sucessões. 4. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p.
14. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597017328/. Acesso
em: 15 jun. 2022.
86 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.

17. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
87 BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 15


nov. 2022.
88 VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil: Família e Sucessões. 5. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2022, p.

491. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559773039/.


Acesso em: 15 nov. 2022.
42

considerada como a mais fundamental dentre os princípios mencionados. A sua


aplicação consiste em que a morte do sucedido, imediatamente, transfere aos
sucessores definitivamente todos os seus bens a eles.89
Diante do falecimento da pessoa, o seu patrimônio não pode, em nenhum
momento, ficar desapossada. É por isso, que imediato momento da morte, seus
sucessores, ampla e plenamente, possuem a posse dos bens deixados pelo autor da
herança.90
Neste contexto, Roberto de Ruggiero compreende este cenário da seguinte
forma:

A exigência sentida por qualquer sociedade juridicamente organizada de que


com a morte de uma pessoa as suas relações jurídicas não se extingam, mas
que outras pessoas nelas entrem tomando lugar do defunto, encontra
satisfação no mundo da herança. Em qualquer outro campo, por ser verdade
o mors omnia solvit, menos no direito, onde exigências não só morais e de
espírito, mais sociais, políticas e, sobretudo, econômicas, impõem que, para
segurança do crédito, para conservação e incremento da riqueza, as relações
de uma pessoa continuam mesmo depois de sua morte, que no seu
patrimônio substitua um novo titular, o qual representa como que o
continuador da personalidade do defunto. 91

Apesar de o referido princípio transferir de forma imediata os bens aos seus


sucessores, isso não quer dizer que os mesmos possuam o exercício instantâneo dos
seus direitos sobre eles.92

2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL

O direito sucessório não é algo inerente à natureza humana. Este ramo do


direito teve que ser criado pelas pessoas, ao longo dos anos, com a progresso da
cultura e a necessidade para regular o processo de transferência de riquezas,

89 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. Novo Curso de Direito Civil -
Direito das Sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 25. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555594812/. Acesso em: 16 jun. 2022.
90 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.

17. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
91 RUGGIERO, Roberto, 1973, apud, CARVALHO, Luiz Paulo Vieira D. Direito das Sucessões. 4. ed.

São Paulo: Grupo GEN, 2019, p. 14. E-book. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597017328/. Acesso em: 15 jun. 2022.
92 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. Novo Curso de Direito Civil -

Direito das Sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 26. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555594812/. Acesso em: 16 jun. 2022.
43

principalmente de uma geração à outra. É por isso que se compreende que o direito
das sucessões está fortemente entrelaçado com a imagem de continuidade da família
e religião.93
Ademais, por este motivo que, nos primórdios, a transmissão dos bens entre
as pessoas já continha particularidades que ainda hoje são usadas, onde a
transferência dos bens para seus familiares era vista como a mais correta e normal,
dando prosseguimento ao patrimônio pela própria família.94
No Brasil, o novo Código Civil de 2002 trouxe alterações pertinentes se
comparado com o antigo Código, de 1916. Porém, se manteve a mesma essência,
buscando proteger a propriedade privada. Dentre as mudanças mais relevantes, se
destaca a concorrência do cônjuge vivo diante dos demais herdeiros legítimos,
previsão que não existia antigamente. 95
Com o passar dos anos, diversas alterações se demonstraram necessárias
para acompanhar a evolução social e cultural da sociedade. Tem- se, como exemplo,
o reconhecimento de igualdade aos descendentes de relações matrimoniais com os
de relações extramatrimoniais. Essa mudança busca tutelar as entidades familiares
em sua generalidade, não apenas as advindas de um matrimônio.96
Outra transformação é a forma que os cônjuges passaram a serem cuidados
em uma sucessão. Desde a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, o Estado
buscou proteger todos os tipos de entidade familiar, como já citado. Nesta banda, o
Código Civil de 2002 já trouxe consideráveis alterações neste sentido, incluindo os
companheiros ao direito sucessório. Porém, apesar deste avanço, ainda havia
diferenças no tratamento entre cônjuges e companheiros, o que foi afastado devido
ao julgamento do Supremo Tribunal Federal em 2017, que considerou inconstitucional
qualquer diferenciação entre companheiros e cônjuges, desde que, por evidente,

93 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2021, p. 7. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/.
Acesso em: 15 jun. 2022
94 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 22. E-book.

Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.


2022.
95 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. Novo Curso de Direito Civil -

Direito das Sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 20. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555594812/. Acesso em: 16 jun. 2022.
96 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 27. E-book.

Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.


2022.
44

fosse comprovado em critérios que houvesse a relação extramatrimonial entre o


casal.97

2.4 SUCESSÃO FAMILIAR PÓS-MORTE

Este subcapítulo irá adentrar nas matérias mais específicas sobre o direito
sucessório à luz da legislação brasileira, demonstrando as formas de sucessão hoje
existentes, bem como o modo em que são processadas.
Buscará compreender o entendimento ao que se refere às sucessões legítimas
e testamentárias, quem são as pessoas que fazem parte das sucessões, as etapas
deste processo, desde a transmissão ocorrida pela saisine, o início de um inventário
e, por fim, a partilha de bens entre os sucessores.

2.4.1 Sucessão Legítima

Entende-se sobre sucessão legítima aquela que acontece conforme a


legislação prevê. Nesses casos, os sucessores, favorecidos com a herança deixada
pelo falecido, estarão já determinados pela lei que vigorava no momento da morte do
de cujus. Estes herdeiros são denominamos como herdeiros legítimos, uma vez que
se diferem daqueles que são estabelecidos através de testamento, sendo estes os
herdeiros testamentários, que adiante será estudado. 98
Desta forma, a sucessão deve ocorrer, conforme a legislação, especialmente
pelo artigo 1.786 do Código Civil Brasileiro:

Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. 99

97 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.
15. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/. Acesso
em: 15 jun. 2022.
98 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 82. E-book.

Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.


2022.
99 BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 15


nov. 2022.
45

É por este motivo que a sucessão legítima acontece ou na falta, ou na invalidez


ou na caducidade de eventual testamento feito pelo falecido, ou, ainda, quando
houver, ocorre entre os bens que não estão inclusos por ele. Desse modo, a sucessão
decorre em favor aos familiares do sucedido e, na falta deles, em benefício ao Poder
Público.100
Nesse contexto, compreende-se que a sucessão legítima, apesar de ser a mais
comum e, na maioria dos casos, não podendo ser excluída, acontece de forma
subsidiária, pois depende da ausência de testamento.101 Esta sua natureza é
vinculada ao artigo 1.788 do Código Civil, conforme transcrição abaixo:

Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos


herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o
testamento caducar, ou for julgado nulo. 102

Os herdeiros legítimos são estabelecidos por lei, ordenados hereditariamente


conforme as prioridades vigentes, presumindo-se que, se o falecido não testou a sua
vontade quando tinha a oportunidade, tacitamente concordou com a ordem sucessória
prevista, não querendo modificá-la.103
No Brasil, a sucessão legítima, de modo geral, é bastante aceita, demonstrando
que os legisladores acertaram na criação de uma ordem sucessória justa e
conveniente à sociedade atual. Isto se vê pelo número cada vez mais reduzido de
testamentos, que gradativamente entra em mais desuso.104
Ao que se refere à ordem da vocação hereditária, denominação às regras que
estipulam quem são os herdeiros legítimos em uma sucessão, se vincula

100 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2021, p. 61. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/.
Acesso em: 15 jun. 2022.
101 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva,

2021, p. 61. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
102 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Código Civil.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 20


Jun. de 2022.
103 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020,

p. 25. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
104 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 84. E-book.

Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.


2022.
46

principalmente à família, em especial aos descendentes, ascendentes e


companheiros.105
Dessa forma, conhecida também como sucessão em linha reta, caracterizada
pela descendência ou, quando inexistente estes herdeiros na linha, pela ascendência.
Estes herdeiros receberam favorecimento com respeito aos outros sucessores. Isso
se demonstra pelo fato de concorrerem com o companheiro ou companheira
supérstite.106
Desta maneira, a partir do Código Civil de 2002, é aplicada a seguinte estrutura
de vocação hereditária, se iniciando pelos descendentes, na falta deles, aos
ascendentes, depois os cônjuges ou companheiros sobreviventes, conforme decisão
do STF, que assegurou este direito a partir de critérios de igualdade de entidade
familiar, e por último os parentes colaterais. Em relação aos descendentes, a ordem
é seguida pelos filhos, netos e bisnetos. Aos ascendentes, pelos pais, avós e bisavós.
Nestas linhas, não há limite de grau, diferentemente aos parentes colaterais, que não
podem transpassar o quarto grau de parentesco, para os casos referentes ao direito
sucessório. Como os sucessores são divididos por classes, havendo a existência de
uma classe, por exemplo os filhos, se exclui a classe mais remota, neste caso, os
netos e seus subsequentes. É por este motivo que esta ordem é chamada de
“preferencial”, pois transfere a preferência da herança aos mais próximos
hereditariamente do falecido. 107
No Brasil, a parte do patrimônio do falecido aos sucessores legítimos será de
pelo menos, 50% do todo disponível a ser sucedido. O patrimônio será o sempre o
patrimônio líquido deixado pelo de cujus, abatendo-se eventuais gastos fúnebres e as
dívidas que podem ter sido deixadas pelo autor da herança, chegando, então, na
liquidez deixada. Além disso, caso o falecido tenha feito alguma doação ainda em
vida, a sucessores legítimos, como descendentes ou companheiros, tais valores serão

105 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020,
p. 25. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/.
Acesso em: 15 jun. 2022.
106 CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões.

5. ed. São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 166.


107 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira D. Direito das Sucessões. 4. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p.

14. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597017328/. Acesso


em: 15 jun. 2022.
47

acrescentados à metade da herança, para que também se inclua no montante total


destinado à sucessão legítima.108
Considera o autor Luiz Paulo Vieira de Carvalho que sucessão legítima é uma
quota sagrada e intangível, que deve ser protegida aos herdeiros necessários.
Entende que os artigos 1.846, 1.857, 1.967 e 2.018 são essenciais ao princípio de
proteção desta intangibilidade da quota legítima, pois protege os herdeiros no sentido
de que o de cujus só pode dispor, no máximo, de metade da sua herança e,
casualmente quando for ultrapassado esta predisposição do legislador, será parcial
ou totalmente nula a declaração de vontade do autor da herança, pois deverá haver a
diminuição testamentária. Portanto, apesar de o autor da herança possuir a
liberalidade de testar a favor de pessoa do seu interesse, deve sempre ser mantida a
quota legítima aos seus sucessores, herdeiros necessários do falecido, no montante
de 50% do patrimônio líquido. 109

2.4.2 Sucessão Testamentária

Conforme a sua respectiva nomenclatura, a sucessão testamentária ocorre


quando o autor da herança dispõe da sua vontade, designada como testamento, que
é concebida em vida pelo sucedido. Através deste negócio jurídico, o testador indica
os bens e patrimônios que pretende destinar a determinada pessoa ou coisa após a
sua morte. Por isso que, sendo o testamento um negócio jurídico que só tem seus
efeitos efetivamente gerados através do falecimento do autor da herança, se entende
como um negócio jurídico ordinariamente ineficaz, ou, também denominando com
negócio jurídico post mortem.110
O testamento, tendo sua origem do direito romano, é considerada a última
vontade do autor da herança, demonstrando aquilo que estava na mente do testador

108 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 87. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.
2022.
109 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira D. Direito das Sucessões. 4. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p.

134. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597017328/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
110 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020,

p. 25. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
48

quando do momento da produção testamentária. O de cujus, quando em vida, possui


autonomia para dispor de parte dos seus interesses sucessórios, sendo um negócio
jurídico unilateral em que apenas a vontade do testamentário importa. 111

É por este motivo que, quando o autor da herança morre e não se encontra
nenhum documento testamentário em que tenha deixado a sua vontade registrada, a
sucessão ocorrerá da forma em que a lei a prescreve, suprindo a ausência de
declaração de última vontade do de cujus. Se entende que, como o falecido não
deixou nenhum testamento, fica subentendido que está de acordo com a legislação e
com a devida ordem hereditária de sucessão de patrimônio prevista, iniciando-se com
seus herdeiros necessários. 112
Entretanto, apesar do direito à autonomia e do poder de testar do sucedido,
através de um instrumento formal dispondo do seu patrimônio em favor de quem o
mereça, esta disposição de vontade, na maioria das vezes, não poderá ser de forma
integral. Isso decorre dos casos em que deve ser respeitado e preservado a quota da
sucessão legítima, que é determinada em 50% do patrimônio líquido do autor da
herança. A ideia é limitar a liberdade do sucedido quando da existência de herdeiros
necessários, respeitando o princípio da solidariedade familiar. 113
Existem situações que, mesmo existindo um testamento deixado pelo autor da
herança, a sucessão legítima ocorre em sua integralidade, removendo a sucessão
testamentária. Conforme Paulo Luiz Neto Lobo 114, são estas as hipóteses em que
poderá ocorrer:

a) quando o testamento for declarado nulo ou inexistente, pelo juiz;


b) quando o testador revogar o testamento expressa ou tacitamente;
c) quando o testamento for destruído ou extraviado, sem possibilidade de
recuperação, máxime quando utilizar as formas particular ou cerrada;
d) quando os herdeiros testamentários e legatários forem considerados
excluídos da herança, ou indignos, ou falecerem antes do de cujus, ou
tiverem renunciado à herança.

111 GIACOMELLI, Cinthia L F.; ZAFFARI, Eduardo K.; SOUTO, Fernanda R. Direito Civil: Direito das
Sucessões. 1. ed. Porto Alegre: Grupo A, 2021, p. 36. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786556901329/. Acesso em: 20 jun. 2022.
112 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 84. E-book.

Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.


2022.
113 GOMES, Orlando. Sucessões. 17. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p. 6. E-book. Disponível em:

https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530986049/. Acesso em: 22 jun. 2022.


114 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. Ed. São Paulo: Editora

Saraiva, 2021, p. 90. E-book. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/. Acesso em: 15 jun. 2022.
49

Ocorre que, ainda hoje, esta forma de sucessão é minusculamente usada pela
população no geral. Apesar de ser uma forma de planejamento sucessório, mesmo
que parcial e limitada, a sociedade não demonstra desejo à utilização deste
instrumento, estando, na sua maioria, satisfeitos com as regras de sucessão legítima
legisladas. O testamento é mais usado nos casos em que a pessoa não há, de fato,
sucessores legítimos, ou, ainda, quando o falecido deseja favorecer o cônjuge ou a
cônjuge ainda viva, para que posteriormente aconteça a sucessão integral do
patrimônio do casal. Entende-se que essa antipatia usual dos brasileiros em não testar
ou planejar a sucessão ocorre por fatores meramente culturais, psicológicos e
costumeiros. Poucas são as situações em que não há conhecimento desta prática,
mesmo que incompleta.115
É importante observar que o testamento pode ter seus efeitos anulados pela
vontade posterior do sucedido, pois, sendo um negócio jurídico post mortem, só
produzirá seus devidos efeitos quando da morte do testador. Sendo assim, o testador
não fica obrigado a cumprir o que em algum momento declarou através de testamento,
pois tem a liberdade de alterar e revogar a sua declaração de última vontade. É
apenas com a abertura da sucessão que o testamento começa a produzir os seus
efeitos. 116
Sendo assim, esta espécie de herdeiros, chamados de testamentários,
conhecidos também como instituídos, são aqueles favorecidos pela declaração de
vontade do falecido, como mencionado. Acontece que, o fato de serem herdeiros
testamentários, não exclui a possibilidade de serem, também, herdeiros legítimos.
Isso ocorre quando o de cujus, ainda em vida, opta por privilegiar algum ou alguns
deles em detrimento de outros, por espontânea vontade. Em vista disso, apesar de
estarem na mesma ordem hereditária de recebimento do patrimônio deixado, o
testador pode dispor desta forma.117

115 CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões.
5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 263.
116 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020,

p. 25. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
117 CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões.

5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 50.


50

2.5 ABERTURA DA SUCESSÃO, INVENTÁRIO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL E


PARTILHA DE BENS

Este subcapítulo irá ater-se às partes finais do processo sucessório tradicional,


iniciando pelo momento em que se inicia a sucessão, através do princípio da saisine.
Será discorrido sobre o procedimento do inventário, suas formas e
desenvolvimento, encerrado com a adequada partilha de bens aos sucessores do
patrimônio líquido do falecido.

2.5.1 Da Abertura da Sucessão

Dentre os eventos naturais que produzem efeito na esfera jurídica da vida, a


morte é uma das que poderá produzir diversos direitos e obrigações para certas
pessoas. A morte causa o fim da personalidade jurídica da pessoa, entretanto, devem
haver pessoas para que, no mesmo momento, passem a ser responsáveis por suas
obrigações ou eventuais bens deixados.118
É por este motivo que se dá início à sucessão no exato momento em que
acontece o falecimento do autor da herança. Este é o marco inicial da abertura da
sucessão e, consequentemente, da transmissão da herança. É assim que Dimas
Messias define este acontecimento:

A herança, com a morte, transmite-se imediatamente aos herdeiros,


independentemente da situação de fato, pois, a despeito de a herança se
encontrar na detenção de terceiros, o herdeiro adquire a qualidade de
possuidor, em face do princípio da transmissão ex lege dos bens hereditários
ou direito de saisine. 119

118 GIACOMELLI, Cinthia L F.; ZAFFARI, Eduardo K.; SOUTO, Fernanda R. Direito Civil: Direito das
Sucessões. 1. ed. Porto Alegre: Grupo A, 2021, p. 14. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786556901329/. Acesso em: 20 jun. 2022.
119 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020,

p. 22. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
51

É o falecimento do dono de certo patrimônio que define a abertura da sucessão,


no exato momento da morte, independente da ciência dos familiares e, inclusive, dos
herdeiros do falecido.120
Portanto, instantaneamente com a morte do de cujus, ocorre a abertura da
sucessão, transmitindo- se de imediato a herança aos herdeiros do falecido, seja os
herdeiros necessários ou testamentários. 121
Como já mencionado, esta transmissão automática ocorre em virtude do
princípio da saisine. Não obstante, o referido princípio está disposto no artigo 1.784
do Código Civil, conforme demonstrado abaixo: “Art. 1.784. Aberta a sucessão, a
herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. 122
Isso acontece pelo motivo de não ser possível às relações jurídicas
permanecerem, nem por um segundo, inexistente de titulares de direitos e obrigações.
É por isso que, de forma totalmente instantânea, através do falecimento, ocorre a
transmissão da herança aos herdeiros, substituindo o de cujus por estes. Ressalta-se
que, mesmo na eventualidade de os herdeiros não terem a ciência da morte do
sucedido, no âmbito jurídico, o respectivo falecido está tornando transmitido o
patrimônio aos seus sucessores, de forma integral em relação ao patrimônio em que
era detentor. Nesse sentido, a transmissão do patrimônio deixado, se faz ipso jure,
isto é, por força da lei e de acordo com o direito vigente, com a intenção de
preservação e ininterrupção das obrigações e direitos em que o falecido era titular
antes do óbito.123

120 VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil: Família e Sucessões. 5. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2022, p.
473. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559773039/.
Acesso em: 15 nov. 2022.
121 GOMES, Orlando. Sucessões. 17. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p. 10. E-book. Disponível em:

https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530986049/. Acesso em: 22 jun. 2022.


122 BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 15


nov. 2022.
123 CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões.

5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 37.


52

2.5.2 Do Inventário Judicial e Extrajudicial

Após a abertura da sucessão e ocorrendo a aceitação da herança pelos


respectivos herdeiros, poderá ser iniciado o processo de inventário. O inventário
poderá ocorrer tanto da forma judicial, como também através da modalidade
extrajudicial, que foi incluído na legislação brasileira através do Código de Processo
Civil de 1973, tendo seu instituto continuado conforme o atual Código de Processo
civilista. 124
Para que aconteça o inventário na sua modalidade extrajudicial, deve ser
respeitado certos requisitos circunstanciais. Primeiramente os herdeiros devem ser
todos plenamente capazes civilmente de exercerem seus direitos. Em seguida, além
de todos possuírem capacidade, também devem estarem de comum acordo quanto à
destinação dos bens, ou seja, não deve haver litígios relativos à partilha dos bens do
patrimônio herdado. Por último, mas também necessário para o inventário extrajudicial
ocorrer de forma plena e legal, não deve existir testamento elaborado pela pessoa
falecida. Sendo assim, estando todos estas condições cumpridas, os herdeiros
poderão escolher entre a entrada de procedimento de inventário de forma judicial ou
extrajudicial. Na maior parte dos casos, o processo extrajudicial conta com uma
celeridade de procedimentos, além de um custo menor em relação ao judicial,
principalmente por não necessitar de pagamento de custas judiciais, apesar de serem
pagas ao tabelionato escolhido para promover o inventário e a consequente partilha
de bens, que será estudado em capítulo posterior.125
É a partir do inventário que, de forma concreta, o patrimônio do falecido é
transferido aos herdeiros, que serão indicados e decididos através do mesmo
processo. Isto significa que os sucessores serão constados por meio deste
procedimento, e consequentemente calhará na partilha dos bens levantados e
apreciados. A constatação dos sucessores, se for considerado algo que merece a
avaliação mais questionada, se dará em processo diverso, relacionado ao processo

124 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2021, p. 195. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/. Acesso em: 15 jun. 2022.
125 CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões.

5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 502.


53

principal de inventário, para que então, após a instrução processual, conclua-se quem
são, por direito, sucessores da herança objeto do processo.126
Independente da modalidade que será aplicada, este procedimento é realizado
com a intenção de levantar os bens e patrimônios gerais do falecido, para que sejam
apreciados e posteriormente partilhados da melhor forma entre os herdeiros de direito,
sejam eles testamentários, necessários ou legatários. O objetivo é organizar o
patrimônio líquido deixado pelo autor da herança e, conforme a legislação vigente na
data da morte do de cujus, especificar o que será devido para cada um de seus
sucessores. 127
Além da morosidade que normalmente prevalece nos processos de inventário,
todas as sucessões hereditárias estão condicionadas a cobrança de impostos, sendo
o Imposto de Transmissão Causa Mortis ou Doação (ITCMD) o que é mais incidido.
128

2.5.3 Da Partilha de Bens

Com o fim do inventário, finalmente é chegado o momento da partilha de bens


entre os herdeiros do falecido. É a partilha que individualiza a herança, dividindo aos
seus respectivos herdeiros o quanto lhe é devido.129
É por meio da partilha de bens que efetivamente acontece a outorga dos
devidos quinhões aos herdeiros, momento em que é colocado fim aquela situação
provisória de titularidade dos bens que foram deixados pelo falecido que ocasionou o
inventário. A partilha promove a verdadeira transferência dos bens aos titulares de
direito, que são definidos pelo processo de inventário, seja judicial ou extrajudicial. A

126CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões.
5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 420.
127 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020,

p. 25. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
128 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 306. E-book.

Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.


2022.
129 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 322. E-book.

Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.


2022.
54

partilha é a exata divisão, distribuição e repartição das relações jurídicas deixadas


pelo de cujus.130
A partilha dos bens, quando acontece após o inventário na modalidade judicial,
é tramitado nos mesmos autos processuais. Quando na modalidade extrajudicial de
inventário, por conseguinte, a partilha de bens também poderá ser de forma
extrajudicial, de acordo com a Lei no 11.441131, de 04.01.2007, concomitante com o
entendimento firmado no artigo 610, § 1º do Código de Processo Civil132, só passando
a constar quando do seu advento, oito anos após a criação da Lei mencionada.133
A partilha é, na prática, a distribuição das quotas da herança aos seus
sucessores de direito. É o momento em que todo o patrimônio do autor da herança,
finalmente, deixa de ser analisado em um todo, a passa a ser individualizado e
particularizado aos seus detentores.134
Portanto, por meio da partilha dos bens, o que era denominado como espólio
irá sumir, para que haja a individualização dos direitos de cada herdeiro reconhecido
no processo de inventário. A sentença de homologação do inventário, então,
pensando pelo aspecto judicial, declarará aquilo que o princípio da saisine já
proporcionou aos herdeiros desde o momento do falecimento do sucedido, qual seja,
o direito de propriedade do patrimônio. 135

130 CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões.
5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 476.
131 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 11.441, de 04 de Janeiro de 2007. Altera dispositivos da

Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, possibilitando a realização de


inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por via administrativa. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11441.htm. Acesso em: 15 nov. de 2022.
132 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015. Código de Processo

Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso


em: 10 abr. de 2022.
133 VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil: Família e Sucessões. 5. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2022, p.

817. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559773039/.


Acesso em: 15 nov. 2022.
134 MESSIAS, Dimas. Direito das Sucessões: Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020,

p. 179. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591217/.


Acesso em: 15 jun. 2022.
135 VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil: Família e Sucessões. 5. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2022, p.

818. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559773039/.


Acesso em: 15 nov. 2022.
55

3 DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS AVALIADAS PELA UTILIZAÇÃO DA


HOLDING NO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Neste capítulo será profundamente abordado os principais elementos que irão


trazer benefícios ou malefícios através da utilização do tipo empresarial holding, em
um panorama de planejamento sucessório, tanto a respeito da herança em si, quanto
quando da existência de empresa familiar inserida no meio.
A pesquisa não irá se privar de matérias aproveitadas unicamente após o
falecimento do de cujus, mas, de igual forma, será demonstrado os proveitos que o
planejamento sucessório poderá proporcionar ao sucedido ainda em vida, seja em
aspectos da vida pessoal e profissional da pessoa, bem como questões legais,
voltadas a direitos e deveres do transmitente, principalmente sobre perspectivas
tributárias.
Também será exposto as diversas possibilidades que a aplicação da holding
pode trazer para aquelas pessoas que desejam desenvolver uma proteção patrimonial
aos bens deixados, utilizando-se de inúmeras cláusulas quando da concepção do
contrato social que irá originar este tipo societário.

3.1 DA PREVENÇÃO DE CONFLITOS FAMILIARES

É notório que um processo de inventário, não raras as vezes, se torna um


procedimento longo e cansativo, no qual os conflitos familiares estão fortemente
presentes, em razão da existência de elementos financeiros nesta relação. Acontece
que tais conflitos estão sujeitos a provocar problemas que podem ser irreversíveis, ao
que se refere o patrimônio do transmitente. Vale destacar que a transmissão de
patrimônio não é válida apenas para bens imóveis ou móveis, mas também nas
hipóteses em que está presente uma sociedade empresarial familiar. Essas
empresas, seguindo um destino natural em um inventário tradicional, podem tomar
rumos e cair nas mãos de pessoas que não estão devidamente preparadas para
prosseguir com o árduo trabalho e legado deixado pelo de cujus. Sendo assim, o
planejamento sucessório se torna a fuga para o sucedido, pois, além de pensar na
56

transferência do patrimônio para os herdeiros, igualmente poderá traçar um plano de


sucessão empresarial familiar, a fim de afastar desavenças e discussões entre os
familiares após o seu falecimento. 136
Ainda, levando em consideração o tempo despendido em ambos os
procedimentos, é sabido que o inventário tradicional é possível durar anos de
tramitação, justamente pela ocorrência de discussões internas ao seu processo,
quanto à distribuição dos bens deixados pelo transmitente. Ademais, no caso de uma
empresa deixada durante o trâmite processual, ela poderá estar sendo administrada
por pessoa inadequada ao cargo, colocando a saúde financeira e gerencial da
companhia em grave risco. Entretanto, através do planejamento sucessório pela
holding, de forma instantânea ao falecimento do de cujus, os bens e quotas sociais
são transmitidos aos devidos herdeiros e, consequentemente, é um subterfúgio para
episódios de desentendimentos entre os herdeiros.137
O fato de possibilitar uma proteção contra casos de existência de fracassos
amorosos também é atraente aos olhos de quem planeja e, nessas circunstâncias, os
recursos que poderão ser usados são inúmeros. Apesar de melhor elucidado em
subcapítulo próprio, adentrando às cláusulas contratuais que é capaz de ser
constituída, se faz significativo introduzir que, se a empresa for criada como uma
sociedade contratual, mesmo que da forma limitada, há previsão no Código Civil,
artigo 1.027, sobre a viabilidade dos demais sócios, no caso de separação de algum
destes, forneçam em dinheiro o montante relacionado às quotas sociais, ao invés de
liquida-las.138
Infelizmente, na maior parte dos casos, não há uma preocupação prévia do
sucedido em organizar a transmissão do seu patrimônio quando do seu falecimento.
Apesar de ser uma prática capaz de perpetuar a administração das riquezas pela
família, dando seguimento ao legado deixado, resguardando a dignidade das pessoas

136 ECKERT, A.; CRESTANI, T.; MECCA, M. S. Vantagens do planejamento tributário através da
constituição de uma holding patrimonial. Revista Brasileira Multidisciplinar, v. 21, n. 3, p. 48-58,
2018, p. 50. Disponível em: https://www.revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/view/568.
Acesso em: 20 jun. 2022.
137 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. B85. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 23 set. 2022.
138 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens:
planejamento jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas,
2021, p. 95. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/.
Acesso em: 12 nov. 2022.
57

beneficiadas pelos bens, o processo de constituição de holding com fim sucessório


ainda é pouco evoluído nos dias atuais.139

3.2 DAS VANTAGENS TRIBUTÁRIAS

Pensando na esfera da contabilidade da empresa e dos sócios, a preocupação


se dilata desde a sua criação, pois está sujeita a grandes gastos à sua constituição e
integralização, até mesmo sobre fatores de controle e gestão empresarial que são
concernentes à empresa até o seu término, como o pagamento de impostos, ganhos
sobre capital, distribuição dos lucros entre os acionistas, e demais pontos que devem
ser analisados no quesito fiscal do negócio. O projeto deve ser pensado com critérios
de preservação do patrimônio, assim querendo o falecido, com ciência dos perigos
empresariais. A gestão destes bens deixados, assim como também do
aperfeiçoamento dos custos e despesas operacionais da empresa, são a base para
preparar um planejamento que atenda às necessidades do de cujus.140
Acontecendo o falecimento do transmitente, existem algumas alternativas para
que sejam transmitidos os bens deixados aos seus herdeiros. O mais tradicional deles
é o processo judicial de inventário, onde, em seu desfecho, acontece a partilha dos
bens entre os herdeiros. Entretanto, os custos para este procedimento são
demasiadamente altos, o que frequentemente faz com que os herdeiros tenham que
se desfazer de bens herdados para conseguir custear os valores deste processo. 141

Como qualquer forma de transmissão de bens imóveis, há a incidência do


Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação, mais conhecido como ITCMD. Este
imposto, com variação estadual de alíquota, é estipulado sobre o montante financeiro

139 ROESEL, Claudiane Aquino. Desmistificando a Holding Familiar. 1. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2019, p. 21. E-book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/204498/pdf/0?code=cL3tOnwFiosb8bQox9LbvqG
NlOeqlnW9aGriIoaEVEe2ktUoN95URG9t0JeoGZNTNyXT0PHbvqDyhO31sh3ZRA==/. Acesso em: 21
set. 2022.
140 DIAS, Norton Maldonado; MARTINS, Barbara Piovesan. Benefícios da Holding Familiar como forma

de planejamento no Brasil. Científic@ - Multidisciplinary Journal, v. 6, n. 2, pp. 64–83, 2020, p. 69.


Disponível em: http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/cientifica/article/view/3499/2879.
Acesso em: 20 jun. 2022.
141 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. B84. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 23 set. 2022.
58

dos bens a serem transmitidos, sendo pago um imposto para cada bem transmitido.
Apesar de haver a necessidade de pagamento do imposto tanto no inventário
tradicional, como ao constituir a holding, é ressalvado a este tipo societário que o valor
lançado do imóvel, que irá incidir o percentual tributado, poderá ser o valor venal do
bem, disposto no imposto de renda do transmitente. Isso, na maioria das vezes, traz
diminuição no valor pago à título de tributo se comparado com o inventário, onde o
bem é avaliado individualmente, calhando no aumento do valor do imóvel e
consequente aumento no valor pago referente ao tributo da Transmissão Causa Mortis
e Doação. 142
O Imposto sobre transmissão causa mortis e doação possui a condição de não
haver onerosidade nos negócios jurídicos realizados. Assim como o imposto de renda,
o que será posteriormente explicado, o presente imposto é atribuído de alíquota
progressiva, ou pelo menos há essa possibilidade.143
Por ser um imposto de competência estadual e do Distrito Federal, fica a critério
destes entes federativos imporem a condição de progressividade da alíquota,
respeitando a alíquota percentual máxima de 8% (oito por cento), determinada pelo
Senado Federal, nos conformes do artigo 155, § 1º, V, da Constituição Federal.144
Outro fator importante sobre o ITCMD é de que, mesmo nas mortes
presumidas, ou seja, que não se tem a verdadeira certeza e conhecimento do
falecimento, o imposto é devido, conforme entendimento da Súmula 331 do Supremo
Tribunal Federal: “É legítima a incidência do imposto de transmissão causa mortis no
inventário por morte presumida”. 145
Além do ITCMD, outro imposto a ser cobrado, quando se trata de ato oneroso,
que é o caso de integralização de patrimônio à sociedade, especificamente a holding,

142 ROESEL, Claudiane Aquino. Desmistificando a Holding Familiar. 1. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2019, p. 37. E-book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/204498/pdf/0?code=cL3tOnwFiosb8bQox9LbvqG
NlOeqlnW9aGriIoaEVEe2ktUoN95URG9t0JeoGZNTNyXT0PHbvqDyhO31sh3ZRA==/. Acesso em: 21
set. 2022.
143 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo. 7. ed. Porto Alegre: livraria do

advogado, 2015, p. 298.


144 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 nov.


2022.
145 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 331 do STF. Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=30&sumula=3294#:~:text=%C3%89
%20leg%C3%ADtima%20a%20incid%C3%AAncia%20do,no%20invent%C3%A1rio%20por%20morte
%20presumida. Acesso em 15 nov. 2022.
59

é o Imposto de Transmissão de Bens Intervivos, comumente conhecido como ITBI,


que está previsto no artigo 156, inciso II da Constituição Federal:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:


[...]
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens
imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; 146

Portanto, o ITBI ocorre quando há a transferência de direitos reais imobiliários


ou de bens imóveis e, para a sua efetivação, necessário o respectivo registro do título,
usando-se o exemplo da escritura de compra e venda, se esse for o caso. Isto porque,
conforme o artigo 1.227 do nosso Código Civil, em capítulo próprio que trata sobre as
disposições gerais dos direitos reais, dispõe que apenas mediante este registro que
serão adquiridos os direitos atinentes ao negócio jurídico.147
Portanto, sendo a integralização de patrimônio à empresa um ato oneroso e de
bens imóveis, por certo, deveria incidir a tributação do ITBI. Entretanto, o que ocorre
aqui é que a própria Constituição Federal avaliou e concedeu a imunidade nessas
operações; todavia, se a holding estiver sendo criada com o objetivo principal de
realizar compra e venda de imóveis, como espécie de comercialização destes bens,
ou locação de bens imóveis e até mesmo arrendamento mercantil, tai imunidade não
sucederá, pois não estarão presentes os requisitos impostos pela previsão legal
citada.148
Dessa forma, nas palavras do digníssimo autor tributarista Leandro Paulsen, a
imunidade do referido tributo é resumida da seguinte forma:

Há imunidade para a transmissão na realização de capital de pessoa jurídica


e também nas transmissões decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou
extinção de pessoa jurídica, exceto quando a atividade preponderante do
adquirente for a compra e venda desses bens e direitos, locação de bens
imóveis ou arrendamento mercantil, nos temos do artigo 156, § 2º, inciso I,
da Constituição Federal. 149

146 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 nov.
2022.
147 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo. 7. ed. Porto Alegre: livraria do

advogado, 2015, p. 293.


148 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. C136. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 23 set. 2022.
149 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo. 7. ed. Porto Alegre: livraria do

advogado, 2015, p. 294.


60

Nesse sentido, o Código Tributário Nacional150, em capítulo próprio que dispõe


acerca do “Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis e de Direitos a eles
Relativos”, esclarece o que é caracterizado como atividade com predominância de
locação ou compra e venda de ativos imobiliários, considerando que, quando a receita
operacional da empresa que está adquirindo o imóvel, nos últimos 2 anos, for maior
do que cinquenta por cento em relação a transações e negociações equiparadas à
compra e venda ou locação, será então vista como atividade predominante à pessoa
jurídica. Dessa forma, portanto, a imunidade ao pagamento deste imposto não será
adquirida. 151
O mesmo artigo 37, através dos seguintes parágrafos, prevê as hipóteses em
que a empresa iniciará as atividades após a aquisição dos bens, ou nos casos em que
o início das atividades foi inferior a dois anos. Nesta eventualidade, será aplicada a
regra de que nos três primeiros anos à data de compra do imóvel, o direito à imunidade
não será estabelecido.152
A mencionada hipótese, também, está prevista no mesmo artigo 156, da
Constituição da República Federal, disposta no parágrafo segundo, como
devidamente transcrita abaixo:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:


[...]
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens
imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;
[...]
§ 2º O imposto previsto no inciso II:
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao
patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a
transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou
extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade

150 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966. Dispõe sobre o
Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em:
14 nov. 2022.
151 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966. Dispõe sobre o

Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em:
14 nov. 2022.
152 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966. Dispõe sobre o

Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em:
14 nov. 2022.
61

preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos,


locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil; 153

No que tange ao efeito de imunidade do Imposto de Transmissão de Bens Inter


Vivos às hipóteses narradas, é compreendido da seguinte maneira por Celso Cordeiro
Machado:

As imunidades abrangem de modo geral, aquelas situações que estariam


normalmente, naturalmente, conceitualmente incluídas entre os fatos
geradores. Elas se traduzem em limitações ao poder de tributar ou em
contrações horizontais dos campos de incidência que decorreriam das
projeções espontâneas e totais dos fatos geradores. 154

A constituição de uma holding também pode trazer benefícios para o


transmitente enquanto ainda estiver vivo, ao que se refere o pagamento de imposto
de renda. Isso porque, muitas vezes, os transmitentes possuem imóveis que auferem
valores relativos à locação. Nesses casos, há a incidência de Imposto de Renda
Pessoa Física diante da obtenção de lucro pelo ato da locação, podendo chegar à
alíquota de 27,5% de todo o montante auferido. Entretanto, no caso de integralização
de capital da sociedade com os seus bens, o imposto de renda será pago como
pessoa jurídica. Isto posto, a alíquota a incidir sobre os montantes auferidos não
excederá a alíquota de 15%, podendo também haver descontos e abatimentos a partir
de lançamentos contábeis da empresa. Ou seja, supondo que os bens imóveis de tal
pessoa resulte no recebimento de locatícios mensais no valor de R$ 20.000,00 (vinte
mil reais, havendo a tributação, de Imposto de Renda Pessoa Física, seria pago a
quantia de R$ 5.500,00 (cinco mil e quinhentos reais) ao fisco. Entretanto, no caso de
utilização de uma holding, recebendo aluguéis através da sociedade, o montante a
ser pago a título de imposto de renda não passaria de R$ 3.000,00 (três mil reais).
Veja-se o favorecimento que é ocasionado. Sendo assim, fica claro que o transmitente
poderá, ainda em vida, obter frutos de um planejamento sucessório que tem como
foco principal a transmissão de bens aos seus herdeiros; contudo, como reflexo da
sua precaução legatária, terá utilidades econômicas consideráveis aproveitadas o
quão breve ser criada a holding. 155

153 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 nov.
2022.
154 MACHADO, 1968, apud, COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário

Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 140.


155 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 112. E-
62

Como citado, o Imposto de Renda Pessoa Física pode conter variação. Isso
porque este imposto segue o critério de tributação progressivo, no qual os sujeitos
contribuintes estão submetidos a diferentes alíquotas contributivas, a depender do
potencial poder financeiro de cada um. Nesse sentido, o imposto de renda na
modalidade pessoa física pode variar entre as alíquotas de 7,50% (sete e meio por
cento), 15,00% (quinze por cento), 22,50% (vinte e dois e meio por cento) e 27,50
(vinte e sete e meio por cento). No caso discutido, o valor auferido a título de locação
ultrapassava o montante exigido a integrar a contribuição com base em 27,50% (vinte
e sete e meio por cento).156
Portanto, a progressividade ocorre na medida em que a pessoa possui
capacidade contributiva para tanto, pois a ocorrência de determinado imposto, assim
como a alíquota adotada, está relacionada à possibilidade de ser cobrado da pessoa,
sem que dela se tire o mínimo existencial. Isto significa que a cobrança de imposto
deve ser, de forma presumida, realizável pelo sujeito.157
Destaca-se que esta base de cálculo da pessoa jurídica é composta pelo
Contribuição Social sobre o Lucro, conhecido como CSLL. Tal imposto, que há
organização de tributação análoga ao Imposto de Renda em relação a forma que é
apurado, é baseado em cima do lucro obtido pela empresa, calculado após eventuais
deduções, exclusões, compensações e adições.158
De acordo com a Lei nº 7.869/1988, artigo 3º, inciso III159, a alíquota usada, na
maioria dos casos, para chegar ao valor pago a título de Contribuição Social sobre o
Lucro, é de 9% sobre o lucro, respeitando as provisões mencionadas no parágrafo
anterior, acerca das deduções possíveis.

book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:


23 set. 2022.
156 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo. 7. ed. Porto Alegre: livraria do

advogado, 2015, p. 139.


157 BUFFON, Marciano. A Progressividade do imposto sobre transmissão causa mortis e doação –

ITCMD. Direito tributário em questão. n. 5. p. 125-141, 2010, p. 128.


158 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. C161. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 12 nov. 2022.
159 BRASIL. Presidência da República. Lei º 7.689, de 15 de dezembro de 1988. Institui contribuição

social sobre o lucro das pessoas jurídicas e dá outras providências. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7689.htm#:~:text=LEI%20No%207.689%2C%20DE%201
5%20DE%20DEZEMBRO%20DE%201988&text=a%20seguinte%20Lei%3A-
,Art.,para%20o%20imposto%20de%20renda. Acesso em: 14 nov. 2022.
63

O pagamento das contribuições para o PIS e Cofins, também previstas para


empresas deste tipo, de acordo com a Lei nº 9.718/1998, em seu artigo oitavo, é de
0,65% se tratando de PIS e de 3% em relação ao Cofins, ambas calculadas sobre o
faturamento.160

3.3 DAS EMPRESAS FAMILIARES

Em vista do relevante número de empresas familiares existentes no Brasil, a


confecção de uma holding pode trazer benefícios aos trâmites das empresas que
contém esta qualidade. Pode servir para definir os administradores que serão
responsáveis a dar seguimento ao negócio comercial, tentando evitar, assim, o
perdimento de toda uma vida de dedicação e emprego de energia. São inúmeros os
episódios em que empresas familiares foram à falência devido à morte de seu
administrador. Portanto, o planejamento através deste tipo empresarial pode ser de
suma importância para que a empresa consiga sobreviver.161
De acordo com Lansberg, cerca de 70% (setenta por cento) das empresas que
existem no mundo pertencem a famílias. Entretanto, o mesmo autor ressalta que,
entre as empresas familiares, 70% (setenta por cento) extinguem as atividades após
a morte do seu criador. Ainda, destaca quais são os principais fatores que determinam
o encerramento das atividades pelas empresas, dando ênfase a conflitos que a
sucessão empresarial instala na companhia, entre os familiares, possíveis
administradores da empresa. É por este motivo que o momento da morte de um
empresário deve ser pensado de forma antecipada, pois, obviamente, a expectativa
do falecido não é o término da empresa assim que ele vier a óbito, por motivos de
brigas e discussões entre os seus herdeiros. 162

160 BRASIL. Presidência da República. Lei º 9.718, de 27 de novembro de 1998. Altera a Legislação
Tributária Federal. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9718compilada.htm.
Acesso em: 14 nov. 2022.
161 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 94. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
23 set. 2022.
162 LANSBERG, 1996, apud DE OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Empresa familiar: como

fortalecer o empreendimento e otimizar o processo sucessório. 3. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2010, p.
7. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522473076/. Acesso
em: 15 nov. 2022.
64

O caos é instaurado nessa situação quando não há uma sucessão instituída.


Tendo como exemplo um empresário que detém 60% (sessenta por cento) do capital
votante de uma empresa. No caso do seu falecimento, esse percentual poderá ser
dividido entre todos os herdeiros, fragmentando a empresa e colocando-a em risco de
ruína. Ainda, o quotista que antes do óbito era minoritário, passará a ser, até o seu
falecimento, o controlador da sociedade.163
É por isso que a questão sucessória nas empresas ditas familiares deve ser
levada em pauta nos planejamentos estratégicos da empresa. Sendo a morte do
empresário um fato que cedo ou tarde irá acontecer, é uma atribuição da companhia
possuir saídas que diminuam os danos causados por um falecimento inesperado. A
transição, nestas hipóteses, deve ser imediata, para que a empresa fracasse em
virtude da falta de organização sucessória.164
Porém, apesar da importância, percebe-se que este tema, muitas vezes, é
esquecido pelos fundadores e empresários das empresas. Inconscientemente, o
pensamento é de que para sempre estarão presentes dentro da companhia, e que há
outras coisas mais importantes e urgentes a serem resolvidas no momento. Acontece
que este problema referente a escolha da sucessão da empresa é algo intrínseco a
qualidade de empresário, porém, podendo ser constatado pelo gestor em uma altura
que nada poderá fazer.165
Importante ressaltar que, como dispõe Ramussen, este breve e imediato
controle que os herdeiros irão exercer sob a empresa, a partir da transferência
automática das quotas sociais referentes a cada sócio, segundo Gladston Mamede,
protege e contêm a abertura de diversos problemas e conflitos familiares que podem
vir a ocorrer quando a questão financeira está envolvida. Os possíveis conflitos que
poderiam vir a calhar, ficam presos pela elaboração e planejamento que é organizado
por meio deste instrumento. Nesse sentido, qualquer desavença será esclarecida
mediante o direito comercial e societário, não pelo direito de família ou das sucessões.

163 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Empresas Familiares: O Papel do Advogado na
Administração, Sucessão e Prevenção de Conflitos entre Sócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 139.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522487080/. Acesso em:
12 nov. 2022.
164 FREZZA, Cleusa Maria Marques; DE FREITAS, Ernani César; GEHLEN, Luciana; MAFALDO,

Marcello Noetzold. Gestão em empresas familiares: discutindo a sucessão e a profissionalização. 1.


ed. Novo Hamburgo: Editora Feevale, 2005, p. 78.
165 LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na empresa familiar: preparando as

mudanças para garantir sobrevivência no mercado globalizado. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 42.
65

Isso acontece pelo motivo de as casuais disputas ocorrerem no âmbito da Holding,


fazendo com que sejam decididas no interior da empresa, respeitando os ditames do
direito empresarial.166
Mas, considerável lembrar que o fato de estar sendo planejada a sucessão
empresarial, não significa que, desde já, a empresa ou qualquer patrimônio estará
sendo transferido para seus sucessores. Planejar, nesse sentido, é organizar a forma
que este processo será regido no momento oportuno, é ordenar as regras do futuro
quanto ao tempo da sucessão. A transferência prematura da empresa ou patrimônio
acontecerá conforme o planejamento, mas não no momento em que perfectibilizado
este processo.167
Acerca deste tema, recentemente o STJ, mais especificamente a 3ª Turma do
egrégio Tribunal, julgou com entendimento que qualifica, ainda mais, a utilidade de
planejamento sucessório através de holding às relações jurídicas familiares. A referida
decisão compreendeu que, a condição de acionista da empresa, quando do
falecimento do empresário, não é passada de forma automática aos herdeiros legais.
Para isto ocorrer, necessariamente, deve ser partilhado através do processo de
inventário, bem como averbado nos livros de registros empresariais, conforme parte
do julgado transcrito abaixo:

[...] Da mesma forma que ocorre com os demais bens que integravam o
acervo patrimonial do falecido, suas participações societárias passam, a partir
de seu óbito, a integrar o espólio, figurando o inventariante como seu
representante. Somente com o advento da partilha é que a titularidade das
ações passará a cada sucessor, individualmente. 5. A transferência de ações
nominativas em virtude de sucessão por morte somente se dá mediante
averbação no correspondente livro de registro da sociedade empresária.
Inteligência do art. 31, § 2º, da Lei 6.404/76. 6. Destarte, não se sustenta a
tese defendida no recurso especial no sentido de que, por força do disposto
no art. 1.784 do CC, o recorrente teria assumido a posição de acionista da
companhia automaticamente a partir do falecimento de seu genitor,
independentemente de qualquer formalidade [...]168

166 RASMUSSEN apud MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas
Vantagens: planejamento jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São
Paulo: Atlas, 2021, p. 90. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em: 12 nov. 2022.
167 LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na empresa familiar: preparando as

mudanças para garantir sobrevivência no mercado globalizado. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 48.
168 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.953.211-RJ (2021/0117403-2).

Relatora: Ministra Nancy Andrighi. Data de julgamento: 15 de março de 2022. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/1466714121/inteiro-teor-1466714186. Acesso em: 14
nov. 2022.
66

Toda empresa tem como objetivo a continuidade das operações, ou pelo menos
a sua expectativa. Sendo assim, considerar a possibilidade de preparar a sucessão
empresarial e a administração da companhia é ato de extrema necessidade.
Corporações que abrem mão deste planejamento podem adquirir grande prejuízo pela
falta de organização, o que pode recair de igual forma à credibilidade da empresa em
relação a investimentos de terceiros. Ocorrendo o falecimento do empresário e não
havendo uma estruturação de sucessão já programada, a companhia pode passar por
infortúnios que, na eventualidade de conflitos familiares para a sua resolução,
originam crises e colocam em dúvida a sua perpetuidade. 169
O administrador da empresa não deve ser unicamente escolhido por fatores
jurídicos e sucessórios, pelo contrário. Este cargo é incumbido por diversas
responsabilidades e atribuições, que não são relativas a qualquer pessoa. Dessa
forma, a possibilidade de escolha pelo empresário de quem será a pessoa
encarregada a dar continuidade a companhia, é capaz de promover o saudável
seguimento das funções empresariais, não sendo prejudicado pelo fator morte do
administrador empresarial.170
A falta ou o mal planejamento nesse sentido pode resultar em herdeiros
legalmente constituídos, mas que nunca tiveram a experiência ou preparação
necessária para gerir a empresa. Ou, ao contrário, pode acontecer de membros da
família que são altamente qualificados, esperando serem reconhecidos e conseguirem
uma oportunidade de se encarregarem de mais atribuições dentro da companhia, se
desligarem das atividades da empresa, pelo pensamento de que esta expectativa não
será correspondida pelo atual gestor.171
Vale destacar que, diferentemente do pensamento popular, o administrador da
empresa não equivale ao dono da companhia. O administrador societário possui
deveres de gerir a empresa, através de todos os perigos e encargos da função. Não
necessariamente o administrador deve ser sócio da empresa. Através do
planejamento sucessório empresarial, os herdeiros terão seus direitos de sucessão

169 GOMES, Orlando. Sucessões. 17. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019, p. 10. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530986049/. Acesso em: 22 jun. 2022.
170 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda C. Planejamento Sucessório: Introdução à Arquitetura

Estratégica - Patrimonial e Empresarial - com Vistas à Sucessão Causa Mortis. São Paulo: Atlas, 2015,
p. 5. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597000108/.
Acesso em: 12 nov. 2022.
171 LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na empresa familiar: preparando as

mudanças para garantir sobrevivência no mercado globalizado. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 51.
67

de quotas sociais assegurados; entretanto, o cargo de administração poderá ser


indicado a pessoa que não necessariamente seja sucessor da herança do falecido.
Aqui está presente um fator técnico de escolha, para exercer cargo de extrema
importância interna e externa da empresa.172
A partir desse raciocínio, indo além do planejamento através do instrumento da
holding, o empresário, dispondo da ideia ou anseio de que a empresa tenha
continuidade através de membros da família, pode, também, haver uma preparação
destes herdeiros, habilitando-os profissionalmente para que tenham os atributos
necessários de um bom empresário e gestor empresarial. Estes fatores são de
extrema importância para a comunicação de gerações entre a gestão de empresas
familiares.173
É por isso que o planejamento sucessório da empresa deve ser pensado de
maneira consciente, deixando de lado, por mais que seja difícil, o lado do afeto
familiar. É uma responsabilidade grande; porém, nesse momento o que está sendo
colocado em primeiro plano é a continuidade da empresa. É de se considerar o
envolvimento em que os herdeiros possuem em relação à empresa, pois, em algumas
situações, as pessoas podem simplesmente pensar no fato do poder e no atrativo que
a posição de sucessor da empresa pode gerar, porém, a realidade é o oposto disso.
O comprometimento e a atribuição do empresário merecem disposição e energia,
características a serem avaliadas na escolha do futuro executivo da companhia. É
nesse sentido que o autor Djalma de Pinho Rebouças de Oliveira dispõe sobre a
análise consciente do futuro da empresa:

Não se está querendo afirmar que os herdeiros naturais são incompetentes,


mas que a análise e a avaliação do processo sucessório devem ser
efetivamente realísticas. Se o herdeiro for realmente competente ou tiver
condições de vir a ser competente, está tudo bem. Caso contrário, deve-se
pular direto para a situação de sucessão profissional. Lembre-se do ditado:
“avô competente, pai nobre e filho pobre”. 174

172 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil: Sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 306. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596809/. Acesso em: 16 jun.
2022.
173 FREZZA, Cleusa Maria Marques; DE FREITAS, Ernani César; GEHLEN, Luciana; MAFALDO,

Marcello Noetzold. Gestão em empresas familiares: discutindo a sucessão e a profissionalização. 1.


ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2005, p. 120.
174 DE OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Empresa familiar: como fortalecer o empreendimento

e otimizar o processo sucessório. 3. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2010, p. 12. E-book. ISBN
9788522473076. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522473076/.
Acesso em: 15 nov. 2022.
68

Portanto, além de a simples mantença de uma empresa já se caracterizar como


um desafio nos dias atuais, percebe-se que a continuidade de uma empresa familiar
por gerações futuras, após o falecimento do seu criador, é um desafio ainda maior.
São variáveis os entraves que circundam este momento sucessório dentro das
companhias, e a carência de um planejamento sólido e organizado de forma
precedente é capaz de arruinar o que foram anos de trabalho duro e atividades
comerciais empregadas.175

3.4 DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS

Havendo interesse do transmitente, poderão ser elaboradas diversas cláusulas


contratuais especiais, que poderão reger a disposição, a divisão dos bens, eventuais
restrições de direitos entre os sócios da holding, ou seja, são escolhas, de cunho
íntimo, que o sucedido será capaz de optar no momento da confecção do contrato
social que dará origem à holding.
Estas possibilidades poderão trazer ao de cujus uma maior segurança quanto
ao destino de seus bens, e ainda elaborar uma organização exclusiva com as suas
finalidades específicas.
Portanto, este subcapítulo abordará as principais cláusulas, igualmente
habilitadas a preservar e salvaguardar o patrimônio que será deixado pelo
transmitente aos seus legatários, independentemente da eventualidade da existência
de obrigações externas ou terceiros.

3.4.1 Do Usufruto

A cláusula do usufruto é considerada uma das principais na constituição da


holding como forma de planejamento sucessório, uma vez que o sucedido

175DA SILVA, Vanessa F; LOZADA, Gisele; VILLANI, Paulo M.; FERREIRA, Adriana G.; XARÃO,
Jacqueline C. Gestão de empresa familiar. 1. ed. São Paulo: Grupo A, 2019, p. 152. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788533500563/. Acesso em: 15 nov.
2022.
69

(usufrutuário), ainda em vida, continuará exercendo as competências sociais das


quotas no qual é usufrutuário, enquanto os sucessores (nu-titulares), são titulares dos
atributos da sociedade; porém, apenas no que se refere ao direito patrimonial. O
usufrutuário manterá preservado as quotas sociais e, inclusive, receberá eventuais
frutos desta sociedade, como dividendos, nos casos em que se auferir, por exemplo,
valores a título de aluguéis.176
O autor civilista Carlos Roberto Gonçalves, conceitua o instituto do usufruto da
seguinte forma:

Caracteriza-se o usufruto, assim, pelo desmembramento, em face do


princípio da elasticidade, dos poderes inerentes ao domínio: de um lado fica
com o nu-proprietário o direito à substância da coisa, a prerrogativa de dispor
dela, e a expectativa de recuperar a propriedade plena pelo fenômeno da
consolidação, tendo em vista que o usufruto é sempre temporário; de outro
lado, passam para as mãos do usufrutuário os direitos de uso e gozo, dos
quais transitoriamente se torna titular.177

A vantagem da doação por reserva de usufruto, imposta no contrato da holding,


é caracterizada, simplesmente, através do ato da doação somente da nua-
propriedade do patrimônio ao legatário, ou seja, o transmitente ainda terá direito de
gozar e usar dos bens por ele doados, pois a propriedade ainda pertence ao donatário,
tendo os sucessores um direito real sobre coisa alheia. 178

3.4.2 Da Incomunicabilidade

O sucedido, através da elaboração de cláusula de incomunicabilidade, terá


como fim preservar o patrimônio aos seus sucessores escolhidos. Isto acontece pelo
motivo desta cláusula não permitir a comunicação das quotas, deixadas pelo de cujus,
com o patrimônio de terceiros, como, por exemplo, dos cônjuges dos legatários. A

176 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento
jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 144. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
21 set. 2022..
177 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva,

2021, p. 494. E-book. Disponível em:


https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590654/. Acesso em: 21 set. 2022.
178 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. B110. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 21 set. 2022.
70

partir do seu uso, os direitos advindos dos bens herdados passam a ser somente do
sucessor, protegendo-o das demais relações jurídicas que eventualmente poderá
estar inserido. Nos casos de divórcio, exemplificativamente, os bens herdados não
serão divididos no momento da partilha dos bens do casal, pois a mencionada cláusula
decreta total incomunicabilidade do patrimônio, inclusive impossibilitando a
instauração de comunhão.179
Portanto, como uma aplicação preventiva, evitando perturbações futuras de
divisão de patrimônio com cônjuges que não farão mais parte da família, a cláusula
de incomunicabilidade é um perspicaz meio de garantir a direção correta na que o
bem irá se destinar, na medida em que este é um dos fundamentais motivos na criação
de um planejamento sucessório, visto que o sucedidos possuem receio de que o
patrimônio que levaram a vida toda para conquistar, seja simplesmente partilhado com
pessoas que em nada possuem relação familiar.180
Além do impedimento de comunicação do bem herdado com os bens do
cônjuge, conforme exposto com mais detalhes anteriormente, sendo este o objetivo
principal desta providência tomada pela transmitente do patrimônio aos seus
herdeiros, a simples cláusula de incomunicabilidade também protegerá os direitos
sobre eventual partilha com cônjuge futuro. Isto significa que a relação conjugal que
acontecer, ocasionalmente, de forma superveniente à criação da holding,
identicamente ao intuito já elucidado, estará abrigada pelos efeitos da medida
imposta.181

179 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,
sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. B114. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 22 set. 2022.
180 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 110. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
22 set. 2022.
181 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento

jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 14. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
04 abr. 2022.
71

3.4.3 Da Impenhorabilidade

Outra cláusula comumente aplicada nos casos de planejamento sucessório,


buscando, novamente, proteger o patrimônio de terceiros que não façam parte do
núcleo familiar, ou dos herdeiros escolhidos pelo sucedido, é a cláusula de
impenhorabilidade. A mencionada cláusula tem como intuito evitar que os bens sejam
penhorados por dívidas dos sócios da holding, ou até mesmo que os herdeiros
garantam suas dívidas através da penhora dos bens deixados por legado. Dessa
forma, as quotas sociais ficam mantidas entre os sucessores, não havendo o acesso
a estranhos na sociedade em virtude de inadimplementos ocasionados pelos sócios
legatários.182
Dessa forma, a ideia é que, não só pelo uso desta cláusula, mas em um
conjunto de aplicação das cláusulas até agora referidas, o patrimônio seja
amplamente blindado, impossibilitando que os sócios respondam por suas dívidas
através dos bens deixados pelo de cujus. 183

3.4.4 Da Inalienabilidade

A cláusula de inalienabilidade possui relação com a de impenhorabilidade,


entretanto, a presente medida tem um objetivo mais amplo, pois visa garantir que,
mesmo por atos voluntários do sucedido, o patrimônio deixado não venha a ser
alienado a outras pessoas. Enquanto a cláusula de impenhorabilidade tem a intenção
de garantir que os bens não respondam pelas dívidas dos sócios, o que poderia
acontecer de forma não intencional pelos sucessores, a inalienabilidade tem como
propósito garantir que as ações espontâneas dos sócios não gerem prejuízo à

182 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,
sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. B118. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 22 set. 2022.
183 DIAS, Norton Maldonado; MARTINS, Barbara Piovesan. Benefícios da Holding Familiar como forma

de planejamento no Brasil. Científic@ - Multidisciplinary Journal, v. 6, n. 2, pp. 64–83, 2020, p. 78.


Disponível em: http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/cientifica/article/view/3499/2879.
Acesso em: 20 jun. 2022.
72

sociedade, colocando desconhecidos para dentro de uma relação jurídica que foi
pensada e planejada pelo transmitente.184
Nesse sentido, os bens inalienáveis são bens considerados indisponíveis
diante dos efeitos a eles impostos, pois não poderão ser transferidos a ninguém em
hipótese alguma. É por isso que o seu uso gera, como reflexo, efeitos como o da
cláusula de impenhorabilidade dos bens.185

3.4.5 Da Reversibilidade

Esta cláusula, por certo, é a medida em que os transmitentes de preferência


não esperam que seja utilizada. Isto porque o seu uso é justificado nos casos em que
o herdeiro venha a falecer previamente ao sucedido. Nesse caso, a doação, muitas
vezes já realizada através da reserva de usufruto, é revertida, o que causa a
devolução das quotas sociais, referem ao patrimônio que deveria ser transmitido, ao
transmitente. Diante desse fato, o sucedido possui, novamente, a chance de organizar
e pensar o que desejará fazer com os bens que seriam destinados ao herdeiro
falecido, colocando-o novamente como objeto do planejamento sucessório, podendo
encaminhar o patrimônio com mais assertividade, do que simplesmente deixar que o
bem vire uma herança do falecido, sendo transmitido, tendo como exemplo, ao
cônjuge.186
Basicamente, a referida cláusula garante ao transmitente o direito de repensar
o seu planejamento, em virtude de falecimento prematuro de seu legatário. Tais
quotas retornam ao patrimônio do doador, revertendo os efeitos da doação antes
estabelecida.187

184 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding Familiar e suas Vantagens: planejamento
jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 110. E-
book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026900/. Acesso em:
22 set. 2022.
185 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. B118. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 22 set. 2022.
186 SILVA, Fabio.; ROSSI, Alexandre. Holding Familiar: visão jurídica do planejamento societário,

sucessório e tributário. 2. ed. São Paulo: Trevisan, 2017, p. B119. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595450028/. Acesso em: 22 set. 2022.
DIAS, Norton Maldonado; MARTINS, Barbara Piovesan. Benefícios da Holding Familiar como forma de
planejamento no Brasil. Científic@ - Multidisciplinary Journal, v. 6, n. 2, pp. 64–83, 2020, p. 68.
73

3.5 DAS DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA HOLDING COMO MEIO DE


PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

A utilização de instrumento, além do fato de possibilitar o planejamento


sucessório de forma mais particular, tem também como objetivo e vantagem a
oportunidade de despender de menores gastos financeiros. Porém, esse benefício
trazido pelo seu uso, apesar de real, como bem analisado neste capitulo, não se
caracteriza como algo simples e regular, em virtude dos procedimentos que devem
ser empregados desde o início da constituição da empresa, até o seu término. Isso
ocorre, pois, se não adequado de forma correta às pretensões da holding, por se tratar
de uma empresa, a carga tributária é capaz de ultrapassar os benefícios que por ela
são trazidos.188
Os gastos para a constituição da empresa, por si só, precisam ser avaliados.
Não só as despesas necessárias à abertura da companhia, como taxas registrais e
cartorárias, mas também os honorários profissionais do profissional que irá constituí-
la. Além disso, os fatores comuns a qualquer empresa, como os pagamentos de
impostos, ganhos sobre o capital da companhia, distribuição de lucros entre os sócios
e diversas despesas operacionais que sempre estarão sujeitas ao pagamento
enquanto utilizada a holding.189
Outro ponto que merece atenção é a possibilidade da desconsideração inversa
da possibilidade jurídica que, como já comentado, diferentemente da desconsideração
comum, onde os bens dos sócios perdem a autonomia para que se execute dívida da
empresa, na modalidade inversa os bens da empresa são alvo de perda de autonomia,
para que as dívidas do sócio sejam executadas através do patrimônio da empresa, na
medida em que responda as quotas sociais. É por este motivo que não se pode
acreditar na total proteção patrimonial através da constituição de uma holding, por

Disponível em: http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/cientifica/article/view/3499/2879.


Acesso em: 20 jun. 2022.
188 DE OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Holding, Administração Corporativa e Unidade

Estratégica de Negócio: uma abordagem prátiva. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 21. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522494941/. Acesso em: 06 abr.
2022.
189 DIAS, Norton Maldonado; MARTINS, Barbara Piovesan. Benefícios da Holding Familiar como forma

de planejamento no Brasil. Científic@ - Multidisciplinary Journal, v. 6, n. 2, pp. 64–83, 2020, p. 75.


Disponível em: http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/cientifica/article/view/3499/2879.
Acesso em: 20 jun. 2022.
74

simplesmente integralizar o capital com os bens adquiridos como pessoa física.


Havendo confusão patrimonial entre os bens do sócio e os bens da empresa, a
desconsideração da personalidade jurídica é medida que se impõe, já amplamente
adotada pelo judiciário.190
Esta questão está também prevista no Código Civil, dispondo dos casos em
que se tem como caracterizada a possibilidade de utilização do instituto de
desconsideração:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento
da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de
sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. 191

Além disso, a criação de uma holding como meio de planejamento sucessório,


mesmo que haja a divisão de quotas entre os herdeiros, acaba por não individualizar,
de fato, a herança de cada sucessor. A integralização do patrimônio do sucedido à
sociedade faz com que as relações familiares pós mortem sejam ainda mais
frequentes, seja para a tomada de decisões ou alteração das atividades da empresa.
Ainda, destaca-se que essa é uma circunstância que perdurará por vários anos, sendo
um forte ponto negativo, pensando a partir dos herdeiros.192

190 PEREIRA, Lucas Lobo. Responsabilidade Tributária e Desconsideração da Personalidade


Jurídica no novo CPC. 1. ed. São Paulo: Grupo Almedina, 2019, p. 78. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788584935239/. Acesso em: 15 nov. 2022.
191 BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 15


nov. 2022.
192 DE OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Holding, Administração Corporativa e Unidade

Estratégica de Negócio: uma abordagem prátiva. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 22. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522494941/. Acesso em: 06 abr.
2022.
75

CONCLUSÃO

A presente pesquisa buscou, inicialmente, esclarecer alguns pontos acerca do


assunto, para que o problema principal fosse resolvido de forma que a compreensão
fosse clara e completa.
Através da explanação presente nos primeiros subcapítulos do primeiro
capítulo, foi explicado que a holding é um tipo empresarial que, diferentemente da
maioria das empresas, tem como preocupação essencial o mundo interno da
companhia, buscando ser uma ferramenta que beneficie seus sócios de alguma
forma, podendo ser financeiramente, através da redução de pagamentos de impostos,
ou como forma de controle centralizado de diversas outras empresas,
desempenhando assim um melhor e mais rápido comando às escolhas pertinentes à
companhia, dependendo do que for estipulado em seu contrato social, quando da sua
constituição.
Entendeu-se que a origem deste tipo empresarial vem dos Estados Unidos, em
1780, tendo como objetivo permitir que empresas detivessem participações em
capitais de outras empresas, o que gerou uma célere popularização da holding no
país.
A respeito da natureza jurídica da holding, apesar da dualidade de opiniões
doutrinárias, no geral, compreendeu-se que podem ser tanto sociedade simples, como
sociedade empresária, ficando a critério a estratégia por de trás da criação desta.
Conheceu-se as diversas espécies de holding e suas aplicações, destacando
aqui a holding pura, comumente utilizada para que haja participação no capital de
outras empresas, a holding mista, que, além de haver a participação no capital de
outras empresas, também conta com a exploração de atividades comerciais. Além
delas, foram citadas as holdings de controle, de participação, de administração,
imobiliária, derivada e setorial, cada uma buscando a sua vantagem financeira ou
administrativa ao meio aplicado.
Por fim, adentra-se às holdings patrimoniais e familiares, que muitas vezes se
confundem entre si, pela existência de semelhanças em suas estratégias. São estas
as espécies mais utilizadas quando se fala em planejamento sucessório. Por meio
delas, o controle e administração dos bens, bem como a consolidação de uma
aceleração à disposição dos bens aos herdeiros pode ser um benefício adquirido
76

ainda em vida pelos seus sócios constituídos. De modo geral, entendeu-se que estas
holding possuem grande importância nas empresas familiares e com um patrimônio
que necessita de cuidados e planejamento especial, ou simplesmente quando o seu
gestor escolhe fazer o uso desta aplicação.
Posteriormente, no capítulo segundo do trabalho, buscou-se compreender os
mais essenciais fundamentos do direito sucessório. A partir disso, foi conceituada a
sucessão, com ênfase na sucessão causa mortis, objeto do trabalho.
Destacaram-se os princípios que norteiam o direito sucessório, explicando os
seis que, no entendimento do autor Dimas Messias, são os fundamentais, sendo eles
o princípio da função social da herança, que tem como objetivo mostrar a importância
da herança como continuidade de riqueza às gerações sucessoras, o princípio da
territorialidade, que se relaciona com as leis vigentes no momento e local da morte do
de cujus, o princípio da temporariedade, que trata sobre a lei usada nos casos de
sucessão, sendo ela as vigentes no tempo do falecimento do sucedido, o princípio do
respeito à vontade manifestada, que são aos casos em que o falecido demonstrou,
em vida, as intenções quanto o direcionamento do patrimônio, princípio que tem forte
relação com o planejamento sucessório, o princípio non ultra vires hereditatis, que
dispões sobre os sucessores não serem obrigados a pagarem as dívidas do sucedido
que excedam o patrimônio deixado, e, por último, o princípio da saisine, que consiste
na transferência do patrimônio aos sucessores imediatamente após a morte do de
cujus.
Seguiu-se esclarecendo a evolução histórica do direito sucessório no brasil e
suas atualizações legislativas, a partir do Código Civil de 2002, atualizando-se aos
novos contextos culturais inseridos à sociedade.
Após, se caracterizou o conceito de sucessão legítima, que é quando a
sucessão acontece da exata forma em que a legislação prevê, ou seja, não há
declaração de vontade manifestada pelo falecido enquanto vivo. Nela, os herdeiros
legítimos são detentores dos direitos sucessórios, cada qual com a sua parte. Os
sucessores legítimos seguem uma linha de ordem familiar, priorizando os
descedentes, companheiros e ascendentes. Esta forma de sucessão é bastante
aceita, uma vez que permanece sendo a mais usada pelas pessoas, o que demonstra
o acerto do legislador ao criar uma ordem sucessória justa e conveniente à população.
77

Em seguida, tratou-se sobre a sucessão testamentária, modalidade sucessória


em que o testamenteiro dispõe da sua vontade, indicando bens e patrimônio que
deseja destinar ao herdeiro testamentário, ressalvada a quota da sucessão legítima,
que não pode ser inferior a cinquenta por cento do patrimônio do falecido. A sucessão
testamentária só possui seus efeitos jurídicos efetivados após o falecimento do de
cujus, por isso, é conhecido como um negócio jurídico post mortem.
Exauridas as explicações quanto aos fundamentos sucessórios, entrou-se na
esfera dos processos de inventário. Primeiramente, concluiu-se que o inventário pode
ocorrer tanto da forma judicial como da extrajudicial, a depender de critérios objetivos.
Este procedimento é aberto para que seja levantado todos os bens do falecido,
estimando o valor total do patrimônio para que efetivada uma justa partilha de bens
ao final, entre os herdeiros. Ficou demonstrado que o processo de inventário pode ser
tornar demasiadamente moroso, principalmente quando há conflitos familiares em seu
interior.
Por fim, o terceiro capítulo tratou sobre o objeto do trabalho, destacando as
principais vantagens e desvantagens da utilização do planejamento sucessório
através de uma empresa holding.
Por primeiro cumpriu destacar que o planejamento sucessório pode atuar como
uma prevenção aos conflitos familiares, muito presentes nos momentos de divisão dos
bens do falecido. Em relação à família, não são apenas os conflitos que podem ser
precavidos, mas também fracassos amorosos dos herdeiros. Isso porque, ao constituir
uma holding com este intuito, podem ser inseridas cláusulas que irão proteger o
patrimônio de pessoas que não fazem parte da sucessão legítima do falecido.
Por conseguinte, no que concerne às vantagens tributárias adquiridas pela
utilização do planejamento, concluiu-se que, por exemplo, o imposto do ITCMD, pago
quando há transmissões pelo motivo de falecimento, não será devido no caso de
constituição de holding. Ainda, o ITBI, imposto devido para integralização do capital
da empresa para que se efetive o planejamento sucessório, será devido apenas nos
casos em que o objeto da empresa for a realização de atividades ligadas ao ramo
imobiliário, como a compra e venda, arrendamento e locação. Ou seja, nos casos em
que não há esse tipo de atividade declarado e executado, ficarão imunes do
pagamento de ITBI.
78

Além disso, mesmo nos casos em que necessário o pagamento de ITBI, a base
de cálculo será o valor venal do imóvel, se assim preferir o empresário. Isso irá
diminuir o pagamento do imposto, uma vez que o valor do imóvel não será
devidamente atualizado.
Outro ponto positivo que se conclui é nos casos em que serão incluídos à
empresa imóveis destinados à locação. Isso acontece porque, levando em
consideração os impostos pagos como pessoa jurídica no caso de locação de imóveis,
o imposto de renda pessoa física pode chegar ao patamar de 27,5% do lucro bruto
obtido no período de locação. Entretanto, quando utilizada a holding para
integralização do capital com estes bens, os impostos a serem pagos no caso de
locação não excederão o percentual de 14,53%. Destacou-se que, ainda em vida, a
pessoa que está planejando a sua sucessão já poderá usufruir deste instrumento.
Ademais, adentrou-se ao tema das empresas familiares e os efeitos e
necessidades de um bom planejamento sucessório empresarial. Foi destacado a
importância deste instrumento para um bom prosseguimento da empresa, uma vez
que as empresas familiares passam por graves problemas quando o seu criador
falece, muitas vezes levando a companhia à falência. Se demonstra, mais uma vez, a
importância do planejamento para a família de um modo geral, inclusive quando
presente empresa familiar na questão.
Ainda, provou-se a necessidade de se pensar o planejamento sucessório em
aspectos mais consciente, não levando apenas em consideração o afeto,
especialmente nos casos de existência de sociedade na família.
No tocante às vantagens, findou-se discorrendo sobre as cláusulas contratuais
que podem ser inseridas no contrato social da empresa holding, a depender das
expectativas e exigências de seu planejador.
As cláusulas citadas possuem extrema relevância para proteção do patrimônio
integralizado ao capital da empresa, bem como para que o seu sucedido ainda possa
usufruir dos bens integralizados como se ainda dele fosse, já que a transferência das
quotas sociais só aconteceria após o falecimento deste.
Referente às desvantagens da utilização da holding como meio de
planejamento sucessório, destacou-se, principalmente, a carga tributária e o custo
inicial para a sua constituição. Em relação à carga tributária, por mais que pode ser
aproveitada a trazer benefícios aos seus sócios, como já concluído, deve se
79

considerar que não são todos os casos em que estas vantagens irão ocorrer, sendo
necessário um estudo de caso específico para a sua constituição.
Também, ressaltou-se o custo contábil de mantença da empresa em dia com
suas obrigações fiscais e legais, o que muitas vezes precisará da contratação de um
profissional qualificado para melhor atender às necessidades dos participantes da
empresa.
Sendo assim, diante de todas as conclusões levantadas no presente trabalho,
e tendo como problema principal o questionamento se realmente há benefícios na
utilização da empresa holding para o planejamento sucessório, conclui-se que, de
modo geral, são muitos os benefícios que podem ser aproveitados através do uso
deste instrumento, construindo um contrato social que integre todas as exigências do
sucedido, podendo, inclusive, trazer segurança à continuidade da empresa familiar,
se assim estiver presente.
As hipóteses arguidas foram confirmadas, mostrando que a holding é um
excelente instrumento a ser aplicado ao direito sucessório, trazendo benefícios fiscais
aos participantes, bem como uma maior organização da transmissão de bens do
falecido aos herdeiros.
Demonstrou também que a utilização dos meios de planejamentos sucessórios
ainda é pouco usada pela sociedade, em virtude de questões culturais e costumeiras,
mas também pelo motivo de ser um momento em que a população, normalmente, não
se interessa em organizar.
Foi descoberto também que o próprio testamento, que pode ser reconhecido
como um meio de planejamento da sucessão, mesmo que parcial, é minimamente
usado na coletividade, concluindo-se que a sucessão legítima é bastante aceita de
modo geral.
Portanto, em que pese as conclusões aqui arguidas, necessário esclarecer que
o presente trabalho não é um estudo conclusivo, devendo ser ainda mais investigado
e propagado o assunto, pois se trata de tema altamente relevante à sociedade, bem
como para a economia.
80

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