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São Paulo
2014
Marcelo Takaoka Pugliese
Efeitos do endividamento na rentabilidade: evidências para empresas
brasileiras de capital aberto
São Paulo
2014
Pugliese, Marcelo Takaoka
Efeitos do endividamento na rentabilidade: evidências
para empresas brasileiras de capital aberto / Marcelo Takaoka
Pugliese - São Paulo: Insper, 2014.
Monografia: Faculdade de Economia e Administração.
Insper Instituto de Ensino e Pesquisa
Orientador: Prof. Dr. José Heleno Faro
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Resumo
Este estudo tem como objetivo estudar a relação entre o endividamento e a rentabilidade de
empresas brasileiras não financeiras de capital aberto, testando se existe relação e se esta é
positiva ou negativa. Para testar a hipótese de pesquisa, utilizaram-se análises de correlação e
regressão de dados em painéis. A análise foi feita utilizando dados de empresas brasileiras de
capital aberto entre 2007 e 2012. Concluiu-se que o endividamento apresenta efeito negativo,
ocorrendo tanto de maneira contemporânea quanto defasada em um período, na rentabilidade
das empresas.
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Abstract
The objective of this paper is to study the relationship between indebtedness and profitability
in non-financial Brazilian public companies, testing if there is a relationship and if it is
positive or negative. To test the research hypothesis, correlation and panel data regression
analysis were utilized. The analysis was made on financial data of Brazilian public companies
from 2007 to 2012. It was concluded that indebtedness presented a negative effect on
profitability both in the current period and with one period lag.
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Sumário
1. Introdução ....................................................................................................................................... 7
2. Revisão da literatura ...................................................................................................................... 10
3. Metodologia .................................................................................................................................. 13
3.1 Apresentação das Variáveis e Análise Descritiva ..................................................................... 13
i. Variável Dependente: EBIT/Ativo Total (EBIT) ...................................................................... 13
ii. Variável Independente: Dívida Total Bruta/Ativo Total (DIV) ................................................ 13
iii. Variável Independente: Dívida Total Bruta/Ativo Total elevado ao quadrado (DIV2) ............. 14
iv. Variável de Controle: EBITt-1/Ativo Total (EBITt-1) ................................................................. 14
v. Variável de Controle: Log Neperiano da Receita Líquida (RECEITA).................................... 14
vi. Variável de Controle: CAPEX/Ativo Total (CAPEX) .............................................................. 15
vii. Variável de Controle: Liquidez Corrente (LIQCOR) ................................................................ 15
viii. Variável de Controle: Giro do Ativo Invertido (GIROINV) ..................................................... 15
3.2. Base de Dados ........................................................................................................................... 16
3.3. Modelagem Econométrica......................................................................................................... 17
i. Descrição dos Modelos ............................................................................................................. 17
ii. Estimação .................................................................................................................................. 18
iii. Teste de Hausmann ................................................................................................................... 19
4. Resultados ..................................................................................................................................... 20
4.1. Teste de Hausmann ................................................................................................................... 20
4.2. Estimação .................................................................................................................................. 20
5. Conclusão ...................................................................................................................................... 23
6. Referências .................................................................................................................................... 24
APÊNDICE ........................................................................................................................................... 25
6
1. Introdução
1
Entre os principais fundamentos corporativos utilizados destacam-se o retorno sobre o capital investido, giro do
ativo, capital de giro, geração de caixa, índices de liquidez, valor dos ativos líquidos, entre outros.
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recursos. Muitas vezes, recursos são captados com o intuito de alongar o perfil da dívida -
pagando dívidas de curto prazo com dívidas de longo prazo - e não investir nas operações.
Nesse caso, o custo marginal da dívida se tornaria uma variável relevante no efeito do
endividamento no lucro, pois, uma vez que uma nova dívida é contraída para quitar passivos
de curto prazo, só haverá benefício no resultado da empresa se o custo da nova dívida for
menor. O objetivo do estudo é analisar o efeito do endividamento assumindo que os recursos
seriam empregados na operação da empresa, de modo a gerar um impacto - positivo ou
negativo - no resultado operacional. Empresas apresentam diferenças tanto no custo de
captação de dívidas quanto no retorno gerado com este capital e, por isso, o endividamento
terá efeito diferente para cada uma dependendo tanto de características próprias da firma
quanto de seu setor de atuação. No entanto, o estudo propõe estudar qual é o efeito geral que o
endividamento apresenta no resultado operacional de empresas brasileiras de capital aberto.
Dado que o endividamento apresenta uma interpretação incerta sobre a rentabilidade, é
importante entender como este pode afetar diferentes firmas. Por um lado, uma empresa com
alto grau de endividamento tem sua rentabilidade prejudicada por estar constantemente
gerando grandes despesas com juros. Além disso, o crescimento da dívida faz com que se
tornem mais arriscadas, uma vez que, se o pagamento dos encargos tornar-se inviável,
possivelmente haverá necessidade de venda de ativos, refinanciamento da dívida - muitas
vezes por uma taxa ainda maior - ou pedido de falência. Esse risco elevado poderá aumentar o
custo de capital da empresa, fazendo com que os juros de novos endividamentos tornem-se
ainda maiores e destinando capital que poderia ser empregado para investimentos aos
encargos. Por outro lado, uma dívida elevada significa também maior benefício fiscal uma vez
que os encargos da dívida diminuem o lucro tributável, diminuindo assim a quantidade de
imposto a ser paga. Além disso, como já citado anteriormente, existe a possibilidade de uma
nova entrada de capital dar à empresa a capacidade de investir em oportunidades antes
inalcançáveis, fazendo com que sua rentabilidade cresça.
Para estudar a relação entre endividamento e lucro, serão propostos dois modelos
econométricos de séries temporais, desenvolvidos com base na literatura existente.
Inicialmente, será feita uma revisão da literatura existente a cerca do tema de modo a entender
quais resultados foram obtidos em estudos similares e se existe consenso em relação ao tema.
Em seguida, a descrição das variáveis selecionadas para fazer parte dos modelos inicia a
análise de regressão. Então, a base de dados será descrita e brevemente analisada, seguindo
para os modelos propostos e os resultados obtidos nas estimações. A análise econométrica dos
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modelos propostos gerou evidências suficientes para afirmar que o endividamento apresenta
efeitos negativos na rentabilidade ao longo do tempo, de modo que tanto o efeito no período
em que a dívida é contraída quanto o efeito do acréscimo de endividamento feito no período
anterior são negativos .
9
2. Revisão da literatura
10
com o propósito de encontrar evidências sobre os efeitos do endividamento no nível de
rentabilidade para empresas listadas na Indonesia Stock Exchange. Para representar a
rentabilidade, a variável escolhida foi o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE). Segundo
os autores, esta seria a variável ideal por representar a capacidade da empresa de gerar retorno
aos acionistas e, também, por ser comparável entre empresas e setores diferentes. Para
representar o endividamento, foi escolhida a variável Equity Multiplier2. A escolha é
justificada por considerar a dívida total apresentada no balanço e compará-la com o tamanho
do Ativo Total. Para isolar o efeito do endividamento dos efeitos internos de cada empresa,
foram escolhidas variáveis de controle. Para representar o desempenho que o management
atinge em relação aos investimentos em ativos, foi escolhido o Giro do Ativo e o logaritmo
natural do Ativo Total foi utilizado como proxy para o tamanho da empresa. A escolha da
primeira é justificada pelo fato de escolhas melhores de investimento por parte do
management, retratadas por um Giro do Ativo elevado, devem ser acompanhadas de maiores
níveis de ROE. Já a hipótese para o tamanho da empresa é de que empresas maiores devem
apresentar melhor capacidade de produção, sendo assim, mais eficientes e gerando maiores
rentabilidades. Por fim, é adicionada como fator externo a taxa de juros do banco central
indonésio, taxa BI, com a justificativa de que, por ser uma ferramenta de política econômica,
ela representa as condições macroeconômicas do período. O resultado esperado da variável
macroeconômica é negativo, uma vez que taxas básicas de juros elevadas tendem a apresentar
cenários macroeconômicos desfavoráveis. Além disso, os autores ressaltam a probabilidade
de existirem diferenças de lucratividade entre diferentes setores, de modo que esta pode
apresentar características específicas. Com isso, a estimação foi feita com a amostra inteira de
228 empresas e, também, com amostras separadas em oito diferentes setores, para que a
comparação entre as indústrias fosse possível. Por meio de uma estimação em painéis, os
resultados obtidos para o endividamento, o Giro do Ativo e para o tamanho da firma foram
positivos e significantes a 90% de confiança, sendo que a taxa de juros também foi
significante, porém, apresentando sinal contrário ao esperado. Por fim, um último teste
aplicado para as estimações de diferentes setores mostraram que a rentabilidade foi
estatisticamente diferente em todos os setores, corroborando com a teoria de que existem
diferenças de rentabilidade entre indústrias diversas.
2
Usualmente o equity multiplier é representado como Ativo Total sobre o Patrimônio Líquido, porém, apenas
remanejando a fórmula, os autores o apresentam como 1+( .
11
Murphy Jr. (1968) foi outro autor que apresentou o mesmo objetivo do estudo aqui
proposto. Em seu estudo, analisou a influência do endividamento na rentabilidade, no
crescimento e no valor de mercado de 72 empresas americanas utilizando como alavancagem
a variável Dívida de Longo Prazo sobre Capital de Longo Prazo e como rentabilidade a
variável ROE. O autor afirma que existe uma diferença entre o custo de dívida e o custo de
capital próprio, de modo que a dívida costuma ser mais barata. Com isso, uma empresa que
apresenta endividamento elevado deve apresentar uma taxa de retorno maior sobre o capital
próprio. Esse retorno elevado deveria produzir taxas de crescimento maiores e, com isso,
aumentar o valor da empresa. Apesar da esperança de obter três resultados positivos, sua
conclusão foi a de que não existe relação estatisticamente significante entre estrutura de
capital e crescimento, rentabilidade e valor de mercado.
A divergência observada nos resultados descritos acima retrata a relevância do tema
em estudo, uma vez que a relação entre endividamento e rentabilidade é frequentemente
discutida e os resultados não raramente são divergentes, fazendo com que a relação entre o
endividamento e o valor de mercado permaneça desconhecida. Ao desenvolver um modelo
econométrico para estimação da rentabilidade, o estudo proposto tem o objetivo de contribuir
para a discussão a cerca dessa relação.
12
3. Metodologia
15
3.2. Base de Dados
16
parcial entre as variáveis, por isso qualquer resultado dito inesperado pode não ter tanto
significado. Para obter-se uma análise mais completa da relação entre as variáveis, será
utilizada a estimação de um modelo econométrico.
(1)
(2)
(3)
17
(4)
(5)
(6)
Além disso, também foram aplicados testes de hipótese para as variáveis de controle
do modelo. Os testes apresentaram as seguintes hipóteses:
(7)
(8)
ii. Estimação
Segundo Loureiro e Costa (2009), dados em painel são caracterizados por possuírem
observações em duas dimensões que, em geral, são tempo e espaço. Este tipo de análise
apresenta informações que possibilitam uma melhor investigação sobre a dinâmica das
mudanças nas variáveis, tornando possível considerar o efeito de variáveis não observadas.
Frequentemente, estas apresentam covariância diferente de zero com ao menos uma variável
explicativa do modelo, fazendo com que este não possa ser estimado por OLS (Ordinary
Least Squares), pois esse estimador será enviesado e não consistente.
O modelo de efeitos fixos é o modelo mais usual para a estimação com dados em
painel, justamente por ser capaz de gerar estimadores consistentes, permitindo que Cov (ci,xj)
≠ 0, sendo ci o conjunto de variáveis não-observadas e xj uma variável explicativa.
Basicamente, subtrai-se da equação estrutural uma equação com médias das variáveis. Assim,
como as variáveis não observadas são constantes ao longo do tempo, sua média é igual entre
as observações, ou seja, a subtração das duas equações remove o efeito dessas variáveis ci.
Porém, caso ci não seja correlacionado com as variáveis, a utilização do modelo de efeitos
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aleatórios torna-se mais apropriada. Basicamente, esse modelo considera ci como uma
variável distribuída aleatoriamente, com as mesmas propriedades de um ruído branco.
O teste de Hausmann é aplicado a fim de saber qual modelo deve ser considerado. O
teste compara os estimadores gerados pelos modelos de EA e EF. A hipótese nula deste teste
implica que os dois modelos geram estimadores iguais e, portanto, não há presença de efeitos
fixos na amostra. Nesse caso, a utilização do modelo EA seria mais adequada. Caso a
presença de efeitos fixos seja comprovada, ou seja, caso os estimadores gerados sejam
diferentes, a utilização do modelo EF será mais adequada por incluir a participação desses
efeitos no resultado final.
Portanto, as hipóteses do teste são:
(9)
(10)
19
4. Resultados
4.2. Estimação
20
Tabela 2: Resumo dos resultados - Modelo Corrente
Variável Coeficiente Prob.
C -0,82323 0,0000
EBIT1 -0,04100 0,0367
DIV -0,01542 0,0000
DIV^2 -0,00001 0,3019
RECEITA 0,06604 0,0000
CAPEX 0,00323 0,9483
LIQCOR 0,00078 0,7102
GIROINV 0,00044 0,0000
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5. Conclusão
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6. Referências
Amaral, A. C. do; Costa, A. C. F. da; Carvalho Filho, A. F. de; Forte, D.; Martin, D. M. L.;
Nakamura; W. T. Determinantes de Estrutura de Capital no Mercado Brasileiro – Análise de
Regressão com Painel de Dados no Período 1999-2003. R. Cont. Fin, USP, n. 44, p.72-85.
São Paulo, 2007.
Bortoluzzo, A. B.; Sanvicente, A. Z. Agency Costs, Capital Structure Decisions and the
Interaction with Payout Decisions: Empirical Evidence from Brazil. São Paulo, 2013. 18 p.
Loureiro, A. O. F.; Costa, O. L. Uma Breve Discussão sobre os Modelos com Dados em
Painel. IPECE – Nota Técnica N° 37, Fortaleza, 2009. 12 p.
Modigliani, F; Miller, M. The cost of capital, corporation finance and the theory of
investment. American Economic Review, 53, p.261–297, 1958.
Murphy Jr, J. E. Effect of Leverage on Profitability, Growth and Market Valuation of
Common Stock. Financial Analysts Journal, v.24, n.4, p.121-123, 1968.
Myers, S. C. The Capital Structure Puzzle.Journal of Finance, 39, p.575-592, 1984.
Perobelli, F. F. C.; Famá, R. Determinantes da estrutura de capital e aplicação a empresas de
capital aberto brasileiras. Revista de Administração, v.37, n.3, p.33-46. São Paulo, 2002.
Pimentel, R. C.; Braga, R.; Casa Nova, S. P. C. Interação entre Rentabilidade e Liquidez: um
Estudo Exploratório. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ,
Rio de Janeiro, v.10, n.5, p.83-98, 2005.
Singapurwoko, A.; El-Wahid, M. S, M. The Impact of Financial Leverage to Profitability:
Study of Non-Financial Companies Listed in Indonesia Stock Exchange. European Journal of
Economics, Finance And Administrative Sciences - Issue 32, p.136-148, 2011.
Weiss, L.; Hall, M. Firm Size and Profitability. The Review of Economics and Statistics,
v.49, n.3. p.319-331, 1967
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APÊNDICE
As tabelas de 1 a 6 apresentam dados estatísticos sobre as variáveis escolhidas, enquanto as
tabelas de 7 a 12 mostram os coeficientes de correlação e os resultados dos testes feitos com
estes.
Tabela 1: Dados estatísticos para as 227 firmas da amostra de 2007
Desvio
Média Mediana Máximo Mínimo
Padrão
25
Tabela 3: Dados estatísticos para as 272 firmas da amostra de 2009
Desvio
Média Mediana Máximo Mínimo
Padrão
26
Tabela 6: Dados estatísticos para as 300 firmas da amostra de 2012
Desvio
Média Mediana Máximo Mínimo
Padrão
EBIT2007 1,0000
EBIT2008 1,0000
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Tabela 9: Coeficientes de correlação de Pearson da amostra de 2009
EBIT2009 DIV2009 RECEITA2009 CAPEX2009 LIQCOR2009 GIROINV2009
EBIT2009 1,0000
EBIT2010 1,0000
EBIT2011 1,0000
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Tabela 12: Coeficientes de correlação de Pearson da amostra de 2012
EBIT2012 DIV2012 RECEITA2012 CAPEX2012 LIQCOR2012 GIROINV2012
EBIT2012 1,0000
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