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PROJETO REDIGIR • 2º semestre de 2007 • Turma 1 de sábado • Zé e Régener • Aula 1

Por que redigir?

Muitos se perguntam: por que uma dona existiram um dia, como os dinossauros. As
de casa, um operário de uma empresa ou mes- palavras escritas são as pegadas que a gente
mo um jovem estudante precisa saber redigir? deixa para a posteridade.
Vivemos a era da comunicação instantânea: Falar, ao contrário, é gratuito, leviano,
tudo o que pensamos é dito ao vivo, olho no econômico. O que achou do último Batman?
olho, ou então por telefone, videoconferências, “Legal.” “Nada a ver.” Deu-se o milagre da
rádio, tevê, Internet, em que basta apertar as comunicação, pode-se partir para outro assun-
teclas certas para fazer se entender. Ninguém to. Já quem for obrigado a escrever cinco li-
precisa ser um Rubem Fonseca para se comu- nhas sobre o filme vai realmente descobrir o
nicar via e-mail. que achou dele. Faça o teste.
Que a frase oral é um must qualquer cri- Uma terra de gente muda, é essa a pro-
ança sabe, mas a decadência da palavra escrita posta? Não acho má idéia — tenho fascínio
precisa ser evitada, a não ser que já não tenha- por gente silenciosa —, mas a proposta é ou-
mos curiosidades em saber quem somos, de tra: gente normal que escreva cartas, bilhetes,
onde viemos e, principalmente, aonde vamos receitas médicas, receitas de pavê, listas de su-
parar com essa preguiça. permercado, postais, diários, poemas, recados,
Saber escrever não é obrigação apenas avisos de mural ou torpedos, tudo legível.
de quem vive disso. Escrever é básico pra todo Gente que escreva sem visar à Academia Bra-
mundo, e se alguém só pega a caneta para as- sileira de Letras, que vise apenas a se fazer
sinar cheques merece nossa inveja pelo seu compreendido. Gente que escreva para si mes-
saldo bancário, mas também um pouquinho de mo, tentando organizar a overdose de informa-
compaixão. ções que se recebe atualmente. Gente que es-
Escrever serve, antes de mais nada, para creva para atrair fregueses, e não para afu-
conhecer-se. Para descobrir o que pensamos gentá-los.
sobre os mais diversos temas. Serve para fazer Poupemos um pouco nossa voz: escre-
um levantamento de nossas idéias e uma audi- ver é bom, é terapêutico e torna-se fácil com a
toria nos sentimentos. É uma maneira de com- prática.
prometer-se consigo próprio, transformando o Eu sei, é fácil falar.
raciocínio em palavras documentadas, que po-
dem ser relidas, analisadas, reconstituídas. Ou, (Marta Medeiros, adaptado de Zero Hora,
vá lá, amassadas e jogadas no lixo, mas que 20/07/97)

Proposta de redação • No exercício que fizemos nesta primeira aula, praticamos um dos três
grandes gêneros textuais: o descritivo. Mais especificamente, fizemos uma autodescrição, a
partir de elementos fornecidos pelo exercício. A proposta de redação para casa é semelhante:
faça uma autodescrição, ressaltando algumas de suas características físicas e de personali-
dade, dia-a-dia, histórias pessoais, qualidades e defeitos. Dica: procure abordar em seu texto
pontos que geralmente não comentamos a respeito de nós mesmos nas diversas situações da
vida. Por exemplo: em que posição você costuma dormir? Do que você mais tem medo? Que
sons da cidade te agradam ou desagradam? Fuja dos estereótipos aos quais você se relaciona
geralmente, dirija a você mesmo seu humor e seu senso crítico. Faça um texto em prosa ou
em poesia; se achar melhor, escreva uma música ou uma história em quadrinhos, ou qualquer
outra forma de texto. O importante é ser criativo e fazer uma auto-representação original.
Metodologia
1) Leitura comentada de textos em aula. professores. O projeto é apresentado no final do
2) Discussão sobre temas diversos. A participação dos semestre, em uma festa que reúne todas as turmas
alunos é uma necessidade para o bom andamento do Redigir.
das aulas. 6) Não aplicamos provas e não atribuímos notas aos
3) Realização de exercícios orais ou escritos, indivi- exercícios feitos pelo aluno. Os exercícios feitos
duais e coletivos, em sala de aula. em classe são comentados oralmente, e a crítica
4) Realização de exercícios individuais fora de aula, deverá ser sempre construtiva. Os exercícios feitos
para entrega na semana seguinte. Se o aluno não em casa são lidos pelos professores e entregues de
colocar em prática os conceitos e técnicas aborda- volta aos alunos, com correções gramaticais, co-
dos em aula, o curso para ele será bem pouco útil. mentários sobre estrutura, estilo etc., e dicas de
5) Realização de projeto final, com forma e tema esta- como melhorar a redação.
belecidos de comum acordo entre os alunos e os

Observações importantes
1) Para o melhor aproveitamento do curso, recomen- te, em dia e horário favoráveis para a maior parte
da-se a todos chegar pontualmente às 9h e deixar a dos alunos. No caso das atividades externas reali-
sala no horário estipulado. zadas fora do horário de aula, a ausência do aluno
2) As aulas do curso não constituem módulos isolados não será contabilizada.
e são planejadas como um processo contínuo. Por 5) Para quaisquer dúvidas, os professores colocam-se
isso, é importante que o aluno freqüente tantas au- à disposição dos alunos antes e depois do horário
las quanto possível. Para fins de obtenção do certi- das aulas, de acordo com a disponibilidade de cada
ficado, exige-se uma freqüência mínima de 75% um. Para resolução de dúvidas em outros momen-
das aulas (máximo de 5 faltas). tos, estas são nossas formas de contato:
3) Todos os alunos têm acesso aos livros e materiais
disponíveis na minibiblioteca do Projeto Redigir. Zé – 9726-5227 – jmunizjr@gmail.com
4) A realização de aulas externas, como visitas a mu- Régener – ricardo.regener@gmail.com
seus, teatros e cinemas, será combinada previamen-

Até o fim (Chico Buarque)

Quando eu nasci veio um anjo safado Por conta de umas questões paralelas
O chato dum querubim Quebraram meu bandolim
E decretou que eu estava predestinado Não querem mais ouvir as minhas mazelas
A ser errado assim E a minha voz chinfrim
Já de saída a minha estrada entortou Criei barriga, a minha mula empacou
Mas vou até o fim Mas vou até o fim

Inda garoto deixei de ir à escola Não tem cigarro acabou minha renda
Cassaram meu boletim Deu praga no meu capim
Não sou ladrão, eu não sou bom de bola Minha mulher fugiu com o dono da venda
Nem posso ouvir clarim O que será de mim?
Um bom futuro é o que jamais me esperou Eu já nem lembro pronde mesmo que vou
Mas vou até o fim Mas vou até o fim

Eu bem que tenho ensaiado um progresso Como já disse é um anjo safado


Virei cantor de festim O chato dum Querubim
Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso Que decretou que eu estava predestinado
Em Quixeramobim A ser todo ruim
Não sei como o maracatu começou Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim Mas vou até o fim
Exercício

Obviamente, não poderíamos deixar de nos coloque seu nome. Ah, não vale responder as
apresentar uns aos outros. Mas façamos isso perguntas em tópicos — o ideal é que você
de uma forma diferente. A partir das questões tente fazer um texto coeso e coerente, com co-
colocadas abaixo, redija um pequeno texto meço, meio e fim. Para isso, use sua criati-
falando de você. É importante que todas as vidade e acrescente as informações que consi-
perguntas sejam respondidas, e que você não derar necessárias.

1) Quem é a primeira pessoa que você vê depois que acorda?


2) Como você fez para chegar aqui na ECA (ônibus, trem, metrô, carona etc.)?
3) O que sua família costuma comer no almoço de domingo?
4) Que tipo de música você costuma ouvir?
5) Qual é o maior objetivo que você persegue atualmente?

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A força dos estereótipos
“Triste época! É mais fácil desintegrar veio do nada. Nos anos 80, alguns pregadores
um átomo do que um preconceito.” A boa fra- de sucesso, como Jimmy Swaggart e Jim Bak-
se é de Albert Einstein, que, como sempre, es- ker, foram pegos em escândalos sexuais. E is-
tava quase certo. so reavivou o tema do pregador hipócrita.
Quebrar um estereótipo é tão ou mais Os umbandistas são acusados de ter par-
difícil que fragmentar um átomo porque o ho- te com o demônio (tese com 57% de aceita-
mem interpreta o mundo através de categorias, ção) desde que o primeiro escravo foi por aqui
que são só um nome neutro para preconceito. descarregado e se cristianizou, incorporando
Pior, os estereótipos que usamos são com fre- elementos da religião de origem. Cultos esta-
qüência corretos. belecidos não gostam de concorrência e menos
Não estou dizendo que todo católico é ainda de “agentes duplos” entrincheirados em
relapso, e evangélico, trouxa. Mas como diz o suas naves.
psicólogo Steven Pinker: “Se anda como um É certo que estereótipos são fonte das
pato e grasna como um pato, provavelmente é piores chagas, como racismo, sexismo e toda
um pato. Se é um pato, provavelmente nada, forma de intolerância. Só que o preconceito,
voa...”. entendido como a operação mental que nos
Quem, contudo, aplica irrefletidamente permite abstrair e generalizar, é um dos res-
os atributos gerais a sujeitos particulares corre ponsáveis pelo sucesso evolutivo da humani-
risco de quebrar a cara — um pato com asa dade e a base do conhecimento científico. Isso
ferida não voa, mas não deixa de ser pato. não significa que toda a generalização na ca-
Estereótipos religiosos tendem a refletir chola seja válida. Muitas não serão.
não verdades, mas características que são ou Problema não é usar preconceitos para
foram freqüentes entre membros do grupo. interpretar o mundo, mas o fato de que muitos
Católicos estão entre os primeiros a admitir de nós se recusam a abandoná-los, mesmo
que não são muito católicos em seu catolicis- quando desmentidos por evidências e contra-
mo. Concordam que “os católicos não prati- rios a imperativos morais.
cam sua religião” 61% dos entrevistados; entre
católicos, 58%. (Hélio Schwartsman, adaptado da Folha de S. Paulo,
A noção de que os evangélicos são enga- 06/05/2007)
nados por pastores (aceita por 61%) tampouco

Preconceito é um juízo preconcebido, mani- de judeu, retratado como avaro, português (no
festado geralmente na forma de uma atitude Brasil), como pouco inteligente etc. O este-
discriminatória que se baseia nos conhecimen- reótipo pode estar relacionado ao preconceito.
tos surgidos em determinado momento como (Wikipedia, adaptado)
se revelassem verdades sobre pessoas ou lu-
gares determinados. Costuma indicar desço- Discriminação: ato ou efeito de discriminar. 1.
faculdade de discriminar, distinguir; discer-nimento; 2.
nhecimento pejorativo de alguém ao que lhe é ação ou efeito de separar, segre-gar, pôr à parte (Ex.:
diferente. As formas mais comuns de precon- discriminação racial). 3. tratamento pior ou injusto dado
ceito são a social, racial e sexual. (Wikipedia) a alguém por causa de características pessoais;
intolerância (Ex.: os idosos lutam contra a
Estereótipo é a imagem preconcebida de de- discriminação no mercado de trabalho). 4. termo
jurídico: ato que quebra o princípio de igualdade, como
terminada pessoa, coisa ou situação. Estereó- dis-tinção, exclusão, restrição ou preferências, motivado
tipos são fonte de inspiração de muitas piadas, por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou
algumas de conteúdo racista, como as piadas convicções políticas. (Dicio-nário Houaiss, adaptado)

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