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Fichamento de História e Pesquisa

Emanuella Casanova Campos. 4ºano – História – Manhã

Professora Luciana Klanovicz.

PROST, Antoine. As questões do historiador. Doze lições de história. Belo Horizonte:


Autêntica, 2008, p. 75-93.

(P. 75) “Com efeito, a história não pode definir-se por seu objeto, nem por documentos.
Com o vimos, não existem fatos históricos por natureza; além disso, o campo dos
objetos, potencialmente históricos, é ilimitado.”

(P. 75) “Do ponto de vista epistemológico, a questão desempenha uma função
fundamental, no sentido etimológico do termo: com efeito, ela serve de fundamento e
constitui o objeto histórico. Em certo sentido, o valor da história depende do valor de
sua questão. Daí, a importância e a necessidade de colocar a questão da questão.”

(P. 76) “[...] não há questão sem documento. O historiador nunca se limita a formular
tuna “simples questão” - até mesmo quando se trata de uma questão simples - porque,
em seu bojo, traz uma ideia das fontes documentais e dos possíveis procedimentos de
pesquisa.”

(P. 76) “Por sua questão, o historiador estabelece os vestígios deixados pelo passado
como fontes, e como documentos; antes de serem submetidos a questionamento, eles
nem chegam a ser percebidos como vestígios possíveis, seja qual for o objeto.”

(P. 77) “O primado da questão sobre o documento acarreta duas consequências: em


primeiro lugar, a impossibilidade da leitura definitiva de determinado documento. O
historiador nunca consegue exaurir completamente seus documentos; pode sempre
questioná-los, de novo, com outras questões ou levá-los a se exprimir com outros
métodos.”

(P. 78) “[...] a partir do mesmo documento — por um recorte e abordagens diferentes —
se constrói uma história da fortuna ou uma. história da mobilidade social. O que levanta,
evidentemente, grandes problemas aos arquivistas que, muitas vezes, por falta de
espaço, são levados a depurar seus acervos pela eliminação dos documentos “inúteis”!”

(P. 78) “s. Os historiadores do século XIX privilegiavam os vestígios escritos, enquanto
no século XX tem sido questionadas as escavações arqueológicas para responder às
questões sobre a história da vida material; verificou-se um interesse pelos rituais,
símbolos e cerimônias para identificar as práticas sociais e culturais.”

(P. 78) “A investigação oral fez testemunhar os sobreviventes silenciosos da história.


Em suma, teremos oportunidade de voltar ao assunto, o repertório documental e o
arsenal metodológico não cessaram de aumentar seus acervos para responder a novas
questões.”

(P. 79) “As questões encadeiam-se umas nas outras, geram-se mutuamente. Por um
lado, as curiosidades coletivas deslocam-se; por outro, a verificação/refutação das
hipóteses dá origem a novas hipóteses, no âmago, de teorias que evoluem. A pesquisa é,
portanto, indefinidamente relançada. A exemplo da lista dos fatos, o elenco das questões
históricas nunca estará encerrado: a história terá de ser continuamente reescrita.”

(P. 80) “Entre as várias maneiras de fazer “avançar” a história, a mais simples, consiste
em preencher as lacunas de nossos conhecimentos! Mas o que é uma lacuna? Haverá
sempre uma aldeia, cuja história ainda não tenha sido escrita; no entanto, a história de;
uma enésima aldeia preencheria verdadeiramente uma lacuna?' Ela nos ensinaria algo
que ainda desconhecêssemos? Em vez de um objeto suplementar cuja história não tenha
sido escrita, a verdadeira lacuna é constituída pelas questões ainda sem resposta para os
historiadores. É como as questões se renovam, ocorre que determinadas lacunas
desaparecem sem terem sido preenchidas. As questões podem deixar de ser formuladas,
mesmo antes de terem recebido uma resposta.”

(P. 80) “Um estudo de primeira mão, elaborado diretamente a partir dos documentos,
pode ser destituído de interesse científico se responder a questões informuláveis;
inversamente, um estudo de segunda mão, baseado em trabalhos anteriores de outros
historiadores, pode apresentar uma grande pertinência científica, se vier a inscrever-se
em um questionamento inovador. Para ser plenamente legítima para os historiadores,
uma questão deve inserir-se em uma rede de outras questões, paralelas ou
complementares, acompanhadas por respostas possíveis, cuja escolha dependerá do
trabalho efetuado sobre os documentos.”

(P. 82) “A pluralidade dos polos em torno dos quais se organizou a profissão, tais como
sua abertura aos historiadores estrangeiros, impediu que tais conflitos — aliás,
atenuados não redundassem em uma verdadeira dominação. Entretanto, contribuíram
para fazer evoluir à configuração das questões pertinentes e suscitaram “modas”
historiográficas que estiveram na origem de inúmeros estudos inspirados pelas mesmas
problemáticas. Em suma, trata-se de um importante fator da historicidade das próprias
questões históricas.”

(P. 83) “? A profissão de historiador é que decide a aceitabilidade de determinada


história e fixa os critérios de apreciação, a exemplo da profissão de médico que rejeita
ou reconhece o valor, medicinal da vacinação ou da homeopatia. Neste aspecto, existe
um poder, efetivo, cujo monopólio se encontra, quase sempre, nas mãos de historiadores
inexperientes.”

(P. 83) “A história que responde assim ao que, por convenção, se designa — com uma
expressão um tanto imprecisa, sem deixar de ser conveniente — por “demanda social”
pode muitíssimo bem respeitar todas as exigências da profissão. Ela compreende
naturalmente a história que se ensina nas escolas e pode ser considerada legítima se
tiver sido construída a partir de fontes e se levou em consideração as últimas aquisições
da pesquisa. Ocorre que, do ponto de vista científico, ela pode ser também pertinente, ao
renovar a problemática para não citar a documentação.”

(P. 88) “É verdade que nem todos os historiadores estão engajados; no entanto, o
interesse profissional do historiador pela evolução da coletividade constitui, um fator
favorável ao compromisso que, provavelmente, é mais frequente na corporação que no
conjunto da população com o mesmo nível cultural. O que não prejulga o sentido dessa
atitude — existem historiadores em todos os campos —, nem à torna automática; alguns
historiadores de elevada reputação evitaram precisamente qualquer compromisso para
se dedicarem integralmente à história; aliás, essa foi a escolha dos integrantes dos
Annales.”

(P. 89) “Por eximir-se de confessar sua vontade de proceder; a um ajuste de contas ou
de corrigir os erros; o historiador corre o risco de aceitar fatos, de forma precipitada,
sem construí-los com o devido cuidado, atribuindo-lhes uma importância exagerada. A
exemplo do que ocorre com qualquer oportunidade, o conhecimento íntimo por
compromisso pessoal, é também um risco; ele permite que o historiador possa avançar,
de forma mais rápida e mais profunda, na compreensão de seu tema; mas também pode
ofuscar sua lucidez sob a turbulência dos afetos.”

(P. 90) “A história tem necessidade, certamente, de “recuo” que, entretanto, não provém
automaticamente do afastamento no tempo; além disso, não basta esperar para que se
concretize tal distanciamento. Convém fazer a história do tempo presente com o
profissional, a partir de documentos e não de lembranças; para deixá-lo a uma distância
adequada.”

(P. 92) “No entanto, evitemos cair no outro extremo. Se qualquer historiador, até
mesmo aquele que pretende ser o mais “científico”, encontra-se envolvido pessoalmente
com a história que escreve, isso não significa que ele deva abordar seu trabalho como
simples opinião subjetiva, impulso de seu temperamento e reflexo de um inconsciente
superlotado, para alcançar, precisamente, uma melhor racionalidade é que o historiador
deve elucidar suas implicações.”

(P. 93) “Essa análise da questão, enquanto fundamento da seriedade da história, permite
trazer um primeiro esclarecimento à questão recorrente da objetividade ao fazer história
que não pode provir do ponto de vista adotado pelo historiador porque ele está
necessariamente situado e é necessariamente subjetivo. Na história, é impossível opinar
de forma superficial e à distância: quem pretendesse defender tal postura seria um
tresloucado e estaria confessando simplesmente sua incorrigível ingenuidade. Em vez
de objetividade, seria preferível falar de imparcialidade e de verdade, as quais só podem
ser conquistadas ao termo do intenso labor desenvolvido pelo historiador. Elas
encontram-se, não no começo, mas no termo de seu trabalho; tal constatação fortalece a
importância das regras do método.”

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