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Universidade Federal da Bahia - Campus São Lázaro

Vitória Louise Torres Jesus de Oliveira


Introdução ao Estudo da História
Carlos Zacarias 05/06/2023

Obra: A história se escreve por Antoine Prost

Ideia central: “Existem histórias laboriosas que exibem os vestígios de tais dificuldades
como se fossem ferimentos em carne viva; outras, de uma forma mais hábil, chegam quase a
fazê-las esquecer se, ao virar uma página, a necessidade de explicitar o sentido de um termo
não viesse lembrar a diferença em relação ao outro e a distância em relação ao passado. A
cultura literária, a prática e o gosto pela escrita constituem, aqui, preciosas ajudas. A história
não pode deixar de lado um trabalho que é de natureza literária com as especificidades de um
gênero particular. Eis por que escrever história será sempre uma arte e uma tarefa laboriosa;
além, talvez, de um prazer. ” - página 252

“Não é o enredo que faz a diferença entre um texto histórico e um texto jornalístico. Em
compensação, basta abrir o livro para desfazer qualquer dúvida: de fato, a história erudita
manifesta-se por sinais exteriores muito mais evidentes e, em particular, por seu aparato
crítico e pelas notas de rodapé. ” - página 235

“O texto histórico serve-se, em profusão, de notas porque ele não recorre ao argumento de
autoridade. O historiador não solicita, de modo algum, que lhe seja depositada uma confiança
incondicional: contenta-se que alguém aceite acompanhá-lo no enredo construído por ele.” -
página 235

“O texto do historiador aparece, em primeiro lugar, como um texto pleno. Essa é a


consequência de sua própria construção, de sua criação de enredo. Ele possui sua coerência
própria, sua estrutura, que constitui, por si só, uma argumentação e indica as teses que
pretende demonstrar. ” - página 236

“O encerramento da exposição histórica em si mesma e a saturação do texto pleno opõem-se à


abertura inerente à pesquisa; aliás, as notas de rodapé fazem lembrar a presença, a
necessidade e a vigilância em relação a suas próprias carências, no próprio interior do texto
acabado. O pesquisador vai resolvendo, sucessivamente, as lacunas, sempre insatisfeito e cada
vez mais consciente de sua ignorância” - página 237

“O encerramento do texto histórico é, igualmente, cronológico: o livro parte de uma data e -


sejam quais forem os meandros ou recuos escolhidos pelo historiador para tornar seu enredo
mais interessante - dirige-se, inexoravelmente, para outra. O livro acompanha o transcorrer do
tempo; por sua vez, a pesquisa havia sido mais sinuosa, remontando o tempo que fora
percorrido em todos os sentidos.” - página 237

“O texto de história apresenta uma segunda característica que merece ser mencionada: a
exclusão da personalidade do historiador. O eu é proscrito; no máximo, aparece, às vezes, no
prefácio quando o autor- mesmo que se trate de Seignobos - explicita suas intenções.” -
página 238

“Além de pretender mostrar, desse modo, seu pertencimento à profissão, o autor do novo livro
sublinha o fato de que, ao inserir-se em uma espécie de hipertexto coletivo, seu estudo vem
completá-lo em determinados aspectos e contradizê-lo ou renová-lo em outros. Na maior parte
das vezes, ele contenta-se em retomar, à sua maneira, esse discurso coletivo, sem chegar a
renová-lo realmente, mas não deixa de invocar sua iniciativa. O trabalho do historiador não se
limita a ser um texto, mas trata-se de um elemento integrado em um conjunto que o supera e o
engloba” - página 239

“Neste dispositivo, a nota de rodapé desempenha um duplo papel, para não dizer uma dupla
representação. Por um lado, ela permite a verificação das afirmações do texto que, deste
modo, escapa ao argumento de autoridade.” - página 240

“Deste modo, o texto do historiador compreende, em um duplo sentido, material e


interpretativo, a palavra de um ou vários outros interlocutores.” - página 241

“O texto do outro pode ser visto, igualmente, como manifestação de amizade e como uma
cumplicidade. Na medida em que o historiador se conforma a seu tema e não impõe uma
interpretação arbitrária - trata-se de uma questão tanto de método, quanto de disposição
pessoal-, a palavra do outro não é uma ameaça, mas uma vantagem e a probabilidade de uma
confirmação. ” - página 243

“O texto do historiador é da ordem do conhecimento: trata-se de um saber que se desdobra e


se expõe. Ele procura a razão do que se passou: dá explicações e apresenta argumentos.
Recorre a conceitos, cujo processo de elaboração não é homogêneo, de qualquer modo,
serve-se de noções. ” - página 244

“Portanto, a escrita da história inclui, simultaneamente, o pensado e a vivência porque ela é o


pensamento de uma experiência vivida; por isso, ela deve ser considerada no plano
epistemológico e não literário.” - página 245

“Essa ressurreição é, naturalmente, impossível: a história lê-se, mas não se vive; ela é
pensamento, representação, e não emoção associada à imediatidade e ao imprevisto. De
qualquer modo, convém que "as palavras sejam a verdadeira expressão da realidade". ” -
página 246
“Todos os autores de obras sobre a história têm dedicado algumas páginas à necessidade de
escrever corretamente. Assim, Marrou, em seu livro, De la connaissance historique: "Para
levar a bom termo sua tarefa, para desempenhar plenamente sua função, é necessário que o
historiador seja também um grande escritor" (1954, p. 238). ” - página 247

“A rejeição do acontecimento, o recurso às curvas e aos gráficos, não é, de fato, a


transformação da história em álgebra. Diferentemente da economia, cujos modelos excluíram
os homens concretos, a história não se escreve com equações e símbolos matemáticos, mas
com palavras na língua culta contemporânea. ” - página 248

“Escrever história para um "' público de historiadores é relativamente fácil porque se pode
supor no leitor a mesma cultura: no mínimo, é isso o que se presume e despendese menos
esforço na escrita. ” - página 249

“Desse ponto de vista, a escrita da história é apenas um caso particular dos problemas
levantados pela escrita de qualquer texto, seja ele literário, jornalístico ou político.” - página
249

“O termo parece ter conservado, através das épocas, um sentido constante: o historiador
exprime o passado com as palavras do presente. Essa facilidade é enganadora. O sentido das
palavras não deixa de sofrer alterações no decorrer do tempo. ” - página 250

“Neste momento, estou utilizando a solução natural: independentemente de se servir das


palavras do passado ou de hoje, o historiador não escapa à necessidade de um comentário. A
diferença entre os sentidos dos termos no passado e no presente deve ser superada por uma
descrição do sentido concreto do termo no passado ou por uma explicação de sua diferença
em relação ao sentido no presente. ” - página 251

“A história não pode deixar de lado um trabalho que é de natureza literária com as
especificidades de um gênero particular. Eis por que escrever história será sempre uma arte e
uma tarefa laboriosa; além, talvez, de um prazer. ” - página 252

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