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EL MOVIMIENTO SOCIOTERRITORIAL Y LA ORGANICIDAD

CAMPESINA: Asociación Nacional de Zonas de Reserva Campesina


(Anzorc) en Colombia.

Paola Carolina Tabares Sanmartín 1.

Resumo

Este trabalho estudará o processo histórico da conformação das ZRC, assim mesmo das dinâmicas
dentro dos processos organizativos que deram origem para sua conformação como movimento socioterritorial
Anzorc; na busca também de contribuir na construção teórica metodológica da nova realidade que se tem no
campo colombiano, a ruralidade e a recriação camponesa, será importante também avançar na apresentação das
falências normativas e legais que pautam as ZRC, como uma necessidade de conceituar a complexidade das
dinâmicas camponesas que se encontram imersas dentro do monopólio da terra, a implementação de
megaprojetos e da especulação financeira da terra.

Palavras-chave: Socioterritorial, Camponês, Mobilização.

Introdução

Se Pode entender a Colômbia como um país de forte tradição camponesa apesar dos
processos modernizadores de sua economia em décadas anteriores, processo que atingiu de
forma unilateral os países de capitalismo dependente da América Latina e que gerou fortes
desigualdades econômicas e sociais. Uma significativa parte da população urbana das grandes
cidades colombianas levam consigo elementos e práticas da vida rural já que foram obrigadas
a abandonarem o campo para se tornarem trabalhadores fabris nas cidades, além de fugir dos
conflitos gerados pelo embate entre Estado, paramilitares e guerrilhas de caráter popular.

É possível observar que a Colômbia é um país que tem perdido ao mesmo tempo que
resiste em conservar, num movimento paradoxal, suas características rurais, uma vez que
sofreu um dos maiores deslocamentos forçados internos do mundo moderno (mais de 6
milhões de pessoas, de acordo com Agencia da ONU para os Refugiados, Acnur no ao
de 2015), condição que ajuda a entender a realidade desfavorável à manutenção dos
camponeses em seus territórios, dita situação também se vê agravada por um conflito armado

1
Estudante de doutorado no programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Espirito
Santo e integrante do grupo de estudos GeQa Grupo de Estudos da Questão sobre os Alimentos.
pctabaress@unal.edu.co

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que se estende por mais de 50 anos. As razões deste conflito são inegavelmente o problema da
terra como é sustentado por diversos pesquisadores do tema como é o sociólogo colombiano
Alfredo Molano que entende a terra como “problema central do conflito” (Fajardo, 2014) e
que tem deixado consequências desfavoráveis para a realidade do campo colombiano, tais
como o já mencionado desalojamento forçado mas também a concentração da terra, o
abandono do campo por parte do Estado – deixando-o à margem do desenvolvimento
econômico, a deslegitimacão do camponês como sujeito político como se evidencia no estudo
realizado pelo Programa das Nações Unidas para el Desenvolvimento (PNUD) chamado “O
camponês: reconhecimento para construir país” no “Caderno do Informe dos Direitos
Humanos Colômbia 2011”.

Todo este é o conjunto de fatos faz com que as diferentes formas de organização e
associação camponesa exerçam uma pressão sobre o Estado colombiano, pressão essa que
exige a possibilidade de recompor o campo colombiano. É assim então que surge há
aproximadamente 20 anos o debate e construção metodológica acerca das ZRCs, inicialmente
como uma figura jurídica no capítulo XIII da Lei 160 de 1994 2 “pela qual se cria o Sistema
Nacional De Reforma Agrária e desenvolvimento rural camponês, se estabelece um subsídio
para a aquisição de terras; se reforma o Instituto Colombiano da Reforma Agrária e se ditam
outras disposições”. Esse triunfo dos camponeses se mostrou como um triunfo parcial uma
vez que naquele período ainda eram prematuras suas bases organizativas capazes de fazer
valer a proposta para além do papel, mas na palestra apresentada pela ANZORC para o Foro
Agrário convocado pelo governo e as FARC-EP (2012) os camponeses dizem que:

“[…] No solo reclamamos la redistribución de la tierra, sino la redistribución de toda


la riqueza que los trabajadores colombianos construimos día a día. Reclamamos la
redistribución del poder. No reclamamos el poder al que estamos sometidos, el
poder que oprime, discrimina y excluye, el poder que despoja, arrasa la vida, y
teme a la diversidad. Tenemos derecho y podemos ejercer el poder, el poder que
desde la base enriquece a toda la sociedad. En ejercicio de ese poder hemos
sobrevivido las comunidades rurales, hemos intentado domar la naturaleza y
nos hemos dejado domesticar por ella, hemos aprendido sus secretos y sus
lecciones, hemos construido comunidad, consensuando normas propias, produciendo
alimentos, organizándonos a partir de la solidaridad, para sobrevivir al destierro, a la
exclusión, al abandono estatal, al olvido social, y al terror del Estado y las clases
dominantes…” (ANZORC, 2012)

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A Lei está baseada no Artigo 64 da Constituição Política Da Colômbia do ano de 1991.

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Para os fins desde presente texto, será importante apontar elementos como o
reconhecimento do sujeito como político e assim mesmo deste dentro do seu território para
além das instancias institucionais, os elementos aqui apresentados serão então orientados ao
analise teórico e apoiado algumas experiências campo, tanto como analises de caso ou
critérios interpretativos; pois podemos dizer não por motivos de precariedade, mas sim do
tempo que dita figura tem dentro da sociedade Colômbia, ou propriamente dentro das
comunidades rurais as ZRC são um campo rico e pouco explorado para os estudos
acadêmicos.

A pesar de que a luta pela terra na colômbia vem desde a colônia; com a organização
do Estado Nação, se vê desde ditas organizações a necessidade de outorgam terra para a
colonização pra a utilização da terra com fins produtivos, muitas destas terras que se
encontravam sem uma orientação produtiva na mão de grandes terratenentes. Com o tempo os
camponeses foram motivados a partir de correntes de orientação revolucionaria, comunistas
ou socialistas como o partido socialista revolucionário, os camponeses começam a exigir o
não pago de aluguel pelas terras e começam a ocupar e em certa media a fazer uma
apropriação da terra.

Diversos foram os projetos de lei que procuram reformular o campo colombiano, mas
que no ano de 1993 durante o mandato do presidente Cesar Gaviria Correa, ratifico a grande
propriedade da terra, diminuir a importância do INCODER 3 e deixar ao camponês nas mãos
dos grandes latifúndios; o projeto camponês se caracterizou por entre tantas coisas desacatar o
dito mandato nacional e propor respostas que correspondessem com a difícil realidade que se
vivia para esse momento no campo colombiano.

Na busca de uma lei que formulasse soluções para o campo colombiano se formula
então a lei 160 de 1994, que em seu momento buscava responder ás necessidade da população
camponesa, que encontravam sem muitas oportunidades e em abandoo por parte do Estado.
Podemos ter em conta que o nascimento de uma lei deste tipo tem seus origem na recente

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Instituto Colombiano para el Desarrollo Rural.

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proclamação da constituição política da Colômbia de 1991, que se abre espaço para grupos
como os indígenas, afro e camponeses 4.

A pesar do avanço na criação de uma lei que tentava colocar na tela as problemáticas
do campo colombiano, não existiu o diálogo com a sociedade, senão que se oriento para a
busca da eficiência, que termino por entregar uma grande quantidade de terra dentro do setor
agrário. Se bem se reconhecem avances dentro de dita lei, se faz necessária a correção
conjunta com os implicados, com a sociedade para sua correspondência ou pelo menos
aproximação com a realidades ou as necessidades; as transformações marcantes e latentes dos
últimos anos tem visado a favorecer por um lado os grandes proprietários de terras na
permanência com suas propriedades ou na aquisição de mais propriedades, entre as mudanças
mais notórias encontramos a substituição do INCORA 5 pelo INCODER 6

Partindo de um enfoque territorial desde los de arriba as Zonas de Reserva


Campesina 7 em Colômbia surgem 8 pelo menos na sua aparência como política pública que
determinam e organizam o território em certa medida, o território no que se evidencia a
contradição estrutural da questão agraria mediada pelo capitalismo com suas formas de
territorialização associadas ao desenvolvimento extrativista, assim mesmo se apresentam as
formas de territorialização da resistência.

Não é raro hoje em dia encontrar o conceito de território dentro do pragmatismo dado
a favor das instituições públicas, sendo assim o cerne do ordenamento em todos seus âmbitos
sociais, econômicos, ambientais e demais, por tanto é assim como se constroe um
ordenamento do território desde arriba, que não é mais que se colocar ao serviço da ordem
administrativa e hierárquica do Estado. Deixando com isso que o conceito de território seja

4
Tanto aos territórios indígenas como os territórios das comunidades afrocolombianas, posem uma certa
autonomia contemplada dentro da constituição política de 1991, em quando as comunidades camponesas não
tem dito direito, pelo contrário como afirmam alguns autores que dentro da carta magna a palavra camponês
aparece uma única vez, isso não é de graça pois os camponês tem sido vinculado e associados como os
movimentos revolucionários, isto tem dificultado a suas apropriações dos territórios e intensificado o controle do
Estado sobre os mesmo, mas não o controle que permita as autonomias, mas se o controle que as impeça,
controles do tipo militar por exemplo.
5
Instituto Colombiano para el Desarrollo Agrario.
6
A notória mudança de nome vai para além, pois isto implico uma mudança de foco, onde primariam os grandes
desenvolvimentos no campo ao contrário de se pensar o campo e a ruralidade na sua integralidade.
7
De agora em diante ZRC.
8
A figura das ZRC campesinas se incorporam dentro da realidade colombiana a partir da lei 160 do ano de 1964
(da reforma agraria e do desenvolvimento rural) pensada então como uma forma de regulação da propriedade
rural espacialmente no que diz a ocupação de baldios e fomento da pequena propriedade, adicionalmente dita
figura é proposta como uma ferramenta para o ordenamento ambiental territorial.

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utilizado e adaptado a conveniência para a adaptação dele na lógica da esfera neoliberal e sua
ação no público; pois assim sua forma de ser entendido para uma compreensão só do físico se
torna multidimensional.

Para superar a conceição ampla do conceito de território será ideal a superação das
leituras setoriais ou aquelas que são usadas pela governança, fazendo ao mesmo tempo a
crítica do conceito, fazendo com este que ao mesmo tempo se encontra dado e determinado
pelo capital se mobiliza com maior facilidade pelos braços do Estado. O caminho que este
texto tenta seguir se questiona de algum modo a forma em como uma ordenança vinda desde
los de arriba, faz com que se tenha uma outra apropriação na instauração da figura das ZRC,
de tal modo que a associatividade camponesa se manifeste com a criação da Associação de
Zonas de Reserva Camponesa 9; mas também uma outras questões a serem colocadas é o do
porquê da necessidade do Estado se colocar perante interesses como os dos camponeses por
meio do ordenamento territorial rural. Dito assim sem mais a criação de territórios
camponeses.

Como bem é sabido os territórios são cenários de poder, cenários de disputa por
modos de vida, é por isso que neste caso nos cabe a pergunta de territórios como as ZRC são
vindas desde los de arriba, mas que com as adaptações, apropriações e transformações dos
territórios estes foram colocados perante a territorialização camponesa com a ajuda da
Anzorc, pautando a autonomia, a apropriação, do território segundo as logicas dos
camponeses; o distanciamento perante o Estado se coloca então como uma pauta há já um
tempo necessária, uma pauta na que dito ordenamento territorial vindo desde o Estado não
contempla mais a figura do sujeito camponês e deste dentro do seus modos de vida. A
construção do território imaterial resultado de uma relação de poder que é sustentado pelo
território imaterial como conhecimento, teoria o ideologia (Fernandes 2008 p.282). Parece ter
sentido então que tanto o conceito de território como os territórios estão sendo disputados.

As construções territoriais vindas desde o popular, desde os processos de socialização


e apropriação do território é o que convertem a certos territórios em territórios emancipados
das relações capitalistas 10, mas nosso interesse versa até que ponto tais territórios conseguem

9
De agora em diante Anzorc
10
Quando a inalienabilidade das terras camponesas tem sido conquistada, o neoliberalismo procura frustra-la,
pois obstaculiza a sua visão de reordenamento do território em torno a os projetos de investimento transnacional,

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fazer pensar o território desde abajo, desde o momento em que as imposições feitas pela
governança no Estado dentro do seus territórios começa a ser feita pelos seus modos de vida,
o seja de ditas comunidades, organizações de camponesas e camponeses.

No obstante, desde arriba y desde abajo se construyen los territorios en un constante


ejercicio del poder. De allí, que así como el denominado enfoque territorial ha
servido para renovar e imponer las políticas públicas neoliberales, también,
organizaciones campesinas, que históricamente han luchado por la tierra y
ahora luchan también por el territorio, a través de disputas que se dan en
todas las dimensiones (jurídicas, económicas, políticas, culturales, etc.)
construyen su territorio material e inmaterial. (CRISTANCHO, 2014, p 7)

As regiões dentro das quais as ZRC, se instauram e reafirmam, também podem ser
determinadas pelo intuito de umas das características da divisão do trabalho. Da expansão
geográficas do capital criando assim as regiões, ditas regiões não são mais que as formas no
que o capital estrutura e agrupa os territórios ajuste espacial para suprir a impossibilidade da
acumulação estacionaria, o capital precisa circular, se reproduzindo aqui e ali, atingindo assim
o mercado mundial.

O grau de liberdade e autonomia atribuído aos indivíduos inseridos no(s) sistema(s)


socioeconômico(s), sejam eles capitalistas, proletários ou gestores do capital, é extremamente
limitado, devido a sua atuação dentro dele(s) ou como personificações reificadas dos
imperativos objetivos da acumulação, ou como produtores alienados, estando sujeitos,
obviamente, a contingências as mais diversas. Por fim, a concepção do espaço geográfico no
qual se desdobram as ações desses agentes, os sujeitos sociais, é a do espaço concreto
construído pelo trabalho humano coletivo em sua relação mediada com a natureza.
(PERPETUA, p.61)

Na busca da sua autonomia o modo camponês de trabalhar, estranho ao mundo do


assalariamento e aos requisitos de sua efetivação; (MARTINS p.35) São os que o enfrentam
com a construção de um sujeito que no caso das ZRC, implicam processos organizativos
políticos e sociais os quais tem se construído a partir da figura das Anzorc, onde se pauta uma
unidade da organização camponesa no país; mas que com isto não quer dizer que os outros

concebidos como núcleos nos quais se reorganiza toda a vida econômica, política e social de uma região,
deixando de lado a diversidade cultural.

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processos organizativos de camponeses que não se encontram vinculados a Anzorc na
impliquem um movimento com ditos fins.

As reivindicações tanto simbólicas como de fato em matéria de reconhecimento do


campesinato como sujeito político são reiterativas, pois a identidade territorial das
comunidades camponesas organizadas nas ZRC, se soma a construção de sua identidade
política, mostra daquilo é que as ZRC são uma iniciativa agraria para a paz (como eles
mesmos assim se determinam). Frente a outros movimentos camponeses, de tipo gremial, que
lutam pela integração e melhores condições de competitividade, com demandas especificas
como a redução dos preços dos insumos, a proposta das ZRC luta pela afirmação de relações
não capitalista e umas formas de desenvolvimento próprias.

Se a renda capitalizada no escravo transforma-se em renda territorial capitalizada: num


regime de terras livres, o trabalhador tinha que ser cativo; num regime de trabalho livre, a
terra tinha que ser cativa. (MARTINS p 32) ao crescente protagonismo político que vivencia
movimento camponês na Colômbia, se vê a pressão tanto do Estado em alguns momentos
como os querem ambarcar as terras e os compradores estrangeiros com a pressão sobre as
terras, já que estes camponês reivindicam ser os donos do seus próprios meios de produção, o
capital com ajuda do conflito armado tem dado suas voltas para monopolizar a terra e assim
fazer com que muitas das terras dos camponeses sejas roubadas, despejadas ou mal pagas, no
processo da pressão de grandes empreendimento que chegam ao campo.

Em vez de a terra se tornar livre, tornou-se renda capitalizada nas mãos do


fazendeiro e capitalista. Em vez de separar-se do capital, como condição da
exploração do trabalho alheio, do trabalhador, no processo de reprodução do capital,
a terra se tornou condição da exploração que se realizava na acumulação de capital.
Como se houvesse uma acumulação primitiva contida na própria acumulação
capitalista (MARTINS, p 10)

Se para até finais dos nãos 90 a agricultura tinha sido um dos campos econômicos e de
desenvolvimento do país com maior protagonismo, desde os anos 2000 o país assisti a virada
do seu desenvolvimento econômico com a intensificação da exploração mineiro energética 11,
no que os recursos naturais são dispostos para a exploração e assim consequentemente a

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Gerando assim a grande parte da destruição da indústria rural doméstica é o que dá caminho para a criação de
um mercado interno do pais e a consolidação de um mercado de produção capitalista.

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exportação destes. A reprimarização (exportações) e a finacierização da economia com a que
chega o século XXI, impõe também o paradigma do capitalismo agrário 12.

O passo da Colômbia como um país de enfoque agrícola a um país com enfoque


extrativista do setor mineiro energético, desvincula a agricultura como força econômica,
social e desenvolvimento, passando assim a importar quase o 50% dos alimentos que se
consomem em todo o país, situação está similar a muitos outros lugares em que as
econômicas são marcadamente dependentes e responsáveis pelas demandas dos centros
econômicos mundiais e suas necessidades.

As reformas econômicas para a liberação comercial implantadas desde os inicios da


década de 1990 colocaram em evidencia os efeitos gerados pela concentração da propriedade,
sobre os custos da produção e converteram em um ponto de partida para a aplicação da
reforma agraria via mercado de terras. Com anterioridade á promulgação da norma que
traduziria está política, a lei 160 de 1994, o Banco Mundial e a FAO organizou alguns estudos
para criar um clima favorável a esta política, aos que se juntam algumas evacuações e
esforços propagandísticos na região.

O conjunto da finacierização e reprimarização, que ao lado a guerra existe para gerar


dita massa de desalojados do campo que somam cifras de quase 6 milhões de pessoas por fora
do campo enchendo as cidades de mão de obra barata, disponível para o capital e a guerra
obtém assim os soldados necessários para continuar com ela. O campo, as terras e os
territórios rurais são assim mais uma forma em que o dinheiro se converte em mais dinheiro,
fechando assim o ciclo social do capitalismo (terra, trabalho e dinheiro), assim a
desconstrução sociopolítica que se propõe desde os movimentos sócias como no caso das
ZRC, fundamentam a apropriação dos meios de produção, da terra e da força de trabalho.

Para além das cifras dos camponês desterrados pela violência, um grande número se
vê representado por aqueles que são vítimas das especulações financeiras, das dívidas que
ficam os bancos, os altos juros que terminam sendo pagos com as mesmas propriedades e
deixando assim aos camponeses fazer parte das cifras dos desalojados dos país; o que nos

12
No que o problema do camponês se coloca como conjuntural, pois a adaptação e integração do camponês ao
sistema capitalista, não acontece pelo suposto atraso e pré-moderna do camponês. A modo de solução dentro de
dito paradigma se propõe a metamorfoses do camponês em agricultor familiar, além da tecnificação e
industrialização da agricultura por meio do agronegócio e a territorialização.

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deixa como saldo que tal vez sejam os bancos uns dos mais grandes proprietários de terras,
aproveitando assim a situação de abandoo das terras o incumprimento do pago de créditos
feitos pelos camponeses, terminaram por se apropriar de ditas terras 13.

A inalienabilidade das terras a exemplo da revolução mexicana e mesmo em Colômbia


como acontece com as terras das comunidades indígenas e das comunidades afrocolombianas,
fariam com que isto fosse não só uma forma de proteção dos seus territórios, senão que assim
também as terras estarias livres do mercado que fundamenta tanto o latifúndio como o
minifúndio; ademais as ZRC podem ser um forte instrumento legal e efetivo para a proteção
das economias camponesas, de autogestão comunitária do território, da reforma agraria e da
construção de uma agricultura nacional.

A Anzorc tal vez pareça que ser um contra-movimento 14 á logica da acumulação


primitiva no “que a relação capitalista não pode ser senão o processo de separação entre o
trabalhador e a propriedade das condições de realização de seu trabalho, processo que, por um
lado, transforma em capital os meios sociais de subsistência e de produção e por outro,
converte os produtores diretos em trabalhadores assalariados” (MARX, 2010. 786), mas é ai
onde a própria organização enfatiza na defesa e na propriedade dos seus próprios meios de
produção, a volta de muitos camponês aos seus territórios, a permanência dos que já estavam
ali, isto faz com que também se considere um número importante de braços que já não estarão
disponível para o agronegócio no campo, para a indústria na cidade e jovens na guerra 15.

Mas um pouco desta realidade apresentada neste texto não é uma questão idílica, mas
sim alguns pontos que anos atrás tal vez eram impensáveis em um dos países mais violentos e
com um dos conflitos armados internos mais prolongados do mundo; se bem que o panorama
não mudara de um dia pra outro, mas a possibilidade que estas comunidades como os
camponeses possam ter um papel político, já pode se considerar um avanço.

Para que o utopia não fique só na organização política da Anzorc, tem que se pensar o
desenvolvimento econômico paralelo e paradoxal quem vem se planteando no país, pois ao
mesmo tempo que se estabeleceram desde o 2013 os diálogos de paz entre as FARC-EP e o

13
Se bem a lei de vítimas do conflito tenta aliviar um pouco esta situação ainda no não existe uma lei que
contemple este tipo de situações que tem terminado por colocar grandes quantidades de terras a mãos dos
bancos.
14
Já que é particular que a Colômbia ainda não radica o convenio 141 da OIT que data de 1975.
15
“no solo hay desplazados porque hay guerra, sino especialmente hay guerra para que haya desplazados”

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governo, o país continua avançando em propor o foco do desenvolvimento econômico a partir
da extração de matérias primas do setor mineiro energético. Dito desenvolvimento é
dificilmente compatível com as propostas colocadas para o campesinato no ponto 1 16 dos
diálogos de La Havana. É assim pois que a alerta deve estar presente para a defesa dos
territórios que a Anzorc propõe como uma forma de autonomia. Pois está latente a
implementação de uma contrarreforma antipopular na que se reforce o tamanho do latifúndio
e se veja exposta a vulnerabilidade dos pequenos proprietários de terra.

O camponês colombiano já foi e continua sendo um sujeito que tem proporcionado


para as grandes cidades e capitais do país a mão de obra barata, este é pois assim o contexto
mundial “Estamos vivendo em um mundo repleto de migrantes e refugiados” (HEIDEMAN
2004, 25), que graças ao trabalho e as guerras circulam para o paradigma da modernidade.

Os questionamentos, as dúvidas, a história que parece nós dizer o caminho traçado


quando o Eduardo Galeno mostra que

É américa latina, a região das veias abertas. Do descobrimento ao nossos dias, tudo
sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como
tal se acumula nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas
profundezas ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de
consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo de produção e a
estrutura de classes de cada lugar foram sucessivamente determinados, do exterior,
por sua incorporação á engrenagem universal do capitalismo. Para cada um se
atribuiu uma função, sempre em benefício da metrópole estrangeira do momento, e
se tornou infinita a cadeia de sucessivas dependências. (GALEANO, 2010. 18).

A um determinante histórico se enfrenta o camponês colombiano e muitos outros de


América Latina compartilhando uma história comum, as lutas e os inimigos são comuns; mas
é importante assinalar o incremento da organização sociopolítica, que como já dize nesse
texto não sempre se determina por uma figura organizativa de grandes magnitudes, pode-se
até dizer que ser camponês nessa realidade é já um ato de resistência. É importante também
não esquecer do olhar crítico que se deve fazer frente as políticas públicas agrarias que não
consideram a especificidade do território camponês, já que pensa nele desde perspectivas
reducionistas, euclidianas e positivistas.

Nos queda então questionar para onde vai a apropriação de autonomia territorial do
camponês e por outro lado, a questão do campesinato na periferia do capitalismo que esteve

16
Correspondente ao desenvolvimento rural e chamado de Reforma Rural Integral RRI.

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sempre ligada ao fornecimento de mão de obra e à apropriação de trabalho não-pago
("relações não especificamente capitalistas"). O que seria então esse campesinato meio que
produzido pelo Estado? No caso das ZRC, ou se estaríamos falando de uma nova ruralidade
para o caso do campo colombiano.

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