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Entrevista realizada em 06 de novembro de 2020 por Alexandre Brandão (CRECI 26027),

Administrador, Gestor de Negócios Imobiliários e Perito Avaliador de Imóveis.

Entrevistado: Doutor Juiz Federal João Paulo Pirôpo – TRF1 Bahia.

Excelentíssimo Sr Juiz Federal Dr João Paulo, é com grande satisfação e respeito que apresento à
V. Exa. as perguntas abaixo sobre o trabalho dos Peritos Judiciais nos tribunais. O tema da
entrevista é: “Perícia Judicial, da nomeação ao aceite do laudo”.
Essa entrevista somente será usada em grupos particulares de redes sociais de capacitação de
Peritos Judiciais.

1. Doutor João Paulo, para V.Exa., quais as melhores qualidades e características chamam a
atenção na hora de selecionar um Perito Judicial (sua experiência prática? Instituição de
Formação? Cursos de Especialização, Pós-Graduações, Mestrados, Doutorados?). E para os
que estão iniciando agora, como conquistar a confiança para a primeira nomeação?
R: As melhores qualidades e características que chamam a atenção quando se vai escolher
um perito é todo o conjunto da obra, ou seja, a experiência prática, os cursos realizados,
enfim, a capacitação técnica do mesmo. Para quem está iniciando na carreira de perito,
sugiro realizar cursos para aprimorar sua capacidade técnica e enriquecer seu currículo. Um
bom currículo é, sem dúvida, uma boa porta de entrada.
2. Alguns Peritos iniciantes ficam receosos de procurarem o Magistrado para oferecerem os
seus serviços. Qual o conselho que V. Exa. pode dar para esse profissional que está iniciando
na Perícia Judicial e não tem tanta desenvoltura nos Tribunais?
R: Acredito ser de grande valia o perito procurar os órgãos judiciários para se apresentar e
entregar seu currículo. Esse contato não será necessariamente com o juiz, podendo ser com
o assessor dele, o escrivão do cartório, ou o Diretor de Secretaria. Nesse contato inicial, seria
somente para apresentação pessoal e demonstração da capacidade técnica, mostrando os
cursos realizados e eventual experiência profissional.
3. Como V.Exa. descreveria um bom currículum resumido do Perito para apresentação ao
Magistrado? Ou somente um cartão de visitas é suficiente?
R: É recomendável que o perito não só apresente o cartão de visitas, mas também o seu
currículo, indicando sua qualificação técnica, cursos realizados e experiência profissional, de
forma a demonstrar ao juiz que tem condições de realizar as perícias demandadas por ele.
4. Sabemos que um dos pontos mais controversos das Petições do Perito Judicial é a definição
dos honorários. Como o perito pode apresentar uma proposta que não seja tão questionada
pelo Magistrado e pelas partes? É bem vista uma tabela descritiva de gastos para justificar o
valor?

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R: É de extrema importância que o perito presente uma tabela descritiva de seus gastos, até
para subsidiar a decisão do juiz em caso de impugnação ao valor dos honorários periciais
pelas partes. Sem essa tabela, ficará muito difícil para o juiz mensurar o justo valor dos
honorários periciais.
5. Muitas vezes o Perito sente dificuldade no levantamento de documentos complementares
para juntar ao laudo. Como podemos proceder nesses casos para não atrapalhar o
andamento do processo?
R: Em caso de qualquer dificuldade, especialmente na obtenção de documentos
complementares, o perito deve, de imediato, fazer a necessária comunicação ao juiz, através
de petição nos autos, até para que o juiz intime as partes para o fornecimento da
documentação necessária para a realização da correspondente perícia.
6. Sabemos que, na maior parte dos processos, há uma verdadeira queda de braço entre o
Laudo apresentado pelo Perito nomeado e o Parecer Técnico dos Assistentes das partes.
Como V.Exa. lhe dá com uma situação conflituosa de laudos e pareceres técnicos entre esses
Profissionais?
R: Em qualquer situação, deve prevalecer critérios técnicos para a resolução da lide, ou seja,
do problema posto ao juiz para a solução. Devemos lembrar que o perito nomeado
judicialmente é o profissional de confiança do juiz para realizar o estudo técnico, e sobre ele
paira o princípio da imparcialidade. Caso o assistente técnico aponte alguma questão
importante de esclarecimento, faço a intimação do perito para se manifestar sobre esse
tema.
7. Em uma situação em que o Assistente Técnico é muito mais experiente que o Perito
nomeado. Como V.Exa. costuma encarar essa condição?
R: Para mim, o que importa é a qualidade do trabalho técnico apresentado pelo perito. Caso
o assistente técnico faça algum questionamento relevante, darei oportunidade para que o
perito esclareça o questionamento feito, mais uma vez, de forma técnica.
8. Qual o maior erro que um Perito pode cometer em seu Laudo Pericial?
R: O perito deve agir de forma imparcial, e observando os ditames da probidade. Buscar não
cometer equívocos no seu laudo. Apresentar um laudo completo, ilustrativo com fotos,
gráficos, com linguagem acessível ao juiz e às partes, e evitar enfrentar questões jurídicas. O
papel do perito é subsidiar o trabalho do juiz.
9. Muitas vezes e por diversos motivos, o Perito escolhido tem que declinar de ser nomeado?
Na visão de V. Exa., como fazer isso sem ser indelicado com o Magistrado?
R: Interessante o perito nomeado pelo Juiz sempre expor um justo motivo para declinar da
nomeação judicial, de forma a demonstrar que não foi um declínio sem motivo justificado.

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10. Sabemos que o prazo processual é de suma importância. Além de cumpri-lo, o que mais
esperar do Perito Judicial nesse campo de prazos? O que ele deve fazer para não atrapalhar o
processo?
R: O perito sempre deve informar ao juiz eventual dificuldade que impossibilite o
cumprimento do prazo, e pedir antecipadamente, antes do prazo se escoar, a sua
prorrogação, bem como apresentar a justificativa de tal prorrogação.
11. Em relação à Perícia em si, aquela em que o Perito vai à campo e deve ser os olhos do juiz no
local. O que o Magistrado espera que ele veja e como alcançar as suas expectativas?
R: Interessante que o perito descreva com exatidão e fidedignidade o que presenciou no
trabalho de campo, ilustre com fotos o seu laudo, e aplique a melhor técnica possível para
responder os quesitos da perícia.
12. Em termos de composição de um bom laudo pericial. Qual a dica que V. Exa. poderia
apresentar aos que estão se capacitando e até mesmo para os mais experientes em relação
ao texto, introdução, desenvolvimento e conclusão? O que mais pode chamar atenção
positiva em relação a essa composição? O que facilitaria o julgamento do Magistrado? As
citações das leis, resoluções e/ou Normas?
R: Um texto bem escrito e estruturado, sem dúvida alguma, torna o laudo mais inteligível e
de melhor leitura para os interessados. Uma sugestão é buscar escrever o laudo de forma
técnica, mas também transformar em uma linguagem que seja possível que um leigo no
assunto possa compreender o que está dito no laudo, até porque ele embasará a decisão
judicial que solucionará a lide.
13. Para que o Perito não extrapole a sua esfera de atuação no Processo, na Vossa opinião, qual
a melhor forma para se evitar esse caminho?
R: A sugestão é que o perito não se aprofunde na questão legal e jurídica do caso. Isso é de
competência do juiz. O mais importante é fornecer elementos fáticos e técnicos a subsidiar a
tomada de decisão jurídica pelo juiz.

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