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Table of Contents

Prefá cio
I. Ateísmo econô mico: o impulso religioso do intervencionismo
II. Marxismo Libertá rio: a ditadura do igualitá rio
III. Raízes teoló gicas da crise financeira
IV. As pressuposiçõ es teoló gicas do esquerdismo político
Apêndice 1: Cristianismo e capitalismo
A desgraça do ateísmo na economia
P. Andrew Sandlin

Copyright © 2018 de Editora Monergismo


Títulos dos artigos originais: Economic Atheism, Libertarian Marxism, Theological Roots of the Financial Crisis, Theological Presuppositions of Political Liberalism e
Christianity and Capitalism .


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EDITORA MONERGISMO
SIA Trecho 4, Lote 2000, Sala 208 — Ed. Salvador Aversa
Brasília, DF, Brasil — CEP 71.200-040
www.editoramonergismo.com.br
 
1ª ediçã o, 2018
 
Traduçã o: Felipe Sabino de Araú jo Neto e Leonardo Galdino
Revisã o: Fabrício Tavares de Moraes e Má rcio Sobrinho
 
PROIBIDA A REPRODUÇÃ O POR QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕ ES, COM INDICAÇÃ O DA FONTE.

 
Todas as citaçõ es bíblicas foram extraídas
da versã o Almeida Revista e Atualizada (ARA) salvo indicaçã o em contrá rio.

Sumário
Prefácio
I. Ateísmo econômico: o impulso religioso do intervencionismo
II. Marxismo Libertário: a ditadura do igualitário
III. Raízes teológicas da crise financeira
IV. As pressuposições teológicas do esquerdismo político
Apêndice 1: Cristianismo e capitalismo

 
 
 
 
 

Prefácio
Russell Kirk afirmava enfaticamente que “a ideologia é a doença, nã o a cura. Todas as
ideologias, incluindo a ideologia da vox populi vox Dei , sã o hostis à permanência da ordem,
da liberdade e da justiça. A ideologia é a política da irracionalidade apaixonada”. [1]

Ademais, conforme demonstrado pelos trabalhos de filó sofos reformacionais e teonomistas


desde Dooyeweerd e Rushdoony, respectivamente, toda ideologia é necessariamente uma
doutrina soterioló gica e, de igual modo, um reducionismo agressivo da diversidade da
ordem da criaçã o.
Ora, todo cristã o percebe que a graça de Deus é multiforme, pois sempre manifesta-se na
riqueza do câ none bíblico, que é constituído de uma abundâ ncia de gêneros e formas
literá rios e das mais diversas experiências do homem em sua caminhada com Deus; na
irredutibilidade das diversas esferas de soberanias e â mbitos da criaçã o, tanto em seus
aspectos materiais quanto imateriais; na multiplicidade de povos e etnias, que nã o obstante
foram criados a partir de um só sangue (Atos 17.26); e, por fim, na copiosa distribuiçã o de
dons distintos a todos os membros da igreja, visando a edificaçã o do Corpo de Cristo.
Desse modo, o impulso salvífico de toda ideologia pressupõ e necessariamente uma queda
estrutural e uma redençã o imanente . Dito de outro modo, ao passo que o cristianismo
advoga a Queda como uma revolta ou insubmissã o ética [2]
do homem em relaçã o ao seu
Criador, e nã o algo inerente à natureza da criaçã o, a ideologia, por sua vez, crê que a origem
do mal neste mundo encontra-se em alguma instituiçã o ( e.g. o Estado, para os
anarcocapitalistas) ou estrutura ( e.g. o patriarcado, segundo o feminismo). Ainda seguindo
o raciocínio, o cristianismo afirma que a redençã o advém necessariamente de Deus, isto é,
trata-se de uma açã o transcendental, encontrando-se, portanto, fora do alcance humano; já
a ideologia, em razã o de sua crença de que o mal é inerente à criaçã o, supõ e, por
conseguinte, que a redençã o está ao alcance das mã os dos homens e que o universo é
matéria plá stica para seus sonhos e projeçõ es. [3]

À vista disso, temos conosco, nestes breves ensaios de Andrew P. Sandlin, ideias vigorosas
acerca da mais recente paixã o humana — a ideologia. Ou, mais precisamente, a mais
inflamada religiã o da modernidade: um culto gnó stico que reduz a riqueza da ordem
criacional a um monismo abstracionista que funde e subordina toda a realidade a um
princípio imanente. É , portanto, esse fio — a ideologia — que é dissecado, neste livreto,
com o gume da Palavra divina, nã o somente expondo a deformidade de visõ es sociais e
políticas que ingenuamente concebemos como compatíveis à fé cristã , mas também
alertando-nos dos perigos que espreitam todo pensamento humano que se estriba em
outro fundamento que nã o a revelaçã o.
 
***
Nos ensaios “O ateísmo econô mico” e “Raízes teoló gicas da crise financeira”, Sandlin segue
a linha de um Rushdoony e de um Gary North, mostrando como a economia, ao contrá rio
do que pensam tanto socialistas quanto liberais, é também governada pela lei de Deus,
estando, pois, subordinada à ética bíblica. E nã o somente isto, afinal, todo pensamento
econô mico que nã o leve em conta a providência divina invariavelmente torna-se
imanentista, julgando que toda a riqueza é fruto apenas do trabalho humano, e nã o também
(e principalmente) da graça divina (cf. Salmo 127).
O autor, partindo do pressuposto bíblico de que a religiã o (o impulso a uma origem
suprema que fornece o sentido para todas as coisas) determina a totalidade da açã o
humana, elenca três tó picos — “providência”, “natureza humana” e “riqueza” — que
influenciam a visã o econô mica do progressismo e mesmo de pessoas que
inconscientemente sã o por ele influenciadas.
De fato, se Deus veste gloriosamente a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada
no forno, quanto mais a nó s, homens de pequena fé? Assim, os intervencionistas creem que
o Estado, e nã o Deus, é o agente que provê nossas necessidades desde o nascimento até a
morte. Nas palavras de Sandlin:
[4]

Para a maioria dos intervencionistas, portanto, o Estado equivale à


providência secular . A política ocupa o papel da providência
ocupada por Deus no impulso do adorador do Criador. Os
intervencionistas perderam a fé em Deus, ou pelo menos no Deus
ativo e cuidadoso em relaçã o ao mundo. Portanto, eles colocam sua
esperança e sonhos de justiça econô mica no Estado.
Quanto à natureza humana, o progressismo é uma espécie de pelagianismo político — uma
crença na bondade intrínseca do homem ou, mais comumente, no aperfeiçoamento
humano mediante mudanças estruturais. Como John Passimore demonstrou em seu livro A
perfectibilidade do homem, [5]
ao longo da histó ria, as principais correntes do pensamento
apresentam, de maneira geral, três modos para o aperfeiçoamento do homem: a perfeiçã o
técnica, fundamentada na destreza e domínio de um ofício ou prá xis; a perfeiçã o
obedecente, que engloba a anterior, mas fazendo desta apenas um meio para um fim, a
saber, a obediência e submissã o à vontade divina (a visã o cristã ); e, por fim, a perfeiçã o
teleoló gica (a visã o clá ssica, mais especificamente aristotélica), que crê na eudemonia (a
felicidade) como o fim ao qual o homem deve dirigir-se por meio da virtude. Como é
evidente e atestado por Passimore, a modernidade testemunha a prevalência, quando nã o a
exclusividade, da primeira acepçã o da perfeiçã o.
Assim, o homem é a massa ou argila do homem, moldado e criado segundo a imagem e
semelhança do Estado. Nos dizeres de Sandlin, “quando o homem perde a esperança na
santificaçã o espiritual, ele passa a esperar pela perfectibilidade humana. Do mesmo modo
que o intervencionismo é uma forma de providência secular, também a engenharia social é
uma maneira de santificação secular ”. E, por sua vez, “o Estado é o grande santificador. Ele
limitará ou criminalizará essas açõ es injuriosas. Será bem-sucedido onde falhamos. A
natureza humana foi poluída. Mas o Estado a aperfeiçoará — nos fará melhor do que
somos”.
A riqueza, no entanto, o ú ltimo dos pontos elencados por Sandlin que fundamentam a
crença no intervencionismo econô mico, é um tó pico com relaçã o ao qual os pró prios
cristã os frequentemente se equivocam. A Bíblia de fato afirma que “o amor do dinheiro é
raiz de todos os males” (1 Timó teo 6.10), porém, como Sandlin ressalta, é o amor do
dinheiro , e nã o o dinheiro em si, o problema.
E nesse ponto, curiosamente vemos hoje os extremos oriundos de interpretaçõ es
equivocadas: a teologia da prosperidade, “uma caricatura do evangelho bíblico”, e a
teologia da libertaçã o (e variantes como a TMI), com o chavã o de que Deus sempre
demonstrou uma opçã o preferencial pelos pobres. À vista disso, o autor é enfá tico: “quando
atacamos a riqueza e sua criaçã o como tal (nã o sua perversã o), opomo-nos a uma parte
crítica do plano do Senhor para expandir seu reino no mundo”.
De fato, a pobreza é uma das consequências do pecado, o qual corrompeu a criaçã o de
Deus, que fora outrora ainda mais abundante. É por isso também que o trabalho, designado
ao homem desde o princípio, tornou-se penoso, de modo que sua subsistência está atrelada
ao seu esforço (“o suor de seu rosto”). Ademais, se a salvaçã o nã o se limita à regeneraçã o,
mas abrange também a concessã o de dons ao eleito, de igual modo a redençã o é nã o
somente uma restauraçã o do cosmo, mas também seu enriquecimento . É por isso que o
livro de Apocalipse prevê que, à Nova Jerusalém, serã o trazidas “a gló ria e honra das
naçõ es” (Apocalipse 21.26).
De semelhante modo, no segundo ensaio mencionado acima, Sandlin oferece uma sucinta
aná lise econô mica e teoló gica das origens da chamada “bolha imobiliá ria” do ano de 2008,
nos Estados Unidos, cuja reverberaçã o atingiu, como é ó bvio, vá rios outros mercados. O
que surpreende nessa aná lise é que ela nã o se detém em chavõ es piedosos e diagnó sticos
generalizados, conforme se dá frequentemente em comentá rios teoló gicos sobre a
economia no meio reformado. Demonstrando como o pecado humano se manifesta
concreta e visivelmente na economia, Sandlin fornece-nos um paradigma de piedade
aplicada ao conhecimento técnico. Se, como a Bíblia afirma, dois pesos, duas medidas sã o
abominá veis a Deus, segue-se que a fraude nã o somente chama para si o juízo de Deus
sobre uma naçã o, mas também leva ao colapso toda a “sociedade da confiança” (Alain
Peyrefitte), que é uma das bases do livre mercado. Nesse sentido, Sandlin explora os
agentes e açõ es fraudulentos que culminaram numa crise, cujas repercussõ es nã o se
restringiram ao â mbito econô mico:
A fraude na crise de 2008 era palpá vel. E ela começou de cima.
Você sabia que “foi o governo, e nã o Wall Street, quem primeiro
securitizou os empréstimos modernos”? Foram duas organizaçõ es
patrocinadas pelo governo, mais conhecidas como Fannie Mae e
Freddie Mac, quem compraram hipotecas de bancos. Um custo que
os bancos tiveram de assumir para livrar-se das hipotecas e obter
uma compensaçã o completa delas foi imediatamente aderir aos
padrõ es de empréstimos estabelecidos por Fannie e Freddie, o que
significa padrõ es estabelecidos pelo governo federal. Uma vez que
o banco central (bem como os principais partidos políticos)
haviam concordado com “habitaçõ es a preços acessíveis” — uma
categoria política, nã o de mercado —, os credores foram obrigados
a relaxar seus padrõ es caso quisessem vender seus empréstimos
para Fannie e Freddie. E por que eles nã o iriam querer? Diferente
de quase todos os outros consumidores de empréstimo em larga
escala, Fannie e Freddie estavam respaldados pela “plena fé e
crédito” do governo federal. Os investidores adoravam Fannie e
Freddie. Se houvesse inadimplências nas hipotecas, eles ainda
receberiam seu dinheiro. Isso significa que os pagadores de
impostos salvariam esses empréstimos. Agora você sabe por que
Fannie e Freddie detinham — e detêm — a maior parte das
hipotecas dos Estados Unidos. Os investidores querem a segurança
garantida pelos pagadores de impostos. Uma vez que esse plano
socialista está associado com a pressã o política sobre essas
agências patrocinadas pelo governo, a fraude é quase garantida. Os
credores que queriam vender hipotecas para Fannie e Freddie
eram obrigados a conceder empréstimos a pessoas que geralmente
nã o podiam pagá -los. Isso, por sua vez, promoveu “financiamento
criativo”, empréstimos de alto risco, empréstimos nã o quitados,
empréstimo com altos juros e assim por diante.
Fugindo, pois, à s falsas e ingênuas dicotomias esquerdista e liberal que atribuem
respectivamente toda a culpa das crises ao empresariado e à s intervençõ es estatais,
Sandlin retoma o conceito bíblico de que as origens da fraude, da avareza, da mesquinharia,
dos abusos encontram-se no coraçã o humano e no desejo de prosperidade à parte da
bençã o divina.
Com efeito, o livre mercado, que é o modo em conformidade à s Escrituras para a açã o
econô mica do homem, nã o existe separadamente das condiçõ es civilizacionais e éticas que
o propiciaram, condiçõ es estas que se fundamentam num sistema de valores morais e
sociais oriundos da cosmovisã o cristã . Se abstraímos o livre mercado dessas circunstâ ncias
e em seguida exaltarmo-lo de modo idó latra ao status de fonte ú ltima de benesses, entã o
caímos no reducionismo economicista, no reino da inverdade. [6]

Já nos ensaios “Marxismo libertá rio” e “As pressuposiçõ es teoló gicas do esquerdismo
político”, Sandlin apresenta, no primeiro deles, um breve panorama, seguido de aná lise
teoló gica, acerca da revoluçã o que sem dú vida moldou e estabeleceu grande parte do
comportamento moral, cultural e principalmente sexual do mundo de hoje. De fato, as
manifestaçõ es que tomaram as ruas de Paris em 1968, que retroalimentaram alguns
posicionamentos filosó ficos (em especial o pensamento de Sartre e Foucault) e foram o
fruto imediato das ideias de Marcuse, marcaram todo o imaginá rio do Ocidente, atingindo
mesmo países periféricos como o Brasil, com o maoísmo de um Godard, por exemplo. Nas
palavras de Sandlin:
Eles se convenceram cada vez mais de que a revoluçã o marxista-
leninista era só o começo. Ela nã o foi longe o bastante. O marxismo
nã o era suficientemente radical. Tinha de oprimir e mudar a
cultura inteira. Tinha de mudar a maneira como as pessoas
pensam, nã o apenas como compartilham seus bens. A economia
fora só o começo.  
Esses jovens radicais começaram a acreditar que tinham a
obrigaçã o de defender os marginalizados da sociedade — gays,
negros, mulheres, imigrantes e presidiá rios. Eles começaram a
acreditar que a pró pria estrutura da sociedade ocidental, nã o
apenas o aspecto econô mico, era opressiva. Mudar a política nã o
bastava; seria trocar um tirano por outro. Eles tinham de mudar a
pró pria cultura.
Ora, a cultura é tanto o resultado direto do domínio do homem sobre a criaçã o, conforme
designado por Deus, quanto um conjunto de princípios éticos, estéticos e religiosos que
serve à s geraçõ es subsequentes como diretriz para diversas atividades humanas. Dessa
maneira, a transmutação cultural pretendida pelos revolucioná rios do século XX significou
nã o apenas uma ruptura do homem em relaçã o à visã o de domínio anteriormente exercido
sobre o mundo, mas também a fomentaçã o de uma nova mentalidade.
As sementes do caos sexual que tem sido atualmente promovido até mesmo entre as
escolas foram lançadas nessa época propícia. A revolta contra a sexualidade em ú ltima
instâ ncia é uma hostilidade para com a ordem divina. Segundo Rousas J. Rushdoony: “Para
superar a imutabilidade da sexualidade, a rebeliã o dos anos 60 e 70 exaltava a ideia do
unissex. A fim de subjugar a ordem de Deus, a juventude revolucioná ria, em suas
vestimentas e cumprimento do cabelo, esforçou-se por obliterar as distinçõ es sexuais”. [7]

Roger Kimball, por seu turno, em sua obra The Long March: How the Cultural Revolution of
the 1960s Changed America [A longa marcha: como a revoluçã o cultural dos anos 60 mudou
a América] afirma que a cultura do mundo contemporâ neo é, em grande parte, o efeito
dessas profundas transformaçõ es irracionalistas:
Nó s — o mundo industrializado, tecnologizado — jamais fomos tã o
ricos. E, todavia, numa medida extraordiná ria, nó s, no Ocidente,
continuamos a habitar no universo moral e cultural moldado pelos
imperativos hedonistas e pelas ideias radicais dos anos 60.
Culturalmente, moralmente, o mundo em que habitamos é um
mundo-lixeira: viciados em sensaçã o, cercados por toda parte pelo
ruído cacofâ nico e entorpecente do rock, saturados com
pornografia, escravos do mínimo denominador comum em tudo
referente ao gosto, modos ou sensibilidade intelectual. Marwick
estava certo: “A revoluçã o cultural, em suma, teve consequências
contínuas, ininterruptas e duradouras”. [8]
E é essa mixó rdia de pressupostos pelagianos, anticristã os e humanistas que constituem a
base do atual esquerdismo, segundo a aná lise de Andrew Sandlin. Se partirmos da crença
de que a violência é resultado direto da desigualdade econô mica ou do ambiente social
circundante, segue-se que o caminho para a mudança de comportamento de criminosos e
de contraventores é a reeducação , e nã o a regeneraçã o. É assim que políticos estabelecem
relaçõ es imorais com grupos terroristas, com ditadores e autocratas:
Os esquerdistas defendem incessantemente o diá logo e a
diplomacia, mesmo com os ditadores mais sangrentos e sedentos
de poder como os líderes do ISIS e Vladimir Putin, presidente da
Rú ssia. Esses líderes nã o sã o maus; estã o apenas equivocados. Se
nó s, esquerdistas sensatos, pudermos tã o somente sentar e
conversar com eles, poderíamos persuadi-los de seus caminhos
errô neos. É exatamente esse tipo de política estrangeira
completamente ingênua que fomenta mais agressã o e tirania.
E aqui cabe uma aplicaçã o à s nossas atuais circunstâ ncias. Pois, no Brasil, particularmente,
a capitulaçã o de toda uma sociedade à violência e caprichos de um narcoestado é a
consequência de um longo processo de erosã o da moralidade cristã (e consequentemente
da capacidade de formulaçã o de juízos éticos) aliada a um conluio deliberado entre agentes
políticos e criminosos. Num seu artigo intitulado “Bandidos & Letrados”, o filó sofo Olavo de
Carvalho resumidamente enumera os resultados dessa perspectiva teológica do
progressismo em relaçã o à criminalidade:
Humanizar a imagem do delinquente, deformar, caricaturar até os
limites do grotesco e da animalidade o cidadã o de classe média e
alta, ou mesmo o homem pobre quando religioso e cumpridor dos
seus deveres — que neste caso aparece como conformista
desprezível e virtual traidor da classe —, eis o mandamento que
uma parcela significativa dos nossos artistas tem seguido
fielmente, e a que um exército de soció logos, psicó logos e
cientistas políticos dá discretamente, na retaguarda, um simulacro
de respaldo “científico”.
À luz da “ética” daí resultante, nã o existe mal no mundo senã o a
“moral conservadora”. Que é um assalto, um estupro, um
homicídio, perto da maldade satâ nica que se oculta no coraçã o de
um pai de família que, educando seus filhos no respeito à lei e à
ordem, ajuda a manter o status quo ? O banditismo é em suma,
nessa cultura, ou o reflexo passivo e inocente de uma sociedade
injusta, ou a expressã o ativa de uma revolta popular
fundamentalmente justa. [...] A conexã o universalmente admitida
entre intençã o e culpa está revogada entre nó s por um atavismo
marxista erigido em lei: pelo critério “ético” da nossa
intelectualidade, um homem é menos culpado pelos seus atos
pessoais que pelos da classe a que pertence. [9]
Por fim, como apêndice ao presente livreto, temos o artigo “Cristianismo e capitalismo”, de
Rousas J. Rushdoony, uma das grandes influências ao pensamento de Sandlin e nome que
felizmente dispensa apresentaçõ es para aqueles que de fato se interessam por uma aná lise
vigorosamente bíblica do pensamento político, econô mico e histó rico. 
  No texto em questã o, Rushdoony defende que, sendo a lei o requisito para toda liberdade,
logo a pró pria liberdade econô mica só é possível por meio de sua fundamentaçã o na
vontade divina revelada. Disto, o teó logo procede com sua perspectiva de que a lei do amor,
diferentemente da interpretaçã o sentimentalista do humanismo e de algumas vertentes
cristã s, é a base para a cooperaçã o e concorrência numa sociedade de livre mercado. A
ideia de que os homens estã o em guerra absoluta, mais hobbesiana do que bíblica, nã o
prevê a atuaçã o da providência divina no mundo; e a perspectiva marxista, que anseia pela
cooperaçã o (ainda que coercitiva) de todos em prol do bem-estar coletivo, nã o leva em
consideraçã o, por sua vez, os juízos e recompensas que Deus anuncia em sua Palavra e que
se estende a crentes e descrentes. Assim, segundo Rushdoony:
Historicamente, a competiçã o do mercado livre tem sido apenas
possível onde uma cultura comum e uma fé comum levam
indivíduos a cooperarem uns com os outros. Os homens competem
por cooperaçã o na confiança que outros respeitem a qualidade, e
eles constantemente melhoram seus produtos e serviços para
conseguir essa cooperaçã o. A cooperaçã o morre se a competiçã o
morrer, pois entã o a “traçã o”, compulsã o e a força substituem as
atividades livres e cooperativas do mercado.
Portanto, contra o antinomianismo de nossos dias, que assola especialmente a igreja
brasileira, Rushdoony nos conclama a novamente reestabelecermos o padrã o do amor
tanto em nossa vida individual quanto social: isto é, a obediência e cumprimento da lei
divina (Romanos 13.10).
 
Post Tenebras Lux
— Dr. Fabrício Tavares de Moraes
Janeiro de 2018
 
I. Ateísmo econômico: o impulso religioso do
intervencionismo
 
Introdução [10]

 
Começo com uma premissa ousada — alguns diriam impudente: a visã o econô mica de
alguém sem dú vida indica sua cosmovisã o. Afirmo ainda que a disputa sobre economia em
que o Ocidente está envolvido hoje consiste em um conflito de cosmovisõ es e visõ es.
Sustento, por fim, que essas cosmovisõ es e visõ es têm raízes religiosas (como todas as
cosmovisõ es e visõ es sã o em ú ltima instâ ncia). Como consequência, as batalhas econô micas
e de política econô mica sã o religiosas, mesmo que muitas vezes implicitamente religiosas.
O conceito de cosmovisã o tem se destacado desde o século XIX. As cosmovisõ es sã o, pura e
simplesmente, formas de ver o mundo. Na esteira de Immanuel Kant, os pensadores
passaram a perceber que nó s, seres humanos, construímos uma realidade mental a partir
do mundo objetivo encontrado em qualquer lugar. O todo dessa realidade é a
[11]

cosmovisã o do indivíduo. Trata-se da imagem do mundo em termos do que amamos,


raciocinamos, avaliamos, julgamos e tomamos nossas decisõ es.
Cosmovisõ es sã o como pâ ncreas. Todos têm um, mesmo que nó s nã o saibamos ou
pensemos sobre ele.
Também existe o conceito das visõ es, popularizado por Thomas Sowell. Ele afirma que
[12]

as visõ es sã o ainda mais bá sicas que as cosmovisõ es. As visõ es sã o pré-cognitivas, quase
intuitivas, impulsos sobre o funcionamento do mundo. Enquanto as cosmovisõ es se
centram no pensamento, as visõ es se concentram em nossas percepçõ es e intuiçõ es — os
sentimentos viscerais, poderíamos dizer.
Todavia, há uma questã o ainda mais profunda: o impulso religioso. A questã o atordoante é:
como o homem se relaciona com Deus? Julgo essa divisã o na humanidade a mais bá sica de
todas. Nos termos do apó stolo Paulo, é uma divisã o entre quem adora e serve ao Criador e
quem adora a criaçã o e serve a ela (Rm 1.25), incluindo o pró prio homem. [13]

Essa divisã o nã o é sectá ria ou denominacional. Nã o se trata, em outras palavras, de


cató licos romanos contra protestantes, ou metodistas versus batistas versus presbiterianos.
Nem de evangélicos em oposiçã o a nã o evangélicos.
Nã o, a divisã o religiosa bá sica é entre quem posta o Deus trino no centro de sua vida e
quem o coloca de lado ou o ignora por completo.
Sem dú vida, a divisã o nã o é absoluta. Os crentes mais devotos carregam consigo um
resíduo da natureza pecaminosa e da rebeliã o contra Deus. E o ateu mais vociferante ainda
porta a imago Dei , a imagem de Deus em seu ser (e deveria ser tratado com dignidade por
essa razã o).
Mas o fato de a divisã o nã o ser absoluta nã o a torna menos real. Para ser franco, o mundo é
povoado por adoradores do Criador e da criatura. Em princípio, nenhum acordo pode
transpor o precipício entre eles. Eles adoram, pensam e agem de formas muito diferentes,
porque cada um começa e partir de uma premissa de vida bastante diversa, de exclusã o
recíproca e fundamentalmente irreconciliá vel.
Neste ponto, eu poderia ser acusado de “raciocínio maniqueísta”, de afirmar que o mundo
consiste em uma grande batalha entre o bem e o mal, de incorrer no mesmo erro exposto
pela crítica “iluminada” de Ronald Reagan ao declarar que a Uniã o Soviética era um
“império mau”, ou de George W. Bush quando incluiu o Irã no “Eixo do Mal”.
O raciocínio pode nã o ser maniqueísta, mas é sem dú vida cristã o. Há um grande bem e um
grande mal no mundo. E o homem, por sua parte, manifesta essa bondade e maldade na
adoraçã o ao Criador ou à criatura.
Essa divisã o percorre os grandes temas da vida. Um deles é a economia. Nã o se pode
presumir que a economia consistente do adorador do Criador seja semelhante à do
adorador da criatura. Como poderia?
Em uma questã o vital tã o difundida, concreta e visível como a economia (a forma de
compensaçã o pela troca de bens e serviços, do compartilhamento de recursos naturais da
terra, da transferência de bens de uma geraçã o a outra, da permissã o ao Estado, e do
percentual, para tomar proveito desses recursos bem como dos bens dos indivíduos, e se as
pessoas devem ser, de fato, donas de seus bens) — em questõ es bá sicas como essas, o
impulso religioso é, e sempre deve ser, controlador.
A economia consistente do adorador do Criador deve conflitar, pela pró pria natureza, com
a economia consistente do adorador da criatura.
Nada disso significa que todos os cristã os apresentem o ímpeto apropriado de adorador do
Criador e que todos os nã o cristã os nã o o façam. Nenhum por um momento afirmo que
meus irmã os e irmã s do Sojourners (grupo que creio defender a economia de adorador da
criatura) nã o sã o companheiros cristã os.
Entretanto, argumento que eles nã o pensam e agem como cristã os consistentes em questõ es
econô micas.
Da mesma forma, muitos incrédulos agem como cristã os quando o tema é economia. Mas
quando o fazem, denunciam o pró prio ímpeto nã o cristã o. A questã o em jogo é consistência
com o impulso religioso bá sico — a centralidade do Criador ou da criatura.
Permitam-me mencionar com brevidade três formas em que esses dois impulsos conflitam
no relacionamento com a economia no mundo de hoje.
 
1. Providência
 
A cosmovisã o econô mica predominante nas elites ocidentais em nossos dias é
[14]

intervencionista. Com isso nã o me refiro à ideia de que o papel vá lido do Estado na


economia é garantir a igualdade de condiçõ es (reforçando contratos, suprimindo fraudes
etc.). Isso é apenas o que o Estado deveria fazer, mas esse ponto de vista é quase o oposto
do intervencionismo.
Sendo o homem pecador, como o cristianismo assevera, ele sempre tentará obter
vantagens econô micas injustas ao nã o cumprir suas promessas, mentindo sobre bens e
serviços, e roubando do pró ximo. Uma das razõ es para a existência do Estado, na teologia
cristã , é assegurar que o homem pecador nã o cometa esses pecados com impunidade
(Rm 13.1-7).
O Estado mantém as trocas econô micas justas para que cada um possa agir com liberdade,
mas as pessoas também devem agir com honestidade. O Estado interfere no mercado
apenas para assegurar que ninguém roube ou defraude (Ê x 22.1-6).
Esta nã o é a visã o do papel do Estado na economia de acordo com as elites atuais. Seu papel
deve ser intervencionista — de uma forma muito diferente.
Portanto, com intervencionismo quero dizer que o papel primá rio da política é acabar com
as condiçõ es equitativas de concorrência, a fim de garantir resultados específicos do que as
elites consideram a sociedade justa.
Por exemplo, os políticos decidem em quanto consiste o “salá rio digno”, e o decretam. Isto
é, nã o se permite que os empregadores contratem empregados livremente; eles nã o devem
pagar menos que a quantia determinada.
De modo similar, os políticos determinam o nível e o tipo de educaçã o a que os jovens de
um país têm direito, e ordenam que as escolas financiadas por impostos implementem sua
decisã o educacional. Os pais nã o têm permissã o de se desviar desse tipo de educaçã o se
enviam seus filhos para escolas financiadas por impostos.
Da mesma forma, as elites políticas chegam ao suposto padrã o mínimo de assistência
médica para todos os cidadã os. Esses políticos entã o coagem prestadores de serviços
médicos e companhias de seguros para decretar esse conceito universal de cuidados
médicos — tudo financiado pelo pú blico (isto é, pela política).
Nã o importa o que pensamos dessas políticas, uma coisa é clara: elas nã o sã o idênticas ao
que aconteceria se os indivíduos (consumidores e produtores) fossem livres para fazer
escolhas próprias nessas questõ es.
Por exemplo, os trabalhadores recém-ingressados no mercado podem se deliciar com as
leis do salá rio mínimo, mas a maioria dos proprietá rios de empresas pequenas sem dú vida
nã o o faz. Eles poderiam desejar contratar mais trabalhadores, mas nã o podem se dar ao
luxo porque sã o forçados a pagar salá rios inflacionados a quem já trabalha. De fato, eles
podem sair do mercado por nã o poderem pagar os custos do trabalho. Entã o ninguém
recebe. Mas para as elites intervencionistas, esse é o preço que se deve pagar para garantir
os resultados deles .
Nã o há problema em impedir que os jovens consigam trabalho, conquanto uns poucos que
já o possuem ganhem o salá rio mínimo.
Além do mais, alguns pais podem preferir a experiência de ensino secundá rio altamente
secular (e nã o raro abaixo do padrã o) para seus filhos. Mas muitos outros prefeririam usar
a pró pria renda dedicada agora aos impostos para obter um tipo diferente de educaçã o. As
elites intervencionistas nã o lhes dã o essa oportunidade.
Da mesma forma, certos cidadã os de meia-idade, bem como cidadã os de classe média com
baixa renda, podem valorizar a assistência médica universal. Mas a maioria dos
trabalhadores jovens certamente nã o — de modo geral, eles desejam a cobertura de saú de
adequada para a pró pria idade e condiçã o física. Mas a assistência médica universal está
menos interessada no que qualquer pessoa específica deseja que no desejo das elites.
O ponto de vista alternativo (nã o intervencionista), por contraste, deseja condiçõ es de
concorrência equitativas. Deseja que indivíduos (empresá rios e clientes) tomem decisõ es
pró prias sobre custos salariais, assistência médica e outras decisõ es da vida. Admitem que
isso significa que nem todos obterã o o mesmo salá rio, conseguirã o as oportunidades
educacionais, ou usufruirã o do mesmo nível de assistência médica. Estã o tranquilos com a
desigualdade, pois valorizam mais a liberdade que a igualdade. (Somos lembrados da
resposta correta à s pessoas que acusam os testes padronizados da escola como injustos:
“Nã o, a vida é injusta, e testes padronizados apenas demonstram esse fato”.)
Muitos leitores destas linhas entendem esses fatos, mas quero dizer que por trá s das duas
abordagens estã o dois impulsos religiosos, nã o apenas visõ es econô micas ou mesmo
cosmovisõ es. A cosmovisã o intervencionista conflita com a cosmovisã o cristã no nível mais
bá sico.
Os cristã os afirmam a providência de Deus. Declaramos que Deus criou e sustenta todas
[15]

as coisas. Sustentamos que Deus age no mundo. Ele estabelece e derruba reinos. Nã o
cremos que ele coaja a escolha humana para realizar sua vontade. Ele opera de forma
orgâ nica com as escolhas do homem para cumprir seu desejo. Nã o podemos explicar
plenamente por que ele permite o mal. Seus caminhos sã o misteriosos. Mas preferirmos os
caminhos misteriosos e benevolentes de Deus à fé nos caminhos não misteriosos e não
benevolentes do homem .
Isso chega ao cerne dos impulsos religiosos do intervencionismo e do nã o
intervencionismo econô mico.
Nó s, nã o intervencionistas, confiamos que Deus age no mundo. No seu tempo, ele
recompensa a justiça e pune o mal. Abençoa escolhas econô micas sá bias. Ele governa os
investimentos. Faz algumas empresas terem sucesso e outras fracassarem. Nem sempre
entendemos seus caminhos, mas cremos que ele age ativamente. No final, a verdade e a
justiça triunfarã o no mundo — e no mercado.
A forma principal de implementar sua providência é a açã o humana. Salomã o escreve: “O
coraçã o do homem traça o seu caminho, mas o  SENHOR  lhe dirige os passos” (Pv 16.9). Sem
coagir as escolhas do homem ou anular sua personalidade, Deus opera nele para realizar
seus propó sitos na vida do indivíduo e no mundo.
Em ú ltima instâ ncia, a histó ria humana é o que é por causa da soberania divina. Mas de
maneira imediata ela decorre da açã o humana. Sem dú vida, essas decisõ es sã o muitas vezes
comunais (família, empresa, igreja e Estado), mas essas comunidades consistem em
indivíduos reflexivos e atuantes. No fim, os indivíduos sã o responsá veis. Eles sã os os
principais agentes da providência divina.
Nã o negamos que o pró prio Estado seja parte da ordenaçã o providencial do mundo por
Deus. Mas ele tem limites prescritos de acordo com a revelaçã o divina. O Estado protege
contra o abuso externo de pessoas e propriedades. Ele nã o está aqui para trazer perfeiçã o
absoluta e justiça có smica antes do almoço da pró xima quinta-feira, mas para permitir aos
indivíduos liberdade má xima sob a lei para pensar e agir e viver na boa terra de Deus
(1Tm 2.1,2).
Os indivíduos desenvolvem a pró pria salvaçã o (Fp 2.12), mas Deus está no centro de tudo,
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3).
Entretanto, os intervencionistas nã o confiam na providência divina. Eles já decidiram o que
é a sociedade justa e quã o rá pido ela deve aparecer. Os caminhos de Deus sã o muito
misteriosos e tardios. Deus permite que alguns fiquem ricos e outros permaneçam pobres,
mesmo que pobres apenas em sentido comparativo. Ele concede que capitalistas
gananciosos ganhem muito dinheiro, e nã o fornece aos pobres fornos micro-ondas,
aparelhos de blu-ray e jantares com costela com rapidez suficiente. De fato, de acordo com
muitos intervencionistas, Deus nã o existe ou deixou a ordenaçã o do mundo à humanidade
— de forma específica para uns poucos indivíduos nobres, sá bios e dotados, pessoas como
eles, claro. As elites.
Para a maioria dos intervencionistas, portanto, o Estado equivale à providência secular . A
política ocupa o papel da providência ocupada por Deus no impulso do adorador do
Criador. Os intervencionistas perderam a fé em Deus, ou pelo menos no Deus ativo e
cuidadoso em relaçã o ao mundo. Portanto, eles colocam sua esperança e sonhos de justiça
econô mica no Estado.
O Estado deve resgatar as companhias falidas (com dinheiro confiscado sob coerçã o de
seus cidadã os, é claro). Ele deve prover para os idosos (ou, como foi sugerido), permitir sua
eliminaçã o quando nã o mais servem aos propó sitos sociais (da elite). Deve educar os
jovens no caminho da justiça, bondade e democracia. O Estado deve equalizar rendimentos
visto que a desigualdade econô mica é injusta. Injusta, é claro, aos olhos da elite
intervencionista.
Essa justiça imposta deve ser implementada, mesmo que produza danos econô micos à
sociedade. Ouça uma parte da conversa entre o candidato Barack Obama e o â ncora da ABC
News, Charlie Gibson, no debate das primá rias presidenciais do partido democrata na
Pensilvâ nia:
 
GIBSON: — Em cada caso, quando o imposto [sobre ganhos de capital] caiu, a receita oriunda dos
impostos aumentou; o governo recebeu mais dinheiro. E na década de 1980, quando o imposto foi
aumentado para 28 por cento, as receitas caíram.
 
Assim, por que aumentar o imposto, em especial quando se considera o fato de que 100 milhõ es de
pessoas neste país possuem açõ es e seriam afetadas?
 
OBAMA: — Bem, Charlie, eu disse que olharia para a elevação do imposto sobre ganhos de capital
para fins de equidade.
 
Vi um artigo hoje que mostrava que os 50 maiores gestores de fundos hedge fizeram 29 bilhõ es de
dó lares no ú ltimo ano — 29 bilhõ es de dó lares para 50 indivíduos. E parte do que tem acontecido é as
pessoas capazes de trabalhar no mercado de açõ es e acumular grandes fortunas sobre ganhos de
capital pagam uma taxa de imposto menor que a das suas secretá rias. Isso nã o é justo. [16]

 
Chamo sua atençã o para um fato saliente: mesmo que a diminuiçã o de impostos sobre
ganhos de capital estimule a economia (ajudando assim os pobres) e crie o aumento das
receitas físicas, eles estã o errados por nã o ser justo. Barack Obama resolveu decidir o que é
justo, mesmo que a justiça prejudique os pobres e o restante do país.
A questã o nã o é riqueza e pobreza. A questã o é o papel das elites em brincar de Deus na
hora de decidir quem recebe o quê.
Essa é outra forma de afirmar: os intervencionistas desejam que o Estado brinque de Deus.
Eles nã o podem confiar que Deus seja Deus.
Digo que o intervencionismo é em sua raiz um credo infiel, agnó stico e mesmo ateísta.
Mesmo quando os cristã os o defendem, eles pensam e agem como incrédulos, nã o como
cristã os.
2. Natureza humana
 
Há um segundo aspecto do conflito econô mico com raízes nos dois ímpetos religiosos
conflitantes. Ele talvez seja mais bem resumido por um incrédulo, François Bizot, o ú nico
jornalista sobrevivente à captura pelo Khmer Vermelho, o partido comunista radical do
Camboja que assassinou um terço da populaçã o do pró prio país entre 1975 e 1979.
Apó s observar o Khmer Vermelho à curta distâ ncia, e de forma dolorosa, ele escreveu:
 
Detesto a noçã o de um novo amanhecer em que o Homo sapiens [humanidade] viverá em harmonia. A
esperança engendrada por essa utopia justificou os extermínios mais sanguiná rios na histó ria. [17]

O Khmer Vermelho nã o foi o ú nico. Robespierre e Lênin, Stá lin e Mao, Ho Chi Min e Pol Pot
— todos criam que a humanidade era inerentemente boa, mas ela havia sido corrompida
por instituiçõ es humanas. Eles poderiam inaugurar a utopia se conseguissem reestruturar
a natureza humana — expulsar o individualismo, o interesse pró prio e a fidelidade
religiosa tradicional do coraçã o humano. Todos eles falharam de modo absoluto. Deixaram
milhõ es de pessoas mortas, assassinadas, torturadas e desumanizadas.
Por que a maioria dos tiranos no mundo moderno abraça conceitos otimistas em demasia a
respeito da natureza humana? Por que à raiz da liberdade humana está uma visã o sombria
da natureza humana? Essa justaposiçã o nã o é contraditó ria? Nã o, nã o é.
Deveríamos conhecer o ponto de vista do adorador do Criador. O homem nasce pecador.
Mas ele pode ser redimido por Jesus Cristo, que morreu para nos salvar dos nossos pecados
se confiarmos nele (Jo 3.16).
Todavia, a natureza humana, mesmo a natureza humana redimida, nã o existe à parte do
pecado nesta vida. Ela pode ser aprimorada pela graça divina, mas nã o se torna perfeita
(1Jo 1.9,10). Sem dú vida, ela nã o pode ser aperfeiçoada pelo homem. Ela será perfeita, na
eternidade, mediante a atuaçã o de Deus e nã o pelo poder do homem. Em outras palavras,
cremos na perfectibilidade sobrenatural futura, nã o na presente.
Todos nó s desejamos a salvaçã o, a vida melhor agora para nó s mesmos, para nossa família
e amigos e a vida futura melhor que a presente. Todos concordamos que o mundo nã o é o
que deveria ser, e deveria ser melhor do que é.
Contudo, a humanidade em pecado tornou este mundo menor que o ideal. Poderíamos ter
um mundo melhor, se apenas fô ssemos uma humanidade melhor.
Deus tem a resposta para o problema — a salvaçã o do pecado em seu Filho Jesus Cristo
(Jo 14.6). Essa é a ú nica forma de transformaçã o do mundo — quando Deus transforma o
homem de maneira gradual, embora nunca de modo pleno na vida presente. Isso se chama
santificaçã o. Deus nos conforma à imagem do seu Filho de forma crescente. A conformidade
comporta benefícios sociais. Entretanto, a santificaçã o nã o chega ao fim nesta vida.
Isso significa que os cristã os negam a possibilidade de utopias terrenas. Podemos ter
[18]

um mundo melhor, mas apenas nos termos de Deus e com seu poder — e nunca em
plenitude antes do estado eterno. [19]

Os adoradores do Criador afirmam que a natureza humana nã o é maleá vel pelo homem.
Nã o podemos mudar o que significa ser humano. Só Deus é capaz de nos mudar, e ele
escolheu nos transformar de maneira cabal apenas na eternidade.
Mas os adoradores da criatura desistiram de recorrer ao sobrenatural. Portanto, eles
depositam a esperança em meios naturais para transformar a natureza humana. Enquanto
os adoradores do Criador defendem a perfectibilidade sobrenatural futura, os adoradores da
criatura confiam na perfectibilidade natural presente .
Isso é uma receita para o horror, e essa receita foi levada ao forno vá rias vezes nos ú ltimos
300 anos — sempre servida no mesmo prato amargo.
E a receita quase sempre inclui a intervençã o econô mica como um dos ingredientes
principais.
Algumas vezes identificamos Estados marxistas como paraísos de engenharia social.
Porém, eles também sã o focos de engenharia econô mica, e um raramente se encontra sem
o outro. Engenheiros econô micos, como engenheiros sociais (o que a maioria deles é),
cobiçam as alavancas da política de coerçã o porque querem transformar a natureza
humana mediante a transformaçã o das condiçõ es humanas.
Isso nã o é menos verdade nos intervencionistas democrá ticos do Ocidente que nos
marxistas radicais.
Já no antigo Manifesto humanista I (1933), assinado por pessoas como John Dewey, se lê:
O humanismo religioso afirma que todas as associaçõ es e instituiçõ es existem para a realizaçã o da
vida humana. A avaliaçã o, a transformaçã o, o controle e a direçã o inteligente dessas associaçõ es e
instituiçõ es com a visã o voltada para a expansã o da vida humana consiste no propó sito e programa
do humanismo. Sem dú vida, as instituiçõ es religiosas, suas formas ritualísticas, seus métodos
eclesiásticos e suas atividades comunitá rias precisam ser reconstituídos com tanta rapidez quanto a
experiência permitir, de modo que funcionem de modo efetivo no mundo moderno.
 
Os humanistas estã o firmemente convencidos de que a existente sociedade motivada pelo lucro e
acú mulo tem se mostrado inadequada, e que a mudança radical nos métodos, controles e motivos
precisa ser instituída. É preciso estabelecer uma ordem econô mica cooperativa e socializada para
possibilitar o objetivo da distribuição equitativa dos meios de vida. O objetivo do humanismo é a
sociedade livre e universal em que as pessoas cooperem para o bem comum de forma voluntá ria e
inteligente. Os humanistas exigem a vida compartilhada no mundo compartilhado.
 
Observe a conexã o. O ímpeto religioso do homem deve reformular a cultura e sociedade a
fim de reestruturar a humanidade nova e completa. E a forma para fazer isso é empregar o
intervencionismo. O intervencionismo é a ferramenta social para criar a natureza humana
nova e aprimorada.
O homem deve estar no centro de todas as coisas, e o intervencionismo precisa garantir a
sociedade humana justa — segundo a definiçã o dos elitistas, claro.
Nem todos os intervencionistas defendem a perfectibilidade humana, mas quase todos
colocam a esperança na economia politizada para alterar o ambiente a fim de transformar o
homem. O homem é cobiçoso. As elites devem tirar a ganâ ncia dele para que se possa ter
uma sociedade justa e correta. Isso se faz mediante o confisco da riqueza e das posses do
homem, tornando-o dependente do Estado para obter saú de, educaçã o e bem-estar e ao
desencorajar há bitos danosos como fumar tabaco, ingerir comidas gordurosas e possuir
armas de fogo.
Homem e mulher podem ser melhores do que sã o, e nó s — a elite, os virtuosos, os
magnâ nimos, os abnegados, os sá bios e, acima de tudo, os humildes — podemos construir
um mundo melhor ao reconfigurar a natureza humana.
Vejam: quando o homem perde a esperança na santificação espiritual, ele passa a esperar
pela perfectibilidade humana. Do mesmo modo que o intervencionismo é uma forma de
providência secular, também a engenharia social é uma maneira de santificação secular .
Deixemos isso mais concreto.
Ouvimos a expressã o “os melhores anjos de nossa natureza”. Nestes dias, sempre parece
haver um componente político anexado. Poderíamos denominá -lo perfectibilidade política
— o conceito, em geral implícito, de que na política se pode fazer algo impossível fora dela.
Os políticos oferecem um tipo de santificaçã o pessoal. O Estado nos torna pessoas
melhores.
Deixados só s, nó s nos permitimos acumular com avidez mais posses que o necessá rio. Nã o
temos nenhum cuidado pelos idosos ou cuidados médicos dos concidadã os. Há , entretanto,
um remédio para essa doença: o Estado. Ele nos santifica, e extrai o melhor da natureza
humana. O Estado nos toma a riqueza e a redistribui de maneira mais justa. Ele nos faz
pessoas melhores do que somos.
Deixados só s, educamos nossos filhos de maneira egoísta, estreita e unidimensional.
Todavia, o Estado santifica nossos filhos. Nas escolas estatais eles aprendem a obrigaçã o
global, os valores seculares e o igualitarismo. Nas escolas pú blicas nossos filhos sã o
libertados das amarras do interesse individualista e da religiã o tradicional (em geral, o
cristianismo). O Estado obtém sucesso com nossos filhos onde os pais falham.
Deixados só s, indulgenciamos há bitos poucos saudá veis como fumar tabaco, comer
alimentos gordurosos e possuir armas de fogo. Nã o se preocupe. O Estado é o grande
santificador. Ele limitará ou criminalizará essas açõ es injuriosas. Será bem-sucedido onde
falhamos. A natureza humana foi poluída. Mas o Estado a aperfeiçoará — nos fará melhor
do que somos.
Deixados só s, começamos negó cios que oprimem os trabalhadores, sem fornecer a
cobertura de planos de saú de, a licença maternidade, ou ao nã o oferecer salá rios altos o
suficiente. Esqueça-se de que esses benefícios nã o sã o gratuitos. Esqueça-se de que
podemos ser obrigados a despedir pessoas ou manter o nível de desemprego alto para
alcançar esses objetivos elevados. Esses sã o detalhes insignificantes. A questã o real é nos
fazer os “melhores anjos de nossa natureza”.
Nã o podemos fazer isso sozinhos, sem dú vida, e nã o podemos confiar no Deus providente
para nos tornar melhores. Entretanto, podemos confiar na política para nos fazer melhores.
O homem deixado a si mesmo é um triste destino. Mas o homem edificado pelo Estado
torna-se o que ele estava destinado a ser.
Essa é a agenda da perfectibilidade política.
Quando Barack Obama emitiu a seguinte declaraçã o conhecida: “Somos aqueles por quem
esperá vamos”, ele se valeu da linguagem da perfectibilidade política.
Os adoradores da criatura desejam a perfectibilidade humana à parte do Criador e de seus
caminhos. Se sã o a elite, desejam que o Estado assegure essa perfectibilidade. Porém, a
perfectibilidade é impossível sem o intervencionismo.
Afinal, transformar a natureza humana nã o é algo barato. É preciso de muito dinheiro para
aprimorá -la.
Todavia, a verdadeira questã o é mais profunda. O intervencionismo extermina as má s
qualidades do homem. Ele faz correçõ es que jamais confiaríamos ao indivíduo fazer. E, sem
dú vida, nã o se pode confiar que Deus faça essas transformaçõ es no homem.
Esse é o motivo de nossa esperança residir na perfectibilidade política.
A perfectibilidade política deseja a santificaçã o sem o Deus trino. Ela quer transformar o
homem de acordo com o antropocentrismo.
Afirmo que isso é nada menos que agnosticismo prá tico e ateísmo operacional. A
ferramenta da perfectibilidade política é o intervencionismo econô mico.
O intervencionismo deste segundo tipo procede de um impulso profundamente nã o cristã o.

3. Riqueza
 
Isso nos leva ao terceiro e ú ltimo conflito entre os impulsos religiosos rivais no que diz
respeito à economia. Ele versa sobre as visõ es concorrentes da riqueza e da produçã o e
transmissã o da riqueza. O problema aqui nã o é apenas o intervencionismo econô mico.
Existe também um viés estranho contra a concentraçã o da riqueza — nã o raro em círculos
cristã os, sob pretexto de piedade.
Com certeza, você poderia dizer, caso haja um lugar onde o testemunho cristã o fica ao lado
do intervencionismo, ele está aqui. Por exemplo, o que dizer de todas as advertências
bíblicas sobre o rico e a exaltaçã o do pobre?
Afinal, o rico terminou no fogo do inferno, e o pobre Lá zaro descansou no seio de Abraã o
(Lc 16.19-31).
Lê-se em Provérbios 23.5: “Porventura, fitará s os olhos naquilo que nã o é nada? Pois,
certamente, a riqueza fará para si asas, como a á guia que voa pelos céus”.
Tiago 5.1: “Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que
vos sobrevirã o”.
Devemos lidar com esses ensinos sem pestanejar.
A riqueza pode ser perigosa, e muitas vezes o é. Ela pode nos afastar da confiança plena na
provisã o divina, e inculcar em nó s o senso de autossuficiência e orgulho. A riqueza pode
desviar nossa atençã o das coisas eternas e monopolizar nossa vida.
Nã o é de admirar que muitos cristã os suspeitem e tenham até medo do dinheiro e dos
ricos.
Mas se lermos quase todos os textos bíblicos de perto, no contexto, eles consistem em
advertências contra o uso equivocado da riqueza. Nã o sã o condenaçõ es tá citas em si.
Encontramos advertências bíblicas similares sobre sexo e poder. Todavia, Deus nã o os
condena — apenas sua apropriaçã o indevida. Sexo, poder e riqueza, como fogo e á gua,
produzem grandes servos e poderosos mestres maus.
Na verdade, repetidas vezes a riqueza, nas Escrituras, é a recompensa pela fidelidade
paciente, sabedoria, diligência, humildade, generosidade e apoio ao reino do Senhor.
Isso nã o significa que todos os cristã os professos entendam essa relaçã o. Por exemplo,
existe o “evangelho da prosperidade”: Deus deseja que todos sejam saudá veis, gordos, ricos
e felizes; se nã o formos, carecemos de fé. Essa visã o é tã o tola que qualquer um que
conheça a Bíblia sabe de seu equívoco.
Os amigos de Jó (por exemplo) alegavam sua pecaminosidade porque Deus o privou da
riqueza. Todavia, os amigos estavam errados. Deus favoreceu Jó a despeito de sua pobreza,
que consistia na vontade de Deus para esse homem santo naquele está gio de sua vida.
O “evangelho da prosperidade” é uma caricatura do Evangelho bíblico.
Mas em reaçã o exagerada ao “evangelho da prosperidade” está o “evangelho da pobreza ”,
como vemos em Sojourners, em muitas igrejas evangélicas e na teologia da libertaçã o. [20]

Eis o conceito: Deus está sempre do lado dos pobres. Os ricos sã o inimigos de Deus — ou no
mínimo violam de forma perigosa a vontade dele. Os cristã os deveriam ser pobres ou, na
melhor das hipó teses, nã o ricos. O Estado existe também para impedir que as pessoas
fiquem muito ricas e para redistribuir a riqueza à s pessoas que de fato a merecem — os
pobres. A tarefa do Estado é impedir que os ricos fiquem mais ricos.
A mã o de Deus está por natureza com o pobre, a pobreza é uma bênçã o e a prosperidade
uma maldiçã o.
Existem, no entanto, ensinos bíblicos incompatíveis com o “evangelho da pobreza”, embora
pareçam ter menos popularidade na igreja cristã .
Lê-se, por exemplo, em Deuteronô mio 28 que Deus abençoará com grandes posses
materiais os fiéis a ele e à sua lei. É importante reconhecer a impossibilidade de
“espiritualizaçã o” dessas promessas. Eis as promessas divinas aos fiéis:
 
O  SENHOR  te dará abundâ ncia de bens no fruto do teu ventre, no fruto dos
teus animais e no fruto do teu solo, na terra que o  SENHOR , sob juramento a
teus pais, prometeu dar-te. 
 
O  SENHOR  te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no
seu tempo e para abençoar toda obra das tuas mã os; emprestará s a muitas
gentes, porém tu nã o tomará s emprestado. (v. 11,12)
 
De nenhuma forma essas promessas bem terrenas de riqueza podem ser transformas em
promessas etéreas e eternas referentes ao porvir. Nenhum judeu decente e temente a Deus
teria pensado assim. Elas sã o promessas bem concretas de riqueza temporal.
Da mesma forma, lê-se em Provérbios que se formos humildes, temermos a Deus e
trabalharmos duro, Deus nos abençoará em sentido material (13.4; 22.4).
O que dizer do Senhor? Ele parecia se dar bem com os ricos, nã o só com pobres. E ele
amava banquetes que exigiam riqueza. Essa era uma das acusaçõ es contra ele — Joã o
Batista era abstêmio, mas Jesus comia e bebia — festejava, poderíamos até dizer (Mt
11.19).
Jesus nã o só prometeu que seus discípulos teriam dificuldades no mundo, mas também: “J á
no presente, o cêntuplo de casas, irmã os, irmã s, mã es, filhos e campos, com perseguiçõ es; e,
no mundo por vir, a vida eterna ” (Mc 10.29,30).
Paulo escreveu: “ Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas
as circunstâ ncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de
abundâ ncia como de escassez” (Fp 4.12).
Nã o sã o palavras de um homem desconfortá vel com riqueza, e sim de um homem
confortá vel onde quer que Deus o coloque — incluindo-se o desfrute de enorme riqueza.
Recomendo fortemente o notá vel livro de John Schneider, The Good of Affluence [O bem da
afluência], se você deseja conhecer um argumento bíblico extensivo sobre a bondade da
riqueza. [21]

Algumas das linhas mais impressionantes e convincentes do livro expõ em a pará bola de
Jesus sobre os talentos (Mt 25); nela o bom mestre recompensa o investidor que trabalha
duro e pune o servo preguiçoso que enterra o dinheiro do seu senhor com segurança no
chã o.
Ouça Schneider:
Nã o há muito na teologia cristã hoje que honre a Deus como o guerreiro-rei,
ou que honre a coragem de pessoas piedosas no mercado. Todavia, eis uma
pará bola sobre o poder e o alargamento do domínio por meio da riqueza. É
uma pará bola que honra a coragem espantosa e a força de um guerreiro e
rei, que nã o vai parar até que seu reinado esteja ampliado sobre toda a
terra. É uma pará bola que honra a força e coragem de seus servos frutíferos
nas esferas mundanas do poder. Trata-se de uma pará bola que honra o
crescimento de pessoas que se tornam mais fortes, e fazem seu mestre mais
forte, por meio da criaçã o de riqueza. E é também uma pará bola do terrível
aviso contra o espírito tímido e a esterilidade em resposta ao mundo. [22]

Por que os cristã os nã o pensam hoje nesses termos? Que Deus nos responsabilizará pela
falta de investimento econô mico vigoroso e agressivo. Que ele punirá o servo miserá vel,
que temeroso mantém o dinheiro do Senhor bem trancado, que rejeita se envolver no
mercado para multiplicar o dinheiro do Senhor.
Nã o se engane — todo o dinheiro é do Senhor, e ele deseja que nó s o multipliquemos para
sua gló ria.
Portanto, o assalto generalizado e implícito sobre os executivos é um ataque sobre a obra
do Senhor.
Deixe-me dizer de maneira aberta: quando atacamos a riqueza e sua criaçã o como tal (nã o
sua perversã o), opomo-nos a uma parte crítica do plano do Senhor para expandir seu reino
no mundo.
Lidaremos com detalhes a respeito dessa afirmaçã o em um momento.
Pensamos de imediato na santimô nia que rodeia o “serviço pú blico”. Pú blico, sem dú vida,
significando político. John McCain é tã o culpado quanto Barack Obama ao enaltecer quem
se dedica ao “serviço pú blico”.
Ouvimos isso de maneira franca nas palavras de John F. Kennedy: “A açã o política é a
responsabilidade mais alta do cidadã o”.
Ah, verdade?
Nã o se engane. Eu aprecio os políticos fiéis (embora existam poucos) que trabalham duro
em prol de leis justas, de menos governo e da proteçã o de nossas fronteiras. Sou grato a
Deus por homens e mulheres que desempenham essa tarefa com fidelidade. Que Deus
possa nos dar mais pessoas desse tipo no “serviço pú blico”.
Que tal mudar o ritmo e aplaudir quem se encontra no “serviço privado”? Quero dizer as
mulheres e os homens que arriscam centenas de milhares de dó lares do pró prio dinheiro
para iniciar um pequeno negó cio.
Aplaudamos quem se levanta à s 4h30 da manhã e trabalha até à s 22 horas a fim de servir
outras pessoas fornecendo bens e serviços.
Defendamos os pequenos empresá rios que aguentam as leis salariais impostas pelo
governo, as regulamentaçõ es da Occupational Safety & Health Administration
[Administraçã o de Segurança e Saú de no Trabalho] e a hipocrisia de todos, de Barack
Obama a Sean Penn, para tentar servir à s pessoas e proporcionar uma vida melhor para os
empregados.
Sim, apoiemos pessoas que tornam possível à s crianças de lares modestos comer cereal
matinal, usar calças jeans e viajar à Disneylâ ndia de vez em quando.
Na maioria das vezes, essas pessoas — nã o os “funcioná rios pú blicos” — sã o instrumentais
na nossa alimentaçã o, vestimenta e habitaçã o, bem como de nossos filhos e netos — sob a
perspectiva humana e horizontal. Sã o elas que dã o, mesmo aos mais modestos entre nó s,
um grau de luxo — jantares ocasionais com costela, edredons, canetas-tinteiros,
aposentadoria 401(K), aquecimento e ar condicionado.
[23]

Esses nã o sã o benefícios de “servidores pú blicos”. Os servidores pú blicos sã o muito


proficientes em fazer duas coisas: extrair benefícios e redistribui-los.
Eles nã o sabem nada sobre a criaçã o de riqueza. Essa é uma limitaçã o severa — e um
perigo grave — da política econô mica.
Dizer ou sugerir que quem se encontra no “serviço pú blico” é — de alguma maneira —
mais altruísta, nobre e humilde que os pequenos empresá rios implica em uma forma de
hipocrisia rançosa e uma desgraça total em relaçã o à s pessoas que Deus usa para manter
esta naçã o provida em sentido material.
Em ú ltima aná lise, além disso, o “serviço pú blico” é realmente um termo impró prio. As
pessoas que mais servem ao “pú blico”, pelo menos no nível de provisã o material, sã o os
servos “privados” — os empresá rios de ambos os sexos.
Por ironia, os servidores “pú blicos” sã o quase sempre “privados” — suas políticas
econô micas nã o beneficiam a ampla populaçã o, mas certos grupos e indú strias favorecidas
— como sindicatos, fazendas, minérios de carvã o e produtores automobilísticos. Sã o
políticas estatais que nã o beneficiam o interesse pú blico, mas favorecem apenas um grupo
limitado à custa dos demais — tudo sob o pretexto de interesse “pú blico”.
Poderíamos dizer, portanto, que o “serviço privado” dos empresá rios que trabalham duro
fornece o maior benefício público , enquanto o “serviço pú blico” dos políticos prejudica
grande parte do pú blico por conta do interesse de uns poucos indivíduos, grupos e
indú strias particulares.
Há outro erro popular relacionado à concentraçã o de riqueza. Ouvimos chamados piedosos
à “vida simples”. Essa é o conceito de que deveríamos viver com cada vez menos — apenas
para subsistir. (Nã o é bem assim: afinal, bons cristã os dos EUA, mesmo os moralistas
econô micos, ainda precisam de necessidades absolutas, como carros movidos a etanol de
milho e suco fresco de romã orgâ nica. É preciso muito dinheiro para o estilo de vida
“simples” dos dias de hoje.)
Ainda assim, a ideia é que ajudamos a economia e nã o oprimimos os outros se gastamos
menos e compramos quase tudo usado, e vivemos o má ximo possível suprindo as
necessidades bá sicas.
Seria difícil imaginar uma estratégia economicamente mais egoísta, egocêntrica e
catastró fica.
Deixem-me ilustrar essa verdade com um diá logo que mantive. Um amigo e eu está vamos
conversando sobre os cristã os e a riqueza. Ele afirmou:
— Nã o há razã o para o cristã o gastar 80 mil dó lares em um carro. Ninguém precisa de um
carro de 80 mil dó lares. Isso é errado!
Eu disse:
— Por que você desejaria roubar comida da mesa de crianças pequenas e carentes? Por que
você desejaria promover a pobreza e tirar pessoas do trabalho?
Ele aparentemente nã o estava seguindo o raciocínio, de forma que expliquei:
— Alguns trabalhadores que construíram o carro de 80 mil dó lares nã o ganham esse valor
nem em um ano. Eles têm filhos para alimentar, e o fazem com o pagamento recebido dos
80 mil dó lares que um rico gastou no carro que fabricaram. Se as pessoas deixarem de
comprar esses carros sob o pretexto de piedade, eles perdem o sustento e seus filhos
sofrem.
Disse algo mais a ele:
— Se ninguém precisa de um carro de 80 mil dó lares, por que precisaria de uma van de
15 mil dó lares como essa que você dirige? Sã o 15 mil dó lares! Sabe o quanto de comida isso
compraria? Você poderia caminhar ou andar de bicicleta. Pelos padrõ es de muitas partes
do mundo, uma van de 15 mil dó lares é um luxo. Em princípio, nã o é menos luxuosa que a
Mercedes de 80 mil dó lares, certamente nã o para pessoas em grande parte do Terceiro
Mundo”.
Mas o problema da “vida simples” é desprezado por muitos piedosos em sentido
econô mico.
Há um fato importante que muitos parecem ignorar: a grande e pró spera classe média é
impossível sem a cultura de lazer e luxo. A razã o pela qual muitos de nó s podem ter uma
vida confortá vel é que algumas pessoas muito ricas compram bens e serviços de luxo que
as classes baixa e média ajudam a fornecer.
O que significa dizer que “a vida simples” é uma forma de autoindulgência piedosa.
Prejudica pessoas boas que trabalham duro. É um alto preço a pagar pela aversã o a preços
altos em troca de bens de luxo.
O problema suscita dificuldades ainda maiores para a igreja e o reino.
Quando ouço cristã os depreciando a riqueza e os ricos, agora digo: “Entã o você é contra
levar o Evangelho ao mundo, a abertura de escolas cristã s, novos projetos missioná rios e a
expansã o do reino do Senhor”.
Eles nã o sã o intencionalmente contrá rios a nada do tipo, mas sua simplicidade econô mica
piedosa põ e em risco esses ministérios cristã os. Parecem nã o entender que o dinheiro é
necessário para fazer as coisas . Pensam que missioná rios, igrejas e escolas paroquiais
aparecem em um passe de má gica.
Mas nã o existem milagres assim. Deus age por meio delas miraculosamente; entretanto, de
modo geral, ele usa dinheiro para mantê-las em funcionamento.
Assim, quando cristã os argumentam a favor da “vida simples”, na verdade defendem a
capacidade menor de trabalhar para a obra do Senhor na terra.
Quando nos pronunciamos contra a produçã o e o acú mulo vá lido de riqueza, contrariamos
uma das estratégicas estabelecidas por Deus para o sucesso do reino. Quando declaramos
que as riquezas sã o inerentemente má s e corruptas, presumimos que a riqueza seja sinal de
cobiça intrínseca, pensamos que a riqueza reflete materialismo e carnalidade negamos o
elo divino entre a fidelidade e a bênçã o — incluindo-se bênçã os materiais.
Além disso, introduzimos o dualismo radical no mundo de Deus. Eis o conceito de que a
matéria é inferior ao espírito. De acordo com ela, Jesus nã o é de fato Senhor da
materialidade e riqueza porque elas sã o, na melhor hipó tese, desimportantes e, na pior,
malignas. Trata-se da negaçã o absoluta do senhorio de Jesus Cristo. Ela empurra o Deus
trino em direçã o ao céu e coloca o Estado no comando da terra.  Deus está preocupado com
questõ es “espirituais”, nã o materiais.
Os dualistas parecem nã o entender que as questõ es materiais são espirituais.  E quando
separamos a riqueza da autoridade divina, nó s a entregamos a Sataná s.
Esse é o motivo pelo qual a premissa religiosa por trá s da aversã o à validade da produçã o e
do acú mulo de riqueza é, em sentido operacional, agnó stica: ela quer que Deus seja o
Senhor da pobreza, mas nã o da riqueza; Senhor da simplicidade, mas nã o da complexidade;
Senhor da fraqueza, mas nã o do poder.
Todavia, Jesus Cristo é Senhor de todas as coisas e situaçõ es.
E o ataque à significa um ataque a seu senhorio.
Que Deus nos conceda uma nova geraçã o de guerreiros econô micos, adoradores do Criador
— que nã o buscam seu sustento na política e no Estado —, pessoas que invadam o mercado
sem medo para aumentar sua riqueza e os limites do reino de Deus.

Conclusão
 
O intervencionismo econô mico é uma cosmovisã o agnó stica: ele coloca a providência
secular na mã o do Estado, e nã o na mã o do Deus soberano na vida de indivíduos criados à
sua imagem.
O intervencionismo econô mico nega a fixidez da natureza humana e atribui ao Estado a
tarefa de santificar — que deveria ser reservada só a Deus.
Além disso, ele corta o cordã o entre a fidelidade a Deus e a bênçã o da riqueza, negando,
portanto, o senhorio divino sobre vastas extensõ es do mundo.
Por essa razã o, o ímpeto religioso do intervencionismo econô mico guerreia contra o
cristianismo consistente.
Você pode ser um intervencionista econô mico, ou pode ser um cristã o consistente, mas nã o
pode ser as duas coisas.

II. Marxismo Libertário: a ditadura do igualitário


 
 
 
Neste capítulo, [24]
quero discutir em que ponto estamos culturalmente nos Estados Unidos
e na cultura ocidental. Eu poderia começar em uma porçã o de lugares, mas gostaria de
começar com a década de 1960.
Começo com essa década nã o porque houve uma cultura cristã idílica antes dela. Havia
depravaçã o aos montes na década de 1930, em 1780… Mas ninguém pode negar que a
década de 1960 anunciou uma transformaçã o social radical. Tanto esquerdistas quanto
conservadores sabem disso. Os primeiros a amam, e os ú ltimos a odeiam. Ambos
concordam que, desde aquela época, as coisas têm sido radicalmente diferentes em nosso
país.
O que mudou na década de 1960? Muita coisa, mas quero concentrar-me numa grande
mudança que começou no ano de 1968, em Paris. A mudança que aconteceu lá se espalhou.
Ela moldou todas as sociedades modernas, inclusive os Estados Unidos.
Para entender essa mudança, precisamos entender como as coisas eram antes.
Especificamente, falemos sobre como a elite esquerdista pensava antes de 1968.
 
1. A ELITE ESQUERDISTA ANTES DA DÉCADA DE 60: CENTRALIZAÇÃO POLÍTICA
 
A vasta maioria das elites ocidentais no século XX era estatista. Elas acreditavam que os
eleitos, os sá bios, os virtuosos — pessoas como eles mesmos, naturalmente — deveriam
controlar a cultura. A maioria das demais pessoas era egoísta: nã o se importava com o país
nem com a sociedade. Mas as elites esquerdistas tinham o bem da sociedade no coraçã o.
Portanto, elas deveriam ser as ú nicas a governá -la.
Como se sabe, as pessoas nã o o seguiriam só porque você é inteligente ou se diz íntegro.
Você precisa obrigar esse rebanho egocêntrico a segui-lo. A ú nica maneira de fazer isso é
conquistando a política, ou o Estado. O Estado (diferente da família, da igreja e do
comércio) usa armas e prisõ es para obrigar as pessoas a fazer as coisas. É por isso que as
elites esquerdistas eram estatistas. Era a ú nica maneira de garantir o sucesso de sua visã o
econô mica.
É por isso que uma grande parte delas era apaixonada pela Uniã o Soviética, mesmo já na
década de 1920. Lá pelo menos era uma sociedade administrada por pessoas que se
preocupavam com a justiça para todos. Nã o era uma sociedade livre, mas era uma
sociedade justa.
O problema com a sociedade livre, de acordo com as elites, é que ela nã o era uma sociedade
justa — “justa”, naturalmente, conforme a definiçã o deles. Quando você tem milhõ es de
pessoas tomando todo tipo de decisõ es egoístas, você jamais pode predizer exatamente o
que vai acontecer. Poderia haver caos (pelo menos na mente das elites), especialmente o
caos econô mico, que era a verdadeira preocupaçã o deles.
Você terminaria com altos e baixos. Terminaria com algumas pessoas ricas e outras pobres.
Terminaria com algumas pessoas ignorantes tendo mais dinheiro que outras muito
inteligentes. Isso simplesmente nã o seria justo — “justo”, naturalmente, na definiçã o das
elites.
Em contraposiçã o, os soviéticos tinham um controle firme sobre a sociedade. Eles
acreditavam que os trabalhadores, chamados de proletariado, deveriam insurgir-se e
assumir o controle dos meios de produçã o. Os empresá rios (que eram chamados de
burguesia) eram crá pulas egoístas e gananciosos que nã o se importavam com os
trabalhadores. Eles deveriam ser despejados de seus cargos e lançados numa prisã o, e até
mesmo mortos. Em seguida, os trabalhadores controlariam a economia e redistribuiriam
todos os bens e serviços igualmente, e entã o tudo seria justo.
Marx chamou isso de ditadura do proletariado .
É ó bvio que o proletariado nã o estava verdadeiramente equipado para fazer isso sozinho.
Ele precisava de pessoas inteligentes e sá bias, uma elite revolucioná ria para conduzi-lo. Foi
exatamente isso o que Lênin e Stá lin fizeram. Os trabalhadores nã o eram inteligentes o
bastante para proteger seus interesses. Eles nã o sabiam pensar sozinhos. Mas a elite
revolucioná ria pensaria por eles.
Perceba como esse paradigma seria popular entre as elites esquerdistas ocidentais (elas
nã o eram elites absolutamente revolucioná rias como Lênin e Stá lin, mas eram elites
culturais). É por isso que elas continuaram apoiando a Uniã o Soviética mesmo depois que
as torturas, expurgos e assassinatos e outras atrocidades foram expostos. Os soviéticos,
diziam, estavam basicamente no caminho certo, mas se excediam à s vezes. O coraçã o deles
estava no lugar certo. Eles queriam uma sociedade justa. É exatamente isso o que as elites
esquerdistas aqui nos Estados Unidos queriam.
 
2. RADICAIS DE PARIS E A MUDANÇA DA DÉCADA DE 1960
 
Na década de 1960, essa obsessã o pela Uniã o Soviética foi mudando. As elites nã o estavam
abandonando o seu elitismo, mas estavam rejeitando a Uniã o Soviética. Isso é
especialmente verdadeiro em relaçã o à nova geraçã o de elites, os radicais estudantis,
notavelmente os parisienses. Por que eles estavam saturados da Uniã o Soviética e
perdendo o interesse nela? Aqui estã o duas razõ es principais.
Em primeiro lugar, os soviéticos haviam desenvolvido uma burocracia que estava
esmagando a revoluçã o. Eles criaram um aparato estatal gigante, que recompensava líderes
de partido. Esses líderes nã o pareciam muito diferentes dos capitalistas bem-sucedidos das
sociedades ocidentais. Talvez seja difícil conceber esse fato, mas os radicais estudantis
consideravam a Uniã o Soviética muitíssimo parecida com os Estados Unidos!
Além disso, os soviéticos tinham esmagado os dissidentes revolucioná rios na Hungria em
1956, exatamente como fariam na Checoslová quia em 1968. Esses dissidentes na Europa
Oriental nã o eram capitalistas. Eram socialistas que queriam libertar-se da Uniã o Soviética.
Mas a Uniã o Soviética enviou tanques para esmagá -los — literalmente. Os radicais
estudantis de Paris abominaram essa opressã o.
Mas há uma segunda e mais importante razã o para a mudança nas elites esquerdistas. Os
estudantes de Paris encontraram um novo e bem diferente modelo. Nessa época, a China
estava passando pela Revoluçã o Cultural. O que foi ela? Na década de 1960, Mao, o Grande
Líder dos comunistas, havia perdido um pouco do seu poder devido aos frutos desastrosos
de sua política econô mica. Para recuperá -lo, ele promoveu uma revoluçã o cultural para
erradicar seus concorrentes e inimigos no Partido. Basicamente, ela consistiu em
pressionar adolescentes e universitá rios a correr pelo territó rio, causando estragos a quem
quer que estivesse em posiçã o de autoridade — eles capturaram, bateram, atacaram e
humilharam seus professores, pais e outras figuras de autoridade. Eles eram pessoalmente
leais somente ao Presidente Mao, e em seu nome uma geraçã o inteira perdeu anos de
educaçã o e maturidade e destruiu alguns dos homens e mulheres mais talentosos da China. 
Os radicais estudantis de Paris se aferraram a essa revoluçã o. Preferiram-na à antiga e
desgastada revoluçã o da Uniã o Soviética. A Revoluçã o Chinesa nã o foi liderada por uma
burocracia. Foi liderada por estudantes. Era nova e empolgante. Era destrutiva. 
Mas o fator mais significativo sobre a Revoluçã o Chinesa aos olhos dos radicais de Paris é
que ela foi uma revoluçã o cultural , nã o meramente uma revoluçã o econô mica. Seu objetivo
era abalar, subverter e mudar a consciência cultural das pessoas, nã o apenas sua condiçã o
econô mica.
Essa ideia caiu como uma luva para os radicais de Paris. Eles se convenceram cada vez
mais de que a revoluçã o marxista-leninista era só o começo. Ela nã o foi longe o bastante. O
marxismo nã o era suficientemente radical. Tinha de oprimir e mudar a cultura inteira.
Tinha de mudar a maneira como as pessoas pensam, nã o apenas como compartilham seus
bens. A economia fora só o começo.  
Esses jovens radicais começaram a acreditar que tinham a obrigaçã o de defender os
marginalizados da sociedade — gays, negros, mulheres, imigrantes e presidiá rios. Eles
começaram a acreditar que a pró pria estrutura da sociedade ocidental, nã o apenas o
aspecto econô mico, era opressiva. Mudar a política nã o bastava; seria trocar um tirano por
outro. Eles tinham de mudar a pró pria cultura.
Esses radicais lideraram protestos nas ruas de Paris. Alguns foram detidos. Apó s um
tempo, os protestos foram seguidos por ataques maciços dos trabalhadores por todo o país.
Paris ficou paralisada durante dias. O presidente Charles De Gaulle deixou o país. Esses
estudantes influenciaram — e foram influenciados por — filó sofos famosos como Jean-Paul
Sartre e Michel Foucault.
O ataque terminou quando o governo capitulou a muitas das exigências dos estudantes, e a
agitaçã o cessou. Mas as coisas nã o voltaram ao normal. O que mudou para esses
estudantes, e para os esquerdistas de todo o Ocidente na medida em que essas ideias se
firmaram, foi toda uma maneira nova de olhar para a sociedade.
Pouco a pouco, os radicais esquerdistas começaram a acreditar que o mundo nã o precisava
só de igualdade econô mica. Precisava de igualdade cultural. Marx, Lênin e Stá lin queriam
erradicar as diferenças econô micas entre ricos e pobres. Os radicais estudantis queriam
erradicar as diferenças culturais entre homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais,
religiosos e ateus, Estado de direito e opiniõ es culturais, entre criminosos e cidadã os de
bem, nacionais e estrangeiros e até mesmo entre o sã o e o louco.
Michel Foucault e os estudantes empreenderam pesquisas aos montes, particularmente
sobre a vida dentro da prisã o, para servirem de suporte aos seus projetos. No fim, o que
eles estavam tentando fazer era derrubar todas as hierarquias. É a isto que se resume (eles
acreditavam) a verdadeira democracia. 
Os fundadores da democracia ocidental recente, como os Pais Fundadores americanos,
entendiam, por “democracia”, que o governo deveria ser do, pelo e para o povo. Nã o era
isso o que os radicais de 1968 queriam. Eles queriam uma consciência cultural modificada a
tal ponto que ninguém se sentisse inferior. Nã o haveria ninguém marginalizado. Todos
deveriam sentir-se e ser tratados como iguais. Eles deveriam inclusive ser considerados
iguais.  Os radicais estavam comprometidos com a lavagem cerebral cultural para atingir
esse objetivo.
Perceba como eles estavam radicalizando Marx. Igualar a renda nã o bastava; você tem de
igualar tudo e todos os que se consideram inferiores. Todas as hierarquias sã o má s.
Hierarquia significa que uma pessoa é mais importante e respeitada que outra.
A verdadeira democracia — nã o apenas a democracia política ou econô mica — significaria
que todos gozam da mesma estima e respeito independentemente da idade, orientaçã o
sexual, cidadania, criminalidade, religiã o ou condiçã o mental.
O marxismo soviético nã o era radical o bastante. Os soviéticos ainda preservavam as
distinçõ es entre homossexuais e heterossexuais. Eles ainda olhavam para os criminosos
como inferiores. Eles preservavam as distinçõ es culturais mais antigas. Eles podem ter
eliminado muitas distinçõ es econô micas, mas muitas distinçõ es culturais permaneceram.
Os estudantes radicalizaram Marx ao nivelar distinçõ es culturais, nã o apenas econô micas.
Os radicais estudantis também mudaram algo mais. Lembre-se de que os esquerdistas
anteriores à década de 1960 estavam comprometidos com um Estado centralizado, como a
antiga Uniã o Soviética, para alcançar seus objetivos econô micos.
As novas elites da década de 1960 perderam a fé nesse tipo de política. Nã o que nã o fossem
estatistas; elas tornaram-se estatistas de uma estirpe diferente. As elites mais antigas
queriam que o Estado impusesse a igualdade econô mica. As mais novas queriam que ele
garantisse a igualdade cultural.
As elites esquerdistas anteriores à década de 1960 tinham se comprometido com a
igualdade econô mica por meio da coerçã o política. As elites esquerdistas da década de
1960 acreditavam na igualdade moral por meio da transformaçã o cultural.
Eles nã o queriam que o Estado impusesse essa transformaçã o. Ele nã o pode mudar a
maneira de pensar das pessoas. Você só pode fazer isso mudando as atitudes culturais. A
transformaçã o cultural é muito mais efetiva e duradoura do que a transformaçã o política.
Você pode mudar um governo praticamente da noite para o dia, mas isso nã o muda as
atitudes das pessoas.
E mudar as atitudes das pessoas é com o que as novas elites se comprometeram cada vez
mais.
 
3. A ONIPRESENÇA DO MARXISMO LIBERTÁRIO
 
Gostaria de chamar essas novas elites esquerdistas e seus sucessores de marxistas
libertários.
O propó sito dessa combinaçã o de palavras é ser intencionalmente incongruente e
dissonante.
Quando pensamos no marxismo, geralmente pensamos em um governo que tolhe a
liberdade das pessoas. Isso é o oposto do libertarianismo. Mas os marxistas libertá rios nã o
ligam se o Estado dá a você liberdade enquanto que a cultura o priva dela. Em outras
palavras, existem mais formas de alcançar seus objetivos em uma sociedade do que pela via
política. A mais efetiva é conquistando a consciência cultural. Se a vasta maioria das
pessoas simplesmente passar a deduzir o que você quer que elas deduzam — se elas
consideram que o seu método é correto e que todos os outros sã o nã o só perigosos, mas
simplesmente irrelevantes — você nã o precisa do Estado para impor suas concepçõ es. É
exatamente isso o que os marxistas libertá rios têm feito.
Além disso, suas concepçõ es depois se espalharam para as elites mais novas por todo o
Ocidente, especialmente nos departamentos de ciências humanas das universidades
ocidentais. E elas têm sido amplamente bem-sucedidas.
Permita-me listar alguns aspectos.
Em primeiro lugar, considere o feminismo. O feminismo radical começou na década de
1960. Naturalmente, ele existia muito antes. A ideia de que as mulheres devem ser tratadas
de maneira justa e, em alguma medida, de forma igual, tem uma longa e respeitá vel
linhagem. Mas a igualdade política e jurídica nã o caracterizava mais as novas feministas
que vieram depois. O que estas procuravam era uma visã o completamente nova do que
significa ser homem e mulher. Elas passaram a acreditar que o sexo é uma construçã o
social.
Elas, inclusive, inventaram uma palavra apropriada para isso: “gênero”. Existem dois sexos,
mas você pode criar seis, oito ou dez gêneros. Elas odiavam a ideia de que a masculinidade
e a feminilidade estã o enraizadas na natureza — a forma como Deus criou as coisas. Os
radicais queriam dizer que a sociedade cria “machos” e “fêmeas”. O fato de homens e
mulheres serem biologicamente diferentes é acidental.
Essa ideia se infiltrou em nossa consciência cultural. Hoje, temos homens representados
nos filmes como dedicados cuidadores do lar e mulheres como forças especiais de combate
dos Marines . [25]
Geralmente se pensa que tudo o que os homens conseguem fazer as
mulheres também conseguem, e vice-versa. É o nivelamento de todas as hierarquias.
Em segundo lugar, considere a homossexualidade. Já no início da década de 1970, ela era
considerada um distú rbio mental. Dizer isso hoje seria impensá vel. A visã o dos marxistas
libertá rios venceu. Ser homossexual é tã o normal quanto nascer canhoto.
Hoje, temos um nú mero cada vez maior de estados americanos permitindo os ditos
casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Deixemos de lado a moralidade dessa prá tica
por um momento. Apenas considere o fato de que nenhuma civilizaçã o na história humana
a permitiu — mesmo naquelas sociedades em que a homossexualidade corria solta, como a
Roma antiga. Os marxistas libertá rios nã o conseguiram isso obrigando um populacho
resistente. Na maioria dos casos, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo foram
garantidos em consultas à populaçã o, de forma muito democrá tica. Esse nã o foi um
exemplo de tirania política. Foi um exemplo de hegemonia cultural.
Os marxistas libertá rios têm cada vez mais convencido a sociedade de que a
homossexualidade nã o é um estilo de vida alternativo, mas, antes, um estilo de vida
totalmente legítimo, um entre muitos, nenhum sendo mais vá lido que o outro.
Em terceiro lugar, considere o direito. A filosofia do direito vem se degenerando no
Ocidente desde pelo menos o final do século XIX, mas esse processo foi radicalizado pelos
marxistas libertá rios.
Toda a ideia do estado de direito é que a lei é transcendente. É impessoal. É cega. Nã o oscila
entre um caso e outro. Mas isso exige hierarquia — direito absoluto e agravo, ou pelo
menos legalidade absoluta e ilegalidade. 
Para os marxistas libertá rios, em contrapartida, o objetivo da lei é produzir resultados
favorá veis. Ela deve ser usada para cumprir uma agenda social. É daí que vêm as cotas
sexuais, econô micas e raciais. A visã o mais antiga é que a lei deve ser sempre cega para o
sexo, para a cor da pele e para a renda de uma pessoa. Nem ricos nem pobres, brancos ou
negros, homens ou mulheres têm permissã o para roubar.
Nem deveria a lei dispensar-lhes tratamento preferencial nas prá ticas de contrataçã o e
políticas de admissã o. Isso é igualdade perante a lei. Mas os marxistas libertá rios entendem
que esse sistema privilegia certas pessoas. Consequentemente, eles dizem que um sistema
legal que crie resultados iguais é preferível a um que trate as pessoas de maneira igual.
Em quarto lugar, considere o crime, os criminosos e o sistema de justiça criminal. Michel
Foucault tentou convencer as pessoas de que o que a sociedade chama de criminosos sã o
apenas pessoas que nã o se encaixam nos có digos aceitá veis de uma sociedade. Nã o há nada
de absoluto sobre o crime. O que os marxistas libertá rios conseguiram foi transformar a
sociedade em culpada do crime e o criminoso em vítima.
Ladrõ es roubam porque determinada sociedade é injusta economicamente.
Adolescentes promovem distú rbios em Londres e na Filadélfia porque a sociedade nã o lhes
dá o estilo de vida que eles julgam ter direito.
Piratas somalis sequestram pessoas porque o Ocidente nã o tirou seu país da pobreza.
Por fim, considere o multiculturalismo. O multiculturalismo é simplesmente a aplicaçã o
global do marxismo libertá rio. Se pudermos acabar com as hierarquias culturais em uma
sociedade específica, se nã o houver um estilo de vida ou moralidade em uma determinada
sociedade que deva ser privilegiado, entã o por que uma determinada cultura do mundo
deveria ter privilégios sobre outra? Quem garante que o Ocidente é superior à Á frica
central? Quem garante que a Grã -Bretanha do século XX é superior à cultura islâ mica?
Dessa forma, coisas que no passado valorizá vamos na cultura ocidental – frugalidade,
trabalho duro, cavalheirismo, raciocínio abstrato, mú sica clá ssica – tornam-se símbolos da
arrogâ ncia ocidental e imperialismo cultural.
Por que é que uma vida de trabalho duro e produtividade deve ser preferida a uma vida de
ociosidade e mendicâ ncia?
Por que especialidades acadêmicas como ló gica e matemá tica sã o preferíveis à tecelagem e
à sensibilidade de gênero?
Uma dança primitiva subsaariana nã o é tã o valiosa quanto Bach ou Beethoven? Um simples
verso livre da Nova Guiné nã o é tã o belo quanto Shakespeare?
Por que nossa cultura deve ser privilegiada? Por qual padrã o rotulamos algumas culturas
como superiores e outras como inferiores?
Esse nivelamento de todas as hierarquias tem sido o programa bem-sucedido dos
marxistas libertá rios. A razã o desse sucesso nã o é porque eles tenham elegido políticos
simpatizantes de sua agenda, mas por causa do uso primoroso que fazem das alavancas de
influência cultural — Hollywood, redes de televisã o, educaçã o pú blica, instituiçõ es
importantes — para levarem sua mensagem.  
Essa mensagem tornou-se uma ideologia invisível . Quero dizer, com isso, que os
pressupostos dos marxistas libertá rios penetraram profundamente na consciência da
maioria das pessoas no Ocidente. 
A questã o nã o é que as pessoas virtuosas deveriam estar (por exemplo) combatendo a
homofobia e a liderança masculina. Dê tempo ao tempo e as pessoas que mantinham essas
perspectivas desaparecerã o gradualmente. Elas nã o sã o perigosas – sã o apenas
irrelevantes, na maioria das vezes.
É por isso que elas nã o precisam de políticos obrigando todos a aceitarem suas
perspectivas, como Lênin e Stá lin costumavam fazer.
Quando você conquistou uma cultura, a política não é tão crucial.
Penso imediatamente na assombrosa prediçã o de Alexis de Tocqueville, autor de
Democracia na América . Ele foi o famoso francês que visitou os Estados Unidos no século
XIX. Foi um observador perspicaz de nosso país, e é impressionante como muitas de suas
prediçõ es têm se provado verdadeiras. Ele escreve sobre a “tirania da maioria”. Essa é uma
tirania nos estados democrá ticos que é mais perigosa do que a tirania dos antigos déspotas.
Diz Tocqueville:
 
Grilhõ es e carrascos sã o instrumentos grosseiros, que a tirania empregava outrora; mas em nossos dias a
civilizaçã o aperfeiçoou até o pró prio despotismo, que parecia, contudo, nada mais ter a aprender.

Os príncipes tinham, por assim dizer, materializado a violência; as repú blicas democrá ticas de nossos dias
tornaram-na tã o intelectual quanto a vontade humana que ela quer coagir.  Sob o governo absoluto de um só , o
despotismo, para chegar à alma, atingia grosseiramente o corpo; e a alma, escapando desses golpes, se elevava
gloriosa acima dele. Mas, nas repú blicas democrá ticas, nã o é assim que a tirania procede; ela deixa o corpo e vai
direto à alma. O amo nã o diz mais: “Pensará como eu ou morrerá ”. Diz: “Você é livre de nã o pensar como eu; sua
vida, seus bens, tudo lhe resta; mas a partir deste dia você é um estrangeiro entre nó s. Irá conservar seus
privilégios na cidade, mas eles se tomarã o inú teis, porque, se você lutar para obter a escolha de seus
concidadã os, eles nã o a darã o, e mesmo se você pedir apenas a estima deles, ainda assim simularã o recusá -la.
Você permanecerá entre os homens, mas perderá seus direitos à humanidade. Quando se aproximar de seus
semelhantes, eles fugirã o de você como de um ser impuro, e os que acreditarem em sua inocência, mesmo estes
o abandonarã o, porque os outros fugiriam dele por sua vez. Vá em paz, deixo-lhe a vida, mas deixo-a pior, para
você, do que a morte”. [26]
 
Essa é a tirania democrá tica do marxismo libertá rio. Poderíamos chamá -la de ditadura do
igualitário . Marx queria a ditadura do proletariado; os marxistas libertá rios querem — e
conseguiram — a ditadura do igualitá rio. Eles querem uma sociedade em que a igualdade
dite tudo.
 
4. COMBATENDO OS MARXISTAS LIBERTÁRIOS
 
Pintei um retrato drá stico e desolador. O sucesso final dos marxistas libertá rios é
inevitá vel? A visã o cultural deles pode ser frustrada?
A resposta é sim. Com Deus, tudo é possível (Mt 19.26). Seu reino vencerá no tempo e na
histó ria (1Co 15.22-28). Podemos nos sentir em desvantagem numérica. Isaías 1.9 diz: “Se
o SENHOR dos Exércitos nã o nos tivesse deixado alguns sobreviventes, já nos teríamos
tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra”. Mas assim como Deus destruiu o antigo
Império Romano e a poderosa Uniã o Soviética, ele pode destruir culturas que guerreiam
contra sua verdade. 
Em segundo lugar, devemos tomar cuidado para nã o sugerir que a alternativa ao
radicalismo da década de 1960 é o conservadorismo que lhe antecedeu. Jamais devemos
ser sobretudo conservadores. Somos sobretudo o povo de Deus, comprometido com a sua
verdade. Havia defeitos de sobra no conservadorismo antecedente à década de 1960:
tradicionalismo, racismo, protecionismo econô mico. Que a cultura precisava mudar está
acima de qualquer dú vida; mas os marxistas libertá rios nã o eram as pessoas certas para
isso.
Em terceiro e ú ltimo lugar, transformaçõ es culturais só podem ser derrubadas por outras
transformaçõ es culturais. Nada mais fará isso.
Por exemplo, o marxismo libertá rio nã o será derrubado por vitó rias políticas, pela simples
razã o de que nã o foi estabelecido por elas. Ele foi estabelecido por vitó rias culturais. Foi
estabelecido ao mudar a maneira de pensar das pessoas, atuando, em seguida, sobre o
indivíduo, a família, a igreja, a economia, a tecnologia, o sexo, a mú sica, o direito e a
educaçã o.
O marxismo libertá rio será derrubado por algo nã o menos revolucioná rio. E esse algo é a fé
bíblica. Essa revoluçã o é muito maior que a igreja, e presumir que a transformaçã o da
igreja produz transformaçã o cultural é o cú mulo da ingenuidade. Sendo a cultura muito
mais ampla do que a igreja, logo, a revoluçã o tem de ser muito mais ampla do que a igreja.
Você e eu podemos — e devemos — ser parte dessa revoluçã o.
Toda vez que um homem e uma mulher fazem votos pú blicos de amar e cuidar um do
outro, com o marido assumindo a liderança autossacrificial e a esposa seguindo com zelo
perseverante, eles estã o executando atos santos de revoluçã o cultural.
Toda vez que um jovem cristã o solteiro se compromete com a abstinência sexual até o
casamento e resiste à comercializaçã o sexual de nossa sociedade, esse jovem trabalha para
derrubar nossa cultura de marxismo libertá rio.
Toda vez que um advogado cristã o se esforça para proteger famílias e igrejas da invasã o e
hostilidade ilegítimas do governo, ele está agindo como um revolucioná rio de Deus. 
Toda vez que um empresá rio (ou empresá ria) cristã o recusa escolhas antiéticas, mesmo
quando essa escolha estorva o resultado final, ele está combatendo o marxismo libertá rio.
Toda vez que uma mã e cristã ensina a seus filhos que Deus é real e que Jesus é o ú nico
caminho para a salvaçã o, e que obedecer à Bíblia é a ú nica esperança de felicidade, ela está
sendo uma subversiva cultural.
Professar e praticar a fé bíblica, em todas as suas gloriosas e graciosas hierarquias, é a
alternativa revolucioná ria ao marxismo libertá rio.
E, no fim, ela — e somente ela — vencerá .
 

III. Raízes teológicas da crise financeira


 
 
 
INTRODUÇÃO [27]

 
Tudo na vida é religioso, e tudo na vida é teoló gico. A questã o nunca é se a vida é religiosa
ou teoló gica, mas, antes, de que religiã o e de que teologia estamos falando. O secularista
mais ardoroso é religioso — ele orienta sua religiã o em torno da aversã o ou abandono a
Deus. Ele anseia pela certeza que somente a religiã o pode dar, mesmo se essa certeza for a
da in certeza e do relativismo moral. É por isso, também, que o regime secular sempre imita
o religioso, como fez a antiga Uniã o Soviética, com sua pró pria escritura (os escritos de
Marx e Engels), seus pró prios fiéis (os membros do Partido Comunista), sua pró pria
hierarquia (a burocracia estatal), seus pró prios pais da igreja (Lênin e Stá lin), seu pró prio
céu (o paraíso do proletariado) e seu pró prio inferno (a Gulag).
Isso se aplica igualmente à psicologia secular moderna. Ela é uma substituta do cuidado
espiritual vitalício da igreja, e até mesmo nã o-cristã os prontamente reconhecem esse fato.
[28]

Se esse mundo é o mundo de Deus; se ele o criou e o sustenta pelo seu poder e graça; se
conhecemos a Deus a partir de sua revelaçã o na natureza, na Bíblia, e principalmente em
seu Filho Jesus Cristo; se o mal neste mundo é o resultado do pecado humano, incitado por
uma criatura caída, Sataná s; se Deus tencionou redimir o homem e o mundo de sua
pecaminosidade enviando Jesus para morrer por nossos pecados e ressuscitar; se Deus
estabeleceu sua igreja para dar testemunho dessa redençã o; e se ele está conduzindo cada
aspecto da histó ria para um fim no qual sua vontade perfeita é realizada no universo
criado; se, digamos, tudo isso é verdade (como a Bíblia ensina que é), entã o cada aspecto da
vida é religioso. Nã o há nenhuma explicaçã o final confiá vel que nã o seja teoló gica.
[29]

Estamos considerando o colapso financeiro global de outubro e novembro de 2008. E se [30]

minhas premissas sã o verdadeiras, nã o pode haver uma interpretaçã o acurada mais ampla
desse colapso à parte de uma consideraçã o da teologia. O discurso sobre empresas de
investimento gananciosas, amplo sobre-endividamento, abundâ ncia de hipotecas de alto
risco, swaps de risco de incumprimento (CDS), empréstimos predató rios, mutuá rios de
hipoteca insensatos, agências de avaliaçã o de crédito inescrupulosas, securitizaçã o
perigosamente complexa e interferência política destrutiva no mercado levantam a
pergunta: qual a causa primá ria disto? Afinal de contas, toda a economia se resume à s
açõ es humanas. Sucessos e colapsos econô micos nã o sã o como infecçõ es que você contrai
de forças impessoais — pessoas os produzem. Portanto, temos de perguntar, por que os
seres humanos agiram de forma a criar o colapso?
Poderíamos nos contentar em começar falando abstrata e genericamente da tragédia da
condiçã o humana. É assim que muitos conservadores nã o-teoló gicos prefeririam falar. A
humanidade é finita, limitada, fraca e arruinada. O homem só faz besteira. A crise financeira
nã o foi nenhuma surpresa. Nas palavras imemoriais do filó sofo iluminista Immanuel Kant,
“de uma madeira tã o torta, como aquela com a qual o homem é feito, nã o se pode construir
nada inteiramente reto”. Nã o seria errado considerar esse fato. Enquanto o homem vagar
sobre a terra, nã o haverá utopia econô mica — utopia alguma de qualquer tipo. A condiçã o
aparentemente mais imaculada logo se desintegra devido à fraqueza, defeitos e erros de
cá lculo do homem.
Mas entã o somos impelidos a inquirir: “ Por que o homem nunca toma jeito? Por que ele
costuma ser tã o desonesto?”. Essa pergunta nos impele à metafísica — e à teologia. A
resposta cristã , a resposta correta, é o pecado. O pecado é uma violaçã o da lei moral de
Deus (1Jo 3.4). Ele nã o é inerente à condiçã o humana. O homem foi criado originalmente
sem pecado, mas sucumbiu a ele e toda a raça participa dessa depravaçã o nativa. Como diz
o adá gio, o pecado original é o ú nico dogma do cristianismo que pode ser verificado
empiricamente. Este pecado esteve na raiz da crise financeira de 2008. De que formas?
[31]

 
1. AVAREZA
 
Talvez seja apropriado começar com o padrã o de juízo compartilhado tanto por estatistas
de esquerda como por populistas de direita: a raiz do problema é a avareza de Wall Street.
Perceba, em primeiro lugar, que este é um juízo moral , e, portanto, um juízo teoló gico.
Assim, desde o início, o coro dos críticos, muitos deles confessadamente seculares,
reconhece, embora involuntariamente, as raízes teoló gicas do colapso. Naturalmente,
percebo que a maioria nunca admitiria esse fato (eles acham que você pode ter moralidade
sem religiã o), mas ele é verdadeiro do mesmo jeito. Quando fazemos juízos morais —
especialmente juízos morais universais que consideramos autoevidentes, com os quais
esperamos que todo mundo concorde — estamos invocando a teologia. Dizer que “todo
mundo sabe que avareza é errado” nã o basta. A questã o real é: “Por que eles sabem ou
deveriam saber disso?”. Se a humanidade é simplesmente o ú ltimo está gio do
desenvolvimento evolucioná rio, entã o a moralidade é, como Nietzsche argumentou, uma
invençã o humana — e sua moralidade é tã o boa quanto a minha. Pumas e esquilos nã o sã o
criaturas morais. O homem está preocupado com a moralidade porque os padrõ es de
[32]

certo e errado lhe sã o impostos de fora (a moralidade é inata) — o homem é feito à imagem
de Deus e está encerrado, junto com seus semelhantes, dentro de padrõ es morais
universais. Ou seja, dentro de padrõ es teoló gicos.
Entã o, quando as acusaçõ es começaram no outono de 2008, foram acusaçõ es reconhecendo
as raízes teoló gicas da crise — independentemente do que os acusadores podiam ter
alegado estar reconhecendo. 
Nã o há dú vidas de que a avareza era uma dessas raízes. Na tradiçã o cristã , ela é um dos
sete pecados capitais. A Bíblia a identifica como um pecado (1Co 5.10-11; Ef 4.19; 1Ts 2.5).
A cobiça, um sinô nimo comum para avareza, é uma violaçã o do décimo mandamento. Jesus
contou uma pará bola explicitamente sobre o pecado da avareza (Lc 12.15). O apó stolo
Paulo a identifica como idolatria (Cl 3.5), e diz que os avarentos nã o herdarã o o reino de
Deus (1Co 6.10).
A avareza geralmente é identificada como “o desejo excessivo por comida ou bebida, ou
avidez em consumi-los… ou [o desejo] por riqueza, por comida e bebida que vá além da
razã o e evidencie um tipo crasso de egoísmo”. [33]
Quanto de desejo é “excessivo”? Um
salá rio de 250 milhõ es de dó lares por ano é “além da razã o”, enquanto um de 125 milhõ es
nã o é? Uma BMW é excessiva (espero que nã o, pois tenho uma), enquanto o Chevy Lumia
nã o (minha esposa tem um; ela nã o sofre com o problema da avareza)? Aparentemente,
alguns outros critérios sã o necessá rios para identificar a avareza com mais precisã o. [34]

Jesus aponta dois critérios precisos em sua pará bola. Ele declara em seu prefá cio a essa
pará bola que “a vida de um homem nã o consiste na abundâ ncia de bens que ele possui” (Lc
12.15). E conclui a pará bola advertindo sobre aquele que “entesoura para si mesmo e nã o é
rico para com Deus” (Lc 12.21). Ou seja, quando uma pessoa faz da riqueza um bem em si
mesma, desconsiderando Deus e sua vontade e gló ria; quando acumula riqueza em vez de
acumular Deus; quando o fim principal do homem nã o é glorificar a Deus e gozá -lo para
sempre, mas adquirir riqueza e gozar dela para sempre, ele peca. Ele cobiça. Ele é avarento.
Esse é um pecado que é cometido tanto por multimilioná rios quando por assistentes
sociais, pelos executivos de Wall Street e pelos caixas do Walmart. A avareza nã o respeita
conta bancá ria. À s vezes ouvimos a expressã o “podre de rico” acerca de uma pessoa que
possui (digamos) seis casas, vinte e cinco carros esportivos e um castelo na Riviera
Francesa. Mas, pensando bem, nã o seria bacana se todo mundo tivesse essas coisas? Se a
resposta é sim, estamos reconhecendo que nã o é a riqueza que consideramos o problema,
mas algo mais. Talvez esse algo mais seja a avareza, mas se é este o caso, certamente ela
nã o pode limitar-se aos ricos. O universitá rio desempregado que largou a faculdade e
sobrevive recebendo auxílio social indevido é avarento, talvez até mais do que o
multimilioná rio da Riviera Francesa. O denominador comum das pessoas avarentas nã o é o
tamanho de suas contas bancá rias, mas a proporçã o em que Deus e sua gló ria sã o excluídos
de seus desejos. Quem quer obter coisas à parte de Deus, de sua vontade e de sua lei moral
é culpado de avareza.
Por esse padrã o — o padrã o de Deus —, a ganâ ncia foi, de fato, uma das raízes teoló gicas
mais determinantes para a crise. A ironia é que as raízes se aprofundam muito além do que
os acusadores esquerdistas superficiais estã o dispostos a admitir. Nã o há dú vidas de que os
executivos de empresas, banqueiros de investimentos, agentes de crédito e agências de
classificaçã o cometeram esse pecado. É ó bvio que os banqueiros de Wall Street que
estavam curtindo suas riquezas com prostitutas e cocaína eram culpados. [35]
É ó bvio que
os devedores que apagaram os padrõ es de concessã o de crédito para pegar empréstimos
rá pidos com vistas a agrupá -los e vendê-los a investidores incautos (ou cautelosos) para
comprar iates maiores e mais carros de luxo e uma casa nova à beira-mar em Hamptons
eram culpados. Os executivos da Moody que pressionaram os funcioná rios a fazer vistas
grossas ao avaliar o risco de títulos complexos e garantidos por hipotecas para que a
empresa pudesse manter os honorá rios desses clientes fluindo eram igualmente culpados.
O pecado, veja bem, nã o foram os iates, carros e casas opulentos e agências de avaliaçã o de
risco bem-sucedidas. O pecado foi a avidez por possessõ es imponentes sem Deus — sem
sua Palavra e vontade, a recusa de glorificá -lo, de submeter-se à sua Palavra, de tratar o
pró ximo como gostaria de ser tratado. Sim, esse foi o pecado. Essa foi a avareza. Essa foi a
principal raiz teoló gica da crise.
Mas nã o podemos parar nos ditos executivos privilegiados avarentos. E quanto aos
mutuá rios de hipotecas magricelos? Nã o pense que as pessoas da classe média ou até
mesmo baixa nã o possam ser avarentas. Lembre-se da definiçã o de avareza: riqueza como
um fim em si mesma, que nã o leva em conta Deus e sua palavra e vontade. As pessoas da
classe pobre e média cometem esse pecado todos os dias; e elas, como sua contraparte mais
rica, sã o culpadas de engendrar o colapso. Como? Ao tomar empréstimos de alto risco —
hipotecas ridículas nas quais concordam em fazer pagamentos exorbitantes e de longo
prazo na esperança de poderem vender a casa enquanto ainda estã o fazendo pequenos
pagamentos iniciais no curto prazo. Ou elas apostam que, arranjando um emprego que
pague melhor, conseguirã o ficar com a casa e arcar com as mensalidades. Resumindo,
entraram em um contrato irrevogá vel por uma casa que nã o podem pagar. Elas viram.
Cobiçaram. Aceitaram.
Os esquerdistas adoram rotular esses empréstimos de alto risco de “predató rios”. Essa
descriçã o só é justa se falarmos igualmente sobre os mutuá rios predató rios. Nã o devemos
nos concentrar apenas nos credores que gananciosamente queriam agilizar empréstimos
desfavorá veis a um comprador para que depois pudessem agrupá -los em títulos
complexos; concentremo-nos também nos mutuá rios que gananciosamente queriam entrar
em um empréstimo que eles simplesmente nã o podiam pagar. Havia muita avareza para se
evitar.
Podemos dizer, portanto, que a crise de 2008 foi precipitada por um conluio de avareza — o
desejo de adquirir riqueza sem Deus.
 
2. Fraude
 
A segunda principal raiz teoló gica da crise financeira foi a fraude. Ela é a combinaçã o de
dois outros pecados: roubo e engano. Na verdade, a fraude é o roubo por meio do engano. A
Bíblia a proíbe (Lv 19.13; Mc 10.19). Pecados nunca vêm sozinhos; eles alimentam e exigem
um ao outro. A avareza muitas vezes gera fraude: desejamos algo com intençõ es tã o
impuras que estamos dispostos a defraudar nosso pró ximo para obtê-lo.
A fraude na crise de 2008 era palpá vel. E ela começou de cima. Você sabia que “foi o
governo, e nã o Wall Street, quem primeiro securitizou os empréstimos modernos”? [36]

Foram duas organizaçõ es patrocinadas pelo governo, mais conhecidas como Fannie Mae e
Freddie Mac, quem compraram hipotecas de bancos. Um custo que os bancos tiveram de
assumir para livrar-se das hipotecas e obter uma compensaçã o completa delas foi
imediatamente aderir aos padrõ es de empréstimos estabelecidos por Fannie e Freddie, o
que significa padrõ es estabelecidos pelo governo federal. Uma vez que o banco central
(bem como os principais partidos políticos) haviam concordado com “habitaçõ es a preços
acessíveis” — uma categoria política , nã o de mercado —, os credores foram obrigados a
relaxar seus padrõ es caso quisessem vender seus empréstimos para Fannie e Freddie. E
por que eles nã o iriam querer? Diferente de quase todos os outros consumidores de
empréstimo em larga escala, Fannie e Freddie estavam respaldados pela “plena fé e
crédito” do governo federal. Os investidores adoravam Fannie e Freddie. Se houvesse
inadimplências nas hipotecas, eles ainda receberiam seu dinheiro. Isso significa que os
pagadores de impostos salvariam esses empréstimos. Agora você sabe por que Fannie e
Freddie detinham — e detêm — a maior parte das hipotecas dos Estados Unidos. Os
investidores querem a segurança garantida pelos pagadores de impostos. Uma vez que esse
plano socialista está associado com a pressã o política sobre essas agências patrocinadas
pelo governo, a fraude é quase garantida. Os credores que queriam vender hipotecas para
Fannie e Freddie eram obrigados a conceder empréstimos a pessoas que geralmente nã o
podiam pagá -los. Isso, por sua vez, promoveu “financiamento criativo”, empréstimos de
alto risco, empréstimos nã o quitados, empréstimo com altos juros e assim por diante. 
Quando os agentes de crédito preenchiam essas hipotecas (e empréstimos hipotecá rios de
segunda hipoteca e casas), muitas vezes eles simplesmente falsificavam documentaçã o —
ou faziam vistas grossas quando os mutuá rios claramente mentiam. A vasta maioria de
[37]

todas as hipotecas de alto risco eram refinanciamentos. (Pense seriamente nisso.)


[38]

Obviamente, elas nã o consistiam em dar casas a pessoas de baixa renda. E seja como for, os
agentes financeiros estavam defraudando os bancos e empresas de investimento que
adquirissem esses empréstimos e que achavam que estavam comprando crédito com
documentaçã o só lida.
Entã o vem a maior fraude de todas. Quando os bancos vendiam esses créditos a bancos e
empresas de investimento, eles à s vezes os agrupavam em pacotes enormes para vendê-los
aos investidores. Esses sã o instrumentos complexos que nã o quero descrever, mas eles
criaram a capacidade de incluir créditos arriscados junto a créditos relativamente seguros
cujos pagamentos de hipotecas mensais foram convertidos em dinheiro para os
investidores. Mas os investidores querem garantir que os créditos nos quais estã o
apostando sã o seguros, e é aí onde entram as agências de classificaçã o de crédito, como a
Moody. Seu trabalho é calcular o risco de crédito. A grande fraude que antecedeu o boom
imobiliá rio de 2008 foi quando as agências de classificaçã o de crédito deram uma nota de
classificaçã o de risco AAA para empréstimos que mereciam menos do que AAA, à s vezes
[39]

muito menos. Eles fizeram isso porque foram pagos por esses clientes — pagos pelas
pró prias pessoas cujos empréstimos estavam avaliando. No fim, eles estavam mais
preocupados em ganhar muito dinheiro do que em falar a verdade. Se você é uma agente de
classificaçã o de crédito, nã o há nada de errado em ganhar muito dinheiro – desde que você
fale a verdade. Eles nã o falaram. Bancos e outros corretores hipotecá rios sabiam o que
estavam vendendo, mas os investidores nã o sabiam o que estavam comprando. Isso é
fraude. [40]

O grande uivo da esquerda foi o fracasso da desregulamentaçã o. De um ponto de vista, isso


é correto: a fraude nã o é apenas um pecado, mas também um crime e é (como deve ser)
punível pela lei. Se os conservadores nã o gostam dessa intromissã o no mercado, permita-
me lembrar-lhes de que o mercado só é possível por causa do estado de direito. Nã o cremos
que nã o deva haver nenhum tipo de interferência estatal. O papel do Estado é refrear o
roubo, a coerçã o e a fraude. A pró pria Bíblia exige pesos e medidas justos (Lv 19.36), ou
seja, o conteú do da transaçã o deve ser transparente para ambas as partes. Por outro lado,
foi exatamente a tentativa do governo de regular as atividades de empréstimo que
estimulou a fraude. Os credores, via de regra, nã o têm um incentivo para fazer
empréstimos desfavorá veis; eles só têm esse incentivo quando o governo lhes impõ e um
custo para a transaçã o e quando conseguem transferir esses empréstimos rapidamente
para investidores desavisados. Assim, bancos, corretores hipotecá rios e agências de
avaliaçã o de crédito cometeram fraude, e o governo os ajudou a cometê-la.
Tem mais gente aí: os mutuá rios de hipoteca inadimplentes. Quando você se compromete a
pagar, e nã o paga, você frauda (cf. Nm 30.2; Ec 5.4; Rm 1.31). Imediatamente os
esquerdistas acusarã o os credores de empurrarem “empréstimos predató rios” sobre
mutuá rios desavisados. Mas é de fato um mutuá rio muito desavisado o sujeito que acha
que consegue pagar uma casa de seiscentos mil dó lares ganhando um salá rio de trinta mil
por ano, tã o desavisado a ponto de ser fraudulentamente ingênuo. Nos poucos casos de
mutuá rios que nã o falam inglês, ou que nã o leram os detalhes, ou para quem os termos nã o
foram esclarecidos, essa falta de diligência e inocência sã o dignas de culpa, mesmo se eles
nã o cometeram fraude.
Além disso, a alavancagem financeira excessiva facilmente conduz à fraude. Ela (em seu
sentido bá sico) significa a proporçã o de ativos para passivos. A Bíblia nã o exige que nossos
ativos sempre excedam nossos passivos (seja em nossa casa ou em uma firma de
investimentos multibilioná ria). Há ocasiõ es em que você toma emprestado com o fim de
gerar renda adicional. Mas se seu empréstimo nã o leva em conta a possibilidade de reduçã o
drá stica de ativos, ou se baseia em passivos, você provavelmente defraudará seus credores
ou investidores quando eles precisarem do dinheiro deles. A fraude se dá quando se passa a
impressã o para as pessoas de que seu investimento é relativamente seguro, quando, na
verdade, nã o é. Quando a Long-Term Capital Management [Gestã o de Capital a Longo
[41]

Prazo] (já abruptamente defunta) foi alavancada em 250 para 1 , o que significa que
emprestou 250 dó lares para cada dó lar em seu balanço patrimonial, foi possível ver que a
fraude nã o vai muito longe.
Os mutuá rios estavam defraudando as companhias de hipoteca. As agências de
classificaçã o de crédito estavam defraudando os investidores. E o governo federal estava
estimulando essa fraude com a regulaçã o do mercado.
Mas a fraude é quase sempre exposta, e ela o foi de maneira poderosa em 2008 (e antes),
quando mutuá rios nã o quitaram seus empréstimos “criativamente” financiados, e o edifício
inteiro construído sobre alavancagem financeira excessiva caiu em pedaços. Certamente
seu pecado o encontrará (Nm 32.23). E o pecado da fraude foi exposto de maneiras
vigorosas.
 
3. Orgulho
 
Deixei a raiz mais importante por ú ltimo. É o orgulho. Sim, o orgulho. Uma definiçã o padrã o
dos dicioná rios diz que ele é uma “admiraçã o excessiva de si pró prio; soberba”. [42]
Essa
também é uma definiçã o bíblica implícita de orgulho, e nã o é difícil de entender. Como a
[43]

avareza, ele por vezes é difícil de identificar. Existe um orgulho saudá vel e legítimo: orgulho
das realizaçõ es de alguém, dos filhos, da igreja, do cô njuge, do país. O orgulho pecaminoso,
em contrapartida, é presunçã o. E ele é profundamente teoló gico. A Bíblia adverte contra ele
repetidas vezes.
Ele começou no Jardim, quando a Serpente apelou para a autonomia de Eva — “Quem Deus
pensa que é para dizer a você de que á rvore pode ou nã o comer? Você é adulta. Faça o que
te der vontade. Você pode ser um deus como Deus”. Sataná s seduziu Eva a renunciar a sua
condiçã o de criatura; ele a pediu para tornar-se a Criadora. O pecado original foi a tentativa
humana de se tornar um deus.
O orgulho político é um gênero especial de orgulho. Todos os grandes antigos impérios
(egípcio, babilô nico, persa, grego, romano) foram construídos sobre ele, mas agora estou
falando de uma espécie peculiarmente moderna desse gênero — o orgulho político
alimentado pelo elitismo intelectual. Ele, também, tem uma linhagem antiga. Platã o achava
que a sociedade deveria ser governada por reis-filó sofos. Mas desde o Iluminismo, o
elitismo intelectual se proliferou. Esse elitismo aflige as democracias modernas.
Essa, caso eu nã o esteja errado, é a principal raiz da crise de 2008. À guisa de ilustraçã o,
poderíamos começar com a matéria de capa da revista Time , de 15 de fevereiro de 1999,
com fotos de busto de Roberto Rubin, Alan Greenspan e Larry Summers identificados pela
manchete ousada: “O comitê para salvar o mundo”. A descriçã o era intencionalmente
provocativa, mas ela aponta para uma forma de orgulho quase tã o antiga quanto a pró pria
humanidade: a busca por falsos messias. Nesse caso, eram três homens e sua elite de
compatriotas exibidos como salvadores de uma ordem econô mica que, de um ponto de
vista prá tico, prometeu expandir e nunca se retrair (a despeito de toda evidência histó rica
de que os mercados sã o cíclicos). Esses gênios econô micos estavam no banco do motorista,
o veículo de uma vasta economia global em suas mã os capazes, e nó s, meros mortais, nã o
devíamos nos preocupar.
Pensando bem, essa fé é ostensivamente irô nica. Todos eles alegam ser proponentes do
livre mercado, no entanto, qualquer um que conheça o mínimo sobre livre mercado sabe
que o que o faz funcionar nã o sã o as escolhas estratégicas de alguns iluminados, mas as
escolhas ordiná rias das massas nã o-iluminadas. Todos os dias bilhõ es de pessoas tomam,
coletivamente, trilhõ es de decisõ es que impactam a economia global. A economia global
funciona por causa dessas decisõ es serenas – uma pessoa ou grupo fazendo transaçõ es
financeiras em prol de bens e serviços de outra pessoa ou grupo, todos beneficiando uns
aos outros na transaçã o, e, coletivamente, beneficiando o mundo. Esse sistema funciona
nã o por causa da política de umas poucas elites, mas a despeito dela . “O comitê para salvar
o mundo” é título mais adequado a marxistas e outros regimes utó picos — um pequeno
nú cleo incumbido (geralmente autoincumbido) de construir a sociedade perfeitamente
justa.
Na verdade, Rubin, Greenspan e Summers alegariam estar apenas tentando melhorar os
mercados, criando medidas políticas favorá veis à liberdade econô mica. Mas boas intençõ es
politicamente orientadas por liberais sã o, por vezes, nã o menos prejudiciais do que boas
intençõ es de suas contrapartes intervencionistas.
Quero deixar claro que nã o estou fazendo de Rubin, Greenspan e Summers vilõ es (como
muitos na esquerda fazem), e louvo seus evidentes impulsos em direçã o ao livre mercado.
Mas o orgulho nã o respeita ideologias, e liberais orgulhosos podem causar estragos tã o
rapidamente quanto socialistas orgulhosos.
Poderíamos falar interminavelmente sobre o orgulho de Wall Street (o orgulho das firmas
de investimento que quiseram esmagar seus concorrentes a todo custo) e o orgulho dos
investidores individuais (o orgulho dos mutuá rios que os impulsionou a acompanhar seus
pares, mesmo que isso significasse adquirir hipotecas que nã o se podia pagar e usar a casa
como um cofrinho). Resumindo, havia orgulho pecaminoso para dar e vender.
Mas o orgulho pú blico mais flagrante durante os anos que acarretaram na crise foi o
orgulho dos políticos (de ambos os partidos), representantes do Estado, elitistas
convencidos de que entendiam mais de justiça, proporcionalidade, direito e igualdade do
que todo mundo. Eles sã o, na expressã o de Thomas Sowell, “os ungidos”. Sã o os
[44]

guardiõ es da sociedade, os fiscais de tudo o que é verdadeiro e correto, os humildes,


desinteressados, nã o maculados por interesses pessoais, exercendo poderes divinos sobre
a sociedade. Sã o os “substitutos dos tomadores de decisã o”. Geralmente os cidadã os sã o
[45]

bobos tapados e egoístas, mas eles, os iluminados, os soberbos, a elite, os sá bios, sã o


dotados pela providência secular para guiar o restante de nó s, bobocas autocentrados, à
virtude, igualdade e justiça.
É importantíssimo entender que, no mundo moderno, os intelectuais geralmente sã o
contra a economia de livre mercado e a favor da economia socialista ou, na melhor das
hipó teses, de uma economia ativamente intervencionista. Por quê? Existem duas razõ es
principais. Em primeiro lugar, os intelectuais tendem a nã o ganhar muito dinheiro, pelo
menos nã o tanto quanto os empresá rios, e uma vez que eles se julgam intelectualmente
superiores a estes, ficam indignados com os empresá rios, bem como com uma sociedade
cujos arranjos econô micos recompensam mais os empresá rios do que os intelectuais. Em
outras palavras, sã o invejosos, cobiçosos e ressentidos. Mas isso é exatamente o que o livre
mercado normalmente faz, e, por essa razã o, eles se indignam com ele.
Em segundo lugar, os intelectuais sã o dados a soluçõ es alinhadas e sistemá ticas —
especialmente aquelas idealizadas por pessoas inteligentes. Como eles mesmos. O livre
mercado privilegia as decisõ es geralmente pequenas e individuais das massas. Essa
liberdade difundida de tomada de decisã o parece demasiadamente caó tica para os
intelectuais. Tudo isso nã o acabará em anarquia econô mica? O mundo nã o desmoronará se
deixarmos as pessoas livres para decidirem sozinhas sobre o que necessitam?
Curiosamente, nã o. O mercado contém um mecanismo de projeto notavelmente não
-planejado: esses trilhõ es de decisõ es diá rias absolutamente nã o acarretam no caos social,
mas numa cultura vibrante e cooperativa na qual as pessoas estã o constantemente
servindo umas à s outras e na qual, consequentemente, o produto final das tomadas de
decisã o coletivamente nã o-planejadas é uma sociedade que parece bem planejada. Mas a
beleza de tudo consiste em que nenhuma pessoa ou grupo de pessoas a planejou. Todos
planejaram.
Todavia, esse processo incô modo entrega controle demasiado nas mã os de indivíduos
comuns e pouco dotados. Além disso, ele fomenta uma sociedade que ainda contém um
grau de pobreza, desigualdade e injustiça (apesar do fato de que ela contém menos pobreza,
desigualdade e injustiça que nas sociedades intervencionistas). Os intelectuais, que querem
a sociedade justa no café da manhã da pró xima quinta-feira, simplesmente nã o aceitam
uma sociedade economicamente livre.
A maioria dos políticos nã o é intelectual (nem chega perto), mas visto que amam o poder,
pegam dicas com os intelectuais, que inventam sugestõ es criativas para o exercício do
poder. Esse poder é nutrido no famoso pecado do orgulho: nós sabemos; os outros, nã o.
Esses políticos soberbos ajudaram a desencadear a crise financeira. Como?
Em primeiro lugar, foram convencidos de que “habitaçõ es a preços acessíveis” eram um
direito. Com isso eles nã o queriam dizer que todos deveriam ter um teto sobre a cabeça.
[46]

Eles queriam dizer que tantas pessoas quanto possíveis deveriam comprar uma casa, ao
invés de alugar. Quem os autorizou a agir com base nessa pressuposiçã o, servir-se das
alavancas da coerçã o política para seduzir os bancos a conceder empréstimos a pessoas
claramente desqualificadas para assumi-los? Essas sã o perguntas que nó s, plebeus,
simplesmente nã o estamos autorizados a fazer. Evidentemente, o nú mero mais amplo
possível — e particularmente minorias “sub-representadas” — deve ter uma casa pró pria,
e os bancos devem ser incitados ou obrigados a conceder-lhes empréstimos. Por quê?
Porque isso é razoá vel e justo — e eles, a elite, conseguem decidir o que é razoá vel e justo.
Políticos tã o ideologicamente diferentes quanto Barney Frank e George W. Bush
endossaram “habitaçõ es a preços acessíveis” (que significam, na realidade, “habitaçõ es a
preços acessíveis por via da coaçã o política”).[47]

Quando um bando desses mutuá rios caiu em inadimplência no início dos anos 2000, o
castelo de cartas elitista começou a se desintegrar. Começou a se desintegrar nã o
primariamente por causa de sua ignorâ ncia econô mica, mas por causa de seu orgulho sem
limites.
Considere, além disso, a Reserva Federal. Falamos sobre um dos salvadores do mundo, Alan
Greenspan, por muito tempo presidente do Banco Central americano. A persistente decisã o
de Greenspan em manter as taxas de juros artificialmente baixas alimentou hipotecas
imobiliá rias que um mercado verdadeiramente livre nã o teria apoiado e, portanto, um
boom habitacional artificial que tornou o colapso mais doloroso quando veio. Greenspan
pensava que sabia melhor que o mercado como ajustar taxas de juros.
Qual a razã o primá ria para os preços das habitaçõ es serem tã o altos? Havia uma série de
razõ es. Algumas eram forças de mercado legítimas. Outras nã o. Algumas foram alimentadas
pelo orgulho político. No mercado, qualquer bem ou serviço desejá vel que também é
escasso é comparativamente caro. Se esses bens e serviços sã o escassos porque Deus nã o
forneceu muitos deles (ouro e casas à beira-mar, por exemplo), ou porque é exigido um
esforço humano extraordiná rio para produzi-los (Rolls Royces e sobretudos de pele, por
exemplo), seu preço elevado é um reflexo da providência. Mas o que dizer dos preços
elevados (ou baixos) que sã o o resultado do Estado implementando coercitivamente um
plano da elite? Especificamente, o que dizer das restriçõ es de uso do solo que impediram
construtores de edificar em terrenos perfeitamente bons, uma proibiçã o que aumentou os
preços devido à escassez? [48]
Alguns municípios nã o querem que as pessoas morem muito
pró ximas, e, em alguns casos, morar tã o perto quanto a três hectares de distâ ncia de
alguém é muito perto. Entã o, eles estabelecem restriçõ es sobre tamanhos de lotes que
podem ser transformados em casas. Naturalmente, isso cria uma escassez relativa, que, por
seu turno, aumenta o preço das casas. Os políticos decidem quantas casas existem, e quã o
afastadas as pessoas devem morar umas das outras: eles, a elite, os iluminados, os sá bios —
e, acima de tudo, os virtuosos. Isso é orgulho pecaminoso puro e simples.
Ironicamente, muitas das mesmas pessoas que apoiam “habitaçõ es a preços acessíveis”
também apoiam extensas restriçõ es de uso da terra. Em outras palavras, elas implementam
uma medida que faz os preços das casas dispararem e, entã o, reclamam dos preços
elevados das casas e dos “construtores gananciosos”, implementando uma medida
obrigando os bancos a emprestar dinheiro a pessoas que de outra forma nã o podem pagar
casas. Se essa combinaçã o parece imbecil, é porque ela é.
Em vez de permitir que os cidadã os tomem suas pró prias decisõ es em harmonia com o
cuidado universal de Deus pela criaçã o (pois ele envia suas dá divas providenciais tanto
para justos como para injustos [Mt 5.45]), as elites políticas criam esquemas para modelar
uma sociedade justa, igual e virtuosa. Eles arrogam para si a tarefa que compete somente a
Deus. Sua interferência na economia nos anos que desencadearam o colapso é um exemplo
primá rio do orgulho que antecede a destruiçã o, e do espírito arrogante que precede a
queda (Pv 16.18). E esses mesmos elitistas — quando a queda vem — culparam os
empresá rios, que haviam sido obrigados a agir de acordo com medidas políticas nã o
ditadas pelo mercado. Vai entender.
O orgulho das elites socialistas é manifesto em sua confiança ilimitada na sua pró pria
capacidade de reordenar a sociedade de acordo com padrõ es racionais de justiça —
concebidos por eles e outras elites, é claro.
O orgulho das elites capitalistas é evidenciado em suas inquietaçõ es que, a menos que
conduzam o mercado por escolhas políticas sá bias e promissoras, nã o permitirá que a
economia cresça e proveja capital, empregos e renda suficientes.
Ambas as formas de orgulho sã o erradas. Ambas sã o pecado. E ambas conduzem, como
ficou patente, à privaçã o econô mica.
 
CONCLUSÃO
 
Se as raízes da crise financeira sã o teoló gicas, as raízes de sua soluçã o e prevençã o no
futuro também o sã o.
Sabemos que, em ú ltima instâ ncia, a ú nica esperança do homem está no Evangelho de Jesus
Cristo, pois Deus transforma aqueles que creem nele e, através deles, ele transforma o
mundo. Contudo, mesmo os descrentes, caso adiram a essa lei moral, serã o abençoados de
uma forma que os desobedientes nã o serã o, inclusive em sua economia pessoal e cultura.
Essa lei moral é uma penú ltima soluçã o para os nossos infortú nios econô micos.
Encontramos essa lei na revelaçã o de Deus: em sua criaçã o e na Bíblia.
A Bíblia nã o é um manual de economia, mas sua lei moral articula a verdade econô mica
bá sica: o mundo pertence a Deus (Sl 50.10; 1Co 10.26). A propriedade (privada e familiar)
é, grosso modo, inviolá vel (Ê x 20.15; At 5.4). A capacidade de tributaçã o do Estado é
limitada (1Sm 8.11-18). O Estado deve refrear o roubo, a coerçã o e a fraude (Ê x 21.1; Lv
6.1-7), mas nã o pode arrancar a riqueza à força para fins de “justiça distributiva” (Robin
Hoods de Jesus). Deus espera que seu povo cuide do pobre e do oprimido (Dt 15.11; Pv
28.27; Ml 3.5). Ele espera que seu povo use sua riqueza para criar mais riqueza (Dt 15.6;
28.12; Mt 25.14-30). Ele promete riqueza de longo prazo para aqueles que vivem vidas
obedientes de longo prazo (Dt 8.16-18; 30.2-16; Ec 5.19). O fato de a Bíblia ser um livro
pré-moderno nã o significa que ela seja irrelevante para a cultura pó s-moderna.
Obviamente, esses ensinos bíblicos nã o sã o compatíveis com o socialismo de Estado. O fato
de a Bíblia nã o idealizar uma sociedade avançada de livre mercado nã o significa que ela
possa ser usada para defender uma sociedade socialista avançada.
Semelhantemente, refletir sobre a revelaçã o natural de Deus nos leva a adotar a economia
de livre mercado. Nã o estou dizendo que esse tipo de economia seja um aspecto da
natureza. Sugiro, contudo, que uma reflexã o sá bia sobre a natureza, especialmente sobre
como ela foi poluída pelo pecado, leva-nos a adotar o livre mercado. Por quê? Por causa do
pecado. O pecado introduziu uma escassez de recursos na terra. Examinando o sistema
econô mico que historicamente tem sido mais produtivo na expansã o e distribuiçã o desses
recursos, naturalmente chegamos no livre mercado. A economia centralizada (como no
comunismo) possui um registro espetacular de fracasso absoluto, para nã o mencionar a
privaçã o maciça da vida e liberdade humanas, enquanto as economias agressivamente
intervencionistas (como na maioria da Europa moderna) desfrutam apenas de um sucesso
medíocre. Mercados que gozam de mais liberdade (como aqueles da Inglaterra do século 19
e dos Estados Unidos do século 20) tiraram mais pessoas da pobreza, aumentaram mais
significativamente o padrã o de vida (nã o somente dos ricos), proporcionaram mais riqueza
mediante a qual enriqueceram o resto do mundo com o comércio, e garantiram com mais
segurança a liberdade individual do que qualquer outro sistema econô mico na histó ria
humana. Resumindo, os livres mercados tornam o mundo melhor do que o encontramos —
ou seja, o mundo que, apesar de revelar a majestade e bondade de Deus, foi assolado pelo
pecado humano.
Uma vez que os mercados livres aumentam a liberdade individual, protegem a propriedade,
fomentam intercâ mbios pacíficos, aliviam a pobreza, incentivam que sirvamos nossos
semelhantes, diminuem o custo das tecnologias emergentes e, principalmente,
proporcionam o melhor ambiente para a transmissã o global do evangelho, a economia de
livre mercado reflete as virtudes manifestas na revelaçã o de Deus com mais propriedade.
Os mercados livres nã o sã o perfeitos, e nã o pretendem ser o céu na terra. Em um mundo
pecaminoso, nada nem ninguém pode fazer isso. E todas as tentativas de fazer daqui o céu
nos arrasta para o inferno. Mas os mercados livres sã o os meios mais efetivos de
distribuiçã o de recursos escassos no mundo caído, e eles funcionam em conjunto com a
liberdade política e religiosa, o que se harmoniza com a ideia cristã da dignidade do homem
criado à imagem de Deus.
Por critérios cristã os, muitos instrumentos e prá ticas econô micas complexos sã o
permissíveis. Hipotecas derivadas e securitizadas sã o legítimas desde que sejam
transparentes (evitem a fraude) e nã o se voltem para o Estado em busca de garantias. Nã o
há dú vidas de que a enorme bolha imobiliá ria nã o teria crescido de forma tã o maciça sem
as garantias politicamente sancionadas e enredadas pelos empréstimos devorados por
Fannie Mae e Freddie Mac. Derivados e securitizaçã o sã o bons, desde que sejam
transparentes e inteiramente privados.
De forma aná loga, a alavancagem financeira é permitida desde que consiga resistir, de
forma racional, ao ímpeto de liquidez de uma crise econô mica. Da mesma forma que a
Bíblia nã o lhe permite investir cada centavo de suas economias pessoais quando você sabe
que seu pai doente pode precisar de cuidados de saú de a qualquer momento, entã o ela nã o
permitirá essa alavancagem extensa que nã o pode satisfazer as necessidades de seus
credores sob condiçõ es difíceis, o que, todavia, pode, com sensatez, ser algo esperado.
As permutas de riscos de incumprimento resguardam as instituiçõ es contra inadimplências
em empréstimos massivos. Elas sã o uma forma de seguro. Naturalmente, qualquer
instituiçã o que assegure uma quantia maior do que pode sensatamente cobrir em uma
economia em baixa conspira para cometer fraude. O problema nã o é o instrumento, mas o
abuso. E por aí vai. 
Mutuá rios que mentem sobre aplicaçõ es hipotecá rias estã o cometendo fraude, assim como
os agentes de crédito que sã o convenientes com eles. Isso é fraude e roubo.
Mutuá rios que pegam emprestado mais do que podem pagar também sã o avarentos. Nã o
estou falando apenas de mutuá rios individuais — incluo, também, as firmas de
investimento. A esquerda adora ralhar a “avareza corporativa”. Bem, “avareza corporativa”
é um fato triste.
Também triste é a ganâ ncia política, a ganâ ncia pelo poder. Mas essa forma de avareza
parece nã o chamar tanto a atençã o da esquerda. Contudo, a ganâ ncia política é nã o menos
pecaminosa que a ganâ ncia econô mica.
Resumindo, e em conclusã o: a vontade e Palavra de Deus em seu mundo é a ú nica maneira
correta e, em ú ltima instâ ncia, segura e bem-sucedida de adquirir, acumular e preservar a
riqueza. A mensagem de que a confiança e submissã o ao Deus Triú no do universo é o ú nico
caminho para a bênçã o permanente nã o é uma mensagem acolhida por uma era rebelde e
autô noma. Mas é a mensagem correta. E é uma mensagem que a sociedade rejeita por sua
conta e risco.
Essa, no fim, é a grande liçã o da crise econô mica de 2008.
 
 
 
 
 
 

IV. As pressuposições teológicas do esquerdismo político


 
INTRODUÇÃO [49]

 
A maioria das pessoas que leem estas linhas se consideram politicamente conservadoras.
Neste capítulo eu quero analisar os nossos oponentes políticos, os esquerdistas [50]

(algumas vezes chamados eufemisticamente de “progressistas”). Esses termos sã o


condicionados culturalmente. Quero dizer, com isso, que eles significam coisas diferentes
em épocas e culturas diferentes. Os conservadores de hoje devem muito de sua existência
à quilo que é conhecido como o liberalismo clá ssico do século XVIII. [51]
É por isso que
alguns conservadores preferem ser chamados de liberais ― os verdadeiros liberais, que
enfatizam a liberdade individual. Nos ú ltimos dias da Uniã o Soviética, os conservadores
apoiavam o antigo e decadente regime comunista, enquanto os liberais defendiam a
mudança política: liberdade individual e livre mercado. Isso é quase o oposto de como
usamos esses termos em nossa cultura. Por essa razã o, o mais importante nã o sã o as
palavras em si mesmas, mas o que elas querem dizer.              Em nosso contexto americano,
descrevemos como conservadores aqueles que acreditam em liberdade individual e em
“sociedade civil” (famílias fortes e igrejas e outras instituiçõ es que servem como para-
choque entre o indivíduo e o Estado). Os esquerdistas, por outro lado, estã o mais
[52]

interessados em igualdade e justiça (como eles as definem) impostas por um Estado grande
e centralizado, particularmente pelo governo federal. [53]
Esse é um resumo de como os
termos conservador e liberal sã o entendidos de modo geral, e é assim que trabalharei com
eles. Estou recuando e analisando um amplo campo ideacional hoje. Nenhuma atividade
[54]

política bem-sucedida é possível sem registro de eleitores, reuniõ es prévias e estratégia de


partido. Esses sã o os elementos bá sicos da política de sucesso. Contudo, gostaria que
voltá ssemos e examiná ssemos um pouco mais amplamente o programa com o qual estamos
comprometidos ― e, particularmente, com o qual os nossos oponentes políticos estã o
comprometidos. Nã o estou pedindo para que percamos a floresta em prol das á rvores. À s
vezes precisamos ponderar o motivo das nossas açõ es, e quais perspectivas estã o
motivando nossa atividade política ― e a de nossos oponentes.
 
Cosmovisão e política
 
O argumento ambicioso que quero estabelecer aqui é que, quando falamos de política,
falamos de muito mais que de política. Estamos falando de um sistema de vida ― uma
cosmovisã o, como dizemos. Nossas perspectivas políticas sã o determinadas por nossa
visã o do mundo, nã o simplesmente pelas necessidades do momento. Se você quase sempre
vota em um republicano, isso nã o acontece só porque você está comprometido com o
Partido Republicano. Você está comprometido com uma visã o específica de mundo que
combina mais com as ideias do Partido Republicano do que com as do Partido Democrata.
Votamos em nossa cosmovisã o.
Mas entã o poderíamos imediatamente perguntar: “E as cosmovisõ es, de onde vêm?”. Sem
dú vida elas sã o determinadas pela nossa histó ria pessoal, nossos pais e amigos, nossa
cultura e nossas experiências de vida; mas até mesmo esses fatores sã o interpretados em
termos de algum crivo dominante. Esse crivo, sugiro, é a religiã o.
A humanidade foi criada à imagem de Deus. Fomos feitos para amar, glorificar e obedecer
ao nosso Criador. Mas Adã o e Eva pecaram, e mergulharam nosso mundo no pecado. Cada
um de nó s nasce pecador. Esse pecado contamina nã o somente nossas açõ es, mas também
nosso pensamento. Ele perverte nossa cosmovisã o desde a mais tenra idade. É por isso que
o primeiro e principal pecado é a idolatria, e também o motivo de o primeiro mandamento
de Iavé a Israel ser: “Nã o terá s outros deuses diante de mim” (Ê x 20.3). Esta é a maior
tentaçã o da humanidade: desviar-se do Deus verdadeiro e adorar deuses falsos. Fomos
feitos como seres religiosos, ou seja, seres adoradores . Quando nos recusamos a adorar a
Deus, nã o deixamos de adorar. Adoramos outros deuses. Adoramos algum aspecto da
ordem criada, alguma outra pessoa ou alguma outra coisa. Essa idolatria é apostasia do
Deus verdadeiro. Essa apostasia começa em nosso coraçã o, o centro do nosso ser, e de lá se
exterioriza. [55]
Logo, ela afeta cada aspecto do nosso pensamento e de nossas vidas. Isso
também inclui nossa política.
 
Cosmovisão, política e religião
 
Talvez você já tenha ouvido a expressã o “política e religiã o nã o se misturam”, mas ela é
completamente falsa. É correto dizer que igreja e Estado nã o devem se misturar
(devidamente entendido), mas religiã o e política devem se misturar porque a religiã o se
mistura com tudo na vida. Uma vez que fomos criados à imagem de Deus, todo pensamento
e açã o, certo ou errado, é um ato religioso. É por isso que toda política é religiosa, e isso se
aplica a cada indivíduo, sempre que ele estiver situado no espectro político.
 
Esquerdismo político como apostasia religiosa
 
Estou fazendo o que alguns considerariam uma proposiçã o ousada: o esquerdismo político
é uma forma de apostasia do Deus verdadeiro. (Conservadores podem apostatar também,
mas este nã o é o assunto deste capítulo.) Os apó statas frequentemente justificam sua
apostasia: criam razõ es plausíveis para ela. Tanto para eles como para os outros, eles
precisam fazer sua apostasia parecer sensata e racional. É exatamente isso o que os
esquerdistas fazem e têm feito. Essas sã o crenças que justificam e dã o suporte à sua
apostasia, e tais crenças sã o fundamentalmente religiosas e até mesmo teoló gicas.
 
Pior que conspirações
 
O Presidente Obama, Nancy Pelosi, Hilary Clinton e Harry Reid nã o levantaram de manhã
com a intençã o de solapar e destruir os Estados Unidos da América. Conheço alguns
conservadores que abraçam teorias da conspiraçã o. Eles sugerem que os esquerdistas
conspiram secretamente para destruir os Estados Unidos. A verdade é muito mais sinistra.
[56]
Ou ainda: a razã o por que os esquerdistas sã o tã o perigosos nã o é porque eles estã o
tentando destruir o nosso país, mas porque estã o tentando ajudá -lo. Se estivessem
conscientemente tentando nos destruir, podiam ser refreados pela consciência que Deus
lhes deu. Eles sã o tã o prejudiciais porque não estã o conscientemente tentando destruir os
Estados Unidos. Eles acreditam que estã o fazendo o bem. É esse “fazer o bem” deles que
está nos matando.                Vou expor brevemente o fundamento ló gico deles para essa
benevolência destrutiva. Em sua raiz, esse fundamento é religioso, até mesmo teoló gico.
Pelo menos três pressuposiçõ es teoló gicas bá sicas subjazem ao esquerdismo político.
 
 
1. A BONDADE INERENTE E A PERFECTIBILIDADE DO HOMEM
 
Em primeiro lugar, os esquerdistas creem na bondade inerente e na perfectibilidade do
homem. Anteriormente eu disse que nascemos pecadores, mas os esquerdistas nã o
acreditam nisso. Eles acreditam que nascemos em um mundo pecaminoso, ou pelo menos
mau. Mas eles nã o creem que o mundo é pecaminoso sob a alegaçã o de que as pessoas sã o
necessariamente pecadoras. Na verdade, eles acreditam no contrá rio. Há mal no mundo, e
ele pode ter se originado totalmente por acaso, e esse mal é o que corrompe as pessoas. Ele
reside nas estruturas humanas como a família, a propriedade privada, o comércio, a igreja e
até mesmo no governo. Se o mal principal nã o é que as pessoas sã o necessariamente má s,
mas que elas se tornaram má s, podemos mudá -las mudando essas estruturas ― o ambiente
ou cultura humanos. Depois, podemos ter de volta o homem tal como se esperava que ele
fosse. Portanto, se conseguirmos mudar o mal na sociedade, o homem volta à sua condiçã o
impoluta e original.
Precisamos entender este ponto-chave: os esquerdistas querem mudar a sociedade porque,
mudando-a, eles podem mudar o homem. O homem se tornará o que deve ser se a
sociedade se tornar o que ela deve ser. Se ela redistribui sua riqueza, já nã o haverá mais
gananciosos. Se conseguirmos sanear as favelas e habitaçõ es populares, nã o haverá motivo
para as gangues destruidoras. Se pudermos solapar a liderança masculina na família,
mulheres e crianças se sentirã o menos oprimidas. Se dermos emprego para jovens
terroristas muçulmanos, eles deixarã o de crucificar cristã os e queimar crianças vivas. Essa
gente nã o tem coraçõ es maus. Eles estã o corrompidos pelas estruturas má s que os
rodeiam. Nossa tarefa é mudar as estruturas má s. Homens e mulheres podem mudar ― e
ser mudados ― mudando-se o seu ambiente cultural.
 
Perfectibilidade
 
Os esquerdistas creem que a natureza humana é plá stica, ou moldá vel. Ela nã o é fixa. Ela
pode ser aperfeiçoada. É por isso que eles creem na perfectibilidade do homem. O
[57]

homem pode ser muito melhor e diferente do que é hoje. Assim como o corpo humano
evoluiu de animais inferiores até a sua atual condiçã o física superior, da mesma forma sua
natureza ― sua constituiçã o ética, intelectual e emocional ― pode evoluir. Em mil anos, os
humanos poderiam ser muito diferentes dos humanos andando na terra hoje. Na verdade,
eles podem nem mesmo ser humanos. Podem ser maiores que os humanos ― transumanos.
O objetivo do esquerdismo, consequentemente, é, no mínimo, construir um novo tipo de ser
humano. Essa expectativa, como você pode imaginar, é um tipo de visã o utó pica: [58]
é a
versã o esquerdista do céu na terra, e é exatamente para isso que eles estã o trabalhando.
Esta é uma perspectiva apóstata .
 
A visão (realista) cristã
 
A visã o esquerdista é muito diferente da cristã . Os cristã os creem que o homem nasce
pecador (Rm 3.23). Ele só pode ser mudado pelo Espírito Santo, com base na morte e
ressurreiçã o de Jesus Cristo (2Co 5.17; Gl 2.20). Todas as tentativas naturalistas, incluindo
todas as tentativas políticas de mudar o homem sã o falhas. Somente a graça de Deus,
mediante o Espírito Santo, consegue mudar o homem (Jo 3.3). A razã o por que as
instituiçõ es sã o má s é porque o coraçã o humano é mau. É o homem quem as corrompe, nã o
o inverso. Se o homem precisa ser aperfeiçoado, ele só o pode por Deus, nã o pelo homem. E
ele só pode ser completa e definitivamente aperfeiçoado na eternidade, quando o Pai usar
seu Filho para endireitar todas as coisas (Ap 22.14-15). O homem nã o pode criar um plano
político para produzir um homem melhorado.
Como você pô de perceber, essa nã o é a visã o esquerdista da perfectibilidade do homem, na
qual o homem já possui as sementes da perfectibilidade em si, e elas só precisam ser
irrigadas e alimentadas pelo ambiente cultural. Essa é uma visã o distorcida da natureza
humana, e suas consequências sã o desastrosas quando implementadas na sociedade por
meios políticos. Permita-me alguns exemplos.
 
O livre mercado
 
Considere os arranjos econô micos na sociedade. Se o homem é pecador, especialmente se
ele for egoísta, você ia querer adotar um sistema econô mico que tratasse essa
pecaminosidade com o devido realismo. É isso o que faz o livre mercado. Ele nã o
necessariamente incita as pessoas a serem gananciosas (afinal de contas, um monte de
gente quer ganhar um monte de dinheiro para que consigam enriquecer outras pessoas,
como amigos e família, nã o a si mesmas). Mas o livre mercado nã o se aproveita da ganâ ncia
humana para beneficiar outras pessoas. Essa é a lei das consequências involuntá rias. A
vendedora de sapatos pode nã o ter muita estima por você, mas ela o trata bem e te vende
sapatos para que possa pô r a comida na mesa. Ela pode ser gananciosa, mas o livre
mercado a obriga a ajudá -lo, caso ela queira satisfazer sua ganâ ncia. Na eternidade, nã o
precisaremos da economia de livre mercado porque lá haverá o bastante para todo mundo,
e porque ninguém será ganancioso. Mas ainda nã o estamos lá .
A cosmovisã o cristã exige que sejamos realistas a respeito do mundo, e no tocante à
economia, esta exige o que hoje chamamos de livre mercado.
 
Socialismo de Estado
 
Mas se você nã o crê que o homem é pecador por natureza, você acha que pode livrar-se de
sua ganâ ncia por meios naturalistas. Os esquerdistas creem que podem purgar a ganâ ncia a
partir da pró pria natureza humana. Se o Estado cuida de todas as necessidades físicas do
homem, nã o há por que ele ser ganancioso. Naturalmente, isso significa obrigar outras
pessoas a desistirem de seu pró prio dinheiro e bens para compartilhar com os demais.
Em todo lugar em que se tentou implementar essa política, conhecida como socialismo de
Estado, os resultados têm sido desastrosos. A China comunista e a Uniã o Soviética
conseguiram obrigar as pessoas a compartilhar, mas nã o conseguiram mudar o
egocentrismo delas. As pessoas ainda queriam a propriedade privada. Ainda havia um
mercado negro. Elas viviam com se merecessem guardar o dinheiro que ganharam e as
safras que plantaram. A razã o pela qual o socialismo fracassou, pela qual ele sempre
fracassou toda vez em que se tentou implementá -lo, é que ele está baseado em
pressuposiçõ es teoló gicas precá rias, uma visã o ilusó ria da natureza humana. Ele supõ e que
as pessoas nã o sã o pecadoras por natureza. E ao criar um arranjo político que nã o leva em
conta a pecaminosidade humana, ele tem sido um desastre nã o apenas economicamente,
mas também politicamente.
 
O sistema de reeducação criminal
 
Considere, entã o, o sistema de justiça criminal. Se as pessoas nã o sã o inerentemente má s,
deve haver alguma outra explicaçã o para o crime. Uma explicaçã o esquerdista comum para
o crime é a precariedade das instituiçõ es humanas: habitaçõ es populares; discriminaçã o
contra minorias raciais por escolas e empregadores; e verba insuficiente para escolas
pú blicas. No entanto, cada vez mais a explicaçã o tornou-se a instabilidade mental. O pai do
jovem norueguês que matou aproximadamente setenta pessoas, incluindo crianças, em um
acampamento numa ilha, explicou que seu filho “deve ser” mentalmente doente. Nã o havia
outra explicaçã o possível. [59]
A explicaçã o real de que seu filho tinha um coraçã o perverso
era simplesmente inconveniente. Ela nã o faz parte da cosmovisã o esquerdista. Os
criminosos, portanto, sã o encarcerados nã o tanto para pagar pelos seus crimes (a visã o
mais antiga e conservadora), como para serem reeducados e reabilitados. Falando de um
ponto de vista prá tico, temos nã o tanto um sistema de justiça criminal, mas um sistema de
reeducação criminal. Se isso se parecer com os campos de reeducaçã o da China comunista e
da Camboja de Pol Pot, é porque ele é. Quando você se livrar do pecado original, logo deve
se livrar da justiça.
 
Empregos para terroristas
 
Como uma ú ltima prova dessa visã o distorcida da natureza humana, considere a política
estrangeira esquerdista. Talvez você recorde do comentá rio de Mary Harf, do
Departamento de Estado dos Estados Unidos: “Precisamos averiguar as causas
fundamentais que levam as pessoas a se juntarem a esses [islamofascistas] grupos [como o
ISIS], [incluindo] a falta de oportunidade de emprego”. [60]
Essa é uma explicaçã o
esquerdista clá ssica: nã o é possível que o ISIS seja mau. Mas o fato é que muitos membros
do ISIS, e certamente a sua liderança, tinham empregos perfeitamente bons. [61]

Obviamente, o desemprego nã o os levou a crucificar cristã os e decapitar crianças. Mas se


nã o é este o caso, deve haver alguma outra explicaçã o para o seu (mau) comportamento.
Ela está em suas pressuposiçõ es religiosas malignas. Porém, o governo Obama jamais
chamaria o ISIS de terroristas islâ micos. Ele se recusa a reconhecer a convicçã o
entranhadamente religiosa de seus membros. De acordo com os esquerdistas, visto que
nenhuma religiã o é má , ela nã o leva as pessoas a fazer coisas má s (exceto, talvez, os que
acreditam na Bíblia, entre os quais estã o os terroristas internos e direitistas que “se
agarram” a seu Deus e armas). Os esquerdistas defendem incessantemente o diá logo e a
diplomacia, mesmo com os ditadores mais sangrentos e sedentos de poder como os líderes
do ISIS e Vladimir Putin, presidente da Rú ssia. Esses líderes nã o sã o maus; estã o apenas
equivocados. Se nó s, esquerdistas sensatos, pudermos tã o somente sentar e conversar com
eles, poderíamos persuadi-los de seus caminhos errô neos. É exatamente esse tipo de
política estrangeira completamente ingênua que fomenta mais agressã o e tirania . [62]
Você
está começando a perceber, espero, como essas pressuposiçõ es teoló gicas espú rias têm
levado a consequências políticas danosas.
Mas a bondade e perfectibilidade humanas nã o sã o as ú nicas pressuposiçõ es teoló gicas
equivocadas do esquerdismo político.
 
2. O MAL DA DESIGUALDADE HUMANA
 
Em segundo lugar, os esquerdistas creem que a sociedade justa é a sociedade equitativa .
Eles estã o convencidos de que o principal problema do mundo é a desigualdade. Uma das
diferenças fundamentais entre o esquerdismo político e o conservadorismo é que os
conservadores enfatizam a liberdade, enquanto os esquerdistas, a igualdade . Há uma
[63]

pressuposiçã o teoló gica guiando cada uma dessas diferenças. Os esquerdistas estã o
comprometidos com um mundo de igualdade radical porque condenam a hierarquia criada
por Deus. Essa hierarquia está entremeada no universo. Ela começa com a diferença entre
Deus e a criaçã o. Deus está acima de toda a criaçã o. Isso é chamado de distinçã o Criador-
criatura (Rm 1.25). O homem pecador quer tornar-se Deus. Esse foi o apelo da serpente a
Eva no Jardim do É den (Gn 3.5). Foi com vistas a isso que a humanidade construiu a Torre
de Babel (Gn 11.1-9): alcançar os céus e eliminar a distâ ncia entre Deus e o homem. O
homem quer ser igual a Deus. É por isso que o movimento da Nova Era e a espiritualidade
pagã estã o ganhando cada vez mais proeminência em nossa sociedade. [64]
Os pagã os
modernos sã o, em muitos casos, panteístas. A deidade está no homem e em tudo o mais.
Tanto o homem como a natureza participam de Deus. Como você pode imaginar, essa visã o
também reforça o movimento ambientalista radical. Em agudo contraste, a via cristã é a
hierá rquica: o homem é criado à imagem de Deus, e está subordinado a ele, assim como o
restante da criaçã o está subordinada ao homem (Gn 1.28-30).
 
A guerra sobre a hierarquia
 
As hierarquias na sociedade lembram ao homem da hierarquia principal: entre Deus e o
homem. O homem pecador gosta que as coisas sejam justas, desde que seja ele quem defina
o que é “justiça”. Na realidade, ele quer nivelar todas as hierarquias. Rebaixando Deus ao
nível do homem, ele está alçando o homem ao nível de Deus. Ao igualar todo mundo, o
homem está combatendo a autoridade hierá rquica de Deus.
É por isso que os esquerdistas querem diminuir ou apagar a autoridade das famílias, dos
pais, dos comerciantes, da igreja, dos pastores e sacerdotes, dos professores e
administradores, da polícia e outras figuras de autoridade estabelecidas por Deus. Se eles
puderem livrar-se delas, talvez possam fazer o mesmo com a autoridade do Deus que
ordena toda autoridade (Rm 13.1).
Por conseguinte, o discurso deles é carregado de igualdade. Em alguns casos, a igualdade é
uma virtude. Todos somos espiritualmente iguais diante de Deus quando viemos ao mundo.
Somos todos pecadores, e carecemos da salvaçã o de Jesus Cristo. Fomos todos providos por
nosso Criador, como reza a nossa Declaraçã o de Independência, com os direitos
inaliená veis à vida, liberdade e busca da felicidade. A revelaçã o de Deus exige que sejamos
todos tratados por igual perante a lei (Lv 24.22). Essas sã o formas legítimas de igualdade
nas quais devemos insistir.
Mas a igualdade nã o é uma virtude em toda situaçã o. Algumas formas dela sã o
absolutamente perversas. É por isso que o discurso de igualdade dos esquerdistas pode ser
tã o sinistro. Sua definiçã o de igualdade é absolutamente diferente da definiçã o
conservadora. Os conservadores creem em igualdade de processos , nã o de resultados. Os
esquerdistas creem exatamente no contrá rio. Os conservadores se dispõ em a tolerar a
desigualdade de resultados, desde que haja igualdade de processos. É importante entender
a diferença.
 
Dois tipos de igualdade e desigualdade
 
Os conservadores creem que, nas regras (leis) para a sociedade, é preciso que haja
condiçõ es equitativas. Essa era a verdade fundamental da cultura ocidental, que foi
moldada pela fé cristã . O jogo só é justo na medida em que as regras se aplicam a todos os
participantes. Se o Oklahoma City Thunder derrota a equipe de basquete da universidade
local, o jogo nã o é injusto somente porque o Thunder venceu por uma diferença de 60
pontos. O jogo é justo se as regras forem as mesmas para todos.
O mesmo se aplica à sociedade. Se todos forem tratados igualmente sob a lei, alguns se
sairã o melhor que outros. Por exemplo, alguns podem conseguir um emprego melhor e
ganhar mais dinheiro. Algumas crianças podem conseguir estudar em escolas melhores.
Igualdade sob a lei nã o significa resultados iguais para todos.
Esse fato leva a uma percepçã o interessante: quando a lei trata todos indistintamente, mas
os resultados sã o desiguais, essa desigualdade deve resultar de alguma outra coisa que nã o
a lei. A explicaçã o para essa discrepâ ncia é simples. É a diferença entre os próprios seres
humanos . Pessoas diferentes têm vantagens diferentes nas quais nasceram ou se
desenvolveram. Elas têm habilidades diferentes. Diferentes há bitos de trabalho. Diferentes
há bitos de despesas e poupança. Diferentes virtudes e vícios. Se essas diferenças sã o inatas
ou adquiridas nã o importa. A questã o é que as pessoas sã o diferentes umas das outras, e se
a lei trata todos da mesma forma, essas diferenças vã o se manifestar no que elas podem
conseguir (ou nã o) em uma sociedade. Se a lei trata todos igualmente, isso só pode
significar que a igualdade perante a lei conduz a resultados desiguais.
Os esquerdistas nã o querem essa igualdade de processo (igualdade sob a lei). O que eles
realmente querem é igualdade de resultados. Eles nã o querem que todos sejam tratados
igualmente. Eles queriam que todos tivessem a mesma quantidade de coisas.
 
Como igualar os resultados
 
Mas esse desejo levanta um grande problema. Como você pode garantir que todos
conseguirã o a mesma quantidade de coisas se todos sã o tratados igualmente sob a lei?  A
resposta é: você nã o pode. Como consequência, é necessá rio que os esquerdistas destruam
a igualdade de processos para garantir a igualdade de resultados. Eles precisam ajustar a
lei a fim de garantir que algumas pessoas consigam tanto quanto outras. Você faz o
Thunder arremessar a bola em uma cesta a 8 metros de altura, e a equipe da universidade
em uma a 2 metros.
O exemplo mais flagrante do compromisso atual do nosso presidente com essa
pressuposiçã o esquerdista de des igualdade é o seu suposto Affordable Care Act
(“Obamacare”). Se todos sã o tratados igualmente perante a lei, algumas pessoas terã o
acesso a melhores planos de saú de que outras, e um grupo relativamente pequeno pode
nã o ter acesso de jeito nenhum. Essa é uma igualdade de resultados que os esquerdistas
simplesmente nã o toleram. Consequentemente, eles precisam introduzir desigualdade de
processos para garantir que todos tenham plano de saú de. Isso significa obrigar
americanos jovens e saudá veis a pagar os custos médicos dos americanos mais velhos e
menos saudá veis. (Em outros contextos, esse arranjo poderia ser chamado de roubo, mas
parece indelicado referir-se ao roubo governamental como roubo.)
É importante admitir que a igualdade de processos e a igualdade de resultados sã o
mutuamente excludentes. Ou, pelo menos, quanto mais uma aumenta, mais a outra precisa
diminuir. Quanto mais você exige que os resultados sejam iguais, mais você precisa criar
leis des iguais. E quanto mais você exige que as leis tratem todos igualmente, mais
resultados desiguais você terá .
É por isso que, no Obamacare, ouvimos sobre vencedores e perdedores. Os vencedores sã o
aqueles que conseguem seguro subsidiado com o dinheiro dos outros. Os perdedores sã o os
que perdem dinheiro por terem de subsidiar o seguro dos outros. Como se sabe, os
conservadores também acreditam em vencedores e perdedores. Se todos recebem
tratamento igual perante a lei (igualdade de processos), alguns conseguem mais, talvez
muito mais, do que outros. Mas isso nã o é porque a lei é desigual. É porque as pessoas sã o
desiguais. Há vencedores e perdedores porque pessoas sã o vencedoras e perdedoras, nã o
porque a lei escolhe vencedores e perdedores.
 
A relação opressão-libertação
 
Os esquerdistas estã o numa cruzada fervorosa para igualar todos na sociedade. Eles
precisam de uma justificativa moral e altissonante para fazer isso. E essa justificativa é a
libertaçã o. É por isso que eles constantemente usam o discurso da opressã o, o oposto da
libertaçã o. A opressã o leva à desigualdade, e todos sabem (quem nã o sabe?) que toda
desigualdade é ruim, portanto devemos libertar todos os oprimidos e, se nã o encontrarmos
nenhum, precisaremos inventar algum.
Desde a Revoluçã o Francesa os esquerdistas têm se envolvido em um projeto de libertaçã o
maciço, que tem sido chamado de “a relaçã o opressã o-libertaçã o”. A religiã o esquerdista
[65]

tornou-se uma das principais reivindicadoras da libertaçã o da humanidade de toda tirania,


real ou imaginá ria: os secularistas devem ser libertos dos religiosos, os fiéis do clero, o
esclarecido do ignorante, os cidadã os da realeza, o pobre do rico, os trabalhadores dos
capitalistas, os negros dos brancos, as mulheres dos homens, as esposas dos maridos, as
crianças dos pais, os devedores dos credores, os empregados dos empregadores, os
homossexuais dos heterossexuais, os presidiá rios dos cumpridores da lei ― e em breve, se
as coisas continuarem como estã o, os polígamos dos monogâ micos e os pedó filos dos
carcereiros. A Grande Libertaçã o agora se estende inclusive à natureza nã o-humana: a
libertaçã o “do ambiente” de uma humanidade gananciosa.
 
O alto custo da libertação
 
Esses projetos de libertaçã o esquerdistas sempre custam caro: esposas sã o libertas dos
maridos ― e da oferta de provisã o e cavalheirismo sincero que o marido hierá rquico tem
para dar. Homossexuais sã o libertos da inconveniência da marginalizaçã o social ― e o
casamento tradicional (= casamento) aos poucos se torna obsoleto. Os secularistas sã o
libertos de um có digo legal cristã o ― mas é cada vez mais difícil justificar a liberdade em
bases seculares. Empregados sã o libertos dos caprichos dos empregadores ― mas a
negociaçã o coletiva (via sindicatos) leva muitas empresas a mudarem de país e deixam
esses empregados desempregados. Os esquerdistas nã o estã o preocupados com esse dano
social. Afinal de contas, é um dano colateral, justificado pela grande cruzada da libertaçã o.
Como diz o aforismo de Vladimir Lenin, “você nã o pode fazer uma omelete sem quebrar
alguns ovos”. A igualdade social é uma grande omelete, e você precisa quebrar muitos ovos
para fazê-la.
Mas como você de fato quebra os ovos? Isso leva à terceira e ú ltima pressuposiçã o teoló gica
do esquerdismo político.
 
3. A AGÊNCIA COERCITIVA DO ESTADO
 
Os esquerdistas acreditam que o Estado deve ser o principal agente de seu projeto de
perfectibilidade, liberação e promoção de igualdade. Se você perguntar à maioria das
pessoas inteligentes a principal diferença entre conservadores e esquerdistas, elas
responderiam que os conservadores creem em um Estado menor, e os esquerdistas, num
maior. Essa certamente é uma diferença enorme entre os dois, mas o que muitas vezes nã o
percebemos é a teologia por trá s dela. Esquerdistas nã o apoiam um Estado maior porque
querem mais autoridade no mundo. Na verdade, em quase todas as á reas da vida, eles
querem menos autoridade. Eles querem que os indivíduos tenham liberdade para fazer
quase tudo quanto queiram, desde que nã o prejudiquem os outros ― especialmente se se
tratar de liberdade sexual.
Por que, entã o, os esquerdistas anseiam por mais autoridade sobre a vida das pessoas? Por
causa da segunda preocupaçã o mais importante deles, que é a que acabei de mencionar:
uma grandiosa visã o para criar a sociedade igual. Eles nã o podem criar essa visã o
igualitá ria sendo simplesmente libertá rios, ou seja, confiando que as pessoas agirã o como
devem. Por isso eles precisam de um agente na sociedade forte o bastante para obrigar
todos a concretizarem sua visã o. Como se sabe, essa agência é o Estado. E essa é a razã o, a
ú nica razã o por que os esquerdistas apoiam um Estado maior. Estados maiores podem
coagir todos à Utopia pela qual os esquerdistas anseiam.
Sempre que os esquerdistas veem um arranjo social hierá rquico, eles cada vez mais sentem
a necessidade de projetos de libertaçã o. No fim, eles precisam de um poder forte o bastante
para impor esses projetos, e no mundo moderno esse poder é o Estado. Assim, para libertar
as crianças dos pais, os esquerdistas precisam da aboliçã o das leis de notificaçã o parental
(no caso das meninas que querem fazer aborto). [66]
Para libertar os devedores dos
credores, eles precisam de leis de declaraçã o de falência amplas. Para libertar os
homossexuais dos heterossexuais, eles precisam da legalizaçã o do “casamento” entre
pessoas do mesmo sexo. Para libertar os fiéis do clero, eles precisam de leis que proíbam as
igrejas de disciplinar membros imorais. O braço coercitivo do Estado destró i hierarquias;
ele faz o que os libertadores esquerdistas mandam. O Estado, dessa forma, gradualmente
atribui poder para si mesmo.
 
A elite sociopolítica
 
Os esquerdistas dizem que creem na democracia, em especial na democracia direta, mas o
que eles realmente apoiam é uma elite dedicada que governa o restante de nó s, pobres e
ignorantes almas, para o nosso pró prio bem. Os primeiros marxistas reconheceram que
[67]

“o oprimido” nã o se ergue naturalmente e se livra de seus opressores; ele precisa de uma


liderança instruída para esclarecê-lo e inspirá -lo: uma elite sociopolítica. É exatamente
nisso que os esquerdistas creem hoje. Crianças, mulheres, hispâ nicos, homossexuais e
presidiá rios sã o oprimidos por um sistema perverso, mas eles nã o percebem que sã o
oprimidos até que um iluminado entre nó s lhes mostre. Eles, como se sabe, sã o os
iluminados, os raros, os virtuosos, os preocupados e, acima de tudo, os humildes. Thomas
Sowell gosta de chamá -los de “os ungidos”. [68]
Mais precisamente, talvez, os auto -ungidos.
 
Providência secular
 
O ponto-chave que estou tentando estabelecer é que, no fundo, essa é uma pressuposiçã o
teoló gica. É isso: porque os esquerdistas abandonaram a crença no poder de Deus, eles
precisam descansar no poder do Estado. Porque negam a regeneraçã o, adotam a revoluçã o.
Os conservadores, especialmente os conservadores cristã os, entendem que o homem pode
gozar de liberdade dentro do Estado de direito para desenvolver sua salvaçã o com temor e
tremor (Fp 2.12). Deus está trabalhando com o homem na histó ria humana para realizar
seus propó sitos. Indivíduos, famílias, igrejas e comerciantes fazem escolhas, tanto certas
como erradas, e essas escolhas têm consequências que, em contrapartida, influenciam
escolhas subsequentes. As pessoas aprendem com seus erros. Ou nã o. Mas Deus está
trabalhando em todas as coisas.
Os esquerdistas abandonaram toda esperança na providência de Deus na histó ria. Portanto,
eles precisam assegurar outra. Essa providência é o Estado. Na verdade, para eles o Estado
é a providência secularizada. Quando nã o confiamos mais no Espírito Santo, precisamos
confiar no Estado ímpio.
Resumindo, para os esquerdistas o governo é o substituto de Deus, e uma vez que Deus,
qualquer deus, precisa ser muito grande, para eles o Estado precisa ser muito grande.
 
CONCLUSÃO
 
Espero que você reconheça que o esquerdismo nã o é simplesmente um amontoado
desconexo de crenças e prá ticas. É uma cosmovisã o, toda uma forma de perceber a
realidade. Ela mantém-se coesa pela apostasia da religiã o verdadeira. Considere a
coerência entre os pontos que levantei aqui neste capítulo.
O homem pecador se desvia da verdade de que o homem foi criado por Deus e veio a cair
em pecado. O homem, portanto, crê que a humanidade possui bondade e perfeiçã o inatas. O
mal no mundo, consequentemente, é resultado de estruturas deficientes e de um ambiente
corrupto; e se tã o somente pudermos mudar esse ambiente, podemos mudar o homem.
Esse ambiente é deficiente em grande parte por causa da desigualdade entre as pessoas ― a
sociedade cria esse arranjo injusto. Para igualar todo mundo, o jeito é criar uma agência
forte o bastante para obrigar as pessoas a serem iguais. Essa agência é o Estado. A maioria
das pessoas nã o sã o inteligentes o bastante para perceber que estã o sendo oprimidas pela
desigualdade em nosso ambiente, entã o elas precisam de uma elite sociopolítica para
conduzi-las. Essa elite sociopolítica se apodera das alavancas do Estado a fim de realizar
sua engenharia social.
Apenas resumi para você as principais características da cosmovisã o esquerdista.
Os conservadores nã o irã o vencer essa cosmovisã o apenas pensando e agindo. Essa seria a
forma esquerdista de atacar os problemas. Precisamos depender do Deus Triú no para
derrotar essa cosmovisã o e seus discípulos. Somos, todavia, chamados para a obediência
refletiva, e isso inclui dizer a verdade para desmascarar as mentiras esquerdistas.
O Deus gracioso, todo-poderoso e Triú no criou o cosmos e tudo que nele há para a sua
gló ria. Criou a mulher e o homem à sua imagem para exercerem a mordomia sobre o
restante da criaçã o (Gn 1.26-28). Eles deviam fazer isso como seus representantes, debaixo
de sua autoridade. Todos estamos situados em condiçõ es diferentes, com diferentes
talentos e dons, e, portanto, nenhum é igual ao outro; mas todos somos chamados a
cumprir o mandato de domínio sobre o mundo de Deus. Dentro dos termos da lei moral
divina, devemos gozar de liberdade para fazer isso. É por isso que os conservadores
cristã os enfatizam a liberdade individual; ela concede ao homem a liberdade auferida por
Deus para cumprirmos o seu chamado. Embora o homem tenha pecado, Deus providenciou
o meio de salvaçã o em seu Filho Jesus Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou. Mediante a
confiança nele, Deus graciosamente nos concede a vida eterna. Somos salvos do pecado nã o
apenas para ir para o céu quando morrermos, mas para cumprir o mandato santo original
da mordomia da terra e fazer todas as coisas para a gló ria de Deus. [69]
O homem nunca será
perfeito antes da eternidade, e os programas de engenharia social promovidos pelo
governo certamente nã o o aperfeiçoarã o, mas ele pode obedecer, pelo poder do Espírito
Santo, ao mandato que Deus lhe deu.
Este é um resumo das pressuposiçõ es teoló gicas do conservadorismo político, e, conforme
você prontamente pode detectar, elas divergem completamente das pressuposiçõ es do
esquerdismo político.
A maior batalha do nosso tempo, portanto, nã o é entre republicanos e democratas, ou
mesmo entre conservadores e esquerdistas propriamente ditos, mas entre aqueles que
estã o comprometidos com o método de Deus no mundo e aqueles que estã o
comprometidos com o do homem. Essas cosmovisõ es sã o mutuamente excludentes.
A ú nica questã o para nó s, conservadores políticos, é se faremos explicitamente as coisas do
modo de Deus ou do modo do homem.
 
 
 
 
 
Apêndice 1: Cristianismo e capitalismo
R. J. Rushdoony

 
 
Recompensas e castigos [70]

Uma opiniã o comum em anos recentes sustenta que recompensas e castigos representam
um meio prejudicial de lidar com crianças ou adultos. Somos informados que recompensas
produzem motivos errados naqueles que ganham e que sã o traumá ticas para aqueles que
perdem. É dito também que o castigo é meramente uma vingança. Sob essas premissas,
alguns educadores têm eliminado a atribuiçã o de notas, bem como outras formas de
recompensa e castigo. Esse ó dio por recompensa e castigo é uma forma de ataque sobre os
conceitos inter-relacionados de competição e disciplina . Seja na esfera espiritual, com
respeito ao céu, ou no mundo acadêmico por notas, ou no mundo dos negó cios por lucros,
castigos e recompensas (ou penalidades) motivam as pessoas (Sl 19.11; 58.11; 91.8; Mt
5.11; etc.). Essa motivaçã o leva à competiçã o, e a competiçã o requer disciplina,
autodisciplina, disciplina sob a lei civil e criminal, e disciplina sob Deus (Hb 12.1-11). E um
resultado da competiçã o honesta é o cará ter.
Mas, algumas pessoas objetam, por que nã o a cooperaçã o? Nã o é a cooperaçã o um método
superior à competiçã o? Mas, como declarado por Campbell, Potter e Adam em Economics
and Freedom [Economia e liberdade], “num mercado livre, a cooperaçã o voluntá ria e a
competiçã o sã o nomes para o mesmo conceito econô mico”. Historicamente, a competiçã o
do mercado livre tem sido apenas possível onde uma cultura comum e uma fé comum
levam indivíduos a cooperarem uns com os outros. Os homens competem por cooperaçã o
na confiança que outros respeitem a qualidade, e eles constantemente melhoram seus
produtos e serviços para conseguir essa cooperaçã o. A cooperaçã o morre se a competiçã o
morrer, pois entã o a “traçã o”, compulsã o e a força substituem as atividades livres e
cooperativas do mercado.
Fundamentalmente, recompensas e castigos pressupõ em duas coisas. Primeiro,
pressupõ em Deus, que estabeleceu certos retornos na forma de recompensas e penalidades
na pró pria natureza do universo, bem como em sua lei moral (Ex 20.5, 6; Jd 5.20). Assim,
qualquer ataque sobre a ideia de recompensas e castigos é um ataque sobre a ordem de
Deus. Segundo, recompensas e castigos pressupõ em liberdade como bá sica para a condiçã o
do homem. O homem é livre para esforçar-se, competir, trabalhar por recompensas e sofrer
penalidades. Dessa forma, qualquer ataque a esses conceitos é também um ataque à
liberdade; insiste-se que que nivelar a igualdade com total controle é uma condiçã o melhor
para o homem do que a liberdade é ou possa ser. Sã o Paulo declarou, “onde está o Espírito
do Senhor, aí há liberdade” (2Co 3.17). Deus e liberdade sã o insepará veis. E a liberdade
pressupõ e e requer a atividade livre; ela tem seu esforço, suas recompensas e castigos, seu
céu e inferno, seu êxito e fracasso. Essas sã o as condiçõ es necessá rias da liberdade. A
alternativa é a escravidã o. A escravidã o oferece uma forma muito real de segurança, mas
isso o faz também a morte e um cemitério (Dt 30.15-20). Respeitar recompensas e castigos,
competiçã o e disciplina, é respeitar a pró pria vida, e valorizar o cará ter e a autodisciplina.
Isso significa, simplesmente, escolher a vida : “escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a
tua descendência” (Dt 30.19).
 
Liberdade sob Deus
Um dos grandes fundadores do sistema americano foi o rev. John Cotton (1584-1658), que
tornou bá sica para o governo colonial a premissa que a lei e ordem piedosa significam
poder limitado e liberdade limitada . Nem o homem, nem o seu governo civil têm o direito
moral ao poder ilimitado ou à liberdade ilimitada. Em todos os tempos é preciso que haja
poder e liberdade sob a lei, e, em ú ltima instâ ncia, sob Deus (Dt 17.14-20; Pv 8.15, 16; 1Rs
2.1-4, etc.).
Mas hoje temos exigências tanto para o poder como para a liberdade ilimitada, que sã o
ideias mutuamente contraditó rias. Temos também a crescente afirmaçã o que a liberdade
nã o é sob a lei e sob Deus, mas fora da lei . Há aqueles que creem que podem ser livres
somente negando as afirmaçõ es de todas as leis e afirmando que os verdadeiros direitos e a
verdadeira liberdade significam uma liberdade da lei .
A fé bíblica e essa lei verdadeira é um dom de Deus e o fundamento da liberdade do homem
(Dt 16.20). A lei é a condiçã o da vida do homem: assim como o homem fisicamente respira
o ar para viver, assim social e pessoalmente seu meio ambiente é a lei, a qual a graça de
Deus o capacita a reter e guardar (Sl 119; Pv 6.23). O homem nã o pode viver sem lei, assim
como nã o pode viver sem comer. O propó sito da lei de Deus é a vida; como Moisés
declarou, “o SENHOR nos ordenou que cumpríssemos todos estes estatutos… para nos
guardar em vida” (Dt 6.24). O homem foi criado e é salvo por Deus para viver pela lei, pois
sua disciplina é “o caminho da vida” (Pv 6.23).
Aqui temos a grande divisã o. Os americanos, educados durante algumas geraçõ es na
perspectiva bíblica, têm visto a liberdade como vida sob a lei de Deus, mas muitos hoje
estã o afirmando que a liberdade é escapar da lei.
As alternativas à liberdade sob Deus, liberdade sob a lei, foram declaradas claramente por
Karl Marx. Elas sã o duplas. Primeiro, alguém pode ter anarquia, todo homem sendo lei para
si mesmo, com nenhuma lei, e uma “liberdade” total de qualquer responsabilidade para
com alguém. Em segundo lugar, o indivíduo pode substituir Deus pelo Estado, e a lei total
do Estado substituir a lei de Deus. A liberdade entã o desaparece e o estatismo ou
comunismo total para o “bem-estar” do homem concretiza-se. Isso é uma negaçã o da
liberdade como um ideal “burguês”, e uma substituiçã o da liberdade pelo bem-estar
planejado pelo Estado como a verdadeira felicidade do homem.
Toda tentativa, portanto, de remover essa repú blica de “sob a autoridade de Deus” significa
que o anarquismo ou comunismo serã o certamente a consequência, quer planejado ou nã o
por aqueles que atacam o lugar de Deus na vida americana. Essa é uma alternativa
inescapá vel.
Para restaurar a verdadeira liberdade, devemos restaurar a verdadeira lei (Is 8.20). A
Bíblia fala da “lei perfeita da liberdade” (Tg 1.25; 2.12), pois ela vê a lei de Deus como a
pró pria fonte e fundamento da liberdade do homem. Devemos abandonar a ideia perigosa
que liberdade significa uma fuga em relaçã o à lei: isso pode ser verdade somente se a fuga
for para com o comunismo, que nã o é lei verdadeira, mas sim tirania. O termo tirania vem
de uma palavra do grego antigo que possui um significado simples: o governo secular ou
humano no lugar da lei, no lugar da verdadeira liberdade sob Deus. O sistema americano
nã o é anarquia nem tirania, mas liberdade sob Deus.
 
A riqueza é algo moral?
Muitos escritores atuais inferem que Jesus e a Bíblia falam contra a riqueza como algo
imoral. É verdade que a Pará bola do Homem Rico (Lc 16.19- 31) nos mostra o homem rico
no inferno e o pobre Lá zaro no céu, mas a condenaçã o do homem injusto vem do rico
Abraã o no céu. Novamente, embora Jesus tenha dito, “é mais fá cil passar um camelo pelo
fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (Mc 10.25; Mt 19.24), o
mesmo capítulo deixa claro que Jesus quis dizer que nenhum homem, rico ou pobre, pode
salvar a si mesmo: “Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19.26).
Em outras palavras, a salvaçã o nã o é um trabalho “faça você mesmo” para ninguém, rico ou
pobre; é obra e dom de Deus. Muitos homens e mulheres ricas estavam entre os salvos que
tinham um relacionamento pró ximo de Jesus (Lc 8.2-3; 19.1-19; 23.50-53).
A Bíblia condena a riqueza ganha de maneira fraudulenta, mas declara que a riqueza
honesta é uma bênçã o. Primeiro, portanto, a riqueza honesta deve ser desejada como uma
bênçã o de Deus. “A bênçã o do SENHOR é que enriquece [i.e., rico materialmente]; e nã o traz
consigo dores” (Pv 10.22). A posse de riqueza é legal e protegida nos Dez Mandamentos por
dois mandamentos: “Nã o furtará s” e “Nã o cobiçará s” (Ex 20.15, 17; Dt 5.19, 21). Jesus
confirmou isso e assumiu a legalidade da riqueza como um princípio piedoso (Mt 25.14-30;
Lc 19.12-27; 16.1-8). Jesus deixou claro que a riqueza moralmente adquirida é uma bênçã o
de e sob Deus: “Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos
serã o acrescentadas” (Mt 6.32s.; Lc 12.30s.), e nã o há nada errado em desejá -la, se andamos
em termos da prioridade da fé em, e obediência a, Deus.
Em segundo lugar, a riqueza é moralmente boa, mas é um bem subordinado, um meio para
uma vida melhor, e nã o um fim em si mesmo. E ela é muito incerta para ser o objetivo da
vida (Mt 6.19s.), e a riqueza pode coexistir com a pobreza de alma (Lc 12.16- 21;14:18s.; Mt
22.6s). Assim, a riqueza tem perigos morais quando se torna primá ria, e nã o quando é
secundá ria na vida de um homem. Nã o é o dinheiro que é a raiz de todos os males, mas “o
amor ao dinheiro”, e a cobiça por dinheiro com esse amor pervertido é citado como pecado
por Paulo (1Tm 6.10). Os socialistas podem ser tã o culpados de “amor ao dinheiro” como
qualquer outra pessoa. Dessa forma, riqueza e prosperidade podem ser perigosas, se os
homens fazem dela o objetivo da vida, caso eles idolatrem-na.
O mal, entã o, nã o está na riqueza como tal, mas no coraçã o dos homens; e falar de riqueza
como imoral é uma lógica falsa, uma insistência de que as coisas sã o imorais, e nã o o
homem. Mas, como Paulo escreveu a Tito: “Todas as coisas sã o puras para os puros, mas
nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estã o
contaminados” (Tt 1.15). Dessa forma, embora homens imorais possam adquirir e usar
erroneamente riquezas, é o seu coraçã o e açõ es que sã o imorais, e nã o a riqueza em si. Em
seu devido lugar, portanto, a riqueza nã o é somente moral, mas também bendita, e pode ser
honestamente desejada, adquirida e mantida, e é um benefício para toda a sociedade.
 
Capitalização é o produto de trabalho e parcimônia
Capitalizaçã o é o produto do trabalho e parcimônia , a acumulaçã o de riqueza e o uso sá bio
da riqueza acumulada.
Essa riqueza acumulada é investida em efeito no progresso, pois é tornada disponível para
o desenvolvimento dos recursos naturais e a comercializaçã o de mercadorias e produtos.
A parcimô nia que leva à economia ou acú mulo de riqueza, à capitalizaçã o, é um produto do
caráter (Pv 6.6-15).
A capitalizaçã o foi um produto em cada período da mentalidade puritana, de sua atitude de
abrir mã o de prazeres presentes para acumular certa riqueza para propó sitos futuros (Pv
14.23). Sem cará ter, nã o há capitalizaçã o, mas sim descapitalizaçã o, a exaustã o contínua da
riqueza.
Como resultado, o capitalismo é supremamente um produto do cristianismo e, em particular,
do puritanismo que, mais que qualquer outra fé, tem promovido a capitalizaçã o.
Isso significa que antes que a descapitalizaçã o, seja na forma de socialismo ou de inflaçã o,
possa ocorrer, deve haver um colapso da fé e do cará ter. Antes dos Estados Unidos começar
seu percurso no socialismo e na inflaçã o, ele teve que abandonar sua posiçã o cristã . O povo
passou a ver mais vantagem em gastar capital do que em acumulá -lo, em desfrutar
prazeres superficiais do que viver em termos dos prazeres duradouros da família, fé e
cará ter.
Quando o socialismo e a inflaçã o saem a caminho, tendo começado no declínio da fé e do
cará ter, eles veem como seu inimigo comum precisamente aquelas pessoas que ainda têm
fé e cará ter.
Como haveremos de nos defender? E como podemos ter um retorno ao capitalismo? O
capitalismo revive somente se a capitalizaçã o reviver, e a capitalizaçã o depende, em sua
forma melhor e mais clara, daquele cará ter produzido pelo cristianismo bíblico.
Isso é escrito por alguém que crê intensamente no cristianismo ortodoxo e em nossa
liberdade e herança cristã histó rica. É meu propó sito promover aquela capitalizaçã o bá sica
da sociedade, da qual tudo o mais flui, o capital espiritual. Com o capital espiritual de uma
fé bíblica e centrada em Deus, nunca podemos nos tornar espiritual e materialmente falidos
(Pv 10.16).
Socialismo e inflação descapitalizam uma economia
Descapitalizaçã o significa a destruiçã o progressiva de capital, de forma que uma sociedade
tem progressivamente menos habilidade produtiva. Descapitalizaçã o é a dissipaçã o da
riqueza acumulada (Pv 14.23).
Capitalizaçã o é o acú mulo de riqueza por meio do trabalho e parcimô nia. Uma economia
livre, o capitalismo, é uma impossibilidade sem capitalizaçã o (Pv 10.16).
Alguns dos países agrícolas potencialmente mais ricos sã o importadores de produtos
agrícolas, tais como a Venezuela e o Chile. As á reas de pesca da Costa Pacífica da América
do Sul sã o algumas das mais ricas conhecidas no mundo, ricas o suficiente para alimentar
os países daquela á rea:
Pescadores chilenos nã o conseguem comercializar peixe apropriadamente,
e atiram quantidades incríveis de peixes capturados no mar, pois nã o tem
armazenamento nem transporte suficiente para levar os peixes aos
mercados. Assim, nã o existe uma falta de trabalho nem uma falta de
mercado para os peixes, mas a capitalizaçã o necessá ria para fornecer as
facilidades de reunir trabalho, produto e mercado onde isso está faltando.
Muito do mundo está na mesma situaçã o difícil: tem o trabalho, os recursos naturais, e o
comércio faminto por seus produtos, mas carece do capital necessá rio para fazer o fluxo
das mercadorias possível. O socialismo tenta resolver este problema, mas somente o
agrava, pois aumenta a pobreza de todos interessados. O socialismo e a inflaçã o realizam o
mesmo propó sito: eles descapitalizam uma economia.
A inflaçã o acontece quando as pessoas têm latrocínio em seu coraçã o, e o mesmo é verdade
do socialismo. O socialismo é latrocínio organizado; como a inflaçã o, ele toma de quem tem
e dá a quem nã o tem. Ao destruir o capital, ele destró i o progresso e empurra a sociedade
ao desastre.
À medida que os produtos da capitalizaçã o começam a se esgotar, nã o existe novo capital
para substituí-los, e o Estado nã o tem capital pró prio: ele somente empobrece cada vez
mais o povo e, portanto, a si mesmo, tentando criar capital por cobrança de impostos.
Todo Estado socialista se descapitaliza progressivamente.

Ame teu próximo — o que isso significa?


Um versículo bíblico familiar é frequentemente usado por muitos para justificar o
socialismo e atacar a defesa da propriedade como “egoísmo”. Mas o mandamento, “amará s
o teu pró ximo como a ti mesmo”, exige compartilhar a riqueza, para programas de bem-
estar, e para uma unidade mundial?
As principais passagens bíblicas explicando esse versículo sã o: Levítico 19.15- 18, 33-37;
Mateus 19.18, 19; 22.34-40; e Romanos 13.8-10. O que elas nos dizem?
Primeiro , quem é o meu pró ximo? Em Levítico 19.33-37, Moisés deixa claro que nosso
pró ximo significa qualquer um e todos com quem nos associamos, incluindo nosso inimigo;
e Jesus enfatizou isso na pará bola do Bom Samaritano (Lc 10.29-37), citando a misericó rdia
do samaritano para com um inimigo, um judeu.
Segundo , o que a Bíblia quer dizer por amor? A palavra amor hoje é um termo que diz
respeito ao sentimento, um sentimento que é mais forte que os “laços” da lei. A palavra
bíblica amor “é o cumprimento da lei” (Rm 13.10). Além do mais, amor tem referência
primariamente ao cumprimento da lei de Deus; ele se relaciona à justiça na Bíblia, e se
refere à lei de Deus e ao tribunal da lei de Deus. O homem moderno que quebra as leis
sexuais ou de propriedade em nome do amor está , dessa forma, carente de amor da
perspectiva bíblica, pois amor “é o cumprimento da lei”.
Terceiro , quais leis estã o envolvidas no amor para com o nosso pró ximo? De acordo com
Jesus (Mt 19.18-19), e novamente enfatizado por Paulo (Rm 13.8-10), amar o nosso
pró ximo significa guardar a segunda tá bua dos Dez Mandamentos na relaçã o para com ele.
Isso significa “nã o matará s”, ou nã o tomar a lei em nossas pró prias mã os; significa que você
deve respeitar o direito à vida dado por Deus ao seu pró ximo. “Nã o adulterará s” significa
que você deve respeitar a santidade do lar e da família do nosso pró ximo. “Nã o furtará s”
significa que devemos respeitar o direito à propriedade dado por Deus ao nosso pró ximo
(ou inimigo). “Nã o levantará s falso testemunho” significa que devemos respeitar sua
reputaçã o. E “nã o cobiçará s” requer uma obediência a essas leis em pensamento e, de igual
modo, em palavras e atos.
Dessa forma, “amará s o teu pró ximo como a ti mesmo ” é a base da verdadeira liberdade
civil no mundo ocidental. Ele requer que nó s respeitemos em todos os homens e em nós
mesmos os direitos à vida, ao lar, à prosperidade e à reputaçã o, em palavra, pensamento e
açã o. A palavra bíblica amor nã o tem nada a ver com amor eró tico, que é antinomista. O
amor bíblico “é o cumprimento da lei” em relaçã o a todos os homens. Ele nã o pede para que
gostemos de todos os homens, ou que os introduzamos em nossas famílias e círculos, nem
que compartilhemos nossas riquezas com eles. A Bíblia simplesmente diz: ame o amigo, o
inimigo e a si mesmo, ao respeitar e defender esses direitos dados por Deus à vida, lar,
propriedade e reputaçã o para todos. Os “humanitaristas” modernos sã o, dessa forma,
frequentemente culpados de violar a lei de Deus em nome de um amor anarquista. O amor
bíblico guarda a lei.
 
 

[1]
A política da prudência . Tradução Má rcia Xavier de Brito. Sã o Paulo: É Realizaçõ es, 2013, p. 98.
[2]
Isto significa que a queda nã o é de cará ter metafísico, conforme apregoado por algumas perspectivas religiosas,
especialmente aquelas influenciadas pelo espiritualismo oriental, que veem a origem do mal na finitude mesma do
homem, em contraposição à infinitude da divindade.
[3]
Kenneth Minogue, em sua obra Alien Powers: The Pure Theory of Ideology , define ideologia como toda “doutrina que
apresente uma verdade oculta e salvífica em relaçã o aos males do mundo em forma de aná lise social”.
[4]
E talvez neste ponto o evolucionismo se mostra mais entranhado mesmo na cosmovisã o de alguns cristã os, visto que a
imagem de uma natureza enquanto arena de sangrenta luta predató ria é ainda prevalente. A Bíblia, porém, demonstra o
cuidado de Deus sobre todos os âmbitos de sua criaçã o (cf. Jó 39-39).
[5]
A perfectibilidade do homem . Tradução Jesualdo Correia. Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.
[6]
Jean-Marc Berthoud, num breve comentá rio sobre as consequências do afastamento das vá rias ciências em relação à
lei divina, afirma que as teorias econô micas divergentes têm em comum a substituiçã o da providência divina por um dos
aspectos da economia: “Uma concepçã o da economia cada vez mais distante das normas éticas da lei divina – David Hume,
Adam Smith, David Ricardo, Karl Marx, Ludwig von Mises, John Maynard Keynes, Milton Friedman” ( O combate central da
Reforma: a fé confessante . Traduçã o Samara Geske. Brasília, DF: Monergismo, 2017, p. 123).
[7]
Revolt Against Maturity . Vallecito, CA: Ross House Books: 1987, p. 65-66.
[8]
The Long March: How the Cultural Revolution of the 1960s Changed America . New York: Encounter Books, 2001, p. 261
[9]
A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci . 4. ed. São Paulo: Vide Editorial, 2014, p. 123-124.
[10]
Este capítulo consiste em uma palestra que proferi em 25 de fevereiro de 2011, na Virtue of Prosperity Conference
[Conferência Virtude da Prosperidade], em Newport Beach, Califó rnia. Ela foi revisada e expandida para publicaçã o. A
conferência foi patrocinada pelo Acton Institute, o Bahnsen Group, e o Center for Cultural Leadership. Outros palestrantes
foram Robert Sirico do Acton Institute, David L. Bahnsen do Bahnsen Group, Dinesh D’Souza do King’s College, e Jay
Richards do Discovery Institute. Devo gratidã o especial ao Bahnsen Group e ao Fieldstead and Company por
subscreverem o evento. Meu texto lida com uma das questõ es mais prementes do nosso tempo: como o ateísmo invadiu
nossa cultura sob a forma de economia intervencionista — e como ele saqueia nossa liberdade, muitas vezes com o
consentimento tá cito de uma igreja ingênua e em coma. Para mais informaçõ es, veja www.moralcapitalism.com.
[11]
Richard Tarnas, The Passion of the Western Mind (New York: Ballantine, 1991), p. 341-1.
[12]
A Conflict of Visions (New York: William Morrow, 1987), cap. 1. Publicado no Brasil como Conflito de visões: origens
ideológicas das lutas políticas . Tradução Margarita Maria Garcia Lamelo. São Paulo: É Realizaçõ es, 2011.
[13]
Cornelius Van Til, The Defense of the Faith (Phillipsburg, New Jersey, ediçã o de 1967), p. 46-50.
[14]
Sobre esse elitismo, veja Angelo M. Codevilla, The Ruling Class (New York: Beaufort Books, 2010).
[15]
Faço mençã o à providência prescritiva de Deus: o desejo divino em relação ao mundo, como se encontra na Bíblia. Nã o
me refiro à providência decretiva , seus conselhos secretos nã o revelados ao homem antes de sua ocorrência. Pode ser
que a providência decretiva de Deus conduza à tirania política (e econô mica) de uma cultura (Hc 1.5-11), mas o homem
deve viver de acordo com a providência prescritiva , oposta à tirania (1Sm 8.1-18).
[16]
“Transcript: Obama and Clinton Debate”, Disponível em: <http://abcnews.go.com/Politics/DemocraticDebate/story?
id=4670271&page=3>. Acesso em: 16 mar. 2011.
[17]
The Gate . New York: Alfred A. Knopf, 2003, p. 6-7.
[18]
Clark H. Pinnock, “The Pursuit of Utopia”, in: Freedom, Justice and Hope , Marvin Olasky (org.) (Wheaton, Illinois:
Crossway, 1988), p. 76-82.
[19]
Contrá rio à calú nia de tantos, os pó s-milenaristas negam a utopia terrena, como o faz aqui o pó s-milenarista Andrew
Sandlin. [N. do T.]
[20]
Ronald Nash (org.), Liberation Theology (Milford, Michigan: Mott Media, 1984).
[21]
Grand Rapids: Eerdmans, 2002.
[22]
Ibid. , p. 189, grifos do autor.
[23]
Tipo de plano de aposentadoria patrocinado pelo empregador. [N. do T.]
Revisado e expandido de uma palestra que proferi na Conferência Anual do Center for
[24]

Cultural Leadership em 15 de outubro de 2011, em Sã o Francisco, Califó rnia.


[25]
Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. [N. do T.].
[26]
Alex Tocqueville, Democracia na América . Tradução de Eduardo Brandã o. Sã o Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 299.
[27]
Este capítulo compreende uma palestra que proferi na Virtuous Capitalism and the Financial Crisis Conference , em 28
de abril de 2012, em Newport Beach, Califó rnia. Ela foi revisada a expandida para publicaçã o. A conferência foi
patrocinada pelo Acton Institute, Bahnsen Group, Center for Cultural Leadership e pelo Ruth Institute. Os outros
palestrantes foram Roberto Sirico, do Acton Institute; David L. Bahnsen, do Bahnsen Group; e Jennifer Roback Morse, do
Ruth Institute. Agradecimentos especiais ao Banhsen Group e ao Fieldstead and Company por financiar o evento. Meu
texto trata de uma questã o espinhosa mas vital:  qual a causa primá ria da crise financeira de 2008? Quais os fatores
humanos mais profundos que criaram a maior crise financeira do Ocidente desde a Grande Depressã o? Para mais
informaçõ es, acesse www.moralcapitalism.com .
[28]
Richard Tarnas, The Passion of the Western Mind (New York: Ballantine, 1991), p. 387.
[29]
Poucos documentaram esse fato de forma tã o abrangente quanto Cornelius Van Til. Para iniciantes, veja o seu livro
The Defense of the Faith (Phillipsburg, New Jersey: Presbyterian and Reformed, ediçã o de 1967).
[30]
Para uma narrativa envolvente de como a crise foi revelada, ver Andrew Ross Sorkin, Too Big to Fall (New York:
Penguin, 2009, 2010).
[31]
Quem disse isso foi G. K. Chesterton, em seu clássico Ortodoxia . [N. do T.]
[32]
Jonathan Haidt afirma que a moralidade é genética (inata), porém forjada nos genes ao longo das geraçõ es por meio
das açõ es de nossos ancestrais. Aparentemente, a moralidade poderia ser prontamente eliminada pelo mesmo método. Se
a moralidade é realmente inata, a evoluçã o bioló gica nã o é uma explicaçã o confiá vel. Veja seu livro The Righteous Mind
(New York: Pantheon, 2012), p.269.
[33]
H. F. Beck, “Greed”, in The Interpreter’s Dictionary of the Bible , ed. George Buttrick et al. (Nashville: Abington, 1962,
1980), 2:479.
[34]
John Frame faz isso em seu The Doctrine of the Christian Life (Phillipsburg, New Jersey: P & R Publishing, 2008),
p.844-848 [Publicado em português como A doutrina da vida cristã (São Paulo, SP: Cultura Cristã , 2013)].
[35]
Inside Job [DVD], dirigido por Charles Ferguson (Culver City, California: Sony Pictures, 2011).
 
[36]
Andrew Sorkin, Too Big to Fall , p. 7.
[37]
Idem , p. 24.
[38]
Idem, p. 92.
[39]
Escala de notas das principais agências de classificação. Para um melhor entendimento de como isso funciona, acesse:
<https://economia.uol.com.br/financas-pessoais/guias-financeiros/entenda-o-que-e-grau-de-investimento.htm>. [N. do
T.]
[40]
Vide “Why Everyone Loved Moody’s,” in All the Devils Are Here , Bethany McLean e Joe Nocera (Nova York:
Portfolio/Penguin, 2010), p. 110-124.
[41]
“A LTCM foi um grande fundo de hedge liderado por economistas vencedores do Prêmio Nobel e empresá rios
renomados de Wall Street que quase arruinou o sistema global financeiro em 1998 como resultado de estratégias de
negociaçã o de arbitragem de alto risco”. Fonte: <https://www.investopedia.com/terms/l/longtermcapital.asp>. Acesso
em: 27 nov 17. [N. do T.]
[42]
Dicioná rio Online Caldas Aulete, verbete orgulho .
[43]
R. K. Harrison, “Pride,” em Encyclopedia of Biblical & Christian Ethics , ed. Harrison (Nashville: Thomas Nelson, 1992
edition), p. 323-324.
[44]
Thomas Sowell, The Vision of the Anointed (New York: Basic Books, 1995).
[45]
Idem , p. 115-124 e outros lugares.
[46]
Thomas Sowell, The Housing Boom and Bust (New York: Basic Books, 2009), p. 31-56.
[47]
Idem , p. 46, 49. Em seu crédito, Alan Greenspan divulgou avisos cada vez mais firmes sobre a bolha imobiliá ria (p. 47-
48).
[48]
Ibidem , p. 11-18.
[49]
Este capítulo contém uma versã o ligeiramente revisada e expandida de uma palestra que proferi em 1 de abril de
2015, no OCPAC, o Oklahoma City Political Action Committee. Agradeço a meus amigos Lowell LeFervre e Bob Linn por
tornarem essa visita possível. Sob a liderança do recém-aposentado Charlie Meadows, o OCPAC literalmente reconfigurou
o mapa político de Oklahoma. Ou seja, ela tornou-se radicalmente mais conservadora e cristã .
[50]
A palavra inglesa “liberalism”, no sentido político-econô mico norte-americano, possui uma nuance que exige
explicaçã o aqui: quando aplicada contrastando com “conservatism” (conservadorismo), ela não se refere, como aqui no
Brasil e também na Europa, ao liberalismo econô mico tal como o conhecemos (Adam Smith, Escola Austríaca etc.), mas à
ala política oposta aos conservadores. Nesse caso, optamos por traduzir o termo como “esquerdismo”; consequentemente,
“liberals” foi traduzido como “esquerdistas”, apesar de existir um termo específico para ambos no inglês (“leftism” e
“leftists”, respectivamente). O pró prio autor, logo adiante, explica que “o mais importante nã o são as palavras em si
mesmas, mas o que elas querem dizer”. [N. do T.]
[51]
José Guilherme Merquior, O liberalismo – antigo e moderno (São Paulo, SP: É Realizaçõ es, 2014).
[52]
Para um relato completo, veja Robert Nisbet, Conservatism: Dream and Reality (New Brunswick, Nova Jersey:
Transaction, 2002), p. 37-84.
[53]
Uma breve porém persuasiva genealogia, mencionando a profunda influência marxista sobre o liberalismo americano,
está em Erik von Kuehnelt-Leddihn, “The Iron Rod of American Liberalism”, Chronicles , Nov. 1988, p. 15-17.
[54]
Os liberais políticos de hoje sã o de estirpe muito diferente da dos liberais “antigõ es” do século XX, como Franklin D.
Roosevelt, John F. Kennedy e Martin Luther King Jr. O que conhecemos como liberais hoje sã o denominados com mais
precisã o de radicais . Diferente de seus predecessores, eles nã o querem simplesmente corrigir desigualdades específicas
(reais ou imaginá rias) da sociedade. Como os revolucioná rios franceses e os marxistas, eles querem transformar a
sociedade radicalmente. Veja Barry Rubin, Silent Revolution: How the Left Rose to Political Power and Cultural Dominance
(Nova York: HarperCollins, 2014).
[55]
Herman Dooyeewerd, No crespúculo do pensamento ocidental (Sã o Paulo, SP: Editora Hagnos, 2010).
[56]
Lembro-me das palavras de Kuehnelt-Leddihn: “Em nossa era fundamentalmente irracional, é prová vel que
precisemos temer o poder infernal da estupidez feroz mais do que a perversidade habitual”, em “The Iron Rod of
American Liberalism”, p. 17.
[57]
John Passmore, The Perfectibility of Man (Nova York: Charles Scribner’s Sons, 1970), p. 168-170.
[58]
Thomas Molnar, Utopia, the Perennial Heresy (Nova York: Sheed & Ward, 1967).
[59]
“Attorney: Norway suspect surprised attacks succeeded.” Disponível em:
http://www.cnn.com/2011/WOLRD/europe/07/26/norway.terror.attacks/ . Acesso em: 24 fev. 2015.
[60]
“State Department spokeswoman floats jobs as answer to ISIS.” Disponível em: <
http://www.foxnews.com/politics/2015/02/17/state-department-spokeswoman-floats-jobs-as-answer-to-isis/> .
Acesso em: 24 fev. 2015.
[61]
Graeme Wood, “What ISIS Really Wants.” Disponível em: <
http://www.theatlantic.com/features/archive/2015/02/what-isis-really-wants/384980/ >. Acesso em: 24 fev. 2015.
[62]
Thomas Sowell, Os intelectuais e a sociedade (Sã o Paulo, SP: É Realizaçõ es, 2013), p. 247-316.
[63]
Para mais detalhes sobre essa linha de pensamento, veja Russell Kirk, The Conservative Mind (Chiago: Regney, 1953).
[64]
Peter Jones, One or Two, Seeing a World of Difference (Escondido, California: Main Entry, 2010).
[65]
Kenneth Minogue, The Servile Mind: How Democracy Erodes the Moral Life (New York: Encounter, 2010), p. 296.
[66]
Em alguns estados dos EUA, as leis de notificaçã o parental (“parental notification laws”) permitem que meninas
menores de 18 anos pratiquem aborto sem a necessidade de autorização dos pais. [N. do T.]
[67]
Angelo M. Codevilla, The Ruling Class (Nova York: Beaufort, 2010).
[68]
Thomas Sowell, The Vision of the Anointed (Nova York: Basic Books, 1995).
[69]
J. Richard Middleton, “A New Heaven and a New Earth: The Case for a Holistic Reading of the Biblical Story of
Redemption”, Journal for Christian Theological Research 11 (2006): 77-82.
[70]
O texto deste apêndice foi originalmente publicado pela Coast Federal Savings Free Enterprise Department na década
de 1960.

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