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Prefá cio
I. Ateísmo econô mico: o impulso religioso do intervencionismo
II. Marxismo Libertá rio: a ditadura do igualitá rio
III. Raízes teoló gicas da crise financeira
IV. As pressuposiçõ es teoló gicas do esquerdismo político
Apêndice 1: Cristianismo e capitalismo
A desgraça do ateísmo na economia
P. Andrew Sandlin
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Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
EDITORA MONERGISMO
SIA Trecho 4, Lote 2000, Sala 208 — Ed. Salvador Aversa
Brasília, DF, Brasil — CEP 71.200-040
www.editoramonergismo.com.br
1ª ediçã o, 2018
Traduçã o: Felipe Sabino de Araú jo Neto e Leonardo Galdino
Revisã o: Fabrício Tavares de Moraes e Má rcio Sobrinho
PROIBIDA A REPRODUÇÃ O POR QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕ ES, COM INDICAÇÃ O DA FONTE.
Todas as citaçõ es bíblicas foram extraídas
da versã o Almeida Revista e Atualizada (ARA) salvo indicaçã o em contrá rio.
Sumário
Prefácio
I. Ateísmo econômico: o impulso religioso do intervencionismo
II. Marxismo Libertário: a ditadura do igualitário
III. Raízes teológicas da crise financeira
IV. As pressuposições teológicas do esquerdismo político
Apêndice 1: Cristianismo e capitalismo
Prefácio
Russell Kirk afirmava enfaticamente que “a ideologia é a doença, nã o a cura. Todas as
ideologias, incluindo a ideologia da vox populi vox Dei , sã o hostis à permanência da ordem,
da liberdade e da justiça. A ideologia é a política da irracionalidade apaixonada”. [1]
À vista disso, temos conosco, nestes breves ensaios de Andrew P. Sandlin, ideias vigorosas
acerca da mais recente paixã o humana — a ideologia. Ou, mais precisamente, a mais
inflamada religiã o da modernidade: um culto gnó stico que reduz a riqueza da ordem
criacional a um monismo abstracionista que funde e subordina toda a realidade a um
princípio imanente. É , portanto, esse fio — a ideologia — que é dissecado, neste livreto,
com o gume da Palavra divina, nã o somente expondo a deformidade de visõ es sociais e
políticas que ingenuamente concebemos como compatíveis à fé cristã , mas também
alertando-nos dos perigos que espreitam todo pensamento humano que se estriba em
outro fundamento que nã o a revelaçã o.
***
Nos ensaios “O ateísmo econô mico” e “Raízes teoló gicas da crise financeira”, Sandlin segue
a linha de um Rushdoony e de um Gary North, mostrando como a economia, ao contrá rio
do que pensam tanto socialistas quanto liberais, é também governada pela lei de Deus,
estando, pois, subordinada à ética bíblica. E nã o somente isto, afinal, todo pensamento
econô mico que nã o leve em conta a providência divina invariavelmente torna-se
imanentista, julgando que toda a riqueza é fruto apenas do trabalho humano, e nã o também
(e principalmente) da graça divina (cf. Salmo 127).
O autor, partindo do pressuposto bíblico de que a religiã o (o impulso a uma origem
suprema que fornece o sentido para todas as coisas) determina a totalidade da açã o
humana, elenca três tó picos — “providência”, “natureza humana” e “riqueza” — que
influenciam a visã o econô mica do progressismo e mesmo de pessoas que
inconscientemente sã o por ele influenciadas.
De fato, se Deus veste gloriosamente a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada
no forno, quanto mais a nó s, homens de pequena fé? Assim, os intervencionistas creem que
o Estado, e nã o Deus, é o agente que provê nossas necessidades desde o nascimento até a
morte. Nas palavras de Sandlin:
[4]
Já nos ensaios “Marxismo libertá rio” e “As pressuposiçõ es teoló gicas do esquerdismo
político”, Sandlin apresenta, no primeiro deles, um breve panorama, seguido de aná lise
teoló gica, acerca da revoluçã o que sem dú vida moldou e estabeleceu grande parte do
comportamento moral, cultural e principalmente sexual do mundo de hoje. De fato, as
manifestaçõ es que tomaram as ruas de Paris em 1968, que retroalimentaram alguns
posicionamentos filosó ficos (em especial o pensamento de Sartre e Foucault) e foram o
fruto imediato das ideias de Marcuse, marcaram todo o imaginá rio do Ocidente, atingindo
mesmo países periféricos como o Brasil, com o maoísmo de um Godard, por exemplo. Nas
palavras de Sandlin:
Eles se convenceram cada vez mais de que a revoluçã o marxista-
leninista era só o começo. Ela nã o foi longe o bastante. O marxismo
nã o era suficientemente radical. Tinha de oprimir e mudar a
cultura inteira. Tinha de mudar a maneira como as pessoas
pensam, nã o apenas como compartilham seus bens. A economia
fora só o começo.
Esses jovens radicais começaram a acreditar que tinham a
obrigaçã o de defender os marginalizados da sociedade — gays,
negros, mulheres, imigrantes e presidiá rios. Eles começaram a
acreditar que a pró pria estrutura da sociedade ocidental, nã o
apenas o aspecto econô mico, era opressiva. Mudar a política nã o
bastava; seria trocar um tirano por outro. Eles tinham de mudar a
pró pria cultura.
Ora, a cultura é tanto o resultado direto do domínio do homem sobre a criaçã o, conforme
designado por Deus, quanto um conjunto de princípios éticos, estéticos e religiosos que
serve à s geraçõ es subsequentes como diretriz para diversas atividades humanas. Dessa
maneira, a transmutação cultural pretendida pelos revolucioná rios do século XX significou
nã o apenas uma ruptura do homem em relaçã o à visã o de domínio anteriormente exercido
sobre o mundo, mas também a fomentaçã o de uma nova mentalidade.
As sementes do caos sexual que tem sido atualmente promovido até mesmo entre as
escolas foram lançadas nessa época propícia. A revolta contra a sexualidade em ú ltima
instâ ncia é uma hostilidade para com a ordem divina. Segundo Rousas J. Rushdoony: “Para
superar a imutabilidade da sexualidade, a rebeliã o dos anos 60 e 70 exaltava a ideia do
unissex. A fim de subjugar a ordem de Deus, a juventude revolucioná ria, em suas
vestimentas e cumprimento do cabelo, esforçou-se por obliterar as distinçõ es sexuais”. [7]
Roger Kimball, por seu turno, em sua obra The Long March: How the Cultural Revolution of
the 1960s Changed America [A longa marcha: como a revoluçã o cultural dos anos 60 mudou
a América] afirma que a cultura do mundo contemporâ neo é, em grande parte, o efeito
dessas profundas transformaçõ es irracionalistas:
Nó s — o mundo industrializado, tecnologizado — jamais fomos tã o
ricos. E, todavia, numa medida extraordiná ria, nó s, no Ocidente,
continuamos a habitar no universo moral e cultural moldado pelos
imperativos hedonistas e pelas ideias radicais dos anos 60.
Culturalmente, moralmente, o mundo em que habitamos é um
mundo-lixeira: viciados em sensaçã o, cercados por toda parte pelo
ruído cacofâ nico e entorpecente do rock, saturados com
pornografia, escravos do mínimo denominador comum em tudo
referente ao gosto, modos ou sensibilidade intelectual. Marwick
estava certo: “A revoluçã o cultural, em suma, teve consequências
contínuas, ininterruptas e duradouras”. [8]
E é essa mixó rdia de pressupostos pelagianos, anticristã os e humanistas que constituem a
base do atual esquerdismo, segundo a aná lise de Andrew Sandlin. Se partirmos da crença
de que a violência é resultado direto da desigualdade econô mica ou do ambiente social
circundante, segue-se que o caminho para a mudança de comportamento de criminosos e
de contraventores é a reeducação , e nã o a regeneraçã o. É assim que políticos estabelecem
relaçõ es imorais com grupos terroristas, com ditadores e autocratas:
Os esquerdistas defendem incessantemente o diá logo e a
diplomacia, mesmo com os ditadores mais sangrentos e sedentos
de poder como os líderes do ISIS e Vladimir Putin, presidente da
Rú ssia. Esses líderes nã o sã o maus; estã o apenas equivocados. Se
nó s, esquerdistas sensatos, pudermos tã o somente sentar e
conversar com eles, poderíamos persuadi-los de seus caminhos
errô neos. É exatamente esse tipo de política estrangeira
completamente ingênua que fomenta mais agressã o e tirania.
E aqui cabe uma aplicaçã o à s nossas atuais circunstâ ncias. Pois, no Brasil, particularmente,
a capitulaçã o de toda uma sociedade à violência e caprichos de um narcoestado é a
consequência de um longo processo de erosã o da moralidade cristã (e consequentemente
da capacidade de formulaçã o de juízos éticos) aliada a um conluio deliberado entre agentes
políticos e criminosos. Num seu artigo intitulado “Bandidos & Letrados”, o filó sofo Olavo de
Carvalho resumidamente enumera os resultados dessa perspectiva teológica do
progressismo em relaçã o à criminalidade:
Humanizar a imagem do delinquente, deformar, caricaturar até os
limites do grotesco e da animalidade o cidadã o de classe média e
alta, ou mesmo o homem pobre quando religioso e cumpridor dos
seus deveres — que neste caso aparece como conformista
desprezível e virtual traidor da classe —, eis o mandamento que
uma parcela significativa dos nossos artistas tem seguido
fielmente, e a que um exército de soció logos, psicó logos e
cientistas políticos dá discretamente, na retaguarda, um simulacro
de respaldo “científico”.
À luz da “ética” daí resultante, nã o existe mal no mundo senã o a
“moral conservadora”. Que é um assalto, um estupro, um
homicídio, perto da maldade satâ nica que se oculta no coraçã o de
um pai de família que, educando seus filhos no respeito à lei e à
ordem, ajuda a manter o status quo ? O banditismo é em suma,
nessa cultura, ou o reflexo passivo e inocente de uma sociedade
injusta, ou a expressã o ativa de uma revolta popular
fundamentalmente justa. [...] A conexã o universalmente admitida
entre intençã o e culpa está revogada entre nó s por um atavismo
marxista erigido em lei: pelo critério “ético” da nossa
intelectualidade, um homem é menos culpado pelos seus atos
pessoais que pelos da classe a que pertence. [9]
Por fim, como apêndice ao presente livreto, temos o artigo “Cristianismo e capitalismo”, de
Rousas J. Rushdoony, uma das grandes influências ao pensamento de Sandlin e nome que
felizmente dispensa apresentaçõ es para aqueles que de fato se interessam por uma aná lise
vigorosamente bíblica do pensamento político, econô mico e histó rico.
No texto em questã o, Rushdoony defende que, sendo a lei o requisito para toda liberdade,
logo a pró pria liberdade econô mica só é possível por meio de sua fundamentaçã o na
vontade divina revelada. Disto, o teó logo procede com sua perspectiva de que a lei do amor,
diferentemente da interpretaçã o sentimentalista do humanismo e de algumas vertentes
cristã s, é a base para a cooperaçã o e concorrência numa sociedade de livre mercado. A
ideia de que os homens estã o em guerra absoluta, mais hobbesiana do que bíblica, nã o
prevê a atuaçã o da providência divina no mundo; e a perspectiva marxista, que anseia pela
cooperaçã o (ainda que coercitiva) de todos em prol do bem-estar coletivo, nã o leva em
consideraçã o, por sua vez, os juízos e recompensas que Deus anuncia em sua Palavra e que
se estende a crentes e descrentes. Assim, segundo Rushdoony:
Historicamente, a competiçã o do mercado livre tem sido apenas
possível onde uma cultura comum e uma fé comum levam
indivíduos a cooperarem uns com os outros. Os homens competem
por cooperaçã o na confiança que outros respeitem a qualidade, e
eles constantemente melhoram seus produtos e serviços para
conseguir essa cooperaçã o. A cooperaçã o morre se a competiçã o
morrer, pois entã o a “traçã o”, compulsã o e a força substituem as
atividades livres e cooperativas do mercado.
Portanto, contra o antinomianismo de nossos dias, que assola especialmente a igreja
brasileira, Rushdoony nos conclama a novamente reestabelecermos o padrã o do amor
tanto em nossa vida individual quanto social: isto é, a obediência e cumprimento da lei
divina (Romanos 13.10).
Post Tenebras Lux
— Dr. Fabrício Tavares de Moraes
Janeiro de 2018
I. Ateísmo econômico: o impulso religioso do
intervencionismo
Introdução [10]
Começo com uma premissa ousada — alguns diriam impudente: a visã o econô mica de
alguém sem dú vida indica sua cosmovisã o. Afirmo ainda que a disputa sobre economia em
que o Ocidente está envolvido hoje consiste em um conflito de cosmovisõ es e visõ es.
Sustento, por fim, que essas cosmovisõ es e visõ es têm raízes religiosas (como todas as
cosmovisõ es e visõ es sã o em ú ltima instâ ncia). Como consequência, as batalhas econô micas
e de política econô mica sã o religiosas, mesmo que muitas vezes implicitamente religiosas.
O conceito de cosmovisã o tem se destacado desde o século XIX. As cosmovisõ es sã o, pura e
simplesmente, formas de ver o mundo. Na esteira de Immanuel Kant, os pensadores
passaram a perceber que nó s, seres humanos, construímos uma realidade mental a partir
do mundo objetivo encontrado em qualquer lugar. O todo dessa realidade é a
[11]
as visõ es sã o ainda mais bá sicas que as cosmovisõ es. As visõ es sã o pré-cognitivas, quase
intuitivas, impulsos sobre o funcionamento do mundo. Enquanto as cosmovisõ es se
centram no pensamento, as visõ es se concentram em nossas percepçõ es e intuiçõ es — os
sentimentos viscerais, poderíamos dizer.
Todavia, há uma questã o ainda mais profunda: o impulso religioso. A questã o atordoante é:
como o homem se relaciona com Deus? Julgo essa divisã o na humanidade a mais bá sica de
todas. Nos termos do apó stolo Paulo, é uma divisã o entre quem adora e serve ao Criador e
quem adora a criaçã o e serve a ela (Rm 1.25), incluindo o pró prio homem. [13]
as coisas. Sustentamos que Deus age no mundo. Ele estabelece e derruba reinos. Nã o
cremos que ele coaja a escolha humana para realizar sua vontade. Ele opera de forma
orgâ nica com as escolhas do homem para cumprir seu desejo. Nã o podemos explicar
plenamente por que ele permite o mal. Seus caminhos sã o misteriosos. Mas preferirmos os
caminhos misteriosos e benevolentes de Deus à fé nos caminhos não misteriosos e não
benevolentes do homem .
Isso chega ao cerne dos impulsos religiosos do intervencionismo e do nã o
intervencionismo econô mico.
Nó s, nã o intervencionistas, confiamos que Deus age no mundo. No seu tempo, ele
recompensa a justiça e pune o mal. Abençoa escolhas econô micas sá bias. Ele governa os
investimentos. Faz algumas empresas terem sucesso e outras fracassarem. Nem sempre
entendemos seus caminhos, mas cremos que ele age ativamente. No final, a verdade e a
justiça triunfarã o no mundo — e no mercado.
A forma principal de implementar sua providência é a açã o humana. Salomã o escreve: “O
coraçã o do homem traça o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos” (Pv 16.9). Sem
coagir as escolhas do homem ou anular sua personalidade, Deus opera nele para realizar
seus propó sitos na vida do indivíduo e no mundo.
Em ú ltima instâ ncia, a histó ria humana é o que é por causa da soberania divina. Mas de
maneira imediata ela decorre da açã o humana. Sem dú vida, essas decisõ es sã o muitas vezes
comunais (família, empresa, igreja e Estado), mas essas comunidades consistem em
indivíduos reflexivos e atuantes. No fim, os indivíduos sã o responsá veis. Eles sã os os
principais agentes da providência divina.
Nã o negamos que o pró prio Estado seja parte da ordenaçã o providencial do mundo por
Deus. Mas ele tem limites prescritos de acordo com a revelaçã o divina. O Estado protege
contra o abuso externo de pessoas e propriedades. Ele nã o está aqui para trazer perfeiçã o
absoluta e justiça có smica antes do almoço da pró xima quinta-feira, mas para permitir aos
indivíduos liberdade má xima sob a lei para pensar e agir e viver na boa terra de Deus
(1Tm 2.1,2).
Os indivíduos desenvolvem a pró pria salvaçã o (Fp 2.12), mas Deus está no centro de tudo,
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3).
Entretanto, os intervencionistas nã o confiam na providência divina. Eles já decidiram o que
é a sociedade justa e quã o rá pido ela deve aparecer. Os caminhos de Deus sã o muito
misteriosos e tardios. Deus permite que alguns fiquem ricos e outros permaneçam pobres,
mesmo que pobres apenas em sentido comparativo. Ele concede que capitalistas
gananciosos ganhem muito dinheiro, e nã o fornece aos pobres fornos micro-ondas,
aparelhos de blu-ray e jantares com costela com rapidez suficiente. De fato, de acordo com
muitos intervencionistas, Deus nã o existe ou deixou a ordenaçã o do mundo à humanidade
— de forma específica para uns poucos indivíduos nobres, sá bios e dotados, pessoas como
eles, claro. As elites.
Para a maioria dos intervencionistas, portanto, o Estado equivale à providência secular . A
política ocupa o papel da providência ocupada por Deus no impulso do adorador do
Criador. Os intervencionistas perderam a fé em Deus, ou pelo menos no Deus ativo e
cuidadoso em relaçã o ao mundo. Portanto, eles colocam sua esperança e sonhos de justiça
econô mica no Estado.
O Estado deve resgatar as companhias falidas (com dinheiro confiscado sob coerçã o de
seus cidadã os, é claro). Ele deve prover para os idosos (ou, como foi sugerido), permitir sua
eliminaçã o quando nã o mais servem aos propó sitos sociais (da elite). Deve educar os
jovens no caminho da justiça, bondade e democracia. O Estado deve equalizar rendimentos
visto que a desigualdade econô mica é injusta. Injusta, é claro, aos olhos da elite
intervencionista.
Essa justiça imposta deve ser implementada, mesmo que produza danos econô micos à
sociedade. Ouça uma parte da conversa entre o candidato Barack Obama e o â ncora da ABC
News, Charlie Gibson, no debate das primá rias presidenciais do partido democrata na
Pensilvâ nia:
GIBSON: — Em cada caso, quando o imposto [sobre ganhos de capital] caiu, a receita oriunda dos
impostos aumentou; o governo recebeu mais dinheiro. E na década de 1980, quando o imposto foi
aumentado para 28 por cento, as receitas caíram.
Assim, por que aumentar o imposto, em especial quando se considera o fato de que 100 milhõ es de
pessoas neste país possuem açõ es e seriam afetadas?
OBAMA: — Bem, Charlie, eu disse que olharia para a elevação do imposto sobre ganhos de capital
para fins de equidade.
Vi um artigo hoje que mostrava que os 50 maiores gestores de fundos hedge fizeram 29 bilhõ es de
dó lares no ú ltimo ano — 29 bilhõ es de dó lares para 50 indivíduos. E parte do que tem acontecido é as
pessoas capazes de trabalhar no mercado de açõ es e acumular grandes fortunas sobre ganhos de
capital pagam uma taxa de imposto menor que a das suas secretá rias. Isso nã o é justo. [16]
Chamo sua atençã o para um fato saliente: mesmo que a diminuiçã o de impostos sobre
ganhos de capital estimule a economia (ajudando assim os pobres) e crie o aumento das
receitas físicas, eles estã o errados por nã o ser justo. Barack Obama resolveu decidir o que é
justo, mesmo que a justiça prejudique os pobres e o restante do país.
A questã o nã o é riqueza e pobreza. A questã o é o papel das elites em brincar de Deus na
hora de decidir quem recebe o quê.
Essa é outra forma de afirmar: os intervencionistas desejam que o Estado brinque de Deus.
Eles nã o podem confiar que Deus seja Deus.
Digo que o intervencionismo é em sua raiz um credo infiel, agnó stico e mesmo ateísta.
Mesmo quando os cristã os o defendem, eles pensam e agem como incrédulos, nã o como
cristã os.
2. Natureza humana
Há um segundo aspecto do conflito econô mico com raízes nos dois ímpetos religiosos
conflitantes. Ele talvez seja mais bem resumido por um incrédulo, François Bizot, o ú nico
jornalista sobrevivente à captura pelo Khmer Vermelho, o partido comunista radical do
Camboja que assassinou um terço da populaçã o do pró prio país entre 1975 e 1979.
Apó s observar o Khmer Vermelho à curta distâ ncia, e de forma dolorosa, ele escreveu:
Detesto a noçã o de um novo amanhecer em que o Homo sapiens [humanidade] viverá em harmonia. A
esperança engendrada por essa utopia justificou os extermínios mais sanguiná rios na histó ria. [17]
O Khmer Vermelho nã o foi o ú nico. Robespierre e Lênin, Stá lin e Mao, Ho Chi Min e Pol Pot
— todos criam que a humanidade era inerentemente boa, mas ela havia sido corrompida
por instituiçõ es humanas. Eles poderiam inaugurar a utopia se conseguissem reestruturar
a natureza humana — expulsar o individualismo, o interesse pró prio e a fidelidade
religiosa tradicional do coraçã o humano. Todos eles falharam de modo absoluto. Deixaram
milhõ es de pessoas mortas, assassinadas, torturadas e desumanizadas.
Por que a maioria dos tiranos no mundo moderno abraça conceitos otimistas em demasia a
respeito da natureza humana? Por que à raiz da liberdade humana está uma visã o sombria
da natureza humana? Essa justaposiçã o nã o é contraditó ria? Nã o, nã o é.
Deveríamos conhecer o ponto de vista do adorador do Criador. O homem nasce pecador.
Mas ele pode ser redimido por Jesus Cristo, que morreu para nos salvar dos nossos pecados
se confiarmos nele (Jo 3.16).
Todavia, a natureza humana, mesmo a natureza humana redimida, nã o existe à parte do
pecado nesta vida. Ela pode ser aprimorada pela graça divina, mas nã o se torna perfeita
(1Jo 1.9,10). Sem dú vida, ela nã o pode ser aperfeiçoada pelo homem. Ela será perfeita, na
eternidade, mediante a atuaçã o de Deus e nã o pelo poder do homem. Em outras palavras,
cremos na perfectibilidade sobrenatural futura, nã o na presente.
Todos nó s desejamos a salvaçã o, a vida melhor agora para nó s mesmos, para nossa família
e amigos e a vida futura melhor que a presente. Todos concordamos que o mundo nã o é o
que deveria ser, e deveria ser melhor do que é.
Contudo, a humanidade em pecado tornou este mundo menor que o ideal. Poderíamos ter
um mundo melhor, se apenas fô ssemos uma humanidade melhor.
Deus tem a resposta para o problema — a salvaçã o do pecado em seu Filho Jesus Cristo
(Jo 14.6). Essa é a ú nica forma de transformaçã o do mundo — quando Deus transforma o
homem de maneira gradual, embora nunca de modo pleno na vida presente. Isso se chama
santificaçã o. Deus nos conforma à imagem do seu Filho de forma crescente. A conformidade
comporta benefícios sociais. Entretanto, a santificaçã o nã o chega ao fim nesta vida.
Isso significa que os cristã os negam a possibilidade de utopias terrenas. Podemos ter
[18]
um mundo melhor, mas apenas nos termos de Deus e com seu poder — e nunca em
plenitude antes do estado eterno. [19]
Os adoradores do Criador afirmam que a natureza humana nã o é maleá vel pelo homem.
Nã o podemos mudar o que significa ser humano. Só Deus é capaz de nos mudar, e ele
escolheu nos transformar de maneira cabal apenas na eternidade.
Mas os adoradores da criatura desistiram de recorrer ao sobrenatural. Portanto, eles
depositam a esperança em meios naturais para transformar a natureza humana. Enquanto
os adoradores do Criador defendem a perfectibilidade sobrenatural futura, os adoradores da
criatura confiam na perfectibilidade natural presente .
Isso é uma receita para o horror, e essa receita foi levada ao forno vá rias vezes nos ú ltimos
300 anos — sempre servida no mesmo prato amargo.
E a receita quase sempre inclui a intervençã o econô mica como um dos ingredientes
principais.
Algumas vezes identificamos Estados marxistas como paraísos de engenharia social.
Porém, eles também sã o focos de engenharia econô mica, e um raramente se encontra sem
o outro. Engenheiros econô micos, como engenheiros sociais (o que a maioria deles é),
cobiçam as alavancas da política de coerçã o porque querem transformar a natureza
humana mediante a transformaçã o das condiçõ es humanas.
Isso nã o é menos verdade nos intervencionistas democrá ticos do Ocidente que nos
marxistas radicais.
Já no antigo Manifesto humanista I (1933), assinado por pessoas como John Dewey, se lê:
O humanismo religioso afirma que todas as associaçõ es e instituiçõ es existem para a realizaçã o da
vida humana. A avaliaçã o, a transformaçã o, o controle e a direçã o inteligente dessas associaçõ es e
instituiçõ es com a visã o voltada para a expansã o da vida humana consiste no propó sito e programa
do humanismo. Sem dú vida, as instituiçõ es religiosas, suas formas ritualísticas, seus métodos
eclesiásticos e suas atividades comunitá rias precisam ser reconstituídos com tanta rapidez quanto a
experiência permitir, de modo que funcionem de modo efetivo no mundo moderno.
Os humanistas estã o firmemente convencidos de que a existente sociedade motivada pelo lucro e
acú mulo tem se mostrado inadequada, e que a mudança radical nos métodos, controles e motivos
precisa ser instituída. É preciso estabelecer uma ordem econô mica cooperativa e socializada para
possibilitar o objetivo da distribuição equitativa dos meios de vida. O objetivo do humanismo é a
sociedade livre e universal em que as pessoas cooperem para o bem comum de forma voluntá ria e
inteligente. Os humanistas exigem a vida compartilhada no mundo compartilhado.
Observe a conexã o. O ímpeto religioso do homem deve reformular a cultura e sociedade a
fim de reestruturar a humanidade nova e completa. E a forma para fazer isso é empregar o
intervencionismo. O intervencionismo é a ferramenta social para criar a natureza humana
nova e aprimorada.
O homem deve estar no centro de todas as coisas, e o intervencionismo precisa garantir a
sociedade humana justa — segundo a definiçã o dos elitistas, claro.
Nem todos os intervencionistas defendem a perfectibilidade humana, mas quase todos
colocam a esperança na economia politizada para alterar o ambiente a fim de transformar o
homem. O homem é cobiçoso. As elites devem tirar a ganâ ncia dele para que se possa ter
uma sociedade justa e correta. Isso se faz mediante o confisco da riqueza e das posses do
homem, tornando-o dependente do Estado para obter saú de, educaçã o e bem-estar e ao
desencorajar há bitos danosos como fumar tabaco, ingerir comidas gordurosas e possuir
armas de fogo.
Homem e mulher podem ser melhores do que sã o, e nó s — a elite, os virtuosos, os
magnâ nimos, os abnegados, os sá bios e, acima de tudo, os humildes — podemos construir
um mundo melhor ao reconfigurar a natureza humana.
Vejam: quando o homem perde a esperança na santificação espiritual, ele passa a esperar
pela perfectibilidade humana. Do mesmo modo que o intervencionismo é uma forma de
providência secular, também a engenharia social é uma maneira de santificação secular .
Deixemos isso mais concreto.
Ouvimos a expressã o “os melhores anjos de nossa natureza”. Nestes dias, sempre parece
haver um componente político anexado. Poderíamos denominá -lo perfectibilidade política
— o conceito, em geral implícito, de que na política se pode fazer algo impossível fora dela.
Os políticos oferecem um tipo de santificaçã o pessoal. O Estado nos torna pessoas
melhores.
Deixados só s, nó s nos permitimos acumular com avidez mais posses que o necessá rio. Nã o
temos nenhum cuidado pelos idosos ou cuidados médicos dos concidadã os. Há , entretanto,
um remédio para essa doença: o Estado. Ele nos santifica, e extrai o melhor da natureza
humana. O Estado nos toma a riqueza e a redistribui de maneira mais justa. Ele nos faz
pessoas melhores do que somos.
Deixados só s, educamos nossos filhos de maneira egoísta, estreita e unidimensional.
Todavia, o Estado santifica nossos filhos. Nas escolas estatais eles aprendem a obrigaçã o
global, os valores seculares e o igualitarismo. Nas escolas pú blicas nossos filhos sã o
libertados das amarras do interesse individualista e da religiã o tradicional (em geral, o
cristianismo). O Estado obtém sucesso com nossos filhos onde os pais falham.
Deixados só s, indulgenciamos há bitos poucos saudá veis como fumar tabaco, comer
alimentos gordurosos e possuir armas de fogo. Nã o se preocupe. O Estado é o grande
santificador. Ele limitará ou criminalizará essas açõ es injuriosas. Será bem-sucedido onde
falhamos. A natureza humana foi poluída. Mas o Estado a aperfeiçoará — nos fará melhor
do que somos.
Deixados só s, começamos negó cios que oprimem os trabalhadores, sem fornecer a
cobertura de planos de saú de, a licença maternidade, ou ao nã o oferecer salá rios altos o
suficiente. Esqueça-se de que esses benefícios nã o sã o gratuitos. Esqueça-se de que
podemos ser obrigados a despedir pessoas ou manter o nível de desemprego alto para
alcançar esses objetivos elevados. Esses sã o detalhes insignificantes. A questã o real é nos
fazer os “melhores anjos de nossa natureza”.
Nã o podemos fazer isso sozinhos, sem dú vida, e nã o podemos confiar no Deus providente
para nos tornar melhores. Entretanto, podemos confiar na política para nos fazer melhores.
O homem deixado a si mesmo é um triste destino. Mas o homem edificado pelo Estado
torna-se o que ele estava destinado a ser.
Essa é a agenda da perfectibilidade política.
Quando Barack Obama emitiu a seguinte declaraçã o conhecida: “Somos aqueles por quem
esperá vamos”, ele se valeu da linguagem da perfectibilidade política.
Os adoradores da criatura desejam a perfectibilidade humana à parte do Criador e de seus
caminhos. Se sã o a elite, desejam que o Estado assegure essa perfectibilidade. Porém, a
perfectibilidade é impossível sem o intervencionismo.
Afinal, transformar a natureza humana nã o é algo barato. É preciso de muito dinheiro para
aprimorá -la.
Todavia, a verdadeira questã o é mais profunda. O intervencionismo extermina as má s
qualidades do homem. Ele faz correçõ es que jamais confiaríamos ao indivíduo fazer. E, sem
dú vida, nã o se pode confiar que Deus faça essas transformaçõ es no homem.
Esse é o motivo de nossa esperança residir na perfectibilidade política.
A perfectibilidade política deseja a santificaçã o sem o Deus trino. Ela quer transformar o
homem de acordo com o antropocentrismo.
Afirmo que isso é nada menos que agnosticismo prá tico e ateísmo operacional. A
ferramenta da perfectibilidade política é o intervencionismo econô mico.
O intervencionismo deste segundo tipo procede de um impulso profundamente nã o cristã o.
3. Riqueza
Isso nos leva ao terceiro e ú ltimo conflito entre os impulsos religiosos rivais no que diz
respeito à economia. Ele versa sobre as visõ es concorrentes da riqueza e da produçã o e
transmissã o da riqueza. O problema aqui nã o é apenas o intervencionismo econô mico.
Existe também um viés estranho contra a concentraçã o da riqueza — nã o raro em círculos
cristã os, sob pretexto de piedade.
Com certeza, você poderia dizer, caso haja um lugar onde o testemunho cristã o fica ao lado
do intervencionismo, ele está aqui. Por exemplo, o que dizer de todas as advertências
bíblicas sobre o rico e a exaltaçã o do pobre?
Afinal, o rico terminou no fogo do inferno, e o pobre Lá zaro descansou no seio de Abraã o
(Lc 16.19-31).
Lê-se em Provérbios 23.5: “Porventura, fitará s os olhos naquilo que nã o é nada? Pois,
certamente, a riqueza fará para si asas, como a á guia que voa pelos céus”.
Tiago 5.1: “Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que
vos sobrevirã o”.
Devemos lidar com esses ensinos sem pestanejar.
A riqueza pode ser perigosa, e muitas vezes o é. Ela pode nos afastar da confiança plena na
provisã o divina, e inculcar em nó s o senso de autossuficiência e orgulho. A riqueza pode
desviar nossa atençã o das coisas eternas e monopolizar nossa vida.
Nã o é de admirar que muitos cristã os suspeitem e tenham até medo do dinheiro e dos
ricos.
Mas se lermos quase todos os textos bíblicos de perto, no contexto, eles consistem em
advertências contra o uso equivocado da riqueza. Nã o sã o condenaçõ es tá citas em si.
Encontramos advertências bíblicas similares sobre sexo e poder. Todavia, Deus nã o os
condena — apenas sua apropriaçã o indevida. Sexo, poder e riqueza, como fogo e á gua,
produzem grandes servos e poderosos mestres maus.
Na verdade, repetidas vezes a riqueza, nas Escrituras, é a recompensa pela fidelidade
paciente, sabedoria, diligência, humildade, generosidade e apoio ao reino do Senhor.
Isso nã o significa que todos os cristã os professos entendam essa relaçã o. Por exemplo,
existe o “evangelho da prosperidade”: Deus deseja que todos sejam saudá veis, gordos, ricos
e felizes; se nã o formos, carecemos de fé. Essa visã o é tã o tola que qualquer um que
conheça a Bíblia sabe de seu equívoco.
Os amigos de Jó (por exemplo) alegavam sua pecaminosidade porque Deus o privou da
riqueza. Todavia, os amigos estavam errados. Deus favoreceu Jó a despeito de sua pobreza,
que consistia na vontade de Deus para esse homem santo naquele está gio de sua vida.
O “evangelho da prosperidade” é uma caricatura do Evangelho bíblico.
Mas em reaçã o exagerada ao “evangelho da prosperidade” está o “evangelho da pobreza ”,
como vemos em Sojourners, em muitas igrejas evangélicas e na teologia da libertaçã o. [20]
Eis o conceito: Deus está sempre do lado dos pobres. Os ricos sã o inimigos de Deus — ou no
mínimo violam de forma perigosa a vontade dele. Os cristã os deveriam ser pobres ou, na
melhor das hipó teses, nã o ricos. O Estado existe também para impedir que as pessoas
fiquem muito ricas e para redistribuir a riqueza à s pessoas que de fato a merecem — os
pobres. A tarefa do Estado é impedir que os ricos fiquem mais ricos.
A mã o de Deus está por natureza com o pobre, a pobreza é uma bênçã o e a prosperidade
uma maldiçã o.
Existem, no entanto, ensinos bíblicos incompatíveis com o “evangelho da pobreza”, embora
pareçam ter menos popularidade na igreja cristã .
Lê-se, por exemplo, em Deuteronô mio 28 que Deus abençoará com grandes posses
materiais os fiéis a ele e à sua lei. É importante reconhecer a impossibilidade de
“espiritualizaçã o” dessas promessas. Eis as promessas divinas aos fiéis:
O SENHOR te dará abundâ ncia de bens no fruto do teu ventre, no fruto dos
teus animais e no fruto do teu solo, na terra que o SENHOR , sob juramento a
teus pais, prometeu dar-te.
O SENHOR te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no
seu tempo e para abençoar toda obra das tuas mã os; emprestará s a muitas
gentes, porém tu nã o tomará s emprestado. (v. 11,12)
De nenhuma forma essas promessas bem terrenas de riqueza podem ser transformas em
promessas etéreas e eternas referentes ao porvir. Nenhum judeu decente e temente a Deus
teria pensado assim. Elas sã o promessas bem concretas de riqueza temporal.
Da mesma forma, lê-se em Provérbios que se formos humildes, temermos a Deus e
trabalharmos duro, Deus nos abençoará em sentido material (13.4; 22.4).
O que dizer do Senhor? Ele parecia se dar bem com os ricos, nã o só com pobres. E ele
amava banquetes que exigiam riqueza. Essa era uma das acusaçõ es contra ele — Joã o
Batista era abstêmio, mas Jesus comia e bebia — festejava, poderíamos até dizer (Mt
11.19).
Jesus nã o só prometeu que seus discípulos teriam dificuldades no mundo, mas também: “J á
no presente, o cêntuplo de casas, irmã os, irmã s, mã es, filhos e campos, com perseguiçõ es; e,
no mundo por vir, a vida eterna ” (Mc 10.29,30).
Paulo escreveu: “ Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas
as circunstâ ncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de
abundâ ncia como de escassez” (Fp 4.12).
Nã o sã o palavras de um homem desconfortá vel com riqueza, e sim de um homem
confortá vel onde quer que Deus o coloque — incluindo-se o desfrute de enorme riqueza.
Recomendo fortemente o notá vel livro de John Schneider, The Good of Affluence [O bem da
afluência], se você deseja conhecer um argumento bíblico extensivo sobre a bondade da
riqueza. [21]
Algumas das linhas mais impressionantes e convincentes do livro expõ em a pará bola de
Jesus sobre os talentos (Mt 25); nela o bom mestre recompensa o investidor que trabalha
duro e pune o servo preguiçoso que enterra o dinheiro do seu senhor com segurança no
chã o.
Ouça Schneider:
Nã o há muito na teologia cristã hoje que honre a Deus como o guerreiro-rei,
ou que honre a coragem de pessoas piedosas no mercado. Todavia, eis uma
pará bola sobre o poder e o alargamento do domínio por meio da riqueza. É
uma pará bola que honra a coragem espantosa e a força de um guerreiro e
rei, que nã o vai parar até que seu reinado esteja ampliado sobre toda a
terra. É uma pará bola que honra a força e coragem de seus servos frutíferos
nas esferas mundanas do poder. Trata-se de uma pará bola que honra o
crescimento de pessoas que se tornam mais fortes, e fazem seu mestre mais
forte, por meio da criaçã o de riqueza. E é também uma pará bola do terrível
aviso contra o espírito tímido e a esterilidade em resposta ao mundo. [22]
Por que os cristã os nã o pensam hoje nesses termos? Que Deus nos responsabilizará pela
falta de investimento econô mico vigoroso e agressivo. Que ele punirá o servo miserá vel,
que temeroso mantém o dinheiro do Senhor bem trancado, que rejeita se envolver no
mercado para multiplicar o dinheiro do Senhor.
Nã o se engane — todo o dinheiro é do Senhor, e ele deseja que nó s o multipliquemos para
sua gló ria.
Portanto, o assalto generalizado e implícito sobre os executivos é um ataque sobre a obra
do Senhor.
Deixe-me dizer de maneira aberta: quando atacamos a riqueza e sua criaçã o como tal (nã o
sua perversã o), opomo-nos a uma parte crítica do plano do Senhor para expandir seu reino
no mundo.
Lidaremos com detalhes a respeito dessa afirmaçã o em um momento.
Pensamos de imediato na santimô nia que rodeia o “serviço pú blico”. Pú blico, sem dú vida,
significando político. John McCain é tã o culpado quanto Barack Obama ao enaltecer quem
se dedica ao “serviço pú blico”.
Ouvimos isso de maneira franca nas palavras de John F. Kennedy: “A açã o política é a
responsabilidade mais alta do cidadã o”.
Ah, verdade?
Nã o se engane. Eu aprecio os políticos fiéis (embora existam poucos) que trabalham duro
em prol de leis justas, de menos governo e da proteçã o de nossas fronteiras. Sou grato a
Deus por homens e mulheres que desempenham essa tarefa com fidelidade. Que Deus
possa nos dar mais pessoas desse tipo no “serviço pú blico”.
Que tal mudar o ritmo e aplaudir quem se encontra no “serviço privado”? Quero dizer as
mulheres e os homens que arriscam centenas de milhares de dó lares do pró prio dinheiro
para iniciar um pequeno negó cio.
Aplaudamos quem se levanta à s 4h30 da manhã e trabalha até à s 22 horas a fim de servir
outras pessoas fornecendo bens e serviços.
Defendamos os pequenos empresá rios que aguentam as leis salariais impostas pelo
governo, as regulamentaçõ es da Occupational Safety & Health Administration
[Administraçã o de Segurança e Saú de no Trabalho] e a hipocrisia de todos, de Barack
Obama a Sean Penn, para tentar servir à s pessoas e proporcionar uma vida melhor para os
empregados.
Sim, apoiemos pessoas que tornam possível à s crianças de lares modestos comer cereal
matinal, usar calças jeans e viajar à Disneylâ ndia de vez em quando.
Na maioria das vezes, essas pessoas — nã o os “funcioná rios pú blicos” — sã o instrumentais
na nossa alimentaçã o, vestimenta e habitaçã o, bem como de nossos filhos e netos — sob a
perspectiva humana e horizontal. Sã o elas que dã o, mesmo aos mais modestos entre nó s,
um grau de luxo — jantares ocasionais com costela, edredons, canetas-tinteiros,
aposentadoria 401(K), aquecimento e ar condicionado.
[23]
Conclusão
O intervencionismo econô mico é uma cosmovisã o agnó stica: ele coloca a providência
secular na mã o do Estado, e nã o na mã o do Deus soberano na vida de indivíduos criados à
sua imagem.
O intervencionismo econô mico nega a fixidez da natureza humana e atribui ao Estado a
tarefa de santificar — que deveria ser reservada só a Deus.
Além disso, ele corta o cordã o entre a fidelidade a Deus e a bênçã o da riqueza, negando,
portanto, o senhorio divino sobre vastas extensõ es do mundo.
Por essa razã o, o ímpeto religioso do intervencionismo econô mico guerreia contra o
cristianismo consistente.
Você pode ser um intervencionista econô mico, ou pode ser um cristã o consistente, mas nã o
pode ser as duas coisas.
Os príncipes tinham, por assim dizer, materializado a violência; as repú blicas democrá ticas de nossos dias
tornaram-na tã o intelectual quanto a vontade humana que ela quer coagir. Sob o governo absoluto de um só , o
despotismo, para chegar à alma, atingia grosseiramente o corpo; e a alma, escapando desses golpes, se elevava
gloriosa acima dele. Mas, nas repú blicas democrá ticas, nã o é assim que a tirania procede; ela deixa o corpo e vai
direto à alma. O amo nã o diz mais: “Pensará como eu ou morrerá ”. Diz: “Você é livre de nã o pensar como eu; sua
vida, seus bens, tudo lhe resta; mas a partir deste dia você é um estrangeiro entre nó s. Irá conservar seus
privilégios na cidade, mas eles se tomarã o inú teis, porque, se você lutar para obter a escolha de seus
concidadã os, eles nã o a darã o, e mesmo se você pedir apenas a estima deles, ainda assim simularã o recusá -la.
Você permanecerá entre os homens, mas perderá seus direitos à humanidade. Quando se aproximar de seus
semelhantes, eles fugirã o de você como de um ser impuro, e os que acreditarem em sua inocência, mesmo estes
o abandonarã o, porque os outros fugiriam dele por sua vez. Vá em paz, deixo-lhe a vida, mas deixo-a pior, para
você, do que a morte”. [26]
Essa é a tirania democrá tica do marxismo libertá rio. Poderíamos chamá -la de ditadura do
igualitário . Marx queria a ditadura do proletariado; os marxistas libertá rios querem — e
conseguiram — a ditadura do igualitá rio. Eles querem uma sociedade em que a igualdade
dite tudo.
4. COMBATENDO OS MARXISTAS LIBERTÁRIOS
Pintei um retrato drá stico e desolador. O sucesso final dos marxistas libertá rios é
inevitá vel? A visã o cultural deles pode ser frustrada?
A resposta é sim. Com Deus, tudo é possível (Mt 19.26). Seu reino vencerá no tempo e na
histó ria (1Co 15.22-28). Podemos nos sentir em desvantagem numérica. Isaías 1.9 diz: “Se
o SENHOR dos Exércitos nã o nos tivesse deixado alguns sobreviventes, já nos teríamos
tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra”. Mas assim como Deus destruiu o antigo
Império Romano e a poderosa Uniã o Soviética, ele pode destruir culturas que guerreiam
contra sua verdade.
Em segundo lugar, devemos tomar cuidado para nã o sugerir que a alternativa ao
radicalismo da década de 1960 é o conservadorismo que lhe antecedeu. Jamais devemos
ser sobretudo conservadores. Somos sobretudo o povo de Deus, comprometido com a sua
verdade. Havia defeitos de sobra no conservadorismo antecedente à década de 1960:
tradicionalismo, racismo, protecionismo econô mico. Que a cultura precisava mudar está
acima de qualquer dú vida; mas os marxistas libertá rios nã o eram as pessoas certas para
isso.
Em terceiro e ú ltimo lugar, transformaçõ es culturais só podem ser derrubadas por outras
transformaçõ es culturais. Nada mais fará isso.
Por exemplo, o marxismo libertá rio nã o será derrubado por vitó rias políticas, pela simples
razã o de que nã o foi estabelecido por elas. Ele foi estabelecido por vitó rias culturais. Foi
estabelecido ao mudar a maneira de pensar das pessoas, atuando, em seguida, sobre o
indivíduo, a família, a igreja, a economia, a tecnologia, o sexo, a mú sica, o direito e a
educaçã o.
O marxismo libertá rio será derrubado por algo nã o menos revolucioná rio. E esse algo é a fé
bíblica. Essa revoluçã o é muito maior que a igreja, e presumir que a transformaçã o da
igreja produz transformaçã o cultural é o cú mulo da ingenuidade. Sendo a cultura muito
mais ampla do que a igreja, logo, a revoluçã o tem de ser muito mais ampla do que a igreja.
Você e eu podemos — e devemos — ser parte dessa revoluçã o.
Toda vez que um homem e uma mulher fazem votos pú blicos de amar e cuidar um do
outro, com o marido assumindo a liderança autossacrificial e a esposa seguindo com zelo
perseverante, eles estã o executando atos santos de revoluçã o cultural.
Toda vez que um jovem cristã o solteiro se compromete com a abstinência sexual até o
casamento e resiste à comercializaçã o sexual de nossa sociedade, esse jovem trabalha para
derrubar nossa cultura de marxismo libertá rio.
Toda vez que um advogado cristã o se esforça para proteger famílias e igrejas da invasã o e
hostilidade ilegítimas do governo, ele está agindo como um revolucioná rio de Deus.
Toda vez que um empresá rio (ou empresá ria) cristã o recusa escolhas antiéticas, mesmo
quando essa escolha estorva o resultado final, ele está combatendo o marxismo libertá rio.
Toda vez que uma mã e cristã ensina a seus filhos que Deus é real e que Jesus é o ú nico
caminho para a salvaçã o, e que obedecer à Bíblia é a ú nica esperança de felicidade, ela está
sendo uma subversiva cultural.
Professar e praticar a fé bíblica, em todas as suas gloriosas e graciosas hierarquias, é a
alternativa revolucioná ria ao marxismo libertá rio.
E, no fim, ela — e somente ela — vencerá .
Tudo na vida é religioso, e tudo na vida é teoló gico. A questã o nunca é se a vida é religiosa
ou teoló gica, mas, antes, de que religiã o e de que teologia estamos falando. O secularista
mais ardoroso é religioso — ele orienta sua religiã o em torno da aversã o ou abandono a
Deus. Ele anseia pela certeza que somente a religiã o pode dar, mesmo se essa certeza for a
da in certeza e do relativismo moral. É por isso, também, que o regime secular sempre imita
o religioso, como fez a antiga Uniã o Soviética, com sua pró pria escritura (os escritos de
Marx e Engels), seus pró prios fiéis (os membros do Partido Comunista), sua pró pria
hierarquia (a burocracia estatal), seus pró prios pais da igreja (Lênin e Stá lin), seu pró prio
céu (o paraíso do proletariado) e seu pró prio inferno (a Gulag).
Isso se aplica igualmente à psicologia secular moderna. Ela é uma substituta do cuidado
espiritual vitalício da igreja, e até mesmo nã o-cristã os prontamente reconhecem esse fato.
[28]
Se esse mundo é o mundo de Deus; se ele o criou e o sustenta pelo seu poder e graça; se
conhecemos a Deus a partir de sua revelaçã o na natureza, na Bíblia, e principalmente em
seu Filho Jesus Cristo; se o mal neste mundo é o resultado do pecado humano, incitado por
uma criatura caída, Sataná s; se Deus tencionou redimir o homem e o mundo de sua
pecaminosidade enviando Jesus para morrer por nossos pecados e ressuscitar; se Deus
estabeleceu sua igreja para dar testemunho dessa redençã o; e se ele está conduzindo cada
aspecto da histó ria para um fim no qual sua vontade perfeita é realizada no universo
criado; se, digamos, tudo isso é verdade (como a Bíblia ensina que é), entã o cada aspecto da
vida é religioso. Nã o há nenhuma explicaçã o final confiá vel que nã o seja teoló gica.
[29]
minhas premissas sã o verdadeiras, nã o pode haver uma interpretaçã o acurada mais ampla
desse colapso à parte de uma consideraçã o da teologia. O discurso sobre empresas de
investimento gananciosas, amplo sobre-endividamento, abundâ ncia de hipotecas de alto
risco, swaps de risco de incumprimento (CDS), empréstimos predató rios, mutuá rios de
hipoteca insensatos, agências de avaliaçã o de crédito inescrupulosas, securitizaçã o
perigosamente complexa e interferência política destrutiva no mercado levantam a
pergunta: qual a causa primá ria disto? Afinal de contas, toda a economia se resume à s
açõ es humanas. Sucessos e colapsos econô micos nã o sã o como infecçõ es que você contrai
de forças impessoais — pessoas os produzem. Portanto, temos de perguntar, por que os
seres humanos agiram de forma a criar o colapso?
Poderíamos nos contentar em começar falando abstrata e genericamente da tragédia da
condiçã o humana. É assim que muitos conservadores nã o-teoló gicos prefeririam falar. A
humanidade é finita, limitada, fraca e arruinada. O homem só faz besteira. A crise financeira
nã o foi nenhuma surpresa. Nas palavras imemoriais do filó sofo iluminista Immanuel Kant,
“de uma madeira tã o torta, como aquela com a qual o homem é feito, nã o se pode construir
nada inteiramente reto”. Nã o seria errado considerar esse fato. Enquanto o homem vagar
sobre a terra, nã o haverá utopia econô mica — utopia alguma de qualquer tipo. A condiçã o
aparentemente mais imaculada logo se desintegra devido à fraqueza, defeitos e erros de
cá lculo do homem.
Mas entã o somos impelidos a inquirir: “ Por que o homem nunca toma jeito? Por que ele
costuma ser tã o desonesto?”. Essa pergunta nos impele à metafísica — e à teologia. A
resposta cristã , a resposta correta, é o pecado. O pecado é uma violaçã o da lei moral de
Deus (1Jo 3.4). Ele nã o é inerente à condiçã o humana. O homem foi criado originalmente
sem pecado, mas sucumbiu a ele e toda a raça participa dessa depravaçã o nativa. Como diz
o adá gio, o pecado original é o ú nico dogma do cristianismo que pode ser verificado
empiricamente. Este pecado esteve na raiz da crise financeira de 2008. De que formas?
[31]
1. AVAREZA
Talvez seja apropriado começar com o padrã o de juízo compartilhado tanto por estatistas
de esquerda como por populistas de direita: a raiz do problema é a avareza de Wall Street.
Perceba, em primeiro lugar, que este é um juízo moral , e, portanto, um juízo teoló gico.
Assim, desde o início, o coro dos críticos, muitos deles confessadamente seculares,
reconhece, embora involuntariamente, as raízes teoló gicas do colapso. Naturalmente,
percebo que a maioria nunca admitiria esse fato (eles acham que você pode ter moralidade
sem religiã o), mas ele é verdadeiro do mesmo jeito. Quando fazemos juízos morais —
especialmente juízos morais universais que consideramos autoevidentes, com os quais
esperamos que todo mundo concorde — estamos invocando a teologia. Dizer que “todo
mundo sabe que avareza é errado” nã o basta. A questã o real é: “Por que eles sabem ou
deveriam saber disso?”. Se a humanidade é simplesmente o ú ltimo está gio do
desenvolvimento evolucioná rio, entã o a moralidade é, como Nietzsche argumentou, uma
invençã o humana — e sua moralidade é tã o boa quanto a minha. Pumas e esquilos nã o sã o
criaturas morais. O homem está preocupado com a moralidade porque os padrõ es de
[32]
certo e errado lhe sã o impostos de fora (a moralidade é inata) — o homem é feito à imagem
de Deus e está encerrado, junto com seus semelhantes, dentro de padrõ es morais
universais. Ou seja, dentro de padrõ es teoló gicos.
Entã o, quando as acusaçõ es começaram no outono de 2008, foram acusaçõ es reconhecendo
as raízes teoló gicas da crise — independentemente do que os acusadores podiam ter
alegado estar reconhecendo.
Nã o há dú vidas de que a avareza era uma dessas raízes. Na tradiçã o cristã , ela é um dos
sete pecados capitais. A Bíblia a identifica como um pecado (1Co 5.10-11; Ef 4.19; 1Ts 2.5).
A cobiça, um sinô nimo comum para avareza, é uma violaçã o do décimo mandamento. Jesus
contou uma pará bola explicitamente sobre o pecado da avareza (Lc 12.15). O apó stolo
Paulo a identifica como idolatria (Cl 3.5), e diz que os avarentos nã o herdarã o o reino de
Deus (1Co 6.10).
A avareza geralmente é identificada como “o desejo excessivo por comida ou bebida, ou
avidez em consumi-los… ou [o desejo] por riqueza, por comida e bebida que vá além da
razã o e evidencie um tipo crasso de egoísmo”. [33]
Quanto de desejo é “excessivo”? Um
salá rio de 250 milhõ es de dó lares por ano é “além da razã o”, enquanto um de 125 milhõ es
nã o é? Uma BMW é excessiva (espero que nã o, pois tenho uma), enquanto o Chevy Lumia
nã o (minha esposa tem um; ela nã o sofre com o problema da avareza)? Aparentemente,
alguns outros critérios sã o necessá rios para identificar a avareza com mais precisã o. [34]
Jesus aponta dois critérios precisos em sua pará bola. Ele declara em seu prefá cio a essa
pará bola que “a vida de um homem nã o consiste na abundâ ncia de bens que ele possui” (Lc
12.15). E conclui a pará bola advertindo sobre aquele que “entesoura para si mesmo e nã o é
rico para com Deus” (Lc 12.21). Ou seja, quando uma pessoa faz da riqueza um bem em si
mesma, desconsiderando Deus e sua vontade e gló ria; quando acumula riqueza em vez de
acumular Deus; quando o fim principal do homem nã o é glorificar a Deus e gozá -lo para
sempre, mas adquirir riqueza e gozar dela para sempre, ele peca. Ele cobiça. Ele é avarento.
Esse é um pecado que é cometido tanto por multimilioná rios quando por assistentes
sociais, pelos executivos de Wall Street e pelos caixas do Walmart. A avareza nã o respeita
conta bancá ria. À s vezes ouvimos a expressã o “podre de rico” acerca de uma pessoa que
possui (digamos) seis casas, vinte e cinco carros esportivos e um castelo na Riviera
Francesa. Mas, pensando bem, nã o seria bacana se todo mundo tivesse essas coisas? Se a
resposta é sim, estamos reconhecendo que nã o é a riqueza que consideramos o problema,
mas algo mais. Talvez esse algo mais seja a avareza, mas se é este o caso, certamente ela
nã o pode limitar-se aos ricos. O universitá rio desempregado que largou a faculdade e
sobrevive recebendo auxílio social indevido é avarento, talvez até mais do que o
multimilioná rio da Riviera Francesa. O denominador comum das pessoas avarentas nã o é o
tamanho de suas contas bancá rias, mas a proporçã o em que Deus e sua gló ria sã o excluídos
de seus desejos. Quem quer obter coisas à parte de Deus, de sua vontade e de sua lei moral
é culpado de avareza.
Por esse padrã o — o padrã o de Deus —, a ganâ ncia foi, de fato, uma das raízes teoló gicas
mais determinantes para a crise. A ironia é que as raízes se aprofundam muito além do que
os acusadores esquerdistas superficiais estã o dispostos a admitir. Nã o há dú vidas de que os
executivos de empresas, banqueiros de investimentos, agentes de crédito e agências de
classificaçã o cometeram esse pecado. É ó bvio que os banqueiros de Wall Street que
estavam curtindo suas riquezas com prostitutas e cocaína eram culpados. [35]
É ó bvio que
os devedores que apagaram os padrõ es de concessã o de crédito para pegar empréstimos
rá pidos com vistas a agrupá -los e vendê-los a investidores incautos (ou cautelosos) para
comprar iates maiores e mais carros de luxo e uma casa nova à beira-mar em Hamptons
eram culpados. Os executivos da Moody que pressionaram os funcioná rios a fazer vistas
grossas ao avaliar o risco de títulos complexos e garantidos por hipotecas para que a
empresa pudesse manter os honorá rios desses clientes fluindo eram igualmente culpados.
O pecado, veja bem, nã o foram os iates, carros e casas opulentos e agências de avaliaçã o de
risco bem-sucedidas. O pecado foi a avidez por possessõ es imponentes sem Deus — sem
sua Palavra e vontade, a recusa de glorificá -lo, de submeter-se à sua Palavra, de tratar o
pró ximo como gostaria de ser tratado. Sim, esse foi o pecado. Essa foi a avareza. Essa foi a
principal raiz teoló gica da crise.
Mas nã o podemos parar nos ditos executivos privilegiados avarentos. E quanto aos
mutuá rios de hipotecas magricelos? Nã o pense que as pessoas da classe média ou até
mesmo baixa nã o possam ser avarentas. Lembre-se da definiçã o de avareza: riqueza como
um fim em si mesma, que nã o leva em conta Deus e sua palavra e vontade. As pessoas da
classe pobre e média cometem esse pecado todos os dias; e elas, como sua contraparte mais
rica, sã o culpadas de engendrar o colapso. Como? Ao tomar empréstimos de alto risco —
hipotecas ridículas nas quais concordam em fazer pagamentos exorbitantes e de longo
prazo na esperança de poderem vender a casa enquanto ainda estã o fazendo pequenos
pagamentos iniciais no curto prazo. Ou elas apostam que, arranjando um emprego que
pague melhor, conseguirã o ficar com a casa e arcar com as mensalidades. Resumindo,
entraram em um contrato irrevogá vel por uma casa que nã o podem pagar. Elas viram.
Cobiçaram. Aceitaram.
Os esquerdistas adoram rotular esses empréstimos de alto risco de “predató rios”. Essa
descriçã o só é justa se falarmos igualmente sobre os mutuá rios predató rios. Nã o devemos
nos concentrar apenas nos credores que gananciosamente queriam agilizar empréstimos
desfavorá veis a um comprador para que depois pudessem agrupá -los em títulos
complexos; concentremo-nos também nos mutuá rios que gananciosamente queriam entrar
em um empréstimo que eles simplesmente nã o podiam pagar. Havia muita avareza para se
evitar.
Podemos dizer, portanto, que a crise de 2008 foi precipitada por um conluio de avareza — o
desejo de adquirir riqueza sem Deus.
2. Fraude
A segunda principal raiz teoló gica da crise financeira foi a fraude. Ela é a combinaçã o de
dois outros pecados: roubo e engano. Na verdade, a fraude é o roubo por meio do engano. A
Bíblia a proíbe (Lv 19.13; Mc 10.19). Pecados nunca vêm sozinhos; eles alimentam e exigem
um ao outro. A avareza muitas vezes gera fraude: desejamos algo com intençõ es tã o
impuras que estamos dispostos a defraudar nosso pró ximo para obtê-lo.
A fraude na crise de 2008 era palpá vel. E ela começou de cima. Você sabia que “foi o
governo, e nã o Wall Street, quem primeiro securitizou os empréstimos modernos”? [36]
Foram duas organizaçõ es patrocinadas pelo governo, mais conhecidas como Fannie Mae e
Freddie Mac, quem compraram hipotecas de bancos. Um custo que os bancos tiveram de
assumir para livrar-se das hipotecas e obter uma compensaçã o completa delas foi
imediatamente aderir aos padrõ es de empréstimos estabelecidos por Fannie e Freddie, o
que significa padrõ es estabelecidos pelo governo federal. Uma vez que o banco central
(bem como os principais partidos políticos) haviam concordado com “habitaçõ es a preços
acessíveis” — uma categoria política , nã o de mercado —, os credores foram obrigados a
relaxar seus padrõ es caso quisessem vender seus empréstimos para Fannie e Freddie. E
por que eles nã o iriam querer? Diferente de quase todos os outros consumidores de
empréstimo em larga escala, Fannie e Freddie estavam respaldados pela “plena fé e
crédito” do governo federal. Os investidores adoravam Fannie e Freddie. Se houvesse
inadimplências nas hipotecas, eles ainda receberiam seu dinheiro. Isso significa que os
pagadores de impostos salvariam esses empréstimos. Agora você sabe por que Fannie e
Freddie detinham — e detêm — a maior parte das hipotecas dos Estados Unidos. Os
investidores querem a segurança garantida pelos pagadores de impostos. Uma vez que esse
plano socialista está associado com a pressã o política sobre essas agências patrocinadas
pelo governo, a fraude é quase garantida. Os credores que queriam vender hipotecas para
Fannie e Freddie eram obrigados a conceder empréstimos a pessoas que geralmente nã o
podiam pagá -los. Isso, por sua vez, promoveu “financiamento criativo”, empréstimos de
alto risco, empréstimos nã o quitados, empréstimo com altos juros e assim por diante.
Quando os agentes de crédito preenchiam essas hipotecas (e empréstimos hipotecá rios de
segunda hipoteca e casas), muitas vezes eles simplesmente falsificavam documentaçã o —
ou faziam vistas grossas quando os mutuá rios claramente mentiam. A vasta maioria de
[37]
Obviamente, elas nã o consistiam em dar casas a pessoas de baixa renda. E seja como for, os
agentes financeiros estavam defraudando os bancos e empresas de investimento que
adquirissem esses empréstimos e que achavam que estavam comprando crédito com
documentaçã o só lida.
Entã o vem a maior fraude de todas. Quando os bancos vendiam esses créditos a bancos e
empresas de investimento, eles à s vezes os agrupavam em pacotes enormes para vendê-los
aos investidores. Esses sã o instrumentos complexos que nã o quero descrever, mas eles
criaram a capacidade de incluir créditos arriscados junto a créditos relativamente seguros
cujos pagamentos de hipotecas mensais foram convertidos em dinheiro para os
investidores. Mas os investidores querem garantir que os créditos nos quais estã o
apostando sã o seguros, e é aí onde entram as agências de classificaçã o de crédito, como a
Moody. Seu trabalho é calcular o risco de crédito. A grande fraude que antecedeu o boom
imobiliá rio de 2008 foi quando as agências de classificaçã o de crédito deram uma nota de
classificaçã o de risco AAA para empréstimos que mereciam menos do que AAA, à s vezes
[39]
muito menos. Eles fizeram isso porque foram pagos por esses clientes — pagos pelas
pró prias pessoas cujos empréstimos estavam avaliando. No fim, eles estavam mais
preocupados em ganhar muito dinheiro do que em falar a verdade. Se você é uma agente de
classificaçã o de crédito, nã o há nada de errado em ganhar muito dinheiro – desde que você
fale a verdade. Eles nã o falaram. Bancos e outros corretores hipotecá rios sabiam o que
estavam vendendo, mas os investidores nã o sabiam o que estavam comprando. Isso é
fraude. [40]
Prazo] (já abruptamente defunta) foi alavancada em 250 para 1 , o que significa que
emprestou 250 dó lares para cada dó lar em seu balanço patrimonial, foi possível ver que a
fraude nã o vai muito longe.
Os mutuá rios estavam defraudando as companhias de hipoteca. As agências de
classificaçã o de crédito estavam defraudando os investidores. E o governo federal estava
estimulando essa fraude com a regulaçã o do mercado.
Mas a fraude é quase sempre exposta, e ela o foi de maneira poderosa em 2008 (e antes),
quando mutuá rios nã o quitaram seus empréstimos “criativamente” financiados, e o edifício
inteiro construído sobre alavancagem financeira excessiva caiu em pedaços. Certamente
seu pecado o encontrará (Nm 32.23). E o pecado da fraude foi exposto de maneiras
vigorosas.
3. Orgulho
Deixei a raiz mais importante por ú ltimo. É o orgulho. Sim, o orgulho. Uma definiçã o padrã o
dos dicioná rios diz que ele é uma “admiraçã o excessiva de si pró prio; soberba”. [42]
Essa
também é uma definiçã o bíblica implícita de orgulho, e nã o é difícil de entender. Como a
[43]
avareza, ele por vezes é difícil de identificar. Existe um orgulho saudá vel e legítimo: orgulho
das realizaçõ es de alguém, dos filhos, da igreja, do cô njuge, do país. O orgulho pecaminoso,
em contrapartida, é presunçã o. E ele é profundamente teoló gico. A Bíblia adverte contra ele
repetidas vezes.
Ele começou no Jardim, quando a Serpente apelou para a autonomia de Eva — “Quem Deus
pensa que é para dizer a você de que á rvore pode ou nã o comer? Você é adulta. Faça o que
te der vontade. Você pode ser um deus como Deus”. Sataná s seduziu Eva a renunciar a sua
condiçã o de criatura; ele a pediu para tornar-se a Criadora. O pecado original foi a tentativa
humana de se tornar um deus.
O orgulho político é um gênero especial de orgulho. Todos os grandes antigos impérios
(egípcio, babilô nico, persa, grego, romano) foram construídos sobre ele, mas agora estou
falando de uma espécie peculiarmente moderna desse gênero — o orgulho político
alimentado pelo elitismo intelectual. Ele, também, tem uma linhagem antiga. Platã o achava
que a sociedade deveria ser governada por reis-filó sofos. Mas desde o Iluminismo, o
elitismo intelectual se proliferou. Esse elitismo aflige as democracias modernas.
Essa, caso eu nã o esteja errado, é a principal raiz da crise de 2008. À guisa de ilustraçã o,
poderíamos começar com a matéria de capa da revista Time , de 15 de fevereiro de 1999,
com fotos de busto de Roberto Rubin, Alan Greenspan e Larry Summers identificados pela
manchete ousada: “O comitê para salvar o mundo”. A descriçã o era intencionalmente
provocativa, mas ela aponta para uma forma de orgulho quase tã o antiga quanto a pró pria
humanidade: a busca por falsos messias. Nesse caso, eram três homens e sua elite de
compatriotas exibidos como salvadores de uma ordem econô mica que, de um ponto de
vista prá tico, prometeu expandir e nunca se retrair (a despeito de toda evidência histó rica
de que os mercados sã o cíclicos). Esses gênios econô micos estavam no banco do motorista,
o veículo de uma vasta economia global em suas mã os capazes, e nó s, meros mortais, nã o
devíamos nos preocupar.
Pensando bem, essa fé é ostensivamente irô nica. Todos eles alegam ser proponentes do
livre mercado, no entanto, qualquer um que conheça o mínimo sobre livre mercado sabe
que o que o faz funcionar nã o sã o as escolhas estratégicas de alguns iluminados, mas as
escolhas ordiná rias das massas nã o-iluminadas. Todos os dias bilhõ es de pessoas tomam,
coletivamente, trilhõ es de decisõ es que impactam a economia global. A economia global
funciona por causa dessas decisõ es serenas – uma pessoa ou grupo fazendo transaçõ es
financeiras em prol de bens e serviços de outra pessoa ou grupo, todos beneficiando uns
aos outros na transaçã o, e, coletivamente, beneficiando o mundo. Esse sistema funciona
nã o por causa da política de umas poucas elites, mas a despeito dela . “O comitê para salvar
o mundo” é título mais adequado a marxistas e outros regimes utó picos — um pequeno
nú cleo incumbido (geralmente autoincumbido) de construir a sociedade perfeitamente
justa.
Na verdade, Rubin, Greenspan e Summers alegariam estar apenas tentando melhorar os
mercados, criando medidas políticas favorá veis à liberdade econô mica. Mas boas intençõ es
politicamente orientadas por liberais sã o, por vezes, nã o menos prejudiciais do que boas
intençõ es de suas contrapartes intervencionistas.
Quero deixar claro que nã o estou fazendo de Rubin, Greenspan e Summers vilõ es (como
muitos na esquerda fazem), e louvo seus evidentes impulsos em direçã o ao livre mercado.
Mas o orgulho nã o respeita ideologias, e liberais orgulhosos podem causar estragos tã o
rapidamente quanto socialistas orgulhosos.
Poderíamos falar interminavelmente sobre o orgulho de Wall Street (o orgulho das firmas
de investimento que quiseram esmagar seus concorrentes a todo custo) e o orgulho dos
investidores individuais (o orgulho dos mutuá rios que os impulsionou a acompanhar seus
pares, mesmo que isso significasse adquirir hipotecas que nã o se podia pagar e usar a casa
como um cofrinho). Resumindo, havia orgulho pecaminoso para dar e vender.
Mas o orgulho pú blico mais flagrante durante os anos que acarretaram na crise foi o
orgulho dos políticos (de ambos os partidos), representantes do Estado, elitistas
convencidos de que entendiam mais de justiça, proporcionalidade, direito e igualdade do
que todo mundo. Eles sã o, na expressã o de Thomas Sowell, “os ungidos”. Sã o os
[44]
Eles queriam dizer que tantas pessoas quanto possíveis deveriam comprar uma casa, ao
invés de alugar. Quem os autorizou a agir com base nessa pressuposiçã o, servir-se das
alavancas da coerçã o política para seduzir os bancos a conceder empréstimos a pessoas
claramente desqualificadas para assumi-los? Essas sã o perguntas que nó s, plebeus,
simplesmente nã o estamos autorizados a fazer. Evidentemente, o nú mero mais amplo
possível — e particularmente minorias “sub-representadas” — deve ter uma casa pró pria,
e os bancos devem ser incitados ou obrigados a conceder-lhes empréstimos. Por quê?
Porque isso é razoá vel e justo — e eles, a elite, conseguem decidir o que é razoá vel e justo.
Políticos tã o ideologicamente diferentes quanto Barney Frank e George W. Bush
endossaram “habitaçõ es a preços acessíveis” (que significam, na realidade, “habitaçõ es a
preços acessíveis por via da coaçã o política”).[47]
Quando um bando desses mutuá rios caiu em inadimplência no início dos anos 2000, o
castelo de cartas elitista começou a se desintegrar. Começou a se desintegrar nã o
primariamente por causa de sua ignorâ ncia econô mica, mas por causa de seu orgulho sem
limites.
Considere, além disso, a Reserva Federal. Falamos sobre um dos salvadores do mundo, Alan
Greenspan, por muito tempo presidente do Banco Central americano. A persistente decisã o
de Greenspan em manter as taxas de juros artificialmente baixas alimentou hipotecas
imobiliá rias que um mercado verdadeiramente livre nã o teria apoiado e, portanto, um
boom habitacional artificial que tornou o colapso mais doloroso quando veio. Greenspan
pensava que sabia melhor que o mercado como ajustar taxas de juros.
Qual a razã o primá ria para os preços das habitaçõ es serem tã o altos? Havia uma série de
razõ es. Algumas eram forças de mercado legítimas. Outras nã o. Algumas foram alimentadas
pelo orgulho político. No mercado, qualquer bem ou serviço desejá vel que também é
escasso é comparativamente caro. Se esses bens e serviços sã o escassos porque Deus nã o
forneceu muitos deles (ouro e casas à beira-mar, por exemplo), ou porque é exigido um
esforço humano extraordiná rio para produzi-los (Rolls Royces e sobretudos de pele, por
exemplo), seu preço elevado é um reflexo da providência. Mas o que dizer dos preços
elevados (ou baixos) que sã o o resultado do Estado implementando coercitivamente um
plano da elite? Especificamente, o que dizer das restriçõ es de uso do solo que impediram
construtores de edificar em terrenos perfeitamente bons, uma proibiçã o que aumentou os
preços devido à escassez? [48]
Alguns municípios nã o querem que as pessoas morem muito
pró ximas, e, em alguns casos, morar tã o perto quanto a três hectares de distâ ncia de
alguém é muito perto. Entã o, eles estabelecem restriçõ es sobre tamanhos de lotes que
podem ser transformados em casas. Naturalmente, isso cria uma escassez relativa, que, por
seu turno, aumenta o preço das casas. Os políticos decidem quantas casas existem, e quã o
afastadas as pessoas devem morar umas das outras: eles, a elite, os iluminados, os sá bios —
e, acima de tudo, os virtuosos. Isso é orgulho pecaminoso puro e simples.
Ironicamente, muitas das mesmas pessoas que apoiam “habitaçõ es a preços acessíveis”
também apoiam extensas restriçõ es de uso da terra. Em outras palavras, elas implementam
uma medida que faz os preços das casas dispararem e, entã o, reclamam dos preços
elevados das casas e dos “construtores gananciosos”, implementando uma medida
obrigando os bancos a emprestar dinheiro a pessoas que de outra forma nã o podem pagar
casas. Se essa combinaçã o parece imbecil, é porque ela é.
Em vez de permitir que os cidadã os tomem suas pró prias decisõ es em harmonia com o
cuidado universal de Deus pela criaçã o (pois ele envia suas dá divas providenciais tanto
para justos como para injustos [Mt 5.45]), as elites políticas criam esquemas para modelar
uma sociedade justa, igual e virtuosa. Eles arrogam para si a tarefa que compete somente a
Deus. Sua interferência na economia nos anos que desencadearam o colapso é um exemplo
primá rio do orgulho que antecede a destruiçã o, e do espírito arrogante que precede a
queda (Pv 16.18). E esses mesmos elitistas — quando a queda vem — culparam os
empresá rios, que haviam sido obrigados a agir de acordo com medidas políticas nã o
ditadas pelo mercado. Vai entender.
O orgulho das elites socialistas é manifesto em sua confiança ilimitada na sua pró pria
capacidade de reordenar a sociedade de acordo com padrõ es racionais de justiça —
concebidos por eles e outras elites, é claro.
O orgulho das elites capitalistas é evidenciado em suas inquietaçõ es que, a menos que
conduzam o mercado por escolhas políticas sá bias e promissoras, nã o permitirá que a
economia cresça e proveja capital, empregos e renda suficientes.
Ambas as formas de orgulho sã o erradas. Ambas sã o pecado. E ambas conduzem, como
ficou patente, à privaçã o econô mica.
CONCLUSÃO
Se as raízes da crise financeira sã o teoló gicas, as raízes de sua soluçã o e prevençã o no
futuro também o sã o.
Sabemos que, em ú ltima instâ ncia, a ú nica esperança do homem está no Evangelho de Jesus
Cristo, pois Deus transforma aqueles que creem nele e, através deles, ele transforma o
mundo. Contudo, mesmo os descrentes, caso adiram a essa lei moral, serã o abençoados de
uma forma que os desobedientes nã o serã o, inclusive em sua economia pessoal e cultura.
Essa lei moral é uma penú ltima soluçã o para os nossos infortú nios econô micos.
Encontramos essa lei na revelaçã o de Deus: em sua criaçã o e na Bíblia.
A Bíblia nã o é um manual de economia, mas sua lei moral articula a verdade econô mica
bá sica: o mundo pertence a Deus (Sl 50.10; 1Co 10.26). A propriedade (privada e familiar)
é, grosso modo, inviolá vel (Ê x 20.15; At 5.4). A capacidade de tributaçã o do Estado é
limitada (1Sm 8.11-18). O Estado deve refrear o roubo, a coerçã o e a fraude (Ê x 21.1; Lv
6.1-7), mas nã o pode arrancar a riqueza à força para fins de “justiça distributiva” (Robin
Hoods de Jesus). Deus espera que seu povo cuide do pobre e do oprimido (Dt 15.11; Pv
28.27; Ml 3.5). Ele espera que seu povo use sua riqueza para criar mais riqueza (Dt 15.6;
28.12; Mt 25.14-30). Ele promete riqueza de longo prazo para aqueles que vivem vidas
obedientes de longo prazo (Dt 8.16-18; 30.2-16; Ec 5.19). O fato de a Bíblia ser um livro
pré-moderno nã o significa que ela seja irrelevante para a cultura pó s-moderna.
Obviamente, esses ensinos bíblicos nã o sã o compatíveis com o socialismo de Estado. O fato
de a Bíblia nã o idealizar uma sociedade avançada de livre mercado nã o significa que ela
possa ser usada para defender uma sociedade socialista avançada.
Semelhantemente, refletir sobre a revelaçã o natural de Deus nos leva a adotar a economia
de livre mercado. Nã o estou dizendo que esse tipo de economia seja um aspecto da
natureza. Sugiro, contudo, que uma reflexã o sá bia sobre a natureza, especialmente sobre
como ela foi poluída pelo pecado, leva-nos a adotar o livre mercado. Por quê? Por causa do
pecado. O pecado introduziu uma escassez de recursos na terra. Examinando o sistema
econô mico que historicamente tem sido mais produtivo na expansã o e distribuiçã o desses
recursos, naturalmente chegamos no livre mercado. A economia centralizada (como no
comunismo) possui um registro espetacular de fracasso absoluto, para nã o mencionar a
privaçã o maciça da vida e liberdade humanas, enquanto as economias agressivamente
intervencionistas (como na maioria da Europa moderna) desfrutam apenas de um sucesso
medíocre. Mercados que gozam de mais liberdade (como aqueles da Inglaterra do século 19
e dos Estados Unidos do século 20) tiraram mais pessoas da pobreza, aumentaram mais
significativamente o padrã o de vida (nã o somente dos ricos), proporcionaram mais riqueza
mediante a qual enriqueceram o resto do mundo com o comércio, e garantiram com mais
segurança a liberdade individual do que qualquer outro sistema econô mico na histó ria
humana. Resumindo, os livres mercados tornam o mundo melhor do que o encontramos —
ou seja, o mundo que, apesar de revelar a majestade e bondade de Deus, foi assolado pelo
pecado humano.
Uma vez que os mercados livres aumentam a liberdade individual, protegem a propriedade,
fomentam intercâ mbios pacíficos, aliviam a pobreza, incentivam que sirvamos nossos
semelhantes, diminuem o custo das tecnologias emergentes e, principalmente,
proporcionam o melhor ambiente para a transmissã o global do evangelho, a economia de
livre mercado reflete as virtudes manifestas na revelaçã o de Deus com mais propriedade.
Os mercados livres nã o sã o perfeitos, e nã o pretendem ser o céu na terra. Em um mundo
pecaminoso, nada nem ninguém pode fazer isso. E todas as tentativas de fazer daqui o céu
nos arrasta para o inferno. Mas os mercados livres sã o os meios mais efetivos de
distribuiçã o de recursos escassos no mundo caído, e eles funcionam em conjunto com a
liberdade política e religiosa, o que se harmoniza com a ideia cristã da dignidade do homem
criado à imagem de Deus.
Por critérios cristã os, muitos instrumentos e prá ticas econô micas complexos sã o
permissíveis. Hipotecas derivadas e securitizadas sã o legítimas desde que sejam
transparentes (evitem a fraude) e nã o se voltem para o Estado em busca de garantias. Nã o
há dú vidas de que a enorme bolha imobiliá ria nã o teria crescido de forma tã o maciça sem
as garantias politicamente sancionadas e enredadas pelos empréstimos devorados por
Fannie Mae e Freddie Mac. Derivados e securitizaçã o sã o bons, desde que sejam
transparentes e inteiramente privados.
De forma aná loga, a alavancagem financeira é permitida desde que consiga resistir, de
forma racional, ao ímpeto de liquidez de uma crise econô mica. Da mesma forma que a
Bíblia nã o lhe permite investir cada centavo de suas economias pessoais quando você sabe
que seu pai doente pode precisar de cuidados de saú de a qualquer momento, entã o ela nã o
permitirá essa alavancagem extensa que nã o pode satisfazer as necessidades de seus
credores sob condiçõ es difíceis, o que, todavia, pode, com sensatez, ser algo esperado.
As permutas de riscos de incumprimento resguardam as instituiçõ es contra inadimplências
em empréstimos massivos. Elas sã o uma forma de seguro. Naturalmente, qualquer
instituiçã o que assegure uma quantia maior do que pode sensatamente cobrir em uma
economia em baixa conspira para cometer fraude. O problema nã o é o instrumento, mas o
abuso. E por aí vai.
Mutuá rios que mentem sobre aplicaçõ es hipotecá rias estã o cometendo fraude, assim como
os agentes de crédito que sã o convenientes com eles. Isso é fraude e roubo.
Mutuá rios que pegam emprestado mais do que podem pagar também sã o avarentos. Nã o
estou falando apenas de mutuá rios individuais — incluo, também, as firmas de
investimento. A esquerda adora ralhar a “avareza corporativa”. Bem, “avareza corporativa”
é um fato triste.
Também triste é a ganâ ncia política, a ganâ ncia pelo poder. Mas essa forma de avareza
parece nã o chamar tanto a atençã o da esquerda. Contudo, a ganâ ncia política é nã o menos
pecaminosa que a ganâ ncia econô mica.
Resumindo, e em conclusã o: a vontade e Palavra de Deus em seu mundo é a ú nica maneira
correta e, em ú ltima instâ ncia, segura e bem-sucedida de adquirir, acumular e preservar a
riqueza. A mensagem de que a confiança e submissã o ao Deus Triú no do universo é o ú nico
caminho para a bênçã o permanente nã o é uma mensagem acolhida por uma era rebelde e
autô noma. Mas é a mensagem correta. E é uma mensagem que a sociedade rejeita por sua
conta e risco.
Essa, no fim, é a grande liçã o da crise econô mica de 2008.
A maioria das pessoas que leem estas linhas se consideram politicamente conservadoras.
Neste capítulo eu quero analisar os nossos oponentes políticos, os esquerdistas [50]
interessados em igualdade e justiça (como eles as definem) impostas por um Estado grande
e centralizado, particularmente pelo governo federal. [53]
Esse é um resumo de como os
termos conservador e liberal sã o entendidos de modo geral, e é assim que trabalharei com
eles. Estou recuando e analisando um amplo campo ideacional hoje. Nenhuma atividade
[54]
homem pode ser muito melhor e diferente do que é hoje. Assim como o corpo humano
evoluiu de animais inferiores até a sua atual condiçã o física superior, da mesma forma sua
natureza ― sua constituiçã o ética, intelectual e emocional ― pode evoluir. Em mil anos, os
humanos poderiam ser muito diferentes dos humanos andando na terra hoje. Na verdade,
eles podem nem mesmo ser humanos. Podem ser maiores que os humanos ― transumanos.
O objetivo do esquerdismo, consequentemente, é, no mínimo, construir um novo tipo de ser
humano. Essa expectativa, como você pode imaginar, é um tipo de visã o utó pica: [58]
é a
versã o esquerdista do céu na terra, e é exatamente para isso que eles estã o trabalhando.
Esta é uma perspectiva apóstata .
A visão (realista) cristã
A visã o esquerdista é muito diferente da cristã . Os cristã os creem que o homem nasce
pecador (Rm 3.23). Ele só pode ser mudado pelo Espírito Santo, com base na morte e
ressurreiçã o de Jesus Cristo (2Co 5.17; Gl 2.20). Todas as tentativas naturalistas, incluindo
todas as tentativas políticas de mudar o homem sã o falhas. Somente a graça de Deus,
mediante o Espírito Santo, consegue mudar o homem (Jo 3.3). A razã o por que as
instituiçõ es sã o má s é porque o coraçã o humano é mau. É o homem quem as corrompe, nã o
o inverso. Se o homem precisa ser aperfeiçoado, ele só o pode por Deus, nã o pelo homem. E
ele só pode ser completa e definitivamente aperfeiçoado na eternidade, quando o Pai usar
seu Filho para endireitar todas as coisas (Ap 22.14-15). O homem nã o pode criar um plano
político para produzir um homem melhorado.
Como você pô de perceber, essa nã o é a visã o esquerdista da perfectibilidade do homem, na
qual o homem já possui as sementes da perfectibilidade em si, e elas só precisam ser
irrigadas e alimentadas pelo ambiente cultural. Essa é uma visã o distorcida da natureza
humana, e suas consequências sã o desastrosas quando implementadas na sociedade por
meios políticos. Permita-me alguns exemplos.
O livre mercado
Considere os arranjos econô micos na sociedade. Se o homem é pecador, especialmente se
ele for egoísta, você ia querer adotar um sistema econô mico que tratasse essa
pecaminosidade com o devido realismo. É isso o que faz o livre mercado. Ele nã o
necessariamente incita as pessoas a serem gananciosas (afinal de contas, um monte de
gente quer ganhar um monte de dinheiro para que consigam enriquecer outras pessoas,
como amigos e família, nã o a si mesmas). Mas o livre mercado nã o se aproveita da ganâ ncia
humana para beneficiar outras pessoas. Essa é a lei das consequências involuntá rias. A
vendedora de sapatos pode nã o ter muita estima por você, mas ela o trata bem e te vende
sapatos para que possa pô r a comida na mesa. Ela pode ser gananciosa, mas o livre
mercado a obriga a ajudá -lo, caso ela queira satisfazer sua ganâ ncia. Na eternidade, nã o
precisaremos da economia de livre mercado porque lá haverá o bastante para todo mundo,
e porque ninguém será ganancioso. Mas ainda nã o estamos lá .
A cosmovisã o cristã exige que sejamos realistas a respeito do mundo, e no tocante à
economia, esta exige o que hoje chamamos de livre mercado.
Socialismo de Estado
Mas se você nã o crê que o homem é pecador por natureza, você acha que pode livrar-se de
sua ganâ ncia por meios naturalistas. Os esquerdistas creem que podem purgar a ganâ ncia a
partir da pró pria natureza humana. Se o Estado cuida de todas as necessidades físicas do
homem, nã o há por que ele ser ganancioso. Naturalmente, isso significa obrigar outras
pessoas a desistirem de seu pró prio dinheiro e bens para compartilhar com os demais.
Em todo lugar em que se tentou implementar essa política, conhecida como socialismo de
Estado, os resultados têm sido desastrosos. A China comunista e a Uniã o Soviética
conseguiram obrigar as pessoas a compartilhar, mas nã o conseguiram mudar o
egocentrismo delas. As pessoas ainda queriam a propriedade privada. Ainda havia um
mercado negro. Elas viviam com se merecessem guardar o dinheiro que ganharam e as
safras que plantaram. A razã o pela qual o socialismo fracassou, pela qual ele sempre
fracassou toda vez em que se tentou implementá -lo, é que ele está baseado em
pressuposiçõ es teoló gicas precá rias, uma visã o ilusó ria da natureza humana. Ele supõ e que
as pessoas nã o sã o pecadoras por natureza. E ao criar um arranjo político que nã o leva em
conta a pecaminosidade humana, ele tem sido um desastre nã o apenas economicamente,
mas também politicamente.
O sistema de reeducação criminal
Considere, entã o, o sistema de justiça criminal. Se as pessoas nã o sã o inerentemente má s,
deve haver alguma outra explicaçã o para o crime. Uma explicaçã o esquerdista comum para
o crime é a precariedade das instituiçõ es humanas: habitaçõ es populares; discriminaçã o
contra minorias raciais por escolas e empregadores; e verba insuficiente para escolas
pú blicas. No entanto, cada vez mais a explicaçã o tornou-se a instabilidade mental. O pai do
jovem norueguês que matou aproximadamente setenta pessoas, incluindo crianças, em um
acampamento numa ilha, explicou que seu filho “deve ser” mentalmente doente. Nã o havia
outra explicaçã o possível. [59]
A explicaçã o real de que seu filho tinha um coraçã o perverso
era simplesmente inconveniente. Ela nã o faz parte da cosmovisã o esquerdista. Os
criminosos, portanto, sã o encarcerados nã o tanto para pagar pelos seus crimes (a visã o
mais antiga e conservadora), como para serem reeducados e reabilitados. Falando de um
ponto de vista prá tico, temos nã o tanto um sistema de justiça criminal, mas um sistema de
reeducação criminal. Se isso se parecer com os campos de reeducaçã o da China comunista e
da Camboja de Pol Pot, é porque ele é. Quando você se livrar do pecado original, logo deve
se livrar da justiça.
Empregos para terroristas
Como uma ú ltima prova dessa visã o distorcida da natureza humana, considere a política
estrangeira esquerdista. Talvez você recorde do comentá rio de Mary Harf, do
Departamento de Estado dos Estados Unidos: “Precisamos averiguar as causas
fundamentais que levam as pessoas a se juntarem a esses [islamofascistas] grupos [como o
ISIS], [incluindo] a falta de oportunidade de emprego”. [60]
Essa é uma explicaçã o
esquerdista clá ssica: nã o é possível que o ISIS seja mau. Mas o fato é que muitos membros
do ISIS, e certamente a sua liderança, tinham empregos perfeitamente bons. [61]
pressuposiçã o teoló gica guiando cada uma dessas diferenças. Os esquerdistas estã o
comprometidos com um mundo de igualdade radical porque condenam a hierarquia criada
por Deus. Essa hierarquia está entremeada no universo. Ela começa com a diferença entre
Deus e a criaçã o. Deus está acima de toda a criaçã o. Isso é chamado de distinçã o Criador-
criatura (Rm 1.25). O homem pecador quer tornar-se Deus. Esse foi o apelo da serpente a
Eva no Jardim do É den (Gn 3.5). Foi com vistas a isso que a humanidade construiu a Torre
de Babel (Gn 11.1-9): alcançar os céus e eliminar a distâ ncia entre Deus e o homem. O
homem quer ser igual a Deus. É por isso que o movimento da Nova Era e a espiritualidade
pagã estã o ganhando cada vez mais proeminência em nossa sociedade. [64]
Os pagã os
modernos sã o, em muitos casos, panteístas. A deidade está no homem e em tudo o mais.
Tanto o homem como a natureza participam de Deus. Como você pode imaginar, essa visã o
também reforça o movimento ambientalista radical. Em agudo contraste, a via cristã é a
hierá rquica: o homem é criado à imagem de Deus, e está subordinado a ele, assim como o
restante da criaçã o está subordinada ao homem (Gn 1.28-30).
A guerra sobre a hierarquia
As hierarquias na sociedade lembram ao homem da hierarquia principal: entre Deus e o
homem. O homem pecador gosta que as coisas sejam justas, desde que seja ele quem defina
o que é “justiça”. Na realidade, ele quer nivelar todas as hierarquias. Rebaixando Deus ao
nível do homem, ele está alçando o homem ao nível de Deus. Ao igualar todo mundo, o
homem está combatendo a autoridade hierá rquica de Deus.
É por isso que os esquerdistas querem diminuir ou apagar a autoridade das famílias, dos
pais, dos comerciantes, da igreja, dos pastores e sacerdotes, dos professores e
administradores, da polícia e outras figuras de autoridade estabelecidas por Deus. Se eles
puderem livrar-se delas, talvez possam fazer o mesmo com a autoridade do Deus que
ordena toda autoridade (Rm 13.1).
Por conseguinte, o discurso deles é carregado de igualdade. Em alguns casos, a igualdade é
uma virtude. Todos somos espiritualmente iguais diante de Deus quando viemos ao mundo.
Somos todos pecadores, e carecemos da salvaçã o de Jesus Cristo. Fomos todos providos por
nosso Criador, como reza a nossa Declaraçã o de Independência, com os direitos
inaliená veis à vida, liberdade e busca da felicidade. A revelaçã o de Deus exige que sejamos
todos tratados por igual perante a lei (Lv 24.22). Essas sã o formas legítimas de igualdade
nas quais devemos insistir.
Mas a igualdade nã o é uma virtude em toda situaçã o. Algumas formas dela sã o
absolutamente perversas. É por isso que o discurso de igualdade dos esquerdistas pode ser
tã o sinistro. Sua definiçã o de igualdade é absolutamente diferente da definiçã o
conservadora. Os conservadores creem em igualdade de processos , nã o de resultados. Os
esquerdistas creem exatamente no contrá rio. Os conservadores se dispõ em a tolerar a
desigualdade de resultados, desde que haja igualdade de processos. É importante entender
a diferença.
Dois tipos de igualdade e desigualdade
Os conservadores creem que, nas regras (leis) para a sociedade, é preciso que haja
condiçõ es equitativas. Essa era a verdade fundamental da cultura ocidental, que foi
moldada pela fé cristã . O jogo só é justo na medida em que as regras se aplicam a todos os
participantes. Se o Oklahoma City Thunder derrota a equipe de basquete da universidade
local, o jogo nã o é injusto somente porque o Thunder venceu por uma diferença de 60
pontos. O jogo é justo se as regras forem as mesmas para todos.
O mesmo se aplica à sociedade. Se todos forem tratados igualmente sob a lei, alguns se
sairã o melhor que outros. Por exemplo, alguns podem conseguir um emprego melhor e
ganhar mais dinheiro. Algumas crianças podem conseguir estudar em escolas melhores.
Igualdade sob a lei nã o significa resultados iguais para todos.
Esse fato leva a uma percepçã o interessante: quando a lei trata todos indistintamente, mas
os resultados sã o desiguais, essa desigualdade deve resultar de alguma outra coisa que nã o
a lei. A explicaçã o para essa discrepâ ncia é simples. É a diferença entre os próprios seres
humanos . Pessoas diferentes têm vantagens diferentes nas quais nasceram ou se
desenvolveram. Elas têm habilidades diferentes. Diferentes há bitos de trabalho. Diferentes
há bitos de despesas e poupança. Diferentes virtudes e vícios. Se essas diferenças sã o inatas
ou adquiridas nã o importa. A questã o é que as pessoas sã o diferentes umas das outras, e se
a lei trata todos da mesma forma, essas diferenças vã o se manifestar no que elas podem
conseguir (ou nã o) em uma sociedade. Se a lei trata todos igualmente, isso só pode
significar que a igualdade perante a lei conduz a resultados desiguais.
Os esquerdistas nã o querem essa igualdade de processo (igualdade sob a lei). O que eles
realmente querem é igualdade de resultados. Eles nã o querem que todos sejam tratados
igualmente. Eles queriam que todos tivessem a mesma quantidade de coisas.
Como igualar os resultados
Mas esse desejo levanta um grande problema. Como você pode garantir que todos
conseguirã o a mesma quantidade de coisas se todos sã o tratados igualmente sob a lei? A
resposta é: você nã o pode. Como consequência, é necessá rio que os esquerdistas destruam
a igualdade de processos para garantir a igualdade de resultados. Eles precisam ajustar a
lei a fim de garantir que algumas pessoas consigam tanto quanto outras. Você faz o
Thunder arremessar a bola em uma cesta a 8 metros de altura, e a equipe da universidade
em uma a 2 metros.
O exemplo mais flagrante do compromisso atual do nosso presidente com essa
pressuposiçã o esquerdista de des igualdade é o seu suposto Affordable Care Act
(“Obamacare”). Se todos sã o tratados igualmente perante a lei, algumas pessoas terã o
acesso a melhores planos de saú de que outras, e um grupo relativamente pequeno pode
nã o ter acesso de jeito nenhum. Essa é uma igualdade de resultados que os esquerdistas
simplesmente nã o toleram. Consequentemente, eles precisam introduzir desigualdade de
processos para garantir que todos tenham plano de saú de. Isso significa obrigar
americanos jovens e saudá veis a pagar os custos médicos dos americanos mais velhos e
menos saudá veis. (Em outros contextos, esse arranjo poderia ser chamado de roubo, mas
parece indelicado referir-se ao roubo governamental como roubo.)
É importante admitir que a igualdade de processos e a igualdade de resultados sã o
mutuamente excludentes. Ou, pelo menos, quanto mais uma aumenta, mais a outra precisa
diminuir. Quanto mais você exige que os resultados sejam iguais, mais você precisa criar
leis des iguais. E quanto mais você exige que as leis tratem todos igualmente, mais
resultados desiguais você terá .
É por isso que, no Obamacare, ouvimos sobre vencedores e perdedores. Os vencedores sã o
aqueles que conseguem seguro subsidiado com o dinheiro dos outros. Os perdedores sã o os
que perdem dinheiro por terem de subsidiar o seguro dos outros. Como se sabe, os
conservadores também acreditam em vencedores e perdedores. Se todos recebem
tratamento igual perante a lei (igualdade de processos), alguns conseguem mais, talvez
muito mais, do que outros. Mas isso nã o é porque a lei é desigual. É porque as pessoas sã o
desiguais. Há vencedores e perdedores porque pessoas sã o vencedoras e perdedoras, nã o
porque a lei escolhe vencedores e perdedores.
A relação opressão-libertação
Os esquerdistas estã o numa cruzada fervorosa para igualar todos na sociedade. Eles
precisam de uma justificativa moral e altissonante para fazer isso. E essa justificativa é a
libertaçã o. É por isso que eles constantemente usam o discurso da opressã o, o oposto da
libertaçã o. A opressã o leva à desigualdade, e todos sabem (quem nã o sabe?) que toda
desigualdade é ruim, portanto devemos libertar todos os oprimidos e, se nã o encontrarmos
nenhum, precisaremos inventar algum.
Desde a Revoluçã o Francesa os esquerdistas têm se envolvido em um projeto de libertaçã o
maciço, que tem sido chamado de “a relaçã o opressã o-libertaçã o”. A religiã o esquerdista
[65]
Recompensas e castigos [70]
Uma opiniã o comum em anos recentes sustenta que recompensas e castigos representam
um meio prejudicial de lidar com crianças ou adultos. Somos informados que recompensas
produzem motivos errados naqueles que ganham e que sã o traumá ticas para aqueles que
perdem. É dito também que o castigo é meramente uma vingança. Sob essas premissas,
alguns educadores têm eliminado a atribuiçã o de notas, bem como outras formas de
recompensa e castigo. Esse ó dio por recompensa e castigo é uma forma de ataque sobre os
conceitos inter-relacionados de competição e disciplina . Seja na esfera espiritual, com
respeito ao céu, ou no mundo acadêmico por notas, ou no mundo dos negó cios por lucros,
castigos e recompensas (ou penalidades) motivam as pessoas (Sl 19.11; 58.11; 91.8; Mt
5.11; etc.). Essa motivaçã o leva à competiçã o, e a competiçã o requer disciplina,
autodisciplina, disciplina sob a lei civil e criminal, e disciplina sob Deus (Hb 12.1-11). E um
resultado da competiçã o honesta é o cará ter.
Mas, algumas pessoas objetam, por que nã o a cooperaçã o? Nã o é a cooperaçã o um método
superior à competiçã o? Mas, como declarado por Campbell, Potter e Adam em Economics
and Freedom [Economia e liberdade], “num mercado livre, a cooperaçã o voluntá ria e a
competiçã o sã o nomes para o mesmo conceito econô mico”. Historicamente, a competiçã o
do mercado livre tem sido apenas possível onde uma cultura comum e uma fé comum
levam indivíduos a cooperarem uns com os outros. Os homens competem por cooperaçã o
na confiança que outros respeitem a qualidade, e eles constantemente melhoram seus
produtos e serviços para conseguir essa cooperaçã o. A cooperaçã o morre se a competiçã o
morrer, pois entã o a “traçã o”, compulsã o e a força substituem as atividades livres e
cooperativas do mercado.
Fundamentalmente, recompensas e castigos pressupõ em duas coisas. Primeiro,
pressupõ em Deus, que estabeleceu certos retornos na forma de recompensas e penalidades
na pró pria natureza do universo, bem como em sua lei moral (Ex 20.5, 6; Jd 5.20). Assim,
qualquer ataque sobre a ideia de recompensas e castigos é um ataque sobre a ordem de
Deus. Segundo, recompensas e castigos pressupõ em liberdade como bá sica para a condiçã o
do homem. O homem é livre para esforçar-se, competir, trabalhar por recompensas e sofrer
penalidades. Dessa forma, qualquer ataque a esses conceitos é também um ataque à
liberdade; insiste-se que que nivelar a igualdade com total controle é uma condiçã o melhor
para o homem do que a liberdade é ou possa ser. Sã o Paulo declarou, “onde está o Espírito
do Senhor, aí há liberdade” (2Co 3.17). Deus e liberdade sã o insepará veis. E a liberdade
pressupõ e e requer a atividade livre; ela tem seu esforço, suas recompensas e castigos, seu
céu e inferno, seu êxito e fracasso. Essas sã o as condiçõ es necessá rias da liberdade. A
alternativa é a escravidã o. A escravidã o oferece uma forma muito real de segurança, mas
isso o faz também a morte e um cemitério (Dt 30.15-20). Respeitar recompensas e castigos,
competiçã o e disciplina, é respeitar a pró pria vida, e valorizar o cará ter e a autodisciplina.
Isso significa, simplesmente, escolher a vida : “escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a
tua descendência” (Dt 30.19).
Liberdade sob Deus
Um dos grandes fundadores do sistema americano foi o rev. John Cotton (1584-1658), que
tornou bá sica para o governo colonial a premissa que a lei e ordem piedosa significam
poder limitado e liberdade limitada . Nem o homem, nem o seu governo civil têm o direito
moral ao poder ilimitado ou à liberdade ilimitada. Em todos os tempos é preciso que haja
poder e liberdade sob a lei, e, em ú ltima instâ ncia, sob Deus (Dt 17.14-20; Pv 8.15, 16; 1Rs
2.1-4, etc.).
Mas hoje temos exigências tanto para o poder como para a liberdade ilimitada, que sã o
ideias mutuamente contraditó rias. Temos também a crescente afirmaçã o que a liberdade
nã o é sob a lei e sob Deus, mas fora da lei . Há aqueles que creem que podem ser livres
somente negando as afirmaçõ es de todas as leis e afirmando que os verdadeiros direitos e a
verdadeira liberdade significam uma liberdade da lei .
A fé bíblica e essa lei verdadeira é um dom de Deus e o fundamento da liberdade do homem
(Dt 16.20). A lei é a condiçã o da vida do homem: assim como o homem fisicamente respira
o ar para viver, assim social e pessoalmente seu meio ambiente é a lei, a qual a graça de
Deus o capacita a reter e guardar (Sl 119; Pv 6.23). O homem nã o pode viver sem lei, assim
como nã o pode viver sem comer. O propó sito da lei de Deus é a vida; como Moisés
declarou, “o SENHOR nos ordenou que cumpríssemos todos estes estatutos… para nos
guardar em vida” (Dt 6.24). O homem foi criado e é salvo por Deus para viver pela lei, pois
sua disciplina é “o caminho da vida” (Pv 6.23).
Aqui temos a grande divisã o. Os americanos, educados durante algumas geraçõ es na
perspectiva bíblica, têm visto a liberdade como vida sob a lei de Deus, mas muitos hoje
estã o afirmando que a liberdade é escapar da lei.
As alternativas à liberdade sob Deus, liberdade sob a lei, foram declaradas claramente por
Karl Marx. Elas sã o duplas. Primeiro, alguém pode ter anarquia, todo homem sendo lei para
si mesmo, com nenhuma lei, e uma “liberdade” total de qualquer responsabilidade para
com alguém. Em segundo lugar, o indivíduo pode substituir Deus pelo Estado, e a lei total
do Estado substituir a lei de Deus. A liberdade entã o desaparece e o estatismo ou
comunismo total para o “bem-estar” do homem concretiza-se. Isso é uma negaçã o da
liberdade como um ideal “burguês”, e uma substituiçã o da liberdade pelo bem-estar
planejado pelo Estado como a verdadeira felicidade do homem.
Toda tentativa, portanto, de remover essa repú blica de “sob a autoridade de Deus” significa
que o anarquismo ou comunismo serã o certamente a consequência, quer planejado ou nã o
por aqueles que atacam o lugar de Deus na vida americana. Essa é uma alternativa
inescapá vel.
Para restaurar a verdadeira liberdade, devemos restaurar a verdadeira lei (Is 8.20). A
Bíblia fala da “lei perfeita da liberdade” (Tg 1.25; 2.12), pois ela vê a lei de Deus como a
pró pria fonte e fundamento da liberdade do homem. Devemos abandonar a ideia perigosa
que liberdade significa uma fuga em relaçã o à lei: isso pode ser verdade somente se a fuga
for para com o comunismo, que nã o é lei verdadeira, mas sim tirania. O termo tirania vem
de uma palavra do grego antigo que possui um significado simples: o governo secular ou
humano no lugar da lei, no lugar da verdadeira liberdade sob Deus. O sistema americano
nã o é anarquia nem tirania, mas liberdade sob Deus.
A riqueza é algo moral?
Muitos escritores atuais inferem que Jesus e a Bíblia falam contra a riqueza como algo
imoral. É verdade que a Pará bola do Homem Rico (Lc 16.19- 31) nos mostra o homem rico
no inferno e o pobre Lá zaro no céu, mas a condenaçã o do homem injusto vem do rico
Abraã o no céu. Novamente, embora Jesus tenha dito, “é mais fá cil passar um camelo pelo
fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (Mc 10.25; Mt 19.24), o
mesmo capítulo deixa claro que Jesus quis dizer que nenhum homem, rico ou pobre, pode
salvar a si mesmo: “Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19.26).
Em outras palavras, a salvaçã o nã o é um trabalho “faça você mesmo” para ninguém, rico ou
pobre; é obra e dom de Deus. Muitos homens e mulheres ricas estavam entre os salvos que
tinham um relacionamento pró ximo de Jesus (Lc 8.2-3; 19.1-19; 23.50-53).
A Bíblia condena a riqueza ganha de maneira fraudulenta, mas declara que a riqueza
honesta é uma bênçã o. Primeiro, portanto, a riqueza honesta deve ser desejada como uma
bênçã o de Deus. “A bênçã o do SENHOR é que enriquece [i.e., rico materialmente]; e nã o traz
consigo dores” (Pv 10.22). A posse de riqueza é legal e protegida nos Dez Mandamentos por
dois mandamentos: “Nã o furtará s” e “Nã o cobiçará s” (Ex 20.15, 17; Dt 5.19, 21). Jesus
confirmou isso e assumiu a legalidade da riqueza como um princípio piedoso (Mt 25.14-30;
Lc 19.12-27; 16.1-8). Jesus deixou claro que a riqueza moralmente adquirida é uma bênçã o
de e sob Deus: “Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos
serã o acrescentadas” (Mt 6.32s.; Lc 12.30s.), e nã o há nada errado em desejá -la, se andamos
em termos da prioridade da fé em, e obediência a, Deus.
Em segundo lugar, a riqueza é moralmente boa, mas é um bem subordinado, um meio para
uma vida melhor, e nã o um fim em si mesmo. E ela é muito incerta para ser o objetivo da
vida (Mt 6.19s.), e a riqueza pode coexistir com a pobreza de alma (Lc 12.16- 21;14:18s.; Mt
22.6s). Assim, a riqueza tem perigos morais quando se torna primá ria, e nã o quando é
secundá ria na vida de um homem. Nã o é o dinheiro que é a raiz de todos os males, mas “o
amor ao dinheiro”, e a cobiça por dinheiro com esse amor pervertido é citado como pecado
por Paulo (1Tm 6.10). Os socialistas podem ser tã o culpados de “amor ao dinheiro” como
qualquer outra pessoa. Dessa forma, riqueza e prosperidade podem ser perigosas, se os
homens fazem dela o objetivo da vida, caso eles idolatrem-na.
O mal, entã o, nã o está na riqueza como tal, mas no coraçã o dos homens; e falar de riqueza
como imoral é uma lógica falsa, uma insistência de que as coisas sã o imorais, e nã o o
homem. Mas, como Paulo escreveu a Tito: “Todas as coisas sã o puras para os puros, mas
nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estã o
contaminados” (Tt 1.15). Dessa forma, embora homens imorais possam adquirir e usar
erroneamente riquezas, é o seu coraçã o e açõ es que sã o imorais, e nã o a riqueza em si. Em
seu devido lugar, portanto, a riqueza nã o é somente moral, mas também bendita, e pode ser
honestamente desejada, adquirida e mantida, e é um benefício para toda a sociedade.
Capitalização é o produto de trabalho e parcimônia
Capitalizaçã o é o produto do trabalho e parcimônia , a acumulaçã o de riqueza e o uso sá bio
da riqueza acumulada.
Essa riqueza acumulada é investida em efeito no progresso, pois é tornada disponível para
o desenvolvimento dos recursos naturais e a comercializaçã o de mercadorias e produtos.
A parcimô nia que leva à economia ou acú mulo de riqueza, à capitalizaçã o, é um produto do
caráter (Pv 6.6-15).
A capitalizaçã o foi um produto em cada período da mentalidade puritana, de sua atitude de
abrir mã o de prazeres presentes para acumular certa riqueza para propó sitos futuros (Pv
14.23). Sem cará ter, nã o há capitalizaçã o, mas sim descapitalizaçã o, a exaustã o contínua da
riqueza.
Como resultado, o capitalismo é supremamente um produto do cristianismo e, em particular,
do puritanismo que, mais que qualquer outra fé, tem promovido a capitalizaçã o.
Isso significa que antes que a descapitalizaçã o, seja na forma de socialismo ou de inflaçã o,
possa ocorrer, deve haver um colapso da fé e do cará ter. Antes dos Estados Unidos começar
seu percurso no socialismo e na inflaçã o, ele teve que abandonar sua posiçã o cristã . O povo
passou a ver mais vantagem em gastar capital do que em acumulá -lo, em desfrutar
prazeres superficiais do que viver em termos dos prazeres duradouros da família, fé e
cará ter.
Quando o socialismo e a inflaçã o saem a caminho, tendo começado no declínio da fé e do
cará ter, eles veem como seu inimigo comum precisamente aquelas pessoas que ainda têm
fé e cará ter.
Como haveremos de nos defender? E como podemos ter um retorno ao capitalismo? O
capitalismo revive somente se a capitalizaçã o reviver, e a capitalizaçã o depende, em sua
forma melhor e mais clara, daquele cará ter produzido pelo cristianismo bíblico.
Isso é escrito por alguém que crê intensamente no cristianismo ortodoxo e em nossa
liberdade e herança cristã histó rica. É meu propó sito promover aquela capitalizaçã o bá sica
da sociedade, da qual tudo o mais flui, o capital espiritual. Com o capital espiritual de uma
fé bíblica e centrada em Deus, nunca podemos nos tornar espiritual e materialmente falidos
(Pv 10.16).
Socialismo e inflação descapitalizam uma economia
Descapitalizaçã o significa a destruiçã o progressiva de capital, de forma que uma sociedade
tem progressivamente menos habilidade produtiva. Descapitalizaçã o é a dissipaçã o da
riqueza acumulada (Pv 14.23).
Capitalizaçã o é o acú mulo de riqueza por meio do trabalho e parcimô nia. Uma economia
livre, o capitalismo, é uma impossibilidade sem capitalizaçã o (Pv 10.16).
Alguns dos países agrícolas potencialmente mais ricos sã o importadores de produtos
agrícolas, tais como a Venezuela e o Chile. As á reas de pesca da Costa Pacífica da América
do Sul sã o algumas das mais ricas conhecidas no mundo, ricas o suficiente para alimentar
os países daquela á rea:
Pescadores chilenos nã o conseguem comercializar peixe apropriadamente,
e atiram quantidades incríveis de peixes capturados no mar, pois nã o tem
armazenamento nem transporte suficiente para levar os peixes aos
mercados. Assim, nã o existe uma falta de trabalho nem uma falta de
mercado para os peixes, mas a capitalizaçã o necessá ria para fornecer as
facilidades de reunir trabalho, produto e mercado onde isso está faltando.
Muito do mundo está na mesma situaçã o difícil: tem o trabalho, os recursos naturais, e o
comércio faminto por seus produtos, mas carece do capital necessá rio para fazer o fluxo
das mercadorias possível. O socialismo tenta resolver este problema, mas somente o
agrava, pois aumenta a pobreza de todos interessados. O socialismo e a inflaçã o realizam o
mesmo propó sito: eles descapitalizam uma economia.
A inflaçã o acontece quando as pessoas têm latrocínio em seu coraçã o, e o mesmo é verdade
do socialismo. O socialismo é latrocínio organizado; como a inflaçã o, ele toma de quem tem
e dá a quem nã o tem. Ao destruir o capital, ele destró i o progresso e empurra a sociedade
ao desastre.
À medida que os produtos da capitalizaçã o começam a se esgotar, nã o existe novo capital
para substituí-los, e o Estado nã o tem capital pró prio: ele somente empobrece cada vez
mais o povo e, portanto, a si mesmo, tentando criar capital por cobrança de impostos.
Todo Estado socialista se descapitaliza progressivamente.
[1]
A política da prudência . Tradução Má rcia Xavier de Brito. Sã o Paulo: É Realizaçõ es, 2013, p. 98.
[2]
Isto significa que a queda nã o é de cará ter metafísico, conforme apregoado por algumas perspectivas religiosas,
especialmente aquelas influenciadas pelo espiritualismo oriental, que veem a origem do mal na finitude mesma do
homem, em contraposição à infinitude da divindade.
[3]
Kenneth Minogue, em sua obra Alien Powers: The Pure Theory of Ideology , define ideologia como toda “doutrina que
apresente uma verdade oculta e salvífica em relaçã o aos males do mundo em forma de aná lise social”.
[4]
E talvez neste ponto o evolucionismo se mostra mais entranhado mesmo na cosmovisã o de alguns cristã os, visto que a
imagem de uma natureza enquanto arena de sangrenta luta predató ria é ainda prevalente. A Bíblia, porém, demonstra o
cuidado de Deus sobre todos os âmbitos de sua criaçã o (cf. Jó 39-39).
[5]
A perfectibilidade do homem . Tradução Jesualdo Correia. Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.
[6]
Jean-Marc Berthoud, num breve comentá rio sobre as consequências do afastamento das vá rias ciências em relação à
lei divina, afirma que as teorias econô micas divergentes têm em comum a substituiçã o da providência divina por um dos
aspectos da economia: “Uma concepçã o da economia cada vez mais distante das normas éticas da lei divina – David Hume,
Adam Smith, David Ricardo, Karl Marx, Ludwig von Mises, John Maynard Keynes, Milton Friedman” ( O combate central da
Reforma: a fé confessante . Traduçã o Samara Geske. Brasília, DF: Monergismo, 2017, p. 123).
[7]
Revolt Against Maturity . Vallecito, CA: Ross House Books: 1987, p. 65-66.
[8]
The Long March: How the Cultural Revolution of the 1960s Changed America . New York: Encounter Books, 2001, p. 261
[9]
A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci . 4. ed. São Paulo: Vide Editorial, 2014, p. 123-124.
[10]
Este capítulo consiste em uma palestra que proferi em 25 de fevereiro de 2011, na Virtue of Prosperity Conference
[Conferência Virtude da Prosperidade], em Newport Beach, Califó rnia. Ela foi revisada e expandida para publicaçã o. A
conferência foi patrocinada pelo Acton Institute, o Bahnsen Group, e o Center for Cultural Leadership. Outros palestrantes
foram Robert Sirico do Acton Institute, David L. Bahnsen do Bahnsen Group, Dinesh D’Souza do King’s College, e Jay
Richards do Discovery Institute. Devo gratidã o especial ao Bahnsen Group e ao Fieldstead and Company por
subscreverem o evento. Meu texto lida com uma das questõ es mais prementes do nosso tempo: como o ateísmo invadiu
nossa cultura sob a forma de economia intervencionista — e como ele saqueia nossa liberdade, muitas vezes com o
consentimento tá cito de uma igreja ingênua e em coma. Para mais informaçõ es, veja www.moralcapitalism.com.
[11]
Richard Tarnas, The Passion of the Western Mind (New York: Ballantine, 1991), p. 341-1.
[12]
A Conflict of Visions (New York: William Morrow, 1987), cap. 1. Publicado no Brasil como Conflito de visões: origens
ideológicas das lutas políticas . Tradução Margarita Maria Garcia Lamelo. São Paulo: É Realizaçõ es, 2011.
[13]
Cornelius Van Til, The Defense of the Faith (Phillipsburg, New Jersey, ediçã o de 1967), p. 46-50.
[14]
Sobre esse elitismo, veja Angelo M. Codevilla, The Ruling Class (New York: Beaufort Books, 2010).
[15]
Faço mençã o à providência prescritiva de Deus: o desejo divino em relação ao mundo, como se encontra na Bíblia. Nã o
me refiro à providência decretiva , seus conselhos secretos nã o revelados ao homem antes de sua ocorrência. Pode ser
que a providência decretiva de Deus conduza à tirania política (e econô mica) de uma cultura (Hc 1.5-11), mas o homem
deve viver de acordo com a providência prescritiva , oposta à tirania (1Sm 8.1-18).
[16]
“Transcript: Obama and Clinton Debate”, Disponível em: <http://abcnews.go.com/Politics/DemocraticDebate/story?
id=4670271&page=3>. Acesso em: 16 mar. 2011.
[17]
The Gate . New York: Alfred A. Knopf, 2003, p. 6-7.
[18]
Clark H. Pinnock, “The Pursuit of Utopia”, in: Freedom, Justice and Hope , Marvin Olasky (org.) (Wheaton, Illinois:
Crossway, 1988), p. 76-82.
[19]
Contrá rio à calú nia de tantos, os pó s-milenaristas negam a utopia terrena, como o faz aqui o pó s-milenarista Andrew
Sandlin. [N. do T.]
[20]
Ronald Nash (org.), Liberation Theology (Milford, Michigan: Mott Media, 1984).
[21]
Grand Rapids: Eerdmans, 2002.
[22]
Ibid. , p. 189, grifos do autor.
[23]
Tipo de plano de aposentadoria patrocinado pelo empregador. [N. do T.]
Revisado e expandido de uma palestra que proferi na Conferência Anual do Center for
[24]