Você está na página 1de 166

Table of Contents

Folha de rosto
Copyright
Índice
Introdução
Parte 1: Encontrando servidores de mesas
1. Escolhendo o seu garçom: introdução para o diaconato
2. Cheios do espírito e de sabedoria
3. Sincero
4. Sóbrio e contente
5. Mantendo a fé
6. Experimentados e irrepreensíveis
Parte 2: Encontrando bons presbíteros
7. Sobre ovelhas e pastores: uma introdução para presbíteros
8. Excelente obra almeja
9. Irrepreensíve
10. Marido de uma só mulher
11. Temperante, sóbrio, modesto
12. Hospitaleiro
13. Apto para ensinar
14. Sóbrio, gentil, pacificador
15. Não amantes do dinheiro
16. Um líder em seu lar
17. Maduro e humilde
18. Respeitado pelos de fora
Parte 3: Qual o trabalho fazem aqueles que são bons pastores
19. Os presbíteros refutam o erro
20. Os presbíteros refutam os mitos e treinam para uma vida piedosa
21. Os presbíteros esperam em Deus
22. Os pastores ordenam
23. Presbíteros não permitem que ninguém despreze a sua mocidade
24. Os presbíteros dão o exemplo
25. Os presbíteros ensinam
26. Os presbíteros se desenvolvem
27. Os presbíteros vigiam suas próprias vidas
28. Presbíteros vigiam sua doutrina
Palavras finais
Apêndice: Exemplos para os votos na ordenação de um pastor ou
presbítero
Notas
9Marcas
Editora Fiel
“Como pastor, penso regularmente sobre o tipo de liderança que nossa
congregação terá depois que eu estiver com o Senhor e ocupado com
outras coisas. Os desafios de transição geracional na liderança da igreja
são os maiores que uma igreja enfrentará. Com isso em mente,
recomendo esta excelente contribuição de Thabiti Anyabwile a esta
discussão tão necessária. Este livro promete ser realmente uma grande
ajuda.”
Douglas Wilson , professor de Filosofia e Línguas Clássicas,
New St. Andrews College; pastor, Christ Church, Moscow, Idaho
“Escolher homens que liderarão a igreja é uma tarefa séria. Eu
recomendo este valioso material escrito por Thabiti Anyabwile, meu
amigo e parceiro no evangelho. Este livro é criterioso e prático. Os
discernimentos de Thabiti neste livro ajudarão você a recrutar, alistar e
reproduzir líderes fiéis em sua igreja.”
James MacDonald , pastor, Harvest Bible Chapel,
Rolling Meadows, Illinois
“Motivado por um amor óbvio pela igreja local, o pastor Thabiti leva
muito a sério a liderança bíblica. Ele a leva tão a sério que escreveu um
livro com o propósito de ser tanto bíblico quanto acessível ao povo da
igreja – explicando claramente o ensino da Bíblia sobre as qualificações
para liderança e muito mais. Depois de uma exposição cuidadosa de
cada qualificação para liderança, ele inclui uma lista de perguntas
proveitosas para os que aspiram à liderança fazerem a si mesmos e para
aqueles que entrevistarão esses aspirantes. Obrigado, Thabiti, por ajudar-
me a pensar mais profundamente em meu chamado como presbítero e
em meu esforço para formar líderes que glorificam a Deus e amam as
pessoas na igreja de Cristo para a geração seguinte.”
Tom Seller , pastor de Desenvolvimento de Liderança,
Bethlehem Baptist Church, Minneapolis, Minnesota;
Deão, Bethlehem College and Seminary
“Como identificamos, separamos e preparamos líderes dos quais
precisamos tão urgentemente? O pastor Thabit escreveu um livro prático
e teologicamente fiel que aborda esta pergunta crucial, com análise
completa. Este é o tipo de livro que você desejará ter à sua disposição e
a ele recorrer quando estiver pensando em possíveis diáconos e
presbíteros para o ministério. O livro é atual, relevante e provoca
reflexão.”
Dave Kraft , pastor, Mars Hill Church, Orange County;
Autor, Leaders Who Last
“Este livro de Thabiti Anyabwile é uma importante lembrança de um
fato básico que pode ser facilmente esquecido na corrida por progresso
eclesiástico – ou seja, que precisamos de presbíteros e diáconos fiéis.
Embora este livro tencione ajudar os que estão procurando oficiais para
sua igreja a saberem o que devem procurar em tais homens, achei as
perguntas um ótimo fortificante para minha alma e um espelho que
revela áreas em que preciso aprimorar como pastor de igreja.”
Conrad Mbewe , pastor, Kabwata Baptist Chruch, Lusaka, Zambia;
Autor, Foundations for the Flock
“Este é um grande livro. É uma meditação abrangente das qualidades de
presbíteros e diáconos que nos faz pensar cuidadosamente sobre o que
Deus tenciona para seus líderes. Que tipo de pessoa as igrejas deveriam
procurar? Você é esse tipo de pessoa? Mas, em segundo plano, este livro
oferece uma reorientação radical do que é a liderança na igreja. A
liderança da igreja não depende de sucesso profissional ou acadêmico e
sim de piedade. Este livro pode mudar a maneira como os membros e
líderes de igreja pensam sobre liderança, o que valorizam e o que
cultivam. Líderes e membros serão igualmente beneficiados.”
Jonathan Leeman , diretor editorial, Ministério 9 Marcas;
Autor, A Igreja e a Surpreendente Ofensa do Amor de Deus (Editora
Fiel)
“Encontrando Presbíteros e Diáconos Fieis oferece meditações sobre as
Epístolas Pastorais que potenciais diáconos e presbíteros em treinamento
precisam. Mas tanto pastores quanto leigos acharão estes capítulos
discernentes e penetrantes, porque são fiéis à Escritura, culturalmente
contextualizado e de implementação imediata. Há milhares de igrejas
bem intencionadas que estão flutuando com prática religiosa medíocre e
que poderiam ser transformadas em igrejas vibrantes, que agradam a
Cristo, ganham almas e transformam sua comunidade, se os oficiais de
suas congregações adotassem as exortações simples desta obra
graciosa.”
Eric C. Redmond , pastor principal, Reformation Alive Baptist Church,
Temple Hills, Maryland
“Como membro de uma equipe de pastores que está sempre em algum
ponto do processo de identificar, desenvolver e afirmar presbíteros e
diáconos, recebo com alegria este livro de Thabiti Anyabwile. Correto
desde o princípio, com a clareza e convicção de suas sentenças iniciais,
este livro está marcado por ensino bíblico saudável. A transição coerente
para conselho prático no final de cada capítulo é onde este livro prova
realmente o seu valor. Será um guia muito útil para todos os que estão
comprometidos em fazer liderança da igreja pela Bíblia.”
Mike Bullmore , pastor, Crossway Community Church,
Bristol, Wisconsin
Encontrando presbíteros e diáconos fiéis
Traduzido do original em inglês
Finding Faithful Elders and Deacons
por Thabiti M. Anyabwile
Copyright ©2012 por Thabiti M. Anyabwile

Publicado por Crossway Books,
Um ministério de publicações de Good News Publishers
1300 Crescent Street
Wheaton, Illinois 60187, USA.

Copyright © 2015 Editora Fiel


Primeira Edição em Português: 2015

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica
Literária

PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAISQUER MEIOS , SEM A


PERMISSÃO ESCRITA DOS EDITORES , SALVO EM BREVES CITAÇÕES , COM
INDICAÇÃO DA FONTE .

Diretor: James Richard Denham III
Editor: Tiago J. Santos Filho
Tradução: Roberto Freire
Revisão: Elaine Regina O. Santos
Diagramação: Rubner Durais
Capa: Rubner Durais
Ebook: Yuri Freire

ISBN: 978-85-8132-307-7

A532e
Índice
Introdução
PARTE UM – ENCONTRANDO SERVIDORES DE MESAS
1 – Escolhendo o seu garçom: introdução para o diaconato
2 – Cheios do espírito e de sabedoria
3 – Sincero
4 – Sóbrio e contente
5 – Mantendo a fé
6 – Experimentados e irrepreensíveis
PARTE DOIS – ENCONTRANDO BONS PRESBÍTEROS
7 – Sobre ovelhas e pastores: uma introdução para presbíteros
8 – Excelente obra almeja
9 – Irrepreensível
10 – Marido de uma só mulher
11 – Temperante, sóbrio, modesto
12 – Hospitaleiro
13 – Apto para ensinar
14 – Sóbrio, gentil, pacificador
15 – Não amantes do dinheiro
16 – Um líder em seu lar
17 – Maduro e humilde
18 – Respeitado pelos de fora
PARTE TRÊS –
QUAL O TRABALHO FAZEM AQUELES QUE SÃO BONS
PASTORES
19 – Os presbíteros refutam o erro
20 – Os presbíteros refutam os mitos e treinam para uma vida piedosa
21 – Os presbíteros esperam em Deus
22 – Os pastores ordenam
23 – Presbíteros não permitem que ninguém despreze a sua mocidade
24 – Os presbíteros dão o exemplo
25 – Os presbíteros ensinam
26 – Os presbíteros se desenvolvem
27 – Os presbíteros vigiam suas próprias vidas
28 – Presbíteros vigiam sua doutrina
Palavras finais
Apêndice: Exemplos para os votos na ordenação de um pastor ou
presbítero
Notas
INTRODUÇÃO
“E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso
mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros

U
(2 Timóteo 2.2)
ma igreja sem líderes piedosos, é uma igreja em perigo. E uma
igreja que não treina outros líderes é uma igreja infiél. Deus nos
dá líderes nas igrejas para o seu amadurecimento, unidade e
solidez em cada congregação local. Sem a existência de uma liderança
piedosa, fiel e que se multiplica, a igreja sofrerá profundamente.
O apóstolo Paulo reconhecia quão importante é esta liderança. Em sua
segunda epístola a Timóteo, ele escreve ao seu filho na fé diversas
instruções e exortações finais, incluindo esta de encontrar bons líderes.
Timóteo cresceu sob a instrução espiritual de sua avó Loide e de sua
mãe Eunice (2 Timóteo 2.2, 5). Ele viajou, serviu e aprendeu ao lado de
Paulo. Agora, já perto do fim de sua vida, instruindo “à sombra do
cadafalso” 1 , Paulo escreve com profunda ternura, praticamente em
todos os versículos. Entre as muitas jóias nessa carta, uma delas é sua
maneira de encarregar Timóteo a encontrar “homens fiéis.”
Os ensinos do apóstolo precisam, necessariamente, ser passados de
mãos fiéis para outras mãos fiéis. E isso quer dizer que o pastor deve
estar capacitado para encontrar homens capacitados e treiná-los. Se um
homem não se encontra habilitado para discipular outros, parecerá
bastante estranho que ele tenha sido chamado para o ofício pastoral.
Eu sou o produto de um homem que me encontrou, levou à prova
minha confiabilidade e, então, conferiu-me o tesouro do evangelho.
Lembro-me de Peter Rochelle que, de modo altruísta, deu-me a
oportunidade de trabalhar ao seu lado, na implantação de uma igreja.
Primeiramente, buscou entusiasmar-me a pregar e a ensinar e, desde
então, seu método expositivo tem influenciado minha vida.
Depois foi Mark Dever, um talentoso e incomum discipulador de
homens. Jamais poderei esquecer sua entusiástica generosidade a meu
favor. Começou no dia da minha entrevista à membresia da Igreja
Batista de Capitol Hill. Perguntou-me o que eu planejava para minha
vida a longo prazo. Assim, um tanto intimidado, respondi-lhe: “Eu
desejaria, se o Senhor me permitisse, ser um pastor de tempo integral.”
“É mesmo?”, perguntou-me Mark, com sua sobrancelha curiosamente
levantada, sua cabeça levemente de lado. Depois voltou-se para minha
esposa e perguntou: “Ele é capaz de ensinar?”
Oh, não, pensei. Essa eu não esperava. Que será que ela vai dizer?
Para meu alívio, veio uma rápida e imediata resposta, “Oh, sim, é
capaz”. Mark Dever virou-se para mim e disse, “você precisa chamar a
secretária da igreja e dizer que lhe coloque em minha agenda de
almoços. Temos que sair juntos e verificar alguns bons livros cristãos.
Considere minha vida à sua disposição”.
Nunca me esqueci dessas palavras. Meus cinco anos na Igreja Batista
de Capitol Hill ficaram marcados pelas vidas de Mark Dever, Michael
Lawrence, Matt Schmucker e um número enorme de outros homens –
sem ainda mencionar toda a família de membros – que se derramaram
em minha vida, confiando-me todas as coisas que eles ouviram, leram,
viram e aprenderam consonante ao Senhor, ao Evangelho e à sua Noiva.
QUE TÊM OS MARQUETEIROS, QUE AS IGREJAS CRISTÃS
NÃO TÊM?
Por um bom número de anos, cada vez que eu visitava uma livraria, era
abordado por alguém que me perguntava se eu estava interessado em
“ganhar de 500 a 1.000 dólares por mês, trabalhando em minha própria
casa, apenas 10 horas por semana”. Era como se eu tivesse um rótulo na
testa, que dizia “bobo de marketing”. Eles queriam que eu me tornasse
parte de sua “linha de apoio” – ajuntar-me à sua liga de insuspeitos,
ingênuos, um tipo de marqueteiro “fique-rico-rapidamente”. Estes se
multiplicavam rapidamente, e da maneira mais abrangente possível.
O que aqueles “marqueteiros” possuem que os pastores cristãos não
possuem?
Se, num sistema de negócios de vendas diretas e “marketing”, seus
associados estão constantemente buscando novos representantes,
certamente nós, que somos embaixadores de Cristo, deveríamos fazer o
mesmo. A nós nos foi confiado o ministério da reconciliação. Se fomos
tornados em possessão do próprio Cristo, deveria ser nosso negócio e
nosso prazer instruir outros mordomos das boas novas de Deus, que irão,
por sua vez, procurar outros para, não só manter, mas também ensinar o
evangelho.
Dizer , porém, que um pastor deve procurar e treinar outros, é a parte
mais fácil. Mas na prática, como isso acontece? Como fazê-lo?
Nos capítulos que seguem, gostaria de convidar pastores e presbíteros
para conversarmos sobre este assunto de procurar e treinar homens fiéis
para a obra de liderança na igreja. Eu não sou um especialista. Não estou
nisto por muito tempo e estou certo da existência de centenas de outros
homens que podem fazer isto melhor. O que você não encontrará aqui é
um processo de “dez passos para transformar homens espirituais em
presbíteros”. Você não vai encontrar uma fórmula para tornar toda e
cada pessoa em uma estrela da liderança .
Em vez disso, o que segue são breves meditações nas instruções de
Paulo a Timóteo, em 1 Timóteo 3 e 4. No capítulo 3, vamos examinar as
qualificações bíblicas para presbíteros e diáconos e perguntar que tipo de
caráter esses homens devem possuir e como podemos distingui-lo. No
capítulo 4, vamos considerar o encargo de Paulo a Timóteo como um
modelo para um ministério pastoral fiel. Com a bênção de Deus,
enquanto andamos em passos vagarosos por 1 Timóteo 3 e 4,
ponderaremos sobre as qualidades que devem ser procuradas e que
responsabilidades devem ser cumpridas na liderança cristã.
Muito mais se poderia dizer sobre este assunto tão importante. Muitos
livros grossos têm sido escritos e estão disponíveis ao leitor interessado. 2
Mas, espero que este pequeno volume venha complementar esses outros
recursos, ajudando aos já sobrecarregados pastores que desejam cultivar
outros líderes, mas que necessitam conversar com outro colega, a fim
trazer à tona certas perguntas e ideias.
1
ESCOLHENDO O SEU GARÇOM:
INTRODUÇÃO PARA O DIACONATO

E u frequento restaurantes com uma considerável regularidade. Ali


ocorre muito do meu trabalho de discipulado. Encontro-me com
homens da igreja em restaurantes para discutir as Escrituras,
nossas vidas, e bons livros. Além de compartilhar um bom almoço, ser
atendido por um bom garçom realmente ajuda a fazer desses encontros
uma ocasião proveitosa. Quando os garçons se deleitam em seu serviço
como servidores de mesas, quando são prestimosos em servir, quando
estão disponíveis sem se tornarem intrusos, então a experiência é
bastante agradável.
O lado ruim é que os fregueses, normalmente, não podem escolher os
seus garçons. Nós chegamos, um assento nos é apontado por uma
recepcionista e depois aguardamos o garçom que, eventualmente, foi
designado para a área onde estamos assentados. Poderá dar-se o caso
que venhamos a ser servidos por um ótimo garçom ou garçonete, mas
também poderá acontecer o contrário. Aquele que nos serve poderá, por
exemplo, não conhecer bem o cardápio da casa, ou poderá estar
passando por um dia em que as coisas não lhe correm bem, ou que não
tenha muita experiência, ou, quem sabe, acabou de vir de outra mesa
onde tenha sido maltratado. Em linguagem secular, ser servido por um
bom garçom, “é uma questão de sorte”.
Talvez, você ainda não tenha percebido, mas há pelo menos um
aspecto na vida da igreja local que é como comer num restaurante. A
igreja local, igualmente, tem aqueles que servem as mesas. Os
chamamos de “diáconos”. O deleite, a paz, a unidade e o produzir frutos
em uma igreja local, depende, em parte, de termos um grupo de
servidores de mesa fiéis, que sempre estão presentes quando são
necessitados, prontos para servir, sem se intrometerem naquilo que não
lhes diz respeito.
Os próximos capítulos se referem à procura de diáconos na igreja local
– servidores de mesa fiéis, que se entregam ao serviço de cuidar das
necessidades do corpo local. Nestas últimas duas ou três décadas, mais e
mais igrejas estão adotando o modelo bíblico de uma multiplicidade de
pastores, ou presbíteros, o que significa que a posição oficial dos
diáconos tem sido redefinida ou negligenciada. Os diáconos, porém, são
uma parte indispensável no serviço do corpo de Cristo e na
multiplicação do ministério da igreja.
Vemos isso claramente em Atos 6, onde os apóstolos encarregaram a
igreja em Jerusalém de procurar diversos homens cheios do Espírito e de
sabedoria. A palavra diácono não é encontrada nesta passagem mas,
entretanto, parece apontar nessa direção.
A oportunidade: Em Atos 6.1 lemos que o número dos discípulos
estava se multiplicando. Eram dias de prosperidade espiritual na
conversão de muitas almas e de sua consequente matrícula na escola de
Cristo. A Palavra de Deus avançava e produzia frutos.
O conflito: Na igreja, porém, os gregos, ou melhor, os judeus
helenistas, levantaram uma reclamação contra os hebreus, ou seja, os
judeus que falavam hebraico. Aqueles não criam que a alimentação
estava sendo distribuída equitativamente entre as viúvas. E não parecia
que esta distribuição desigual estivesse ocorrendo de forma aleatória.
Parecia que as viúvas estavam sendo atendidas de forma diferenciada,
porque umas eram gregas e as outras, judias. A discrepância parecia ser
um caso de preconceito étnico ou cultural, e essa situação ameaçava a
unidade da igreja e o bem estar físico de alguns membros.
A solução: então, os apóstolos deliberaram duas coisas. Primeiro,
determinaram priorizar o seu próprio ministério da Palavra e da oração,
acima do cuidado físico das pessoas necessitadas. Segundo, decidiram
instruir a igreja a escolher sete homens para “servir as mesas” –
diáconos (v.2). Assim procedendo, os apóstolos fizeram provisões para
ambos os ministérios: da Palavra e do cuidado às viúvas.
Para a sensibilidade moderna, “servir mesas” está, algumas vezes,
conotado como uma posição de nível baixo e humilhante. Uma pessoa
serve mesas quando ainda está estudando numa universidade, ou
aproveitando o tempo, enquanto sua carreira profissional progride.
Muitos assumem isso como um sacrifício necessário para ganhar sua
subsistência.
Mas, que diferença na igreja do Senhor! Os apóstolos, sob a inspiração
do Espírito de Deus, aparentemente criaram um novo ofício na igreja,
para o específico propósito de servir mesas. E a grandeza desse trabalho
se vê: (a) no caráter dos indivíduos que deveriam ocupar este ofício
(“cheios do Espírito e de sabedoria” – v. 3); (b) no fato que isto
facilitaria o ministério da Palavra e da oração, e (c) no efeito unificador
e fortalecedor que isto traria à igreja em geral. O diaconato é importante.
Reconhecemos haver viúvas em nossa igreja que não estão sendo
tratadas apropriadamente? Quem sabe, devamos considerar nosso
trabalho com os diáconos. Existe alguma desigualdade na distribuição
dos recursos benevolentes na igreja? Soa como algo prudente para a
função dos diáconos.
Existem tensões culturais e ameaças à unidade da igreja? Desejamos
ver uma maior e mais diversificada integração da igreja na vida dos
crentes? Pois a posição diaconal foi estabelecida justamente para
promover uma harmonia que cruze as barreiras culturais e as diferenças
de idiomas.
A igreja está sendo ameaçada de uma ruptura em seu seio? Os
diáconos eram como os “amortecedores” da igreja, em seu princípio.
Eles absorviam as reclamações e as preocupações, resolvendo-as
piedosamente e, assim, promoviam a unidade e o testemunho dos santos.
Quando Estevão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau
foram comissionados para o diaconato, “crescia a Palavra de Deus e, em
Jerusalém, multiplicava-se o número dos discípulos; também
muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (Atos 6.7). Quem dentre nós
não deseja ver a Palavra de Deus espalhando-se, o número dos
discípulos crescendo rapidamente, um grande número de pessoas
obedecendo à fé? Um ministério diaconal assim efetivo, facilitou na
igreja primitiva, visto que liberou os “diáconos da Palavra” – os
apóstolos – para levarem a cabo o seu trabalho. Com esta esperança em
mente, eu oro para que o Senhor nos guie em nossa consideração de
diáconos e de como encontrá-los em nosso meio.
2
CHEIOS DO ESPÍRITO E DE SABEDORIA
“Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios
do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos desse serviço.”

S
(Atos 6.3)
endo Deus tão cheio de graça e de bondade, ele me tem
permitido servir no ministério pastoral como presbítero por vários
anos. Quanto mais o Senhor me permite servir no ministério
pastoral, também mais profundamente imprime sobre mim a importância
de orar por homens fiéis, que sirvam como diáconos na igreja.
Numa recente reunião de membros, a congregação celebrou a
finalização do tempo de serviço de um irmão que serviu nossa igreja
como diácono. Durante o tempo em que serviu, nosso diácono presidiu a
maior companhia de telecomunicações do país. Era um homem super
ocupado. Entretanto, todos na congregação, um por um, reconheciam
sua humildade, seu enfoque espiritual, seu desejo ardente de servir e sua
sabedoria.
Os agradecimentos manifestados pela congregação me lembraram da
sabedoria e do discernimento dos apóstolos, dados pelo Espírito, em
Atos 6. Eles ensinaram a igreja ainda jovem, e rapidamente crescente em
Jerusalém, que escolhesse, dentre seus membros, “sete homens de boa
reputação, cheios do Espírito e de sabedoria” (v.3). Nosso diácono
certamente prescrevia aquelas qualificações, e toda igreja necessita de
homens deste quilate.
Quando procurarem por diáconos, as igrejas devem buscar homens
cheios do Espírito. O ofício é espiritual. Sua função é um trabalho
espiritual, mesmo que sua igreja organize seus diáconos, designando-os
para tarefas específicas. A igreja não terá nenhuma vantagem em apontar
aqueles que não são cheios do Espírito. Os diáconos devem ser homens
conhecidos por sua sabedoria e por serem cheios do Espírito.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) O candidato a diácono tem a reputação de ser uma pessoa cheia do
Espírito e de sabedoria?
Os apóstolos recomendaram homens conhecidos por essas
características. Não recomendaram que escolhessem pessoas de caráter
não comprovado. Os diáconos necessitam ser pessoas controladas pelo
Espírito de Deus, em vez de controlados por sua própria carne e natureza
pecaminosa. Mais ainda, a posição diaconal exige pessoas que vivam
sob o temor do Senhor, que é o princípio da sabedoria (Provérbios 1.7).
Devem ser pessoas que sabem como viver sob os preceitos de Deus e
como aplicá-los às diversas situações da vida. Esta é a essência da
sabedoria. Portanto, pergunte: “O provável diácono tem a reputação de
manter-se fiel no seu caminhar com o Espírito de Deus, e está vivendo
sabiamente diante do Senhor?
2) Esta pessoa coloca o ministério da Palavra e da oração acima das
necessidades práticas da igreja?
O propósito principal que levou os apóstolos a designarem diáconos, foi
para assegurar que o ministério da Palavra não fosse negligenciado.
Assim, você também deve assegurar-se de que o diácono em potencial
entenda seu serviço como uma oportunidade para liberar o trabalho do
ministério da Palavra, e não o de competir com este. Ele reconhece o
aspecto de sua função como uma facilitadora, ou é alguém que advoga
mais e mais atenção a esta ou aquela necessidade prática? Comentando
em Atos 6.3, Dr. Martyn Lloyd-Jones, apontou três maneiras pelas quais
um diácono precisa reconhecer a prioridade das coisas espirituais e do
ministério da Palavra:

É errado colocar o trabalho de “servir mesas” antes da pregação da Palavra,


porque sempre estará errado colocar o homem antes de Deus. Em um resumo,
este é o problema com o mundo. O homem está no centro – ele é tudo...
Assim, pois, está errado colocar o homem antes de Deus, e, exatamente da
mesma maneira, está errado colocar o corpo antes da alma. Em outras
palavras, não somente estaremos errados com respeito a Deus, mas estaremos
também enganados com respeito ao homem. O que é o homem? Conforme a
teoria moderna, o homem é nada mais que um corpo, portanto, você tem que
atender a todas as necessidades que tem a ver com o corpo; dê-lhe bastante
comida, bastante bebida, roupa, abrigo, atenção médica, suficiente sexo. Que
tragédia, pensar que a humanidade está procurando exaltar-se e virar suas
costas para Deus, e concentrando-se em suas necessidades físicas. E é com isto
que a Palavra de Deus se confronta, e o que ela denuncia...
Finalmente, não é esta a mais alta necessidade e, realmente, a maior das
tragédias, colocar o tempo antes da eternidade? A alimentação do corpo
pertence tão somente ao temporal. 4

Um diácono fiel prioriza a Deus acima do homem e a eternidade acima


do secular, mesmo enquanto atende às importantes necessidades físicas
do povo da igreja.
3) É ele, um servo?
A despeito do que as pessoas acreditem, que o “servir mesas” é um
trabalho humilhante e de baixo nível, nós, cristãos, não devemos ignorar
o fato de que tal “rebaixamento” e boa vontade reflete a vida e a
humildade de Cristo. Ele veio para servir, não para ser servido, e para
dar sua vida em resgate por muitos (Marcos 10.45). Ele a si mesmo se
esvaziou, humilhou-se e assumiu a forma de servo – de escravo.
(Filipenses 2.3-8). O diácono tido em vista, pode ver que servir, faz
parte de seguir a Cristo? Se sente feliz em aceitar tarefas simplórias e
obrigações sem muito glamour ? Ou busca aplausos, reconhecimentos e
atenção para o “seu” ministério?
4) Há evidência do fruto do Espírito em sua vida (Gálatas 5.22-23)?
Você desejará saber se as virtudes de amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio são vistas
em como uma pessoa serve, e vistas em sua conduta geral. Os diáconos
normalmente atendem a um arsenal de frustrações e problemas numa
igreja local. Daí a necessidade de serem pessoas cheias da graça de
Deus, habilitados a confrontar situações com poderes e qualidades que
só o Espírito concede. Teriam que ser hábeis a “andar também no
Espírito”, e não se deixarem “possuir de vanglória”, ou ficarem
“provocando uns aos outros, tendo inveja um dos outros” (Gálatas 5.25-
26). Aqueles que potencialmente serão diáconos, não devem ser os que
provocam disputas, mas aqueles que apaziguam as discórdias. Então,
pergunte se a pessoa sendo considerada é um mexeriqueiro, ou se é
capaz de manter confidências apropriadamente. Sabe dissipar
murmurações e reclamações? Outras pessoas se sentem genuinamente
queridas e gentilmente tratadas, quando interagem com ele?
5) Demonstra uma sabedoria divinamente inspirada?
Um diácono necessitará não somente resolver problemas, mas também
deverá ser capaz de antecipá-los, para que um obstáculo futuro não
venha a descarrilhar a igreja em geral, no cumprimento de sua missão.
Para se fazer isso de uma maneira bem feita, uma pessoa precisa de
sabedoria. O homem que será escolhido como diácono é alguém
conhecido por seu discernimento, entendimento e decisões ajuizadas, em
seu interagir com outros? É reconhecido por sua sabedoria, quando trata
com problemas? É tardio para falar, pronto para ouvir e demorado em
irar-se (Tiago1.19-20)?. Considera as ideias dos demais, ou está sempre
fixo nas suas próprias (Filipenses 2.3)? Demonstra discernimento, não
somente em tomar decisões, mas também em implementá-las, e em
ajudar os outros a entenderem o motivo das decisões tomadas?
CONCLUSÃO
Não podemos jamais subestimar a importância de termos pessoas cheias
do Espírito para servir no ofício diaconal. Se os próprios apóstolos –
homens com excepcional vocação e dons – viram a importância crucial
de se ter cristãos assim, cheios do Espírito, para servir nesse cargo,
quanto mais necessitaremos nós da companhia de tais associados no
evangelho? Aprendendo a identificar e a orar por homens tais como
esses, nossas congregações locais se fortalecerão.
3
SINCERO
“Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam
respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não
cobiçosos de sórdida ganância.”

H
(1 Timóteo 3.8)
avendo escapado, com muita dificuldade, da Feira da Vaidade,
Cristão, o herói de João Bunyan, no livro O Peregrino,
encontra-se na companhia de um certo senhor chamado
Interesse Próprio, do povoado de Boas-Palavras. Cristão questiona
Interesse Próprio sobre aquela cidade e ele assegura a Cristão que Boas-
Palavras está povoada de pessoas muito ricas e nobres. Em seguida,
menciona a Cristão uma lista de nomes de parentes seus que ali
residiam.

São quase todos os habitantes da cidade, mas principalmente o senhor Vira-


Casaca, o senhor Contemporizador, e o senhor Boas-Palavras , de cujos
ascendentes tomou seu nome a cidade, os senhores Afago, Duas-Caras,
Qualquer-Coisa, o prefeito da vila, o senhor Duas-Línguas, que era irmão da
minha mãe por linha paterna, porque, realmente, para falar toda a verdade, eu
sou fidalgo de muito boa linhagem, apesar do meu bisavô não ter passado de
um barqueiro, que olhava para um lado e remava para o outro, ocupação em
que adquiri quase toda a minha vida. 5

Toda a alta burguesia da fictícia cidade de Boas-Palavras criada por


Bunyan sofria a praga do falar dissimulado.
OS DIÁCONOS E A SINCERIDADE
Como seria viver em uma cidade onde seu pároco fosse merecidamente
chamado de “Sr. Duas-Línguas”? Por mais respeitável que pudesse ser
entre o seu povo, com este hábito de bajular, este senhor nunca deveria
ser um candidato para o diaconato.
E por quê?
Porque os diáconos não somente devem ser homens cheios do Espírito
Santo, mas que devem igualmente ser “respeitáveis” e de “uma só
palavra”. Portanto, exige-se que um diácono não seja um homem dado a
uma linguagem confusa, de duas caras, que entrega-se a insinuações,
dando indiretas e fazendo com que se entenda algo sem expressar-se
claramente, com intuito enganoso. Ele deve dizer o que tenta expressar,
e expressar o que realmente quer dizer. E deverá evitar o pecado de
lisonjear, ou de bajular, falando a verdade em amor.
As pessoas podem ser dadas a um modo falso de falar, de duas
maneiras diferentes: Elas dizem uma coisa a uma pessoa, e outra coisa a
outra pessoa. Ou podem dizer uma coisa e, no entanto, fazer outra. Em
qualquer dos dois casos, pessoas com “línguas bifurcadas” não são
pessoas de confiança, e estão desqualificadas para o serviço de
diáconos.. O “sim” de um diácono deve ser sim, e o “não” deve ser não
(2 Coríntios 1.17-18).
A sinceridade reflete o caráter de Cristo. O Senhor nunca falou com
astúcia e engano. Ele não falava meias-verdades, nem tampouco falava
de forma a enganar ou provocar um entendimento falso. Tampouco o
Senhor bajulava a quem quer que fosse. Era sempre sincero no seu lidar
com todas as pessoas, revelando às pessoas suas desesperadas condições
em virtude de seus pecados, ou falando contra a autojustificação, ou
retendo as promessas da vida eterna. Em tudo, sempre foi puro. Assim,
também, seus servos devem ser fiéis (1 Tessalonicenses 2.5) e não
falarem com lábios bajuladores (Salmo 12.2-3; Provérbios 26.28). Falsos
mestres e pessoas que gostam de causar divisões, são os que empregam
bajulação (Romanos 16.18; Judas 16) – mas não deve ser assim, com os
que servem a Cristo.
Você já teve a má experiência de conversar com alguém sobre algo de
importância, mas, depois, sentir-se inseguro e preocupado se realmente
falou com uma pessoa de boa fé – de confiança? Como você se sentiu,
depois da conversa? Talvez, um pouco desconfortável e ansioso. Quando
cremos que alguém não usou de sinceridade conosco, sentimos que
nossa confiança na pessoa se esvai.
Deus deseja que os diáconos sejam homens que resolvam problemas,
porque, algumas vezes, se envolvem em assuntos da vida pessoal de
outros. Não é, pois, nenhuma surpresa que esta virtude de sinceridade
em um diácono ajude a acalmar as aflições e a solucionar muitos
problemas. Ainda que as soluções não venham a ser exatamente as que
esperávamos, pelo menos as pessoas receberão uma ajuda imensa, se
puderem ver que foram tratadas com sinceridade e amor. “A palavra de
um diácono deverá ser uma forte garantia em uma igreja. Pessoas, tanto
dentro como fora das igrejas, deverão encontrar, num diácono, um
homem de palavra.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) O candidato ao diaconato tem a reputação de ser um homem de
palavra?
Costuma cumprir suas obrigações? O diácono deve ter um testemunho
de completar as tarefas e obrigações que lhe são dadas, assim
demonstrando ser cumpridor de sua palavra. Então, pergunte, “esse
diácono tem uma palavra confiável?”
2) Ele costuma ser consistente no seu falar com diferentes pessoas?
Você desejará ter um certo nível de confiança de que aquilo que esta
pessoa fala em um lugar, é o mesmo que dirá em outro. Os diáconos
devem ser homens que lutam, com sucesso, contra o temor dos homens.
No final das contas, os diáconos serão comissionados a situações
problemáticas, portanto, não podem ser homens vulneráveis ao temor
das frontes franzidas dos homens, ou sucumbirem às pressões que,
muitas vezes, se sente em circunstâncias adversas.
3) O diácono costuma falar a verdade em amor (Efésios 4.15)?
Uma coisa é falar coerentemente, mas isso não será de muita ajuda, se
aquilo que foi dito coerentemente fere outros ou deixa de edificá-los.
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que
for boa para edificação, conforme a necessidade e, assim, transmita
graça aos que ouvem” (Efésios 4.29). O diácono deve vestir seu falar
com a maior de todas as virtudes: amor (1 Coríntios 13.13; Colossenses
3.14).
4) A igreja deve procurar homens que sejam bons apaziguadores.
Existem, em sua igreja, homens que já têm demonstrado a habilidade de
se colocarem entre duas pessoas com questões conflitantes, e servirem a
ambos os lados? Há pessoas que adquiriram a confiança da congregação,
por serem pessoas imparciais e atuarem com justiça. Nossos diáconos
frequentemente estão na linha de frente no cuidado do corpo da igreja.
Por isso, necessitamos de diáconos em cujas palavras podemos confiar;
diáconos que costumam completar bem os seus compromissos.
CONCLUSÃO
Que vantagem terá uma igreja onde os seus servos não são capazes de
falar as coisas com verdade e cumprir as suas palavras? As igrejas se
tornam lugares perigosos, quando seus líderes falham em serem
honestos, transparentes e confiáveis. Sinceridade poderá não ser a base
final da verdade, porém, não poderá haver verdade profunda
comunicada, onde a sinceridade esteja em falta.
4
SÓBRIO E CONTENTE
“quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis de uma só
palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida
ganância.”
(1 Timóteo 3.8)

Q uem gostaria de ser servido por um garçom bêbado, que lhe


assedia para maiores gorjetas ou que trata de lhe convencer a
pedir mais comida para que o restaurante tenha mais ganho? Ter
uma pessoa embriagada, cambaleando ao seu redor e exalando cheiro de
cachaça no seu rosto, enquanto você procura o que deseja pedir no
cardápio, não é, sem dúvida nenhuma, uma experiência desejável para
um jantar. Ou, tampouco, é agradável ser mal servido por um garçom
que, por qualquer mal juízo, assume que você não lhe vai dar uma boa
gorjeta.
Paulo instrui aos Coríntios, e também a nós, que o diácono “não seja
inclinado a muito vinho”, nem “cobiçoso de sórdida ganância”. Assim
como os presbíteros, os diáconos também devem ser sóbrios e exercer
autocontrole. E tampouco devem ser pessoas que tomam vantagem sobre
outros, para seu próprio benefício e lucro.
Aliás, em nenhum dos ofícios as pessoas deveriam estar controladas e
arruinadas pela bebida.
Além disso, os diáconos não devem ser “cobiçosos de sórdida
ganância”, ou, conforme diz outra versão, “gananciosos de lucros sujos”,
fazendo ver a feiura dessa disposição. Outra versão ainda diz “buscando
ganho desonesto”, o que, aparentemente, soa mais polido. Mas tal
qualidade não é outra coisa, senão ganância de lucro imundo, obsceno.
Esta é uma característica particularmente importante para se evitar, em
um diácono, visto que os diáconos têm um acesso mais íntimo à vida de
muitas pessoas na congregação, especialmente daqueles que são mais
vulneráveis, e aos quais os diáconos são chamados para ajudar. A missão
dos diáconos, afinal, é o de cuidar das questões práticas do corpo
congregacional que, muitas vezes, envolve benevolência. Essa seria uma
plataforma mui terrível para se confiar a alguém, que poderá explorar a
outros para o seu próprio lucro.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) O possível diácono toma bebidas alcoólicas?
Se toma, você ou outros notaram que ele o faz observando autocontrole,
ou o faz demonstrando fraqueza e pecaminosidade? Você precisará saber
se ele é capaz de dizer “não”, quando lhe oferecem bebidas alcoólicas.
Ele usa sua liberdade cristã nessa área, de maneira a não causar tropeços
e levando em consideração a presença de outros cristãos mais novos e
mais frágeis? Você poderá tê-lo como modelo de uma pessoa
responsável na maneira como usa, ou como se abstém do álcool?
Há enorme ganho na vida da igreja quando esta tem líderes e mestres
que podem dar o exemplo de serem pessoas livres de qualquer vício ou
compulsão.
2) O diácono em potencial exibe uma generosidade piedosa e
autonegação, ou demonstra ganância em seus assuntos financeiros e
pessoais?
Você poderá caracterizá-lo como um doador generoso, ou como um
acumulador de dinheiro? Ao buscar candidatos ao diaconato, você está
procurando pessoas que demonstram uma boa mordomia dos seus
recursos, tendo em mente a prioridade do reino, em vez de desejos de
ganhos e vantagens.
3) O homem com vistas ao diaconato incentiva outros à generosidade,
ou fomenta egoísmo em assuntos de finanças?
Por exemplo, você poderá levar em consideração se ele resmunga a
respeito das finanças da igreja, ou incentiva as ofertas e a unidade da
igreja em questões financeiras. Verifique se ele está disposto a investir
em missões e em ministérios evangelísticos, ou se, ao contrário, se
queixa sobre preocupações de promover segurança financeira. Diáconos
não devem ser pessoas sempre dispostas a construir maiores celeiros
(Lucas 12.15-21), mas que são ricos para com Deus e dão além daquilo
que eles, e a igreja, podem dar (2 Coríntios 8.1-5).
4) Demonstra cuidado pastoral e autossacrifício, quando interagem
com outros em suas necessidades?
O candidato ao ofício de diácono é uma pessoa que, costumeiramente,
culpa os outros por suas dificuldades financeiras, ou primeiramente
ministra àqueles, mesmo quando repreensão e admoestação são
necessárias? Um espírito que culpa e pune não fica bem naquele que está
disposto a resolver problemas e ajudar a outros em suas dificuldades.
Com tal pessoa, cada vez que tiver de ajudar, será sempre uma questão
amargosa e prejudicial para aqueles que estão necessitados de ajuda.
5) O diácono em potencial é honesto em seu procedimento financeiro?
Paga suas contas em dia? É honesto em sua declaração de imposto de
renda? É alguém que trata de esquivar-se um pouco, quando os negócios
da igreja requerem sacrifícios e maiores gastos? O diácono deve ter um
bom testemunho de Cristo na igreja; assim, honestidade e integridade em
todos os seus negócios são aspectos essenciais de seu caráter.
6) Qual é a atitude do diácono em potencial, com respeito a riquezas?
A questão não é se a pessoa é rica ou deixa de ser. Uma pessoa pode ser
gananciosa por lucros desonestos, vivendo numa favela ou em um
palácio. A ganância existe nos corações, tanto do pobre, como do rico.
Considere, então, se o diácono em potencial representa a sabedoria de
Agur, quando diz, “Duas coisas te peço: não mas negue antes que eu
morra: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza
nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder
que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que,
empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus” (Provérbios
30.7-9). O homem sabe o que significa ter ampla suficiência ou padecer
escassez (2 Coríntios 9.8; Filipenses 4.11-13)? Segura seus bens com
mão aberta, ou como um miserável? Um diácono que sabe estar contente
“em toda e qualquer situação”, como se expressa Paulo, será um
tremendo benefício em ensinar e em exemplificar contentamento aos
demais, no corpo da igreja.
CONCLUSÃO
Recentemente tive grande prazer em jantar num restaurante bastante
simples. A atmosfera do ambiente estava ótima. A comida era um pouco
acima da média.
O que fez do jantar uma ótima experiência foi a pessoa que nos servia.
Parecia antecipar tudo o que necessitávamos, e responder justamente
com a perfeita solução. Não tínhamos de esperar, ao chamá-la; quase
que ao mesmo tempo ela estava ali em cima da gente. Parecia importar-
se com nossa experiência e até perguntou-nos sobre nosso bem estar.
Esperava por nossas perguntas e respondia com muita graciosidade.
Quando saímos do restaurante nos sentimos notados, bem atendidos e
estimulados. Em toda a experiência, nunca nos sentimos como se
fôssemos apenas objetos de gorjetas, ou como uma inconveniência.
Sentimo-nos servidos por uma pessoa que gostava de servir.
Assim uma congregação deve se sentir, quando suas necessidades são
atendidas por um diácono.
5
MANTENDO A FÉ
“Conservando o mistério da fé com a consciência limpa”

O
(1 Timóteo 3.9)
casionalmente, eu costumo ter certo ritual quando vou aos
restaurantes, especialmente aqueles que eu ainda não conheço
muito bem. Gosto de deixar que o garçom, ou a garçonete, me
surpreenda com algum prato que ele, ou ela, creia que eu aprecie. O
ritual começou quando, juntamente com alguns colegas de trabalho,
fomos a um restaurante, depois de um dia de trabalho extremamente
cansativo em tomar diversas e difíceis decisões. Simplesmente não tinha
mais ânimo para tomar outra decisão.
Assim, tomei o lindo e colorido cardápio com tanta coisa que
provocava água na boca, passei-o às mãos da garçonete e lhe pedi: “Por
favor, você poderia pedir algo para mim? Eu sou um onívoro – gosto de
comer de tudo – de modo que não existe muita probabilidade de que me
desaponte”. Depois da surpresa e de alguma hesitação, a garçonete
voltou com uma deliciosa comida. Poupou-me da agonia de ter que
tomar mais uma decisão naquele dia, e um novo ritual nasceu.
Nestes últimos dez anos em que venho fazendo isto, apenas duas vezes
fiquei desapontado com o que o garçom me serviu. Certa ocasião, num
daqueles dias semelhantes ao primeiro em que esse ritual nasceu, eu
disse ao jovem que me servia que eu tinha um tremendo apetite para
“carne vermelha”, e ele serviu-me um enorme prato de camarões e milho
de cangica! Agora, eu sei que camarões com milho de canjica é uma
iguaria comum da Carolina do Sul, mas de maneira nenhuma eu poderia
“abastecer meu tanque” com mingau e animais que se alimentam de
carniças do mar. Meu queixo quase bateu na mesa, quando meus olhos
contemplaram aquela comida! Mas, para alívio do que me servia, eu lhe
assegurei que iria comer agradecido, e com contentamento, qualquer
coisa que me trouxesse. Assim, quando aquele prato chegou à minha
mesa, eu dei graças ao Senhor e desfrutei do que me foi servido.
A ideia de pedir dessa maneira se baseia no simples fato de que o
garçom, ou a garçonete, deverá conhecer o cardápio e a cozinha da casa
muito melhor do que eu. O seu conhecimento daquilo que o cozinheiro
sabe fazer melhor e daquilo que os fregueses mais apreciam, assim como
os ingredientes que estão disponíveis em dada estação do ano, para fazer
um prato delicioso, fará a estratégia realmente boa ou a tornará numa
grande aventura de experimento culinário.
CONHECENDO A FÉ
O que é verdade para alguém que serve mesas em restaurantes, deverá
ser igualmente verdade para aqueles que servem mesas na igreja. Os
diáconos devem conhecer seu “produto”. Nas palavras do apóstolo
Paulo, diáconos devem conservar “o mistério da fé com a consciência
limpa” (1 Timóteo 3.9).
O aspecto prático do ministério diaconal em “servir mesas”, poderá,
inadvertidamente, obscurecer a necessidade premente do diácono ser
saudável na fé. Porque os diáconos são designados a cuidar das
necessidades práticas do corpo, talvez até mesmo assinalados para uma
área específica de serviço, nós corremos o risco de ver os diáconos como
tecnocratas com capacidades especializadas, e com pouco discernimento
teológico. Vemos os diáconos como aqueles que “fazem coisas”, mas
não os vemos como pensadores.
Mas, para que se conserve “o mistério da fé com consciência limpa”,
requer-se um poderoso entendimento do Evangelho do Senhor Jesus
Cristo. Isto implica, pelo menos, em três requerimentos.
Primeiro, há um requerimento cognitivo. Os diáconos devem conhecer
e aceitar os ensinos do Senhor, conforme registrados na Santa Escritura,
especialmente os fatos que têm a ver com sua vida, morte e ressurreição,
e as implicações teológicas que advêm desses fatos. Precisam entender
as asserções bíblicas. Devem ser capazes de explicar, articuladamente,
pontos cardeais do evangelho de Cristo. De outra forma, como poderão
ser este tipo de servos que apontam Cristo àqueles a quem servem?
Segundo, há um requerimento experimental. O candidato ao diaconato
necessita, ele mesmo, ter abraçado a fé. Precisa ter o testemunho de uma
confiança e uma dependência pessoal unicamente em Jesus, para sua
salvação. Deve, ele mesmo, demonstrar um arrependimento e uma fé
genuínos. Um diácono não pode ser um incrédulo, não comprovado na
fé, ou incapacitado para fazer uma profissão de fé com credibilidade e
demonstrar o conhecimento do evangelho.
Terceiro, o diácono necessita ser alguém que mantém, ou guarda, as
verdades da fé “com uma consciência limpa”. Isto é, sua vida e sua
consciência devem conformar-se com a fé que professa. Não que
meramente guarde a verdade do evangelho sem nenhuma dúvida ou
reserva mental, mas é necessário que igualmente viva uma vida que seja
digna de seu chamado cristão (Efésios 4.1).
Então, que buscamos encontrar em um servidor espiritual de mesas?
Estamos procurando alguém que conheça a Palavra de Deus em sua
própria experiência de conversão, e com a suficiente experiência para
viver e exemplificá-la para outros. As congregações não podem
negligenciar esta qualificação, visto que os diáconos, inevitavelmente, se
verão em conversas evangélicas, aplicando a verdade da fé em suas
ministrações, e na vida de outras pessoas. Precisam ser mantenedores da
fé.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) Podemos ver, na vida do diácono em potencial, uma confiável
profissão de fé pessoal salvífica no Senhor Jesus Cristo?
Se a igreja pratica alguma forma de entrevista, como parte do processo
de aceitação em sua membresia, outros líderes provavelmente já
ouviram o testemunho de conversão de tal pessoa. Mas, quando se
entrevista uma pessoa para o ofício de diácono, é de boa prática que se
separe um tempo necessário para que os líderes e a congregação possam,
conjuntamente, ouvir e discutir o testemunho do candidato ao diaconato.
Esse tempo separado não deverá ser usado para uma inquisição, mas
para dar à congregação a oportunidade de confirmar as evidências da
graça de Deus na vida do candidato proposto.
2) O candidato a diácono compreende o evangelho?
Como parte de seu testemunho, a pessoa deverá incluir uma declaração
do evangelho. O que ela crê, no tocante a Deus, ao homem, a Jesus
Cristo, ao arrependimento, à fé? Poderá articular e defender a verdade
bíblica sobre a natureza do Deus triuno, sobre a criação e queda do
homem, sobre a pessoa e a obra do Senhor Jesus Cristo e sobre a
natureza da verdadeira conversão? A Igreja de Mars Hill, na cidade de
Seatle, Estado de Washington, requer de seus líderes que respondam por
escrito uma série de questões teológicas, baseadas em sua declaração de
fé.
3) Tem, o proposto diácono, a tendência de esmorecer-se na fé?
Pode-se discernir nele algum hábito ou padrão repetitivo em sua vida,
que possa sugerir a perda de estabilidade na fé e na sua vida cristã? É o
seu testemunho forte e estável, ou existem notáveis períodos de
volatilidade e inconsistência? Para manter-se firme na fé, é necessário
que a pessoa seja perseverante em sua fé e em seu testemunho.
4) O diácono em perspectiva costuma trazer o peso da fé das
Escrituras em sua vida e ministrações?
Os diáconos devem ser pessoas conhecidas entre seus líderes e entre
outros, como pessoas cujos pensamentos partem da cruz. Sua
expectativa de serviço é governada pela obra de Cristo, não em filosofias
e ideias humanas. A maneira como agora vivem e pensam, transmite a
confiança de que seus serviços serão bem orientados pela Palavra de
Deus. São conhecidos por abrir suas Bíblias com outros, quando
arrazoam diferentes questões, nunca confiando em seus próprios
entendimentos. São conhecidos por viverem sua fé tanto dentro da
igreja, como fora dela.
5) O candidato ao ofício de diácono guarda as profundas verdades da
fé sem nenhuma reserva?
O excesso de rivalidade no cristianismo faz com que sejam necessários
servos-líderes na igreja, inteiramente empenhados com a verdade
revelada nas Escrituras; portanto, você não quererá um diácono com
sérias dúvidas e opiniões divergentes com a declaração de fé da igreja. É
necessário que eles possam aceitá-las em boa consciência, indicando sua
completa disposição em defendê-la e estarem dedicados a informar
imediatamente aos pastores e presbíteros, caso encontrem-se em
discordância com a declaração de fé da igreja. Os diáconos devem,
igualmente, apoiar e apegar-se com clara consciência às características
bíblicas da igreja, tais como sua prática de batismos, sua posição com
respeito a mulheres no ministério pastoral, ou a posição do homem e da
mulher na família. Tanto quanto essas posições se demonstrem bíblicas,
o diácono deverá apoiá-las.
6) O homem proposto para ser um diácono é alguém que persevera na
fé?
Os diáconos, frequentemente, entram em dificuldades e em situações
incertas na igreja, com o propósito de estabelecer a paz, a estabilidade, a
ordem e os frutos. Para fazer isso eles precisam ser homens que
perseveram na fé e na verdade da fé, aplicando a Palavra de Deus e,
pacientemente, aguardando os resultados. Bem, poderá haver - assim
como também poderá não haver - frutos imediatos do seu trabalho. Os
diáconos, portanto, devem ser pessoas que sabem como permanecer
pacientes e perseverantes.
CONCLUSÃO
Em muitas igrejas, os diáconos servem no ministério de ensino. Quando
uma pessoa possui esse dom especial para ensinar, tal serviço resulta em
benefício. Mas, se o diácono lidera uma classe de Escola Dominical ou
não, ele continuará professando, vivendo e exemplificando as profundas
verdades da fé diante do povo de Deus. Assim, pois, as congregações
perceberão ser necessário para a glória de Deus e para a saúde da igreja,
encontrar diáconos instruídos pela verdade da Palavra de Deus e pelo
evangelho que ela revela.
6
EXPERIMENTADOS E
IRREPREENSÍVEIS
“Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se
mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato”

M
(1 Timóteo 3.10)
eu primeiro trabalho, depois de sair da Universidade, foi
servir numa ONG como tutor na preparação de pessoas
fisicamente deficientes, a fim de que pudessem ser integradas
ao mercado de trabalho. Foi uma ótima experiência junto a um grupo de
pessoas formidáveis.
Minha principal ocupação, depois de ajudar uma pessoa a encontrar
trabalho, era de continuar este serviço tutorial durante o período
probatório do emprego. De uma maneira geral, este era um período de
“vai-ou-racha” que, geralmente, em mui pouco tempo já se podia
discernir se aquele tipo de trabalho combinava com a pessoa indicada.
Vários de meus clientes desistiram ou foram demitidos do trabalho, em
apenas alguns dias e, em certos casos, em poucas horas. Aquele período
inicial era um teste para o empregado, para o empregador e para o tutor.
Os empregados, muitas vezes, se viam em situações demasiadamente
complexas para suas habilidades. Os empregadores, por vezes, sentiam-
se inadequados para dar o necessário apoio às pessoas deficientes. E,
diga-se, o tutor do empregado teve de aprender de tudo um pouco, desde
catar excremento de cachorros num canil (alguns dos melhores da
Carolina do Norte), até lavar janelas de aviões, processar dados na IBM,
fritar hambúrgueres numa rede de fastfood . Era como peneirar o trigo
pra separar a palha. Só o que servia, ficava.
EXPERIMENTANDO SERVOS NA IGREJA LOCAL
Servir numa igreja local não somente proporciona alegria, mas, de
tempo em tempo, também serve para provar o servo. Servir a outros
prova nosso amor, a capacidade de nossa paciência, a qualidade de nossa
resistência e a insistência de nosso prazer em servir. Servir, nos
proporciona enormes recompensas, mas, algumas vezes, estas
recompensas vêm embrulhadas em situações de provas. Aqueles que
graciosamente servem aos outros, poderão terminar sentindo-se como
“sacos de pancadas”, designados para que se descubra a extensão de
tolerância do calor, da força e, muitas vezes, da dor resultantes do ofício.
Os diáconos são chamados a inúmeras situações difíceis que
acontecem em função de necessidades bem sérias, ou, por outro lado, de
pecados de proporções consideráveis. Sendo assim, os novatos estão
sujeitos a muitas tentações. É a experiência nas batalhas que formam os
melhores soldados. Talvez seja por essa razão que o apóstolo Paulo
instrui a Timóteo, e às nossas igrejas, a encontrar servidores de mesas
que tenham sido “primeiramente experimentados; e, se mostrarem
irrepreensíveis, que exerçam o diaconato” (1 Timóteo 3.10).
Os diáconos têm de ser examinados ou postos à prova. Como diz um
comentarista: “a maneira como isso é feito, não está especificada. 1
Timóteo 5.22 e os versos que se seguem, indicam que, para se fazer
apreciação da vida de uma pessoa, temos de dar o tempo necessário.
Disto, podemos concluir que a prova tem de ser algo de muita
consideração e cuidado na avaliação da vida do homem, pela
congregação que, por sua vez, está ciente da necessidade de certas
qualificações”. 7 A prova, possivelmente, deverá envolver os tipos de
qualificações espirituais descritas em 1 Timóteo 3.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) O provável diácono é uma pessoa madura e um cristão em
crescimento?
O tempo não prediz, necessariamente, maturidade, mas, de uma forma
geral, pessoas recentemente convertidas ainda não foram provadas e
ainda são imaturas. Não existe um número mágico de anos que devam
passar, antes que as pessoas fiquem aptas e elegíveis ao ofício, mas as
igrejas devem examinar o indivíduo quanto à sua preparação e
capacidade, antes de fazer dele um diácono. Pode-se perceber o fruto do
Espírito em sua vida? Ele está crescendo à medida da estatura da
plenitude de Cristo, e contribuindo para que outros cresçam com ele em
Cristo (Efésios 4.11-16)?
2) O provável diácono demonstra competência em sua área de serviço?
Procurar competência em um diácono não é o equivalente a conduzir
uma busca no estilo de um caça-talentos. Mas, sabedoria e experiência
têm ensinado as igrejas a buscarem pessoas que já tenham habilidades
em servir na mesma área em que elas serão chamadas a liderar. Talvez,
tenham servido como voluntárias em alguma capacidade semelhante.
Ou, quem sabe, já tenham alguma experiência, ou alguma perícia, na
mesma área. “Este é um princípio geral para o ministério cristão: a
maneira de preparar-se para um serviço maior, é ter sido diligente em
algum serviço menor. Um ministério fiel é, ao mesmo tempo, gratificado
por Deus e reconhecido pela igreja”. 8 O candidato ao ofício diaconal
tem a destreza necessária para levar a cabo o serviço que a igreja
necessita?
3) Existe alguma coisa que poderá desqualificar o candidato para o
serviço que se requer?
Quer seja em caráter ou em competência, a prova feita pela igreja revela
deficiências sérias que possam impedir o diácono proposto a executar
seu serviço?
4) A congregação apoia o diácono em potencial a assumir seu
ministério?
A pessoa que passa nesses testes, deverá trabalhar com o completo apoio
da congregação e dos líderes da igreja local. O teste tem como propósito
confirmar suas aptidões e caráter, e endossar seu ministério.
CONCLUSÃO
O Senhor não estabeleceu o ofício de diáconos como algo extra, na
igreja local. O ofício não existe como um anexo obsoleto. Ao contrário,
os diáconos servem à mesa do Senhor com vistas a facilitar o avanço do
evangelho, a saúde do corpo local, e o regozijo dos santos. Os diáconos
são indispensáveis à igreja. Com muita razão, Paulo conclui: “Pois os
que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa
preeminência e muita intrepidez, na fé em Cristo Jesus” (1 Timóteo
3.13). Que nobre vocação!
7
SOBRE OVELHAS E PASTORES:
UMA INTRODUÇÃO PARA
PRESBÍTEROS
V ocê já sentiu o cheiro de uma ovelha? Gostou?
Não me refiro ao cheiro de costeletas de carneiro assando no forno. E
por “ovelhas”, tampouco me refiro aos animaizinhos imaginários que as
pessoas contam, quando não conseguem dormir. Me refiro a animais
cobertos de lã, vivos, balindo, vagando em verdes pastos.
Pra dizer a verdade, eu não tenho muita experiência com ovelhas, ou
com fazendas de criação de ovelhas. Houve uma ocasião, durante uma
visita à Escócia, em que minha família e eu tivemos o privilégio de
visitar o editor William McKenzie com sua família, em sua fazenda de
ovelhas. Que lugar lindo para criar ovelhas!
Mas logo aprendi que não é tanto o cheiro das ovelhas o que mais
preocupa, mas sim o que as ovelhas deixam, espalhado pelo pasto, e que
é realmente ameaçador! Com vistas tão deslumbrantes como aquelas que
os planaltos escoceses nos oferecem, os novatos no cuidado das ovelhas
têm o grande desafio de manterem-se com seus olhos abaixados,
observando onde pisam. Não temos outra escolha. Ovelhas são animais
bastante porcalhões e seus pastores necessitam, ou calçar boas botas, ou
serem muito cuidadosos em seu andar pelos pastos!
A Bíblia repetidamente descreve os cristãos como ovelhas, e essa não é
uma descrição muito elogiosa. Nossas vidas estão cheias de estragos,
sujeiras, problemas e situações pegajosas. Somos tímidos e, por vezes,
nos extraviamos. “Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada
um se desviava pelo caminho” (Isaias 53.6). Esta é, precisamente, a
razão porque precisamos de pastores; homens que sabem como proceder
com ovelhas - como cuidar de nós, guiar-nos e caminhar em meio à
bagunça que fazemos!
Aqui entram as verdadeiras boas novas: na Bíblia, Deus se revela como
um Pastor. 9 O Senhor deste universo nos atende em toda confusão e
bagunça em que nos metemos – em nossos temores, nossas fraquezas e
em nosso divagar. Traz-nos à mente as palavras do Salmo 23: “O Senhor
é o meu Pastor; nada me faltará”. Ezequiel nos pinta com traços
envolventes, um belíssimo quadro profético com as seguintes palavras:

Porque assim diz o Senhor Deus: Eis que eu mesmo procurarei as minhas
ovelhas e as buscarei. Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que
encontra ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; livra-las-ei de
todos os lugares para onde foram espalhadas no dia de nuvens e de escuridão.
Tira-las-ei dos povos, e as congregarei dos diversos países, e as introduzirei na
sua terra; apascenta-las-ei nos montes de Israel, junto às correntes e em todos
os lugares habitados da terra. Apascenta-las-ei de bons pastos, e nos altos
montes de Israel será a sua pastagem; deitar-se-ão ali em boa pastagem e terão
pastos bons nos montes de Israel. Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas e
as farei repousar, diz o SENHOR Deus. A perdida buscarei, a desgarrada
tornarei a trazer, a quebrada ligarei e a enferma fortalecerei; mas a gorda e a
forte destruirei; apascenta-las-ei com justiça (Ezequiel 34.11-16).

A determinação de Deus em ser o Pastor do seu povo, ressoa em cada


repetição de “Eu” ou “Eu farei”. Esta determinação encontra seu
cumprimento no Filho de Deus, Jesus Cristo, que anunciou: “Eu sou o
bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (João 10.11), e
ele mesmo explicou:

Eu sou o bom pastor; e conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a


mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai, e dou a minha
vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me
convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um
pastor. Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.
Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho
autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi do
meu Pai (João 10.14-18).
Todos os bons pastores encontram sua raiz e modelo na vida e no amor
de Deus, revelado em Cristo Jesus. Acima de todos os pastores, o pastor
que mais necessitamos é Jesus.
Porém, como um presente ao rebanho, o chefe dos pastores aponta
homens piedosos como subpastores, para cuidar do rebanho que ele
comprou com o seu próprio sangue (Atos 20.28). Nós conhecemos esses
subpastores por diferentes títulos, inclusive, pastores, superintendentes,
bispos e presbíteros. Assim como Jesus, o Pastor Supremo, presbíteros
ou pastores superintendem sobre o rebanho entregue aos seus cuidados
(1 Pedro 5.1-3), guiando, alimentando e protegendo a ovelha.
Diáconos e presbíteros compõem os dois ofícios que ficaram
permanentes na igreja. Enquanto os diáconos servem as necessidades
físicas e práticas da igreja, os presbíteros servem as necessidades mais
espirituais. Os dois ofícios não funcionam como dois gabinetes
governamentais separados – como o Senado e a Câmara dos Deputados,
que possuem mais ou menos a mesma autoridade. Se os diáconos são
“servidores de mesas”, como o são os garçons, os presbíteros podem ser
comparados com os maîtres ou aqueles que encabeçam ou governam a
cozinha. Os presbíteros exercitam a autoridade de liderança na igreja (1
Timóteo 5.17; Hebreus 13.17). Considere-se, porém, que qualquer
autoridade que os presbíteros tenham numa igreja, lhes têm sido
outorgadas por Jesus. Ademais, a Escritura e o amor cristão estabelecem
os limites do exercício apropriado dessa autoridade. 11 Como o pastor
Mark Laudeerbach expressou: “um presbítero sem Bíblia é um
presbítero sem autoridade”. Presbíteros não “dominam sobre” as
ovelhas. Como doações de Cristo à igreja, eles lideram e servem, com
vistas à edificação do corpo de Cristo, e não com o propósito de obterem
vantagens sobre ele (Efésios 4.11-16; 1 Coríntios 12.4-11).
Assim o Novo Testamento claramente instrui às igrejas a designarem
uma multiplicidade de presbíteros para pastorear as ovelhas (Atos 20.17,
28; Tito 1.5). A pluralidade no ministério de presbíteros oferece muitos
benefícios desejáveis. Uma multiplicidade de presbíteros resulta em uma
multiplicidade de homens particularmente dotados para compartilhar,
entre si, o peso da carga pastoral, para o ensino em diferentes áreas, para
serem responsáveis uns pelos outros, para manterem uma liderança
estável durante tempos de mudanças, para animarem uns aos outros
durante períodos difíceis e para funcionarem melhor em épocas de
dificuldades mais intensas que, por sua natureza, requerem mais
sabedoria. Numa multiplicidade de presbíteros, existirá mais segurança e
os planos da igreja serão melhor estruturados e estabelecidos.
Finalmente, os presbíteros poderão ser pagos por seus serviços – como
no caso de pastores no ministério de tempo integral (1 Timóteo 5.18), ou
poderão – no caso de voluntários - serem não remunerados, mas
servirem como presbíteros leigos. Mas, no final das contas, os
presbíteros sempre recebem suas recompensas. Pastores fiéis, prontos
para servir com um coração puro, estão confiados na esperança de
receberem suas recompensas quando o supremo pastor aparecer (1 Pedro
3.4). Mas aqueles que são infiéis, os mercenários, apenas terão a horrível
expectação do julgamento (Ezequiel 34.1-10; João 10.12-13). Deus, o
Pai, não deixará passar despercebido o serviço zeloso e fiel, tampouco o
cuidado negligente das ovelhas compradas pelo sangue do seu Filho.
Assim sendo, os pastores são mordomos dos quais se requer fidelidade
(1 Coríntios 4.1-2). Eles velam pelas almas como aqueles que prestarão
contas por elas (Hebreus 13.17). Como escreveu o pastor do século 18,
Lemuel Haynes:

O trabalho de um ministro do evangelho tem um relacionamento peculiar com


o futuro. O julgamento que se aproxima é aquele para o qual todas as coisas
convergem e no qual devemos tornar todo sentimento vastamente inculcado,
gravado com interesse em nossos espíritos. Os ministros são criaturas
responsáveis diante de outros homens, e nós temos a afirmação da Escritura de
que “Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer
sejam boas, quer sejam más” (Eclesiastes 12.14). Se nenhuma de nossas
condutas é tão insignificante que possa passar sem ser notada, então podemos
concluir que ainda mais os negócios altamente relevantes, como os
relacionados ao trabalho do ofício ministerial, serão percebidos. 12
Nos capítulos que se seguem, examinaremos as qualificações
espirituais que são pré-requisitos para o serviço de um presbítero.
Faremos isso por examinarmos, principalmente, as qualificações listadas
em 1 Timóteo 3. Na terceira parte deste livro, abordaremos as
qualificações espirituais das obrigações dos presbíteros, como
encontramos em 1 Timóteo 4. Eu oro para que essas sessões possam
ajudar as congregações a receberem as bênçãos de presbíteros fiéis, e
venham, de igual maneira, animar os pastores fiéis em seu ministério, na
esperança de sua própria recompensa.
8
EXCELENTE OBRA ALMEJA
“Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra
almeja”

A
(1 Timóteo 3.1)
fim de encontrarmos homens confiáveis para servirem como
presbíteros, antes de mais nada precisamos procurar homens
que desejem esse ofício.
Isto, em minha experiência, não é tão simples como à primeira vista
possa parecer. Alguns poderão “querer o ofício”, mas o seu “querer”
nada mais é do que o desejo de poder, de modo que tais homens não
servirão para o cargo. Por outro lado, homens que são realmente dignos
para o ofício, acreditam que desejar ser um presbítero já é, em si mesmo,
uma demonstração de orgulho, ambição destituída de piedade ou algo
grosseiro. E, finalmente, alguns homens poderão ter as qualificações
mas, ou lhes falta a vontade, ou se acham desqualificados porque, em
suas mentes, existe a ideia de “superpresbíteros”.
ESTIMULANDO ASPIRAÇÕES
Falando com praticidade, uma das primeiras coisas que um pastor
precisa fazer é aclarar e ensinar sobre “ambições piedosas” , que
incluem a devoção e o interesse para que outros venham a aspirar o
ofício de presbítero. Pastores fiéis deverão despertar o sentimento dos
jovens (inclusive aqueles nos seus vinte anos) para considerarem, em
suas aspirações para o futuro, o exercício do pastorado. Finalmente, cada
uma das características que Paulo lista em 1 Timóteo 3, com exceção da
capacidade para ensinar (v.2 ), deveriam ser as marcas de todo cristão. O
desafio pastoral ao desejo de ser um presbítero é uma coisa boa e
piedosa. É uma outra forma de dizer aos homens crentes: “isto é o que
maturidade à medida da ‘estatura da plenitude de Cristo’ significa”. Tal
maturidade e semelhança de Cristo é algo desejável, que não deve ser
evitada ou inferiorizada.
Você pode imaginar o que seria a exaltação do poder de Cristo, em
uma igreja repleta de homens que possuem um forte e piedoso
sentimento de desejo de conduzir, ou de guiar as ovelhas do Senhor em
suas igrejas e em seus lares? Em minha experiência pessoal, o problema
é que as igrejas falham e caem no outro extremo – a maioria dos homens
aspiram nada mais que um pouco de conforto, anonimato, vida fácil e
qualquer outra coisa, menos liderança responsável.
Segundo, o pastor terá, também, de aclarar e ensinar o valor da tarefa
de um líder. Paulo chama de “excelente” a obra de liderar na igreja
local. E o é! Mas muitos homens parecem ter a impressão de que
liderança não é nada mais que uma carga, uma dor de cabeça, ou
simplesmente um mal necessário. Outros podem chegar a pensar que ser
um líder religioso é o mesmo que ser um fingido, um vigarista. Por
alguns anos, eu resisti à chamada interior para o ministério porque eu
não desejava ser associado com pregadores de televisão, ou com
pastores moralmente falidos e apanhados em escândalos. E permaneci
resistente até o momento em que Deus tornou mais evidente para mim a
nobreza da obra de um líder. Assim pode ser necessário para os pastores
atuais, sem pintar nenhum quadro falso de conforto perene, desenvolver,
discutir, pregar e exemplificar em sua vida a alegria do ministério, pois,
no final das contas, o Senhor pretende que o liderar de sua igreja seja
uma alegria para aqueles que o fazem (Hebreus 13.17).
POR QUE O PRESBITÉRIO É UM OFÍCIO EXCELENTE?
Parte da excelência desse serviço vem da beleza e do privilégio de
podermos refletir Cristo para o povo. O presbítero é um exemplo em
tudo (1 Timóteo 4.12). Ele personifica, de forma bem significativa,
como “seguir a Jesus” deve parecer-se e possui um grau altamente
observável do caráter do Senhor, provendo, desta maneira, um exemplo
visível para que outros também o sigam. Aquele que não está disposto a
refletir a Cristo, deverá perguntar-se: “o que há de maior valor que
refletir a Cristo?”
A necessidade da liderança cristã também torna o serviço numa tarefa
nobre. O Senhor desenhou sua igreja de tal forma que ela requeira
líderes piedosos. As ovelhas necessitam de pastores. Sem pastores, as
ovelhas vaguearão por todas as sortes de perigos e ferimentos, e o
Senhor sofre por seus extravios sem direção e por sua condição
vulnerável (Mateus 9.36). Atender às ovelhas é algo necessariamente
bom.
Tão excelente é o trabalho espiritual de pastorear que certo pastor
chegou a escrever: “Com todos os meus desânimos e minha atitude
pecaminosa de apatia, em meus melhores momentos admito que não
posso encontrar outro trabalho mais digno para fazer do que este. Tivera
mil vidas, de boa vontade as gastaria nesse trabalho; e tivera eu
igualmente tantos filhos, de boa vontade os dedicaria a ele”. 14
A obra é excelente, e, portanto, desejável. Mas, em prática, quais sãos
as coisas que podemos fazer, ou perguntar, a fim de discernir quais são
aqueles que, verdadeiramente, têm esta ambição piedosa?
CARACTERÍSTICAS A SEREM ENCONTRADAS
1) Coloque especial atenção sobre aqueles homens que, de forma
regular, participam do culto e das assembléias da igreja.
Se aos Domingos a igreja se reúne para cultos pela manhã e pela noite,
eles estão sempre presentes em ambos? Comece com aqueles que já
demonstram um compromisso ativo com o ministério e que são exemplo
de compromisso aos demais membros da igreja. É mais fácil por para
trabalhar um homem em quem já existe desejo e compromisso, do que
tentar trabalhar com alguém com uma aparente falta de interesse. Um
pastor que já está caminhando com um aspirante à liderança que
demonstra o desejo de servir, perceberá que sua viagem será muito mais
suave em comparação aos solavancos, ou à inércia daquele que não tem
um desejo ativo – ainda que tenha a evidência de dons em todas as
demais qualidades.
2) Note o homem que pareça já estar pastoreando outros membros da
igreja, ainda que não tenha o título de “presbítero” ou de “pastor”.
Especificamente, quem são os homens que cuidam dos demais,
visitando-os ou praticando a hospitalidade, aconselhando (geralmente
sendo procurados por outros para este fim), e participando do trabalho
de ensino na igreja? Você desejará encontrar outros homens dispostos a
buscar o bem-estar de seus companheiros e irmãos - e que o fazem com
alegria, mesmo sem o devido reconhecimento. Estes que, quietamente e
com naturalidade, buscam fazer o trabalho de amar o povo de Deus, são
ideais para esta nobre e excelente obra.
3) Note aqueles homens que manifestam respeito e confiança na
liderança.
Aqueles que se esforçam para entender as direções propostas pela
liderança, que fazem perguntas boas e apropriadas, em momentos
igualmente apropriados, e que evitam criar confusões ou dissenções nas
reuniões públicas. Um homem não poderá liderar bem, enquanto ele
mesmo não demonstrar capacidade de submeter-se aos que lideram. Um
homem que venha a tornar-se um dos pastores numa congregação, cedo
perceberá que ele mesmo deverá ser submisso, pois liderar não se reduz
simplesmente a dirigir os outros.
4) Seja paciente e procure notar aqueles homens que, com o tempo,
evidenciem esta aspiração.
Observe o homem. Encoraje-o. Observe seu desejo em tempos
frutíferos e em tempos estéreis, quando ele está cheio de contentamento
e quando está entristecido. Tal desejo persiste, cresce, se fortalece? Ou,
ao contrário, murcha, enfraquece, desvanece? Se a aspiração se demora
em realizar-se, ele a deixará de lado para fazer outras coisas? Você quer
encontrar pessoas que sabem lidar com a espera e desapontamentos com
maturidade e humildade, não com impaciência e imaturidade. E o seu
desejo para o ofício, ainda que demorado ou adiado, deverá amadurecer
com o tempo, como o vinho fino. Como disse Paulo, faremos bem em
“não impor as mãos precipitadamente” sobre nenhum homem.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
Quando examinar um homem para o ofício de presbítero, faça-lhe
algumas dessas perguntas, para ver se pode entender seu desejo para o
ofício.
1) Alguma vez você já pensou em ser um presbítero?
Comece aqui. Muitos nunca consideraram isso e ficam surpresos,
quando lhe fazemos esta pergunta básica. Outros, sim, terão considerado
o assunto, mas têm colocado a ideia de lado por causa de conceitos
errados, os quais podemos e devemos corrigir. Para aqueles que nunca
consideraram a ideia, devemos estar preparados para dar-lhes algumas
razões porque deviam. Desde o dizer-lhe que “esta é a maneira de
definirmos maturidade cristã na vida de um homem”, até “eu tenho visto
certas coisas em particular na sua vida que sugerem que você deveria
pensar sobre esta questão”. Não queremos pressionar nenhum homem,
mas devemos sugerir a ideia de liderança que pode desenvolver nele esse
desejo, e que o faça ver as coisas de forma diferente, em relação à
dedicação de sua vida inteira ao ministério.
2) Não poderia dar-se o caso de que sua falta de desejo possa estar
indicando uma complacência espiritual ou uma falta de direção?
A pergunta assume que o desejo ao ofício de presbítero é uma boa coisa
e que suas qualificações são uma boa avaliação de si mesmo, quanto à
maturidade cristã. Como pastores, queremos imprimir esta visão ao
nosso homem em questão e onde notamos existir uma aparente falta de
vontade, podemos assumir que o cuidado, o ensino e a correção são
necessários.
3) Por que você deseja ser um presbítero? Até que ponto você poderia
perceber a existência de alguma coisa impura (orgulho, poder, etc.) em
seus motivos?
Esta é uma pergunta óbvia para aqueles que estão considerando o ofício
de presbítero. Justamente porque não queremos impor as mãos sobre
nenhum homem de uma maneira precipitada, temos de, praticamente,
por à prova as ambições piedosas em contraste com motivos impuros.
Ninguém possui motivações que sejam perfeitas. Todos nós lutamos
contra vestígios de pecados em nossas vidas. Mas, uma devida diligência
requer que ajudemos o homem a examinar seu próprio coração e trazer à
tona aqueles sentimentos que devem ser inspecionados. Você tem, diante
de si, um homem simples, humilde, desejando servir, ou um insubmisso,
orgulhoso e interessado no poder de controlar? Qual é a raiz de sua ânsia
e desejo – serviço ou reconhecimento? Temos de evitar a ordenação de
homens que possam desejar o bispado “por sórdida ganância” ou para
serem “dominadores daqueles que lhe foram confiados” (1 Pedro 5.2-3).
As ovelhas são as que mais grandemente se beneficiam, quando
descobrimos tais atitudes num aspirante ao ministério, antes que ele seja
feito um presbítero, ao invés de descobri-las depois de haver espancado
as ovelhas. Mais ainda, muita confiança e segurança são os benefícios do
homem, quando ele serve livremente e com bons motivos.
4) Você já chegou a considerar o que aconteceria a uma igreja, às
ovelhas, se estas não tiverem um pastor? O seu coração responde à
semelhança do coração de Jesus, em sua visão das ovelhas sem
pastor? (Mateus 9.36; Marcos 6.34)?
Para aqueles homens que podem reconhecer dons espirituais e
qualificações em si mesmos, mas que fogem à responsabilidade de se
tornarem líderes, talvez sirva de ajuda levá-los a tirar seus olhos de si
mesmos, para focalizá-los nas pessoas que eles poderiam ser chamados a
servir. Muito mais está em jogo, do que um indivíduo sentir-se
pessoalmente confortável ou não com a ideia de ser um líder - ainda que
isto deva ser levado em consideração. Mas, o que está em jogo é o
cuidado espiritual das ovelhas.
5) Você já parou para considerar o que está ensinando à congregação,
sobre o almejar esta excelente obra e o seu consequente cuidado das
almas, com esta atitude de evitar assumir a liderança?
Algumas vezes, homens com dons e capacidades já são vistos como
pastores aos olhos da congregação, mas, por alguma razão, estão
evitando um reconhecimento formal. Nesses casos, devemos ajudá-los a
perceber que eles já estão ensinando liderança à igreja, ainda que
estejam evitando a posição. Como mais espiritualmente dotados aos
olhos da congregação, estão também levando a igreja a pensar que esta
obra de liderança é simplesmente um fardo e um trabalho desnecessário.
E ensinando isto, pelo exemplo de sua atitude, estes homens
involuntariamente rebaixam o nível de qualidade que a congregação
deveria esperar de seus líderes e, não somente isto, mas também
diminuem a qualidade do cuidado espiritual que eles, e a geração futura,
poderiam receber. A Bíblia comanda aos crentes: “lembrai-vos dos
vossos guias (pastores ), os quais vos pregaram a Palavra de Deus; e,
considerando atentamente o fim de sua vida, imitai a fé que tiveram”
(Hebreus 13.7). Nós não queremos que o povo do Senhor imite baixos
valores, e aprendam, por maus exemplos, a evitar e responsabilidade de
uma obra tão nobre e excelente.
CONCLUSÃO
Escolher seus pastores é a mais importante decisão que uma
congregação local pode fazer, visto que são eles os que moldarão a
igreja através de seus ensinos e seu testemunho. Dada esta influência
moduladora, o Senhor nos chama a procurar homens que pastoreiem “o
rebanho de Deus” ... “espontaneamente, como Deus quer” ... ”de boa
vontade” ... ”tornando-vos modelos do rebanho” (1 Pedro 5.2-3).
William Still, um fiel pastor que treinava homens para o serviço cristão,
observou: “toda a minha preocupação neste trabalho de procurar formar
pastores (e eu formei muito poucos, apesar de terem sido muitos os
homens que passaram por minhas mãos) é de que eles se tornassem
homens de Deus; então, o trabalho pastoral cuidaria de si mesmo. O
trabalho ainda tem de ser feito, mas o homem de Deus foi feito para este
propósito”. 15
Que o Senhor nos dê discernimento, paciência e clareza em nossa
observação, enquanto buscamos homens confiáveis que desejem esta
excelente obra.
9
IRREPREENSÍVEL
“se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário,
portanto, que o bispo seja irrepreensível”

A
(1 Timóteo 3.1, 2)
excelência do ofício pastoral demanda um caráter excelente
que o corresponda. As igrejas, portanto, precisam procurar
homens cuja vida interior esteja unida à sua vida exterior, em
integridade e santificação.
Paulo lista “irrepreensibilidade” como o segundo traço de caráter que
um presbítero deve ter. “Irrepreensível” serve como uma coberta para
todos as demais características que seguem. Um homem tem de ser
sincero em sua conduta, reto e justo em seu tratar com outras pessoas.
O BISPO, OU PRESBÍTERO, PRECISA SER
IRREPREENSÍVEL
Ser irrepreensível significa que uma pessoa não dá motivos para
suspeitas de imoralidades ou atitudes questionáveis. Todos se sentiriam
surpresos e chocados se ouvissem algo contrário ao seu caráter. Mas, ser
irrepreensível não quer dizer que a pessoa mantém uma vida de
perfeição e sem pecados. O que realmente significa é que esta pessoa,
com o passar dos anos, tem adquirido para si o respeito e a admiração
dos demais, no que concerne ao seu comportamento, à sua maneira de
ser. Vive uma vida digna da chamada de Deus (Efésios 4.1; 5.1-2;
Filipenses 1.27; Colossenses 1.10-12).
É criticamente importante, pois, que um presbítero seja irrepreensível
por, pelo menos, duas razões:
Em primeiro lugar, porque ao ser indicado e recebido como um
presbítero, todos assumirão que: a) ele será um exemplo para as ovelhas
em todas as áreas da vida (1 Timóteo 4.12; 1 Pedro 5.1-3), e b) ele
receberá o benefício da dúvida caso, porventura, seja vítima de más
acusações não-confirmadas (1 Timóteo 5.19). Poucas coisas podem ser
piores, em uma igreja, do que um homem sem caráter, que exiba um
mau exemplo e, ao mesmo tempo, é protegido pela generosidade de
algum julgamento, em virtude do seu ofício.
Em segundo lugar, é criticamente importante porque um presbítero
deve ser tido em alta consideração por seu caráter, não por sua riqueza,
popularidade ou outros motivos mundanos. Podemos muito bem ser
tentados a oferecer o ofício de presbítero a um homem baseados em seus
sucessos no mundo dos negócios, ou porque sua família tem uma longa
história na vida da igreja, ou por ser popular e bem conhecido. O
apóstolo não estava interessado em nenhuma dessas coisas. Seu interesse
estava na dignidade de caráter, em concordância com o seu ofício. Se
um homem é popular num sentido secular, mundano, mas não é
irrepreensível, provavelmente vai liderar baseado em sua popularidade e
não em seu caráter. Poderá ser alguém que teme a face dos homens mais
do que teme a Deus (uma tentação muito grande para essa posição de
presbítero), ou, quem sabe, tratará de liderar a igreja como lidera seus
negócios seculares, ou assumir alguns direitos em razão do seu status na
comunidade. Todas estas coisas prejudicam o ministério presbiteral.
Todos os crentes deveriam ser irrepreensíveis, mas aqueles que são
presbíteros, têm de ser. Mas, como encontrá-los?
TRAÇOS A SEREM OBSERVADOS
1) Note aqueles homens que são fiéis em suas atuações no seio da igreja
Por exemplo, são homens que mantêm o seu compromisso em dar à
igreja, de maneira regular e sacrificialmente? São homens que, mesmo
que jurem com dano seu, não mudam; que cumprem sua palavra, mesmo
quando outros não os condenem se voltarem atrás em seus
compromissos?
2) Preste atenção especial naqueles homens que demandam respeito
dos demais.
E digo isto no bom sentido da palavra. Esses são os homens que
inspiram retidão em outros. Suas presenças parecem fazer com que as
pessoas se endireitam ou demonstrem mais zelo. A igreja, normalmente,
nomina essa classe de homens para ocuparem posições que demandam
integridade ética, porque confia que eles farão as coisas bem feitas.
3) Note os homens que vivem suas vidas fora da igreja com
integridade.
São homens que chegam ao trabalho no horário certo. São capazes de
manter seus trabalhos e são tidos como trabalhadores de bons hábitos.
Sabem manejar bem seus assuntos financeiros, pagam seus débitos e
vivem dentro de suas possibilidades. Nunca falham em cumprir suas
obrigações.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
Uma vez que os líderes ou a congregação tem um homem em mente
considerado como “irrepreensível”, poderão fazer-lhe, então, algumas
perguntas.
1) Existe alguma coisa em sua vida que você pensa desqualificá-lo
para ser um presbítero?
Ainda que esta pergunta seja muito geral em sua abrangência, oferece,
entretanto, um bom lugar para começar. Oferece a oportunidade de ouvir
o que o homem pensa de si mesmo e lhe ajudará a aprender algo mais
sobre sua integridade. Poderão existir questões que realmente não
estejam sendo mais explicitamente consideradas, em 1 Timóteo 3, mas
que o estejam atribulando e que poderão desqualificá-lo. Esta pergunta
dará ao possível presbítero a oportunidade de levantar as questões que
atribulam sua consciência. Os líderes e a congregação, dessa forma,
terão a oportunidade de pastoreá-lo e modelar o tipo de cuidado e
responsabilidade mútua que se espera dos presbíteros.
2) Se você vier a ser um dos nossos presbíteros, você crê que a notícia
será um espanto surpreendente para sua família, ou para seus colegas
de trabalho?
Nesta altura, você estará sondando a reputação do possível presbítero
fora da igreja. No caso da existência de algum agravo ou objeção por
parte de outros, seria bom explorar: (a) a natureza da disputa, (b) como o
presbítero em potencial tem tratado a situação (se em genuína atitude
cristã ou não), e (c) se a opinião de outros o desqualifica.
CONCLUSÃO
A excelência da posição de um presbítero requer que esta seja
preenchida somente por homens íntegros. Nestes dias em que muitas
pessoas, inclusive cristãos, se ofendem com a ideia de terem de julgar a
outrem, a igreja ainda terá de, pacientemente, trabalhar para verificar se
o caráter de um homem é maduro e irrepreensível. Mesmo que isto seja
a coisa mais difícil nas igrejas que querem encontrar homens
responsáveis de quem possam depender. A saúde e a pureza da noiva de
Cristo o requer.
Cultivar esta classe de integridade nos líderes de uma igreja é vital para
a saúde dessa igreja.
10
MARIDO DE UMA SÓ MULHER
“É necessário, portanto, que o bispo (pastor, presbítero) seja
irrepreensível, esposo de uma só mulher”

“D
(1 Timóteo 3.2)
esejar” é a primeira coisa que Paulo menciona, em sua
lista. Em seguida, vem “irrepreensível”. E, então, o que
mais é necessário ser, àqueles que lideram a igreja? É
necessário que um presbítero seja “esposo de uma só mulher”, diz o
apóstolo. Literalmente, a frase, em seu original, se lê: “um homem de
uma só mulher”. Mas existem algumas diferenças de opiniões quanto ao
significado dessa frase.
QUAL O SIGNIFICADO DESSA FRASE, “UM HOMEM DE
UMA SÓ MULHER”?
Existe uma gama de interpretações que buscam explicar o que a frase
significa, indo desde o simples significado de poligamia, até uma
explicação que enfoca mais numa questão de moral e de pureza sexual.
Tomando a visão mais estreita, João Calvino segue a Crisóstomos, que
afirma ser a posição de Paulo a de “expressamente condenar a
poligamia”. Calvino argumenta que “Paulo proíbe a poligamia para
todos aqueles que mantêm uma posição oficial de presbítero, porque esta
seria a marca de um homem sem castidade; de um que não observa a
fidelidade conjugal”. 16 D. A. Carson toma, igualmente, essa posição. 17
Tomando uma interpretação mais abrangente, John McArthur rejeita o
argumento de poligamia, dizendo que esse costume “não era comum na
sociedade romana, e que era claramente proibido pela Escritura”. 18
Porém, em uma série de sermões em 1 Timóteo, Phil Ryken toma ainda
uma interpretação mais ampla, semelhante à de McArthur:

A fim de ser irrepreensível, um presbítero necessita ser “esposo de uma só


mulher”. Isto, porém, não impede que um homem solteiro sirva como
presbítero. Comumente, um presbítero será um homem casado e Deus usará as
demandas do seu chamamento como marido e pai para influenciarem na obra
santificadora a ser levada a cabo em suas vidas, antes mesmo que estes estejam
prontos para servir como oficiais na igreja. Lembre-se que Paulo mesmo não
era casado e recomendou a vida de solteiro aos outros, como uma
oportunidade para maiores serviços no reino de Deus (1 Coríntios 7.17; 9.5).
Alguns têm sugerido que a frase significa “casados uma só vez”. E isto
desqualificaria viúvos que tornam a casar-se, assim como um homem que
tenha passado por um divórcio. Se isto é o que Paulo quer dizer, então
esperaríamos que o apóstolo fosse mais explícito.

O argumento da frase, talvez, seja mais generalizado: presbíteros


devem estar mais obrigados a prestar contas de sua sexualidade. Os
gregos e os romanos daqueles dias geralmente toleravam horríveis
pecados sexuais. Poligamia era praticada por ambos, judeus e gregos.
Casamentos eram frequentemente marcados por divórcio, adultérios
cometidos abertamente e uma homossexualidade desenfreada. As
palavras de Demóstenes explicam a dimensão desse problema:
“Amantes as mantemos por uma questão de prazer, concubinas para o
cuidado diário de nossas pessoas, mas as esposas, para nos darem à luz
filhos legítimos”. 19
Assim, ainda que os comentaristas difiram no exato significado da
frase, qualquer um poderá concordar que pureza sexual é um pré-
requisito para alguém que deseja assumir o ofício de presbítero. Na
verdade, pureza sexual na igreja ocupa uma importante função
apologética e evangelística no testemunho cristão (veja, por exemplo,
Efésios 4.17-24; 5.3-14). Os líderes deverão, portanto, examinar a vida
de um possível presbítero neste aspecto.
E como encontraremos aquele “esposo de uma só mulher” na
congregação? Aqui seguem algumas perguntas e observações,
primeiramente para o solteiro e, depois, para o homem casado.
PERGUNTAS E OBSERVAÇÕES
(COM REFERÊNCIA AO HOMEM SOLTEIRO)
1) Como você caracteriza o namoro de um homem com uma mulher?
Um homem dado a uma série de namoros poderá ser uma pessoa que
não entende, nem tampouco se importa, com o coração das irmãs. Se ele
não pode levar a sério as questões do coração e dos sentimentos, ele,
talvez, esteja demonstrando a necessidade de aprender mais disciplina
nessa área de sua vida e não poderá ser um exemplo apropriado para o
rebanho. Um presbítero trata as irmãs na fé “com toda a pureza” (1
Timóteo 5.2)?
2) Qual o tipo de entretenimento que ele escolhe? Se entrega a
material pornográfico - material sexualmente explícito?
Se ele está lutando com essa questão, o melhor será não fazer dele um
presbítero. Um presbítero precisa ser um exemplo, ensinando os mais
jovens a serem controlados, agindo com autodomínio (Tito 2.6), e uma
vida de impureza sexual é incompatível com o ofício do presbítero.
3) Como esse homem luta contra sua própria lascívia? Arrancando os
seus olhos e cortando suas mãos (Mateus 5.27-30)?
A guerra contra a imoralidade sexual precisa ser feita no âmbito dos
desejos do coração. Os presbíteros precisam combater seus pecados
como cristãos, o que significa que eles terão de, radicalmente, negarem-
se a toda e qualquer oportunidade para a carne, o mundo e o diabo, que
buscam excitar seus desejos carnais. Ao contrário, eles devem cultivar
um profundo desejo por Cristo e pelas coisas de Cristo. Um homem
solteiro que mantém estas coisas camufladas, que flerta ou alimenta sua
luxúria, põe em perigo a outros e a si mesmo. Um presbítero deve
desejar e aceitar a responsabilidade de responder a outros nesse aspecto
de sua vida..
Enquanto a primeira questão acima deveria ser, de certa maneira,
reformulada, todas as questões aqui apresentadas aplicam-se, de igual
maneira, ao homem casado. Mas, no caso de um solteiro, determinar se
ele é realmente “um homem de uma só mulher” requer que se considere
a trajetória das suas afeições - não um comportamento marital. A sua
conduta evidencia pureza, ou é evidência de imaturidades que deveriam
ser evitadas?
Existem outras diversas questões a serem tratadas com o homem
casado.
PERGUNTAS E OBSERVAÇÕES
(COM REFERÊNCIA AO HOMEM CASADO)
1) Este homem, candidato ao ofício de presbítero, evidencia fidelidade
à sua esposa? É fiel física e emocionalmente?
Um presbítero em potencial deveria ser perguntado diretamente se ele,
alguma vez, quebrou o seu pacto matrimonial, através de um
relacionamento adúltero. E, se não o fez em um ato físico, tornou-se
emocionalmente envolvido com outra mulher, de uma maneira que o
desqualificaria para o ofício? Seria sábio ter esta conversa com a esposa
também, visto que ela poderá trazer alguma luz sobre coisas que ele
mesmo pareça não perceber. Em geral, os líderes de uma igreja deveriam
estar seguros de que a esposa concorda e acredita que seu marido está
qualificado. Essas são questões que devem ser apresentadas a um
homem antes de fazer dele um presbítero, não depois. A posição e o que
se requer do ofício de presbítero, só adicionará ainda mais pressão a
qualquer fissura de caráter já existente num casamento.
2) Ele mantém sua interação com colegas do sexo feminino, em seu
trabalho, e com mulheres na igreja, de maneira a permitir completa
prestação de contas e transparência?
Por exemplo, ele evita situações potencialmente comprometedoras ou
situações que possam abrir oportunidades para tentações (viagens,
reuniões a sós e privadas, etc)? Presbíteros que trabalham em ambientes
mistos devem ser homens de reputação confiável por parte de suas
colegas. E confiável não porque tenha aconselhado mulheres em seus
problemas de intimidade, mas justamente porque ele tem,
apropriadamente, se esquivado de tais situações, estabelecendo uma
distância segura e salva da tentação em potencial.
3) O presbítero em potencial tem fielmente feito com que seu lar seja
centrado no seu matrimônio?
Segundo o projeto divino, o centro de uma família deverá ser o
matrimônio de um homem com uma mulher (Gênesis 2.24). O homem e
sua mulher deixam seus pais e se unem um ao outro, e se tornam uma só
carne. Ser um homem de uma só mulher significa, em parte, manter uma
atmosfera, em sua vida familiar, na qual não permita que outras pessoas
ou coisas (filhos e trabalho, por exemplo) desaloje o matrimônio como o
centro da família. Um presbítero em potencial preza sua esposa acima
mesmo de outras pessoas preciosas em sua casa e, em seus
relacionamentos terrenos, direciona suas afeições primeiramente, e
acima de tudo, à sua esposa.
4) O presbítero que deseja o ofício alegremente aceita o ensino bíblico
concernente às distintas posições do homem e da mulher num lar?
Ele crê na equidade do homem e da mulher, enquanto mantém a ordem
divina na distinção que deve haver entre a posição do homem e da
posição da mulher, tanto no lar como na igreja? Um presbítero deve
estar disposto a ensinar a igreja a aceitar alegremente todas as instruções
de Deus para nosso viver. Evitando ou abandonando a Palavra de Deus
neste ensino, o presbítero em potencial resiste à autoridade da Escritura
e obscurece o evangelho do Senhor Jesus Cristo (Efésios 5.22-32).
Quando se trata dos diferentes papéis do esposo e da esposa, muitos
homens se sentem pressionados a evitar este tópico tão delicado. Mas,
fazendo assim, o homem irá, necessariamente, substituir a sabedoria de
Deus pela sabedoria humana, e negar os meios pelos quais Deus
intenciona abençoar tanto o homem como a mulher. 20
CONCLUSÃO
Na cultura em geral o índice de divórcios é altamente alarmante e muitos
ataques são feitos contra o casamento. Isto significa que as igrejas que se
limitam ao propósito de somente elegerem “homens de uma só mulher”,
para o ministério de presbítero, estão atendo-se a uma postura altamente
elevada, centrada no evangelho, centrada na ordem divina, como uma
alternativa para que o mundo a veja. Enquanto o mundo mergulha de
cabeça num impulso de imoralidade sexual e uma ética de relativismo, a
igreja precisa manter uma alternativa santa, boa e beneficente para o
estilo de vida íntimo entre um homem e uma mulher. Um presbítero
estará encabeçando esta alternativa contra-cultural. Portanto, escolher
um homem que seja fiel em todas essas áreas requer paciência, oração e
discernimento para o bem de todos.
11
TEMPERANTE, SÓBRIO, MODESTO
“É necessário, portanto, que um presbítero seja...
temperante, sóbrio, modesto”
(1 Timóteo 3.2)

S hopping Centers
não são meus lugares preferidos. Suponho que eu sou o estereótipo da
masculinidade. Corro numa investida, de uma loja para a outra (no
máximo três), que potencialmente tenham o que eu estou procurando,
seleciono o item que procuro e, então, faço o melhor possível para
escapar daquela experiência, saindo como uma flecha pela porta mais
próxima que encontre.
A “Feira da Vaidade” é um lugar bem perigoso para se estar. De tudo o
que se possa dizer dos shopping centers, isto é, sem dúvida, verdade:
eles não existem para promover sobriedade, nem domínio próprio.
Propagandas, vitrines, mostruários, música – a experiência inteira tem
por alvo separar as pessoas de suas carteiras, num ambiente mais
emocional e desenfreado possível. De sobriedade, se faz pouco.
Domínio próprio é lançado fora.
Acima e contrária às seduções materialistas do shopping center local,
está a chamada da Escritura aos crentes para serem sóbrios e
autocontrolados, para exercerem mordomia e para triunfarem sobre a
carne. Não é surpreende, portanto, que o apóstolo Paulo insista em que
líderes na igreja - presbíteros, pastores - sejam temperantes e
autocontrolados.
A palavra “nephalios” , traduzida por “temperante”, “sóbrio” e
“vigilante”, inclui a ideia de estar atento e circunspecto. Pessoas
temperantes estão livres da influência excessiva da paixão, lascívia ou
emoções. O Senhor conclama seus subpastores a serem sóbrios em seus
desejos, sentimentos e atitudes. O homem temperante põe limitações à
sua liberdade. Não se embriaga com vinho, poder, lascívia ou qualquer
outra coisa. Ele entende que nem todas as situações são caminhos,
através dos quais podem enredar-se.
Com isso, chegamos à nossa próxima qualificação, autocontrole. Este
termo, e o último que vimos, estão proximamente ligados e apontam, de
forma geral, à mesma coisa. Um presbítero tem de ser uma pessoa que se
refreia; precisa controlar seu estado interior (emoções e outras coisas) e
suas atuações externas. É decente em sua conduta, não é precipitado ou
age impensadamente, mas é sensível, discreto e sábio. Homens néscios
não estão qualificados para a liderança da igreja do Senhor. Alexandre
Strauch corretamente observa: “muito mais estragos são causados às
nossas igrejas por iras descontroladas, do que nós podemos admitir”.
Onde quer que sobriedade e o autocontrole reinem, aí você encontra
um homem respeitável. Um homem que viva uma vida piedosa,
ordenada. Qualificações como essas são necessárias para pastorear o
rebanho de Deus.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) O presbítero em potencial costuma ensinar outros homens a
viverem como ele vive?
Esse é o chamado essencial de um presbítero (Tito 2.2). O presbítero
deverá ser conhecido por encorajar sobriedade, autocontrole e
comportamento respeitável em outros. Outros aprendem moderação pelo
seu conselho e exemplo?
2) O homem tem tendências à modernidades? É amante de caprichos
de modas, saltando de novidade a novidade?
Essas tendências enfatizam constante inovação, assim sendo, por
definição, um homem com essa natureza é controlado por coisas
exteriores. Tem fome daquelas coisas que estão sempre mudando, da
sempre ilusória “próxima grande ideia”. Pode ser visto como o
“bacanão” da congregação, mas a própria base de sua aceitação provém
do tipo de instabilidade que obra contra a sobriedade, vigilância e
autodomínio.
Podemos verificar essas coisas em seu estilo de vestir-se, ou em outras
compras que faz (carros, etc). Ainda que não queiramos ser recatados
sobre coisas exteriores, aquele que é dado a comprar toda novidade que
aparece, provavelmente, esteja apresentando os primeiros sintomas de
uma vida dedicada a importar as mais novas ideias do mundo. É ele um
homem que está sempre procurando toda novidade [ou novos modelos]
de “como se fazer” na igreja? É dado a novidades teológicas? Esse estilo
de vida tem quase destruído a igreja de dentro para fora, e tal
comportamento tem de ser rejeitado. Ao contrário, devemos procurar
homens que sejam estáveis em sua resistência contra as novidades e
movimentos insalubres que aparecem. Devemos procurar homens que
adotam com consistência uma saudável e bíblica visão de si mesmos, do
mundo e de Deus. Estamos em busca do clássico, do terno gasto, ao
invés da última costura de vanguarda de Paris.
3) São os seus apetites equilibrados? Existe algum lugar, em sua vida
onde ele se dê a excessos – comida, álcool, ira?
Sabe restringir-se, exercitando autocontrole e demonstrando
contentamento em todas as coisas? Homens que sejam aditos do álcool,
drogas, sexo ou outras coisas, não são candidatos adequados para o
ofício de presbítero.
4) Nós devemos notar com cuidado suas ações e reações, em diferentes
circunstâncias
Como o candidato a presbítero se porta, quando tudo lhe vai bem? Sabe
controlar-se, louvar ao Senhor e viver sem abusar de sua prosperidade?
Qual é sua conduta quando as circunstâncias se tornam difíceis? Sabe
tomar os sofrimentos de uma maneira tranquila? Persevera na
adversidade sem deixar-se vencer pelo medo, pelo ressentimento, pela
covardia? É um reclamador? Um murmurador poderá ser um homem
desequilibrado em seus desejos, assumindo que as coisas deveriam ser
feitas à sua maneira ou, pelo menos, de diferente forma.
5) Outros respeitam a maneira como este homem vive?
Os seus inimigos se encontram sem ter como julgá-lo e se sentem
envergonhados em face à sua vida e testemunho (Tito 2.7-8)?
CONCLUSÃO
O ministério e a igreja estão constantemente sendo observados pelas
pessoas de dentro e de fora e os inimigos da igreja buscam,
continuamente, oportunidades para condenar e difamar. As igrejas são
grandemente estimuladas a resistir a esses ataques, quando seus líderes
são homens respeitados por sua conduta e são homens sadios em seus
juízos.
12
HOSPITALEIRO
“É necessário, portanto que o presbítero seja...hospitaleiro”

N
(1 Timóteo 3.2)
o primeiro domingo de minha visita pela manhã à Igreja
Batista de Capitol Hill, em Washington, DC – sentei-me com
minha família à frente de outra família muito simpática, na
galeria da igreja. Primeiro os notei por causa dos seus filhos pequenos,
que sentavam-se atentos e pacientemente, enquanto participavam do
culto. Depois notei a linda e vigorosa maneira com que cantavam. Mas
eles realmente ganharam toda minha atenção quando, imediatamente
depois do término do culto, nos cumprimentaram cordial e
calorosamente. O pai da família levou-me ao redor, apresentando-me a
outros homens da igreja e, depois de uns quinze minutos, convidou
minha família para almoçar em sua casa. Não perdeu tempo!
Honestamente, a experiência fez-me sentir um pouco estranho.
Primeiramente, o seu nome era James e, literalmente, os primeiros três
homens que me apresentou, também se chamavam James. Estranho,
pensei. Que tipo de igreja é esta? Será que eu também vou ter que
trocar meu nome de novo? Depois, aquele convite inesperado para o
almoço realmente me estonteou. Tudo aconteceu tão rapidamente e, com
minha criação sulina, a atitude poderia até ser considerada mal educada.
Assim, pois, respondi com minha mais educada maneira sulina de dizer
não: “Ó, é muita bondade sua. Quem sabe, em outra ocasião”. Qualquer
pessoa lá no sul entenderia que uma sentença assim formulada
simplesmente quer dizer não. Nós, lá do sul dos Estados Unidos,
sabemos que é assim que devemos responder não, porque dizer apenas
“não”, seria indelicado. E os sulinos não são nada, senão corteses.
Então, eu claramente disse não ao bondoso, ainda que precipitado,
convite para um almoço. Mas, imagine, exatamente na próxima semana
em que visitamos outra vez essa igreja um tanto estranha para mim, ele
novamente insistiu que fôssemos com ele para almoçarmos juntos. Eu
era da Carolina do Norte. Ele era de Nova Jersey. Houve uma falta de
comunicação. Ele não entendia as regras lá do sul, mas Washington, DC,
aparentemente, está muito perto da Linha Mason-Dixon para que
claramente pudesse estabelecer em qual “Roma” estávamos, e como
devíamos proceder.
Mas eu estava errado e James estava certo. Ele era o homem mais
piedoso. Era mais hospitaleiro do que qualquer um que eu jamais
conheci e assim permanece ainda hoje em minha mente. James
personificava a insistência de Paulo em que homens hospitaleiros
liderem a igreja de Cristo. E, acredite, James era um presbítero.
PORQUE OS CRENTES DEVEM PREZAR PELA
HOSPITALIDADE?
Primeiramente, a hospitalidade expressa o amor de uma forma tangível.
Deus chama os cristãos para amarem-se uns aos outros (João 13.34-35) e
amar aos seus inimigos (Mateus 5.43-47). Hospitalidade é uma forma
prática desse amor. Os presbíteros devem ser modelos disso.
Segundo, a hospitalidade expressa de forma palpável o cuidado por
pessoas estranhas. Como podemos saber se estamos ajudando aos
estranhos em nossos portões (Levítico 19.33-34)? Uma medida é saber o
quanto nos aproximamos deles e permitimos que eles também se
cheguem a nós. A hospitalidade nos aproxima de uma maneira
significante. Estabelece mais intimidade num relacionamento e reflete o
amor de Cristo aos “estrangeiros”.
Em terceiro lugar, a hospitalidade favorece o evangelismo. Bem,
poderá ser que nossa falha quanto à hospitalidade seja a causa de que
tantos crentes apenas tenham alguns poucos amigos não crentes, e se
encontram impedidos da possibilidade de evangelizar. Não podemos
evangelizar uma pessoa que nem sequer cumprimentamos, ou conversar
com alguém com quem não estamos dispostos a passar nosso tempo. Se
não formos hospitaleiros, pelo menos num nível considerável,
compartilhar o evangelho se torna algo impossível.
Quarto, a hospitalidade também favorece o discipulado e o
congraçamento. A igreja em seu princípio dedicava-se ao partir do pão e
à comunhão (Atos 2.42-47). Para aqueles crentes do princípio, tal
hospitalidade se colocava em mesma altura com a devoção e com as
doutrinas dos apóstolos.
Então, a hospitalidade e o modelar a hospitalidade por exemplo pessoal
são traços essenciais da vida cristã. Como notou certo autor,
“dificilmente teremos uma melhor característica do amor cristão do que
na hospitalidade. Através do ministério de hospitalidade, podemos
compartilhar as coisas que temos de suma importância em nossas vidas:
família, lar, recursos financeiros, tempo e privacidade. Em outras
palavras, através da hospitalidade, compartilhamos nossas vidas”. 22 As
igrejas deveriam estar cheias de pessoas dadas a este ato particular de
amor (1Pdero 4.8-9). E os líderes das igrejas deveriam ser exemplos de
hospitalidade para todos.
Como encontrarmos homens hospitaleiros na congregação? Como
avaliarmos essa qualificação?
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) Procure notar aqueles homens que fazem, para si mesmos, um
ministério de cumprimentar todas as pessoas na igreja.
São eles como adornos de parede ou candidatos a Sr. Simpatia? Não
quero dizer que o homem deva possuir uma personalidade exuberante,
mas vale a pena notar aqueles homens que permanecem no edifício
depois de terminados os cultos, que chegam cedo, que saúdam os
visitantes e os santos igualmente. Essa atividade de saudar e de fazer
com que as pessoas se sintam bem-vindas é essencial à hospitalidade.
Note, especialmente, se algum homem está fazendo essa obra num gesto
contrário à sua tendência natural. Se assim o é, este será um sinal de
graça divina. As igrejas devem valorizar este ato positivo de amor, que
chega a resistir à inclinação natural do indivíduo para a privacidade e o
isolamento.
2) Note o homem que ajuda aqueles que estão em necessidade
Hospitalidade sempre estende uma mão de ajuda. Quais os homens que
ajudam os de terceira idade a virem à igreja? Oferecem transporte a
membros e visitantes que necessitam, para vir à igreja? Acompanham os
visitantes para dirigi-los às classes de Escola Dominical ou ao ministério
infantil? Hospitalidade significa ajudar aqueles que necessitam.
3) Tal homem abre o seu lar para outros?
Esta é, com certeza, a forma mais óbvia de hospitalidade. Identifique
aqueles que usam as suas casas como lugares para ministrar. Talvez
recebam um grupo menor para estudos bíblicos. Ou são os primeiros que
se oferecem como voluntários para hospedarem missionários ou para
preparar alimentação para pregadores visitantes. Talvez sejam os que
frequentemente convidam pessoas para jantar em suas casas, como meu
amigo James. Homens com um ministério ativo de hospitalidade são
pedras preciosas e por meio de sua hospitalidade se dão a oportunidade
de conhecer e supervisionar as ovelhas mais intimamente.
4) As casas não são os únicos lugares para se demonstrar
hospitalidade
Um homem hospitaleiro usará o seu tempo e uma variedade de lugares
para demonstrar sua hospitalidade, tal como a hora de almoço no
trabalho. Pergunte, então, como ele usa a sua hora de almoço? Usa-a
para construir relacionamentos com colegas de trabalho que não são
crentes, na esperança de oportunidades para o evangelho? Reune-se
regularmente com outros homens para proporcionar companheirismo e
para prestar contas de si mesmo a outros, ou para discipular?
5) Aceita convites de outros para hospitalidade?
Às vezes, receber atitudes de amor e de cuidado deixam as pessoas
desconfortáveis. O presbítero potencial deverá exemplificar tanto o dar
como o receber expressões de amor. É especificamente importante que
ele possa passar tempo com diferentes tipos de pessoas da congregação
(jovens, velhos, ricos, pobres, com diferentes etnias, etc.) Muitas pessoas
desejam sentir-se fortes e sem necessitar de ninguém para atenção ou
cuidado. Mas aquele que é hospitaleiro honra aos outros, por aceitar sua
hospitalidade com agradecimentos sinceros, genuínos, e com o menor
embaraço possível.
CONCLUSÃO
No culto em que a igreja se despediu de James, que fora transferido para
outra cidade fora de Washington, DC, o pastor pediu a todos os que
haviam sido hóspedes na casa dele para um almoço ou um jantar que,
por favor, se levantassem. Naquele culto haviam, provavelmente, cerca
de 350 a 400 pessoas. Literalmente, 90 por cento da congregação
colocou-se em pé e glorificou a Deus pela hospitalidade que James e sua
família lhes proporcionaram. Sua casa, assim como sua vida, tornara-se
uma extensão do ministério pastoral da igreja. Juntamente com sua
família deram frutos imensuráveis por simplesmente ter pessoas unindo-
se a eles para o jantar normal dos domingos - semana após semana.
Se isso já soa como uma carga, devo também acrescentar que James e
sua esposa têm seis filhos, haviam adotado um sobrinho e uma sobrinha
e moravam a 45 minutos da igreja. Não era um Superman , mas o modo
com que ele e sua esposa exibiram esse modelo de hospitalidade, às
vezes, faz-me pensar que era. Seu exemplo desafiou-me a esquecer o
sossego e a cruzar mais fronteiras com o amor de Cristo. Possa a tribo
dos ‘James’ aumentar!
13
APTO PARA ENSINAR
“É necessário, portanto, que o presbítero seja...apto para ensinar”

V
(1 Timóteo 3.2)
ocê já notou quão significante é a atividade de ensinar no Novo
Testamento? Os pastores pensam na importância do ensino
constantemente, porque esta tarefa está relacionada com seu
trabalho. Vale a pena observar que, no Novo Testamento, o ensino
parece ser necessário em todos os aspectos da vida cristã.
Nós nos chamamos “discípulos” e praticamos “disciplinas” espirituais,
duas palavras cuja raiz tem relação com ensino e aprendizado. Ensinar é
central na proclamação do evangelho e no fazer discípulos:
“...ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”
(Mateus 28.18-20). O ensino é crítico no treinar novas gerações de
homens e mulheres (Tito 2.2-6). O ensino é necessário para que o povo
aprenda a orar (Lucas 11.1). De fato, o ensino está no coração da
maturidade cristã (Efésios 4.11-16). A Bíblia até mesmo chega a
conectar o louvor com o ensino, visto que, cantando, falamos e
admoestamos uns aos outros com canções (Efésios 5.19; Colossenses
3.16).
Podíamos continuar nosso argumento. O ensino e a necessidade de
ensinar aparecem por toda parte nas páginas do Novo Testamento.
Mesmo no Antigo Testamento, ensinar a Palavra de Deus ocupava uma
posição dominante no reavivamento e no fortalecimento do povo de
Deus na fidelidade.
A NECESSIDADE DE ENSINAR
Assim, não nos surpreende quando o apóstolo Paulo inclui “apto para
ensinar” em sua lista de qualificações para a liderança da igreja. Cada
um dos atributos listados por Paulo deveria tipificar todo homem cristão
que é maduro, mas essa qualidade de “apto para ensinar” é um dom
peculiar, que se requer de homens que aspiram ser presbíteros ou
pastores. A razão é simples: ensinar é a tarefa primária do presbítero.
Outras coisas são necessárias em uma igreja, tais como administração,
cuidado mútuo e assim por diante, mas, uma coisa que necessariamente
coloca um presbítero à parte é sua habilidade para ensinar.
João Calvino captou algo da sobriedade devida, quando consideramos
essa tarefa:

E se julgamos uma grande impiedade contaminar qualquer coisa que é


dedicada a Deus, ele certamente não poderá suportar quem com mãos impuras
ou mesmo despreparadas, manuseie aquilo que, entre todas as coisas, é a mais
sagrada na terra. É, portanto uma audácia bem perto de um sacrilégio tomar a
Escritura precipitadamente, torcendo-a a nosso bel-prazer, ao luxo de nossos
caprichos; o que já tem sido feito por muitos em tempos passados. 23
O QUE O APÓSTOLO QUER DIZER COM “APTO PARA
ENSINAR”?
Esse critério de Paulo, “apto para ensinar”, se refere à habilidade de
comunicar e aplicar a Escritura com clareza, coerência e de forma a
frutificar. Os que têm essa habilidade manuseiam a Escritura com
fidelidade e outros são edificados quando eles o fazem. Essa habilidade
não se limita ao ensino público desde o púlpito. Homens com essa
habilidade podem ser mestres, ou, mais simplesmente, poderão ser
dotados para ensinar indivíduos ou grupos pequenos. Nem todos são
exímios pregadores públicos, mas estão, a todo tempo, ensinando e
aconselhando através da Escritura as pessoas ao seu redor. Homens
assim não deveriam ser desclassificados do ofício de presbítero.
Anteriormente, lhes disse de Mark Dever que, ao ouvir do meu desejo
de ser um pastor, imediatamente perguntou à minha esposa: “Ele pode
ensinar?”. Essa foi a primeira pergunta que ele fez. A habilidade de
ensinar é um dom particularmente associado com o ofício de presbítero e
homens que aspiram esse ministério precisam possuí-lo. Não podemos
passar por cima dessa qualificação quando avaliamos candidatos para a
liderança pastoral: ele pode ensinar?
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) Os pastores devem prover meios para que homens na igreja tenham
oportunidades para ensinar, com o fim de poderem avaliar sua
habilidade.
Homens que demonstrem interesse em ensinar e que manifestem
qualidades para o ofício de presbítero, deveriam ter oportunidades para
ensinar em situações apropriadas. Algumas igrejas usam seus cultos
noturnos, aos domingos, para esse fim. Outras igrejas usam
oportunidades na Escola Dominical ou seus estudos bíblicos no meio da
semana. Ainda outras organizam oficinas para treinamento experimental.
Seja qual for a situação local, pastores e igrejas devem criar
oportunidades para observar e confirmar capacidades de ensino nos
homens da congregação.
2) Assumindo que um homem tenha tido um certo número de
oportunidades para ensinar, quão capacitado se mostra?
Os pastores deveriam conceder a um homem diversas oportunidades
para aprender e crescer como um instrutor. Sua habilidade deverá ser
provada em uma jornada de ensino. Porém, no decorrer dessa jornada, é
necessário que se averigue se o homem demonstra competência para
interpretar um texto, planejar um sermão, comunicar claramente as
ideias bíblicas, aplicar a Escritura adequadamente, saber antecipar
objeções e conhecer as necessidades pastorais da igreja. Dada a
centralidade do ensino, aqueles que avaliam não podem ser precipitados.
Possibilidades há que, dentro de algum tempo, o homem desenvolva
suas habilidades. Eu tive o privilégio de servir com dois presbíteros fiéis,
mas que não eram muito bons para falar em público. Um gaguejava e o
outro suava nervosamente. Mas, com o tempo, eles se tornaram dois dos
melhores pregadores para os domingos à noite. Para se cultivar e afirmar
essa habilidade, é preciso uma avaliação clara, honesta e paciente.
3) O homem demonstra sensibilidade pastoral em seu ensino?
As igrejas locais devem procurar homens que conheçam sua
congregação e são habilitados para aplicar a Palavra ao povo de Deus. O
presbítero em potencial demonstra discernimento a esse respeito? Tem
competência para falar à congregação em suas dores, alegrias,
necessidades, histórias e esperanças? Ele tende a alimentar ou a espancar
as ovelhas? Se ele conhece a congregação, isso será visto na maneira
com que ele cuida do povo, através dos seus ensinos. O apóstolo Paulo
mesmo modelou isto, dizendo: “E sabeis, ainda, de que maneira, como
pai a seus filhos, a cada um de vós, exortamos, aconselhamos e
admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus, que vos chama
para o seu reino e glória” (1 Tessalonicenses 2.1-12). Os presbíteros
deverão demonstrar algo dessa afeição paternal, ao ensinar o povo de
Deus.
4) O presbítero em potencial está comprometido com a pregação
expositiva (ou com a filosofia de pregação da igreja local).
Ele concorda com os presbíteros atuais sobre o que a pregação é, ou o
que não é? Suporta a igreja, em sua filosofia e em sua abordagem do
ensino? Crê que o ensino é central à obra da igreja, ou crê que outra
coisa deveria ocupar preeminência? Opiniões com grande divergência
neste assunto poderão causar sérias tensões para os presbíteros e para o
pregador principal, em seus esforços para realizar com fidelidade as suas
responsabilidades. Opiniões divergentes poderão, igualmente, afetar as
ovelhas, quando os que ensinam, empregam no púlpito estratégias
fundamentalmente diferentes. Os presbíteros determinam o caráter e a
tonalidade do ministério de ensino. Assim sendo, é necessário que haja
unidade em uma filosofia de ensino.
5) São, os demais, edificados por seu ensino?
Se perguntarmos à congregação, ela afirmará que esse homem tem
habilidades para ensinar e que se beneficia espiritualmente do seu
ensino? Pergunte aos indivíduos como eles recebem e usam o ensino do
presbítero em consideração. Algumas vezes, podemos afirmar ou negar a
habilidade de um homem, por considerar como os outros o avaliam.
6) É um homem que discipula a outros?
Visto que nem todo ensino é público, nós devemos, de igual maneira,
procurar aquelas áreas de ensino menores e menos públicas. O candidato
a presbítero ajuda outros a crescerem em Cristo, em situações mais
privadas, como pequenos grupos ou fazendo discipulado individual? É
fiel em ajudar outros a resolverem dificuldades ou questões pessoais?
Outros vêm a ele para pedir conselhos? E seus conselhos são
consistentes e realmente bíblicos? Um homem poderá cumprir muito de
um serviço pastoral nos corredores, no parque de estacionamento depois
de um culto, ou em um café durante a semana. Quem são os homens que
ensinam desta maneira?
7) O homem com vistas ao ofício de presbítero é teologicamente
maduro e apoia as distinções teológicas da igreja?
Um homem poderá ter um dom, mas este dom necessita estar
conformado com o conteúdo apropriado. Há muitos que são hábeis para
entusiasmar um povo emocionalmente, no entanto, não podem explicar
as doutrinas básicas da fé detalhadamente. Existem pontos doutrinários
em que ele discorda? Pode, de boa consciência, subscrever a declaração
de fé, em sua inteireza? Seus ensinos devem refletir aquela declaração.
Ele pode entender e apoiar as características teológicas da igreja, tais
como o parecer sobre as ordenanças, distinção nas funções do homem e
da mulher em casa e na igreja, e assim por diante? Para o bem da
unidade da igreja, aqueles com autoridade para ensinar deverão estar
habilitados a serem defensores das características doutrinárias da igreja.
Martyn Lloyd-Jones nos presta grande ajuda ao indicar o que as igrejas
devem esperar de um pregador – daquele que maneja as Escrituras:

O que você procura? Eles devem ser homens “cheios do Espírito”. Esta é a
primeira e a maior qualificação. Você tem o direito de procurar nele um raro
grau de espiritualidade, e isto deverá vir em primeiro lugar, em vista de sua
função. Você tem o direito de procurar um grau de segurança, com respeito ao
seu conhecimento da Verdade e de seu relacionamento com ela. Fica
certamente claro que, se ele é um homem que está continuamente lutando com
seus problemas, dificuldades e perplexidades próprias e tratando de encontrar a
Verdade ou se ele é tão incerto, que está sempre sendo influenciado pelo
último livro que leu, e “é levado por todo vento de doutrina” e por toda
novidade teológica, é claro que ele, ipso facto, é um homem que não foi
chamado para o ministério. Um homem que trás grandes problemas e vive
num estado de perplexidade é, sem dúvida, um homem que não está preparado
para pregar, porque ele estará pregando a um povo com problemas e sua
primeira obrigação é a de ajudá-lo a lidar com seus problemas. “Como poderá
um cego guiar outro cego?” – foi a pergunta do Senhor, em tal situação. Um
pregador, então, precisa ser um homem caracterizado por um raro grau de
espiritualidade e ser um homem que já tem chegado a um consenso seguro do
conhecimento e entendimento da Verdade e sente que está apto para pregar a
outros. 24
8) Ele pode defender sua fé?
A capacidade para defender sua fé é outro dos aspectos importantes da
habilidade para ensinar. “...Apegado à palavra fiel, que é segundo a
doutrina, de modo que tenha poder, tanto para exortar pelo reto ensino,
como para convencer os que o contradizem” (Tito 1.9). Os pastores e as
igrejas devem considerar se o presbítero em potencial demonstra
habilidade para corrigir o erro e preservar a verdade, sem ser
argumentativo e indelicado, mas paciente e gentil.
9) É um homem predisposto a ser ensinado?
O candidato ao ofício de presbítero mostra-se à congregação como um
homem que, humilde e alegremente, recebe a Palavra com
aproveitamento? Um homem que pode ser ensinado está, em si mesmo,
ensinando. O ato modela humildade diante dos outros. Se um pastor não
está inclinado a ser ensinado por seus colegas de ministério e a
submeter-se aos demais presbíteros e pastores, ele criará tensão dentro
do ofício e estará moldando endurecimento de coração nas ovelhas. Ou,
pior, pode ser mais um ditador que instrutor, em seu interagir com as
ovelhas.
CONCLUSÃO
Como pastores e como igreja, precisamos encontrar homens com os
quais possamos contar e confiar-lhes aquelas coisas que nós mesmos
temos aprendido de homens fiéis. A fim de que a transmissão da verdade
possa ser bem feita, os homens que indicamos para a liderança devem
ser aptos para ensinar, numa diversidade de maneiras e de situações.
Chamar para servir como presbítero um homem que não saiba ensinar é
como canalizar o leite puro da Palavra através de canos corroídos e
enferrujados. A Palavra continua sendo leite mas, por quanto tempo? E
quem vai querer tomar leite de um cano enferrujado?
14
SÓBRIO, GENTIL, PACIFICADOR
“...não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de
contendas”

M
(1 Timóteo 3.3)
eu avô, assim como meus irmãos, foram alcoólatras. Meu
avô bebia em farras. Costumava permanecer sóbrio por
diversos meses, para então tornar a cair em seu vício,
explodindo em abusos verbais e, algumas vezes, em atitudes violentas.
Em seus tempos de sobriedade, professava ser um cristão. Mas, quando
estava intoxicado, não se podia argumentar com ele sobre a Escritura ou
falar sobre Cristo. Já em seus últimos anos, com sua saúde em declínio,
ele deixou de beber e veio a ser uma das minhas pessoas favoritas. Seu
riso alegre fazia com que seus ombros sacudissem e sua cabeça caísse
para trás. Quando alguma coisa lhe parecia particularmente doce, ele
deixava sair um exuberante e caloroso, “Siiiim, ó Senhor”.
Meus irmãos também eram homens de farras. Suas bebedeiras tinham a
tendência de ser ainda mais longas que as do meu avô. E, assim como
meu avô, perdiam toda capacidade social quando bebiam. Perderam seus
trabalhos, seus amigos e suas famílias.
Portanto, você não se surpreenderá ao ouvir que eu não tenho nenhuma
objeção às instruções do apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 3.3: um
presbítero, ou um pastor, deve ser “não dado ao vinho, não violento,
porém cordato, inimigo de contendas”. Bebedeira, violência e contendas,
provavelmente foram postas juntas na lista de Paulo porque, com
frequência, elas sempre se manifestam unidas. Onde você encontra uma,
encontra também as outras duas.
Ainda que eu ame meu avô e meus irmãos, eles não seriam candidatos
à liderança de minha igreja.
AS QUALIFICAÇÕES
Os versos 2 e 3 de 1 Timóteo 3, parecem estar juntos, como uma foto e
seu negativo. No verso 2, Paulo lista qualidades positivas: irrepreensível,
temperante, sóbrio. No verso 3, ele encerra três características negativas:
não dado ao vinho (ou embriaguez), violência e inimigo de contendas
(ou, como se lê noutra tradução briguento). As qualidades do verso 2,
quando presentes, qualificam um homem para o ofício. As
características do verso 3, o desqualificam.
Não “ser dado ao vinho”, ou, “não dado à embriaguez”, sugerem a
tendência de tomar bebidas intoxicantes em excesso, até perder a
faculdade de uma mente sóbria. É Calvino quem explica que
“embriagar-se” inclui “qualquer intemperança em uma atitude gulosa
com o vinho (ou bebida alcoólica)”. 25
A violência, usualmente, segue a intoxicação. Uma disposição
briguenta e violenta não se harmoniza com um pastor. Ele não pode ser
um agressor. Em vez disso, suas maneiras são controladas pela gentileza.
Finalmente, um presbítero não pode ser um briguento. Não deve ser
argumentativo ou causar divisão. Paulo escreveu as mesmas instruções,
em sua segunda carta a Timóteo:

“E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram


contendas. Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender; e,
sim, deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando
com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não
só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o
retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos
cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (2 Timóteo 2.23-26).

Longe de ser um briguento, o pastor evita discussões, pacientemente


instrui e reconhece que as disputas na igreja são sintomas de
necessidades espirituais profundas (Tiago 4.1-3). Paciência, gentileza e
instrução são as regras do dia. O ensino não pode ser confundido com a
ridicularização de qualquer pessoa que tenha uma opinião diferente.
Quão frequentemente os pastores se veem envolvidos com ideias bobas
e loucas? A igreja precisa de homens capazes de enxergar através das
armadilhas demoníacas e dar ao povo um modelo de sobriedade e paz.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) O homem é um presbítero dado à embriaguez?
Toma bebidas alcoólicas e, se toma, o faz com a apropriada sobriedade?
Seja em sua casa ou na comunidade, algumas vezes, toma até ao ponto
de intoxicação? Está escravizado por outros tipos de intoxicantes?
2) Procure homens que demonstrem a habilidade de discernir
biblicamente entre os assuntos relevantes da fé e as “questões
insensatas e absurdas” (2 Timóteo 2.23).
Podemos observar estas coisas em seus ensinos, quando lhes é dada a
oportunidade para ensinar? Aproveita-se do ensino público para
introduzir as pessoas a opiniões duvidosas ou especulativas e a ideias
extravagantes (Romanos 14.1)? Ou, ao contrário, demonstra um juízo
maduro e sadio que enfatiza a verdade de Deus? São todas as coisas para
ele uma questão de consciência – um lugar seguro para se estabelecer –
ou ele pode passar por cima das questões de menor importância? Pode-
se notar esta habilidade em suas conversas com as ovelhas ou tem por
hábito forçar as pessoas ao molde “correto” em todas as questões,
mesmo naquelas sem muita importância?
3) Em meio a um conflito, ele se porta gentilmente?
Às vezes, os conflitos numa igreja se tornam a pressão que refina os
diamantes. Talvez tenha havido situações difíceis na igreja, em passado
recente ou em tempos atuais. Quem demonstrou a habilidade de 2
Timóteo 2.24, para evitar disputas néscias? Quem respondeu com
amabilidade e evitou a retaliação e a ofensa contra os “oponentes”?
Você pode identificar aqueles que fizeram face aos ataques e
argumentos, mantendo a esperança de que Deus concederia graça e
arrependimento àqueles que estão no erro? Tais homens mantêm uma
perspectiva espiritual e eterna, em vez de entregarem-se aos argumentos
e às pelejas.
4) Além de evitar pelejas, o candidato a presbítero é um pacificador?
Faz tudo, dentro do seu poder, para manter a unidade na igreja
(Romanos 15.5; Efésios 4.3; Colossenses 3.15)? Evitar um conflito
poderá ser nada mais do que isso mesmo – evitar um conflito. Mas, um
agente de paz e reconciliação faz algo mais - e um presbítero precisa ser
exatamente assim. Pacificação é um ministério entregue a todos os
cristãos, mas um presbítero precisa assentar um exemplo de positiva
edificação de unidade e paz. 26 Uma coisa é estar por fora de um conflito,
mas outra é ser paciente e, gentilmente, ensinar outros a abandonarem
suas armas e juntarem seus esforços. Um homem assim seria um bom
presbítero.
5) O candidato a presbítero é um abusador físico de sua esposa, de
seus filhos ou de qualquer outra pessoa?
Ele não pode ser um agressor. Se a disciplina de seus filhos inclui
correção física, a raiva, o zelo, ou a frustração são os combustíveis que
causam a disciplina? Ou diriam sua esposa e seus filhos que ele oferece
uma disciplina sóbria e apropriada, e que honra a Deus? Há algum
histórico de abuso matrimonial? Os pastores no ministério corrente de
uma igreja seriam sábios em investigar todo histórico de abuso, antigo
ou recente, antes ou depois da conversão à fé em Cristo, e determinar se
existem demonstrações de arrependimento e de responsabilidade. Um
homem dado à violência em sua casa obviamente não governa bem sua
família.
CONCLUSÃO
O apóstolo Paulo antecipou épocas de crescente dificuldade no
ministério do evangelho. “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas
próprias cobiças, como sentindo coceiras nos ouvidos; e se recusarão a
dar ouvidos à verdade, entregando-se a fábulas”. Para tempos como
esses, o apóstolo chama por pastores sóbrios, gentis, e pacificadores.
“Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o
trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (2
Timóteo 4.5). Homens de tal calibre são bênçãos a qualquer igreja.
15
NÃO AMANTES DO DINHEIRO
“É necessário, portanto, que o presbítero seja irrepreensível, esposo de
uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para
ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de
contendas, não avarento.”

A
(1 Timóteo 3.2-3)
s instruções de Paulo a Timóteo, para encontrarmos presbíteros
qualificados, faz-me lembrar de um clássico de O’Jays * , “For
the Love of Money”. Aqui, alguns dos versos, para aqueles que
não conhecem sua música:

Por amor ao dinheiro


Há quem roube de sua própria mãe
Por amor ao dinheiro
Há quem roube de seu próprio irmão
Por amor ao dinheiro
Há quem até vagueie pelas ruas, sem saber a quem roubar
Por aquela malvada, mesquinha cédula
O todopoderoso dólar, o dinheiro
Por amor ao dinheiro
Há quem minta – Senhor – trapaceiam
Por amor ao dinheiro
As pessoas não se importam se machucam, se ferem
Por amor ao dinheiro
Uma mulher vende seu precioso corpo
Uma pequena folha de papel, carrega em si tanto peso
Por aquela malvada, mesquinha cédula
O todopoderoso dólar, o dinheiro

Talvez uma das maiores críticas que fazem acerca de pastores ou de


igrejas é que “tudo o que eles querem, é dinheiro”. E, sejamos honestos:
com esse contínuo tilintar de moedas, nas promessas ofensivas de
compensações e bençãos materiais, que enchem o ar em algumas
estações de televisão, podemos entender porque muitos temem esse
assunto. Os Daddy Graces, Kennet Copelands e Edir Macedos do
mundo, têm criado uma verdadeira controvérsia. E muito antes dos
televangelistas de nossos dias, estavam no cenário os papas, com seus
subalternos vendendo indulgências para poderem financiar o seu bom
gosto nas artes de alta qualidade, e nas suas cada vez mais imponentes
catedrais.
Contra tudo isto, o apóstolo Paulo instrui a Timóteo a buscar homens
que não sejam amantes do dinheiro, ou, como diz outra tradução,
“avarentos por lucro sujo”. E esta última expressão está bem perto das
palavras compostas usadas pelo apóstolo. Paulo tem em mente algo que
é indecente, um ganho desonroso, ganho ao custo de um caráter moral.
Interessantemente, o Novo Testamento usa esse termo somente em 1
Timóteo 3.3, 8 e em Tito 1.7, onde Paulo descreve as qualificações
exigidas de um presbítero ou de um diácono. Assim, parece que Deus
tem uma preocupação única com a atitude de um presbítero no que
concerne ao dinheiro; que ele não venha e, por amor ao dinheiro,
tosqueie as ovelhas por alguns centavos a mais. Um presbítero em
potencial deve ser uma pessoa que renuncie a avareza ou o amor ao
dinheiro.
UMA AMOSTRA DE JOHN WESLEY
Nestes dias de megaigrejas e de celebridades cristãs que se gabam de
suas multimilionárias mansões e fortunas, a igreja, desesperadamente
precisa de exemplos contraculturais. Muitas pessoas creem que o seu
estilo de vida deve igualar-se com suas receitas e que suas receitas
devem sempre estar crescendo, para que seus estilos de vida possam
expandir, aumentar. John Wesley (1703-1791), porém, pensou de uma
maneira diferente. Ele viveu uma vida de tal modéstia, que seu modelo
deveria ser estudado por todos os candidatos ao ofício de presbítero.
Charles White nos conta de um incidente que veio a moldar a atitude
de Wesley, com respeito à sua abordagem quanto ao dinheiro:
(Wesley) havia terminado sua compra de alguns quadros para o seu quarto,
quando uma de suas camareiras entrou. Era um dia de inverno e ele notou que
ela tinha apenas um xale fino para proteger-se do frio. Ele meteu sua mão no
bolso para tirar algum dinheiro e lhe dar para que comprasse um casaco, mas
descobriu que muito pouco lhe havia sobrado. Foi, então, acometido com o
sentimento de que o Senhor não estava satisfeito com a maneira com que ele
estava gastando seu dinheiro, e perguntou-se: “Como irá meu Senhor dizer
‘muito bem, servo bom e fiel’? Tens adornado tuas paredes com o dinheiro que
poderia abrigar essa pobre criatura do frio! Ó, justiça! Ó, misericórdia! Não
são estes quadros o sangue dessa servente?”.
Como resultado desse incidente, em 1731, Wesley começou a limitar os seus
gastos, a fim de ter mais dinheiro para dar aos pobres. Ele anotou que em um
ano o seu ganho total era de £30, e suas despesas para sobrevivência foram
£28, então tinha £2 para distribuir. No ano seguinte, seus ganhos dobraram,
mas ele ainda vivia com £28, e doou £32. No terceiro ano, sua receita saltou
para £90, mas ele ainda vivia com as mesmas £28, e ele pode doar £62 para os
pobres.
Wesley ensinou que os cristãos não deveriam somente dizimar, mas distribuir
todo ganho extra, uma vez que a família e os credores haviam sido cuidados.
Ele cria que, com o aumento de ganhos, o cristão deveria igualmente aumentar
seu sistema de doação e não aumentar seu sistema de vida. Wesley começou
esta prática quando em Oxford e a manteve pelo resto de sua vida. Mesmo
quando o seu ganho multiplicou-se em milhares de libras esterlinas, ele viveu
com simplicidade e rapidamente doou o restante. Houve um ano em que seus
salários subiram a um pouco mais de £ 1.400 e ele doou quase tudo, menos
£30. Tinha medo de amontoar tesouro na terra, por isso, seu dinheiro era
enviado para obras de caridade assim que o recebia. Ele disse que nunca teve
mais que £100 de uma só vez.
Quando Wesley morreu, em 1791, o único dinheiro mencionado em seu
testamento era um punhado de moedas, encontradas em seus bolsos e nas
gavetas. A maior parte de suas £ 30.000, que ganhou durante sua vida, havia
sido doada. Dizia ele: “Não posso fazer nada, quanto ao deixar meus livros
para trás, quando o Senhor me chamar definitivamente; mas, em todo outro
aspecto, minhas próprias mãos serão meu testamenteiro”. 27

Randy Alcorn aponta para o fato de que a renda de Wesley, em dólares


hoje, seria de US$160.000 por ano. No entretanto, ele vivia com apenas
US$20.000. Nem todos nós viveremos uma vida tão generosa como esse
homem viveu, porém, a atitude de um presbítero, no que concerne ao
dinheiro e posses, deveria pender para o estilo de vida de Wesley, em
vez do estilo de vida opulento de tantos pregadores da prosperidade.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) O candidato ao ofício de presbítero dá generosa e sacrificialmente?
Dar é um sinal de estar libertado do amor ao dinheiro e ganhos
financeiros. Devemos entesourar para nós mesmos tesouros nos céus,
não na terra, para que sirvamos ao Senhor e não ao dinheiro (Mateus
6.19-24). Nosso apreço a Cristo e às coisas do seu reino resulta em doar
generosamente, sacrificialmente, alegremente. Quando estamos
considerando um homem para ser presbítero, temos de considerar se ele
é generoso no seu ofertar ao trabalho da igreja (o que bem poderá
mostrar a medida do seu compromisso com a igreja). Ele dá para atender
as necessidades de outros, conforme as oportunidades permitem, ou é
um acumulador para si mesmo?
2) São os seus investimentos feitos com uma mentalidade terrena, ou
com uma mentalidade celestial?
É certo que um homem deverá prover as necessidades de sua família (1
Timóteo 5.8), mas são os seus investimentos feitos com excesso e com
amor aos excessos? Estira-se financeiramente a extremos? Quais os
débitos nos quais incorre (débitos de consumo ou outros, como
hipotecas)? Ele compra carros de luxo, quando existem outras opções
para carros de modelos mais modestos? Gosta de ter casas grandes e
dispendiosas, quando uma mais modesta poderia atender às suas
necessidades? São suas economias desproporcionais às suas ofertas?
Além das questões sobre carros e casas, ele responde à maneira do moço
rico da parábola, sobre a sugestão de dar tudo aos pobres e seguir a
Cristo? Ao falar sobre essas coisas, a liderança atual da igreja pode
discernir se o candidato tem um coração apegado às coisas deste mundo?
Ou existe excelência na graça de dar (2 Coríntio 8.7)?
3) Qual é a filosofia do candidato sobre o ganho nesta vida?
Qual sua medida de sucesso? Muito do pensamento secular do Ocidente
é: “Colha tudo o que pode, ponha no pote tudo o que você colhe, então,
sente-se no pote”. Ou, talvez, você já tenha ouvido uma versão mais
mercenária da regra de ouro: “Aquele que tem mais ouro, governa”. O
candidato tem este tipo de visão? Mede o seu sucesso na forma com que
ajunta dinheiro? Sua identidade está construída sobre possessões e
riquezas? Contraste tudo isso com as instruções de Paulo a Timóteo,
dadas um pouco mais adiante, em sua carta: “De fato, grande fonte de
lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para
o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com
que nos vestir, estejamos contentes” (1 Timóteo 6.6-8). A máxima
atribuída a João Wesley deveria ser, igualmente, a atitude apropriada de
um presbítero: “Ganhe o quanto você possa ganhar, economize o quanto
você possa economizar, dê o quanto você possa dar”.
4) Considere as decisões pessoais e profissionais do candidato em
questão, se elas são calculadas a buscar maior ganho.
Ele organiza sua vida ao redor de ganho monetário, ou ao redor de
objetivos do Reino? “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e
cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais
afogam os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é a
raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si
mesmos se atormentaram com muitas dores” (1 Coríntios 6.9-10). O
amor ao dinheiro se manifesta em pequenas decisões e esquemas,
levando a tentações, ruína e destruição. É o homem dado ao trabalho
excessivo, em sua busca de ganho, enquanto sua família e sua vida
espiritual sofrem? Costuma torcer a Palavra de Deus para justificar a sua
busca de riquezas? Toma decisões profissionais e familiares (como
aceitar uma promoção e mudar-se para outra área distante) para buscar
ganhos pessoais, ao custo de um envolvimento fiel na igreja, ou terá se
negado, em certas oportunidades, com o propósito de priorizar objetivos
espirituais?
5) Qual sua atitude sobre as finanças da igreja?
Existem maneiras de saber e pensar que afetam a visão de determinadas
pessoas, quanto ao emprego das finanças de uma igreja. Poderá
acontecer que o homem deseje amontoar o caixa da igreja com dinheiro
vivo. Poderá ser um que, quando pense em local, visione mais o valor
deste do que como o local afetará um testemunho efetivo da igreja.
Poderá argumentar quanto ao aumento do orçamento da igreja, porque
está mais interessado em que a igreja ajunte dinheiro do que invista em
ministérios sólidos. Em geral, é bom que se considere o tratamento que o
candidato dá ao orçamento da igreja. Sua abordagem é feita com fé ou
com dependência na sabedoria secular? Depende apenas daquilo que se
vê, ou busca a Deus e confia no povo de Deus, para dar além de si
mesmo (2 Coríntios 8.1-5)? “Pois conheceis a graça de nosso Senhor
Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que,
pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2 Coríntios 8.9).
6) O candidato demonstra mais estima pelo dinheiro do que pelas
pessoas?
Se ele tivesse de tomar a decisão entre salvar pessoas (ainda que a
grande custo) ou proteger a igreja financeiramente, o que escolheria? É
um tipo de homem que preferiria, antes, estar financeiramente quebrado
e servir ao pobre, do que ser abastado e rodeado por pessoas famintas?
CONCLUSÃO
Por muito tempo eu resisti ao impulso do ministério do Evangelho
porque eu não queria ver-me de maneira nenhuma associado com os
vigaristas que aparecem nas televisões. Pensava: “Senhor, dá com que
eu possa ser qualquer outra coisa, menos um pregador. A maioria deles
parece estar preocupada com nada mais que dinheiro”. Bem, o Senhor
faria as coisas à sua maneira – aparentemente, também com uma boa
risada. Agora sirvo como pastor num dos setores de maior atividade
bancária do mundo, com tentações e mundanismo a todo nosso redor! O
O’Jays me faz orar como eles o fazem, em seu estribilho:

Não deixe, não deixe, não deixe o dinheiro te governar


Pelo amor do dinheiro
Algumas vezes, o dinheiro pode as pessoas mudar
Não deixe, não deixe, não deixe o dinheiro te enganar
Algumas vezes, o dinheiro pode às pessoas enganar
Gente, não deixe o dinheiro, não deixe o dinheiro vos mudar.

A boa nova é que o Senhor nos dá maiores amores que o dinheiro que,
criando asas, voa e foge (Provérbios 23.5). Ele nos dá grandes deleites
em Cristo que é o maior dos deleites. Que privilégio, pela riqueza da
graça de Deus, poder pregar a Cristo a um mundo dominado pelo amor
ao dinheiro. Possa o Senhor fazer-nos a todos fiéis, e nos manter livres
da avareza. E possa ele dar à sua igreja homens que saibam desdenhar as
bobagens deste mundo e servir ao Mestre, não a Mamon.
* Nota do tradutor: um grupo norte americano de música R&B, de Canton, Ohio
16
UM LÍDER EM SEU LAR
“...e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina,
com todo o respeito (pois se alguém não sabe governar a própria casa,
como cuidará da igreja de Deus?)”
(1 Timóteo 3.4-5)

A igreja é uma família, um grupo de irmãos e irmãs em Cristo,


submissa a Deus o Pai por obra do Espírito Santo.
Toda família requer uma liderança; inclusive a família da igreja. O
apóstolo Paulo, sob a influência do Espírito Santo, adiciona aqui outra
qualificação para aqueles que desejam o ofício de presbítero na família
do Senhor. Ele escreve: “é necessário... que governe bem a própria casa,
criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém
não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1
Timóteo 3.4-5).
Note-se a urgência e a insistência dessas qualificações. Paulo insiste
em que um presbítero deverá ter todas as qualidades que já temos
discutido, mas, aqui neste texto, existe uma paixão mais forte infundida
em suas palavras. Um canditado ao ofício de presbítero tem de,
necessariamente, possuir essas qualidades. Um homem não pode ser
qualificado como um presbítero se ele não governar sua casa
consistentemente bem. É um pré-requisito. Não é algo que se possa
aprender durante a execução do ofício, mas é uma qualificação mínima,
necessária até para se submeter uma aplicação ao ofício. Se ele não
puder governar sua pequena família, tampouco poderá governar a maior
família, a igreja. Deus chama um presbítero para nada menos que
atender à casa e família de Deus.
As mulheres têm uma fama um tanto injustas, algumas vezes, levando
sobre si o estereótipo de fofoqueiras e mexeriqueiras, intrometendo-se
na vida dos outros. Mas, aqui, Paulo adverte o homem que porventura
esteja muito ocupado em preocupar-se com os cuidados da igreja, e mui
pouco preocupado com as coisas que acontecem sob o seu próprio teto.
Faz-nos lembrar de Eli que, em seu engano, precipitadamente repreende
a Ana quando esta orava no templo enquanto ele mesmo abdicava de sua
responsabilidade por seus dois filhos (1 Samuel 1-2). Um presbítero
atende às necessidades do lar.
LIDERANÇA E AMOR
A palavra “governar”, no verso 5, é a mesma usada para o bom
samaritano, que arriscou-se ao colocar bandagens e cuidar do viajante
ferido (Lucas 10.25-37). O homem samaritano respondeu à necessidade
do viajante, cuidando dos seus ferimentos com atenção e carinho –
precisamente como um cristão, com a perspectiva de ser um presbítero,
será chamado para atuar na igreja. Os presbíteros supervisionam e
orientam os membros da família. 28
Se um presbítero supervisiona, porém falha em prover orientação,
possivelmente será porque, ou é um tirano, ou um dono de casa ausente.
E ambas as atitudes não se prestam para um pai, nem tampouco para um
presbítero. E se ele apenas orientar, mas deixar de supervisionar, ele não
estará sendo mais do que um policial que finge não ver a infração, ou
nada mais do que um simples colega para seus filhos – não poderá guiar
apropriadamente. Ele terá de governar a casa com gentileza e preocupar-
se por cada um dos membros da família. O apóstolo e seus
companheiros contrabalancearam estes dois aspectos em seus próprios
governos sobre as igrejas. Paulo escreveu:

“...nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia seus próprios
filhos; assim, querendo-vos muito, estávamos prontos para oferecer-vos não
somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isto que
vos tornastes muito amados de nós. E sabeis, ainda, de que maneira, como pai
a seus filhos, a cada um de vós, exortamos, consolamos e admoestamos, para
viverdes por modo digno de Deus, que vos chama para o seu reino e glória” (1
Tessalonicenses 2.7-8, 11-12).

Imediatamente, nos diz o apóstolo o que um bom governo implica –


“criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito” (v. 4).
O apóstolo já havia falado sobre o fato de que o presbítero em
perspectiva precisa ser marido de uma só mulher, indicando a
singularidade do coração que um presbítero casado deverá ter por sua
esposa. Aqui, porém, Paulo se preocupa com o relacionamento que um
pai deve ter com seus filhos. A palavra “respeito” poderá aplicar-se tanto
ao pai como aos filhos, em sua submissão e obediência. E, claro,
esperamos as duas coisas de um presbítero qualificado. Um homem
assim merece respeito e isto se mostra em como seus filhos devem
seguir sua liderança. Ele é uma pessoa digna de respeito ou que denota
reverência. Numa outra tradução, leríamos: “Veja que seus filhos o
obedecem com o próprio respeito”.
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
1) O candidato ao ofício de presbítero dá a devida atenção ao seu lar?
Provê liderança? O que diz sua esposa, quanto ao envolvimento dele no
lar? O recomenda, ou trata de justificar a sua falta de envolvimento? A
supervisão de um lar poderá ser medida de diversas maneiras: por
conhecer e atender as finanças da família, pelo lidar com as decisões
concernentes à educação das crianças, pelo cuidado e manutenção física
da própria casa.
2) O presbítero em perspectiva tem cuidado de seus filhos?
O presbítero demonstra igual cuidado para com cada um de seus filhos?
Um presbítero será frequentemente chamado para atender aos membros
do rebanho. Este foi o modelo apostólico (1 Tessalonicenses 2.11-12). A
igreja deverá observar o mesmo padrão num presbítero em perspectiva,
com relação aos seus filhos individualmente.
3) Os filhos se submetem a seu pai?
São eles obedientes? Há evidência de que eles o respeitam e têm-lhe em
alta consideração? Ou o relacionamento é caracterizado com
animosidade e rebeldia? Sem dúvida, os particulares de uma situação
devem ser considerados. Poderá ser que o filho está espiritualmente
perdido e lutando com suas dificuldades, porém, ainda é respeitoso ao
seu pai. A exortação de Paulo não apela para um lar perfeito, nem para
filhos perfeitos – nenhuma das duas coisas existe. Então, o sábio é ver se
o pai está governando sua casa bem, em meio a circunstâncias adversas.
Os seus filhos manifestam o respeito devido, apesar dos desafios?
Dentro de uma idade razoável, os seus filhos se comportam de uma
forma fiel às instruções cristãs (Tito 1.6)?
4) Os filhos concordam com que seu pai esteja qualificado para servir
como um presbítero?
Idade e entendimento aplica-se aqui, mas, se os filhos têm idade
suficiente para entender a decisão que está para ser tomada, é de muito
valor que se considere se eles apoiariam seu pai como uma pessoa digna
do ofício. Com que razões eles poderiam afirmar ou negar a qualificação
de seu pai? Sensibilidade é necessária, mas aquilo que nossos filhos
veem em nós poderá, da mesma forma, vir a ser como a igreja também
nos vê. A diferença é que nossos filhos tendem a notar certas coisas em
nós de primeira mão - quando não estamos vestindo nossa imagem
pública.
5) Tanto para homens solteiros, como para casados que não têm
filhos, é importante saber quais suas atitudes para com as crianças e o
que pensam sobre a criação de filhos.
O homem se opõe a ter filhos, ou está postergando ter filhos (se casado)
por certo período de tempo? Nesse caso, podem existir certas tendências
egoístas que governam sua vida. Para um homem solteiro, seria bom
considerar se ele já teve outras oportunidades para pastorear crianças,
que venham a servir como um exemplo substitutivo para a questão. Ele
se oferece como voluntário para ministérios ou programas da
comunidade que visam servir jovens? Ele tem sobrinhos e sobrinhas?
Demonstra voluntariedade para cuidar das crianças de outras famílias na
igreja? Se o faz, como lhe respondem, ou reagem as crianças nesses
programas e como ele se preocupa com elas? Seus relacionamentos, em
seu lugar de trabalho, também podem fornecer respostas para o assunto
em pauta.
CONCLUSÃO
O Senhor requer que as igrejas sejam governadas por homens que
saibam supervisionar e orientar seus filhos. Em grande parte, essa é a
tarefa de um ministério pastoral. Onde encontraremos esses homens?
Onde melhor que em suas casas, cuidando dos seus assuntos? Que possa
o Senhor agradar-se em levantar homens fiéis em seus lares e
capacitados para essa nobre tarefa.
17
MADURO E HUMILDE
“não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na
condenação do diabo”

V
(1 Timóteo 3.6)
ocê já ouviu a frase “o zelo de um novo convertido”? Usa-se
essa frase para descrever alguém que está fervendo com
entusiasmo, em vista de sua fé e comprometimento recém
encontrados. É um pouco clichê, mas a frase sem dúvida ajuda a
descrever muitos novos crentes. Com pouco tempo de conversão, o
crente tende a ter um alto nível de energia e entusiasmo. Seus olhos
brilham e se faz evidente seu estado de exaltação da alma. Pode-se dizer
que é algo lindo de se contemplar.
Claro, seu zelo nem sempre se equipara à sua sabedoria.
Por essa razão, o Senhor insiste que qualquer pastor que lidera sua
igreja: “não seja neófito” ou que acabou de ser convertido, “para não
suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo” (1
Timóteo 3.6). O apóstolo aqui nos fornece com ambos, a qualificação e a
razão.
A QUALIFICAÇÃO
Ele não pode ser um “neófito”. Não pode ser um crente novo.
Literalmente, não pode ser “recentemente plantado” na fé. Como o tenro
broto de uma planta, um novo convertido não terá a capacidade para
aguentar o contínuo, difícil e pesado caminhar do ministério. Sua fé não
pode ser nova, mas de idade, como uma árvore de anos, que produz
frutos maduros.
Os novos crentes se assemelham às crianças. Sua nova vida encoraja e
anima, mas, simultaneamente, devemos reconhecer que a nova vida
ainda é vulnerável. Os crentes novos necessitam de instruções, de serem
moldados e cuidados. E, uma vez que eles mesmos são os que precisam
de tais cuidados, lhes falta a maturidade para que possam prover o
cuidado aos outros, num nível pastoral.
O Senhor foi muito bom em explicar isso, em sua Palavra, e a igreja
faz muito bem em ouvi-lo. A tendência em algumas igrejas –
particularmente aquelas ansiosas por ligar as pessoas a determinados
serviços – é a de apertar novos convertidos a aceitarem aqueles cargos
pelos quais o novo crente já demonstrou algum impulso de interesse.
Mas as igrejas não deveriam colocar um homem em uma posição que
está além de suas possibilidades. Outra vez, as igrejas não devem desejar
privar um homem do cuidado e da instrução que necessita. Por exemplo,
a igreja deveria estar segura que o homem tenha facilidade nas coisas
básicas da fé, antes de pedir que ensine até mesmo às crianças. 29
O potencial presbítero não deve ser um novo convertido na fé. Um
novo convertido tem, ainda, muito por aprender, aplicar, dominar em sua
própria vida (Romanos 12.1-2), antes que comece a discipular e a
pastorear outros dessa maneira. Paulo não nos dá uma idade específica
ou a extensão do tempo que possa demonstrar maturidade. Todos
conhecemos cristãos que estão na fé por décadas, mas ainda lhes falta a
maturidade espiritual que se requer para ser um presbítero. E,
inversamente, nós, provavelmente, já conhecemos um número de
pessoas que parecem já haverem nascido espiritualmente velhas e
evidenciam uma maturidade notável para sua idade cristã. Um
discernimento paciente é necessário. O que desejamos encontrar, com o
passar do tempo, é uma maturidade consistente em vida e em
pensamento.
A RAZÃO
As igrejas devem buscar maturidade espiritual, por causa do particular
perigo associado com a imaturidade. Um homem imaturo pode “suceder
que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo”. Orgulho e
condenação demoníaca, dois grandes inimigos que ameaçam o novato.
O orgulho faz com que nos vejamos mais elevados que outros. Isso
afeta a maneira como tratamos as ovelhas, tentando-nos, talvez, a tratá-
las com rispidez. E também nos faz indispostos de seguir outros líderes.
Por último, um homem orgulhoso torna-se vulnerável a cair no ofício,
levando-o à “condenação do diabo”. A “condenação do diabo” poderá
referir-se tanto a: (a) o mesmo julgamento que o diabo recebeu por seu
orgulho, (b) a calúnia e a acusação do diabo, que se deleita em acusar os
crentes.
De uma maneira ou de outra, convidar um neófito para o ofício de
presbítero é convidá-lo para um ataque do orgulho, em seu coração, e de
julgamento, que lhe vem do lado de fora.
Calvino resume a questão muito bem: “Neófitos têm, não somente um
fervor impetuoso e uma ousadia audaciosa, mas também se enfatuam
com uma confiança tola, como se pudessem voar até às nuvens.
Consequentemente, não é sem razão que estão excluídos do pastorado
até que, no processo do tempo, seu temperamento orgulhoso seja
conquistado.” 30
QUESTÕES E OBSERVAÇÕES
O orgulho veste-se com muitas máscaras. É um monstro horrível. Assim
que, para se diagnosticar o orgulho e a imaturidade, necessita-se de
muita paciência.
1) Quando este homem foi convertido? É um novo crente?
Se o homem for um novo cristão, ele não está qualificado para o posto.
Poderá ser um homem com grande zelo e com desejo de servir, mas o
melhor será discipulá-lo e treiná-lo para uma vida piedosa. Adie
considerá-lo para ser um presbítero.
2) Se o homem foi convertido há algum tempo, quão espiritualmente
maduro ele é?
Por maturidade espiritual, não podemos pensar em termos de idade ou
de tempo de conversão como um crente. Quão evidente é sua
conformação com a imagem de Cristo (Filipenses 2.5-11)? Evidencia
uma vida cheia do Espírito, produzindo o fruto do Espírito (Gálatas
5.22-26)? Ele responde às diversas situações com bondade, paciência e
compaixão? Ou é um jovem com uma maturidade que ultrapassa sua
idade? Tal homem deveria ser considerado tanto quanto demonstre essa
maturidade.
3) Até que ponto este homem é dado ao orgulho?
Ele expressa estar consciente deste orgulho? Parece cego à sua
presunção? Ou luta contra o orgulho como um cristão, abrindo sua vida
para outros e submetendo-se a eles? Existe alguma evidência de que o
ofício de presbítero lhe poderia tentar à arrogância e a exaltar-se sobre
outros? Considere a liderança do homem em outras situações. Mostrou-
se orgulhoso naquelas situações? Seus superiores ou seus colegas de
trabalho o têm como uma pessoa humilde ou como alguém que é cheio
de si?
4) Uma maneira de medir o orgulho é observar se há certa
superconfiança em face dos perigos e das tentações espirituais
Quando avisado sobre as acusações e tentações do inimigo contra os
presbíteros, ele demonstra uma santa preocupação ou demasiada
segurança em suas próprias forças e habilidades? Ou se sente preso a um
sentimento de incapacidade (2 Coríntios 2.16) e da necessidade da
proteção espiritual de Deus? Um homem que esteja cego às suas
necessidades de proteção espiritual e que não vigia cuidadosamente
sobre sua vida, em breve encontrar-se-á com um coração indiferente e
vulnerável aos ataques do inimigo.
5) O candidato ao ofício de presbítero é sensível às críticas?
Sem dúvida, nem todas as críticas que as pessoas recebem são acuradas
e válidas. Mas, como vamos saber se as críticas são válidas ou injustas,
se nos recusarmos a considerá-las? O possível presbítero é sempre
pronto para defender-se, quando criticado? Ele interpreta todo desacordo
como se fosse oposição? O orgulho, às vezes, se manifesta nas pessoas
em forma de uma atitude de “intocável” diante das críticas, avaliações e
observações que outros fazem. Mas, um homem com atitude de oração,
humilde, pobre-de-espírito, recebe os comentários como uma
oportunidade para reflexão e crescimento.
6) Pergunte ao candidato e a outros se ele é capaz de se submeter a
outras pessoas (principalmente aos outros presbíteros), ainda quando
difiram em opiniões.
Ele pode submeter-se a outros, quando estes não concordam com ele?
Uma parte crucial, nas tarefas de um presbítero, é saber como submeter-
se a outros biblicamente qualificados, como homens de dons e talentos,
cheios do Espírito e que, de vez em quando, veem as coisas de modos
diferentes. É um orgulho pensar que os demais presbíteros devam
submeter-se a você. Em se tratando de um assunto em particular, é bom
que se pergunte a um possível presbítero se ele acha que os demais
presbíteros existentes estão devidamente qualificados para o ofício. Se
ele não o crê, será muito difícil que se submeta e apoie seus ministérios.
CONCLUSÃO
Na procura de homens de confiança, não podemos minimizar a
importância da maturidade espiritual e da humildade. Maturidade e
humildade são de imenso valor para proteger a igreja e os presbíteros
das artimanhas e esquemas de Satanás.
18
RESPEITADO PELOS DE FORA
“Pelo contrário, é necessário que ele tenha um bom testemunho dos de
fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo.”
(1 Timóteo 3.7)

Q ual você supõe ser a crítica mais frequentemente lançada contra a


igreja local e contra os cristãos em geral? Considere estes que são
mais comuns:
 A igreja não está fazendo o suficiente para tratar os problemas
reais (juventude, desabrigados, etc.)
 Os cristãos e a igreja não têm mentes abertas; estão atrasados e
são discriminatórios.
 A igreja e os cristãos [especialmente os pregadores] estão atrás
do dinheiro alheio.
 Se a igreja tem a verdade, então, porque existem tantas divisões
e tantas denominações?
 A igreja é obsoleta e desnecessária e os cristãos são perigosos à
sociedade.
 Os cristãos e a igreja são chatos, tediosos, destruidores de
prazeres, são mortos.
 Os cristãos se autojustificam e são grosseiros.
 A igreja está cheia de hipócritas.
Sejamos honestos. Muitas dessas críticas estão muito bem feitas – pelo
menos para algumas igrejas e para certos cristãos professos.
 Existem cristãos que se autojustificam e são grosseiros.
 Existem pregadores cristãos e igrejas que estão mais
interessadas no dinheiro do que nas pessoas.
 Existem cristãos, e existem igrejas, que permanecem teimosos,
de mentes trancadas, vivendo ainda em eras distantes e
incapazes e sem vontade de engajar-se na sociedade
contemporânea com as verdades bíblicas.
 Os cristãos argumentam muito. Nos dividimos sobre as
questões mais insignificantes.
Não vou simplesmente ignorar tais críticas. Sim, é verdade que aqueles
que levantam tais críticas são, eles mesmos, hipócritas. Mas, devemos
esperar encontrar hipócritas no mundo. A questão é: deveríamos esperar
encontrar tal hipocrisia na igreja? Bem, poderá ser que nossos críticos
tenham prestado um serviço valioso, ao apontar essas coisas más. Então,
concordamos com eles? Se concordamos, que, pois, devemos fazer?
A QUALIFICAÇÃO FINAL
O apóstolo chega à sua qualificação final para presbíteros e pastores:
“Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora,
a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo” (1 Timóteo 3.7).
Acontece que aquilo que os incrédulos pensam de nós, sim, realmente
importa. Especialmente, em se tratando de presbíteros. O homem que
almeja ser um presbítero precisa possuir uma forte reputação entre
aqueles de fora da igreja. Esses que estão do lado de fora – pessoas que
não são cristãs – poderão corroborar ou refutar o testemunho de um
potencial presbítero. Em muitas circunstâncias, a opinião dos de fora
precisa ser positiva. Talvez, possamos dizer que as opiniões neutras não
são suficientes, visto que é necessário que “ele tenha bom testemunho
dos de fora”. Se um homem é bem considerado dentro da igreja, mas
pobremente considerado pelos não crentes, ele não se qualifica como um
candidato conveniente para o ministério cristão.
Essa qualificação tem sérias implicações espirituais. Uma reputação
pobre, fora da igreja, uma vez confirmada, poderá indicar que o homem
é propenso a cair em desgraça, ou em alguma armadilha do inimigo.
Quantos desses homens têm manchado o testemunho da sua igreja local,
de Cristo e do Evangelho? O inimigo dos eleitos se deleita em nada mais
do que ver homens caírem sobre suas próprias espadas, por estarem
vivendo com uma má e pobre reputação.
Porém, uma boa reputação com os de fora não significa que o potencial
presbítero não levará a censura e a ignomínia de Cristo. O mundo odiou
o Senhor e o mundo odiará aqueles que O seguem (Mateus 10.24-25).
Os apóstolos vieram a ser o “lixo do mundo, escória de todos”, em seu
tempo e cultura (1 Coríntios 4.13). Assim, também, será para todo crente
fiel, em todas as épocas, a mesma rejeição de Cristo. “Todos quantos
querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2
Timóteo 3.12). Então, a chave da questão é: A rejeição de um presbítero
em potencial vem pelos de fora por causa de Cristo ou em razão do seu
caráter piedoso e do seu modo de viver?
Os presbíteros precisam ter testemunhos recomendáveis ao evangelho
e a tudo o que se conforma com a sã doutrina. Ainda os seus próprios
inimigos deveriam sentir-se envergonhados de seus comentários algozes,
em virtude de uma vida bem vivida para Cristo (1 Pedro 3.16). Esta é a
qualidade de homem que devemos orar a Deus para aquele que
porventura venha ocupar a posição de presbítero.
PERGUNTAS E OBSERVAÇÕES
1) O candidato ao ofício de presbítero envolve-se com a comunidade
em geral?
Um homem que deseja o ofício de presbítero deverá ser sal da terra e luz
do mundo (Mateus 5.13-14). Isso se fará refletir, em parte, pelo
relacionamento que ele mantenha com aqueles que não são cristãos e nas
contribuições cívicas e comunitárias. O presbítero em potencial tem um
contato considerável com os que são de fora?
2) Quais são as coisas que os vizinhos e seus colegas não crentes
podem dizer sobre ele?
Como é visto pelos de fora? Testemunham em seu comportamento o que
considerariam cristão, ou, ao contrário, o que considerariam não ser
cristão? O têm em boa estima? Alguém se surpreenderia ao saber que ele
é um líder na igreja?
3) Há evidência de que as opiniões dos de fora são - ou não são -
corretas?
Seria muito improvável que Paulo intencionasse que a igreja local
recebesse as opiniões dos de fora sem reflexão, sem discernimento.
Paulo mesmo não seria julgado por homem algum, desde que esse juízo
fosse infundado e onde a fidelidade do apóstolo fosse demonstrável
(1Coríntios 4.1-4). Da mesma maneira, a igreja local não deve descartar
as opiniões daqueles que estão do lado de fora, naquelas coisas que se
referem aos seus líderes, mas, tampouco deve engolir
indiscriminadamente os conceitos discriminatórios que façam contra um
líder. Assim como no que se refere às outras qualificações, nesta
também os presbíteros que estão no exercício de suas funções devem
agir com paciência e discernimento.
CONCLUSÃO
A chamada para ser um pastor é uma vocação muito alta. Não é qualquer
um que pode tomar o manto de liderança na igreja. Aqueles que são
chamados precisam ser exemplos para o rebanho em todas as áreas da
vida (1 Timóteo 4.12). Eles necessitam ser modelos de uma fé devotada,
dentro e fora da igreja, com vidas dignas de Cristo e do evangelho, às
vistas de todos. Mas, ainda, à parte de serem capacitados para ensinar, as
qualificações de 1 Timóteo 3 são características que todos os crentes
devem possuir, gradativamente aumentando, pela graça de Deus e pela
influência do seu Espírito. Possa o Senhor agradar-se em nos conceder a
bênção de homens fiéis e de confiança para guiar nossas igrejas, e nos dê
também o fruto do Espírito.
19
OS PRESBÍTEROS REFUTAM O ERRO
“Porque é indispensável que o presbítero seja...antes, apegado à
palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto
para exortar pelo reto ensino, como para convencer os que o
contradizem.”

E
(Tito 1.9)
u já exerci o pastorado em três diferente igrejas e, por
intermédio do ministério “9Marcas”, conheci e conversei com
centenas de outros pastores. Esta, porém, é a primeira vez em
que sirvo como um pastor principal.
Por um lado, o pastor tem basicamente as mesmas responsabilidades de
um assistente de pastor, ou de um presbítero. Tem o trabalho de pregar,
ensinar, aconselhar, orar, praticar a hospitalidade, dar o exemplo,
animar, repreender e assim por diante. Por outro lado, as demandas da
liderança, são outras. São muitas as questões que terminam em minha
mesa para decisões, opiniões e orientações. Parece que as pessoas leem
um suposto sinal pendurado na porta do meu escritório, que diz: “este é
o fim da linha”. Isso, por sua vez, lembra-me que eu não sou um
salvador e que eu tenho de reconhecer minhas limitações – limitações
que agora são mais visíveis e de mais influência sobre a congregação.
Alguns crentes pensam que a Bíblia é silenciosa sobre as rotinas e
obrigações de um pastor ou presbítero. Muitos apontam para Atos 6 e
limitam o trabalho de um presbítero a somente ensinar e orar. Mas é um
erro bastante sério não dar atenção às muitas instruções dadas por Deus
nas Epístolas Pastorais. Elas são um verdadeiro tesouro, tanto para
pastores novos, como para aqueles mais experimentados. Paulo abre o
capítulo 4, de 1 Timóteo, com estas palavras:

Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns


apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de
demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a
própria consciência, que proíbem o casamento e exigem abstinência de
alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de graças, pelos
fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade... Expondo estas coisas aos
irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e
da boa doutrina que tens seguido. (1 Timóteo 4.1-3, 6)

Depois de fazer uma lista das qualificações para os oficiais da igreja


local no capítulo 3, indicando que ele a fez para que Timóteo soubesse
“como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo,
coluna e baluarte da verdade” (v. 15), Paulo, agora, passa a tratar sobre a
questão dos falsos mestres.
Timóteo – e todos os presbíteros que desejam ser bons ministros –
precisam apresentar diante dos irmãos instruções com respeito aos
espíritos enganadores e concernentes ao ensino de demônios e a
hipocrisia dos mentirosos. Um assunto bastante sério! “Alguns
apostatarão da fé” e se devotarão a maus espíritos e a seus enganos. Suas
mentiras devastam a alma. Em outras palavras, os pastores precisam
entender que o inimigo está pronto para invadir o campo e seduzir
aqueles que desertam e caminham para a tortura e a morte.
Note que Paulo trata deste assunto sobre falsos mestres como uma
questão pastoral, não como coisa acadêmica. Paulo não estava
interessado em ver homens engajados em debates incoerentes sobre
suposições, proposições ou quaisquer outras posições. Ideias têm
consequências, e 1 Timóteo 4 nos adverte que nossas congregações
poderão pagar estas consequências, caso se devotem a espíritos
enganadores e a doutrinas de demônios.
E isto é um fato aterrorizante! Pessoas a quem amamos e tomamos por
irmãos e irmãs na fé poderão ser presas das forças das trevas, nestes
últimos dias. Conquanto não nos surpreendamos por ocorrências como
essas, devemos trabalhar contra tais eventos e lamentarmos
profundamente quando eles acontecerem no meio de nosso povo. Nada é
mais pastoral do que proteger nossos irmãos dessa devastação e erro que
ameaçam suas almas.
O que deve um pastor ou um presbítero fazer? Ele precisa instruir o
povo sobre essas doutrinas falsas. Ele precisa ser “apegado à Palavra
fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder , tanto para
exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem”
(Tito 1.9). Eu acredito que isto tem diversas implicações para o trabalho
de um pastor.
O QUE SE REQUER PARA REFUTARMOS O ERRO
1) Um pastor deve procurar saber a quem e ao que seu povo está
ouvindo e quanto se aplica a essas coisas que ouve.
Os espíritos enganadores operam através de meios humanos,
mascarados como ministros de luz (2 Coríntios 11.13-15). Assim sendo,
os presbíteros devem estimular o seu povo a aprender de homens
piedosos e teologicamente sãos.
Quais os autores que sua congregação deve ler, e quais são as posições
teológicas defendidas por tais autores? Quais os sites na internet e
páginas de rede social que requerem a atenção da congregação e porquê?
Tais instrutores evidenciam piedade genuína e prioridades evangélicas
em suas pregações e em seu estilo de vida? São transparentes e
responsáveis diante de outros? Quanto tempo a congregação dedica a
ensinos teológicos e quanto isso molda suas ideias? Quais as decisões
que estão tomando em suas vidas, baseados nessas ideias? Tais mestres
competem com a autoridade confiada aos presbíteros da congregação
local? Mais importante ainda, está alguém do nosso povo evidenciando
alguma rejeição da fé, por influência de falsos mestres? Estamos,
solenemente e com amor, fazendo nosso povo consciente do erro e das
consequências que seguem a essas crenças falsas e insensatas?
Os presbíteros estão dispostos a “dar instruções nas sãs doutrinas” e
“repreender aqueles que as contradizem”. Paulo, provavelmente tinha
em mente mestres na própria igreja cretense. Em nossos dias a invasão
vem provavelmente pela internet e pelos livros, o que torna o trabalho do
pastor mais desafiador.
2) Um bom pastor não pode esquivar-se em identificar doutrinas
enganosas e chamar o seu povo a evitá-la.
O crente pode tornar-se demasiadamente cortês. E, geralmente, somos
corteses com as coisas erradas. Temos a tendência de pensar que a
caridade e a liberdade são importantes para o caso de assuntos
doutrinários, mas que, firmeza e resolução são mais comuns nos debates
sociais e políticos. Nos sentimos bem em “citar nomes” quando se trata
de políticos, mas, normalmente, nos esquivamos quando se trata de um
ministro ou pregador. Negar a Trindade? Bem, isso é apenas um caso de
liberdade acadêmica ou de interpretação pessoal. Mas, cruze a fila dos
grevistas e prepare-se para ser preso e algemado. Paulo nos manda que
estejamos “atentos” e que nos “afastemos” daqueles que causam
divisões com heresias condenáveis (Romanos 16.17-18; Gálatas 1.6-8;
Efésios 4.14; Tito 3.10-11). E isto quer dizer que devemos não só
identificar os ensinos falsos, mas afastar-nos daqueles que os propagam!
Para este propósito, os pastores necessitam coragem. Não digo que
todo sermão deverá ser um ataque ou um apedrejamento contra alguém
que ensina, ou contra seu ensino. De fato, muitos dos sermões não
deveriam ser assim, mas, onde e quando necessário, o pastor precisará
fazer uso do cajado para afugentar o lobo.
3) Um pastor não deverá enfraquecer a seriedade da instrução
apostólica, por depreciar a origem demon íaca dos falsos mestres e de
seus ensinos.
Algumas vezes, os líderes da igreja mostram-se envergonhados ao falar
sobre o Diabo e seus maus espíritos. Ouvimos aqueles mais dedicados
aos ensinos científicos nos dizerem que somos atrasados e sem
entendimento. Mas, a luz da Palavra de Deus ilumina diretamente sobre
Satanás, o acusador dos irmãos, a fonte do mal. Não produzimos
nenhum bem ao fazer de conta que Satanás não existe. Ele existe. E ele
confunde os que estão cegos às suas astúcias. “Porque a nossa luta não é
contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades,
contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6.12).
4) Os pastores devem ajudar o seu povo a ter suas consciências
treinadas pela Palavra de Deus
A principal característica dos falsos mestres, identificados em 1
Timóteo 4, é uma consciência cauterizada, apartada da piedade e da
bondade. Nosso povo não somente tem de evitar uma consciência
cauterizada em si mesma, mas também deve saber como reconhecer esta
mesma consciência cauterizada, naqueles doutrinadores aos quais ouve.
O livro de Judas nos oferece fatos reveladores sobre tais mestres,
chamando-os de obscenos, rejeitadores de autoridades, sexualmente
imorais, de mentalidades carnais, corrompidos, famintos por dinheiro,
ambiciosos, bajuladores, zombadores, divisivos e impiedosos. Nosso
povo necessita reconhecer estes atributos para que possa permanecer
livre dos lobos vorazes (Atos 20.27-28). O Senhor dá à igreja homens
dotados para instruir, corrigir, treinar – precisamente para ensinar o povo
a saber como localizar os lobos, mesmo quando seus fiéis presbíteros
estejam ausentes.
“Expõe estas coisas aos irmãos”, nos diz Paulo. Em outras palavras,
ensine o povo com tal clareza, que o ensino possa fazer-se sentir como
um objeto físico, tangível, colocado ao seu alcance. Bons pastores fazem
estas coisas por levar o povo a ser “treinado nas palavras da fé” e seguir
a boa doutrina. Enquanto os pastores pensam, creem e vivem de acordo
com “o padrão das sãs palavras”, seu povo tem diante de si uma figura
vívida e uma fé vibrante (2 Timóteo 1.13).
5) Um bom pastor necessita orar ao Senhor, pedindo que o santifique
na verdade; tanto a ele mesmo como ao seu povo.
Se um pastor assim o fizer, estará seguindo o exemplo mais elevado
possível. O próprio Sumo Pastor orou por santificação na verdade em
sua oração sacerdotal: “Não peço que os tire do mundo, e sim que os
guarde do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou.
Santifica-os na verdade; a tua Palavra é a verdade. E a favor deles eu me
santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na
verdade” (João 17.15-17, 19). Robert Murray McCheyne chegou à
conclusão de que o seu povo não necessitava dele nada mais que sua
santificação. Talvez, McCheyne tenha chegado a entender algo do
próprio coração de Jesus. Jesus se santificou a si mesmo por seus
discípulos, a fim de que eles fossem santificados na verdade. A santa
verdade que Jesus tinha em mente era a verdade da Palavra de Deus. O
Salvador orou: “a tua Palavra é a verdade” (João 17.17). Assim, pois,
aqueles que seguem ao Sumo Pastor, como pastores subordinados,
precisam orar para que eles mesmos, assim como o povo do qual estão
encarregados, possam ser santificados pela santificação que a Palavra de
Deus produz.
CONCLUSÃO
Existe o perigo de que, estando tão preocupados com o erro, falhemos
em pregar a verdade. Nossos sermões não devem tornar-se em discursos
contra o erro que apareceu mais recentemente, ou nosso assunto
teológico preferido. Mas, tampouco devemos pregar como se o
evangelho fosse a única opção teológica diante do povo. Em vez disso,
devemos fazer claras distinções, tendo em mente os erros mais
grosseiros, assim como aqueles que são mais sutis. Precisamos
apresentar o evangelho de Cristo acima e contrário às ideias não cristãs e
explicar certas nuances doutrinárias que fazem o evangelho mais claro
frente às suas imitações. Praticamente, cada livro do Novo Testamento
contém algum alerta contra doutrinas falsas e contra os falsos mestres,
fazendo bastante claro que tais mestres e seus ensinos são partes da
guerra sem tréguas entre o povo de Deus e os seus inimigos. Um bom
pastor apresentará essas coisas diante do seu povo e lutará por sua
devoção a Cristo e à verdade, ao invés de sua dedicação a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios.
20
OS PRESBÍTEROS REFUTAM OS MITOS
E TREINAM PARA UMA VIDA PIEDOSA
“Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas.
Exercita-te, pessoalmente, na piedade.”

E
(1 Timóteo 4.7)
m 1 Timóteo 4.7, o apóstolo Paulo nos apresenta um contraste
bastante diametral. Ele instrui o jovem Timóteo a “rejeitar as
fábulas profanas e de velhas caducas” completamente e
“exercitar-se, pessoalmente, na piedade”. Por “fábulas de velhas
caducas”, Paulo não se dirige, pejorativamente, a uma idade ou sexo. Ao
contrário, se refere a fábulas ou contos fictícios e não históricos, usados
para ensino e instrução. No Novo Testamento, usa-se sempre para
referir-se a uma palavra que indica fábulas mentirosas, ou falsidades,
histórias com pretensões fingidas – ideias perigosas e errôneas que
causam impactos nocivos sobre as pessoas. No texto, Paulo está
advertindo contra mitos e fábulas usadas para enganar.
Timóteo e um bom presbítero não deveriam ter nada a ver com tais
instruções. Devem rejeitar qualquer mito que esteja procurando atenção.
E COMO UM PASTOR PODE REJEITAR OS MITOS?
1) Um pastor exemplar deve assegurar-se de estar mantendo
conversações boas e produtivas com seus companheiros.
Os pastores, por natureza, vivem uma grande parte de suas vidas
encerrados em suas próprias mentes. Assim, nós que somos pastores
precisamos certificar-nos de que não estamos meramente ouvindo
nossos próprios pensamentos, repetindo e rebobinando a mesma fita das
nossas imaginações – nossos mitos e fábulas – sem examiná-los e sem
mudá-los. Um bom pastor necessita de uma constante dieta de verdades,
não de fábulas. A maneira segura de se levar isso a cabo é através de um
estudo focado e dedicado das Escrituras, onde a verdade eterna se
preserva e está revelada. Mas um pastor precisará dedicar-se ativamente
a ler material sólido, trabalhos clássicos, escritos por homens santos e
provados pelo tempo, considerando-os à luz das Escrituras.
2) Um pastor exemplar deve afastar-se de mitos e fábulas.
O pastor terá de refutar todas as formas de mentiras, especulações,
meias-verdades, insinuações, exageros, palavras que tratam de enfeitar o
que se conta, sujeiras, boatos, contos e difamações. Muitos círculos
cristãos se assemelham aos não-cristãos quando se trata dessas coisas.
Considerando o quanto Paulo falou contra os pecados da língua,
concluímos que ele mesmo deve ter experimentado o suficiente (Efésios
4.25, 31; 5.4; 1 Timóteo 3.11). Nossa consagração inclui separar-nos dos
bate-papos de esquina. Os ouvidos de um pastor deveriam ser como
sepulturas para os mitos e as fábulas. Do contrário, como disse Charles
Spurgeon, o presbítero ficará aleijado em seu ministério:

Será uma falta de sabedoria extrema para um jovem recém saído do seminário
ou de outra instituição, deixar-se prender por uma panelinha de mexeriqueiros
na igreja ou ser subornado por bondades e bajulações e, assim, vir a ser um
partidário e arruinar-se com a metade do seu povo. Deve evitar totalmente os
partidos e as panelinhas, para ser o pastor de todo o rebanho e cuidar de todos
com igualdade. Bem-aventurados os pacificadores, e uma das melhores
maneiras de ser um pacificador é deixar de lado o fogo das contendas. Não
abane, nem alvoroce, nem ponha mais combustível ao fogo, mas deixe-o que
se apague por si mesmo. Comece o seu ministério com um olho e com um
ouvido fechados. 31

3) Um pastor exemplar não deve quebrar a confiança do seu povo.


Ele deverá ser de confiança com relação à verdade. Deverá usar de
muita discrição quando, onde e com quem ele compartilhar informações
sobre o ministério e a congregação. Isto não quer dizer que o pastor terá
de viver uma vida de segredos ou jurar completo sigilo, como se fosse
um psicólogo ou conselheiro secular. Mas, sim, significa que ele deve
ter discernimento e reconhecer que almas estão sob o seu cuidado, que
reputações estão em suas mãos e que, mesmo falando de forma concreta
e com precisão, a retransmissão do que ele diz a outros poderá se
corromper. O pastor excelente, tampouco, promete sigilo onde o pecado
ou as atividades ilegais estão envolvidas. Mas não deve ser um
mexeriqueiro, contribuindo com o moinho que produz o rumor e as
pelejas que surgem com este (Provérbios 22.10).
O trabalho principal de um pastor envolve discursos, palavras. Assim,
um pastor deve estar lembrado da grande tentação que fofocas podem
causar. Quem sabe devêssemos frequentemente perguntar a nossos
colegas de ministério presbiteral se temos, porventura, traído qualquer
confiança, falado qualquer mito ou fábula ou compartilhado mais
informações particulares do que deveríamos. Os pastores devem se
reportar uns aos outros nessa área.
4) Um pastor exemplar investiga os erros até suas raízes de origem.
Esta era a 24a resolução de Jonathan Edwards: “Estou resolvido a:
Quando eu cometa alguma ação perceptivelmente má, traçá-la de volta
até que eu chegue à sua verdadeira causa; então, cuidadosamente,
esforçar-me para não mais cometê-la, e lutar e orar com todas minhas
forças contra aquilo que originou dita má ação.” 32 Ao examinar os erros
de nossas vidas, devemos perguntar-nos: “Teria esse erro brotado de
uma fábula, de um mito ou da aplicação errada de alguma verdade?” E
devemos direcionar nossas energias para renovar nossas mentes nessas
coisas, a fim de que a pureza habite nosso pensar.
ALGUNS CONSELHOS PARA TREINAR-NOS EM PIEDADE
Em vez de dar lugar a fábulas, Paulo instrui Timóteo a exercitar ou
treinar-se em uma vida piedosa. Piedade é uma palavra que necessita ser
recuperada em nossos círculos cristãos. Mais importante ainda,
verdadeira piedade – verdadeira devoção ou piedade para com Deus –
necessita ser reavivada e espalhada. Piedade é a verdadeira religião
bíblica - uma boa vida moral e piedosa para com o Salvador, animada
por uma afeição outorgada pelo Espírito.
Em suas cartas a Timóteo, o apóstolo usa a palavra “piedade” quatro
vezes, incluindo a ocorrência em nossa presente passagem. Cada uma
destas ocorrências nos provê, de uma forma útil, para podermos pensar
sobre os esforços à piedade. Das outras três passagens, deduzimos que
estamos buscando piedade quando estamos fazendo as três coisas que
seguem:
1) Orando pelas autoridades e líderes civis. “Antes de tudo, pois,
exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de
graça, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que
se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e
mansa, com toda piedade e respeito” (1 Timóteo 2.1, 2). Nossas orações
por aqueles que estão em autoridade afetam eficazmente nossa liberdade
e nossa habilidade de vivermos vidas piedosamente cristãs. Agora, é
fácil crer que os que regem e governam podem atrapalhar nossa piedade
cristã, porém, o oposto também é verdade. As orações eficazes dos
santos por aqueles com autoridade rendem – pela graça de Deus –
condições para o desenvolvimento da piedade cristã.
2) Fazendo combinar a piedade cristã verdadeira com o
contentamento. Paulo nos diz que “grande fonte de lucro é a piedade
com o contentamento” (1 Timóteo 6.6), o que vem a significar que a
piedade constitui metade da fórmula para a “grande fonte de lucro”. Ao
mesmo tempo que desenvolvemos a piedade, precisamos também
cultivar o contentamento. Sem o contentamento, insatisfação,
murmuração e reclamação eventualmente irão causar corrosão na
piedade. Como pastores, precisamos guardar-nos contra esta corrosão,
unindo a verdadeira piedade e afeição por Deus ao contentamento na
providência de Deus.
3) Antecipando perseguições (2 Timóteo 3.12). Todos quantos querem
viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. O sofrimento é
um fator da vida cristã. A piedade de tal modo distingue o crente do
mundo, que pressão dentro da igreja e perseguição fora dela se seguem
naturalmente. Nós nos treinamos em piedade por não nos entregarmos
ao desânimo, frente à perseguição. Como pastores, temos que lembrar-
nos que nós não merecemos melhor tratamento do que o que foi
recebido pelo Senhor. Se ele foi zombado, espancado e insultado, porque
haveríamos nós de esperar melhor tratamento por segui-lo (Mateus
10.24,25)?
Enquanto antecipamos perseguições, devemos também lembrar que o
Senhor sabe como livrar os homens piedosos, em suas tribulações (2
Pedro 2.9). Exercitar-nos em piedade, inclui preparar-nos para as
perseguições na firme confiança de que ninguém poderá arrebatar-nos
das mãos do nosso Pai (João 10.28-29). Não podemos temer àqueles que
podem destruir o corpo, mas não podem fazer nada mais que isso;
devemos temer aquele que tem poder para destruir o corpo e a alma no
inferno (Mateus 10.28). Sejamos como os que “mesmo em face da
morte, não amaram a própria vida” (Apocalipse 12.11). Tal disposição
da alma produz a piedade cristã.
CONCLUSÃO
Mitos tolos e fábulas de velhas nos levam a focar a mente, não apenas
nas coisas desta vida, mas também em seus aspectos mais triviais. Nos
fazem tão propensos às coisas terreais, que nos tornamos sem utilidade
para as coisas celestiais. Melhores pensamentos se requerem dos
pastores chamados pelo supremo Pastor. Equipemos nossas mentes com
materiais apropriados para a vida celestial.
21
OS PRESBÍTEROS ESPERAM EM DEUS
“Porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo”

N
(1 Timóteo 4.10)
ós, como pastores, somos constantemente tentados a levar a
cabo nosso ministério pastoral por nossa própria força e
sabedoria. Somos, em muitas ocasiões, intimados a ser homens
fortes e corajosos, que começamos a pensar que tal força e coragem são
questão de esforço pessoal. Podemos nos imaginar armando-nos de
tamanha força de vontade, suficiente para nos empurrar à execução de
qualquer objetivo.
Mas, essa frase curta de Paulo confronta qualquer pastor com a
pergunta: “onde estamos pondo nossa esperança?”
Algumas vezes, pomos nossa esperança em nossos estudos e
preparação. Outras vezes, colocamos nossa esperança nos livros que
lemos e nos argumentos convincentes que eles contêm. E outras vezes,
nossa esperança está nos nossos relacionamentos ou nas afeições que
compartilhamos uns com os outros, dentro do corpo de Cristo. Ou
colocamos nossa esperança em nossa capacidade de expressar-nos
articuladamente, na esperteza de nossos conselhos ou nos nossos bons
sermões. Nossa esperança eleva-se quando tudo vai bem, quando as
pessoas parecem estar satisfeitas com nossa performance. 33
Todas estas esperanças são tentações mortais! Todas se esvaem, se
enfraquecem e desapontam.
Onde podemos encontrar uma esperança duradoura para nosso viver e
para nosso ministério? A única, certa e permanente rocha onde podemos
firmar nossa esperança é no Deus vivo, “ Salvador de todos os homens,
especialmente dos fiéis” (1 Timóteo 4.10).
A LIBERDADE DA ESPERANÇA EM DEUS
Em todos os seus afazeres, o pastor exemplar evita a cilada de confiar
em seus próprios esforços. Na ótica de Paulo, quanto ao ministério
pastoral, a esperança no Deus vivo é o que anima e fortalece o pastor;
não a esperança em si mesmo. A esperança do pastor descansa em Deus
e nele o pastor encontra a força necessária. O bom pastor tem o Senhor
como seu quinhão, seu refúgio, seu estandarte, sua torre forte e seu
escudo. Diariamente, momento após momento, ele recorre ao Deus vivo.
Um bom pastor não poderá consentir que seus estudos lhe embacem a
clara visão do Salvador. Não poderá estudar para impressionar os outros,
mas para ver Jesus em toda sua humilhação na crucificação e no
esplendor de sua ressurreição. Ele terá de abrir a Palavra em fé, crendo
que Deus existe e que se torna galardoador dos que o buscam (Mateus
6.33; Hebreus 11.6). Ele terá de abrir a Escritura para ouvir não palavras
mortas, mas um Deus vivo que para sempre fala através de sua Palavra.
O bom pastor estuda para que possa ensinar e afim de que, ensinando, o
Espírito possa sintonizar os ouvidos de todos para que ouçam a voz do
Mestre. Antes que um pastor se prepare para pregar, ele terá de
reconhecer que ele mesmo não é mais que uma ovelha necessitada de
ouvir a voz do Supremo Pastor (João 10.3-4; 14-16). O estudo e a
preparação de um pastor deve ser, no melhor sentido da palavra,
devocional. Os nossos estudos demonstram uma esperança pessoal no
Deus vivente?
Colocar nossa esperança no Deus vivo significa encontrar uma
esperança verdadeira em um relacionamento vivo e pessoal. Certamente,
encontramos estímulo e esperança em relacionamentos com a
congregação. Mas, acima de tudo, um bom pastor necessita nutrir sua
comunhão com Deus.
Nossa convivência na igreja é o tipo de relacionamento que fomenta
uma mais profunda esperança em Deus, ou ela nos guia à dependência
no homem? Somos agentes que procuram direcionar outros ao Deus
vivo, em quem devem descansar suas esperanças? Nossas pregações
lembram aos outros da necessidade de colocarem sua esperança no Deus
vivente, que nunca os deixará, nem os abandonará? Ou, ao contrário,
nossas pregações animam as pessoas a esperar em meios humanos,
técnicas e terapias? Nosso viver comunitário precisa apontar,
continuamente, para onde a verdadeira esperança descansa – em Jesus.
Que liberdade isso deveria nos dar! A esperança em Deus liberta o
pastor das tentações de falsas esperanças e de autodependência. A
esperança em Deus nos livra daquele complexo “eu, o salvador”, que
assume que todo e cada problema deve ser consertado por sabedoria e
esforço pessoal. Nos livra da árdua labuta de agradar todo mundo. Nos
livra da escravidão do “sucesso” e da síndrome de “performance”. Para a
liberdade nos libertou Cristo (Gálatas 5.1) e essa liberdade descansa
segura e unicamente sobre os alicerces de nossa esperança em Cristo.
Cristo Jesus salvou ao pastor e salvará a outros. Cristo Jesus dá ao pastor
a verdadeira esperança e dará esperança ao seu povo.
Para sermos pastores exemplares, devemos lembrar ao povo esta
simples mas profunda verdade: “temos posto a nossa esperança no Deus
vivo”. Esta frase merece uma exposição completa; uma exposição
escrita na vida atual daqueles que têm confiado no Salvador. A vida de
um bom pastor deverá trazer tal exposição. Ele deverá viver como uma
pessoa que teve sua esperança depositada no Autor da vida – aquele que
tem a vida em si mesmo; que é o doador da vida eterna, o Deus vivo e
verdadeiro, Cristo Jesus nosso Senhor.
Pare e pense um pouco: onde você está descansando sua esperança?
22
OS PASTORES ORDENAM
“Ordena e ensina estas coisas”

S
(1 Timóteo 4.11)
haron não era mais alta que um metro e 20 centímetros. Vestia-se
profissionalmente e falava com uma voz bastante delicada. Ela,
uma mulher de meia idade, era mãe de duas crianças e, apesar de
todos os sinais de que ela vivia alegremente sua vida doméstica ,
ninguém brincava com ela. Sharon não suportava tolices e a gente tinha
sempre aquele impulso de se endireitar diante dela.
Eu trabalhei com Sharon por um ano, aproximadamente, antes que
viesse a saber que ela serviu, por vários anos, como Chefe de Polícia.
Explicou-me que todos os cadetes aprendiam uma postura de comando
que, em muitos casos, ensinava os cidadãos a honrarem as autoridades
oficiais que eles representavam. Sempre que um policial emitia um
comando verbal, o comando falado, simplesmente, punha palavras ao
que já estava explícito na postura do policial.
Em 1 Timóteo 4.11, Paulo faz uso de linguagem forte para dirigir-se ao
jovem [talvez tímido] Timóteo. Se Timóteo quisesse ser um bom servo
de Cristo, precisava “ordenar e ensinar”.
A palavra “ordenar” ou comandar, imediatamente perturba os ouvidos
modernos. Nossa cultura recua à sugestão de autoridade. Especialmente
uma autoridade exercida com convicção e força. Na melhor opção
teríamos líderes que facilitam, que provocam uniformidade de opiniões,
ou que geram motivação. E estes estilos mais modernos de liderança têm
o seu lugar. Um líder sábio reconhece quando uma abordagem mais
suave é melhor, quando faz sentido delegar obrigações ou quando a
uniformidade de opiniões é necessária.
Porém, em 1 Timóteo 4.11, o apóstolo infunde um tom diferente em
suas instruções a Timóteo. Ele diz “ordena ...estas coisas”. Uma nota de
autoridade tinha de ser ouvida nas interações de Timóteo com a
congregação.
COMO É UMA ORDEM AUTORITÁRIA, NO NOVO
TESTAMENTO?
Para sermos honestos, Paulo não está recomendando a Timóteo agir
contrário às palavras de Jesus, que ensinam os cristãos a não dominarem
uns aos outros (Lucas 22.25-26). Não diz a Timóteo que exerça uma
certa ditadura dentro da igreja, onde ele governe com mãos de ferro.
No entanto, um bom líder exerce autoridade. Terá de demandar certas
coisas. Jesus ensinava como alguém que tinha autoridade, não como os
escribas (Lucas 1.22). Seguindo o exemplo do Senhor, os pastores fiéis,
do mesmo modo, precisam comandar certas coisas. Precisam ensinar
com autoridade, não como os que usam de sutilezas – amedrontados de
tomarem posições para um lado ou para outro. O pastor que é realmente
bom faz soar a trombeta com um som certo e claro.
Mas, a habilidade de comandar não está enraizada no próprio pastor.
Os talentos e as habilidades de um pastor não são as bases de sua
autoridade. Tampouco a sua superioridade moral provê qualquer base de
autoridade. A Palavra de Deus é que provê a única e suficiente base da
autoridade pastoral.
Paulo entendeu isto. Ele escreveu aos Tessalonicenses: “porque estais
inteirados de quantas instruções vos demos da parte do Senhor” (1
Tessalonicenses 4.2). Um pastor exemplar terá de compreender que,
comandando, ele mesmo não é o comandante. Ele é apenas um
mensageiro e um exemplo. As ordens não são dele, para que as
desenvolva e as distribua a seu bel-prazer. As ordens devem vir
claramente do Senhor. Esta é a razão de “e ensina” ser tão vital, nas
instruções de Paulo. Timóteo ordena ao ensinar os mandamentos de
Cristo, que já têm sido ordenados por ele (Mateus 28.18-20).
Mais ainda, um bom pastor dedicar-se-á ao ensino daquelas coisas de
maior importância. “Estas coisas”, no verso 11, tratam de guerras
espirituais nas quais o crente se envolve e na confiança firme no Deus
vivo, o salvador dos crentes. Timóteo, assim como os bons pastores,
devem ocupar-se com assuntos de relevância.
O que impede que bons ministros ordenem com autoridade, como
deviam ordenar? Calvino sabiamente identificou um dos desafios:

A doutrina é de tal natureza, que os homens não devem cansar-se dela, ainda
que a ouçam diariamente. Existem, sem dúvida, outras coisas para serem
ensinadas; mas há ênfase nas teses demonstrativas; porque isto quer dizer que
elas não são coisas de menor importância, sobre as quais apenas uma passadela
de olhos seja suficiente; mas, ao contrário, elas merecem ser repetidas
diariamente, porque nunca chegarão a ser inculcadas com toda a suficiência.
Um pastor prudente deverá, portanto, considerar as coisas que são principais,
para permanecer nelas. Não há nenhuma razão para temermos que elas se
tornem enfadonhas; porque qualquer que é de Deus, com alegria ouvirá, as
coisas que necessitam ser frequentemente pronunciadas. 34

Quais as razões pelas quais um pastor temeria a repetição das


instruções da Palavra de Deus? Uma razão é o fato de que o temor dos
homens sussurra em nossos ouvidos: “o seu povo já ouviu esta mesma
coisa. Vão cansar-se da sua repetição”. Nós tememos as opiniões alheias
e isto poderá influenciar o nosso comportamento de ensino.
Sim, já ouviram, mas é improvável que já adotaram o ensino com
perfeição. Presbíteros maduros sabem que um ensino frutífero demanda
repetição. Com demasiada frequência nós cristãos olhamos no espelho,
para logo retirar-nos e esquecermos a imagem que vimos (Tiago 1.23-
24).
CONCLUSÃO
Não deveria ser algo penoso para um pastor repetir e reensinar
(Filipenses 3.1). E os pastores não deveriam recuar, frente aos rostos de
homens que demonstram, com fisionomias cerradas ou com palavras, as
suas reprovações. Nós, pastores, ordenamos estas coisas porque os
mandamentos do Senhor não são penosos (1 João 5.3) para a saúde
daqueles sob nosso cuidado e a fim de dispensar fielmente nossas
obrigações como bons servos de Cristo.
23
PRESBÍTEROS NÃO PERMITEM QUE
NINGUÉM DESPREZE A SUA
MOCIDADE
“Ninguém despreze a tua mocidade”

H
(1 Timóteo 4.12)
á alguns comitês formados para descobrir presbíteros nas
igrejas locais que não considerariam um homem com menos de
40 anos de idade. Obviamente, este seria o fim da candidatura
de Timóteo – sem mencionar a de Jesus. E, então, existem também
outros comitês que olhariam para um pastor ainda jovem e diria: “ele é
jovem e inexperiente, mas nós vamos moldá-lo como queremos”. Outros
membros há, nas igrejas, que rejeitam as instruções de um pastor porque
“é tão novo e sem experiência”. Pessoas com esse tipo de atitude nunca
deveriam servir como presbíteros, nem serem treinados para serem
pastores.
A mocidade poderá ser menosprezada em um milhão de maneiras
diferentes. Qual o pastor ainda jovem, que não terá sentido a frustração
de tentar liderar membros mais velhos que resistem a sua liderança, não
porque reconheçam algum erro em seu entendimento das Escrituras, mas
simplesmente porque em geral e abertamente por serem mais velhos
consideram-se mais sábios? Agora Paulo não chama Timóteo para
negligenciar a sabedoria acumulada dos membros e líderes mais velhos.
Um Timóteo humilde buscaria, sabiamente, tomar vantagem daquilo que
os santos mais velhos têm para oferecer. No entanto, Paulo instrui
Timóteo a não capitular erroneamente às estimativas que outros possam
fazer de sua mocidade. Sua idade não deveria ser uma barreira para
liderar a igreja e ser um bom ministro. Ser jovem não é um impedimento
para a piedade, nem para a maturidade ou a habilidade de liderança de
um pastor.
ALGUMAS IDEIAS PARA EVITAR QUE A MOCIDADE DE
UM PASTOR SEJA DESPREZADA
Primeira Timóteo 4.12, foi escrita para ele, mas tem aplicações tanto
para os jovens como para os velhos.
1) Pastores de mais idade deverão conceder as oportunidades e estar
dispostos a correr riscos, quando se tratar de pastores mais jovens.
Os pastores mais velhos não deverão ser contra seus colegas mais
novos, algo que, no final das contas, não se pode mudar – idade –
especialmente pelo fato de que Deus mesmo não o faz. Ao contrário, os
mais velhos deveriam estimular os mais novos, instruí-los, apoiá-los e
treiná-los, da mesma maneira que Paulo treinou ao moço Timóteo, o
que, inevitavelmente, significa dar espaço ao jovem pastor para atuar e
liderar.
2) Pastores mais moços não devem ser atrevidos e incapazes de
aprender.
Um pastor jovem deverá, por sua vez, não responder àqueles que
desprezam sua mocidade, vindo, ele mesmo, a desprezar a idade mais
avançada dos outros, tornando-se emburrado, rabugento, com ares de
prepotência. Essa atitude somente faria confirmar o preconceito e
tornaria as coisas mais difíceis para sua liderança. Em vez disso, o
jovem pastor deverá manter-se humilde, pacientemente convivendo com
todos e executando suas obrigações com fidelidade.
3) Um pastor moço não deverá adotar uma atitude de vencido frente
às pessoas que desprezam sua mocidade.
Não devem abaixar suas cabeças, murmurar, reclamar. Devem firmar
seus ombros, fixarem seus olhos em Cristo, e estimular os outros a
segui-lo, enquanto ele segue a Cristo. Testemunhei muitas vezes Mark
Dever, pastor da Capitol Hill Baptist Church, em Washington, seguir em
frente, desdenhar das distrações e levar adiante o desafio quando outros
resistiam a sua liderança. Algo que poderia ser bastante frustrante para
aqueles ao seu redor. Uma humilde perseverança serve a ambos: ao
pastor e a seu povo. Os pastores mais moços têm de continuar seguindo
a Jesus.
Talvez você mesmo seja um pastor ainda jovem, confrontando-se com
esta espécie de dificuldade. Amado, você não pode desistir. Não pode
encolher-se. Não pode murmurar ou choramingar. O que você precisa é
“ordenar e ensinar”. É interessante notar que a instrução de Paulo, no
verso 12, segue-se à palavra bastante forte “mandar”, do verso 11. Como
se conhecesse o temor dos homens e a tendência de sucumbir que reside
nos ministros de pouca idade.
CONCLUSÃO
Quanto mais jovem o homem, mais se sentirá hesitante para liderar com
uma autoridade proporcional à autoridade da Palavra de Deus e com o
ofício presbiteral. A instrução convoca Timóteo a fazer-se varonil, a
crescer, a liderar de tal maneira que sua idade não é o que indica sua
habilidade, sua confiança cristã e sua confiabilidade como um pastor. É
isto o que um jovem pastor deve fazer.
24
OS PRESBÍTEROS DÃO O EXEMPLO
“...torna-te o padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor,
na fé, na pureza”

S
(1 Timóteo 4.12)
eus colegas de universidade e seus fãs o apelidaram de “O Monte
Redondo do Ricochete”, em homenagem à sua forma corpulenta e
suas façanhas ao arrebentar as pranchas que sustentam as cestas
nos jogos de basquete. Quando se tornou um profissional, seus fãs o
elegeram onze vezes como atleta nacional da liga NBA. Ganhou duas
medalhas de ouro nas Olimpíadas, por sua participação no “Time dos
Sonhos” em 1992 e 1996. Em 2006, o “Naismit Basketball Hall of
Fame” * o introduziu ao rol dos seus consagrados membros. Foi
reconhecido como um dos cinquenta melhores jogadores na história da
NBA (Associação Nacional de Basquete).
A NBA também o incluiu entre os mais destacados do seu time de
entrevistadores, durante todos os seus treze anos com a liga. Falava com
muita vivacidade. Falava agressivamente. Falava alto. E falava o tempo
todo. Até hoje, Charles Barckley é dono do nome profissional mais
irônico que jamais ouvi. É, simplesmente “Sir Charles”.
Ainda que a nominação como “Sir” seja conferida como um pedigree
da realeza inglesa, Sir Charles nunca reivindicou nobreza e seu
comportamento comprovou sua falta de qualquer nobreza.
Frequentemente, Charles Barkley se metia em manifestações explosivas,
tanto dentro como fora da quadra de basquete. Uma vez chegou a cuspir
em um dos torcedores, em retaliação a alguns xingamentos racistas.
Uma das coisas que Charles Barckley nunca se considerou foi um
modelo, um exemplo para outros. Em 1993, a Nike lançou uma
campanha com Charles Barckley argumentando, desafiadoramente, que
os atletas não são modelos para serem imitados. A propaganda causou
dura controvérsia. Mas, Barckley insistiu em afirmar que os pais, estes
sim, têm por obrigação ser os modelos de vida a serem imitados por seus
filhos e que a sociedade deveria parar de buscar nos atletas a provisão do
padrão para o comportamento e para os valores da juventude.
Com a rejeição dessa ideia, feita por Charles Barckley no começo da
década de 1990, caiu por terra a ideia de que celebridades devam ser
modelos e padrão para os outros. Talvez eu pertença à última geração
daqueles que eram incentivados a procurar e a imitar modelos nas
celebridades desportivas. Mas, ainda que a ideia tenha desaparecido no
discurso da arena pública, certamente não desapareceu da Escritura.
OS PASTORES SÃO OS ÚLTIMOS EXEMPLOS?
Uma coisa que um bom pastor precisa estabelecer é um bom exemplo
para os crentes. Ele deverá ser um modelo em sua vida pessoal. Esta é
uma afirmação simples e incrivelmente importante. É tão importante que
Deus a deixou gravada nas verdades da Escritura.
A melhor maneira pela qual Timóteo poderia evitar que sua mocidade
fosse usada contra de ele mesmo, era tornar-se o padrão dos fiéis. Paulo
o exorta a viver uma vida digna de ser imitada, observada e seguida. A
instrução de Paulo eleva o nível do ministério pastoral, muito acima dos
exemplos inconsistentes e triviais apresentados pelos atletas
profissionais.
E quem é suficiente para essas coisas (2 Coríntios 2.16)? Definir este
tipo de exemplo é uma árdua tarefa. Requer graça sobrenatural e o poder
de Deus.
Paulo está dizendo efetivamente que o pastor deverá viver como um
peixinho num aquário, com olhares ao seu redor, fixados em sua maneira
de nadar e em seus hábitos alimentares. Ele vive, não atrás de cortinas
ou de persianas, mas atrás de vidros claros, transparentes.
A maioria das pessoas, obviamente, tende a viver vidas privadas, no
conforto e no anonimato dos seus lares, preferindo seu mundo de ideias
e de pensamentos. Mas, 1 Timóteo 4.12 chama os pastores para fora de
si mesmos e para fora da sua zona de conforto, ao palco do exemplo
pastoral, visível, demonstrado.
QUAIS AS IMPLICAÇÕES DO EXEMPLO PASTORAL?
1) O exemplo de um bom pastor é posto à vista dos crentes.
Isto poderá parecer óbvio, mas talvez nenhuma outra ocupação seja tão
frequentemente observada como modelo para todas as pessoas – crentes
e não crentes . Ainda bem que Paulo não menciona isso em 1 Timóteo
4.12. Qualquer que se veja tentado a ser um exemplo acessível a todo o
mundo vai ter de contorcer-se como um pretzel!
Os pastores são chamados a fundamentar padrões para suas próprias
igrejas. Ser um exemplo para sua igreja local e para os crentes em geral.
O que o mundo incrédulo deseja dos pastores entra inevitavelmente em
conflito com o que Jesus Cristo requer deles, e com aquilo que os santos
necessitam ver. Por esta razão, os pastores devem estar esclarecidos
sobre quem compõe a sua audiência – a congregação local sob seu
encargo, não crentes aleatoriamente ou universalmente. Paulo estabelece
esta instrução no contexto de um mundo árido e real, para o
relacionamento entre um pastor específico e uma congregação particular
de pessoas.
A instrução apostólica indica que um pastor deverá entender o contexto
histórico e social de um grupo em particular. Quando eu estava em
Washington, DC, aprendi que um pastor precisa demonstrar à sua
congregação como estabelecer prioridades (Deus, família, trabalho),
visto que a cidade inteira parece ordenar sua vida de uma maneira
reversa (trabalho, família, Deus). Quando eu vivia no sul dos Estados
Unidos, onde um cristianismo nominal ainda permanece fortemente
estabelecido, aprendi que o pastor deve ser um exemplo de
discernimento e clareza, de fidelidade doutrinal e por falar a verdade em
amor. Audiência e contexto são importantes. O pastor terá de manter
isso em sua mente, enquanto estabelece um padrão exemplar para o
povo.
2) O bom exemplo de um pastor o faz acessível
Com isso, não quero dizer que um pastor deverá não se importar em
manter sua agenda ou falhar em colocar um muro apropriado ao redor de
sua família. As demandas de um pastor fazem necessário esse controle.
Mas, o comando a Timóteo sugere que o pastor deve estar perto das
pessoas, com as pessoas, acessível às pessoas. Ele precisa ser observado
e isto não acontecerá a menos que ele esteja, de alguma maneira,
próximo às pessoas. Precisa ser visto em diversas arenas: em eventos de
comunhão, num almoço ou jantar, em casa, na casa de outros, e assim
por diante. Qual deve ser o parâmetro de acessibilidade? Cada um terá
de considerar suas próprias circunstâncias para responder essa pergunta.
Mas, em princípio, um bom pastor deverá ser acessível o suficiente para
evidenciar um bom exemplo com a necessária efetividade.
3) Existem certas áreas, em particular, nas quais um bom pastor
deverá estabelecer seu bom exemplo
Me alegro com a lista de ações e virtudes que Paulo lista no verso 12,
não porque eu mesmo já tenha atingido a marca, mas porque me ajuda a
não ficar confuso e inseguro, procurando saber por onde começar. Ele
faz uma lista de cinco aspectos diferentes: no falar, na conduta, no amor,
na fé e na pureza. É uma lista bastante pesada, mas nos ajuda a ver onde
nosso exemplo deve ser exercitado.
O que dizemos deverá servir de exemplo. Entre outras passagens,
Efésios 4.25, 29 e Tiago 3 fornecem princípios para o padrão de um
pastor em seu falar. Um pastor deve ouvir longa e pacientemente; deve
falar a verdade e divulgá-la amplamente (não confundir com “ser
exaustivo”); deve ser direto, sem rodeios, e amoroso (a repreensão
aberta é melhor que um amor silencioso); falar o que é necessário e o
que edifica; ministrar graça aos que o ouvem.
O que fazemos deverá servir de exemplo. A conduta de um bom pastor
será observada por todos e confirmará ou trará dúvidas e, até mesmo,
negará a autoridade e o poder do evangelho. Um bom pastor vive de
uma maneira digna de sua chamada e imita a Deus (Efésios 4.1; 5.1;
Filipenses 1.27; 4.1). A realidade surpreendente disso é que a maneira de
viver de um pastor, inevitavelmente, impressionará o caráter de sua
congregação. Uma congregação geralmente assume as características de
seu pastor. E a impressão que um pastor causa sobre o seu povo não será
facilmente removida pelos pastores que o seguirem. O pastor
subsequente sentir-se-á empurrado aos trancos pelo caminho arado e
endurecido no caráter do seu povo ou encontrará um caminho suave e
direito, pelo exemplo digno na conduta e no modo de falar, deixado pelo
pastor anterior.
Nosso amor deverá servir de exemplo. Aqui está algo em que nosso
exemplo vívido diante dos santos também testifica aos não crentes em
nosso redor (João 13.34-35). Para que nosso amor seja exemplar, temos
de seguir o exemplo de Jesus, cujo amor é supremo. Ele deu-se a si
mesmo ao seu povo. Ele nasceu para que pudesse morrer.
Voluntariamente, tomou sobre si as aflições do seu povo. Suportou o
desprezo, a ridicularização, a zombaria , os açoites que nós merecíamos
e a ira do onipotente e infinito Pai, em nosso lugar. Entrou em nossas
aflições e fez face às nossas tentações. Identificou-se conosco em tudo,
como um sumo sacerdote adequado. Agora, a nós também compete
estabelecer um exemplo de amor autosacrificial!
O bom pastor também demonstra seu exemplo em fé. A
autodependência é uma abominação na vida de um pastor. A falta de fé é
uma anomalia no seu ministério. Um bom pastor confia em Deus. O
presbítero necessita ter sua esperança fixa no Deus imortal, que tem a
vida em si mesmo, que não pode mentir, que é o Deus da verdade. A
congregação precisa testemunhar a fé de seu presbítero, em todo gama
de situações: em exultação, apoio, oposição, abundância, falta, frutos ou
esterilidade. Tanto nos tempos de engrandecimento, como nos tempos de
rebaixamento, um bom pastor baseia sua vida e decisões na certeza do
amor de Cristo, no seu senhorio, na sua soberania, na sua bondade.
O pastor demonstra um bom exemplo em pureza. A pureza no púlpito
deverá promover e conduzir à pureza nos bancos. Quão fácil é para o
pastor esconder suas sujeiras. Ele pode isolar-se, fabricar uma identidade
para o público e viver uma vida dupla. Ele pode falar muito sobre pureza
e santidade e negar o seu poder. O bom pastor labuta e esforça-se
sobremaneira (1 Timóteo 4.10) para a santificação, sabendo que “a
piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que
agora é e da que há de ser” (verso 8).
A beleza da santidade e da pureza deverá conquistar o coração do
pastor de tal maneira que ele venha a desprezar as outras alternativas. A
semelhança de Cristo é sua motivação à pureza. Constantemente, deseja
entrar naquela adorável pureza de Jesus e se tumultua quando esse
desejo se esfria. Ele estabelece um exemplo de pureza porque conhece a
sua bênção. Ele sabe o que é a verdadeira beleza e depende inteiramente
de Deus para viver diante do seu povo – nas suas escolhas de
entretenimento, suas preferências musicais, sua modéstia, sua devoção,
sua confissão, sua maneira de tratar as mulheres jovens (1 Timóteo 5.2),
seu estudo das artes e literatura, sua adoção e crítica de diferentes
estilos, e assim por diante. Bob Kauflin sintetiza tudo isso muito bem:

Jesus veio para purificar a seu povo, uma vez para sempre, através de seu
sacrifício expiatório (Tito 2.14). Ele cumpriu tudo o que a lei cerimonial
prefigurava. Mas a demanda de Deus pela pureza não mudou. O Senhor
continua Santo. Portanto, não nos surpreende que Deus queira que os líderes
da igreja sejam exemplos de pureza para os crentes.
A pureza é a qualidade de não ser profano, nem misturado, nem diluído, livre
do mal ou de contaminação. A primeira área de aplicação da pureza é em
nossa motivação. Deus nos chama para que nos guardemos de ser apartados
“da simplicidade e pureza devida a Cristo” (2 Coríntios 11.3). Liderar nossa
adoração para obter ganho ou reconhecimento público desonra a Deus. Deus
deseja que nosso culto seja sincero, não hipócrita; voluntarioso, não forçado;
com todo o coração, não distraído. Em outras palavras, puro. 35
CONCLUSÃO
Pastores e presbíteros se tornam o “padrão dos fiéis na palavra, no
procedimento, no amor, na fé, na pureza”, pela graça de Deus e por sua
ajuda onipotente. As igrejas devotam reverência pelo Senhor e pelo
pastorado quando os pastores vivem vidas dignas de serem imitadas. Em
sua bondade, Deus promete grande galardão àqueles homens que se
entregam a essa nobre tarefa (1 Pedro 5.1-4).
Charles Barckley disse bem: os atletas não são a classe de pessoas
indicadas para estabelecer um modelo. Só os servos de Cristo, cheios do
Espírito e poder, o são.
* Nota do tradutor: Uma instituição memorial que notabiliza os grandes atletas do basquete
Norte Americano
25
OS PRESBÍTEROS ENSINAM
“...torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na
fé, na pureza.”

S
(1 Timóteo 4.12)
e você tiver de reduzir o ministério pastoral a uma só coisa, qual
seria? Claro, não podemos facilmente reduzir o ministério a uma
só coisa. Mesmo as múltiplas funções que consideramos, em 1
Timóteo nos impossibilitam responder essa pergunta com simplicidade.
Mas, se você pudesse, que haveria de ser?
Poderíamos fazer das palavras “torna-te padrão dos fiéis” a causa para
todas as questões da vida pastoral. Jesus disse aos seus discípulos que
Ele deu o exemplo para que eles o seguissem (João 13.15). Em outro
lugar o apóstolo exorta: “Sede meus imitadores, como também eu sou de
Cristo” (1 Coríntios 11.1). E disse o mesmo aos Filipenses (3.17). E
agora, em 1 Timóteo 4.12, Paulo anima a Timóteo a ser exemplar em
palavras e em conduta. Talvez possa-se dizer que “ser um exemplo” é
uma das maneiras de se descrever um bom pastor.
Outra maneira de afirmar o que um bom pastor faz é considerar qual
função cabe ao exemplo. Em essência, ser um exemplo é ensinar. Um
bom pastor ensina. “Ordena e ensina estas coisas” (1 Timóteo 4.11).
“Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino (verso
13).
DEVOÇÃO PASTORAL
Então, o que um bom pastor deve fazer? Deve devotar-se a estas três
atividades: leitura pública da Escritura, exortação e ensino. A palavra
traduzida por “aplica-te” em si mesma denota uma preparação prévia. A
vela que queima no gabinete do pastor abastece, como um combustível,
o seu ministério. Mas é necessário que seu estudo seja igualmente
santificado. Charles Bridges escreveu:

A árvore do conhecimento poderá prosperar, enquanto a árvore da vida se


definha. Cada aumento do conhecimento intelectual tem a tendência à
exaltação pessoal. O hábito de estudos tem que ser resguardado, para que não
venha a tornar-se um indulgir pecaminoso; desejando satisfazer seu próprio
ego, ao custo da boa consciência ou da retidão; empregando-se a indagações
especulativas, ao invés do conhecimento santo e prático; ocupando o tempo
que deveria ser usado em obrigações imediatas; ou deixando interferir em
outras obrigações de igual ou maior necessidade. Um juízo sadio e uma mente
espiritual devem ser exercitados, dirigindo os estudos para o fim principal do
ministério. Não permitamos que nada daquelas coisas acima venha a interferir
nas horas que devem ser devotadas ao estudo da Bíblia ou nossa preparação
para o púlpito. 36
TRÊS DISCIPLINAS PARA UM PASTOR APLICADO AO
ENSINO
Um bom pastor aplica-se ao ensino de três maneiras:
1) Leitura pública da Escritura . Tenho atendido muitas igrejas que
parecem estar impacientes em ouvir a Palavra de Deus lida
publicamente. Faz-me suspeitar que as pessoas têm crescido
acostumadas a não ouvirem a leitura pública da Palavra de Deus, exceto
em breves fragmentos. O apetite para ouvir a Palavra de Deus não
cresceu consideravelmente.
Outros acham a leitura pública algo cansativo, chato. Outros creem que
toma o lugar da “adoração real” – os cânticos. Alguns não a entendem
ou têm dificuldade em seguir a leitura. Talvez você mesmo já tenha
ouvido estas e mais outras razões para que se negligencie a leitura
pública das Escrituras. Você crê que Deus se impressiona com qualquer
uma delas?
O Pai se revela na Palavra e através da Palavra. A Palavra aponta para
Jesus. O Espírito moveu homens para escrevê-la. Dado o esforço
Trinitário, que razão poderíamos apresentar para negligenciá-la?
Paulo diz a Timóteo que se aplique à leitura pública da Escritura – e
com boa razão o faz. A Palavra traz vida. Cada um dos reavivamentos
registrados na Escritura seguiu-se à uma leitura pública da Palavra de
Deus. Por exemplo: Moisés leu o Livro da Aliança com o povo, em
Êxodo 24.7. Josué leu toda a lei na renovação da aliança, depois do
fiasco em Ai, em Josué 8. O grande evento em Neemias 8, teve a leitura
e a exposição da Escritura por um dia inteiro (Neemias 8. 9-13). A
esperança de arrependimento levou Jeremias a persuadir Baruque a ler a
Palavra diante do povo (Jeremias 36). E quantas outras vezes, nos
Evangelhos, o Senhor começa seu discurso com estas palavras: “Nunca
haveis lido...?”.
Um bom pastor se assegura de que a Palavra de Deus permanece
central em qualquer reunião pública do povo, e isto, em parte, pela
leitura pública da Escritura. Essas leituras moldam a atitude do povo e
são, em si mesmas, uma ação de ensino e o fundamento para outras
instruções.
2) Exortação. Um bom pastor exorta pela Palavra de Deus. Ele desafia
seu povo a não só ouvir a Palavra, mas a considerar a Palavra - a aplicar
a Escritura em sua vida. Ele exorta encorajando, repreendendo,
corrigindo, advertindo e confortando (1 Timóteo 3.16-17). Ele move seu
povo a sentir e agir com base na Palavra de Deus.
O modelo apostólico para o ministério pastoral focaliza a aplicação da
Palavra ao povo individualmente (1 Tessalonicenses 2.8-13). Ler ajuda,
mas não é suficiente. Um presbítero precisará aplicar a Palavra às
diversas condições espirituais existentes no meio da assembleia dos
crentes. Alguns necessitam cuidados, outros a vara de correção e outros
ainda o bisturi cirúrgico que corta com precisão. Um bom pastor
esforça-se em fazer com que a Palavra ministre a cada necessidade, por
meio da sua leitura e de sua aplicação.
3) Ensino. Os presbíteros ensinam pela leitura e pela exortação. Porém,
a ovelha que está ainda crescendo requer uma instrução sistemática.
Timóteo teria de devotar-se à doutrina. Paulo não queria ter nada a ver
com o sofisma que, com ares de altamente inteligente, afirmava que
“doutrina divide”, ou que “é uma questão de relacionamento, não de
doutrina”. Não pode haver relacionamento verdadeiro sem que
conheçamos com quem nos relacionamos. O trabalho de Timóteo seria
construir uma base de doutrina por ajuntar, para o seu povo, as verdades
da Escritura num todo. Timóteo tinha de ensinar porque, à parte do
ensino, ele não poderia ser um bom pastor.
COLOCANDO EM PRÁTICA
Dos sábios conselhos de Bridges, podemos notar diversas aplicações
para o presbítero fiel:
1. Guarde as horas necessárias para a leitura e estudo, para que
possa realizar um ensino efetivo.
2. Leia amplamente em um certo nível, mas profundamente,
quando se trata da Escritura e da teologia.
3. Leia regularmente teologia sistemática, bíblica e histórica. Isto
lhe ensinará tudo sobre uma determinada matéria, tema e
narrativas das Escrituras, e lhe mostrará como outros santos
lidaram com essas mesmas questões, prevenindo, assim, o seu
orgulho de se recusar a aprender de outros.
4. Discipline seu pensamento, escrevendo seus sermões; pelo
menos se você ainda é um pregador jovem. Nem todos os
pastores necessitam dessa disciplina mas, para muitos, pregar
de um esboço acrescenta precisão e ordem aos nossos sermões.
5. erque-se de pessoas que possam fazer comentários honestos e
construtivos sobre seus sermões. Reúna-se com outros pastores
e presbíteros. Ouça outros sermões ou use reuniões de líderes
como oportunidades para que seus colaboradores possam
encorajar, corrigir e ajudar.
6. Tenha uma abordagem geral no ensino público, de forma que
possa coordenar o púlpito com os estudos bíblicos no meio da
semana, a Escola Dominical, grupos menores e outras
oportunidades de ensino. Nem tudo o que se deve ensinar
poderá ser feito do púlpito; portanto, outras oportunidades
devem ser usadas estrategicamente.
7. Se possível, compartilhe as responsabilidades de ensino com
outros. Os pastores necessitam de ajuda; por isso, devem
ativamente buscar homens competentes na liderança e na
congregação em geral, para ajudá-lo a levar a carga.
CONCLUSÃO
Qual a tarefa de um pastor? Em uma palavra: ensino. Por suas palavras e
por suas ações, ele ensina as ovelhas. Santifiquemos, pois, nosso estudo
e a preparação em nosso gabinete, para que possamos, completa e
habilidosamente, alimentar as ovelhas de Deus com o maná de sua
Palavra. É a Palavra de Deus que dá vida. Um bom pastor crê e confia
nisto e centraliza seu ministério neste mesmo fato.
26
OS PRESBÍTEROS SE DESENVOLVEM
“Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a
todos seja manifesto”

D
(1 Timóteo 4.15)
iariamente, pelas manhãs, elas corriam para o parapeito da
janela ansiosas para ver se a planta havia crescido. Seu
professor de ciências lhes havia incumbido de plantar uma
semente num pequeno copo de plástico transparente, cheio com terra boa
e fertilizada. A tarefa seria a de documentar o crescimento de uma
pequena semente aninhada na terra, para um brotinho e, eventualmente,
uma planta.
Minhas duas filhas estavam cativadas pelo mistério do desabrochar de
uma vida. Todos os dias, fixavam sua atenção à plantinha. Lembro-me
de ter a mesma fascinação quando, ainda criança, com a mesma idade
delas, minha classe completou um projeto semelhante.
Todas as coisas vivas crescem e se desenvolvem. Não há nada que
possa revelar força e vitalidade tão bem, quanto um crescimento
apropriado. Talvez esta seja a causa porque todo mundo dá boas vindas
ao crescimento. Encontramos prazer e estímulo onde quer que
encontremos coisas crescendo. Deus nos fez de modo que crescemos na
vida e, portanto, buscamos ver crescimento em todas as coisas e em
todas as áreas.
OS PASTORES TAMBÉM TÊM DE CRESCER
O apóstolo usa palavras bem fortes com Timóteo, a fim de reforçar a
necessidade de crescimento. Ele chama Timóteo a ser diligente e a
treinar-se, de maneira que o seu crescimento afirmasse o vigor de sua
vida espiritual.
A ideia de devotar-se ou aplicar-se diligentemente aparece diversas
vezes nesse capítulo. Alguns serão devotados a serem obedientes aos
“espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (verso 1), enquanto
Timóteo deveria aplicar-se à leitura pública da Escritura, à exortação e
ao ensino. E, mais ainda, Timóteo deveria “exercitar-se” – trabalhar duro
e lutar – em piedade (verso 7). A imagem de suar com um esforço
exercido salta da página sagrada.
Ministério é labuta. É trabalho. Se o realizarmos querendo uma coisa
fácil e conveniente, vamos nos sentir como que atropelados pelo tráfico
intenso de responsabilidade, dureza, dificuldade, pecado,
desapontamento, aparentes fracassos (nossos e dos outros), morte,
doença e todas aquelas outras coisas que acompanham a vida de uma
humanidade caída. Ministério é labuta.
Como um trabalhador, o ministério pastoral requer rotina, testes e
melhorias. Referindo-se às coisas que foram mencionadas nos versos
anteriores, Paulo ensina Timóteo a aplicar diligência nos trabalhos que
seguem:
 Advertindo as pessoas dos falsos mestres;
 Evitando a falsa doutrina e os mitos;
 Aplicando-se à piedade;
 Esperando no Deus vivo;
 Exigindo com autoridade e ensinando;
 Mantendo sua cabeça levantada como um jovem pastor;
 Exibindo um exemplo de vida;
 Lendo publicamente a Escritura, exortando e ensinando;
 Usando os seus dons.
Ao final desta palavra, Paulo exorta Timóteo a aplicar-se em todas
essas ocupações.
Tanto o texto como nossa experiência nos sugerem que algumas dessas
coisas não vêm com naturalidade aos pastores e presbíteros. Podemos
ser hábeis para algumas coisas, mas percebemos que outras são bem
difíceis. Se esperamos que tudo nos seja fácil, vamos nos desesperar por
nunca chegarmos a ser suficientemente frutíferos. E se esperamos que
tudo seja difícil, nunca vamos tentar fazê-las e, assim, negligenciaremos
nossos dons e nossa vocação e, por conseguinte, falharemos em ver a
graça de Deus em ambos: nos sucessos e nas falhas. Um bom, piedoso e
correto foco nessas coisas é crucial.
Uma das maneiras para se manter o foco apropriado é reconhecer que o
ministério requer prática. É preciso concentração, meditação, ação e
avaliação. E boa prática requer forte devoção.
Qualquer que tenha uma criança que, alguma vez, tenha implorado
para aprender um instrumento musical, sabe que o fervor e o entusiasmo
da criança em praticar seu instrumento começa a declinar logo depois
que a novidade do seu sucesso passa. De igual maneira, meu treinador
do time de basquete na escola secundária costumava fazer-nos sua
ladainha: “Você só joga da forma como treinou”. Então, você pode
imaginar que ele fazia questão de que nossos treinos fossem eventos
vigorosos. Provavelmente, assistimos tantos filmes dos nossos treinos,
quanto jogamos. Possivelmente, se tomarmos a mesma atitude que
tomávamos em nossos treinos, nosso ministério será dormente,
retrógrado, hesitante, decomposto, e nós não ganharemos nosso galardão
pela falta da necessária preparação, foco e avaliação em nosso
ministério.
A DISCIPLINA DO TREINAMENTO
Algumas disciplinas poderão servir-nos em nosso contínuo empenho
para sermos bons pastores.
1. Aborde o estudo como se fora o próprio jogo. O estudo não é
opcional. Nós pastoreamos da mesma forma com que treinamos. Em
nosso estudo, passamos pelas mesmas rotinas dos jogos, que fazem com
que nossa performance no tempo do jogo atual seja tranquila, eficiente,
eficaz. Quando meu estudo caminha errado, assim também termina o
resto do jogo. Meu aconselhamento não chega a ser tão claro como
deveria ser. Me vejo perdido, sem saber responder a coisas que eu
deveria conhecer. Quando meus estudos seguem mal, meu discipulado
com outros homens tem a tendência de ser sem profundidade, minha
pregação, mais dependente de mim mesmo e com as emoções indevidas.
Posso pregar com algum efeito, compartilhar conselhos mais-ou-menos
sábios e ajudar ao lado de outros homens. Mas a minha falta de preparo
eventualmente se fará aparente durante o “jogo” da vida real. Poderei ser
eloquente, mas não serei de muita utilidade. Um bom presbítero tem de
realizar seu tempo de estudo como se já estivesse jogando “pra valer”,
porque a velocidade no jogo de ministrar requer atenção, preparação e
“jogadores” com bom treinamento.
2. Encontre um bom treinador para si mesmo. Não existe ilha tão
deserta como a ilha do ministério pastoral. Muitos pastores
experimentam solidão em seu ministério pastoral; há outros que se
sentem bem confortáveis com sua própria companhia. Mas para todos
nós, a ilha deserta provoca uma condição trágica: pouco ou nenhuma
avaliação do nosso trabalho. Somos deixados às muletas cruéis da nossa
própria avaliação. Poucos são, entre nós, os que podem oferecer uma
boa opinião de si mesmos. Somos propensos a cair de um lado, ou do
outro – ou tudo está muito bem e todo o mundo tem que concordar
conosco, ou tudo está terrivelmente mal e os céus estão desmoronando.
Em ambos os casos, nada é sentido ou visto corretamente.
Um bom treinador poderá trazer-nos uma correção sem rodeios, com
toda franqueza, em nossa maneira de pensar, nossa pregação, nosso
aconselhamento e nossa vida. A fim de sermos zelosos, diligentes, como
Paulo nos diz no verso 15, temos de “assistir aos filmes do nosso treino”
com alguém que conheça bem o jogo e que tenha a capacidade para
apontar os erros e as fraquezas. Um pastor humilde busca este tipo de
auxílio.
3. Cultive a humildade. Cultivar a humildade é algo mais difícil do que
parece. Como notamos anteriormente, o orgulho é um monstro marinho
que se levanta das mais diferentes formas e nos tempos mais
inoportunos. Combater o orgulho se assemelha mais ou menos a pregar
geleia na parede. Para ser ajudado neste assunto, leia o livro de C. J.
Mahaney: Humildade – Verdadeira Grandeza * . Estude-o. Procure
também encontrar e observar homens que são considerados
genuinamente humildes. Estes provavelmente não serão encontrados
entre aqueles que estão liderando as mais modernas e prósperas igrejas
em sua área. Provavelmente estarão labutando em silêncio, no
anonimato, o que bem pode ser a causa de poderem exibir tal humildade
de coração. Cultive a humildade por observar esses homens, seguindo-
os, assim como eles seguem a Cristo, e confessando seu próprio orgulho.
Nem treino, nem um bom treinador poderão ajudar-nos, se não formos
humildes, solícitos para aprender e capazes de receber e usar as
correções piedosas, francas e sem rodeios dos nossos treinadores.
OS BENEFÍCIOS DE UM PASTOR, EM SEU PROGRESSO NA

Um bom pastor faz todas estas coisas, conforme foi dito a Timóteo [e
também a nós]: “para que o teu progresso a todos seja manifesto”. Deus
deseja exibir o crescimento de um pastor para o benefício de suas
ovelhas. Os membros de uma igreja olham para seus pastores como as
crianças correndo para o parapeito da janela, para ver o desabrochar de
uma vida, o crescimento de seus pastores e, vendo-o, sejam estimulados
ao mesmo crescimento. Seu desenvolvimento beneficia sua congregação
de diferentes maneiras.
1. Se todos podem ver o crescimento do pastor, isto quer dizer que seu
povo já estava consciente de algumas faltas e imperfeições. E um bom
pastor tem de deleitar-se nisso! Permitir que outros notem que ele não é
perfeito, liberta-o de expectativas não realistas e o faz humano para sua
congregação. Pode prosseguir com o projeto de ser, simplesmente, uma
criatura caída e redimida por graça. Assim, não terá de cobrir suas faltas.
Sabiamente, com edificação em vista, deve confessar suas fraquezas. O
bom pastor deve deixar que seu povo saiba e entenda que ele tem uma
vida para ser vivida diante de Cristo e que, desde que veio ao Senhor,
tem descoberto o quanto necessita crescer em graça e em santificação.
Suas ovelhas sabem e ele deveria lembrá-las desse fato e, em diferentes
e variados casos, ele vai encontrar adicional liberdade e graça –
especialmente quando a congregação pode receber, dos seus pastores, a
mesma graça.
2. Se os pastores fazem progresso em seu viver cristão, a pressão e a
crise nervosa podem ser evitadas. Quando uma congregação
praticamente demanda perfeição de seus pastores, involuntariamente
estarão forçando sua falência ministerial, ou causando um ministério
hipócrita. Um pastor pode admitir suas fraquezas e dar o assunto por
encerrado, ou pode esconder suas fraquezas por usar uma máscara de
perfeição. Os homens entram em colapso e se destroem em qualquer das
duas situações. A terceira, e bíblica, atitude é permitir que o pastor seja
humano – com suas feiuras e tudo o mais – enquanto ora e espera por
seu crescimento. Neste terceiro modo as congregações mantêm bons
pastores e bons pastores buscam a Jesus.
3. Quando um bom pastor é encorajado a fazer progresso em sua fé,
sua congregação melhora sua habilidade de ver sinais dos problemas
em sua vida. Crescimento é algo normal na vida cristã e este fato não é
menos verdadeiro na vida de um pastor. Se um pastor não está crescendo
com o passar do tempo, seus companheiros, presbíteros e líderes devem
explorar as razões potenciais da estagnação. Orações fervorosas devem
ser feitas por uma reversão do curso que está se seguindo. Os pastores
devem consultar bons livros à disposição, como o de Don Whitney –
“Dez Questões para Diagnosticar Sua Vida Espiritual” (Ten Questions
to Diagnose Your Spiritual Life), ou Octavious Winslow “Declínio
Pessoal e Reavivamento da Religião da Alma” (Personal Declension and
Revival of Religion in the Soul). Um bom pastor deve trabalhar para que
o orçamento da igreja reflita seu desejo pelo devido crescimento e
proporcione oportunidades ao pastor de participar de diversas e boas
conferências durante o ano; também para incluir um orçamento que lhe
permita atualizar sua livraria e sua dieta de leituras.
4. O crescimento de um pastor deve ser visto. “ Todos” devem notar o
seu progresso (verso 15). Isto é parte do que queremos dizer com
“estabelecer um bom exemplo”. Um bom pastor deseja ver seu povo
crescendo, portanto, ele também precisa crescer. De vez em quando,
deve ouvir seu povo fazer algum comentário sobre o seu crescimento.
Agora, isso se traduz na necessidade de um pastor permanecer num
mesmo lugar durante um longo período de tempo, de maneira que o seu
povo possa ter o tempo necessário para ver o seu progresso em piedade,
graça, pregação, força espiritual e amor.
CONCLUSÃO
Muitos crentes se sentem intimidados por seus pastores, principalmente
porque estes se apresentam como super-homens, sem necessidade de
treinamento ou de crescimento. Uma intimidade entre o pastor e seu
povo requer transparência e uma obra da graça de Deus em suas vidas.
Isso pode ser visto como algo arriscado, se ambos, pastor e seu povo,
forem pessoas orgulhosas. Mas o esplêndido benefício é que o pastor e
seu povo começam a tratar-se graciosamente e terão a oportunidade de
ver a realidade do que deve ser um crescimento produzido por Deus.
* Publicado em português por Editora Fiel.
27
OS PRESBÍTEROS VIGIAM SUAS
PRÓPRIAS VIDAS
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres;
porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus
ouvintes.”

E
(1 Timóteo 4.16)
m Abril de 2006, encontrei-me assentado em um salão,
juntamente com outros três mil pastores e seminaristas, na
primeira Conferência Together for the Gospel . Foram dois dias
e meio de extraordinária comunhão em Cristo e no seu evangelho. Após
o trovejar de três mil vozes masculinas cantando ricas verdades e
ouvindo gloriosos sermões sobre pregação e ensino, C. J. Mahaney
encerrou a conferência com uma excepcional exortação para que
vigiássemos nossas vidas como pastores. Aquele sermão merece ser
ouvido repetidamente. Na verdade, você provavelmente deveria procurar
uma cópia do livro “A Pregação da Cruz” 37 para ler.
C. J. fez-nos saber que nós, pastores, somos mais cuidadosos em
guardar nossas doutrinas do que em guardar nossas vidas. Então, um
bom pastor deve usar lentes bifocais para ver ambas: sua doutrina e sua
vida. A doutrina sã deveria levar-nos a uma vida correta. Mas, nem
sempre o faz; e esta inconsistência é evidência de que nós precisamos
ser mais vigilantes em ambas as áreas – para vigiarmos bem de perto
doutrina e obras. Os pastores estão dispostos a viverem suas vidas de tal
maneira que suas ações e aquilo em que creem estejam em conformidade
com a Palavra de Deus.
VIGIANDO VIDA E DOUTRINA
Como os pastores podem vigiar ambas, vida e doutrina?
1) Um bom pastor cerca-se de homens de qualidade que possam
ajudá-lo a vigiar sua vida.
Ser obrigado a prestar contas a alguém é essencial – não,
simplesmente, uma responsabilidade passiva, reacional, mas procurando,
inquirindo, tomando a iniciativa. Os pastores necessitam de pessoas que
façam as perguntas difíceis que normalmente se evitam fazer, em
conversas normais; que nos “cobrem”, ao invés de apenas nos ouvir. Os
presbíteros necessitam de homens que, às vezes, se mostrem mais
interessados em nossa santificação, com um zelo maior do que o nosso
próprio (Provérbios 27.17; Hebreus 10.24). Presbítero, você pode
mencionar três a cinco homens que tenham acesso aberto à sua vida?
2) Um bom pastor conserva amor, participação e um interesse
saudável por sua família.
Há muitos pastores que fazem face à tentação de idolatrar sua família
ou seu ministério. Por estranho que pareça, um amor desordenado pelo
ministério e por suas atividades revela falta de afeição por Deus. Mas, se
forem fortes as suas afeições pela obediência ao Salvador, ele se tornará
também mais afeiçoado de sua família. 1 Timóteo 3.4,5 estabelece o
cuidado pela família como um pré-requesito para o ministério e,
portanto, uma prioridade sobre o ministério. Assim, um bom pastor
guarda sua vida ao ser vigilante em ordenar suas prioridades quando se
trata de sua família. Ele desenvolverá sua habilidade de dizer não para
certas ministrações legítimas, para dizer sim à sua família. “Talvez, em
nenhuma outra área estamos tão sujeitos a nos enganar ou tão pouco
abertos às nossas convicções, como no atendimento às crianças.” 38
3) Um bom pastor mantém constante vigilância sobre seus
pensamentos.
Ele luta conta a ira, inveja, censura, lascívia e coisas semelhantes.
Esforça-se para pensar naquelas coisas que são respeitáveis, justas,
puras, amáveis, de boa fama (Filipenses 4.8). Com frequência, os
pastores ouvem-se a si mesmos, em vez de falarem a si mesmos. Se não
tomarmos cuidado, começaremos a crer nas coisas que dizemos a nós
mesmos e terminaremos com uma vida mal informada. Para vigiar sua
vida atentamente, o pastor precisa batalhar contra o pecado no nível dos
seus próprios pensamentos e desejos, plantando boas sementes e
arrancando todos os espinhos e ervas daninhas, antes que sufoquem sua
vida.
4) O bom pastor se protege, e protege sua família e sua igreja contra a
imoralidade sexual e a aparência do mal.
Um bom pastor deve saber como não fazer provisão para a carne e não
deve viver sua vida aberta de tal maneira, que possa estimular atenção
indevida, assédios ou confusão. Ele não se encontra ou viaja sozinho
com uma mulher. Não dá seu ombro para ouvir choros de mulheres
vulneráveis. Seu escritório está sempre aberto e visível, para não dar a
impressão de estar agindo em segredo. Um pastor sábio se assegura de
que sua esposa e sua secretária tenham conhecimento de qualquer
encontro ou reunião com outras mulheres. Mais ainda, ele, ativamente e
com prazer entrega-se a sua esposa em intimidades matrimoniais. Ele
arranca seus olhos e corta seus braços e o que necessário for para
proteger sua família e sua igreja de atos imorais. Humildemente e com
entusiasmo, envolve outros nessa proteção e responsabilidade pessoal.
5. Um bom pastor vigia sua vida quanto ao descanso e a recreação
necessários.
Deve haver descanso adequado e recreação apropriada na agenda de
um pastor. Para estar certo de que tem o descanso devido, o pastor deve
receber com agrado comentários sobre sua agenda de atividades e de
seus hábitos de trabalho. Eventualmente, os pastores perderão a batalha
e a guerra, se eles não descansarem. Se Jesus não voltar em breve, a vida
pastoral será um longo e tedioso labor. Para poder trabalhar, um bom
pastor necessita cuidar de suas necessidades físicas.
Charles Bridges teve um ministério bastante longo, na Inglaterra, nos
meados dos anos 1800. Ele entendia a necessidade de descanso e
recreação.

O servo devotado ao serviço de Deus encontrará uma certa medida de


relaxamento, ao voltar dos mais dolorosos aos mais dóceis exercícios do seu
trabalho. Ocasionalmente, uma distração total é necessária. E não venha ele a
pensar que seu Mestre demanda trabalho, quando o seu corpo e o seu espírito
demandam repouso. Um bom planejamento fará com que a mudança tenha a
tendência de fortalecê-lo, em vez de enervar o tom de seu caráter espiritual e o
poder do seu ministério. 39
6. Um bom pastor vigia seus hábitos e idiossincrasias causados pelos
pontos mais fortes de suas habilidades pessoais.
Em muitos casos, a potência de um pastor é, ao mesmo tempo, a sua
fraqueza. Martyn Lloyd-Jones nos adverte, em seu clássico “Pregação e
Pregadores”:

Vigie seus dons naturais e suas tendências e idiossincrasias. Vigie. O que eu


quero dizer é que essas coisas têm a tendência de fugirem com você. Podemos
sumarizar isso em uma só frase – vigie seus pontos mais fortes. Nem tanto
suas fraquezas: é a capacidade que você tem de vigiar as coisas nas quais você
se sobressai, seus dons naturais e suas aptidões. Estas são as coisas que mais
frequentemente lhe farão tropeçar, porque elas são as que lhe tentarão a exibir-
se e a congratular-se a si mesmo. Então, vigie-as; e também às suas
idiossincrasias. Todos nós as temos, e temos que vigiá-las. 40

O abuso de nossas capacidades podem enfraquecer outros aspectos do


nosso ministério. Vamos ficar parecidos com lagostas, que têm uma
garra gigante que vamos querer usar para todos os fins, enquanto outras
garras mais diminutas ficam sem uso e sem atenção. Com o tempo, pode
ser que nossos pontos fortes no ministério venham a criar um
desequilíbrio tão proeminente quanto nossas fraquezas criariam.
CONCLUSÃO
Vigiar nossas vidas e nossa doutrina não é algo que acontece
naturalmente. Por isso mesmo é que o pastor fiel precisa exercitar
disciplina pessoal. Tem de se tornar um estudioso do seu coração e de
sua mente. E deve estimular outros a inspecionarem os cantinhos que ele
não pode enxergar.
28
PRESBÍTEROS VIGIAM SUA DOUTRINA
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres;
porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus
ouvintes.”

N
(1 Timóteo 4.16)
ão sei muito bem o que algumas pessoas querem dizer com
“caçadores de heresias”, mas estou certo de que eu sou um
deles. E isto tem a ver com minha conversão. Tendo abraçado a
fé islâmica por algum tempo, vim a Cristo um pouco severo e durão, no
que concerne à doutrina e à teologia. Desde o princípio fui levado a ler
livros sobre sã doutrina. Realmente, eu não conhecia o termo “doutrina”,
nem tinha algum entendimento coerente sobre o que estava procurando,
exceto que buscava um conhecimento verdadeiro de Deus.
Imagine como saltou o meu coração quando, no primeiro dia da
semana depois da minha conversão, visitei uma livraria cristã local,
encaminhei-me para a seção de teologia e comprei dois livros: “O
Conhecimento de Deus”, de J. I. Packer * e os três volumes de
“Grandes Doutrinas Bíblicas”, de Martyn Loyde-Jones ** .
Eu não tinha a mínima ideia do que estava comprando, mas nunca mais
fui o mesmo, depois de comprar e ler estas obras clássicas. O Senhor me
demonstrou tremenda graça ao guiar-me a estes dois homens e suas
obras, iniciando, assim, a minha vida cristã com os pés firmados no solo
da sã doutrina. Sou eternamente grato.
Tendo baseado minha vida numa mentira e, conhecendo agora o que eu
devo crer, virei um tipo de “caçador de heresias”. Por este termo não
quero dizer que eu sou um sujeito que busca, embaixo de cada pedra que
encontro, qualquer erro por pequeno que seja, a fim de rebater a pessoa e
seu erro com todas minhas forças. Nem sou alguém rabugento e brigão
por causa de doutrina, mas sou alguém seriamente preocupado com isto.
Minha jornada pessoal confirma a importância da admoestação de Paulo:
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1 Timóteo 4.16).
COMO PODEMOS VIGIAR NOSSA DOUTRINA BEM DE
PERTO?
1) Centralize a Escritura.
Um bom pastor é um homem do Livro. Ele não conhece uma ciência
mais alta que a ciência da teologia, e nenhuma arte que possa ser mais
rica que o estudo da Escritura. A Santa Palavra de Deus ocupa o lugar de
maior prioridade em seu pensamento. Ele bebe da profundidade da
Escritura e ouve a advertência de Paulo: ”não ultrapasseis o que está
escrito” (1 Coríntios 4.6). Ele observa e vigia bem de perto sua doutrina
para pensar os pensamentos de Deus, segundo a Escritura.
2) Lê e relê livros antigos e bons
Sem querer menosprezar os livros mais recentes, os velhos clássicos
ainda são os melhores. Livros clássicos tipicamente oferecem maior
rigor, entendimento e profundidade do que as obras publicadas no
mercado voltado para publicações em massa dos nossos dias. As obras
clássicas já sobreviveram ao teste do tempo. Muitas pessoas hoje amam
C. S. Lewis, o famoso escritor e pensador cristão que deu ao mundo
“Crônicas de Narnia” e “Cristianismo Puro e Simples”. Poucos, porém,
seguem o sábio conselho de Lewis em leituras. Considere estas linhas
dos parágrafos que abrem sua introdução a Atanásio, no clássico “Na
Encarnação” (On the Incarnation).

Existe uma ideia geral de que todos os temas dos livros antigos deveriam ser
lidos apenas pelos profissionais e que o leigo deveria contentar-se apenas em
ler os escritos modernos.
Esta preferência errônea pelos livros modernos, e esta timidez pelos antigos,
em nenhum caso está mais acentuada do que na teologia.
Agora, para mim, isto parece estar de ponta-cabeça. Naturalmente, visto que
eu mesmo sou um escritor, não quero que o leitor comum deixe de ler os livros
modernos. Mas, se ele tiver de ler somente os novos ou somente os velhos, eu
aconselharia que lesse somente os velhos. E eu lhe daria este conselho
precisamente porque ele é um leigo e, portanto, está muito menos protegido do
que o perito, dos perigos de uma dieta exclusivamente contemporânea. É uma
boa regra, depois de ler um novo livro, nunca permitir-se outro novo até que
tenha lido um antigo, intercalando suas leituras. Se isto for muito difícil para
você, então você deveria pelo menos ler um antigo para cada três novos que
lesse. 41

Ler obras que foram provadas ajuda o pastor a vigiar sua doutrina.
3) De vez em quando, leia livros ruins.
Não com regularidade nem exclusivamente, mas ocasionalmente um
bom pastor deverá ler um livro ruim. Poderá fazer isto porque muitas
pessoas entre o seu povo parecem demonstrar interesse em determinado
livro ou porque certo livro está criando um movimento na igreja em
todas as partes. Ele poderá ler tal livro para conhecer quais são as
questões que aborda e o que está em jogo e para melhor pastorear o seu
povo, ou, ao menos, para afiar seu ministério apologético. De qualquer
forma, depois de uma boa dieta de Bíblia e de clássicos, um pastor fiel
vigia sua própria doutrina por familiarizar-se com erros relevantes.
4) Leia a história da igreja e teologia histórica.
A maioria dos erros que hoje vemos já foram cometidos por outro
alguém antes de nós. Não há nada de novo embaixo do sol – inclusive
má teologia. Um bom pastor aprende a inocular-se desses erros por ler
teologia histórica e história da igreja, quando erros doutrinários já
tenham sido registrados, debatidos e resolvidos por homens piedosos de
gerações passadas. Há uma verdade no antigo clichê: “Aqueles que não
conhecem história estão condenados a repeti-la”.
5) Evite as originalidades e os caprichos passageiros da época.
Muitos erros começam com uma originalidade qualquer. Com o desejo
de dizer alguma coisa nova ou fazer alguma inovação. Mas são poucos
aqueles fiéis instrutores que desejam ser doutrinariamente inovadores.
Sempre que um bom pastor se depara com alguma coisa totalmente nova
em seus estudos e leituras, ele faz, pelo menos, estas quatro perguntas:
(1) Como, de uma maneira específica, este ensino se distancia das
verdades aceitas e estabelecidas pela fé uma vez entregue aos santos?,
(2) Que impacto esta ideia ou doutrina tem sobre outras importantes
questões doutrinárias?, (3) Como isto impacta a vida das pessoas? e (4)
Este impacto será realmente digno de se considerar em vista dos perigos,
ou dos problemas associados com a originalidade da interpretação?
No verso 7, Paulo avisa a Timóteo que evite “fábulas profanas” – os
mitos irreverentes e ridículos. Um bom pastor, seguirá o conselho de
Paulo. O mundo está constantemente clamando por coisas novas. Deseja
engenhosidade e novos descobrimentos. Há algo com o coração humano
que anseia por ser original, peculiar. Mas grandes explosões de erro
acontecem quando o combustível de um pastor é o desejo por habilidade
e originalidade e se mistura com o estímulo dos desejos mundanos por
novidades.
6) Continue aprendendo de bons mestres.
Qual o pastor pode parar de aprender? Ou quem pode dominar tudo o
que há para se aprender dos séculos de pastores eruditos, teólogos e
pensadores? Um bom pastor compromete-se a fortalecer seu
conhecimento do Salvador e da fé, e se planeja especificamente para este
fim. Pode fazer um curso do seminário (no campus ou via internet),
ouvir por rádio ou pela internet, frequentar boas conferências, ou juntar-
se a um grupo de estudos. Mas, de uma maneira ou de outra, ele
continuará sempre aprendendo.
7) Comprometa-se com a confissão de fé de sua igreja.
Os pastores devem estar comprometidos em obedecer e defender a
declaração de fé como um resumo exato dos ensinos da Bíblia. No
momento em que um pastor renuncia seu comprometimento com um
artigo da declaração, ele deverá confessá-lo a seus colegas do presbitério
e aos líderes, para responsabilidade recíproca, correção e disciplina. Em
nossa igreja, os presbíteros prometem que, “se em algum tempo eu me
encontro em desacordo com as confissões de nossa Declaração de Fé e
Aliança, eu, de minha própria iniciativa o farei conhecer ao pastor e aos
demais presbíteros a mudança que fiz em meu entender, desde que
assumi estes votos”. Este penhor fortalece nossa vigília doutrinária.
(Veja o apêndice para exemplos dos votos de um presbítero em sua
ordenação).
8) Desenvolva um instinto para detectar afrouxamentos e afastamentos
doutrinários.
Na maioria dos casos, um pastor serve como o principal oficial
teológico na igreja. Consequentemente, ele terá de ser suficientemente
astuto para monitorar seus próprios pensamentos e ser intelectualmente
honesto para consigo mesmo. Necessita ter um nariz capaz de sentir o
cheiro da preguiça teológica, do desleixo ou da indiferença. Terá de lutar
contra qualquer tendência que o leve a fazer concessões doutrinárias.
O presbítero não poderá servir bem a seu povo quando,
constantemente, está cedendo pequenos pontos no terreno teológico,
sempre que se veja amedrontado pelos semblantes dos homens que o
desaprovam. Terá de ser capaz para discernir se agradar as pessoas é
uma tendência dos hábitos do seu coração e até onde isto enfraquece sua
posição doutrinária. Terá de reconhecer se tem a tendência de evitar
conflitos ou se este hábito corrói sua fidelidade à verdade. Precisa saber
quando o pragmatismo assume o controle dos seus pensamentos, de tal
modo que o tente a abandonar a sã doutrina e escolher aquelas coisas
que “funcionam melhor”. Necessita de um instinto afiado para poder
apontar desvios e afrouxamentos em si mesmo, e ter um plano específico
para vencer suas tendências.
CONCLUSÃO
Na história da igreja, toda heresia e disseminação geral de uma
corrupção doutrinária na igreja se levantou quando seu pastor estava em
seu posto de trabalho. Ele mesmo a introduziu, ou permitiu que entrasse
no corpo da igreja. Um número significante desses erros foram
desenvolvidos por homens que buscaram aquilo que parecia direito aos
seus próprios olhos e desprezaram as grandes verdades da Escritura e a
sabedoria piedosa daqueles que foram antes deles.
A exortação de Paulo é profundamente prática e criticamente
importante. A vigilância atenta do pastor afeta o bem estar do seu povo.
Ao vigiar, ele salvará a si mesmo e aos seus ouvintes. Possa o Senhor
dar-nos graça para sermos bons e fiéis ministros para nosso povo.
* Publicado em português por Editora Cultura Cristã
** Publicados em português pela editora PES.
PALAVRAS FINAIS
“Obedecei aos vossos pastores e sede submissos para com eles; pois
velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam
isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós
outros.”

C
(Hebreus 13.17)
omo deve sentir-se um pastor quanto ao seu trabalho pastoral?
Qual seria a emoção dominante que caracteriza seu ministério?
Muitos pastores se sentem exaustos, frustrados, ineficazes e
deprimidos. Sentem-se como se o ministério pastoral fosse uma carga.
Mas, como Deus quer que seus pastores se sintam, com relação ao seu
trabalho? Hebreus 13.17 responde à nossa pergunta ao dizer que o
trabalho de um pastor deve ser uma alegria. Com frequência você ouvirá
pastores dizendo que se sentem bastante sóbrios diante da referência
daquele verso, sobre o fato de que terão que dar contas a Deus pelas
almas que lhes foram confiadas aos seus cuidados. Mas, por mais sóbria
que esta advertência possa ser, a alegria deveria impregnar o trabalho do
pastor a favor de suas ovelhas.
Se você que está lendo este livro é um pastor, minha esperança é de
que suas sugestões e exortações práticas aumentem sua alegria. Espero
que focar na base do caráter pastoral e de sua responsabilidade possa lhe
ajudar a traçar um roteiro para o seu ministério e, assim, disfrutar os
benefícios que advêm da objetividade. Quanto mais claro estamos de
nossa vocação, maior a possibilidade de gozarmos a alegria do nosso
serviço.
Ou, talvez, você seja membro de uma igreja, ou participe de um comitê
para achar um pastor. Você já pensou sobre sua parte em fazer com que
o ministério pastoral seja uma alegria para os homens que estão
servindo? Hebreus 13.17 chama-o a seguir seus pastores ou potenciais
pastores para que não se sobrecarreguem. E já notou que um ministro
feliz é uma vantagem para você como membro e também para o resto da
congregação? Por vontade de Deus, seu crescimento espiritual está
ligado com a alegria de seu pastor.
Portanto, num sentido bastante real, o pastor e o povo vivem juntos, de
tal maneira que um promove a alegria do outro. Este livro ajudará na sua
alegria ou será um fardo para você como pastor. Eu oro para que venha a
ser causa de sua alegria, ao invés de um peso. Para sua alegria, leia e
aplique este livro à luz do evangelho do Senhor Jesus Cristo. Cristo veio
a ser sabedoria, retidão, santificação e redenção para todo aquele que crê
(1 Coríntios 1.30). Visto que Cristo somente é quem pode realizar a
nossa salvação, o pastor e o povo estão livres para buscar a fidelidade
sem uma carga pesada e crescimento com alegria. Oro para que você, ao
fazer uso deste pequeno volume, possa manter uma visão completa da
vida gloriosa, da crucificação, sepultamento, ressurreição, ascensão e
vinda do Senhor Jesus Cristo. Somente o pensar nele frequente e
longamente é, em si mesmo, alegria.

Graça, paz, e amor em Jesus Cristo.


Seu companheiro na causa do Salvador.
APÊNDICE
EXEMPLOS PARA OS VOTOS NA
ORDENAÇÃO DE UM PASTOR OU
PRESBÍTERO
AO PRESBÍTERO
1. Você reafirma sua fé no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, o
reconhece como Senhor sobre todas as coisas e Cabeça da Igreja, e, por
ele, você crê em um único Deus – Pai, Filho e Espírito Santo?
Sim, reafirmo.
2. Você crê nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos como
sendo a Palavra de Deus, totalmente confiável, totalmente inspirada pelo
Espírito Santo e a suprema, final e unicamente infalível regra de fé e
prática?
Sim, eu creio.
3. Você sinceramente crê, recebe e adota os artigos essenciais de fé
conforme expressados em nossa Confissão de Fé, como confiáveis
exposições daquilo que a Escritura nos leva a crer e a fazer e você se
instruirá e se guiará por estes artigos para liderar o povo de Deus?
Sim, com a ajuda de Deus o farei.
4. Você promete que se, a qualquer momento, encontrar-se em
desacordo com qualquer parte dessa Confissão de Fé, de sua própria
iniciativa fará saber aos seus colegas de presbitério a mudança que tenha
acontecido em sua maneira de ver tal parte da mesma Confissão, desde
que assumiu estes votos?
Sim, prometo.
5. Você se submete ao governo e disciplina da Igreja (...)?
Sim, me submeto.
6. Você cumprirá as obrigações do seu ofício em obediência a Jesus
Cristo, deixando-se continuamente guiar pelo Santo Espírito sob a
autoridade da Escritura?
Sim, o farei.
7. Você promete ser mutuamente submisso aos demais presbíteros no
Senhor e amar a seus colegas de ministério, os pastores seus
companheiros e o pessoal empregado pela igreja, cooperando com todos
eles, sujeito à ordenação da Palavra de Deus e pelo Espírito?
Sim, prometo.
8. Tanto quanto possa entender em seu próprio coração, você tem
aceitado o ofício de presbítero induzido pelo amor a Deus e por um
sincero desejo de promover sua glória no evangelho do seu Filho?
Sim, eu tenho.
9. Você promete ser zeloso e fiel em promover as verdades do
evangelho, a pureza e a paz da igreja, quando sofrer sob qualquer
perseguição ou oposição que possa levantar-se contra você mesmo por
causa deste seu compromisso?
Sim, com a ajuda de Deus o farei.
10. Você se compromete a ser fiel e diligente no exercício de todas as
suas obrigações como presbítero, sejam elas pessoais ou relacionais,
públicas ou privadas, e fará todos os esforços, pela graça de Deus, para
adornar sua profissão do evangelho com sua maneira de viver, e com um
andar exemplarmente piedoso diante da congregação?
Sim, pela graça de Deus o farei.
11. Você está disposto a tomar uma responsabilidade pessoal na vida
desta congregação, como um presbítero, para supervisionar o ministério
e os recursos da igreja e para devotar-se à oração, ao ministério da
Palavra, e a pastorear o rebanho de Deus confiando na sua graça, de tal
maneira que a Igreja (...) e a Igreja de Jesus Cristo em geral seja
abençoada?
Sim, pela graça de Deus estarei .
À CONGREGAÇÃO
12. Os irmãos, membros da Igreja (...), reconhecem e publicamente
recebem _________ e ________ como presbíteros e como dádivas de
Deus à sua igreja para liderar-nos nos caminhos de Jesus Cristo?
Sim, reconhecemos e recebemos.
13. Os amarão e orarão por eles em seu ministério e cooperarão com ele
humilde e alegremente, a fim de que pela graça de Deus possam cumprir
a missão da igreja, dando a eles toda a honra devida e apoiando-os em
sua liderança para a qual Deus os tem chamado, para a glória e honra de
Deus?
Sim, o faremos.
NOTAS
1. D. A. Carson e Douglas J. Moo, “Introdução ao Novo Testamento”
(São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1997)
2. Entre os volumes disponíveis, o leitor interessado poderá consultar:
Michael Brown, ed. “Called to Serve: Essays for Elders and Deacons”
(Grandville, MI: Reformed Fellowship, 2007); Mark Dever, “Refletindo
a Glória de Deus: Elementos Básicos da Estrutura da Igreja (São José
dos Campos, SP: Editora Fiel, 2008); David Dickson “The Elder and His
Work” (Phillipsburg, NJ: P&R, 2004); Benjamin J. Merkle, “40
Questions about Elders and Deacons (Grand Rapids, MI, Kregel, 2008);
Phil A. Newton, “Pastoreando a Igreja de Deus: Redescobrindo o
Modelo Bíblico de Presbitério na Igreja (São José dos Campos, SP:
Editora Fiel, 2007); Alexander Strauch, “Biblical Eldership: An Urgent
Call to Restore Biblical Church Leadership” (Colorado Springs, CO,:
Lewis & Roth, 1995); and Timothy Z. Witmer, “The Sheppard Leader:
Achieving Effective Shepherding in Your Church (Philipsburg. NJ: P&R
2010)
3. Leitores interessados poderão encontrar a edição de Maio/Junho 2010
do “9Marks eJournal útil para se entender este aspecto da função
diaconal. O jornal pode ser obtido na
http://www.9Markc.Org/ejournal/deacons .
4. Dr. Martyn Loyd-Jones, “Victorious Christianity: Studies in the Book
of Acts, vol. 3 (Wheaton, Il: Crossway, 2003), 236, 237-38.
5. John Bunyan, “Pilgrim’s Progress in Modern English” (Lafayette, IN:
Sovereign Grace, 2000), 47.
6. Philip Graham Ryken, “1 Timothy, Reformed Exposition
Commentary” (Phillipsburg, NJ: P&R, 2007), 124.
7. George W. Knight III, “The Pastoral Epistles: A Commentary on the
Greek Text” (Grand Rapids, MI, Eerdmans, 1992), 170.
8. Ryken, “1 Timothy”, 128-29.
9. Para um ótimo tratamento deste tema, veja Witmer, “The Shepherd
Leader”, especialmente os capítulos 1-2. Veja também Timothy S.
Laniak, “Shepherds after My Own Heart: Pastoral Traditions and
Leadership in the Bible (Downers Grove, IL: Intervarsity, 2006).
10. Visto que a Bíblia usa estes três termos como sinônimos, também
nós os usamos nas seções que se seguem.
11. Para uma excelente defesa e exposição bíblica sobre autoridade e
amor, veja Jonathan Leeman, “A Igreja e a Surpreendente Ofensa do
Amor de Deus: Reintroduzindo as Doutrinas sobre a Membresia e a
Disciplina da Igreja” (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014). ,
especialmente os capítulos 3 e 7. Veja ademais, Alexander Strauch,
“Leading with Love” (Littleton, CO: Lewis & Roth, 2006.
12. Lemuel Haynes, “The Character and Work of a Spiritual
Watchman,” em “Faithful Preacher: Recapturing the Vision of Three
Pioneering African-American Pastors” ed. Thabiti M. Anyabwile
(Wheaton, IL: Crossway, 2007), 29.
13. Para um excelente exame de ambição piedosa, veja Dave Harvey,
“Resgatando a Ambição” (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2012)
14. Charles Bridges, “The Christian Ministry: With an Inquiry into the
Causes of its Inefficiency” (Edinburgh: Banner of Truth, 1997), 23.
15. William Still, “The Work of the Pastor” (Ross-shire: Christian
Focus, 2001), 15.
16. João Calvino, Pastorais (São José dos Campos, SP: Editora Fiel,
2009).
17. D. A. Carson, “The Role of the Elder,” palestra proferida na Capitol
Hill Baptist Church, Washington, DC, 3 de Maio de 1998. O áudio pode
ser baixado em
http://resources.christianity.com/mrki/19980503/80CDCCC9-C9-43DC-
BEDB-365CAF55BD36,aspx . Para uma leve transcrição da palestra
veja “Defining Elders” em
http://sites.silaspartners.com/partner/Article_Dusplay_page/O,PTID3145
26%CCHID598014%7CCIID2157886,00.html .
18. John MacArthur, “The MacArthur Study Bible” (Nashville, TN:
Word Bibles, 1997), Veja a nota em 1 Timóteo 3.2, p.1864.
19. Ryken, “1 Thimothy”, 111.
20. Para um estudo avançado, considere John Piper e Wayne Grudem,
eds. “Recovering Biblical Manhood and Womanhood: A Response to
Evangelical Feminism and Biblical Truth: An Analyses of More than
100 Disputed Questions” (Sisters, OR: Multnomah, 2004); e uma gama
de valiosos recursos disponíveis no “Council on Biblical Manhood and
Womanhood no http://www.cbmw.org ; veja também as palestras do Pr.
John Piper no www.ministeriofiel.com.br
21. Alexander Strauch, “A Christian Leader’s Guide to Leading with
Love (Littleton, CO: Lewis and Roth, 2006), 67.
22. Ibid. 99
23. João Calvino, “Romanos” (São José dos Campos, SP: Editora Fiel,
2013)
24. Dr. Martyn Lloyd-Jones, “Pregação e Pregadores” (São José dos
Campos, SP: Editora Fiel, 2008)
25. João Calvino, “Pastorais”
26. Veja Alfred Poirier, “The Peacemaking Pastor” (Grand Rapids, MI:
Baker, 2006).
27. Charles Edward White “Four Lessons on Money from One of the
World’s Richest Preachers,” Christian History 19 (Summer 1988): 24;
citada em Randy Alcorn, “Money, Possessions and Eternity” (Sisters,
OR, Multnomah, ed. rev. 2003), 298-99.
28. Ryken, “1 Timothy”, 116
29. Enquanto Paulo levanta esta questão, especialmente sobre os
Presbíteros, seria prudente aplicá-la mais abrangentemente à igreja, por
estimular membros e novos convertidos a completar um apropriado
treinamento teológico e ministerial antes de envolvê-los numa área
particular de serviço, ou por encorajá-los a tomar os primeiros 6 meses
de sua membresia para focalizar, primariamente, em aprender e edificar
relacionamentos na igreja.
30. Calvino, “Pastorais”, 83,84.
31. Charles Haddon Spurgeon, “Lições aos meus alunos” (São Paulo,
SP: Editora PES).
32. Jonathan Edwards, “Memoirs of Jonathan Edwards,” AM., vol.1
“The Works of Jonathan Edwards (Peabody, MA: Hendrikson, 1998),
lxiii.
33. Para uma discussão ajudadora destas tentações, veja Kent e Barbara
Huges, “Libertando o ministério da síndrome de sucesso” (Rio de
Janeiro, RJ: Editora Anno Domini, 2013).
34. Calvino, “Pastorais”.
35. Bob Kauflin, “Worship Matters: Leading Others to Encounter the
Greatness of God,” (Wheaton, IL: Crossway, 2008), 47.
36. Bridges, “The Christian Ministry”, 49.
37. Mark Dever, J. Ligon Duncan III, R. Albert Mohler Jr, e C. J.
Mahaney, “A Pregação da Cruz” (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã,
2010)
38. Bridges, “The Christian Ministry”, 166.
39. Ibid. 137-38.
40. Lloyd-Jones, “Pregação e Pregadores”. – Ed. Fiel.
41. C. S. Lewis, “On the Reading of Old Books”, in “God in the Dock:
Essays on Theology and Ethics”, (Grand Rapids, MI: 1970), 200.
Sua igreja é saudável? O Ministério 9Marcas existe para equipar
líderes de igreja com uma visão bíblica e com recursos práticos a fim de
refletirem a glória de Deus às nações através de igrejas saudáveis.
Para alcançar tal objetivo, focamos em nove marcas que demonstram a
saúde de uma igreja, mas que são normalmente ignoradas. Buscamos
promover um entendimento bíblico sobre: (1) Pregação Expositiva, (2)
Teologia Bíblica, (3) Evangelho, (4) Conversão, (5) Evangelismo, (6)
Membresia de Igreja, (7) Disciplina Eclesiástica, (8) Discipulado e (9)
Liderança de Igreja.
Visite nossa página
www.facebook.com/9Marcas
O Ministério Fiel visa apoiar a igreja de Deus, fornecendo conteúdo
fiel às Escrituras através de conferências, cursos teológicos, literatura,
ministério Adote um Pastor e conteúdo online gratuito.
Disponibilizamos em nosso site centenas de recursos, como vídeos de
pregações e conferências, artigos, e-books, audiolivros, blog e muito
mais. Lá também é possível assinar nosso informativo e se tornar parte
da comunidade Fiel, recebendo acesso a esses e outros materiais, além
de promoções exclusivas.
Visite nosso website
www.ministeriofiel.com.br

Você também pode gostar