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SUMÁRIO


AULA I
A destruição da inteligência pela
destruição da linguagem
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

A palavra educação vem do latim “ex ducere”, que


significa, à grosso modo, conduzir para fora. Portanto, se o
Instituto Borborema possui uma abordagem educacional
específica, ela é pensada de forma a retirar o indivíduo
do jugo da péssima educação brasileira, e possibilitar-lhe
atingir patamares mais elevados, que transcendam sua
própria condição. Daí podem surgir dois
questionamentos:

Primeiro: que contingências tão graves e severas são essas


que, não só não asseguram aos brasileiros uma educação
plena, mas parecem como que limitar-lhes a inteligência?
Segundo: para onde, então, se poderia conduzir os
afetados, de forma a que se lhes fossem reduzidas as
sequelas?

À primeira pergunta, respondemos com os seguintes


dados, fornecidos pelo próprio MEC:

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Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

A destruição da inteligência pela destruição da linguagem 05


Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

A conclusão lógica diante do crescimento da


incapacidade cognitiva conforme o tempo que o aluno
passa no colégio é que, no Brasil, quanto maior o contato
com a educação formal, menor o desenvolvimento da
inteligência. Em outras palavras, as instituições oficiais
de educação tornaram-se polos produtores de analfabetos
funcionais.
___________
Sugerimos que assistam à palestra “O dever de educar-se”, proferida pelo Prof.
Rafael Falcón: https://www.youtube.com/watch?v=NmZuxxW0h2g. Para
compreender melhor as questões estatísticas, recomendamos a leitura completa
do último relatório do Indicador de Analfabetismo Funcional – INAF, cuja
pesquisa fora promovida pelo Instituto Paulo Montenegro:
https://www.youtube.com/watch?v=NmZuxxW0h2g

A destruição da inteligência pela destruição da linguagem 06


Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Isso se dá em virtude da pedagogia socioconstrutivista, cujo


principal expoente, ao menos no Brasil, tornou-se Paulo
Freire, que acreditava, em resumo, que o letramento pleno
seria uma das categorizações burguesas para a manutenção
do status quo, um elemento de opressão na dialética de
classe.
Logo, para Paulo Freire, o conjunto de regras e princípios
concretos da língua deveria, antes de ser apreendido e
absorvido por um iletrado, ser transcendido pela aquisição
da consciência de classe. Assim, não importava
essencialmente que um pedreiro aprendesse a ler, mas que
questionasse por que ele construíra tantas casas na vida e
até então não possuía moradia própria.
Com o tempo e demais influências da pedagogia
revolucionária, temos hoje um cenário em que, por força do
analfabetismo funcional reinante, o próprio pensamento dos
estudantes encontra-se atrofiado, incapaz de ir além da
expressão de descrições imediatas e emoções básicas.

____________
Sobre o trabalho de Paulo Freire e a destruição da inteligência pela
destruição da linguagem, recomendamos que vejam a partir do vigésimo
minuto da palestra “Por que os humanos estão acabando?”, do prof. Caio
Perozzo:
https://www.youtube.com/watch?v=U3BNsXZsRKo&t=2s.
Quanto aos efeitos gerais sobre a formação integral do estudante, bem
como para compreender melhor os erros pedagógicos intrínsecos ao
socioconstrutivismo paulofreireano, sugerimos a leitura dos livros do prof.
Thomas Giulliano: Desconstruindo Paulo Freire e Desconstruindo Ainda Mais
Paulo Freire

A destruição da inteligência pela destruição da linguagem 07


Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Consequentemente, não só os estudantes, mas todos que


passaram por esse modelo educacional possuem graves
deficiências cognitivas. Não conseguem ler
adequadamente um texto, ou mesmo organizar o próprio
pensamento numa expressão verbal que tenha claro
sentido, sem falar nas graves deficiências morais, pois
que há muito que o ensino das virtudes pelo exemplo do
professor e pelo contato com a alta literatura deixara de
existir nas escolas.
No entanto, costumamos pensar que apenas os outros
carregam sequelas da nossa insuficiência educacional.
Ocorre, em verdade, que pouca ou nenhuma consciência
está plenamente resguardada. Devemos ser humildes e
dar-nos ao esforço de reconhecermos e vencermos as
nossas próprias limitações cognitivas; nos deixar ser
conduzidos da zona rudimentar da linguagem para o
domínio de suas infinitas possibilidades.

A destruição da inteligência pela destruição da linguagem 08


AULA II

Recuperando o domínio da
linguagem em sua forma humana
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Se a inteligência educada no socioconstrutivismo não


detém os instrumentos para interligar os conceitos e a
realidade concreta, confundindo construtos mentais e
subjetivismos com dados objetivos, como um indivíduo
alijado por essa concepção pedagógica poderia ingressar
na vida dos estudos mais elevados, que não tem outro
fim senão a busca pela verdade?

Neste ponto, é comum o autoengano. O normal, no


Brasil – e aqui já detecta-se um problema que transcende
o próprio socioconstrutivismo -, é que o indivíduo queira
pular etapas e convencer-se de que está pronto para
encarar temas como filosofia ou geopolítica. Ora, é
prudente o marinheiro de primeira viagem querer lançar-
se de pronto aos mais revoltos mares? A experiência
pedagógica de uma exposição sobre semântica e sintaxe
facilmente o prova, porquanto a dureza evidente da
empreitada de inteirar-se desses assuntos; mas é, como
toda dor, tão necessária quanto passageira. É uma etapa
que não se pode pular sem que se caia no abismo da
confusão linguística.

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Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

A Semântica demarca a conexão lógica entre as palavras,


e seu grau de verossimilhança, seja pelo compromisso
com as coisas do mundo as quais se refere, seja pela
correlação lógica entre os componentes da ficção que se
cria. É o recurso mais básico para se medir a coerência e
as intenções do interlocutor.
A Sintaxe, por sua vez, concentra-se nas regras e
princípios de interligação entre as palavras, delimitando
as suas possibilidades de combinação, de forma a evitar
ambiguidades e a fortalecer a intenção semântica.
Tais dimensões da língua dão-nos a medida básica de seu
uso racional; são os muros da catedral do intelecto,
nossos parâmetros de segurança comunicativa. Uma
inteligência desprovida desses recursos, será presa fácil
daqueles que vivem no afã de tentar transformar toda a
experiência educacional numa descoberta subjetiva, ou
pior, numa máquina de dominação das consciências,
como em Admirável Mundo Novo e 1984.

____________
Como exercício, sugerimos que assistissem a este vídeo do Sr. Paulo
Ghiraldelli, professor da USP, e tirassem as próprias conclusões se suas
palavras parecem buscar descrever uma realidade objetiva e concreta, ou se
constituem somente um conjunto verbal caótico para exprimir e despertar
emoções confusas:
https://www.youtube.com/watch?v=lDefk0AgCeA&t=313s.
Cremos desnecessário repetir todos os exemplos utilizados durante a aula,
visto que a lousa já dá o suporte visual e esquemático a que se propõe este
e-book.

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Recuperando o domínio da linguagem em sua forma humana
AULA III

Exercício de Verificação
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Exercício de Verificação

A aula três consiste em um teste de verificação do uso


racional da língua portuguesa. Considerando que a
língua não é construída a partir dos gramáticos, mas dos
grandes artistas, que exploram e ampliam as
possibilidades do idioma pela produção literária, nada
mais sensato que elencar um poema para servir de base
ao teste. Se o português verdadeiro estivesse na gramática
de Bechara, e não n’Os Lusíadas, por exemplo, seria uma
língua árida, dirigida tão somente por formalismos
técnicos. É a dimensão da harmonia estética que une a
sintaxe e a semântica, que dá o conjunto das expressões
sublimes dos falantes de determinada língua.
Em suma, são essas as razões pelas quais utilizamos uma
pequena oração do poema Espectros, de Cecília
Meireles. Perceba o aluno que o exercício possibilita
constatar, na prática, tudo o que discutimos ao longo do
curso, e que não se trata, de forma alguma, de uma
habilidade linguística específica, a ser aprendida somente
por gramáticos, escritores, ou pessoas de vocação
intelectual. Esse pensamento é uma tentação à preguiça,
um subterfúgio mental para que, mesmo falante de
português, o indivíduo possa fugir do trabalhoso
empreendimento de reaprender o seu idioma da forma
como deveríamos desde sempre ter aprendido.
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Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Não se trata de uma habilidade técnica, restrita aos


intelectuais, mas da responsabilidade compartilhada por
todos os falantes de português.
O exercício consistia em colocar a oração em destaque
na ordem direta, explicando-a racionalmente:

Nas noites tempestuosas, sobretudo


Quando lá fora o vendaval estronda
E do pélago iroso à voz hedionda
Os céus respondem e estremece tudo,

Do alfarrábio, que esta alma ávida sonda,


Erguendo o olhar, exausto a tanto estudo,
Vejo ante mim, pelo aposento mudo,
Passarem lentos, em morosa ronda,

Da lâmpada à inconstante claridade


(Que ao vento ora esmorece ora se aviva,
Em largas sombras e esplendor de sóis),

Silenciosos fantasmas de outra idade,


À sugestão da noite rediviva
- Deuses, demônios, monstros, reis e heróis.

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Exercício de Verificação
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Os alunos, no geral, chegam em duas possibilidades:

1ª – Os céus respondem à voz hedionda do pélago iroso;


ou
2ª – Os céus respondem do pélago iroso à voz hedionda.

Nas duas possibilidades, a identificação do sujeito e do


verbo parece clara, visto que concordam perfeitamente e,
faz sentido, de acordo com o contexto, que somente “os
céus” possam “responder”. Sendo assim, o problema se
encontra na identificação dos demais termos da oração.

Quanto à primeira alternativa, “à voz hedionda” figura


enquanto a destinatária da resposta dos céus, destacando
que essa voz hedionda não é qualquer uma, mas,
especificamente, a “do pélago iroso”. Nessa
configuração, a relação lógica entre as expressões revela
que “à voz hedionda” seria objeto indireto, e, “do pélago
iroso”, seu adjunto adnominal restritivo.
No entanto, conforme explicado em aula, a sintaxe e a
semântica exigem-se reciprocamente. Apenas pela
sintaxe, muitas vezes, não é possível resolver esses
problemas. Agora, é necessário verificar se os
correspondentes semânticos de “voz hedionda” e “pélago
iroso”, de fato – jamais esquecendo de considerar o
contexto – podem comportar-se realmente segundo a
primeira hipótese sintática.
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Exercício de Verificação
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Para tanto, é necessário pesquisar os termos no


dicionário, e encaixar-lhes a definição que for mais
congruente ao texto. Segundo Caldas Aulete, “voz
hedionda” é uma voz que inspira medo, horror,
repulsa, etc., enquanto “pélago iroso” possui o sentido
literal de alto-mar e os sentidos figurados de
imensidade, profundidade, abismo. Logo, o comum é
pensar que os céus estejam respondendo à voz
atemorizante e horrenda do alto-mar revolto, algo
semelhante a um cenário de tempestade marítima,
com trovões, ondas e ventania. É a primeira
possibilidade.

No caso da segunda alternativa, “à voz hedionda”


permanece como objeto indireto, e “do pélago iroso”
torna-se adjunto adverbial, adicionando uma
circunstância particular à ação verbal de responder, e
não ao objeto indireto, como na alternativa anterior.
Compreenda que, apesar de ser um mero detalhe,
exerce bastante influência na disposição das cenas
quando imaginadas conjuntamente. Note-se que
imaginar de maneira incorreta o primeiro quarteto é
sintoma de dissonância entre as palavras do emissor e
o entendimento do receptor, sinal claro de
incompreensão textual, seja por imprecisão do
primeiro, ou por inépcia do segundo.
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Exercício de Verificação
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Adiantamos que essa é a alternativa correta. No entanto,


se o aluno não é capaz de explicar os seus critérios de
escolha para reordenar a oração na ordem direta, é prova
de que o fez a partir de impressões confusas acerca da
mensagem, o que não reflete o domínio racional da
língua. Uma análise desprovida de critérios sólidos e
apresentáveis não é uma análise. É, no máximo, um
chute.
Vejamos: os alunos se confundem, geralmente, em uma
questão mais semântica do que sintática. Não conseguem
determinar com precisão o que seriam o “pélago iroso” e
a “voz hedionda”, na maioria das vezes, por dificuldades
em fazer a ponte entre o dicionário e o texto.

Primeiramente, deve-se atentar para o termo


“respondem”. O verbo responder, por sua natureza
semântica, carrega a idéia de que, se há uma resposta, é
porque alguém (ou algo) falou primeiro. No poema, o
primeiro verbo é estrondar, inserindo o vendaval como o
ente que desencadeia a sequência de sons dessa noite
tempestuosa. Digamos, de forma vulgar, que o vendaval
é quem dá início à conversa. Agora, é a vez dos céus
responderem.

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Exercício de Verificação
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

E uma resposta, quando dada, costuma sê-lo a quem


falou em primeiro lugar. Logo, a resposta dos céus é
ao estrondo do vendaval que, no terceiro verso aparece
chamado de “voz hedionda”. É uma possibilidade
estética interessante traçar os sons de uma noite de
tempestade como sendo um diálogo entre a ventania e
os trovões. E notem como o português é fluido e
sonoro: as próprias palavras do contexto, pela
disposição das consoantes e das vogais, parecem
refletir sonoramente a intenção poética da autora.
Também é válido pontuar que “voz hedionda” aparece
precedida de crase, caso de união da preposição “a”
(lembrando que os objetos indiretos pedem
preposição) com o artigo definido feminino (a), dando
a idéia de que essa voz já é conhecida e determinada.

O fato de não ser uma voz qualquer reforça o


argumento do parágrafo anterior. Portanto, trata-se
apenas dos ventos, e não de ventos, ondas e todo
conjunto sonoro de uma tempestade em alto-mar,
como fica sugerido pela primeira alternativa. Aqui, já
temos uma dissonância imaginativa, já que um mero
detalhe parece ter diminuído a presença visual do mar,
que será resolvida ao analisarmos a expressão “do
pélago iroso”.

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Exercício de Verificação
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

A maioria dos alunos cai nesta engraçada armadilha:


acertam quando dizem que “do pélago iroso” é adjunto
adverbial de lugar, considerando-o lugar de origem da
ação verbal de responder. No entanto, quando
questionados sobre o que significa o pélago, dizem ser o
mar. Daí, tem-se o seguinte problema semântico: se a
resposta dos céus é um trovão, como pode ele sair do mar
aos ventos?
Isso porque todos tomam “pélago” em seu sentido literal.
Ocorre que, quando o sentido literal não satisfaz o
contexto, devemos testar o sentido figurado. O
substantivo pélago, figurativamente, pode ser “imensidade,
profundidade, abismo”. É coerente, então, que os céus
respondam da imensidão, do abismo em fúria, aos ventos
hediondos? À primeira vista, pode-se pensar que não.

Entretanto, um céu escuro e carregado de uma noite


tempestuosa, não é uma vasta e negra imensidão? E não
é de lá, dos abismos do firmamento, que despencam os
raios? É este o furor dos céus que a poetisa nos apresenta.
É a mesma estrutura da seguinte frase: Os funcionários
respondem do balcão à patroa. Não é simples visualizar que
os funcionários estão no balcão e, de lá, respondem algo
à patroa?

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Exercício de Verificação
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Por fim, esse exercício serve para demonstrar um dos


porquês do desenvolvimento da inteligência dar-se a
partir do desenvolvimento da linguagem. Como o
Prof. Rafael Falcón ensina, pode-se dissecar um texto
aos olhos dos alunos e, com critérios sólidos,
racionais, partilhados pela experiência humana,
demonstrar o que é, e o que não é. É uma medida
confiável para se avaliar o próprio desenvolvimento
cognitivo, e saber o quanto de sequelas de uma
educação irresponsável e relativista ainda carregamos.

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Exercício de Verificação
Recomendações de Estudo
Resgatando as Dimensões Básicas da Leitura

Recomendações de Estudo

A nossa Formação Literária sairá no ano que vem. Será


muito maior do que esta introdução, com mais de
quarenta horas de aula, talvez. Até lá, procure
aprofundar-se quanto à necessidade de compreender o
papel da língua e da imaginação em nosso
desenvolvimento pessoal, cognitivo e espiritual. Para
tanto, recomendamos:

CURSO OS GRAUS DE LETRAMENTO E O


ANALFABETISMO FUNCIONAL DO PROFESSOR
RAFAEL FALCÓN

https://rafaelfalcon.com.br/analfabetismo/

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EDUCAÇÃO DA IMAGINAÇÃO DO
FRANCISCO ESCORCIM
https://institutoborborema.com/produto/curso-educacao-da-
imaginacao/

INTRODUÇÃO À FORMAÇÃO DO
IMAGINÁRIO DO FRANCISCO ESCORCIM
https://institutoborborema.com/produto/introducao-a-formacao-do-
imaginario/
A BÍBLIA E A LITERATURA DO FRANCISCO
ESCORCIM
https://institutoborborema.com/produto/curso-a-biblia-e-a-literatura-curso-
de-formacao-de-leitores/

LINGUAGEM E POLÍTICA DO FLÁVIO


MORGENSTERN
https://institutoborborema.com/produto/curso-infowar-linguagem-e-
politica/
COMO ESTUDAR HISTÓRIA DO RAFAEL
NOGUEIRA
https://institutoborborema.com/produto/curso-como-estudar-
historia-metodos-e-pratica/
FORMAÇÃO BÁSICA ONLINE 2020

AGUARDEM...

Para maiores informações, acesse:


https://institutoborborema.com/

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