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TJPA - 2º Grau

PJe - Processo Judicial Eletrônico

03/11/2021

Número: 0811905-70.2021.8.14.0000
Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO
Órgão julgador colegiado: 2ª Turma de Direito Público
Órgão julgador: Desembargadora LUZIA NADJA GUIMARÃES NASCIMENTO
Última distribuição : 27/10/2021
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0801418-27.2021.8.14.0037
Assuntos: Competência do Órgão Fiscalizador, Afastamento do Cargo
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CAMARA MUNICIPAL DE ORIXIMINA (AGRAVANTE) DANILO COUTO MARQUES (ADVOGADO)
ERIKA AUZIER DA SILVA (ADVOGADO)
JOSE WILLIAN SIQUEIRA DA FONSECA (AGRAVADO) ELISANGELA FERNANDES BATISTA (ADVOGADO)
TAMARA MONTEIRO DE FIGUEIREDO (ADVOGADO)
ALANO LUIZ QUEIROZ PINHEIRO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
6935928 03/11/2021 Decisão Decisão
18:03
2ª TURMA DE DIREITO PÚBLICO – AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0811905-70.2021.8.14.0000

RELATORA: DESEMBARGADORA LUZIA NADJA GUIMARÃES NASCIMENTO.

AGRAVANTE: CAMARA MUNICIPAL DE ORIXIMINA

AGRAVADO: JOSE WILLIAN SIQUEIRA DA FONSECA

DECISÃO MONOCRÁTRICA

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto em ação ordinária (anulatória de procedimento administrativo)


contra decisão que ao reconhecer a existência de perigo de dano e risco ao resultado útil do processo e perigo de
demora deferiu a liminar requerida pelo ora agravado e determinou a suspensão do Decreto Legislativo 009/2021/CMO,
publicado 22 de outubro de 2021, que cassou o Prefeito de Oriximiná e todos os efeitos do Procedimento Político-
Administrativo 002/2021 – CEP/CMO da Câmara Municipal de Oriximiná, e a consequente reintegração do agravado ao
cargo de Chefe do Poder Executivo.

Irresignada a Câmara Municipal recorre alegando essencialmente: a competência da Câmara Municipal para
processar e julgar o prefeito, pois embora a denúncia que deu origem ao procedimento tenha se referido a violação do
art. 1º, XII do Decreto-Lei nº 201/67 houve deliberação legislativa que a comissão processante apuraria a existência de
infração político-administrativa, decorrente da contratação irregular de 1.645 (um mil, quatrocentos e sessenta e cinco)
servidores temporários no Município de Oriximiná, no período de janeiro a junho de 2021, que ocorreram sem a
realização de processo seletivo simplificado, e sem a demonstração do excepcional interesse público, enquanto
exigências dispostas no art. 37, IX da Constituição Federal e 3º da Lei Municipal nº 6.059/97 – que dispõe sobre a
admissão de pessoal por tempo determinado, cujo competência estaria estabelecida nos termos do art. 4º, VII do DL
201/67 e art. 86, XII da LOM, de maneira que houve o adequado enquadramento legal final por uma ou outra infração
descrita na denúncia, não havendo descumprimento do princípio da legalidade ou tipicidade.

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Expõe que embora os fatos narrados possam constituir o crime de responsabilidade descrito no art. 1º, XIII do
Decreto-Lei nº 201/67, nada obsta que a mesma conduta também configure a infração político-administrativa prevista no
art. 4º, VII do mesmo diploma legal, sendo esta uma análise fática e jurídica que compete tão somente à Câmara
Municipal, considerando, ainda, a independência das instâncias civil, penal e administrativa.

Defende que os fatos narrados podem ser objeto de apuração tanto no âmbito judicial, promovida pelo
Ministério Público e demais legitimados, quanto no âmbito político-administrativo, mediante apuração no âmbito da
Câmara Municipal, visto que o mesmo fato pode ser subsumido a previsões contidas em diversos diplomas legais, a
exemplo da Lei de Improbidade Administrativa, e do Decreto-Lei nº 201/67, seja sob o aspecto de crime de
responsabilidade ou ainda de infração político administrativa, restando evidente que inexiste vício de competência no
procedimento político-administrativo.

Afirma que a decisão recorrida avança sobre os aspectos de justiça, conveniência e oportunidade da decisão
tomada pelos vereadores no bojo do processo de cassação em questão em violação ao postulado constitucional
imprescindível à estabilidade dos Poderes da República e ainda à segurança jurídica destes no exercício de suas
competência, incorrendo inclusive em teratologia ao sugerir que as vantagens decorrentes da alteração de status do
servidor público serviriam de fundamento autorizador da violação dos dispositivos expressos na Constituição Federal e
em norma municipal para a contratação de servidores temporários que sequer observou as normas instituidoras dessa
forma de contratação.

Descreve que ao contratar 1.465 (um mil, quatrocentos e sessenta e cinco) servidores temporários, de forma
gradativa, no período de janeiro a junho de 2021, sem a realização de processo seletivo simplificado e sem a
configuração de excepcional interesse público, praticou infração político administrativa descrita no art. 4º, VII, do Decreto
Lei 201/67.

Pede a concessão de efeito suspensivo e o provimento final do recurso para restaurar todos os efeitos do
Processo nº 002/2021-CEPC/CMO, bem como do Decreto Legislativo nº 009/2021-CMO, que cassou o mandato do
agravado.

É o essencial a relatar. Decido.

Tempestivo e adequado comporta o efeito pretendido.

A disciplina constitucional do processo de responsabilização dos agentes políticos acentua a distinção que se
faz entre as infrações penais comuns submetidas a julgamento perante um órgão investido de jurisdição e apuradas

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mediante critérios jurídicos e as infrações de índole política, denominadas crimes de responsabilidade, pela Constituição
Federal, ou infrações político-administrativas, pela doutrina submetidas a julgamento perante um órgão político e
apuradas mediante critérios também políticos.

A mesma a Constituição Federal previu a existência dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
independentes e harmônicos entre si, repartindo entre eles as funções estatais com o fito de evitar o arbítrio e o
desrespeito aos direitos fundamentais.

Cumpre a este juízo ad quem a análise da legitimidade da revisão judicial do ato administrativo praticado pelo
Poder Legislativo de Oriximiná no âmago do processamento e julgamento do Prefeito Municipal pela prática de infrações
político-administrativas, cuja questão central repousa justamente na natureza dos atos praticados pelo prefeito agravado
quando da contratação de quase 1.500 (mil e quinhentos) servidores temporários em absoluto desalinho com a lei
municipal nº 6.059/97 e a lei orgânica do Município, e se esses atos devem ser considerados exclusivamente como
crime de responsabilidade (art. 1º, XII do DL 201/67) ou infrações político-administrativas (art.4º, VII do DL 201/67), ou
mesmo ambos.

O art. 1.º, o DL 201/67 não deixa dúvidas no sentido de atribuir ao Poder Judiciário o julgamento dos
chamados "crimes de responsabilidade", e, isso, independentemente do pronunciamento da Câmara dos
Vereadores. Em clara oposição à Súmula 311 do STF: "Por crime de responsabilidade, o procedimento penal contra o
Prefeito municipal ficava condicionado ao seu afastamento do cargo por impeachment, ou à cessação do exercício por
outro motivo", atualmente cancelada.

Por seu turno, em seu art. 4.º, o DL 201/67 cuida das infrações "político-administrativas", sujeitas ao
julgamento da Câmara dos Vereadores. Nelas o preceito secundário da norma prevê como sanção a cassação do
mandato eletivo, sem prejuízo da concomitante promoção de responsabilidade criminal, cível e administrativa em
face do Prefeito Municipal. Vertente esta, em que se denota a ocorrência do controle externo do Poder Executivo pelo
Poder Legislativo.

Não se ignora que, dado o momento histórico em que o DL 201/67 foi editado, as hipóteses de cassação de
mandato previstas nos arts. 1.º e 4.º, mostram-se um tanto quanto subjetivas e abertas, admitindo ampla margem de
interpretação em uma seara diretamente relacionada aos direitos e garantias fundamentais e às cláusulas pétreas
concebidas pelo Poder Constituinte Originário, contudo, a Excelsa Corte se manifestou favoravelmente à recepção do
conteúdo material previsto no DL 201/67, restando fixado que (i) que é de competência da Câmara Municipal o
processamento e julgamento de infrações político-administrativas praticadas pelos Prefeitos Municipais; (ii) que as
normas infralegais, editadas pela legislação local, devem respeito ao conteúdo da norma de regência, não se
encontrando a Câmara Municipal autorizada a ampliar as regras sobre o processamento e julgamento dos Prefeitos pela
prática de infrações político administrativa; e (iii) que o DL 201/1967 foi recepcionado pela nova ordem constitucional.

Ora, partindo dessa premissa, não há como negar que a Câmara Municipal de Oriximiná procedeu o
julgamento político pelo cometimento de infração capitulada no art. 4º, VII do DL 201/67, c/c art. 86, VII da LOM (com a
mesma redação do art. 4º, VII do DL 201/67) e art. 3º da Lei Municipal n. 6.059/97, abaixo:

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É evidente que no exercício das funções o prefeito municipal, como chefe do Executivo e agente político, seus
atos repercutem em um amplo espectro e quando, eventualmente, desviados dos princípios orientadores da
administração pública, poderão traduzir-se em ilícitos penais, políticos-administrativos e civis, dando ensejo a sanções
aplicadas em processos distintos e independentes.

A responsabilização do prefeito faz-se em processos e juízos distintos conforme a natureza da infração.

Tenho que a contratação de 1.465 (um mil, quatrocentos e sessenta e cinco) servidores temporários, de forma
gradativa, no período de janeiro a junho de 2021, sem a realização de processo seletivo simplificado e sem a
configuração de excepcional interesse público, corresponde adequadamente a infração político-administrativa descrita
no art. 4º, VII, do Decreto Lei 201/67.

Noutra senda, tratando-se de julgamento político, cujo exame da existência ou inexistência da infração
compete exclusivamente à Câmara Municipal, é defeso ao Judiciário apreciar-lhe o mérito, reservando-se a este, tão-
somente, a competência para examinar a observância de formalidades legais e regimentais. Verificada a inobservância
de qualquer formalidade essencial, poderá o Poder Judiciário decretar a nulidade do ato, mas, em hipótese alguma,
substituir-se à Câmara, para perquirir da existência ou inexistência da infração, como restou assentado na decisão
recorrida em dado instante quando o juízo a quo pronunciou-se in verbis:

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“Pois bem, percebo que o autor confessa a contratação de 1465 (um mil quatrocentos e
sessenta e cinco) servidores temporários no ano de 2021. Resta evidenciado neste juízo superficial
que houve uma diminuição diretamente proporcional de prestadores de serviço de pessoa física, os
chamados “planilhados”.

Assim, a própria comissão processante, em seu relatório final, reconhece que, descontados
a quantidade de 1.114 (um mil, cento e quatorze) trabalhadores que prestavam “serviço de pessoa
física”, o vultoso montante de contratação de servidores temporários cai vertiginosamente. Entretanto,
a comissão processante despreza esse dado e escolhe com exclusividade “a mudança de vínculo” (de
prestadores de serviço para servidores temporários, sem realização de concurso público ou a
prestação de processo seletivo simplificado), como causa suficiente para a condenação do então
prefeito.

É sabido que a condição de servidor (temporário ou efetivo) é vantajosa para o trabalhador,


pois a ele são garantidos direitos e vantagens protegidos por lei, o que não é possível em um contrato
de prestação de serviço de pessoa física. Deste modo, é imperioso se reconhecer que houve uma
melhora na condição dos trabalhadores responsáveis pela continuidade do serviço público, que,
dentre os vínculos precários e ilegais, a condição de servidor temporário é a que melhor dignifica o
trabalhador.

Ora, se não houve acréscimos significativo de trabalhadores na máquina pública, mas


mudança de vínculo com o Município, se essa mudança trouxe vantagens para o trabalhador que
estava a margem de seus direitos funcionais e a realidade impede de razoavelmente se exigir a
imediata legalização dos estado de coisas ilegais sem prejuízo da continuidade do serviço público,
falece causa de pedir ou a justa causa para o processamento da investigação.”

Nesse ponto da decisão o juízo praticamente assume que, sob o aspecto administrativo, em especial sobre a
estruturação do serviço público, havia reiterada ofensa ao princípio da legalidade em tempos idos, sem que o Fiscal da
Lei tivesse adotado alguma providência para correção dos rumos. Ao mesmo tempo, deixou antever um juízo prematuro
quanto a valoração do resultado para a tipificação do delito (em caso de eventual julgamento por crime de
responsabilidade – art. 1º, XII do DL 201/67), uma vez que se tratando de crime de contra a administração pública, será
sempre conveniente perquirir se o agente atuou em prol do interesse público, e nesse caso, não haveria crime a punir.

Essa carga valorativa está fora do contexto do caso em exame, mesmo porque a competência para o
julgamento nos termos do art. 4º do DL 201/67 é da Câmara Municipal.

Cumpre ressaltar que nada impedirá que o juízo a quo exercite a valoração dos motivos das contratações em
caso de aforamento de ação civil pública com fundamento em ato de improbidade administrativa, pois, até mesmo em
caso de denúncia do MP por crime de responsabilidade (art. 1º do DL 201/67) essa valoração cabe ao Tribunal.

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Finalmente, necessário reconhecer que a decisão teceu uma relação pela qual 1.114 contratos temporários
teriam surgido em substituição aos “planilhados”, contudo não fez referência a contratação de mais 342 temporários,
totalizando 1.465 contratações sem respaldo legal.

Ante tais fundamentos, em juízo de cognição sumária, entendo pela inexistência de vícios no processo
Político-Administrativo que resultou na cassação do mandado do agravado pelo que CONCEDO O EFEITO
SUSPENSIVO ao recurso para restaurar todos os efeitos do Processo nº 002/2021-CEPC/CMO, bem como do Decreto
Legislativo nº 009/2021-CMO, que cassou o mandato do agravado.

Intime-se para o contraditório.

Colha-se a manifestação do Parquet.

Voltem conclusos para julgamento.

Servira a presente como mandado.

P.R.I.C.

Belém(PA),assinado na data e hora registradas no sistema.

Desa. LUZIA NADJA GUIMARÃES NASCIMENTO

Relatora

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