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UNIVERSIDADE SAVE

A Linguagem como Representação Projectiva do Mundo em Ludwig Wittgenstein do


Tractatus Logico-Philosophicus

Licenciatura em Ensino de Filosofia com Habilitações em Ciências Religiosas

Job Baptista Taquira

Maxixe
2020
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UNIVERSIDADE SAVE
FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

A Linguagem como Representação Projectiva do Mundo em Ludwig Wittgenstein do


Tractatus Logico-Philosophicus

Licenciatura em Ensino de Filosofia Com Habilitações em Ciências Religiosas

Monografia científica apresentada ao


Departamento de Letras e Ciências Sociais, para a
obtenção do grau académico de Licenciatura em
Ensino de Filosofia com Habilitações em
Ciências Religiosas.

Supervisor: Ma. Alcido Moniz Godi Nhumaio

Job Baptista Taquira

Maxixe
2020
ii

Índice
Declaração.................................................................................................................................iv
Dedicatória..................................................................................................................................v
Agradecimentos.........................................................................................................................vi
Resumo.....................................................................................................................................vii
Introdução...................................................................................................................................8
CAPITULO I: GÉNESE E INFLUÊNCIAS DO PENSAMENTO DE LUDWIG
WITTGENSTEIN.....................................................................................................................10
1.1.Contexto Familiar e Académico do Autor..........................................................................10
1.2.Influências do Ambiente Austríaco sobre o Pensamento de Wittgenstein.........................12
1.3.Influências do Ambiente Analítico da Inglaterra sobre o Pensamento de Wittgenstein.....13
1.4.Produção Literário - Filosófica...........................................................................................15
CAPÍTULO II: A ANÁLISE LÓGICA DA LINGUAGEM COMO MÉTODO DE
COMPREENSÃO DOS PROBLEMAS FILOSÓFICOS........................................................17
2.1. Noção de Análise Lógica...................................................................................................17
2.2. A Filosofia Analítica: O Cerne da Problemática sobre Análise Lógica da Linguagem....18
2.2.1. A Análise Lógica da Linguagem como Separação do Sentido e Referência no Projecto
Logicista de Gottlob Frege........................................................................................................20
2.2.2. Bertrand Russell e a Análise Lógica da Linguagem como Elucidação dos Problemas
Semânticos acerca das Descrições Definidas...........................................................................22
2.2.3.Ludwig Wittgenstein do Tractatus: Um Herdeiro Antagónico das Concepções Fregeanas
e Russellianas de Análise Lógica da Linguagem......................................................................24
CAPÍTULO III: A FORMA LÓGICA COMO CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE DE
REPRESENTAÇÃO DO MUNDO PELA LINGUAGEM......................................................26
3.1. Noção de Mundo em Wittgenstein: O Mundo como Totalidade dos Factos.....................26
3.2. Da concepção de Linguagem a Teoria de Figuração lógica dos Factos............................27
3.3. A Forma Lógica como Determinante do Limite da Linguagem........................................31
3.3.1. A Filosofia como Critica da Linguagem.........................................................................35
CAPITULO IV: APRECIAÇÕES CRÍTICAS DA TEORIA TRACTATIANA DE
LINGUAGEM COMO REPRESENTAÇÃO DO MUNDO....................................................38
iii

4.1. Influência do Tractatus ao Critério Neopositivista de Significado do Circulo de Viena. .38


4.2. O Pragmatismo Linguístico das Investigações Filosóficas como Crítica da Linguagem
Representancional Tractatiana.................................................................................................39
Considerações Finais................................................................................................................42
Referências Bibliográficas........................................................................................................44
iv

Declaração

Declaro que esta Monografia científica é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do supervisor. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliográfica final.

Declaro ainda que este trabalho nunca foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.

Maxixe, _____ de Setembro de 2020

________________________________

(Job Baptista Taquira)


v

Dedicatória

À toda minha família e minha namorada.


vi

Agradecimentos

Em primeiro lugar, ao meu supervisor Ma. Alcido Moniz Nhumaio pela afeição e prontidão
que teve para acolher-me e orientar-me na elaboração deste trabalho. Também pela sugestão e
desafio que colocou-me para escrever sobre o Tractatus Logico-Philosophicus, ao invés das
Investigações Filosóficas, como anteriormente pretendia.

Aos docentes da Universidade Save-Maxixe, em especial aos do Departamento de Letras e


Ciências Sociais, que de forma lenta e progressiva nutriram-nos de conhecimento,
ensinamentos e acompanhamento durante a nossa formação académica.

À minha família, em especial aos meus pais e irmãos por estarem sempre presentes nos
momentos angustiosos do meu percurso estudantil, sobretudo pelo incansável apoio financeiro
e confiança que depositaram no meu potencial.

À minha namorada, Florinda pelo estímulo e apoio moral.

Aos meus amigos e colegas da turma, especialmente ao Ailton, Elídio, Elsa, Erica, Francisco,
Héldio, Jorge, Joel, Matusse, Nelson, Rego e Valdimiro, pelo companheirismo, convivência e
troca de experiência que contribuíram na minha formação humana e académica.

Sobretudo, ao Bom Deus pelo dom gratuito da vida, protecção e forças para encarar cada
dificuldade e obstáculo enfrentados ao longo do meu percurso académico como uma
oportunidade de aprendizado.
vii

Resumo

Esta monografia versa sobre a concepção de linguagem em Wittgenstein do Tractatus Logico-


Philosophicus. Por isso, a mesma enquadra-se na Filosofia da Linguagem. Na perspectiva tractatiana,
a linguagem representa projectivamente o mundo, pois existe uma correspondência biunívoca entre a
estrutura lógica da linguagem e a estrutura lógica do mundo. Essa correspondência é dada através da
forma lógica, que constitui o elemento comum entre elas e a condição de possibilidade de
representação do mundo. Desta forma, para cada elemento existente no domínio do mundo, existe um
elemento correspondente no domínio da linguagem. O próprio Wittgenstein na sua segunda obra,
Investigações Filosóficas (1953), adopta uma postura pragmática com relação à linguagem, em
oposição à sintáctica tractatiana. Nessa nova fase, o filósofo abandona a concepção meramente
representacional da linguagem como critério de determinação do significado linguístico e passa a
aplicar a noção de significado equiparando ao uso que fizemos das palavras e expressões em diferentes
contextos sociais e conversacionais. Para a materialização desta monografia, servimo-nos da pesquisa
bibliográfica, auxiliada pela hermenêutica textual.
Palavras-chave: Análise Lógica, Linguagem, Representação, Mundo, Forma Lógica.
8

Introdução

A presente Monografia versa sobre a concepção de linguagem em Ludwig Wittgenstein do


Tractatus Logico-Philosophicus e enquadra-se na Filosofia da Linguagem.

O nosso objectivo geral é compreender como a linguagem representa projectivamente o


mundo em Ludwig Wittgenstein do Tractatus Logico-Philosophicus. Este por sua vez, é
operacionalizado por quatro objectivos específicos. O primeiro, procura apresentar a génese e
as influências do pensamento de Wittgenstein; o segundo, procura desenvolver a análise
lógica da linguagem como método de compreensão dos problemas filosóficos; o terceiro,
procura explicar a forma lógica como condição de possibilidade de representação do mundo
pela linguagem; e o quarto, procura analisar a teoria tractatiana de linguagem como
representação do mundo.

Os problemas filosóficos e da humanidade em geral surgem de um mau entendimento da


lógica da nossa linguagem. No que se refere a esse ultimo problema, é notório nos dias
actuais, conflitos sociais, políticos e ideólogos devido a contra-sensos e equívocos linguísticos
que contribuem para a perda de força da expressão linguística e o esvaziamento dos discursos,
revelando um profundo estado de dúvida em relação a efectiva contribuição da linguagem em
nossas vidas. Isto ocorre porque na construção dos discursos, não se leva em conta o correcto
funcionamento lógico da linguagem. Portanto, como afirma Wittgenstein, encontramo-nos
envolvidos numa luta com a linguagem, pois estamos diante de uma linguagem que não
consegue expressar verdadeiramente o mundo.

Na perspectiva tractatiana, a linguagem é uma estrutura lógica composta de proposições, cuja


função é representar projectivamente o mundo. Desta forma, a nossa investigação procura,
pois, esclarecer a seguinte questão: de que modo essa linguagem representa projectivamente
o mundo?

A escolha do tema e do autor deve-se a uma razão fundamentalmente académica, pois ao


longo das aulas da cadeira de Filosofia da Linguagem, o docente orientou-nos para a leitura
obrigatória, as duas principais obras do autor (Tractatus Logico-Philosophicus e
Investigações Filosóficas), e as obras que tratam do assunto da cadeira na perspectiva do
autor, que deviam ser discutidas na sala de aulas. Das leituras recomendadas para as aulas,
nasceu o nosso interesse pela matéria.
9

A revisão bibliográfica e hermenêutica textual constituíram os principais métodos que


utilizamos na materialização da presente monografia. A revisão bibliográfica consistiu na
pesquisa, recolha e compilação das principais obras do autor e outras que discutem em volta
do assunto em alusão com objectivo de aprofundar o trabalho e, a hermenêutica textual
ajudou-nos na leitura, compreensão e interpretação de diversos textos permitindo o
desenvolvimento do tema com base nas técnicas de operação tais como, a elaboração de
resumos e fichas de leitura.

No concernente à estrutura, o trabalho é constituído por quatro capítulos. O primeiro, aborda


as raízes e principais influências que determinaram o pensamento de Wittgenstein, tendo em
conta o seu itinerário biográfico e o percurso académico. O segundo, trata da análise lógica da
linguagem como método de compreensão dos problemas filosófico. O terceiro, ocupa-se da
forma lógica como condição de possibilidade de representação do mundo pela linguagem. E,
por fim, o quarto, faz a apreciação crítica da teoria tractatiana de linguagem como
representação do mundo.

O nosso estudo baseia-se na obra Tractatus Logico-Philosophicus (1921). Esta obra é escrita
em aforismos, portanto, a sua chamada de texto no presente trabalho aparece
convencionalmente pelo símbolo “§” que significa aforismo, seguido da respectiva numeração
textual. Tratamos também, as ideias do prefácio escrito pelo autor como secção da obra e nas
chamadas de texto apenas indicamos pelo respectivo subtítulo, suprimindo o nome do autor.
10

CAPITULO I: GÉNESE E INFLUÊNCIAS DO PENSAMENTO DE LUDWIG


WITTGENSTEIN

No presente capítulo apresenta-se os aspectos mais relevantes da vida e influências do


pensamento do autor, de modo a compreender as circunstâncias que deram originarem o seu
pensamento filosófico e obras.

1.1. Contexto Familiar e Académico do Autor

Ludwig Joseph Johann Wittgenstein nasceu a 26 de Abril de 1889, em Viena, na Áustria,


numa família abastada e propícia ao desenvolvimento intelectual e artístico. Seu pai, Karl
Wittgenstein, era um grande empresário industrial, patrocinador de artistas e promotor de
apresentações musicais no salão da sua casa. Em sintonia com esse ambiente, Wittgenstein e
os seus sete irmãos tiveram uma educação artística admirável, em especial para a música, de
tal forma que influenciou na estrutura técnico-argumentativa do Tractatus (cf. ROCHA, 2018:
153).

Por outro lado, apesar de abastada, a família Wittgenstein apresentava traços de muita
depressão e de tendências suicidas. Três dos irmãos do autor cometeram suicídio, dois deles
por não serem deixados prosseguir as suas vocações artísticas pelo seu pai e outro durante a
guerra. Além dos seus irmãos, várias vezes o filósofo também pensou na possibilidade de se
suicidar.

Até aos 14 anos de idade, pelas condições financeiras da sua família, Wittgenstein recebeu
uma educação domiciliar. Em 1904 ingressou numa escola técnica em Linz e em 1906 iniciou
seus estudos de engenharia mecânica na Technische Hochschule de Berlim. Dois anos depois
foi para Universidade de Manchester estudar engenharia aeronáutica, tendo se destacado por
construir um motor de jato. E o seu interesse pela Filosofia da Matemática pura e da Lógica o
levou a Gottlob Frege (cf. Stanford Ecyclopedia of Philosophy. Acessado em 05 de Fevereiro
de 2020). E, “seguindo o conselho de Frege, em 1911, Wittgenstein foi para Cambridge
estudar com Bertrand Russell” (MARCONDES, 2010: 272).

Durante a sua estadia em Cambridge, entre os anos de 1911 a 1913, Wittgenstein estudou
filosofia e os fundamentos da lógica com Russell. Entretanto, apesar de estar extremamente
envolvido nos estudos e nas discussões com seu mestre, Wittgenstein sentia que não podia
chegar à raiz dos problemas que o preocupavam enquanto estivesse em Cambridge. Portanto,
decidiu partir para Noruega, em busca de isolamento para reflectir sobre os problemas
11

filosóficos herdados de Russell e Frege, e descobrir suas soluções (cf. Stanford Ecyclopedia
of Philosophy. Acessado em 05 de Fevereiro de 2020).

Em 1913, o autor voltou a Áustria e começou a escrever as notas e rascunhos da sua primeira
obra, o Tractatus Logico-Philosophicus, publicado em alemão e traduzido para Inglês em
1921 (ROVIGHI, 2011: 481). Após a publicação do Tractatus, Wittgenstein achou que não
tinha mais nada a dizer em filosofia, retirou-se, ofereceu sua herança aos irmãos e perseguiu
várias profissões, tais como jardineiro, professor, arquitecto, etc.

Divorciado da filosofia, porque achava ter resolvido todos os problemas filosóficos. Como
salienta o próprio autor no prefácio do seu livro, “[…] a verdade dos pensamentos
comunicados aqui me parece intocável e definitiva, de modo que penso ter resolvido os
problemas no que é essencial” (PREFÁCIO, 1968: 54). Somente em 1929, “Wittgenstein
voltou a Cambridge para retomar a sua vocação filosófica, depois de ter sido exposto as
discussões sobre a filosofia da matemática e da ciência com os membros do Circulo de Viena,
cuja concepção de empirismo lógico era derivada do seu Tractatus” (cf. LÊ LIVROS, 2014:
s/p). E por outro lado, influenciado pela sua experiência como professor escolar e da sua
reflexão sobre como as crianças adquirem e usam a linguagem. Em Junho desse mesmo ano,
“o filósofo obteve o grau de doutoramento, tendo usado o Tractatus Logico-Philosophicus,
como sua tese; e no ano seguinte, sucedeu Moore na cátedra de filosofia” (ABBAGNANO,
2000: 146).

Durante os primeiros anos em Cambridge, a sua concepção de filosofia e seus problemas


sofreram mudanças dramáticas que são registadas em vários volumes de conversas, notas de
aulas e cartas. Como assevera Condé (1998: 28),

Nas décadas de 1930 e 1940, Wittgenstein conduziu seminários em


Cambridge desenvolvendo a maioria das ideias que ele pretendia publicar em
seu segundo livro, as Investigações Filosóficas, incluído a mudança da lógica
formal para a linguagem comum, novas reflexões sobre a psicologia e a
matemática e um cepticismo geral em relação as pretensões da filosofia. […],
em 1945, ele preparou o manuscrito final das Investigações Filosóficas, mas
no último minuto, retirou-o da publicação e apenas autorizou sua publicação
póstuma.

Alguns anos depois, Wittgenstein continuou o seu trabalho filosófico, e viajou para os Estados
Unidos e Islândia, e retornou a Cambridge, onde foi diagnosticado com câncer e morreu a 29
de Abril de 1951.
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1.2. Influências do Ambiente Austríaco sobre o Pensamento de Wittgenstein

Wittgenstein viveu em um período de grande transformações políticas, sociais e económicas


na Áustria. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o filósofo alistou-se como voluntário
no exército austríaco, tendo sido prisioneiro dos italianos (cf. Stanford Ecyclopedia of
Philosophy. Acessado em 05 de Fevereiro de 2020).

A guerra trouxe profundas sequelas para o nosso autor, devido às suas consequências aliadas a
morte do seu amigo e colega de estudos David Pinsent, no campo de batalha, a quem o
filósofo dedica o seu Tractatus. De acordo com Silva (2011: 285), “durante a guerra,
Wittgenstein experimentou situações-limite que contribuíram para que a reflexão sobre o
sentido da vida esteja presente na sua filosofia, ainda que ele não faça dela uma filosofia da
existência”. Portanto, é a partir dessa experiência que a última parte do Tractatus, que versa
sobre ética, estética, Deus e o sentido da vida, é escrita.

No âmbito linguístico, o filósofo austríaco viveu envolta de um ambiente marcado por uma
crise radical da linguagem. Conforme nos é ilustrado por Ouriques (2014: 9), nos finais do
século XIX e no início do século XX, Viena tornou-se um centro gerador de profundas
transformações em diversos domínios da cultura, caracterizada de modo geral por uma crítica
radical à linguagem, com objectivo de denunciar e superar o esvaziamento do discurso, isto é,
a perda de força da expressão da linguagem.

Na mesma linha de pensamento Silva (2008: 85), afirma que “a crise da linguagem que
caracteriza Viena fin-de-siecle1, revela-nos um profundo estado de dúvida em relação a
efectiva contribuição da linguagem em nossas vidas”. Com efeito, alguns intelectuais
vienenses começaram a denunciar a crescente perda de limites efectivos no uso da linguagem
e de signos nos mais variados contextos. Como nos elucida Ouriques (loc. cit.), “[…] as várias
reflexões e questionamentos sobre o significado da linguagem foram demarcados pelas
seguintes dicotomias: pode a linguagem verdadeiramente nos comunicar algo? O que é
linguagem? Qual é a sua essência?”.

Wittgenstein, de certa forma, transfere para a sua obra essa preocupação presente na
atmosfera de Viena, na medida em que ele percebe esse esvaziamento do discurso e faz do
estudo da linguagem seu interesse filosófico principal.

1
Finais do século XIX e inicio do século XX.
13

1.3. Influências do Ambiente Analítico da Inglaterra sobre o Pensamento de


Wittgenstein

As ideias sobre a natureza da linguagem e seus fundamentos lógicos idealizados por


Wittgenstein no Tractatus são produto das influências dos filósofos analíticos da Inglaterra.
Portanto, organizamos o nosso subtítulo de modo a tratar das influências mais importantes
para a elaboração da essência e de análise lógica da linguagem wittgensteiniana. Para tal,
descreveremos as influências de Heinrich Hertz, Gottlob Frege e Bertrand Russell.

O pensamento crítico de Wittgenstein sobre a natureza da linguagem é profundamente


influenciado pelo sistema mecânico do físico Heinrich Hertz (1857-1894), exposto na sua
obra Os Princípios da Mecânica (1894), o qual Hertz defende que todo modelo científico
deve ser lógico e corresponder ao objecto representado (cf. PINTO, 2002: 10).

Na interpretação de Simões (2010: 156), a concepção do mundo presente no Tractatus é fruto


da influência do sistema mecânico de Hertz, o que possibilita a comprovação de tal hipótese é
a identificação dos elementos desse mesmo mundo (objectos simples, espaço lógico e estado
de coisa), com os elementos da mecânica hertziana (partículas materiais coordenadas, pontos
materiais, sistemas de pontos materiais e estrutura). Na mesma linha de pensamento, Griffin
(apud SILVA, 2010: 9), assevera que, “é possível constatar um ponto de aproximação entre o
conceito de objectos no Tractatus e o conceito de partículas em Heinrich Hertz, além do
pressuposto lógico e teoria de figuração que é muito semelhante em ambos os autores”.

Além disso, ambos os sistemas defendem que todo modelo deve estar em conformidade com
aquilo que descreve, neste sentido, ambos concebem a noção de isomorfismo como um
postulado das suas respectivas teorias. Portanto, inspirado pela tarefa crítica empreendida por
Hertz de determinar os requisitos indispensáveis a todo modelo científico, Wittgenstein
realiza no Tractatus uma critica da linguagem que visa dissolver as perplexidades linguísticas
(SILVA, 2009: 134).

A magna influência sobre o pensamento de Wittgenstein é exercida por Gottlob Frege e


Bertrand Russell. De acordo Marcondes (2010: 272), “O Tractatus deve ser entendido a partir
do contexto filosófico das obras de Gottlob Frege e Bertrand Russell”. Em paralelo, o filósofo
austríaco não se priva de reconhecer no prefácio do Tractatus a influência dos seus mestres,
“Quero apenas mencionar que devo grande parte do estímulo a meus pensamentos às
grandiosas obras de Frege e aos trabalhos de meu amigo Sr. Bertrand Russell” (PREFÁCIO,
1968: 53).
14

Segundo Condé (1998: 74), as ideias fregeanas, impactam directamente no objectivo do


Tractatus na medida em que um dos objectivos do livro era confirmar a possibilidade de uma
linguagem ideal. Uma vez que em sua Conceitografia, publicada pela primeira vez em 1879,
Gottlob Frege vai defender a ideia de que a linguagem natural é insuficiente para expressar as
relações lógicas complexas. Desta forma, elas constituem uma das inspirações para o carácter
antimetafísico patente em algumas passagens do Tractatus, em particular no § 6.53, “ O
método correcto da filosofia seria propriamente este: nada dizer senão o que se pode dizer,
isto é, proposições das ciências naturais […]”. A outra herança de Frege que Wittgenstein se
vale é “a noção do conteúdo conceitual para a determinação da essência da linguagem pela
analise da proposição declarativa, ao mesmo tempo que refuta as distinções fregeanas de
sentido e significado” (SOARES, 2013: 182).

Por outro lado, o Tractatus de Wittgenstein apresenta grandes traços da influência da teoria
das descrições definidas proposta por Bertrand Russell. Pois, como afirma Ouriques (2014:
63), “a tarefa primitiva wittgensteiniana de expulsar da filosofia tudo o que representa mero
contra-senso ganhou força com a teoria das descrições definidas”. Por sua vez, Alencar (2006:
240), defende a tese de que a noção de mundo tractatiana está directamente relacionada á
teoria das descrições definidas de Russell, uma vez que ao contrário da perspectiva de Frege
que defendia uma ontologia de conceitos e objectos que se resume a uma análise gramatical
superficial, Wittgenstein, a semelhança de Russell vai se valer da análise da forma lógica
profunda da proposição até aos designados objectos simples. Por seu turno, Ribeiro (2005:
84) “sustenta que Wittgenstein compartilha com Russell a ideia de que o significado de um
nome é seu portador”.

Entretanto, além das questões técnicas de análise lógica da linguagem, “o principal mérito de
Russel para o Tractatus, foi efectivamente a teoria das descrições definidas, que se mostrou
como um exemplo de uma teoria de clarificação que Wittgenstein admirava e buscava quando
escreveu o Tractatus” (LÊ LIVROS, 2014: s/p). A teoria russelliana das descrições definidas
possibilitou Wittgenstein romper a forma gramatical e especificar a essência da linguagem, o
que implica especificar a essência do mundo. Como é expresso no § 5.4711, “especificar a
essência da proposição significa especificar a essência de toda descrição e, portanto, a
essência do mundo”.
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Em suma, Frege e Russell contribuíram para o desenvolvimento da ideia de que a análise


lógica da linguagem oferece a clarificação dos problemas filosóficos. Visto que, “as suas
abordagens procuram compreender o funcionamento lógico da linguagem científica e
reforçam a crença na possibilidade de conhecer o mundo através desta linguagem”
(MOREIRA, 2009: 16).

1.4. Produção Literário - Filosófica

Durante o seu percurso intelectual, Wittgenstein produziu vários escritos, desde livros, cartas,
artigos, entre outros; embora muitas das suas produções literárias tenha uma publicação
póstuma. Entretanto, neste item, nosso objectivo não consiste em fazer um inventário
completo dos escritos do nosso autor, pelo que, destacaremos as suas duas principais
produções, da qual achamos que representam a síntese das ideias expostas nos restantes
escritos.

Tractatus Logico-Philosophicus: é a única obra que o filósofo publicou em vida, em 1921.


Nela, através de um conjunto de aforismos divididos de 1 a 7, Wittgenstein procura mostrar
uma estrutura lógica que pode estabelecer o correcto funcionamento da linguagem. Tal
estrutura, deve corresponder à realidade dos factos. Pois para o autor, as proposições revelam
a estrutura da linguagem, que por sua vez manifesta a estrutura do mundo. É a partir daí que
ele afirma a ideia segundo o qual “sobre aquilo que não se pode falar, deve se calar”. Para
demonstrar que a estrutura da linguagem deve corresponder a realidade, ou seja, a totalidade
das proposições devem corresponder as totalidades dos factos. Portanto, a estrutura da
linguagem determina a estrutura do mundo enquanto verdadeira, neste sentido, a linguagem é
um retrato do mundo.

Investigações Filosóficas: publicada postumamente, em 1953, nesta obra Wittgenstein vai


abandonar as a ideia defendida no seu primeiro livro (Tractatus Logico-Philosophicus),
segundo o qual “a estrutura lógica da linguagem determina a estrutura do mundo”, para
afirmar o contrario, “a estrutura do mundo é que determina a estrutura da linguagem”, pois, a
linguagem não é a captura conceitual da realidade, isto é, não é a reprodução dos objectos,
mas sim um jogo que adquire o seu significado no uso social, nos diferentes modo de ser e de
viver na qual a fala esta inserida.

Wittgenstein, Portanto, deixa de entender a linguagem como detentora de uma estrutura


básica e uma forma lógica, e começa a perceber a linguagem com base em seu uso no meio
16

dos chamados jogos de linguagem, no qual o significado de uma palavra é dado pelo seu uso
na linguagem de acordo com contexto em que ela está inserida.

A ruptura radical que caracteriza as duas principais obras de Wittgenstein que expomos
acima, fez com que na interpretação de Cordón & Martinez (1995: 129), “muitos estudiosos
das obras filosóficas de Wittgenstein o dividissem em dois períodos. O do primeiro
Wittgenstein, que corresponde ao seu Tractatus; e o segundo Wittgenstein, cuja síntese do seu
pensamento encontramos nas Investigações Filosóficas”. Porém, em estudos mais recentes,
essa divisão foi questionada. Alguns intérpretes reivindicaram uma unidade entre todos os
estágios do seu pensamento, outros falam de uma divisão mais subtil, enquanto outros ainda
acrescentam estágios como Wittgenstein do meio e o terceiro Wittgenstein (cf. Stanford
Ecyclopedia of Philosophy, Acessado em 05 de Fevereiro de 2020).

Perante essa dicotomia em torno das fases do pensamento do nosso autor, doravante
designaremos por Wittgenstein do Tractatus, quando nos referirmos ao autor do Tractatus
Logico-Philosophicus; e Wittgenstein das Investigações, quando nos referirmos ao autor das
Investigações Filosóficas.
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CAPÍTULO II: A ANÁLISE LÓGICA DA LINGUAGEM COMO MÉTODO DE


COMPREENSÃO DOS PROBLEMAS FILOSÓFICOS

Procura-se com o capítulo em causa, desenvolver a análise lógica da linguagem como método
de compreensão dos problemas filosóficos. Para o efeito, apresenta-se a noção de análise
lógica; seguido do debate em torno da problemática de análise lógica da linguagem no âmbito
da filosofia analítica, enfatizando os contributos de Gottlob Frege e Bertrand Russell e,
posteriormente a ruptura e continuidade do autor do Tractatus com as concepções fregeanas e
russellianas de análise lógica da linguagem.

2.1. Noção de Análise Lógica

Para apresentarmos a noção de análise lógica é necessário perceber o que significa análise. A
palavra “análise” vem do grego “analyein”, que significa desligar, dissolver ou decompor.
Segundo Japiassú & Marcondes (2001: s/p), “a análise lógica é um processo de decomposição
de uma substância ou conteúdo complexo em seus diversos elementos constituintes, a fim de
se obter uma melhor compreensão”. Em consonância, Marcondes (2004: 8), afirma que
“análise lógica significa compreender minuciosamente certos conceitos básicos para depois
defini-los, ou seja, significa estabelecer o significado dos conceitos fundamentais, como ponto
de partida para compreender os demais”. Já para D'Agostini (2003: 281), “a análise lógica
consiste em esmiuçar o que se dispõe, isto é, o pensamento”. Na mesma perspectiva,
Abbagnano (2007: 629), sustenta que “a análise lógica consiste em quebrar ou romper um
conceito em suas partes mais simples, de modo a alcançar sua estrutura primordial”.

Numa visão geral a questão de análise faz parte da investigação filosófica desde os primórdios
da tradição filosófica. Para falarmos dos primórdios do uso do método analítico temos que nos
reportar à época de Platão e Aristóteles. O primeiro empreende uma “análise conceitual em
sua busca da definição de ʻSofistaʼ no diálogo homónimo, quando pela divisão, separação e
decomposição, busca os vários elementos que entram na definição de um conceito e as várias
distinções que podem ser feitas a partir da consideração de um conceito geral”
(MARCONDES, 2004: 10). Quanto a Aristóteles, “a sua distinção de causalidade que mostra
que o conceito de ʻcausaʼ pode ser entendido de quatro modos diferentes (formal, material,
eficiente e final), constitui uma análise do conceito de causa, da qual resultam essas
distinções, permitindo uma definição mais precisa e desfazendo equívocos” (Idem).

Por sua vez, Descartes, ao estabelecer as regras do método, propõe a análise como a única
regra que pode levar à evidência de tudo aquilo que pode-se conhecer, através da
18

desarticulação do complexo em simples, permitindo à luz do intelecto dissipar as


ambiguidades e equívocos. Já em “Kant em sua concepção de representação, mostra
igualmente que a compreensão de um conceito depende da sua definição e que para defini-lo,
é preciso analisa-lo, ou seja, decompô-lo em seus elementos constitutivo” (Ibid: 11).

Entretanto, foi justamente no século XIX, com a filosofia analítica que a análise lógica passou
a ser utilizada como um método de compreensão da linguagem para a resolução dos
problemas filosóficos. Inaugurando a chamada “virada linguística da filosofia”, movimento
que introduz a análise lógica da linguagem no âmbito filosófico, passando a conceber a
filosofia como uma pesquisa sobre a linguagem, ou seja, como uma ciência que trata da
análise do significado de enunciados linguísticos.

A análise lógica na perspectiva da filosofia da analítica, é vista como um método de


investigação filosófica, que revela a essência da linguagem examinando sua estrutura, isto é,
mostrando como os signos simples se relacionam entre si para formar signos mais complexos,
e como se dá a relação entre os signos linguísticos e o mundo (cf. D'AGOSTINI, 2003: 284).

2.2. A Filosofia Analítica: O Cerne da Problemática sobre Análise Lógica da Linguagem

A Filosofia analítica pode ser entendida como um movimento cujo interesse está voltado
essencialmente para a análise lógica da linguagem como procedimento de resolução dos
dilemas filosóficos. Como atesta Medina (2007: 55),

A filosofia analítica define sua tarefa como a análise lógica dos conceitos,
visando desse modo elucidar os problemas filosóficos [...]. A análise do
conceito como parte da tentativa de solução de um problema filosófico não
depende de uma compreensão da história do conceito, de suas origens e
evolução, mas sim, na concepção tipicamente analítica, apenas de
determinação da definição desse conceito da forma mais clara e precisa
possível.

Em termos gerais, a filosofia analítica pode ser caracterizada por ter como ideia principal a
concepção de que a filosofia deve realizar-se pela análise lógica da linguagem. Sua questão
principal consiste em, ʻcomo uma proposição tem significado?ʼ (D'AGOSTINI, op. cit: 285).
Portanto, a filosofia analítica pondera que o tratamento e a solução de problemas filosóficos
devem ser por meio da análise lógica da linguagem. Entretanto, “não se trata de uma língua
empírica (português, inglês, francês, etc.), mas da linguagem como estrutura lógica subjacente
a todas as formas de representação linguísticas e mentais” (cf. DOUTRA, 2018: 508).
19

A problemática de análise lógica da linguagem remonta ao desenvolvimento da lógica em


finais do séc. XIX, levado a cabo sobretudo a partir dos trabalhos de Gottlob Frege, Bertrand
Russell e Ludwig Wittgenstein, no qual vários interpretes, assumem ser nas obras desses
autores que se define a problemática de filosofia da linguagem e que eles representam ainda, o
exemplo paradigmático de uma nova forma de abordar os problemas tradicionais da filosofia
a que se convencionou chamar de “filosofia analítica”. Como afirma Marcondes (2010: 266),
“ […] entre os principais filósofos da filosofia analítica […], há diferenças profundas, porém,
há em comum o projecto básico de desenvolvimento de uma análise lógica da linguagem e a
adopção da forma lógica da proposição como ponto de partida da reflexão filosófica”.

Entretanto, de acordo com Medina (2007: 49), a filosofia analítica não teve um
desenvolvimento linear e homogéneo, ao contrário, deu-se de forma dispersa no tempo e no
espaço, comportando uma heterogeneidade de concepções, que se podem resumir em duas
grandes orientações. A primeira chama-se semântica clássica ou filosofia da linguagem ideal,
que congrega a filosofia de Frege, Russell e Wittgenstein do Tractatus. O seu traço comum é
a preocupação com a fundamentação da ciência, utilizando a análise lógica da linguagem
como método fundamental.

A segunda, conhecida como filosofia da linguagem ordinária, parte da influência da análise


conceitual proposta por Morre e Wittgenstein das Investigações Filosóficas. Os filósofos
dessa vertente partem de suas intuições enquanto falantes e examinam as propriedades
semânticas das expressões linguísticas de acordo com o seu uso pelos falantes em
determinados contextos, valorizando a linguagem tal como é usada concretamente (Ibid: 50).

Nesta perspectiva, será feito a seguir um estudo crítico das contribuições de Gottlob Frege e
Bertrand Russell que exerceram grande impacto sobre Tractatus. Pois, partimos do
pressuposto de que a concepção da linguagem defendida nesta magna obra que conduz a
nossa pesquisa surge como ruptura da concepção de análise lógica da linguagem dos seus
mestres. Como assevera Mafredo (apud SIVA, 2010: 9), “as teses fundamentais do Tractatus
são inteligível somente se entendido como uma radicalização das doutrinas de Gottlob Frege e
Bertrand Russell”.
20

2.2.1. A Análise Lógica da Linguagem como Separação do Sentido e Referência no


Projecto Logicista de Gottlob Frege2.

O projecto logicista de Frege tinha como principal objectivo fundamentar a aritmética na


lógica. Desde a fase inicial da sua carreira académica, “Frege não tinha interesse pela
actividade matemática propriamente dita, mas em discutir seus fundamentos e o modo como
construir uma filosofia da matemática com bases sólidas, cujo ponto de partida, segundo o
filósofo, encontra-se na lógica” (OLIVEIRA, 2015: 4).

Porém, na efectivação desse projecto, Frege percebe a inadequação da linguagem natural para
tais fins, isso é, o autor percebe que a linguagem natural está repleta de ambiguidades e
imperfeições para expressar as relações lógicas complexas. Com base nisso, Frege constrói
uma nova lógica, o qual ele apresenta de modo detalhado na sua obra Begriffsschrift3, de
1879, chamada na tradução portuguesa, “Conceitografia”, ou ainda “Escrita Conceitual”, na
qual constrói uma linguagem logicamente perfeita e transparente, capaz de expressar o
pensamento puro e científico.

Essa a linguagem formal, diferentemente da linguagem natural, garantiria, na visão de Frege,


que “inferências e deduções possam ser realizadas sem incorrer a erros, uma vez que a
linguagem ordinária é imperfeita e ambígua para fins científicos” (GIAROLO, 2011: 41).
Portanto, como sustenta Miguens (2007: 38), “com o Begriffsschrift, Frege pretendia
contornar a vagueza e a ambiguidade que caracteriza as línguas naturais”.

O projecto fregeano de construção de uma linguagem formal e logicamente perfeita, faz surgir
uma teoria da linguagem, exposta em seu famoso artigo “Sobre Sentido e Referência”, de
1892, no qual o filósofo usa a análise lógica para distinguir o sentido e a referência dos nomes
próprios e sentenças assertivas completas, com objectivo de deixar de fora aquilo que não tem
referência no mundo. Essa distinção ocorre à volta de identidade ou de igualdade aritmética
(cf. LASTRA, 2013: s/p). Isto é, “Frege vai concentrar-se no problema do significado das
proposições a partir da relação entre a linguagem e o mundo. Para isso estabelece uma
distinção fundamental entre o sentido e a referência, nos indicando como isso ocorre nos
nomes próprios e nas proposições” (MARCONDES, 2004: 21).

2
Gottlob Frege (1948-1925), foi um matemático, lógico e filosofo alemão que fez contribuições significativas à
lógica e aos estudos da linguagem. Sendo considerado fundador da lógica moderna e da filosofia analítica
contemporânea.
3
Esta obra representa o mais importante desenvolvimento de lógica desde Aristóteles.
21

Nos nomes próprios, a distinção fregeana acerca de sentido e referência é formulada nas
seguintes teses: 1) a referência de um nome próprio é o objecto que por seu intermédio
designamos. 2) O sentido é um modo de representação do objecto designado. Como dá a
entender Souza (2007: 33), “a referência é o objecto denominado pela expressão; já o sentido,
é o modo de apresentação do objecto, ou seja, o modo pelo qual o objecto se dá para nós,
fornecendo seu significado”. Em paralelo, Moreira (2011: 120), sustenta que “em Frege a
referência é o objecto designado por intermédio de um nome próprio; ao passo que, o sentido
equivale a um intermediário entre a expressão linguística e seu referente”. Nas palavras de
Frege,

A referência de um nome próprio é o próprio objecto que por seu intermédio


designamos; as ideias que dele temos são inteiramente subjectivas; entre uma
e outra está o sentido que, na verdade, não é subjectiva como a ideia, mas que
também não é o próprio objecto (FREGE apud SOARES, 2013: 182).

Através de análise lógica Frege reduz a linguagem em seus componentes lógicos essenciais,
traçando uma distinção entre sentido e referência na linguagem. Para o filósofo, um estudo
preciso da linguagem começa com uma compreensão da diferença entre referência (o objecto
ao qual a linguagem se refere) e seu sentido (o modo como uma expressão se refere ao
objecto).

Portanto, o sentido e a referência são dois elementos distintos da significação de um nome


próprio. O nome próprio exprime um sentido e designa uma referência. Nesta perspectiva, o
sentido de um nome próprio é que determina a sua referência e não o contrário, visto que um
objecto pode ser identificado por mais de um nome próprio, ou seja, podem existir infinitos
sentidos para a mesma referência. O sentido é um critério de identificação da referência e não
algo como imagem privada. Assim, de acordo com Frege, o que determina o significado de
um nome é a sua referência na realidade (cf. MIGUENS, 2007: 94).

No seu artigo On Denoting, de 1905, Russell apresenta a sua concepção de análise lógica da
linguagem, “com objectivo de propor uma solução alternativa para o mecanismo referencial
das descrições definidas em posição de sujeito” (PINTO apud MAIA, 2006: 32).
22

2.2.2. Bertrand Russell4 e a Análise Lógica da Linguagem como Elucidação dos


Problemas Semânticos acerca das Descrições Definidas5

A análise lógica da linguagem na perspectiva de Russell tem a função de oferecer soluções


aos quebra-cabeças semânticos acerca das descrições que não possuem denotação, sem
incorrer em sua inflação ontológica, através da decomposição das sentenças em seus
elementos básicos, de modo a estabelecer a relação da mesma com o mundo (CÂNDIDO,
2017: 15).

Os problemas semânticos das descrições definidas surge quando Russell se questiona sobre o
significado que convêm dar as expressões denotativas que nada denotam, tais como “o actual
rei da França é careca”. Para Frege, enunciados deste tipo não são nem verdadeiros e nem
falsos; já para Russell, é possível desenvolver esse género de enunciados, de modo que
manifeste a sua verdade ou falsidade.

Nesta perspectiva, de acordo com Medina (2007: 64), Russell vai criticar a abordagem
restritiva de Frege acerca do sentido, que liga o domínio do que é significativo ao domínio do
que realmente existe e nega significado completo a expressão sem denotação. Como Frege,
Russell defende uma concepção realista segundo o qual, há somente um mundo, uma
realidade objectiva, ao qual nossos termos podem referir e que podem fazer nossas afirmações
verdadeiras ou falsas. No entanto, ele procura defender o seu realismo sem impor fortes
restrições ontológicas no domínio do significativo, pois o domínio do discurso significativo
excede o domínio do que existe. Para Russell, as afirmações sobre as coisas não existentes
podem ser semanticamente avaliadas, elas têm um valor de verdade.

Russell parte da concepção de que a forma gramatical das sentenças não representam sua
forma lógica, sendo necessária por isso submeter essas sentenças a uma análise lógica que
revele e torne explicita essa forma lógica, visto que, as Descrições Definidas são expressões
que, apesar de se assemelharem a nomes próprios, designando indivíduos não são realmente
nomes próprios (DA SILVA, 2007: 29).

4
Bertrand Russell (1872-1970), foi um filósofo e lógico britânico, pensador influente em lógica matemática e
um dos responsáveis pelo desenvolvimento da escola analítica de filosofia.
5
Descrições definidas são expressões formadas pelo artigo definido singular e por pelo menos um substantivo. A
análise dessas expressões preocupou vários filósofos, tanto que, boa parte da filosofia da linguagem do século
XX é o resultado do debate acerca da correcta interpretação de descrições definidas (DA SILVA, 2007: 9).
23

A análise lógica da linguagem deve trazer à tona as funções proposicionais mediante as quais
as descrições referem. Nesse sentido, as descrições definidas são uma tentativa de referir a
algo em particular ou a um indivíduo em particular, que se enquadra no perfil delineados pela
descrição. Diferentemente das descrições indefinidas, que somente fazem afirmação de
existência, as descrições definidas fazem uma demanda de unicidade (que há exactamente
uma coisa da qual a descrição é verdadeira). Assim, a função proposicional contida numa
descrição definida consiste na combinação de duas afirmativas distintas, uma afirmativa de
existência e outra afirmativa de unicidade. Esta função proposicional complexa pode ter uma
referência definitiva, isto é, pode denotar um particular (cf. CITRA, 2007: 65).

Desta forma, de acordo com Marcondes (2004: 29), Russell sustenta que a aplicação da
análise lógica da sentença denotativa que nada denotam como ʻo actual rei da França é
carecaʼ, aparentemente violam o princípio lógico do terceiro excluído, que estabelece que
uma sentença só pode ser verdadeira ou falsa, não havendo uma terceira possibilidade. No
entanto, essas sentenças, por não se referirem a nenhum objecto existente na realidade, não
seriam nem verdadeiras e nem falsas. Uma vez que não existe um actual rei de França, a
sentença não pode ser considerada verdadeira. Porém, tampouco é falsa, pois não podemos
dizer que o actual rei da França não é careca. Mas também, não podemos considerá-la sem
sentido, uma vez que pode facilmente ser compreendida. Em consonância, Medina, assevera
que,

Com a teoria das descrições definidas, Russell mostra que as sentenças que
contem descrições definidas sem denotação não violam a lei do terceiro
excluído (ou qualquer outra lei lógica que regulamenta as relações inferenciais
entre a verdade e a falsidade). Uma vez que uma frase pode somente ser
verdadeira ou falsa, e nada mais, quando uma frase é falsa, sua negação deve
ser verdadeira e vice-versa. No entanto, seria errado concluir a partir da
falsidade de ʻ O actual rei da França é carecaʼ, que ʻ O actual rei da França
não é carecaʼ seja verdadeira. Esta inferência seria errada porque o que faz a
primeira frase falsa não é o cabelo na cabeça do rei da França; mas o que a
torna falsa é sim, que não há rei na França hoje (MEDINA, 2007: 66).

A função da análise lógica da linguagem na perspectiva de Russell, é determinar os


componentes últimos que constituem um facto no mundo, supondo um isomorfismo entre a
lógica e a realidade, e as proposições e os factos, através da correspondência entre os
elementos de um e de outro. Como afirma Citra (2007: 65), no âmbito da teoria das descrições
a concepção de análise formulada por Russell é de um método de decomposição das sentenças
24

através da qual seus elementos são identificados, estabelecendo-se a relação destes com os
elementos correspondentes em um facto na realidade, descrito pela sentença.

2.2.3. Ludwig Wittgenstein do Tractatus: Um Herdeiro Antagónico das Concepções


Fregeanas e Russellianas de Análise Lógica da Linguagem.

O Tractatus corresponde a uma reacção radical as concepções fregeanas e russellianas sobre a


análise lógica da linguagem. Como demonstra Pinto (2004: 84), “a melhor forma de se
entender a lógica Tractatiana é contrasta-la á concepção de análise lógica de Frege e Russell”.

Apesar do autor do Tractatus compartilhar com a Frege a ideia de estabelecer a objectividade


do pensamento nas suas teses acerca do sentido e referência, na interpretação de Moreira
(2011: 123), “Wittgenstein vai se distanciar da análise lógica fregeana, na distinção do sentido
e referência na medida em que o discípulo não exige um correspondente referencial para as
proposições, cabendo-lhes descrever um estado de coisas possíveis […]”. Enquanto Frege
sustenta a existência de proposições que têm sentido independente de terem valor de verdade
(referência); Wittgenstein, ao contrário, pretendia traçar os limites do discurso significativo,
restringindo o restante ao não-discurso e determinando como proposições contra-sensuais ou
sem sentido. Assim, o sentido da proposição no Tractatus está no facto de ela descrever um
estado de coisas, por mais que este não ocorra em nosso mundo, ou até mesmo seja contrário
às nossas crenças científicas. Como o próprio autor enfatiza, “a proposição determina um
lugar no espaço lógico. A existência desse lugar é assegurada tão-somente pela existência das
partes constituintes, pela existência da proposição com sentido” (§ 3.4).

Quanto a Russell, embora a concepção de análise lógica da linguagem exposta em On


Denoting tenha proporcionado um alicerce à grande parte das ideias defendias por
Wittgenstein no Tractatus, sobretudo por ter mostrado que por detrás da forma superficial das
proposições, existe uma lógica profunda, atingível através de uma análise, o autor do
Tractatus crítica a forma lógica do juízo patente na teoria das descrições, pois não mostra que
é possível julgar um contra-senso. Nas palavras do filósofo, “a explicação correcta da forma
da proposição ʻA julga Pʼ deve mostrar que é impossível julgar um contra-senso. (A teoria de
Russell não satisfaz essa condição) ” (§ 5.5421). Portanto, diferente de Russell, Wittgenstein
não introduz considerações epistemológicas para analisar correspondência entre a linguagem
e o mundo.

Todo o projecto filosófico de Frege e Russell estava voltada a construção e desenvolvimento


de uma linguagem lógica artificial, a qual teria como função principal corrigir e eliminar o
25

vago e a imperfeição da linguagem ordinária, reduzindo a possibilidade do mundo aos limites


formais que ela própria proporcionaria em termos da exactidão desejada. (cf. RIBEIRO, 2005:
81).

Foi precisamente por esta razão que Russell atribuiu ao Tractatus, na introdução, o objectivo
de construção de uma linguagem logicamente perfeita, que obviamente Wittgenstein não
poderia subscrever, visto que, para o autor do Tractatus a linguagem ordinária está em ordem,
tal como está, e não carece de qualquer correcção lógica especial. Ao contrário do que
defendia Frege e Russell, na sua concepção de análise Wittgenstein nunca admitiu qualquer
imperfeição lógica na linguagem ordinária, pois ele acredita que não existe uma linguagem
humana ilógica ou irracional. Como o autor esclarece no § 5.463, “todas as proposições de
nossa linguagem corrente são, de facto, tais como são, perfeitamente ordenadas de um ponto
de vista lógico. […]”.

De acordo com Ouriques (2014: 67), a incompreensão de Russell perante ao Tractatus,


demonstrada na introdução que este fornece a obra, torna claro a ruptura que o autor do
Tractatus leva a cabo para se afirmar como um pensador independente, contrariando os
pontos importantes das obras daqueles que haviam sido seus mentores, isto é, Gottlob Frege e
Bertrand Russell.

Portanto, ao apresentar a sua concepção de análise lógica da linguagem no Tractatus,


Wittgenstein constata que a tradição filosófica comete erros por não levar em conta as leis
lógicas de constituição de proposições significativas. De acordo com o filosofo,

A maioria das proposições e questões que são formuladas sobre temas


filosóficos não são falsas, mas contra-sensos. Por isso, não podemos de modo
algum responder a questões dessa espécie, mas apenas estabelecer seu carácter
de contra-senso. A maioria das questões e proposições dos filósofos provem
de não entendimento da lógica de nossa linguagem (§ 4.003).

Desta forma, o Tractatus propõe-se a demonstrar que todos os problemas filosóficos podem
ser resolvidos quando se compreende adequadamente o correcto funcionamento da lógica da
linguagem. Como o próprio autor anuncia no prefácio da obra, “o livro trata dos problemas
filosóficos, mostrando que a origem desses problemas repousa sobre o mau entendimento da
lógica na nossa linguagem” (PREFÁCIO, 1968:54).
26

CAPÍTULO III: A FORMA LÓGICA COMO CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE DE


REPRESENTAÇÃO DO MUNDO PELA LINGUAGEM

Neste capítulo, pretende-se explicar a forma lógica como condição de possibilidade de


representação do mundo pela linguagem. Para cumprir esse objectivo expõe-se os seguintes
assuntos: a noção de mundo em Wittgenstein; a concepção de linguagem e a teoria de
figuração lógicas dos factos; e, a forma lógica como determinante do limite da linguagem,
enfatizando a tarefa crítica da filosofia perante a linguagem.

3.1. Noção de Mundo em Wittgenstein: O Mundo como Totalidade dos Factos

Apesar de o Tractatus ser uma investigação sobre a natureza e estrutura da linguagem, na


ordem de exposição, a obra inicia com um conjunto de observações sobre a estrutura do
mundo, seus elementos constituintes, e a maneira como esses elementos relacionam-se entre
si, como pressuposto para compreender como a linguagem o representa.

O autor do Tractatus concebe o mundo sob égide da factualidade, e não sob uma
objectividade, como a tradição filosófica fazia. Para ele, “o mundo é totalidade dos factos e
não das coisas” (§ 1.1). Esse mundo composto de factos é demarcado pelo espaço lógico, que
constitui a unidade lógica de todos os mundos possíveis. Nesta perspectiva, cada ocorrência
factual é demarcada pelo filósofo como um estado de coisas, conforme é ilustrado no § 2, “o
que ocorre, o facto, é o subsistir do estado de coisas”. Esses por sua vez são uma ligação de
objectos, de acordo como o § 2.031, “no estado de coisas os objectos se ligam uns aos outros
como elos de uma cadeia”.

A totalidade dessas ligações de objectos (o estado de coisas), é o que o autor do Tractatus


concebe como mundo; e essas ligações são condições de existência de todos os objectos.
Portanto, para Wittgenstein, o que dá a possibilidade de sentido ao mundo é justamente a
existência dos objectos nessas ligações. Como firma Silva (2008: 120), “na concepção
wittgensteiniana de mundo, as coisas por si só, não têm sentido, elas ganham sentido quando
relacionadas com outras coisas […]. Para que um objecto possa ter sentido, é necessário que
ela apareça dentro de uma relação com outros objectos em um determinado estado de coisas”.

Segundo Wittgenstein “os objectos contêm a possibilidade de todas as situações” (§ 2.014).


Essa afirmação leva-nos a reflectir sobre a existência dos objectos e sobre como podemos
provar a existência destes na linguagem através da possibilidade de existência de nomes
simples que os designam. No aforismo subsequente, o autor do Tractatus afirma que “a
27

possibilidade do aparecimento do objecto em estados de coisa é a sua forma” (§ 2.0141). Com


base nesses dois aforismos, pode-se perceber que a condição de existência dos objectos é o
estado de coisas, isto é, a ligação dos objectos com outros objectos, sendo essa ligação a sua
forma. Araújo e Tannús vão no mesmo diapasão afirmar que “a forma do objecto inserida
num estado de coisas é logicamente a condição necessária para que o objecto exista e esteja
ligado com os outros objectos” (ARAÚJO & TANNÚS, s/a: 4).

Porém, Moreira apresenta uma distinção mais subtil, quando afirma que no Tractatus as
relações entre os objectos são por um lado, contingentes; e, por outro, necessárias. “São
contingentes porque cada um dos objectos pode aparecer em qualquer estado de coisas que
neles estejam inseridos; e a sua forma é que determinará em que estados de coisa ele poderá
aparecer” (MOREIRA, 2011: 48). Entretanto, “são necessárias, à medida que é essencial que
cada um dos objectos esteja sempre numa relação com outros e, qualquer que seja a
vinculação entre eles, ela sempre estará delimitada pelas possibilidades estabelecidas pelo
espaço lógico” (Idem).

A possibilidade de existência de nomes logicamente simples que designam objectos é a


garantia de sentido dos pensamentos que formulamos sobre esses objectos. Assim, “para que
seja possível no âmbito lógico, a existência de relações de qualquer objecto, é necessário que
existam os objectos simples designados por nomes logicamente simples” (JÚNIOR, 2008:
48). Esses objectos são a substância do mundo, e a possibilidade da sua existência na
linguagem garante, como veremos em seguida, que nossos pensamentos alcancem e toquem o
mundo por meio da linguagem.

3.2. Da concepção de Linguagem a Teoria de Figuração lógica dos Factos

No Tractatus, Wittgenstein constrói a sua concepção de linguagem a partir da análise dos


elementos que estruturalmente a compõem, isto é, serve-se do método da análise lógica para
esclarecer a estrutura da linguagem. Na visão do filósofo, a linguagem é uma estrutura lógica
composta de proposições. Como se pode constatar no § 4.001, “a totalidade das proposições é
a linguagem”. O processo de análise lógica das proposições leva-nos a proposições simples,
constituída de nomes. Como assevera o § 4.221 “É óbvio que na análise de proposições se
tem que chegar a proposições elementares, que consistem em nomes em ligação imediata”.

Com base nos aforismos supra-citados, pode-se perceber que a proposição é um conjunto de
nomes ordenados por uma certa lógica. Porém, esses nomes por si só não têm sentido, eles só
têm sentido quando inseridos no contexto da proposição. De acordo com o autor do Tractatus,
28

“só a proposição tem sentido; somente em conexão com a proposição um nome tem
denotação” (§ 3.3). Portanto, “os nomes dependem das proposições, visto que eles só podem
designar objectos no interior das proposições, ou seja, os nomes só têm sentido dentro de uma
proposição” (GOMES, 2011: 22).

Na concepção de Wittgenstein os nomes encontram-se numa relação directa com os objectos


no mundo, pois eles são os substitutos dos objectos na proposição. Como demonstra o § 3.22,
“na proposição o nome substitui o objecto”. Assim, os nomes constituem a condição de
possibilidade das proposições, pois as proposições descrevem um estado de coisas formada
pela ligação de objectos que são designados pelos nomes, pois “a possibilidade da proposição
se estriba no princípio da substituição dos objectos por meio dos nomes” (§ 4.0312).

Desta forma, partindo do pressuposto de que a linguagem é a totalidade das proposições e o


mundo é totalidade dos factos (estados de coisas), na visão tractatiana, a linguagem está
directamente ligada ao mundo, visto que os elementos que compõem a proposição se
correlacionam com os elementos que compõem a realidade, pois por um lado, temos os
objectos que constituem um estado de coisas e, por outro temos os nomes que representam
esses objectos. Os nomes quando combinados, constituem uma proposição. E as proposições
por seu turno, representam estados de coisas, ou seja, a estrutura interna da proposição
relaciona-se com a estrutura interna dos estados de coisas. Portanto, “para cada elemento
existente no domínio do mundo, existe um elemento correspondente no domínio da
linguagem” (GOMES, 2011: 25).

Assim, de acordo com o autor do Tractatus “a proposição é uma figuração 6 da realidade. Uma
figuração é um modelo da realidade tal qual a pensamos” (§ 4.01). Na teoria de figuração, o
autor do Tractatus explica como a linguagem está essencialmente ligada ao mundo através do
método de projecção que justifica a linguagem a capacidade de correlacionar os seus
elementos constituintes, com os elementos constituintes do mundo. Nas palavras de
Wittgenstein “a proposição é figuração da realidade, pois, conheço a situação representada
por ela quando entendo a proposição. E entendo a proposição sem que o sentido me seja
explicado” (§ 4.021). Portanto, no Tractatus, “Wittgenstein concebe a figuração como a
perfeita correspondência entre a estrutura do mundo e estrutura da linguagem, pois existe uma
relação isomórfica entre os elementos da proposição e os elementos realidade (ARAÚJO &
TANNÚS, s/a: 5).

6
É Importante referir que em consonância com Araújo e Tannús, a “figuração” é aqui entendida como
representação, pois, refere-se a uma relação que espelha a realidade.
29

Wittgenstein assevera que “a figuração tem em comum com o figurado a forma lógica da
figuração” (§ 2.2). Desta forma, no Tractatus as proposições lógicas manifestam a estrutura
da linguagem, que por sua vez, revelam a estrutura do mundo. Para sustentar essa teoria,
Wittgenstein defende que existe um elemento em comum entre a linguagem e mundo, que
possibilita a capacidade de pensar e falar sobre o mundo. Esse elemento em comum é a forma
lógica.

Entretanto, como adverte Moreira (2011: 51), apesar de existir no Tractatus uma exigência de
correspondência biunívoca entre os elementos da linguagem e os elementos do mundo, não
devemos compreender essa correspondência como de semelhança de imagens entre esses
elementos, mas como uma correspondência de formas similares, isto é, de estruturas
semelhantes.

Segundo autor do Tractatus, a principal função da linguagem é de representar o mundo


projectivamente. Essa função é dada de forma directa devido a existência de uma ordem
lógica a priori tanto no mundo como na linguagem. Como se pode constatar no § 4.023,

Por meio da proposição a realidade deve ser fixada enquanto sim ou enquanto
não. Por isso, deve ser completamente representada por ela. A proposição é a
representação de um estado de coisas. Assim como a representação de um
objecto se dá segundo suas propriedades externas, a proposição representa a
realidade segundo suas propriedades internas. A proposição constrói o mundo
com a ajuda de andaimes lógicos, e por isso é possível, na proposição, também
se ver, caso ela for verdadeira, como tudo que é lógico está. […].

Portanto, para o autor do Tractatus, a essência da linguagem se identifica com a essência do


mundo. Pois, “dar a essência da proposição significa dar a essência de todas as descrições e,
por seguinte, a essência do mundo” (§ 5.4711). Nesta perspectiva, “o que cada figuração, de
qualquer forma, deve sempre ter em comum com a realidade para poder figura-la em geral,
correcta ou incorrectamente, é a forma lógica, isto é, a forma da realidade” (§ 2.17). Isso
significa que na teoria de figuração, a forma lógica da proposição deve ter a mesma estrutura
com a realidade.

Assim, no Tractatus a forma lógica de figuração caracteriza-se como a possibilidade dos


elementos relacionarem-se na representação do mesmo modo que as coisas se relacionam
umas com as outras no facto. Segundo o § 2.151, “a forma de figuração é a possibilidade de
que as coisas estejam umas em relação às outras como os elementos da figuração”. Portanto,
somente através de uma forma lógica em comum com o mundo, a linguagem pode representar
esse mundo.
30

Para Wittgenstein, a figuração não descreve apenas uma realidade existente (estado de coisas
formados pela cominação de objectos), mas também uma realidade possível (aquelas que não
subsistem, mas que podem vir a existir devido à possibilidade de combinação dos objectos).
Portanto, “somente podemos aferir se uma figuração descreve um estado de coisas quando a
confrontamos com a realidade, residindo aí seu critério de verdade” (SPICA, 2009: 9).

No § 4.2, Wittgenstein sustenta que, “o sentido da proposição é o seu acordo e desacordo com
a possibilidade de subsistência e não subsistência dos estados de coisas”. Neste sentido, não
se pode chegar ao valor de verdade de uma figuração apenas pela análise da proposição, pois
somente pela confrontação com a realidade, ela pode ser considerada verdadeira ou falsa, ou
seja, “nenhuma figuração pode ser verdadeira a priori, mas somente a posteriori, uma vez que
obtemos o valor de verdade de uma proposição aferindo o facto por ela representado e, se o
facto representado subsiste, ela é verdadeira, do contrário, ainda que tenha sentido, ela é
falsa” (ARAÚJO & TANNÚS, s/a: 6).

Portanto, no Tractatus, “o valor de verdade de uma proposição depende apenas do facto de


sabermos se o estado de coisas com o qual ela está conectada é ou não o caso”
(CAVASSANE, 2013: 24). Pois, como prescreve o § 4.25, “se a proposição elementar for
verdadeira, o estado de coisas subsiste; se for falsa, o estado de coisas não subsiste”.

Assim, a análise lógica da linguagem mostra-nos que a linguagem é formada por proposições,
cuja legitimação reside em sua estreita relação com o domínio dos estados de coisas. Neste
sentido, “tanto a possibilidade do sentido linguístico quanto o mecanismo que determina o
valor de verdade daquilo que expressamos através da linguagem, sedimenta-se sobre o facto
de a linguagem estar directamente conectada ao mundo; e é essa conexão que permite que ela
reproduza de modo exacto a estrutura lógica do mundo” (SILVA, 2008: 120).

Portanto, através de análise da estrutura lógica da linguagem, compreendemos a estrutura


lógica do mundo, pois a proposição mostra a forma lógica da realidade, ainda que ela não
represente de modo figurativo essa forma lógica. Deste modo, forma lógica constitui-se o elo
que une a linguagem e o mundo. De acordo com o exposto no § 2.18, “o que cada figuração,
de forma qualquer, deve sempre ter em comum com a realidade para poder figura-la em geral,
correcta ou incorrectamente é a forma lógica, isto é, a forma da realidade”. Esse elo entre a
linguagem e mundo possibilitado pela forma lógica garantira um simbolismo perfeito capaz
de reapresentar o mundo com absoluto rigor.
31

3.3. A Forma Lógica como Determinante do Limite da Linguagem

No Tractatus, Wittgenstein desenvolve uma análise da linguagem com objectivo de


determinar as condições transcendentais de possibilidade de representação linguística e
estabelecer os limites da linguagem, que consiste na separação do que pode ser dito com
sentido e do que não se pode dizer (o místico).

Segundo o autor do Tractatus, na sua função descritiva a linguagem possui limites, cujas
demarcações estão definidas na doutrina de distinção do dizível e do indizível. De acordo com
o autor, “o que se pode em geral dizer, pode-se dizer claramente; e daquilo sobre o que não se
pode falar, deve se calar” (PREFÁCIO, 1968: 53).

Na interpretação de Gomes (2011: 29), “a distinção entre o dizível e indizível é consequência


da teoria de figuração, e consiste na demarcação entre o que pode ser dito pela linguagem e o
que está além dos limites da linguagem”. Na mesma linha de pensamento, Cavassane (2013:
34), sustenta que “essa distinção é a chave para se entender todo o Tractatus, pois é a partir
dela que compreendemos a raiz dos problemas filosóficos que o livro pretende resolver”.
Assim, com a assimilação dessa distinção verifica-se o desaparecimento da crise da
linguagem e de todos os problemas gerados pela incompreensão da linguagem.

Segundo Ouriques, em uma carta dirigida a Bertrand Russell, Wittgenstein chegou a afirmar
que essa diferença entre o dizível e o indizível constitui o ponto essencial do livro e o
problema central da filosofia. Nas palavras de Wittgenstein,

O ponto principal do meu livro é a teoria do que pode ser ʻditoʼ pelas
proposições, isto é, pela linguagem (o que equivale ao que pode ser pensado),
e o que não se dizer por proposições, mas apenas pode ser ʻmostradoʼ; creio
que este é o problema cardial da filosofia. (WITTGENSTEIN apud
OURIQUES, 2014, p. 30).

Partindo do pressuposto de que a linguagem é a totalidade das proposições que descrevem os


factos no mundo, na perspectiva de Wittgenstein, o que poder ser dito é o que pode ser
descrito pela linguagem. Entretanto, o que a linguagem pode descrever é o que pode ser
afigurado pelo pensamento, ou seja, os factos no mundo.

Estabelecida a sua função descritiva, a linguagem não pode dizer nada além dos factos
figurados pelo pensamento e delimitado pelo espaço lógico. Portanto, não podemos pensar
nada que esteja fora das combinações lógicas dos objectos que constituem o mundo, pois não
pode existir um mundo ilógico e nem podemos pensar nada de ilógico. Na perspectiva do
32

autor, “não podemos pensar no ilógico, porque, do contrário, deveríamos pensar


ilogicamente” (§ 3.03).

Neste sentido, da mesma forma que o mundo e o pensamento, a linguagem, por ser a
descrição desses factos figurados pelo pensamento, também está delimitada por essas
fronteiras lógicas, pois os nomes que a compõem e que substituem os objectos na proposição
são necessariamente registados pelas determinações lógicas da sintaxe que partilham a sua
forma com o espaço lógico.

Portanto, a linguagem, o mundo e o pensamento possuem os mesmos limites, determinados


pelo espaço lógico, visto que “não pode haver nomes além da totalidade dos nomes já
existentes e, por isso, não pode haver outra linguagem além da linguagem que é regida pela
sintaxe lógica” (GOMES, 2011: 32). Assim, tudo o que pode ser dito, só pode ser dito por
essa única linguagem cujos limites estão traçados por aquilo que pode ser descrito, isto é, os
factos figurados.

Todavia, segundo o autor do Tractatus, nem tudo pode ser dito, além da estrutura lógica
comum entre a linguagem e o mundo, existe uma série de coisas que sobre as quais não
podem ser ditas, mas mostradas, é o místico. Nas palavras do filósofo, “existe com certeza o
indizível. Isto se mostra, é o que é místico” (§ 6.521). “O místico não é como o mundo é, mas
o que o mundo é” (§ 6.44). Os factos no mundo descrevem apenas como as coisas estão e
apontam o carácter contingente das figurações variáveis e instáveis dos objectos; mas não
descreve o que elas são, ou seja, aquilo que determina as condições essenciais da existência
das coisas e, portanto, da sua representação linguística, pois trata-se do místico e, só pode ser
mostrada.

É no campo do indizível, isto é, do místico, onde o autor do Tractatus situa as proposições da


Ética, Estética, Metafísica e da Religião, que segundo ele não possuem sentido, pois procuram
descrever algo que está fora do mundo e, consequentemente, ultrapassam os limites da
linguagem. Na interpretação de Silva (2010: 15), “Wittgenstein entende que as proposições da
ética, estética, metafísica e da religião, não expressam qualquer pensamento, são construções
linguísticas absurdas, visto que aludem para além dos limites da linguagem, podendo
somente, ser acessado através da vivencia mística, isto é, dado imediato”.

Quanto á Ética e a Estética, segundo o autor do Tractatus, elas são uma só, pois ambas
pertencem a esfera de valor e não se deixam exprimir pela linguagem (cf. § 6.421). De acordo
com Ouriques (2014: 32), “para Wittgenstein, não existem proposições dotadas de sentido que
33

sequer descrevem o valor ético, pois a esfera da ética e da estética é transcendental e,


portanto, são peseudos proposições e contra-sensos”.

Na perspectiva tractatiana, as expressões valorativas são absurdas, visto que nelas se


manifesta a pretensão de falar sobre aquilo que escapa aos limites do mundo, pois não há
ʻporquêsʼ sobre o mundo que obtenham respostas vindas do próprio mundo; e também não
encontramos no mundo respostas à pergunta sobre o sentido da vida e do mundo, pois o que
temos nele são factos, redigidos pelas leis lógicas, e nisso não contém nada de valor,
simplesmente ocorre (cf. PINTO, 2002: 21). Como atesta o § 6.41, “[…]. No mundo tudo é
como é e tudo acontece como acontece, nele não há valor, e se houvesse valor não teria valor
[…]. Se há algum valor que tenha valor, este deve estar fora do mundo”. Assim, as afirmações
sobre valores, o bem ou mal, a justiça e o sentido da vida carecem de sentido, pois a
linguagem não pode exprimir nada além do mundo de mais alto. Nesta perspectiva, elas não
podem ser ditas, apenas mostradas, isto é, vividas.

De forma semelhante acontece também com as proposições da religião, enquanto discurso


sobre Deus. Segundo o autor do Tractatus, não existe qualquer relação entre Deus e os factos
no mundo, pois Deus não se revela no mundo. No § 6.432, Wittgenstein assevera que “ como
é o mundo é perfeitamente indiferente para o que está além. Deus não se manifesta no
mundo”. Assim, nenhum facto diz algo sobre Deus. E, como somente factos podem ser ditos,
nada podemos falar acerca de Deus; Ele apenas se mostra. Desta forma, “a religião não é uma
doutrina, mas uma forma de existência que mostra-se pela acção” (SILVA, 2008: 125).

Para o autor do Tractatus, Deus, a ética, estética, metafísica e o sentido da vida, não podem
estar no mundo figurado lógico e linguisticamente porque a figuração dá-se através das
proposições simples que encontram sua verdade quando o objecto representado encontra-se de
facto no mundo.

Porém, a impossibilidade de falar-se cientificamente sobre proposições éticas, estéticas,


metafísicas e religiosas não significa que tanto a ética, a estética, a metafísica, assim como a
religião não existem. Como afirma Silva (2010: 17), ao propor o silêncio diante dos
enunciados da Ética, Estética, Metafísica e Religião, Wittgenstein não está afirmando que elas
não existem ou devem ser deixadas de lado. O autor não refuta a existência da moralidade, da
arte, do ser, ou mesmo de Deus. O que ele faz apenas é atentar a sua impossibilidade de falar
sobre essas coisas, pois ao tentarmos falar sobre elas, estaríamos nos situando fora dos
34

domínios da lógica, ultrapassando assim os limites da linguagem, ou seja, daquilo que pode
ser dito. Na mesma linha de pensamento, Zilles (2008: 97) sustenta que,

Ao propor o silêncio perante o místico, Wittgenstein não nega as questões do


ser e da vida. O homem não enfrenta a realidade apenas como analista, mas
age eticamente e sente. A questão se existe Deus ou alma, ou se esta ou aquela
afirmação religiosa é verdadeira ou se esta exigência ética é legitima, não se
pode formular do ponto de vista lógico. Cai sob o veredicto do absurdo
semântico, pois não existe o espaço de sua possibilidade lógica, porque com
os meios da lógica só se pode expressar como se realizada linguagem. Quem
quiser compreender para além do constatado extrapola seus limites. Dentro da
realidade visível, não só as respostas a tais questões, mas próprias perguntas
são absurdas. Na comparação com a realidade não se pode julgá-las
verdadeiras ou falsas.

Esse empreendimento do autor do Tractatus de estabelecer o limite entre o dizível e indizível,


faz com que alguns intérpretes e estudiosos da sua obra o associem a Kant, uma vez que no
seu criticismo, Kant realiza uma delimitação entre aquilo que pode ser conhecido e aquilo que
permanece desconhecido. Portanto, “assim como em Kant encontramos um esforço para
estabelecer um limite ao conhecimento, isto é, definir o que se pode conhecer, em
Wittgenstein do Tractatus encontramos um esforço para estabelecer um limite ao pensamento
e à linguagem, ou seja, um limite do que pode ser dito” (CONDÉ, 199: 46).

Na mesma linha de pensamento, Júnior (2008: 22), sustenta que a análise lógica da linguagem
realizada pelo autor do Tractatus reflecte e ressalta a herança da tradição crítica de origem
Kantiana que procura estabelecer as condições transcendentais de possibilidade do
conhecimento humano, visto que da mesma forma que Kant, o carácter crítico
wittgensteiniano também procura estabelecer limites. Entretanto, esses limites não são mais
limites epistemológicos, mas linguísticos. Em paralelo, Stenius sustenta que,

Wittgenstein move para o limite da linguagem aquilo que em Kant aparece


como o limite da razão pura. Assim, não se trata mais de responder a questão ʻ
o que posso saber?ʼ. Mas, a questão ʻ o que posso dizer?ʼ. Isto é, Wittgenstein
traz a dimensão do limite para a problemática da linguagem, fazendo da
investigação sobre o limite do conhecimento uma investigação sobre a lógica
da linguagem que no Tractatus se identifica com a lógica do mundo
(STENIUS apud CONDÉ, op. cit: 47).

No Tractatus, Wittgenstein procura estabelecer os limites que impedem o homem de dizer


coisas indizíveis, a partir do esclarecimento do dizível, “os limites da linguagem denotam os
limites do meu mundo” (§ 5.6). Isso significa que apenas podemos falar sobre as coisas que
referem a factos no mundo e, desta forma, ele rejeita todo o pensamento filosófico enquanto
35

discurso metafísico que trata sobre a vida, a ética, o belo, assim como sobre Deus, visto que
tais discursos estão fora das fronteiras do mundo e da linguagem. Portanto, são impensáveis e
indizíveis.

Com base no exposto acima, percebe-se que a distinção entre o que pode ser dito e o que
apenas pode ser mostrado (o místico), se constitui fundamento para estabelecer o limite da
linguagem e, consequentemente, a condição para a compreensão de toda a filosofia de
Wittgenstein do Tractatus, visto que só se pode dizer os factos do mundo; e o que não se
constitui como facto no mundo é o místico, isto é, aquilo sobre o qual nada podemos falar.
Nesta perspectiva, diante do místico, o autor do Tractatus propõe o silêncio como a melhor
atitude, “o que não se pode falar, deve-se calar” (§ 7). Essa remissão ao silêncio obrigatório é
necessária simplesmente porque qualquer tentativa de dizer algo sobre aquilo de que não se
pode falar, nos levaria além dos limites da linguagem enquanto descrição dos factos no
mundo, ou seja, além da própria capacidade descritiva da linguagem, constituindo-se um
contra-senso, pois ultrapassaria os limites da linguagem e da estrutura lógica do mundo.

3.3.1. A Filosofia como Critica da Linguagem

Segundo o autor do Tractatus, a filosofia não é uma ciência ao lado das outras ciências; bem
como, não é um conjunto de doutrinas acerca da realidade e nem conjunto de proposições
explicativas sobre a realidade. Ela é uma actividade que tem como objecto a linguagem; a sua
tarefa consiste em analisar e esclarecer o significado das proposições. Na perspectiva do
filósofo,

A finalidade da filosofia é o esclarecimento lógico dos pensamentos. A


filosofia não é teoria, mas actividade. Uma obra filosófica consiste
essencialmente em comentários. A filosofia não resulta em proposições
filosóficas, mas em tornar claras as proposições. A filosofia deve tornar os
pensamentos que, por assim dizer, são vagos e obscuros e torná-los claros e
bem delineadas (§ 4.112).

De acordo com Gomes (2011: 33), no Tractatus, Wittgenstein dissolve a filosofia concebida
como teoria e passa a defender como actividade. Segundo essa nova visão, os filósofos que se
preocuparam em construir seus sistemas filosóficos, não prestaram atenção no uso que se faz
da linguagem e com isso, produziram conceitos, expressões e significados que aparentemente
podem ser encarados como verosímeis, mas com uma análise mais detalhada, percebe-se
varias proposições indevidas.
36

Na mesma linha de pensamento, Silva (2009: 136), sustenta que existe uma esterilidade nas
proposições filosóficas, que conduz o autor do Tractatus a caracterizá-la como formulações
sem sentido. Com elas os filósofos procuram falar sobre ʻDeusʼ, ʻo Bemʼ, ʻa Justiçaʼ, ʻo
Beloʼ, entretanto nenhum desses alvos alude ao mundo ou são factos que o constituem. Neste
sentido, Wittgenstein observa que questões similares a essas não expressam questões
genuínas, pois o que questionam não remete a factos na realidade.

Da constatação da filosofia não se ocupar com objectos que possuam referência factual,
decorre que ela não pode dizer o que quer que seja sobre o mundo e seus constituintes, ou
mesmo sobre como as diversas situações da realidade estão arranjadas. É um erro imaginar-se
que ela expresse qualquer doutrina ou teoria capaz de explicar algo a cerca da realidade.

Dessa forma, cabe ao filósofo, ao invés de formular teorias, analisar e elucidar a utilização da
linguagem, torna-lo claro, livrando-nos da ilusão provocada pela falta de compreensão do
funcionamento da sua lógica de modo que os problemas sejam dissolvidos. Pois, várias
concepções filosóficas obscurecem o entendimento acerca da linguagem, e consequentemente
das coisas do mundo (GOMES, 2011: 34). Em consonância, Júnior (2008, p. 19), sustenta que
na concepção Tractatiana, “a filosofia não é uma teoria, como sempre foi concebida; mas é
uma actividade, que tem como finalidade a elucidação do pensamento através de um processo
de clarificação do conteúdo das proposições.” Assim, enquanto as ciências realizam a tarefa
de descrever o mundo, a filosofia realiza a sua fundamental tarefa de descrever as condições
de possibilidade da descrição do mundo.

Diante disso, o autor do Tractatus define a filosofia como crítica da linguagem. Na visão do
filósofo, “toda a filosofia é crítica da linguagem. […]” (§ 4.0031). Essa definição tem como
característica principal a utilização da análise lógica da linguagem como ferramenta para o
exame das questões filosóficas.

Nesta perspectiva, o autor Tractatus limita a tarefa da filosofia à análise e esclarecimento da


linguagem, de modo a revelar a sua verdadeira forma e a relação dela com os factos. Na
interpretação de Zilles (2008: 95), na concepção tratactiana, “a filosofia tem a função de
examinar até que ponto as proposições escritas ou faladas representam os dados da
experiencia sensível e, portanto, se têm sentido ou são absurdas”. Portanto, cabe a ela delinear
as condições na qual a linguagem descreve logicamente a realidade e é capaz de expressar
factos. Como é assumido no § 4.114, “a filosofia deve delimitar o pensável e com isso o
37

impensável”. Porém essa delimitação só pode ocorrer a partir da determinação das dimensões
do espaço lógico.

Entretanto, o fundamento da crítica Wittgensteiniana da linguagem não tem objectivo de


reformar ou desqualificar a linguagem, mas esclarecer sua estrutura lógica e demonstrar a
impossibilidade lógica de certos tipos de enunciados que não referem a factos no mundo. De
acordo com o autor,

O método correcto em filosofia seria propriamente: nada dizer a não ser o que
pode ser dito, isto é, proposições das ciências naturais, algo, portanto, que
nada tem a ver com a filosofia; e sempre que alguém quisesse dizer algo a
respeito da metafísica, demonstrar-lhe que não conferiu denotação a certos
signos de suas proposições. Para outrem esse método não seria satisfatório, ele
não teria o sentimento de que lhe estaríamos ensinando filosofia, mas seria o
único método estritamente correcto (§ 6.53).

Para Wittgenstein somente as ciências naturais possuem sentido, já que estas actuam sobre os
factos verificáveis na realidade. Assim, “ao filósofo impõe-se a tarefa de examinar os
conceitos e as proposições que o homem emprega, por seu conteúdo e sua compreensibilidade
diante da ambiguidade da linguagem, com objectivo de descobrir critérios para distinguir
proposições com sentido das absurdas” (SILVA, 2010: 13). Pois, segundo § 4.116, “tudo o
que pode ser pensado, pode ser pensado de forma clara. Tudo o que se pode dizer, pode ser
dito de forma claramente”. Desta forma, cabe á filosofia clarear e preocupar-se com princípios
e não com a verdade, pois esta é da competência das ciências.
38

CAPITULO IV: APRECIAÇÕES CRÍTICAS DA TEORIA TRACTATIANA DE


LINGUAGEM COMO REPRESENTAÇÃO DO MUNDO

Neste capítulo pretende-se discutir sobre os principais críticos da teoria tractatiana de


linguagem como representação projectiva do mundo. Dentre eles, apresenta-se a influência do
Tractatus sobre o critério neopositivista de significado do Circulo de Viena, como a crítica
positiva. E por outro lado, pela negatividade, mostra-se as críticas do próprio Wittgenstein
expostas no seu segundo livro, as Investigações Filosóficas, no qual o autor promove uma
reviravolta linguístico-pragmática, operando uma demolição dos pressupostos tractatiano de
concepção de uma linguagem representacional.

4.1. Influência do Tractatus ao Critério Neopositivista de Significado do Circulo de


Viena

As teses linguísticas do Tractatus influenciaram directamente a vertente neopositivista do


Círculo de Viena sob égide da demarcação da ciência à não - ciência. De acordo com Mondin,
(2005: 242), “os germes do neopositivismo semeados por Wittgenstein no seu Tractatus
foram recolhidos pelos membros do círculo de Viena como uma fonte de inspiração para a
fundamentação do seu critério verificacionista de significado”.

Segundo Silva (2012: 254), a influência do Tractatus sobre o critério de significado de uma
proposição, adoptado pelo Circulo de Viena, parte de uma interpretação epistemológica dos
conceitos de função de verdade e figuração presentes no Tractatus. Da qual os membros do
Circulo de Viena incumbiram-se, a partir da estrutura lógica da linguagem sistematizada pelo
Tractatus, a acrescentar um conteúdo empírico as proposições lógicas. Na mesma linha de
pensamento, Mondin (op. cit: 243), sustenta que o critério de significado dos positivistas
lógicos do Círculo de Viena esta baseado na ideia do Tractatus que diz respeito a função de
verdade de uma proposição, segundo o qual as proposições só se tornam verdadeiras se os
nomes que a compõem estiverem substituídos por objectos que se propõe a figurar. Assim,
quando uma proposição não é traduzível em proposições de carácter empírico, ela não é, de
forma alguma, proposição e não diz nada, a não ser palavras vazias, ou seja, ela é
simplesmente sem sentido.

Aplicando o princípio de verificação experimental aos diferentes tipos de linguagem em uso


nos vários campos de saber, o círculo de Viena chega a conclusão de que é somente a
linguagem científica (as ciências experimentais) que tem significado teórico; a linguagem
metafísica, ética, estética, religiosa e literária só podem ter significado emotivo.
39

A filosofia desenvolvida pelos positivistas lógicos do Circulo de Viena a partir da leitura do


Tractatus, tinha como principal objectivo, analisar as proposições científicas até os seus
últimos termos, identificar os seus objectos e, finalmente, apresentar o sentido dessas
proposições, vinculando-as a experiência. Portanto, o Tractatus ao sistematizar a linguagem e
ao conecta-la ao mundo, delineou a estrutura pela qual os positivistas instituíram
convencionalmente os objectos pertencentes a base empírica nas diferentes teorias
desenvolvidas por eles (cf. LIMA, 2015: 306).

Os neopositivistas do Círculo de Viena fizeram uma leitura do Tractatus de um modo


excessivamente antimetafísico, validando a supremacia do saber da ciência natural como se as
proposições mais importantes fossem apenas as cientificas, ou seja, aquelas passíveis de
verificação. Ao contrário dos neopositivistas, Wittgenstein preocupava-se muito com aquilo
que a ciência não pode dizer. Como esclarece Wittgenstein, “sentimos que, ainda que todas as
possíveis perguntas da ciência recebessem uma resposta, os problemas de nossa vida não
seriam sequer tocados” (§ 6.52). Assim, o sentindo da vida salta para o ético e para o
religioso, instancias que estão além dos limites da linguagem.

Os equívocos em torno do Tractatus no que toca à questão da ética, da religião ou do sentido


da vida, são corroborados, sobretudo, quando se lê o último aforismo do Tractatus “sobre
aquilo de que não se pode falar, deve-se calar” (§ 7). Alguns tentam a partir daí acusar
Wittgenstein de ateísmo e cepticismo. Entretanto, segundo o aforismo 6.41 do Tractatus, o
sentido do mundo não se encontra no mundo, mas fora dele (cf. § 6.41). Com isso percebe-se
que Wittgenstein rejeita a metafísica, a ética, Deus e o sentido da vida enquanto sistema
filosófico, mas não como experiência de vida.

Entretanto, embora haja de certa forma, uma exacerbação de interpretação do Tractatus por
parte dos membros do Circulo de Viena, como vimos, grande parte das suas ideias assentam-
se sobre as teses linguísticas defendidas no Tractatus Logicos-philosophicus.

4.2. O Pragmatismo Linguístico das Investigações Filosóficas como Crítica da


Linguagem Representancional Tractatiana

A obra Investigações Filosóficas é reconhecida como uma crítica ou oposição ao Tractatus.


Nela, Wittgenstein promove uma reviravolta linguístico-pragmática, rompendo com o
pressuposto Tractatiano de linguagem como figuração do mundo. No prefácio das
Investigações Filosóficas, Wittgenstein sustenta que,
40

[…], há quatro anos, tive ocasião de ler novamente o meu primeiro livro (o
Tractatus Logicos-Philosophicus) e de esclarecer os seus pensamentos.
Pareceu-me, de repente, que eu deveria publicar aqueles antigos pensamentos
junto com os novos: estes poderiam receber sua recta iluminação somente pelo
confronto com os meus pensamentos mais antigos e tendo-os como pano de
fundo (WITTGENSTEIN, 2009: 12).

Segundo Segatto (2011: 81), o autor das Investigações contesta a concepção tractatiana que
atribui como função principal da linguagem a representatividade, onde as palavras servem
para designar os objectos no mundo, por entender que o exercício de aprendizagem da
linguagem não ocorre na relação entre o significado da palavra e o objecto, e sim, através da
conexão conceitual entre o significado da palavra e o seu uso em um determinado contexto.

Portanto, se no Tractatus o significado era entendido como a designação de um facto, nas


Investigações, Wittgenstein explica o conceito de significado através do uso que fizemos das
palavras e expressões em diferentes situações e contextos da vida quotidiana, ou seja, em
diferentes jogos de linguagem. Conforme explica o autor, “Para uma grande classe de casos
de utilização da palavra ʻsignificadoʼ, pode-se explicar esta palavra do seguinte modo: O
significado de uma palavra é seu uso na linguagem. E o significado de um nome se explica,
muitas vezes, ao se apontar para o seu portador” (WITTGENSTEIN, 2009: 38).

Nas Investigações filosóficas, o significado linguístico passa a ser visto, de acordo com
Marcondes (2010: 275), como algo “indeterminado, podendo somente ser compreendido
através da consideração dos jogos de linguagem, o que envolve muito mais do que a simples
análise lógica da expressão linguística como tal”. Pois, trata-se de um conjunto de linguagem
e de actividades com as quais as expressões estão interligadas. Nas palavras do autor das
Investigações, “o jogo de linguagem é uma totalidade, formada de linguagem e das
actividades com as quais ela vem entrelaçada” (WITTGENSTEIN, 2009: 19).

O conceito de jogo de linguagem procura sublinhar que, nos diversos contextos, seguem-se
diferentes regras, podendo-se, a partir dai, determinar o sentido das expressões linguísticas.
“A noção de regra de linguagem ou de uso de uma palavra no seio de uma linguagem não
remete a qualquer comparação representacional entre a linguagem e o mundo, como é
defendida no Tractatus, mas sim, as diferentes formas de vida na qual a linguagem esta
inserida” (SEGATTO, 2011: 98). Neste sentido, para o autor das Investigações é preciso
pensar no estudo da linguagem em partes contextualizadas pelos seus respectivos jogos de
linguagem, cuja regra é dada na gramática e, onde os problemas de comunicação ocasionados
pelos confrontos de diferentes jogos de linguagem podem ser diluídos. Essa postura filosófica
41

somente é adquirida quando o significado das palavras é entendido a partir do uso social, nos
diferentes modos de ser e de viver na qual a palavra está inserida; e não a partir de uma
reflexão semântica referencial.

Assim, de acordo com Gomes (2011: 44), “nas Investigações Filosóficas, o objectivo do
exercício filosófico é libertar-nos das armadilhas da linguagem quando este encontra-se
enfeitiçado pela gramática superficial das palavras que procuram definir um modelo
figurativo do mundo”.
42

Considerações Finais

No Tractatus, as reflexões de Wittgenstein sobre a linguagem tinham como objectivo


principal, esclarecer a sua essência como ponto de partida para especificar a essência do
mundo. Para tal, o autor encontrou na proposição enquanto unidade mínima de significado, o
eixo central da sua concepção de linguagem. No que diz respeito à questão da relação entre a
linguagem e o mundo, no Tractatus é colocada em termos da sintaxe lógica e constitui uma
concepção referencial extremamente original, pois a linguagem tem como principal função
representar o mundo. Essa relação é possibilitada segundo o autor do Tractatus, pela forma
lógica, visto que ambos (a linguagem e o mundo), têm em comum a mesma forma lógica.
Com essa concepção de linguagem, o autor do Tractatus pretendia fixar os limites do que
pode ser dito e, assim eliminar da linguagem uma série de proposições absurdas que segundo
ele habitam na filosofia.

Embora em nenhum momento do Tractatus se manifeste de forma directa essa pretensão, a


reflexão que aí Wittgenstein desenvolve sobre a essência da linguagem, também pode ser
concebida como a solução wittgensteiniana para a crise da linguagem vienense, causada pela
nossa incapacidade de compreender a sua lógica. Assim, a demarcação dos limites da
linguagem cumpre a função de mostrar que o que se pode dizer, pode-se dizer claramente e
daquilo sobre o que não se pode falar, deve-se calar.

Essa concepção de linguagem influenciou directamente a perspectiva neoposivista do Círculo


de Viena, sobre a linha do princípio de verificação como critério de determinação do
significado linguístico.

Entretanto, o próprio Wittgenstein, na sua segunda obra (Investigações Filosóficas), vai


assumir uma posição crítica em relação aos pressupostos essencialistas e representacionistas
da linguagem Tractatina, defendendo que na verdade não existe uma essência universal da
linguagem, e sim uma variedade de usos linguísticos em diferentes formas de vida que
poderíamos conceber como jogos de linguagem. Com efeito, não existe também, uma função
única ou privilegiada da linguagem, como é defendida no Tractatus, onde a representação
constitui a função principal da linguagem.

Como consequência dessa nova concepção de linguagem, a questão da relação entre a


linguagem e o mundo torna-se um falso problema, pois a análise do uso que fizemos das
palavras em diferentes contextos da vida social demonstra que várias palavras e expressões
possuem significados na medida em que são usadas, e não porque representam factos no
43

mundo. Portanto, ao insurgir-se contra a forma lógica da linguagem, o autor das Investigações
rompe com o modelo sintáctico tractatiano, que concebia a linguagem essencialmente na sua
referência ao mundo, para adoptar uma perspectiva pragmática, onde ela é concebida na sua
multiplicidade de uso presente nos diferentes jogos de linguagem.

Apesar do autor do Tractatus ter feito uma brilhante análise lógica da linguagem em busca da
sua essência, de modo a estabelecer as fronteiras lógicas do que se pode claramente dizer e,
assim resolver os problemas filosóficos, ele peca por ser tão radical ao fixar uma linguagem
universal aos seres humanos, cuja função resume-se essencialmente em descrever o mundo,
fechando-se a uma variedade de funções que ela desempenha em diferentes contextos das
nossas vidas. Desta forma, achamos a concepção de linguagem tractatiana de certa forma
dogmática por prender-se exclusivamente numa correspondência biunívoca entre a linguagem
e o mundo como critério de legitimação de uma proposição.

Contudo, é importante ressaltar que no Tractatus Wittgenstein contribuiu de forma


significativa para a filosofia da linguagem, tendo ampliado os horizontes da filosofia
contemporânea. De tal forma que, o autor é considerado por alguns como um dos pensadores
mais influentes do século XX e o principal responsável pela virada linguística da filosofia,
juntamente com Gottlob Frege e Bertrand Russell.
44

Referências Bibliográficas

1. Obras do autor

WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. Trad. José Arthur Giannotti,


São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1968.

______________________. Prefácio do Tractatus Logico-Philosophicus. Trad. José Arthur


Giannotti, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1968.

______________________. Investigações Filosóficas. Trad. Marcos G. Montagnoli, 6ª ed.,


Petrópolis: Editora Vozes, 2009.

2. Obras e artigos complementares

ABABAGANO, Nicola. História da Filosofia. vol. 11, 4ª ed., Lisboa, editorial presença,
2000.

______________________. Dicionário de Filosofia. 1ª ed., São Paulo, Martins Fontes, 2007.

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mestrado em Filosofia. Programa de pós-graduação em Filosofia. Marília, Universidade
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CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Wittgenstein: Linguagem e Mundo. 1ª Ed., São Paulo,
Anablume editora, 1998.

CORDÓN, Juan Manuel & MARTINEZ, Tomas Calvo. História de Filosofia: Filosofia
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