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SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE

PROPÓSITO E EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO


Matéria: Teologia Sistemática III
Turma: T2
Prof. Fúlvio Leite
Alunos: Manoel Pacheco e Wagner Félix

1 . DEFINIÇÃO DE TERMO
1 .1 O que é expiação:
Expiação significa a supressão do pecado por meio da morte reparadora de Cristo.

2 . PROPÓSITO DA EXPIAÇÃO
2 .1 O pensamento de Armínius sobre o propósito da expiação:
Armínius creia que a expiação feita por Cristo apenas possibilitava a salvação.
Raymond Blacketer oferece um excelente resumo do pensamento de Armínio. Vejamos:
“Para Armínius, a obra de Cristo na cruz não realizou a salvação para qualquer
pessoa ou grupo; em vez disso, ela somente torna possível a salvação. A cruz produz uma
nova situação legal em que Deus tem, consequentemente, o direito de entrar em um novo
relacionamento com a humanidade, sob novas condições que Deus mesmo é livre para
ordenar. A condição que ele determina é a fé; e compete ao pecador usar a graça universal
outorgada por Deus para tomar o passo de fé. O fator determinante na salvação é a escolha
espontânea da humanidade, assistida pela graça cooperante”

Podemos ver que Armínius em nenhum momento negou a expiação feita por Cristo,
ele apenas tem um conceito equivocado a respeito dela. Ele entende que Cristo na cruz torna a
salvação possível a todos os homens; o que compete aos homens agora é transformar essa
possibilidade numa realidade, e isso é possível apenas quando os homens decidem, pelo seu
livre arbítrio restaurado, crer.
Esse pensamento de Armínius é diametralmente oposto ao pensamento reformado. O
pensamento reformado insiste no fato de que mais do que possibilitar, Cristo na cruz assegura,
garante a salvação daqueles por quem ele morreu. Franklin Ferreira, em sua Teologia
Sistemática nos diz:
“O propósito de Deus, desde “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4), era separar
para si mesmo um povo, que seria justificado e santificado de toda impureza do pecado e que
pertenceria a Cristo Jesus para sempre. Jesus morreu por esse povo a quem comprou, suas
ovelhas, a igreja, entregues a ele pelo Pai, para garantir que nenhum fosse perdido, mas que
todos sejam ressuscitados no último dia e tenham a vida eterna. O profeta disse que neste
propósito Cristo seria satisfeito, porque a vontade de Deus quanto à expiação seria
realizada. Assim, tudo que o Pai intencionou por meio da expiação, o Filho conquistou. Em
outras palavras, a expiação não foi um ato provisório ou hipotético. Foi um pagamento
concreto e objetivo da penalidade pelo pecado, cujo efeito é a salvação daqueles que foram
graciosamente dados a Cristo”

3 . PROPÓSITO DA EXPIAÇÃO REFERENTE AO PAI, AO FILHO E AO


PECADOR

3 .1 Referente ao Pai:
A primeira coisa que precisamos ter em mente é que a expiação não mudou nada no
ser interior, isto é, no caráter de Deus. A mudança que surgiu foi na relação entre Deus e os
homens que na eternidade foram alvos do seu amor salvífico (ou amor expiatório como diz
Louis Berkhof). A expiação feita por Cristo na cruz reconciliou Deus com os eleitos que
outrora estavam debaixo da sua ira. O sacrifício de Cristo na cruz fez propiciação, isto é,
aplacou, desviou a ira de Deus dos eleitos pois os pecados dos eleitos foram cobertos
(pagos!).

3 .2 Referente a Cristo:
A expiação perfeita feita por Cristo assegurou para ele a recompensa por ser o
mediador. Por ter feito uma expiação perfeita Cristo recebeu:

3 .2.1 Tudo quanto dizia respeito a sua glorificação;


Em Jo. 17.5 Cristo ora: “E agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória
que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo”
Por antecipação, Cristo já considerava sua obra completa e ele ora para que a glória
que ele teve junto ao Pai antes que houvesse mundo fosse restituída; e por ter realizado a
expiação com perfeição, Cristo vê essa sua oração sendo atendida pelo Pai.
3 .2.2 A plenitude daqueles dons e graças que ele confere ao seu povo;
Sl. 68:18 diz: “Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por
dádivas, até mesmo rebeldes, para que Deus habite no meio deles”. Paulo pega esse Salmo e
aplica ele a Cristo em Ef. 4:8. Cristo por realizado uma expiação perfeita agora tem o poder
de conceder dons e graças aos homens.

3 .2.3 O dom do Espírito Santo para a formação do seu corpo místico (igreja) e para a
subjetiva aplicação dos frutos da sua obra expiatória.
At.2:23 diz: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do
Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis”
Cristo, como recompensa por sua obra expiatória, recebeu do Pai a promessa do
Espírito Santo e pôde derramá-lo sobre seus eleitos para a formação da sua igreja universal, e
também esse mesmo Espírito que forma o seu corpo místico, aplica os benefícios assegurados
por Cristo na cruz ao coração dos eleitos.

3 .3 Referente ao pecador
3 .3.1 A expiação garante a salvação; isso inclui:
- Adequada posição judicial mediante a justificação (isto é: perdão de pecados, adoção
de filhos e o direito a uma herança eterna);
- A união mística dos crentes com Cristo por meio da regeneração e da satisfação (isto
é: gradual mortificação do velho homem, e o gradual revestimento do novo homem);
- Sua bem-aventurança final, em comunhão com Deus, mediante Jesus Cristo (vida
eterna)

4 . TEXTOS BÍBLICOS QUE MOSTRAM QUE A EXPIAÇÃO GARANTE A


SALVAÇÃO:

- Lc. 19:10: “Porque o Filho do homem veio BUSCAR e SALVAR o que se havia
perdido”
- Mt. 1:21: “...e chamarás o seu nome Jesus, porque ele SALVARÁ o seu povo dos
seus pecados”
- I Tm. 1:15: “...que Cristo Jesus veio ao mundo para SALVAR os pecadores”
- Gl. 1:4 “O qual se deu a si mesmo por NOSSOS PECADOS, para nos LIVRAR”
- II Co. 5:21: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que
fôssemos FEITOS justiça de Deus”

5. A EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO

Existem quatro linhas de pensamento mais comuns sobre a extensão da expiação. A


expiação limitada, como veremos, não é um conceito exclusivamente calvinista. As linhas de
pensamento são:
 Redenção ilimitada e universal – este conceito trata sobre o universalismo na
sua forma completa. Sendo assim, a vontade de Deus era que Cristo morresse
por todos para que todos fossem salvos. Esse pensamento foi defendido e
ensinado por vários teólogos antigos da igreja tais como: Clemente de
Alexandria e Orígenes. O último defendia que até o diabo seria salvo no fim.
Embora não muito popular essa doutrina tem subsistido por muitos séculos. A
Igreja Universalista da América declarou em 1803 que “Deus é amor e que no
fim restauraria a santidade e a felicidade a toda família da humanidade”. Esse
ensino é totalmente oposto ao que diz a Escritura. A Palavra de Deus cita o
inferno mais de duzentas vezes. O Senhor Jesus afirmou a doutrina do inferno
sem fim em textos como Mateus 12.32, Mc 9.44-48 e Lc 12.4-5.
 Redenção limitada universal – ensina que a expiação é universal em seu
desígnio e limitada em sua realização. Sendo assim, a salvação é proposta pelo
Deus Triúno mas nem todos serão salvos. Essa visão também é conhecida
como arminianismo. Jacob Arminius ensinava que a eleição e a expiação
estavam condicionadas ao fato de Deus saber antecipadamente quem creria. Os
remonstrantes, seguidores de Arminius, afirmaram nos “Cinco Artigos dos
Remonstrantes” que “ Jesus Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos os
homens e em favor de cada homem, de modo que obteve para eles, todos, por
meio de sua morte na cruz, a redenção dos pecados; contudo... ninguém
desfruta realmente do perdão dos pecados, exceto o crente.” Isso apontava para
uma salvação condicionada a aceitação por parte do homem.
 Universalismo hipotético – visão proposta por Moise Amyraut, conhecida
como Amiraldismo. Ela ensina que Cristo morreu por todos hipoteticamente,
mas a graça de Deus e a eleição concede apenas aos eleitos a garantia da
salvação. Porém, há uma incoerência neste pensamento. Segundo George
Smeaton o amiraldismo supõe um “decreto duplo e conflitante; ou seja, um
decreto geral, segundo o qual Deus quer a salvação de todos e um decreto
especial, segundo o qual Deus quer a salvação dos eleitos. Também atribui a
Cristo um alvo discordante, ou seja, realizar a satisfação em favor de todos os
homens e somente em favor dos eleitos”.
 Expiação limitada ou definida – segundo os Cânones de Dort “é a crença de
que a satisfação paga por Cristo na cruz, foi de valor e dignidade infinitos, por
virtude da encarnação de Cristo, mas a sua intenção não era os pecadores em
geral ou todos os indivíduos, e sim aqueles que Deus escolheu desde a
eternidade. Joel Beeke nos mostra que “a morte de Cristo não apenas torna
possível a redenção de pecadores, mas efetivamente redime. Alguns teólogos
antigos tinham essa visão de que a redenção era apenas para os eleitos tais
como Agostinho, Próspero de Aquitaine e Gottschalk, embora com algumas
divergências.

Problemas com a visão expiatória arminiana

Sabemos que a visão arminiana de expiação é a mais popular entre estas quatro visões
apresentadas. E assim, se faz necessário a refutação a essa doutrina que tem influenciado o
pensamento de muitos. O teólogo Joel Beeke aponta algumas objeções. Segundo ele, esta
doutrina:

 Insulta o amor de Deus – o arminianismo apresenta um amor da parte de Deus


que não salva. Se este amor for recusado logo se transformará em ódio.
 Difama a sabedoria de Deus – como o Senhor faria um plano para salvar a
todos os homens, entregando Seu próprio Filho e não faria isso se concretizar?
 Difama o poder de Deus – ensina que o plano da salvação só pode ser
completado com a participação do homem. Isso tornaria o poder de Deus
falível.
 Difama a justiça de Deus – se Cristo satisfez a justiça de Deus por todos os
homens e Deus cobraria novamente daqueles que não aceitassem a sua
salvação, Deus seria injusto de cobrar por algo duas vezes.
 Enfraquece a deidade de Cristo – o Senhor Jesus é colocado como um salvador
frustrado, que não alcançou o Seu propósito. Se ele deveria salvar a todos, se
morreu por todos e assim não aconteceu, ele é um salvador ineficaz.
 Diminui a glória de Deus – se o homem tem participação efetiva na salvação,
ele então compartilha do mérito dela.
 Subverte a gratidão e a segurança – por que seríamos gratos a Deus por algo
que também fizemos?
 Corrompe a evangelização – ouvimos muitos dizerem quando estão
evangelizando frases como: “Cristo morreu por você”. Porém, isso não é
bíblico quando dito, sem distinção, a todos os homens. A Escritura ordena que
todos os homens se arrependam e creiam no evangelho.

Entendemos como John Owen que o arminianismo é universalismo inconsistente


como é descrito neste trecho da sua obra “Uma exposição do arminianismo”:
“Deus impôs sua ira devida, e Cristo suportou as aflições do inferno, ou por todos os
pecados de todos os homens, ou por todos os pecados de alguns homens, ou por alguns
pecados de todos os homens. Se este último caso for verdade, alguns pecados de todos os
homens, então todos os homens tem alguns pecados pelos quais terão de responder; logo,
ninguém será salvo. Se o segundo caso for verdade (isto é o que afirmamos), Cristo, em lugar
e por eles sofreu pelos pecados de todos os eleitos do mundo. Se o primeiro caso for verdade,
então porque nem todos são libertos da punição de todos os seus pecados? Você dirá: ‘Por
causa de sua incredulidade. Eles não querem crer’. Mas essa incredulidade é um pecado ou
não? Se não, porque eles devem ser punidos por ela? Se é pecado, então Cristo sofreu a
punição devida a esse pecado, ou não? Se ele sofreu, por que esse pecado os impede, mais do
que os seus outros pecados pelos quais Cristo morreu, de participar do fruto da sua morte?
Se Cristo não sofreu por esse pecado, ele não sofreu por todos os pecados deles.”

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