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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Faculdade de Engenharias, Arquitetura e


Urbanismo e Geografia - FAENG

Notas de aula

Estruturas de Madeira

Christiane Areias Trindade

Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul


Engenheira Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Mestre em Engenharia Civil – Estruturas pela Escola Politécnica da USP - SP
Doutora em Engenharia Civil – Estruturas pela Escola Politécnica da USP - SP

2014
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

Trindade, Christiane Areias


Notas de aula: Estruturas de madeira. Campo Grande,
2013.
64p.

Notas de aula – Universidade Federal de Mato Grosso


do Sul. Faculdade de Engenharias, Arquitetura e
Urbanismo e Geografia - FAENG

1. Estruturas de madeira 2. Notas de aula


I. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Faculdade
de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia -
FAENG

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Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

Unidade I

A madeira como material estrutural

A madeira possui algumas virtudes que podem torná-la o material de primeira escolha em
várias ocasiões, tais como:

é o único material renovável cuja produção é não poluente e tem baixo consumo
energético;

muitas espécies de madeira têm resistências e rigidezes superiores ou equivalentes


às de um excelente concreto, e algumas podem competir com o aço;

o peso específico da madeira é menor que o do concreto (cerca de 1/3) e que o do


aço (cerca de 1/8), possibilitando estruturas mais leves, e pode ser solução para
estruturas de grandes vãos onde o peso próprio da estrutura é predominante;

também decorrente do menor peso específico, estruturas de madeira permitem o


uso de estruturas pré-fabricadas mais ousadas;

a madeira possui usinagem mais simples, com menores investimentos industriais.

Porém, a madeira é um material produzido naturalmente e traz características inerentes a


essa produção: é um material heterogêneo, anisotrópico, assimétrico e biologicamente
perecível.

É heterogêneo porque possui fibras em uma direção;

anisotrópico porque possui propriedades diferentes em direções diferentes, já que


há fibras em uma das direções;

assimétrico porque as propriedades à tração e à compressão são diferentes;

a natureza biológica da madeira torna-a suscetível a agressões por fungos e


insetos.
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O emprego racional da madeira exige que essas deficiências sejam levadas em conta
adequadamente, considerando as fibras, anéis de crescimento, enfim, toda sua estrutura
interna peculiar.

Assim para fundamentar os critérios de projeto de estruturas de madeira, nesta unidade


são apresentadas a estrutura interna da madeira e suas propriedades físicas e mecânicas.

I.1 Estrutura Interna da Madeira


As árvores (Grupo das fanerógamas) de interesse para a Engenharia de Estruturas de
Madeira pertencem a duas classes:

gimnospermas, subclasse das coníferas;


angiospermas, subclasse das dicotiledôneas.

O crescimento das espécies dessas classes se dá pela adição de camadas externas no


caule, denominadas de anéis de crescimento. A primeira madeira a ser formada, durante
uma estação, em cada anel de crescimento, é denominada de madeira precoce ou juvenil,
e a segunda é a madeira tardia ou adulta, que é formada mais lentamente, resultando em
paredes de fibras mais espessas e conseqüentemente, maior resistência. A figura 1.1
mostra a seção transversal de uma árvore e os tecidos que compõem o seu tronco.

Figura 1.1. Seção transversal e camadas do tronco


(Seção transversal de um tronco de cambará do Pantanal)

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Cada camada tem função específica de crescimento, transporte, armazenamento e


sustentação da árvore, como se segue:
medula – tecido primário, com função de armazenamento de substâncias nutritivas,
muito suscetível ao ataque de microrganismos;
cerne – madeira mais antiga, com células já sem poder vegetativo, mas mais
resistentes, tem função de sustentação da árvore;
alburno – condutor de água e sais minerais (seiva bruta) e tem também função de
sustentação. Suas células mais internas, com o crescimento da árvore, perdem a
capacidade de condução e reserva e tornam-se inativas, constituindo o cerne;
câmbio – responsável pela geração de novas células para crescimento em
espessura do tronco;
floema – condutor de seiva elaborada na direção longitudinal;
casca – tecido inativo, tem função de proteção dos tecidos vivos da árvore contra
ressecamento, ataque de microrganismos e ações mecânicas.

O transporte das seivas bruta e elaborada pode ser esquematizado conforme mostra a
figura 1.2.

CÂMBIO
MEDULA CERNE ALBURNO

FLOEMA

CASCA

Seiva bruta
Seiva elaborada

Figura 1.2. Transporte de seiva – corte longitudinal do tronco

As coníferas e as dicotiledôneas possuem características diferentes tanto na aparência


externa quanto na estrutura celular, resultando em comportamentos diferentes.

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As coníferas possuem as seguintes características:


apresentam semente nua, desprotegida;
folhas cônicas, tipo agulhas, pequenas e curtas;
são sempre verdes, perenifólias;
são também denominadas resinosas ou softwoods;
possuem fibras (denominados traqueídeos) longos
(até 12 mm);
apresentam ausência de vasos ou poros;
algumas coníferas possuem canais resiníferos,
constituídos de vazios;
são coníferas: araucária (pinho do Paraná) e o pinus.

Figura 1.3. Estrutura interna de uma conífera.


Fonte: TAYLOR G. La Madera. Barcelona: Blume, 1978.

As dicotiledôneas possuem as seguintes características:


apresentam semente protegida; Madeira adulta
Madeira juvenil
folhas mais largas de todos os tamanhos;
são caducifólias (perdem as folhas em determinadas
épocas do ano);
são também denominadas latifoliadas, folhosas,
frondosas ou hardwoods;
possuem fibras curtas (até 4 mm), que têm função de
sustentação;
possuem vasos (com raríssimas exceções), que têm
função de transporte; vasos
são dicotiledôneas: eucalipto, jatobá, ipê, aroeira,
angico, peroba. Raios principais
Figura 1.4. Estrutura interna de uma dicotiledônea.
Fonte: TAYLOR G. La Madera. Barcelona: Blume, 1978.

Assim, devido a sua estrutura interna, a madeira possui três planos de simetria: radial,
tangencial aos anéis e longitudinal, como mostra a figura 1.5. A madeira é, então, um
material ortótropo, ou seja, possui características distintas nas três direções de simetria,
tais como resistência e retração, entre outras. As resistências à tração e compressão, por
exemplo, são maiores na direção longitudinal, seguida pela direção radial, sendo menor na
direção tangencial.

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radial

longitudinal
tangencial

Figura 1.5. Direções principais de simetria na madeira

No projeto de estruturas, as propriedades nas direções tangencial e radial são consideradas


iguais, por terem realmente valores próximos. Assim, considera-se que a madeira tenha
características distintas em duas direções (figura 1.6):
paralela às fibras
normal às fibras

Figura 1.6. Direções principais de simetria na madeira

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I.2 Propriedades físicas e mecânicas da madeira


Neste item são apresentadas as principais propriedades da madeira para o projeto de
estruturas.

1. Umidade

O teor de umidade na madeira é a razão entre a massa de água presente e a massa seca
de madeira. O valor do teor de umidade é determinado por meio de ensaio descrito no
Anexo B da NBR 7190/97, e dado pela expressão:
m m
U (%) i s 100
m
s
onde mi é a massa inicial da madeira e ms é a massa da madeira seca.

O teor de umidade tem grande importância para o projeto de estruturas, pois todas as
propriedades mecânicas variam com o teor de umidade. A madeira verde (saturada) possui:
 água de constituição das células vivas;
 água de adesão ou impregnação – água da parede celular;
 água livre – enche os canais do tecido lenhoso
Quando inicia-se a secagem, a madeira perde primeiramente a água livre, não sofrendo
alterações volumétricas significativas ou nas suas propriedades mecânicas. Quando perde
toda água livre e as paredes estão saturadas, a madeira atinge o ponto de saturação das
fibras (TU  28%).
Em seguida, com a secagem por exposição ao ar, começa a evaporar a água de
impregnação ou adesão, até um ponto de equilíbrio entre a umidade do ar e a da madeira,
que é denominada umidade de equilíbrio.
O teor de umidade da madeira de equilíbrio varia, portanto, com a umidade ambiente do
local. Em Campo Grande a umidade de equilíbrio é de aproximadamente 14%.
A remoção da água de adesão é acompanhada de variações volumétricas e das
propriedades mecânicas. A resistência e o módulo de elasticidade diminuem com o
aumento do teor de umidade, como exemplifica o gráfico da figura1.7.

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Resistência

10 20 30 Teor de umidade (%)

Figura 1.7. Variação da resistência da madeira com o teor de umidade

O gráfico apresenta um trecho linear entre 10% e 20%, para o qual é utilizada a expressão
da reta correspondente na determinação e correção das propriedades, no caso, da
resistência.
Para que se estabeleçam comparações entre espécies, ou para o projeto de estruturas é
necessário que se utilize um teor de umidade de referência. A NBR7190/97 estabelece o
teor de umidade de 12% como padrão de referência. Assim, todas as propriedades devem
ser corrigidas para o teor de 12% de umidade. A resistência pode ser corrigida pela
expressão:
 3U %12 
f 12f U 0 0 1 
 100 

O projeto será então realizado considerando a madeira com teor de umidade de 12%.
Entretanto, o teor de umidade da madeira será variável de acordo com a umidade ambiente
do local da construção, e para que se possa ajustar as propriedades para as condições
ambientais, deve-se fazer o enquadramento da madeira e ambiente em uma das classes
de umidade, apresentadas na NBR 7190 e no quadro 1.1. Estas classes também podem
ser utilizadas para a escolha de métodos de tratamentos preservativos das madeiras.
Quadro 1.1 - Classes de umidade

Umidade relativa do ambiente Umidade de equilíbrio da


Classes de umidade
Uamb madeira Ueq

1  65 12

2 65 < Uamb  75 15

3 75 < Uamb  85 18


Uamb > 85 durante longos
4  25
períodos
Fonte: NBR 7190/97
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2. Resistência à compressão paralela às fibras, fc0

A resistência é a aptidão da matéria suportar tensões, e é determinada convencionalmente


pela máxima tensão que pode ser aplicada até o aparecimento de sinais de que o material
não pode ser empregado como material estrutural, tais como de ruptura ou de deformação
específica excessiva.
A determinação da resistência à compressão paralela às fibras, fc0, é realizada por meio de
ensaio descrito no anexo B da NBR 7190/97, em corpos-de prova com dimensões 5 cm x
5 cm x 15 cm, sendo:

Fc 0,max
f 
c0 A

onde Fc0,max é a máxima força de compressão aplicada ao corpo-de-prova durante o ensaio;


e
A é a área inicial da seção transversal comprimida.

A madeira quando submetida à compressão paralela às fibras apresenta um


comportamento elasto-plástico, mas que pode ser aproximado, e assim considerado, como
elasto-frágil, como mostra a figura 1.8.

tensão

f co

deformação

Figura 1.8. Diagrama tensão deformação – compressão paralela às fibras

3. Resistência à compressão normal às fibras, fc90

A madeira quando submetida à compressão normal às fibras não apresenta sinais de


ruptura, e sim de deformação excessiva, sendo determinado o valor da resistência pelo
limite de deformação de 2‰, conforme apresenta o gráfico da figura 1.9.
Em uma peça de madeira deve-se considerar a extensão do carregamento, uma vez que a
madeira responde com maior resistência a cargas aplicadas em áreas menores.

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Figura 1.9. Diagrama tensão deformação – compressão normal às fibras


(NBR7190/97)

4. Resistência à tração paralela às fibras, ft0

A madeira quando submetida à tração paralela às fibras apresenta um comportamento


elasto-frágil. A resistência à tração paralela às fibras, f t0, é dada pela máxima tensão de
tração que pode atuar em um corpo-de-prova, conforme determina a NBR 7190/97, em seu
Anexo B, sendo dada por:
Ft 0,max
f 
t0 A
onde Ft0,max é a máxima força de tração aplicada ao corpo-de-prova durante o ensaio; e
A é a área inicial da seção transversal tracionada;

5. Resistência à tração normal às fibras, ft90

A madeira quando submetida à tração normal às fibras também apresenta comportamento


elasto-frágil, e valor de resistência muito baixo, sendo considerado, para efeito de projeto,
igual a zero. Assim, a segurança de peças de madeira não deve depender diretamente da
resistência à tração normal às fibras.

6. Resistência ao cisalhamento paralelo às fibras, fv0

A resistência ao cisalhamento paralelo às fibras da madeira, fv0, é dada pela máxima tensão
de cisalhamento que pode atuar na seção crítica de um corpo de prova prismático, sendo
dada por:
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Fv 0,max
fv 0 
Av 0

onde Fv0,max é a máxima força cisalhante aplicada ao corpo-de-prova; e


Av0 é a área inicial da seção crítica do corpo de prova.

7. Resistência ao embutimento paralelo às fibras, fe0 e normal às fibras, fe90

O embutimento ocorre em peças de madeira nas regiões onde há ligações por pinos,
quando os pinos, então, comprimem a área de contorno do furo, como mostra a figura 1.10.

região comprimida

Figura 1.10. Embutimento de pino na madeira

A resistência de embutimento, fe, é definida pela razão entre a força Fe que causa a
deformação específica residual de 2‰ e a área de embutimento do pino Ae=td , determinada
no ensaio do corpo-de-prova definido no Anexo B da NBR 7190/97.
Para esta finalidade, as resistências de embutimento nas direções paralela e normal às
fibras, fe0 e fe90 em MPa , são determinadas a partir do diagrama tensão deformação de
embutimento mostrado na figura 1.11 . Estas resistências são dadas pelas expressões:

Fe 0 Fe 90
fe 0  fe90 
td td

onde Fe0 e Fe90 são as forças aplicadas respectivamente nas direções paralela e normal às
fibras, correspondentes às deformações residuais de =2‰;
t é a espessura do corpo-de-prova e d é o diâmetro do pino.

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Figura 1.11. Diagrama tensão deformação de embutimento

8. Resistência característica

De modo geral, salvo especificação em contrário, entende-se que o valor característico da


resistência, fk, seja o valor característico inferior fk,inf. O valor característico inferior fk,inf ,
menor que o valor médio, é o valor que tem apenas 5 % de probabilidade de não ser atingido
em um dado lote de material.
Para as espécies já investigadas por laboratórios idôneos, que tenham apresentado os
valores médios das resistências, fm, e dos módulos de elasticidade Eco,m , correspondentes
a diferentes teores de umidade U  20, admite-se como valor de referência a resistência
média fm,12 correspondente a 12 % de umidade.
Neste caso, para o projeto, pode-se admitir a seguinte relação entre as resistências
característica e média:

fk,12 =0,7 fm,12

correspondente a um coeficiente de variação da resistência de 18.


Para as espécies usuais, na falta da determinação experimental, a NBR 7190/97 permite
adotar as seguintes relações para os valores característicos das resistências:
f co,k /f to,k 0,77

f tM,k /fto,k 1,0


f c 90,k /f co,k 0,25

f eo,k /f co,k 1,0

f e90,k /f co,k 0,25

Para coníferas: f vo,k /f co,k 0,15

Para dicotiledôneas: f vo,k /f co,k 0,12


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9. Classes de resistência

As classes de resistência foram estabelecidas na NBR 7190/97 com o objetivo de


possibilitar o emprego de madeiras com propriedades padronizadas, orientando a escolha
do material para elaboração de projetos estruturais. As classes de resistências estão
apresentadas nos quadros 1.2 e 1.3.

Quadro 1.2. Classes de resistência das coníferas


Coníferas
(Valores na condição padrão de referência U = 12)
Eco,m bas,m aparente
Classes fcok (MPa) fvk (MPa)
(MPa) (kg/m3) (kg/m3)

C 20 20 4 3 500 400 500


C 25 25 5 8 500 450 550
C 30 30 6 14.500 500 600
Fonte: NBR 7190/97

Quadro 1.3. Classes de resistência das dicotiledôneas


Dicotiledôneas
(Valores na condição padrão de referência U = 12)
Eco,m bas,m aparente
Classes fcok (MPa) fvk (MPa)
(MPa) (kg/m3) (kg/m3)

C 20 20 4 9 500 500 650


C 30 30 5 14.500 650 800
C 40 40 6 19.500 750 950
C 60 60 8 24.500 800 1000

Fonte: NBR 7190/97

A madeira de um lote é considerada como pertencente a uma das classes de resistência


se a resistência à compressão paralela às fibras característica do lote, obtida por meio de
caracterização simplificada, for maior ou igual à resistência à compressão paralela às fibras
característica especificada para a classe, ou seja:

fcok,ef  fc 0k ,esp

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10. Resistência de cálculo, fd

A resistência de cálculo, fd, é a resistência considerada no projeto. O valor da resistência


de cálculo é obtido a partir do valor característico, de acordo com a expressão:
fk
fd  k mod
w
onde kmod é o coeficiente de modificação;
fk é a resistência característica; e
w é o coeficiente de minoração das propriedades da madeira
O coeficiente w representa as influências decorrentes da variabilidade do material dentro
do lote considerado; de diferenças anatômicas existentes entre o material do corpo-de-
prova e o da estrutura; e de imperfeições das hipóteses do método de cálculo.
Os coeficientes de ponderação para estados limites últimos têm os seguintes valores:
compressão paralela às fibras: wc = 1,4
tração paralela às fibras: wt = 1,8
cisalhamento paralelo às fibras: wv = 1,8

Os coeficientes de modificação kmod afetam os valores de cálculo das propriedades da


madeira em função da classe de carregamento da estrutura, da classe de umidade
admitida, e do eventual emprego de madeira de 2a qualidade.
O coeficiente de modificação é formado pelo produto

k modk mod,1k mod,2 k mod,3

O coeficiente parcial de modificação kmod,1, que leva em conta a classe de carregamento e


o tipo de material empregado, é dado pelo quadro 1.4.

Quadro 1.4. Valores de kmod,1


Tipos de madeira
Classes de Madeira serrada
Madeira
carregamento Madeira laminada colada
recomposta
Madeira compensada
Permanente 0,60 0,30
Longa duração 0,70 0,45
Média duração 0,80 0,65
Curta duração 0,90 0,90
Instantânea 1,10 1,10
Fonte: NBR 7190/97

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O coeficiente parcial de modificação kmod,2 , que leva em conta a classe de umidade e o tipo
de material empregado, é dado pelo quadro 1.5.

Quadro 1.5. Valores de kmod,2


Madeira serrada
Madeira
Classes de umidade Madeira laminada colada
recomposta
Madeira compensada
(1) e (2) 1,0 1,0
(3) e (4) 0,8 0,9
Fonte: NBR 7190/97

No caso particular de madeira serrada submersa admite-se o valor kmod,2 = 0,65.


O coeficiente parcial de modificação kmod,3 leva em conta se a madeira é de 1a ou 2a
categoria. No caso de madeira de 2a categoria admite-se kmod,3 = 0,8 e no de 1a categoria
kmod,3 = 1,0.
A condição de madeira de 1a categoria somente pode ser admitida se todas as peças
estruturais forem classificadas como isentas de defeitos, por meio de método visual
normalizado, e também submetidas a uma classificação mecânica que garanta a
homogeneidade da rigidez das peças que compõem o lote de madeira a ser empregado.
Não se permite classificar as madeiras como de 1a categoria, apenas por meio de método
visual de classificação.
O coeficiente parcial de modificação kmod,3 para coníferas na forma de peças estruturais
maciças de madeira serrada sempre deve ser tomado com o valor kmod,3 = 0,8 , a fim de se
levar em conta o risco da presença de nós de madeira não detectáveis pela inspeção visual.
Com objetivo de simplificar o processo de cálculo, a NBR 7190/97 apresenta relações entre
as resistências de cálculo e a resistência à compressão paralela às fibras de cálculo, para
que, uma vez calculado o valor de fc0,d, os demais valores possam ser calculados de
maneira imediata.
fto,d fco,d

fc 90,d 0,25 fco,d  n


feo,d fco,d

fe90,d 0,25 fco,d 


e
coníferas: fvo,d 0,12 fco,d

dicotiledôneas: fvo,d 0,10 fco,d

onde n é dado pelo quadro 1.6 e e é dado pelo quadro 1.7.


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Quadro 1.6. Valores de n

Extensão da carga normal às


fibras, medida paralelamente a n
estas (cm)

1 2,00
2 1,70
3 1,55
4 1,40
5 1,30
7,5 1,15
10 1,10
15 1,00
Fonte: NBR 7190/97

Quando a carga atuar na extremidade da peça ou de modo distribuído na totalidade da


superfície de peças de apoio, admite-se n =1,0 .

Quadro 1.7. Valores de e

Diâmetro do pino (cm)  0,62 0,95 1,25 1,6 1,9 2,2

Coeficiente e 2,5 1,95 1,68 1,52 1,41 1,33

Diâmetro do pino (cm) 2,5 3,1 3,8 4,4 5,0  7,5

Coeficiente e 1,27 1,19 1,14 1,1 1,07 1,0

Fonte: NBR 7190/97

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Exercícios Unidade I

1) Em uma obra será utilizada uma madeira que, segundo tabelas de ensaios do
IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo), tem resistência à compressão
paralela às fibras média, a um teor de umidade de 18%, f c0m,18, igual a 42 MPa. Determine
a resistência característica à compressão paralela às fibras dessa madeira, f c0,k, para a
umidade padrão de referência da NBR 7190/97.

2) Uma estrutura será construída em uma região com umidade relativa do ar em


torno de 80%, para suportar carregamentos de longa duração. A madeira utilizada será uma
dicotiledônea classe C40 de 2a categoria. Determine o valor de cálculo das resistências:
 à compressão paralela às fibras;
 à tração paralela às fibras;
 ao cisalhamento paralelo às fibras;
 à compressão normal às fibras, considerando que a carga estará atuando em
uma região da peça com comprimento de 10 cm.

3) Uma estrutura de cobertura foi projetada para ser construída em Campo Grande. Porém,
o proprietário resolveu construir uma estrutura idêntica em Manaus, que possui umidade
ambiente em torno de 85%, na maior parte do ano. Considerando os valores de resistências
utilizados, há necessidade de rever o projeto? Calcule a diferença percentual que haveria
entre as resistências à compressão de cálculo nos dois locais.

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Unidade II
Ações e segurança nas estruturas

A idéia de segurança está ligada à idéia de sobrevivência aos riscos de utilização normal.
Uma estrutura segura deve, então, cumprir primeiramente a exigência:
Durante o prazo de sua vida útil, a estrutura deve ter desempenho satisfatório às
finalidades para as quais foi construída, desde que utilizada de forma prevista.
Assim, o sistema estrutural é confiável.
Entretanto, o respeito à vida humana exige ainda que:
Se uma estrutura chegar à ruína, seu colapso deve ser avisado;
Se não houver risco de ruína, não devem existir falsos sinais de alarme (respeito ao
conforto psicológico dos usuários).
A verificação da segurança é feita por meio de condições analíticas, de comparação entre
valores atuantes e resistentes ou limites, e por meio de condições construtivas, em todos
os estados considerados como limites para a estrutura.
A NBR 8681 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8681: ações e
segurança nas estruturas. Rio de Janeiro, 1984) normatiza as ações e segurança nas
estruturas, independente do material que as constituem. A NBR 7190 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7190: projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro,
1997) apresenta dois capítulos sobre o assunto, ratificando as especificações da
NBR 8681/84.

II. 1. Estados limites


Segundo a NBR 7190/97, estados limites são estados a partir dos quais a estrutura
apresenta desempenho inadequado às finalidades da construção.
Estado limites últimos são estados que por sua simples ocorrência determinam a
paralisação, no todo ou em parte, do uso da construção.
Estados limites de utilização são estados que por sua ocorrência, repetição ou duração
causam efeitos estruturais que não respeitam as condições especificadas para o uso
normal da construção, ou que são indícios de comprometimento da durabilidade da
construção.

II.2 Ações
Segundo a NBR 7190/97, ações são as causas que provocam o aparecimento de esforços
ou deformações nas estruturas. As forças são ações diretas e os deslocamentos impostos
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são ações indiretas. As ações podem ainda ser permanentes, variáveis, especiais ou
excepcionais.
Os valores característicos das ações permanentes são determinados com as dimensões
nominais das peças e com o peso específico médio de cada material. Os valores das ações
variáveis são os especificados pelas diversas normas brasileiras referentes aos diferentes
tipos de construção.
Em princípio, no projeto das estruturas podem ser consideradas as seguintes situações de
projeto: situações duradouras, situações transitórias e situações excepcionais. Para cada
estrutura particular devem ser especificadas as situações de projeto a considerar, não
sendo necessário levar em conta as três possíveis situações de projeto em todos os tipos
de construção.
Para cada situação deve ser estabelecido um carregamento que irá atuar na estrutura,
sendo carregamento definido como um conjunto de ações que têm alguma probabilidade
de ocorrer simultaneamente sobre a estrutura.
O carregamento pode ser:
normal – formado pelas ações decorrentes do uso previsto para construção, tais
como peso próprio, cargas acidentais e vento. O carregamento normal deve ser
considerado na verificação da segurança em relação a estados limites últimos e
estados limites de utilização. Nas estruturas de madeira esse carregamento
corresponde à classe de longa duração (quadro 2.1). Em um carregamento normal,
as eventuais ações de curta ou média duração terão seus valores atuantes
reduzidos a fim de que a resistência da madeira possa ser considerada como
correspondente apenas às ações de longa duração.
especial – inclui a ação de uma variável especial.
excepcional – inclui ações excepcionais que podem provocar efeitos catastróficos.
de construção – transitório, deve ser definido no caso em que haja risco de
ocorrência de ELU durante a construção.

II.3 Combinações das ações


Em cada tipo de carregamento as ações devem ser combinadas de diferentes maneiras, a
fim de serem determinados os efeitos mais desfavoráveis para a estrutura, que serão
denominados efeitos de cálculo (de projeto), Fd.
A classe de carregamento de qualquer combinação de ações é definida pela duração
acumulada prevista para a ação variável tomada como a ação variável principal na
combinação considerada. As classes de carregamento estão especificadas no quadro 2.1 .
20
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Quadro 2.1 - Classes de carregamento

Ação variável principal da combinação


Classe de carregamento Ordem de grandeza da duração
Duração acumulada
acumulada da ação característica

Permanente Permanente vida útil da construção


Longa duração Longa duração mais de 6 meses
Média duração Média duração 1 semana a 6 meses
Curta duração Curta duração menos de 1 semana
Duração instantânea Duração instantânea muito curta

Fonte: NBR 7190/97

As combinações são classificadas de acordo com o estado limite e com os carregamentos


considerados:
combinações últimas normais

F d 
m

i 1
 GiF Gi, k  Q F Q1, k 

n

j 2
0j F Qj, k 

onde g é o coeficiente de ponderação das ações permanentes, dado pelo quadro 2.2
(tabelas 3, 4 e 5 da NBR 7190/97);
q é o coeficiente de ponderação das ações variáveis, dado pelo quadro 2.3 (tabela
6 da NBR 7190/97);
FGi,k representa o valor característico das ações permanentes;
FQ1,k é o valor característico da ação variável considerada como ação principal para
a combinação considerada; e
0j FQj,k é o valor reduzido de combinação da ação variável j, sendo 0 dado pelo
quadro 2.4 (tabela 2 da NBR 7190/97.)

Quadro 2.2 - Ações permanentes

Combinações de pequena variabilidade para efeitos* de grande variabilidade para efeitos*


desfavoráveis favoráveis desfavoráveis favoráveis
Normais  g = 1,3  g = 1,0  g = 1,4  g = 0,9

Especiais ou de Construção  g = 1,2  g = 1,0  g = 1,3  g = 0,9

Excepcionais  g = 1,1  g = 1,0  g = 1,2  g = 0,9


(*) podem ser usados indiferentemente os símbolos  g ou 
G
21
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Quadro 2.3 - Ações variáveis


ações variáveis em geral incluídas efeitos da
Combinações
as cargas acidentais móveis temperatura
Normais  Q = 1,4   = 1,2
Especiais ou de Construção  Q = 1,2   = 1,0
Excepcionais  Q = 1,0  = 0

Quadro 2.4- Fatores de combinação e de utilização


Ações em estruturas correntes 0 1 2
- Variações uniformes de temperatura em relação à média anual local 0,6 0,5 0,3
- Pressão dinâmica do vento 0,5 0,2 0
Cargas acidentais dos edifícios 0 1 2
- Locais em que não há predominância de pesos de equipamentos fixos, 0,4 0,3 0,2
nem de elevadas concentrações de pessoas
- Locais onde há predominância de pesos de equipamentos fixos, ou de 0,7 0,6 0,4
elevadas concentrações de pessoas
- Bibliotecas, arquivos, oficinas e garagens 0,8 0,7 0,6
Cargas móveis e seus efeitos dinâmicos 0 1 2

- Pontes de pedestres 0,4 0,3 0,2*


- Pontes rodoviárias 0,6 0,4 0,2*
- Pontes ferroviárias (ferrovias não especializadas) 0,8 0,6 0,4*
* Admite-se 2=0 quando a ação variável principal corresponde a um efeito sísmico

Os valores 0 FQk levam em conta que é muito baixa a probabilidade de ocorrência


simultânea de duas ações características de naturezas diferentes, ambas com seus valores
característicos. Por isto, em cada combinação de ações, uma ação característica variável
é considerada como a principal, entrando com seu valor característico Fk , e as demais
ações variáveis de naturezas diferentes entram com seus valores reduzidos de combinação
0 FQk.

combinações últimas especiais ou de construção

Fd   Gi FGi ,k  Q FQ1,k    0 j FQj,k 


m n

i 1  j 2 
onde FQ1,k representa o valor característico da ação variável considerada como principal
para a situação transitória

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combinações de utilização de longa duração


As combinações de longa duração são consideradas no controle usual das deformações
das estruturas. Nestas combinações, todas as ações variáveis atuam com seus valores
correspondentes à classe de longa duração. Estas combinações são expressas por

m n

F d, uti  F Gi, k 
i 1
  2 jF Qj, k
j 1

onde o coeficiente 2 é dado pelo quadro2.4 (tabela 2 da NBR 7190/97).

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Exercícios Unidade II

Uma viga de madeira de 6 cm x 16 cm, de madeira classe C60 dicotiledôneas pertence à


estrutura do piso de uma varanda, e está biapoiada, com vão livre de 3 metros, e possui
balanços nas duas extremidades de 0,5 m cada. Pede-se:

a) Calcule o peso próprio dessa viga, distribuído ao longo de seu comprimento (em
kN/m). (Lembre-se que para cálculo de peso da madeira deve-se utilizar a
densidade aparente obtida nas tabelas de classes de resistência).

Considere que também está atuando na viga, durante seu uso normal, uma carga
permanente de outros elementos de 0,5 kN/m e uma sobrecarga de utilização de piso de
residência de 2 kN/m.
Durante a construção deve-se considerar uma carga de construção de 1 kN, atuando na
posição que gerar o maior esforço em estudo.

b) Calcule o momento fletor máximo devido às cargas permanentes, Mgk, à carga


acidental, Mqk, e à carga de construção, MQk.

c) Calcule o esforço cortante máximo devido às cargas permanentes, Vgk, à carga


acidental, Vqk, e à carga de construção, VQk.

d) Determine o máximo momento fletor de cálculo, Md, que irá atuar durante o uso
normal da estrutura (utilize a combinação última normal)

e) Determine o máximo momento fletor de cálculo, Md, que irá atuar durante a
construção da estrutura (utilize a combinação última de construção)

f) Determine o máximo esforço cortante de cálculo, Vd, que irá atuar durante o uso
normal da estrutura (utilize a combinação última normal)

g) Determine o máximo esforço cortante de cálculo, Vd, que irá atuar durante a
construção da estrutura (utilize a combinação última de construção)

h) Determine o momento fletor de cálculo e o esforço cortante de cálculo que


deverão ser utilizados para verificação da segurança da viga (são os maiores
entre todos os calculados)

i) Calcule o deslocamento máximo decorrente das ações permanentes, vg

j) Calcule o deslocamento máximo decorrente das ações variáveis, vq

k) Determine o máximo deslocamento que irá ocorrer na viga (utilize a combinação


de utilização de longa duração)
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Unidade III
Estruturas de cobertura

Nesta unidade são apresentadas as estruturas de cobertura em madeira e as ações nesse


tipo de estrutura.

A partir desta unidade você estará apto a:


Conceber uma estrutura de cobertura.
Quantificar e distribuir as cargas atuantes nas estruturas de cobertura, incluindo ações de
vento.
Determinar as cargas e esforços atuantes em cada peça estrutural do projeto de cobertura.

III.1 Estruturas para coberturas residenciais e industriais

As coberturas destinam-se a proteger a edificação contra a ação das intempéries, tais como
chuva, vento, raios solares e também impedir a penetração de poeira ou ruído, devendo,
para tanto, resistir a essas ações.
As coberturas são compostas pelas telhas, que podem ser cerâmicas, de concreto, de
cimento-amianto, aço zincado, madeira aluminizada, PVC e fiber-glass, e pelos elementos
estruturais: ripas, caibros, terças, tesouras e contraventamento.
A superfície do telhado pode ser formada por um ou mais planos, denominados águas (uma
água, duas águas, quatro águas ou múltiplas águas) ou por uma ou mais superfícies curvas
(arco, cúpula ou arcos múltiplos).

Referências para a estruturas de cobertura


Capítulo 1 (itens 1.2 e 1.2) e Capítulo 5 de MOLITERNO, A. Caderno de projetos de
telhados em Estruturas de madeira. 2.ed. São Paulo: Edgar Blücher, 1992.
Blog Estruturas De Madeira. Eng Alan Dias. http://estruturasdemadeira.blogspot.com.br/
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III.2 Ação do vento em estruturas


A NBR 6123 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: forças devidas
ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988) recomenda o cálculo da ação do vento visando
sua atuação nas várias partes que compõem uma edificação:
elementos de vedação e suas fixações;
partes da estrutura (paredes e telhados); e
estrutura como um todo

Cálculo da ação do vento


Como regra geral, é admitido que o vento pode soprar de qualquer direção horizontal. A
seguir são apresentadas as etapas de cálculo da ação do vento.
a) determinação da velocidade básica do vento, vo ,a partir do gráfico de isopletas
(mapa do vento). É a velocidade de uma rajada de 3 segundos, excedida em média
uma vez em 50 anos, a 10 metros acima do terreno, em campo aberto e plano.

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b) Cálculo da velocidade característica


v k  S1 S2 S3 v o

onde S1 é o fator topográfico, e é dado por:


a) terreno plano ou fracamente acidentado: S1 =1,0;
b) ponto em encostas de taludes e morros: S1 deve ser determinado de
acordo com o item 5.2b da NBR 6123/88;
c) vales profundos, protegidos de ventos de qualquer direção: S1 = 0,9;
S2 é o fator de rugosidade do terreno, dado pela tabela 2 da NBR 6123/88;
e
S3 é o fator estatístico, dado pela tabela 3 da NBR 6123.

c) Cálculo da pressão dinâmica

q  0,613 v k2
com vk dada em m/s e q em N/m2

d) Determinação dos coeficientes aerodinâmicos de pressão externa e interna


A pressão externa ou interna em cada parte da edificação é dada por:
pressãoexterna  C e  q

pressão interna  C i  q

e pode ser de sobrepressão ou de sucção. Para determinação dos coeficientes


considera-se o vento agindo nas duas faces principais da edificação (a 0o ou 90o).
Os coeficientes de pressão externa são obtidos nas tabelas 4 a 8, da NBR 6123, de
acordo com tipo de telhado e a parte da edificação em estudo.
Os coeficientes de pressão interna dependem da permeabilidade das paredes e
cobertura da edificação. São consideradas impermeáveis ao vento: lajes e cortinas
de concreto e paredes de alvenaria, sem portas, janelas ou quaisquer outras
aberturas. Os valores dos coeficientes estão apresentados no item 6.2 da NBR
6123/88.

e) Resumo da ação do vento


Uma vez determinadas as pressões em cada parte da estrutura é necessário somá-
las e obter as resultantes nos beirais e na parte interna do telhado, que serão
consideradas em um dimensionamento. Deve-se somar somente pressões que
atuam no mesmo sentido e manter atuantes as que estiverem em sentidos
diferentes.

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III.3 Ações em telhados


Consideram-se como ações usuais em coberturas:
Ações permanentes:
 Peso próprio da estrutura;
 Peso próprio das telhas;
Ações acidentais:
 vento;
 absorção de água da chuva pelas telhas;
 carga de construção.

Peso próprio da estrutura


Deve ser calculado em função das dimensões dos elementos e da densidade aparente da
madeira. A carga resultante da ação aproxima-se mais da realidade se calculada distribuída
ao longo de seu comprimento, em kN/m.
Nas terças, por exemplo, estão atuando o peso da própria terça, das ripas e dos caibros,
que nela apóiam.

Peso próprio das telhas


O peso das telhas é fornecido pelo fabricante e deve ser distribuído na área da cobertura
em que atua. A parcela direcionada a cada elemento é obtida concentrando-se a carga
distribuída por metro quadrado (kN/m2) no elemento considerado, como por exemplo, na
figura 3.1:
O peso proveniente das telhas atuando na terça 1 é obtido multiplicando-se o valor da carga
distribuída (kN/m2) pela distância medida na horizontal, compreendida entre a ponta do

beiral, (100 cm) e a metade da distância entre as terças 1 e 2 ( 200 cm).


2

Figura 3.1. Esquema de cobertura

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Vento
Obtido por meio dos cálculos realizados na atividade anterior. Deve ser concentrado nos
elementos de maneira análoga ao peso das telhas, considerando-se que o vento incide
perpendicularmente ao plano da cobertura. Assim as distâncias a serem consideradas
devem ser as medidas na direção da cobertura.

Absorção de água (inchamento das telhas)


É calculado como uma porcentagem do peso próprio das telhas, que é fornecida pelo
fabricante, pois depende do material da telha.

Carga de construção
Considera-se o peso de uma pessoa, igual a 1kN, concentrado no ponto mais desfavorável
do elemento considerado. Faz parte de um carregamento transitório que irá atuar somente
durante a construção ou manutenção da estrutura.

Cargas nos nós da tesoura


Podem ser obtidas a partir das reações de apoio das vigas, lembrando que possivelmente
há duas vigas apoiando em um mesmo nó, somando-se o peso próprio da tesoura, que
pode ser obtido pela expressão empírica de Howe, concentrando-o nos nós.
gTESOURA  2,45 1  0,33 L

onde gTESOURA é obtido em kgf/cm2; e


L é o vão teórico da tesoura em metros
Assim, utilizando como exemplo a figura 1, a carga no nó 2 é obtida concentrado-se gTESOURA
200 200
no nó 2, multiplicando-o pela distância média entre os nós 1 e 2, e 2 e 3, ( + ), e
2 2
pela distância entre tesouras.

29
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Exercícios Unidade III

1 Concepção de uma estrutura de cobertura

Esta atividade deve ser realizada individualmente ou em grupo, e dá início ao projeto de


cobertura que você irá desenvolver. Você deverá projetar uma cobertura em madeira, que
poderá ser residencial ou industrial. Para isso, escolha um projeto arquitetônico, que poderá
ser de sua autoria ou retirado de revistas ou anúncios.

Nesta atividade você deverá conceber a estrutura, ou seja, determinar os elementos que
comporão a cobertura, como tesouras (com divisão em painéis, e espaçamentos entre
elas), vigas, caibros e ripas (no caso de cobertura em telha cerâmica).

Deverão ser apresentados os desenhos da estrutura no software AutoCAD

2 Determinação da ação do vento

Nesta atividade você deverá realizar a quantificação da ação do vento na cobertura que
você está projetando, ou seja, determinar os valores do esforço de vento atuantes nas
partes principais do telhado.

3 Determinação das ações nos elementos estruturais

Nesta atividade você deverá realizar a quantificação das ações permanentes e acidentais
atuantes nas terças e nos nós da tesoura.

4 Esforços nos elementos da cobertura

Os esforços nos elementos principais, fundamentais para o dimensionamento são os


momentos fletores e esforços cortantes nas terças, e esforços de tração e compressão nas
barras da tesoura. Os esforços de cálculo devem ser obtidos como foi feito na unidade II.
Nesta atividade você deverá realizar o cálculo dos esforços atuantes nas terças e nas
barras da tesoura, quais sejam:

Terças

Momento fletor máximo de cálculo

Esforço cortante máximo de cálculo

Barras da tesoura

Esforços normais de tração e compressão de cálculo

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Unidade IV
Dimensionamento à tração

Nd

Nd

Nesta unidade são apresentados os critérios de dimensionamento de peças de madeira


tracionadas.

A partir desta unidade você estará apto a:


Dimensionar e estabelecer a segurança de uma peça tracionada.
Dimensionar as peças tracionadas da tesoura do projeto de cobertura.

As barras tracionadas devem atender a disposições construtivas estabelecidas pela NBR


7190/97.

Disposições construtivas:
1) Dimensões mínimas da seção transversal
Peças principais – área mínima: 50 cm2
espessura mínima: 5 cm
Peças secundárias – área mínima: 18 cm2
espessura mínima: 2,5 cm

2) Esbeltez máxima
Para seções cheias retangulares o comprimento teórico de referência deverá ser
menor ou igual a 50 vezes a dimensão transversal correspondente (Lo ≤ 50 b).

31
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IV.1 Condição de segurança de peças tracionadas

A NBR 7190/97 (ABNT. NBR 7190: Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro,1997)
estabelece a segurança de uma peça de tracionada por meio da seguinte condição de
segurança:

 d  fto,d

onde σd é a tensão atuante na peça e


fto,d é a resistência à tração paralela às fibras - A resistência à tração paralela às
fibras de cálculo, fto,d, já apresentada na unidade 1 é igual à fco,d, a resistência à compressão
paralela às fibras de cálculo

A tensão atuante em uma barra submetida à tração é definida, pela resistência dos
materiais, como a razão entre a força aplicada e a área da seção transversal onde atua
essa força, o que pode ser expresso por:
Nd
d 
A
d
onde Nd é a força normal de tração atuante,
de cálculo e Nd
A é a área da seção transversal

IV.1 Verificação da seção transversal em região de ligações

Na região de ligações, em peças de madeira tracionadas, haverá sempre furos na seção


transversal, ou ainda redução desta seção pela execução de entalhes, que diminuem a área
resistente desta seção.

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A NBR 7190/97 estabelece que os furos podem ser desprezados desde que a redução da
área resistente não supere 10% da área da zona tracionada. Caso contrário deverá ser
considerada a área útil para efeito de cálculo das tensões atuantes.

A área útil, em região de furação, será dada, a partir da área bruta, Ag, da seção
transversal, pela subtração da área de furos, Afuros, como se segue:
Aútil = Ag - Afuros
No caso da figura, onde há três furos na seção
transversal, a área útil será dada por:

Aútil = b h – 3  b

Onde b é a largura da peça; h 


h é a a altura da peça; e
b
 é o diâmetro do furo, dado por d + 0,5mm, sendo d o diâmetro do parafuso

Assim, a tensão atuante passa a ser escrita como se segue:


Nd
d 
Aútil
onde Nd é a força normal de tração atuante, de cálculo e
Aútil é a área líquida da seção transversal

A condição de segurança  d  f to,d deve então ser verificada.

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Exercícios Unidade IV

1 Você é o engenheiro responsável por uma obra residencial e precisa selecionar uma peça
de madeira capaz de suportar uma carga axial de tração de cálculo com valor de 90 kN,
obtida de carregamento de longa duração, para uma diagonal de treliça de telhado. Você
dispõe de peças de madeira C40 dicotiledônea de 2a. categoria, de 6 cm x 12 cm e de
5 cm x 15 cm, ambas com 3 m de comprimento. A estrutura será construída em uma região
com umidade relativa do ar em torno de 80%.
Calculando para o estado limite último, e verificando as limitações construtivas, de
acordo com a NBR 7190, verifique se as peças disponíveis podem ser utilizadas ou não.
Sugestão: Para resolver o exercício, você deverá fazer 3 verificações: verificação em
estado limite último (condição de segurança), verificação das dimensões mínimas, e
verificação da esbeltez. Inicie determinando a resistência à tração paralela às fibras da
madeira e a tensão atuante em cada peça, e verifique a condição de segurança para cada
uma. A seguir, verifique se as peças atendem às limitações construtivas.

2 A tesoura da figura abaixo compõe a cobertura de uma residência, com laje de forro, que
será construída em uma região com umidade relativa do ar em torno de 80%. Será utilizada
madeira classe C60 dicotiledôneas, de 2a. categoria, e telhas cerâmicas.

Após determinação das cargas e esforços em combinação de longa duração obteve-se, no


pendural (barra CD), um esforço normal de tração de cálculo de 30 kN.
a) Determine o máximo esforço normal de cálculo que pode atuar no tirante (e nas
cobrejuntas), com ligação apresentada no detalhe A.
b) Apresente, com cálculos, uma solução que possa adequar o tirante (sem modificar suas
dimensões) para resistir a um esforço de 10% maior que o determinado no item anterior.

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3 A estrutura de cobertura da figura abaixo será construída com madeira classe C30,
dicotiledôneas, em uma região com umidade relativa do ar em torno de 78%.

Nó inferior central
diâmetro do parafuso: 12,5 mm
Verifique a segurança da barra 10, que tem seção transversal de 6 cm x 16 cm, e está
ligada ao tirante (barra 9) conforme o detalhe apresentado na figura. Após determinação
das cargas e esforços em combinação de longa duração uma força de cálculo de 10 kN,
atuando na barra.

Sugestão: Neste exercício, há, na barra 10, entalhes para ligação das barras inclinadas e
furos para a ligação com o tirante. Então deverão ser consideradas na verificação as duas
seções mais críticas: a seção de máxima redução do entalhe, onde há a retirada de 3,5 cm
de cada lado; e a seção onde há um furo.

Como estudo complementar, sugere-se leitura e resolução dos exercícios do livro


referenciado na Bibliografia básica: PFEIL, W e PFEIL, M. Estruturas de madeira. 6.ed.
Rio de Janeiro: LTC, 2003.

4 Dimensionamento das barras tracionadas da tesoura do projeto de cobertura


O objetivo desta atividade é o dimensionamento das barras tracionadas do projeto de
cobertura que você já está desenvolvendo.
No projeto você obteve valores de diferentes magnitudes para as barras tracionadas. Para
fins de facilidade de execução da estrutura deve-se uniformizar barras com finalidades
semelhantes. Sendo assim, utilize uma seção transversal para o tirante e outra para as
demais barras da treliça.
Lembre-se que haverá ligações com furos que reduzirão a seção transversal. Considere,
portanto, para fins de dimensionamento, que haverá uma perda de cerca de 30% de área,
pois as ligações serão verificadas posteriormente.

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Unidade V
Dimensionamento à compressão simples

Nesta unidade são apresentados os critérios de dimensionamento de peças de madeira


submetidas à compressão simples.

A partir desta unidade você estará apto a:


Dimensionar e estabelecer a segurança de uma peça comprimida.
Dimensionar as peças comprimidas da tesoura do projeto de cobertura.

As tensões de compressão podem atuar em uma peça na direção paralela às fibras (figura
5.1), na direção normal às fibras, como ocorrem em regiões de apoio de vigas (figura 5.2),
ou em direções inclinadas às fibras, como no caso de ligações (figura 5.3), sendo as
condições de segurança dadas pelas expressões.

 cd f cd
 c90,df c90,d
 c 0d f c 0d (barras curtas)
Figura 5.2. Compressão
Figura 5.3. Compressão
inclinada de 
Figura 5.1. Compressão normal às fibras
paralela às fibras

As resistências da madeira nas direções paralela e normal às fibras já foram apresentadas


na unidade I. Em direções inclinadas de  em relação à direção longitudinal, a resistência
é dada pela fórmula de Hankinson:

f c 0 f c 90
f c 
sen  f c 90 cos2
2
f c0

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A NBR 7190/97 permite desconsiderar inclinações de até 6O (1:10).


As peças submetidas à compressão paralela às fibras são classificadas (quadro 5.) pela
NBR 7190/97 (ABNT. NBR 7190: Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro,1997) de
acordo com seu índice de esbeltez, , dado por:

o
λ
i

onde ℓo é o comprimento de flambagem da peça e

O comprimento de flambagem depende das condições de contorno da peça, conforme


mostra a figura. Entretanto, não se considera o efeito favorável do engastamento, por isso
o valor adotado para efeitos de projeto é, no mínimo, o valor de ℓ.

o= o= 0,5 o= 0,7 o= 2

o=

i é o raio de giração da seção transversal, dado por:

I
i  , onde I é o momento de inércia e;
A
A é a área da seção transversal

Quadro 5.1. Classificação das peças comprimidas


Barras curtas   40

Barras medianamente esbeltas 40    80

Barras esbeltas 80    140

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As barras deverão atender também a disposições construtivas estabelecidas pela NBR


7190/97.

Disposições construtivas:
Dimensões mínimas da seção transversal
Peças principais – área mínima: 50 cm2
espessura mínima: 5 cm
Peças secundárias – área mínima: 18 cm2
espessura mínima: 2,5 cm
Esbeltez máxima
Para seções cheias retangulares o comprimento teórico de referência deverá ser
menor ou igual a 40 vezes a dimensão transversal correspondente (ℓo ≤ 40.b ou
 ≤ 140).

Referência bibliográfica - capítulo 7 do livro:


PFEIL, W e PFEIL, M. Estruturas de madeira.
6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

V. 1 Dimensionamento de barras curtas -   40

A tensão de cálculo atuante na barra, c0d, não pode ultrapassar a resistência à compressão
paralela às fibras, de cálculo, da madeira, o que para barras curtas pode ser expresso pela
condição de segurança:

 c0d  f c 0d

onde c0d é dada pela razão entre a força aplicada, Nd, e a área da seção transversal, A,
onde atua essa força:
Nd
 c 0d 
A
fco,d é a resistência à compressão paralela às fibras de cálculo, já apresentada na
unidade 1.

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V.2 Estabilidade de barras medianamente esbeltas - 40    80

Uma peça medianamente esbelta, quando submetida a esforço de compressão axial tem
tendência a deslocar-se lateralmente, podendo tornar-se instável. Esse fenômeno é
denominado flambagem.
Uma barra retilínea, com carga centrada e de material elástico muda sua configuração de
equilíbrio a partir da carga crítica determinada por Euler:

 2 EI
FE 
 2o

Assim, há deslocamentos laterais, o que provoca o aparecimento de momento fletor, gerado


pela carga axial.
Entretanto, as peças reais apresentam imperfeições, representadas pela excentricidade
inicial e1 na figura 5.2. O deslocamento total, ed, pode ser expresso por (TIMOSHENKO &
GERE. Mecânica dos sólidos. vol 2. Rio de Janeiro: LTC, 1984):

 FE 
ed  e1  

 FE Nd 

Figura 5.2. Peça com imperfeição inicial

A NBR 7190/97 considera que sempre haverá imperfeições nas barras comprimidas e
estabelece uma excentricidade acidental, ea, dada por:
o
ea 
300
Na compressão simples de peças medianamente esbeltas: e1 = ea .
O momento fletor máximo atuante na barra pode ser escrito, então, como se segue:

Md Nd ed

39
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Assim, a barra está submetida à flexo-compressão (ação simultânea de Nd e Md). A tensão


máxima atuante na barra é dada por:

 Nd   Md

Nd
onde  Nd  , sendo A a área da seção transversal; e
A
Md
 Md  , sendo W o módulo de resistência da seção transversal
W

A tensão máxima atuante deve ser menor que a resistência à compressão paralela às fibras
da madeira fco,d, obtendo-se a condição de segurança:

 Nd   Md  fco, d

que pode ser escrita também como:

 Nd  Md
 1
f co, d f co, d

V.3 Estabilidade de barras esbeltas - 80    140

As peças esbeltas são dimensionadas tal como as peças medianamente esbeltas, porém
há a inclusão do efeito de fluência na barra, acrescentando uma excentricidade, ec, causada
por esse efeito, dada por:

   N gk  1  2 Nqk   
 F N   N  
ec ea e  E gk 1 2 qk  1
 

onde  1  2 1 , obtidos no quadro 3 do item II.3 ou na tabela 2 (NBR 7190/97);


Ngk e Nqk são os valores característicos da força normal devidos às cargas
permanentes e variáveis, respectivamente; e

 é o coeficiente de fluência dado pelo quadro 5.1.

40
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Quadro 5.1. Coeficiente de fluência 

Classes de umidade
Classes de carregamento
(1) e (2) (3) e (4)

Permanente ou de longa duração 0,8 2,0

Média duração 0,3 1,0

Curta duração 0,1 0,5

Assim, determina-se: e1  ea  ec , e utiliza-se as demais expressões já apresentadas no


item V.II.

41
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Exercícios Unidade V
Resolva os exercícios apresentados a seguir. Para tanto inicie sempre pela determinação
do índice de esbeltez da barra, considerando flambagem nas duas direções (x e y). O índice
de esbeltez será sempre o maior entre eles, e toda a verificação deverá ser realizada
considerando aquela direção com maior .

O módulo de elasticidade considerado será o módulo efetivo E co, ef  kmod E co, m , obtido

em função do módulo de elasticidade médio, obtido, por sua vez, das tabelas de classe de
resistência da NBR 7190/97

1. Um pilar de 35 cm x 35 cm, com altura de 2 m, faz parte da estrutura de uma varanda e


está submetido a uma força normal de cálculo de 20 kN. Verifique se o pilar atende as
condições de estado limite último, e as limitações construtivas estabelecidas pela NBR
7190. Considere o pilar engastado na base e livre no topo.
Sugestão: Para resolver o exercício, você deverá fazer 3 verificações: verificação da
esbeltez, verificação das dimensões mínimas e verificação em estado limite último
(condição de segurança). Inicie verificando as dimensões, determinando o índice de
esbeltez e classificando a peça. A seguir, determine a resistência à compressão paralela
às fibras da madeira e a tensão atuante na peça, e verifique a condição de segurança.

2 Verificar a estabilidade dos pilares da figura abaixo. Se necessário, redimensione-os.


Considere carregamento de longa duração, classe 3 de umidade e madeira C30
dicotiledôneas de 2ª categoria. Considere que na direção y os pilares estão contraventados
no topo, na base e à meia altura (igual à direção x).

42
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3 Verifique a estabilidade do pilar de madeira C20 dicotiledôneas da figura abaixo.


Considere carregamento de longa duração, madeira de 2a categoria e umidade ambiente
de 70%.

4 A tesoura da figura abaixo compõe a cobertura de uma residência que será construída
em uma região com umidade relativa do ar em torno de 70%. Após o cálculo das cargas,
considerando carregamento de longa duração, chegou-se a um esforço de compressão Nd
= 40 kN. Dimensione a barra 1 da tesoura utilizando peça com dimensões comerciais de
madeira C40 dicotiledônea.

5 A estrutura de madeira da figura servirá como base elevatória de uma caixa d’água. Os
pilares estão travados à meia altura e recebem os seguintes esforços de longa duração:
Ngk = 4 kN Nqk = 20 kN ,
que combinados geram um esforço de compressão de cálculo Nd = 33,6 kN. A estrutura
será construída em uma região com umidade relativa do ar em torno de 80%. Dimensione
os pilares utilizando peças comerciais de seção quadrada de madeira classe C20
dicotiledôneas.

43
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

6 Dimensione os pilares do galpão da figura abaixo utilizando seção retangular (não utilize
seção quadrada). O pilar é de madeira C30 dicotiledônea de 2a categoria e será construído
em uma região com umidade relativa do ar em torno de 75%. A carga de compressão de
cálculo no pilar é de 150 kN e foi obtida a partir de carregamentos de longa duração.

44
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

7 Dimensionar os pilares da estrutura apresentada na figura abaixo, com menor seção


possível. Considere carregamento de longa duração, Nd = 5 kN e classe 2 de umidade.
Ângulo da cobertura:  = 35o Altura mínima dos pilares: 2,80 m

VISTA FRONTAL VISTA LATERAL

8 Dimensionamento das barras comprimidas da tesoura do projeto de cobertura

O objetivo desta atividade é o dimensionamento das barras comprimidas do projeto de


cobertura que você já está desenvolvendo.

No projeto você obteve valores de diferentes magnitudes para as barras comprimidas. Para
fins de facilidade de execução da estrutura deve-se uniformizar barras com finalidades
semelhantes. Sendo assim, utilize uma seção transversal para a asna e outra para as
demais barras comprimidas da treliça.

Como estudo complementar, sugere-se leitura e resolução dos exercícios


do capítulo 7 do livro: PFEIL, W e PFEIL, M. Estruturas de madeira. 6.ed.
Rio de Janeiro: LTC, 2003.

45
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

Unidade VI
Ligações

m
.38
x5
.30
5 x0
0.2
NA
AS

.60
BRAÇADEIRA EM "U" Ø 1"

.20

.05

LONGARINA 0.25 x 0.30 x 7.50m

.90

.66

.66
x

x
SUB VIGA 0.25 x 0.30 x 3.50m
1"

1"

1"
.05

.90 .45 .20

TRAVESSEIRO SUPERIOR
0.25 x 0.25 x 5.20m
.15 .075 .15 .075 .15
.30

ESTEIO

Nesta unidade são apresentados os critérios de dimensionamento e detalhamento de


ligações de peças de madeira.

A partir desta unidade você estará apto a:


Dimensionar e detalhar ligações.
Dimensionar e detalhar as ligações da tesoura do projeto de cobertura.

As ligações de peças de madeira podem ser feitas por meio de:


entalhes
pinos metálicos (pregos e parafusos)
pinos de madeira (cavilhas)
conectores metálicos (anéis e chapas com dentes estampados)
cola – utilizadas somente em juntas longitudinais de madeira laminada colada
A escolha do tipo de ligação depende não somente da carga atuante e da resistência da
ligação. Esta escolha é indicada também pela estética, pela razão custo benefício, pelo
processo de fabricação e de lançamento da estrutura. Deve-se sempre considerar que as
ligações não devem ser o ponto fraco da estrutura.

46
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

O dimensionamento dos elementos de ligação deve obedecer a condições de segurança


do tipo

Sd  Rd

onde Rd é o valor de cálculo da resistência dos elementos da ligação e Sd o valor de


cálculo das solicitações nela atuantes.

Em princípio, o estado limite último da ligação pode ser atingido por deficiência de
resistência da madeira da peça estrutural ou do elemento de ligação.

VI. 1 Ligações por entalhes

Nd

90°


t
h

a b

Na ligação por entalhe o esforço é transmitido por apoio nas faces do entalhe. Assim, há
compressão na face frontal e cisalhamento na seção longitudinal da base do dente. Deve-
se então verificar as tensões atuantes nas áreas correspondentes:
Área da face frontal: A = b t / cos 
Nd N cos 
tensão na face:  cd   d
A bt
A resistência à compressão na face é a resistência inclinada de  em relação às
fibras, fcd dada pela fórmula de Hankinson, apresentada na unidade 5.
Como  cd  fcd , pode-se obter a profundidade t do dente necessária:
Nd cos 
t 
b fcd

Área da seção longitudinal: A = a b


Nd cos  N cos 
tensão cisalhante na seção:  d   d
A ab

47
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

Como  d  fvo,d , pode-se obter o comprimento a necessário para transmissão da

componente horizontal de Nd:


Nd cos 
a
b fvo,d

VI. 2 Ligações com pinos metálicos

As ligações com 2 ou 3 pinos são consideradas deformáveis, permitindo-se o seu emprego


exclusivamente em estruturas isostáticas. Nunca serão utilizadas ligações com um único
pino.
As ligações com 4 ou mais pinos podem ser consideradas rígidas nas condições seguintes.
As ligações pregadas com 4 ou mais pregos são consideradas rígidas, desde que
respeitados os diâmetros de pré-furação e as ligações parafusadas com 4 ou mais
parafusos são consideradas rígidas ou deformáveis, de acordo com o diâmetro de pré-
furação adotado.

Pré-furação das ligações pregadas

Em uniões pregadas será obrigatoriamente feita a pré-furação da madeira, com diâmetro


d0 não maior que o diâmetro def do prego, com os valores usuais:
coníferas d0 = 0,85 def
dicotiledôneas d0 = 0,98 def
onde def é o diâmetro efetivo medido nos pregos a serem usados.

Pré-furação da ligações parafusadas

ligações rígidas:

d0  d + 0,5 milímetro, onde d é o diâmetro do parafuso.

Caso contrário, a ligação deve ser considerada deformável.


48
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Resistência da ligação

A ligação submete a madeira ao embutimento e o pino à flexão. Assim, a resistência da


ligação pode ser dada pela resistência da madeira ao embutimento ou pela resistência à
flexão do pino.

A resistência de 1 pino, correspondente a uma dada seção de corte entre duas peças de
madeira, é determinada em função das resistências de embutimento f wed das duas
madeiras interligadas, da resistência de escoamento fyd do pino metálico, do diâmetro d do
pino e de uma espessura convencional t, tomada com a menor das espessuras t1 e t2 de
penetração do pino em cada um dos elementos ligados, como mostrado na figura 6.1.

Figura 6.1. Pinos em corte simples

O diâmetro dos pinos nas ligações parafusadas deve ser d  t/2 , e nas ligações pregadas
deve ser d  t/5 . Permite-se d  t/4 nas ligações pregadas desde que d0 = def

Nas ligações pregadas, a penetração em qualquer uma das peças ligadas não deve ser
menor que a espessura da peça mais delgada. Caso contrário, o prego será considerado
não resistente.

Em ligações localizadas, a penetração da ponta do prego na peça de madeira mais distante


de sua cabeça deve ser de pelo menos 12d ou igual à espessura dessa peça. Em ligações
corridas esta penetração pode ser limitada ao valor de t1.

49
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O valor de cálculo da resistência de um pino metálico correspondente a uma única seção


de corte é determinado em função do valor do parâmetro

  dt
onde t é a espessura convencional da madeira e d o diâmetro do pino, estabelecendo-se
como valor limite

fyd
lim 1,25
fed

sendo fyd a resistência de cálculo ao escoamento do pino metálico, determinada a partir de


fyk com s=1,1, e fed a resistência de cálculo de embutimento.

O valor de cálculo Rvd,1 da resistência de um pino, correspondente a uma única seção de


corte, é dada pelas expressões seguintes:

I - Embutimento na madeira

  lim

2
t
Rvd ,10,40 f ed

II -Flexão do pino

 > lim

Rvd,10,625
d
f yd com   lim 
 lim

f yk
tomando-se f yd  s  1,1
s
sendo

50
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

Espaçamentos em ligações com pinos

Os espaçamentos mínimos recomendados estão representados na figura a seguir.

Leia o item 8 da NBR 7190/97 e o capítulo 4 do


livro: PFEIL, W e PFEIL, M. Estruturas de
madeira. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

51
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

Exercícios Unidade VI

1 Resolva os exercícios do capítulo 4, referentes a ligações por entalhe, do livro: PFEIL, W


e PFEIL, M. Estruturas de madeira. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

2 Dimensione e detalhe a ligação da figura abaixo utilizando parafusos com diâmetro de


10 mm. Considere carregamento de longa duração, madeira de 2a categoria e umidade
ambiente de 80%.
Nd = 10 kN

3 Determine a resistência de um prego de 6,4 mm de diâmetro na ligação de duas peças


de madeira C60 dicotiledôneas de 8 cm x 20 cm com o emprego de cobrejuntas de 3,5 cm
nos seguintes casos:

52
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

4 Dimensione e detalhe a ligação parafusada esquematizada na figura abaixo. Verifique se


as peças furadas resistem aos esforços nelas atuantes e faça a verificação do cisalhamento
localizado para evitar ruptura por tração normal às fibras.

Madeira C40 dicotiledôneas

5 Dimensionamento e detalhamento das ligações da tesoura do projeto


O objetivo desta atividade é o dimensionamento e detalhamento das ligações da tesoura
do projeto de cobertura que você já está desenvolvendo.

Como estudo complementar, sugere-se a resolução dos exercícios do capítulo 4 do livro:


PFEIL, W e PFEIL, M. Estruturas de madeira. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

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Unidade VII
Dimensionamento de vigas

Nesta unidade são apresentados os critérios de dimensionamento de vigas de madeira


submetidas à flexão simples reta ou oblíqua.

A partir desta unidade você estará apto a:


Dimensionar e estabelecer a segurança de vigas.
Dimensionar as terças da tesoura do projeto de cobertura.

Referência: capítulo 6 do livro: PFEIL, W e


PFEIL, M. Estruturas de madeira. 6.ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2003.

Para as peças fletidas, considera-se o vão teórico com o menor dos seguintes valores:

a) distância entre eixos dos apoios;

b) o vão livre acrescido da altura da seção transversal da peça no meio do vão, não se
considerando acréscimo maior que 10 cm.

VII. 1 Vigas submetidas à flexão simples reta

As vigas submetidas à flexão simples reta deverão atender às seguintes condições de


projeto:

Estado limite último

Flexão

Cisalhamento

Estabilidade lateral

Estado limite de utilização

Deslocamentos

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Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

VII.1.1. Flexão simples reta

Nas barras submetidas a momento fletor cujo plano de ação contém um eixo central de
inércia da seção transversal resistente, a segurança fica garantida pela observância
simultânea das seguintes condições.

 c1df c0,d  t 2df t 0,d


onde fco,d e fto,d são as resistências à compressão e à tração paralelas às fibras
respectivamente,
e  c1d e  t 2 d são respectivamente as tensões atuantes de cálculo nas bordas mais

comprimida e mais tracionada da seção transversal considerada, calculadas pelas


expressões

Md Md
 c1,d   t 2,d 
Wc Wt

onde W c e Wt são os respectivos módulos de resistência, que podem ser calculados pelas
expressões usuais

I I
Wc e Wt
y c1 y t2

sendo I o momento de inércia da seção transversal resistente em relação ao eixo central


de inércia perpendicular ao plano de ação do momento fletor atuante.

Figura 7.1. Tensões na seção transversal

55
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

Para seções retangulares de largura b e altura h, pode-se escrever:

b h2
Wc  Wt 
6

Md
 c1, d   t 2, d 
Wc

Assim, como fco,d = fto,d , no caso de seções retangulares, basta verificar a condição:

 c1d  f c 0, d

VII.1.2. Cisalhamento em vigas

Nas vigas submetidas à flexão com força cortante, a condição de segurança em relação às
tensões tangenciais é expressa por

 d
 fv 0,d

onde d é a máxima tensão de cisalhamento atuando no ponto mais solicitado da peça. Em

vigas de seção transversal retangular, de largura b e altura h , tem-se

3V d
 d

2 bh

A resistência ao cisalhamento paralelo às fibras, conforme já apresentado, é dada por:

coníferas: fvo, d  0,12 fco, d

dicotiledôneas: fvo, d  0,10 fco, d

VII.1.2.1 Cargas concentradas junto aos apoios diretos

Nas vigas de altura h que recebem cargas concentradas, que produzem tensões de
compressão nos planos longitudinais, a uma distância a  2h do eixo do apoio, o cálculo
das tensões de cisalhamento pode ser feito com uma força cortante reduzida de valor

a
V red V 2h

56
Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

VII.1.2.2 Vigas entalhadas

No caso de variações bruscas de seção transversal, devidas a entalhes, deve-se multiplicar


a tensão de cisalhamento na seção mais fraca, de altura h1 , pelo fator h/h1, obtendo-se o
valor
3 h
 d
 V d  
2 bh1 h1 

respeitada a restrição h1 > 0,75h.

Figura 7.2. Entalhe

No caso de se ter h1/h  0,75 recomenda-se o emprego de parafusos verticais

dimensionados à tração axial para a totalidade da força cortante a ser transmitida ou o


emprego de variações de seção com mísulas de comprimento não menor que 3 vezes a
altura do entalhe, respeitando-se sempre o limite absoluto h1/h  0,5.

Figura 7.3. Entalhe com parafuso ou mísula

57
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VII.1.3. Estabilidade lateral de vigas de seção retangular

Dispensa-se essa verificação da segurança em relação ao estado limite último de


instabilidade lateral quando forem satisfeitas as seguintes condições:

- os apoios de extremidade da viga impedem a rotação de suas seções extremas em


torno do eixo longitudinal da peça;

- existe um conjunto de elementos de travamento ao longo do comprimento L da viga,


afastados entre si de uma distância não maior que L1 , que também impedem a rotação
dessas seções transversais em torno do eixo longitudinal da peça;

- para as vigas de seção transversal retangular, de largura b e altura h medida no plano


de atuação do carregamento.

L1 Eco,ef

b  f
M co,d

onde o coeficiente  M é dado no quadro 7.1 ou na tabela 16 da NBR 7190/97.

Quadro 7.1 - Coeficiente de correção


M

h M
b
1 6,0
2 8,8
3 12,3
4 15,9
5 19,5
6 23,1
7 26,7
8 30,3
9 34,0
10 37,6
11 41,2
12 44,8
13 48,5
14 52,1
15 55,8
16 59,4
17 63,0
18 66,7
19 70,3
20 74,0

58
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VII.1.4. Deslocamentos

Deve ser verificada a segurança em relação ao estado limite de deformações excessivas


que possam afetar a utilização normal da construção ou seu aspecto estético, considerando
apenas as combinações de ações de longa duração, conforme apresentado na unidade 2,
levando-se em conta a rigidez efetiva definida pelo módulo Ec0,ef.

O módulo de elasticidade efetivo, E co, ef  kmod E co, m , é obtido em função do módulo de

elasticidade médio, obtido, por sua vez, das tabelas de classe de resistência da
NBR 7190/97.

A flecha efetiva uef, determinada pela soma das parcelas devidas à carga permanente uG e
à carga acidental uQ , não pode superar 1/200 dos vãos, nem 1/100 do comprimento dos
balanços correspondentes.

As flechas devidas às ações permanentes podem ser parcialmente compensadas por


contra-flechas u0 dadas na construção. Neste caso, na verificação da segurança as flechas
devidas às ações permanentes podem ser reduzidas de u0, mas não se considerando

reduções superiores a 2 uG , como mostrado na figura 7.4.


3

Figura 7.4. Verificação das deformações limites

59
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VII.2 Vigas submetidas à flexão simples oblíqua

As vigas submetidas à flexão simples oblíqua deverão atender às mesmas condições de


projeto, adaptadas à flexão oblíqua:
q
Estado limite último
y 
Flexão

Cisalhamento
x
Estabilidade lateral

Estado limite de utilização

Deslocamentos

VII.2.1. Flexão simples oblíqua

Nas seções submetidas a momento fletor cujo plano de ação não contém um de seus eixos
centrais de inércia, a condição de segurança é expressa pela mais rigorosa das duas
condições seguintes, tanto em relação às tensões de tração quanto às de compressão:

 Mx,d  My,d
k 1
M
f wd f wd

 Mx,d  My,d
kM  1
f wd f wd

onde  Mx ,d
e  My ,d
são as tensões máximas devidas às componentes de flexão atuantes

segundo as direções principais, fwd é a respectiva resistência de cálculo, de tração ou de


compressão conforme a borda verificada, e o coeficiente k M de correção pode ser tomado
com os valores
seção retangular: kM = 0,5

outras seções transversais: kM = 1,0


As tensões são dadas por:
M xd M yd
 Mx,d  e  My,d 
Wx Wy

com Mxd = Md cos e Myd = Md sen


60
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Para seções retangulares de largura b e altura h, pode-se escrever:

b h2 h b2
Wx  e Wy 
6 6

VII.2.2. Cisalhamento na flexão oblíqua

Nas vigas submetidas à flexão oblíqua com força cortante, a condição de segurança em
relação às tensões tangenciais é expressa por

 d
 fv 0,d

onde d é a máxima tensão de cisalhamento atuando no ponto mais solicitado da peça, que

pode ser escrito em função das componentes da força cortante em x e em y.

 d   xd   yd

sendo xd e yd , para seções retangulares, dados por:

3 V xd 3 V yd
 xd

2 bh
e  yd

2 bh

onde Vxd = Vd sen e Vyd = Vd cos

A resistência ao cisalhamento paralelo às fibras, conforme já apresentado, é dada por:

coníferas: fvo, d  0,12 fco, d

dicotiledôneas: fvo, d  0,10 fco, d

VII.2.3. Estabilidade lateral de vigas de seção retangular

Verifica-se do mesmo modo que na flexão reta.

VII.2.4. Deslocamentos

Verifica-se a segurança em relação a deslocamentos de modo análogo à flexão reta, pois


a norma NBR 7190/97 permite que se verifique cada eixo isoladamente. Assim:

v xd  vlim e vyd  vlim

61
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Exercícios Unidade VII

1 Verifique se a terça 3 da cobertura esquematizada na figura abaixo, atende às condições


estabelecidas pela NBR 7190/97 para ELU e ELUti.

Considere carregamento de longa duração, classe 2 de umidade e madeira C40


dicotiledôneas de 2ª categoria. O vão das terças é 2,5 m.
Esforços atuantes
g = 0,36 kN/m Md = 1,16 kN.m
q = 0,12 kN/m Vd = 1,23 kN
w = 0,09 kN/m Q1 = 1 kN

2 A viga da figura abaixo foi construída com madeira de 2a categoria, classe C60
dicotiledôneas, em uma região com umidade ambiente de 85%. Esta viga está submetida
a uma carga permanente de 0,8 kN/m. Considerando estado limite último de flexão, qual a
máxima carga acidental que pode atuar na viga?

3 A tesoura da figura abaixo compõe a cobertura de uma residência que será construída
em uma região com umidade relativa do ar em torno de 70%. Após o cálculo das cargas,
considerando carregamento de longa duração, chegou-se aos esforços apresentados no
quadro abaixo. Verifique a terça 2 quanto aos estados limites últimos (flexão e

62
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cisalhamento) e estado limite de utilização (deslocamento). O vão entre tesouras é de 2,5


metros.

Terça 2 - 6 cm x 16 cm
Madeira C40 dicotiledôneas
Esforços atuantes em uma viga:
Carga permanente g = 2,06 kN/m
Absorção de água das telhas q = 0,3kN/m
Vento sobrepressão: 0,95 kN/m
sucção: - 0,95 kN/m
Carga de construção Q = 1 kN
Md = 3,15 kN.m
Vd = 5,04 kN

4 Considere a cobertura com telhas cerâmicas esquematizada na figura. A terça 2 está


simplesmente apoiada nas tesouras e submetida ao seguinte carregamento:
carga permanente: g = 0,8 kN/m
carga acidental: q = 0,2 kN/m
Verifique se esta viga atende às condições de segurança de flexão e deslocamento. A
distância entre tesouras é de 2,80 m. Que medidas poderiam ser tomadas para otimizar a
estrutura?
Considere carregamento de longa duração, classe 3 de umidade e madeira de 2ª categoria.
As terças são vigas de madeira classe C40 dicotiledôneas e têm uma seção transversal de
5 cm x 15 cm.

5 Dimensionar as ripas e as terças da cobertura de telhas cerâmicas e os pilares da


estrutura apresentada na figura abaixo. Considere que não há fechamento lateral da
estrutura, nem qualquer tipo de contraventamento.
Considere carregamento de longa duração e classe 2 de umidade.
Ângulo da cobertura:  = 35o
Altura mínima dos pilares: 2,80 m
63
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VISTA FRONTAL VISTA LATERAL

Ripas - 2,5 cm x 5 cm Terças - 6 cm x 16 cm


Madeira C20 dicotiledôneas Madeira C40 dicotiledôneas
Esforços atuantes em uma ripa: Reação de cada caibro na viga:
g = 0.16 kN/m Carga permanente G = 1.06 kN
q = 0.045 kN/m Absorção de água das telhas Q1 = 0.22 kN
w = 0.033 kN/m Vento W = 0.16 kN
-2
Md = 2.82 x 10 kN.m Carga de construção Q2 = 1 kN
Vd = 1.37 x 10-1 kN.m Md = 4.14 kN.m
Considerar cada trecho da ripa como viga Vd = 3.10 kN
biapoiada de vão lripa = 0.90 m Vão das terças: l = 3.60 m

6 Dimensionamento das terças do projeto de cobertura

O objetivo desta atividade é o dimensionamento das terças do projeto de cobertura que


você já está desenvolvendo.

No projeto você obteve os valores dos esforços nas terças. Dimensione a terça com maiores
esforços e adote as mesmas dimensões para as demais, uma vez que não há como
executar a cobertura utilizando dimensões diferentes.

Como estudo complementar, sugere-se leitura e resolução dos exercícios


do capítulo 6 do livro: PFEIL, W e PFEIL, M. Estruturas de madeira. 6.ed.
Rio de Janeiro: LTC, 2003.

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Notas de aula - Estruturas de Madeira - UFMS Profa. Christiane Areias Trindade

Bibliografia da disciplina Estruturas de Madeira


BÁSICA:
PFEIL, W.; PFEIL, M. Estruturas de madeira : dimensionamento segundo a normas
brasileira NBR 7190:97 e critérios das normas Norte-americana NDS e européia
EUROCODE 5. 6. ed. Rio de Janeiro : LTC Ed., 2003. 223 p.
CALIL JR., C., DIAS, A. A., LAHR, F. A. R. Dimensionamento de elementos estruturais
de madeira. Barueri: Manole, 2002.
MOLITERNO, A. Caderno de projetos de telhados em estruturas de madeira. 2.ed. São
Paulo: Edgar Blücher, 1992.

COMPLEMENTAR:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120: cargas para o cálculo
de estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 1980.
______. NBR 6123: forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988.
______. NBR 7190: projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro, 1997.
______. NBR 8681: ações e segurança nas estruturas. Rio de Janeiro, 1984.
CALIL JUNIOR, C.; MOLINA, J. C. (Ed.). Coberturas em estruturas de madeira: exemplos
de cálculo. 1. ed. São Paulo : PINI, 2010.

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