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Distribuição de Matéria

1. O transporte nas plantas


A história evolutiva das plantas terá começado nas algas verdes
multicelulares, o ancestral comum a todos os tipos de plantas. Daqui
originaram-se dois grandes grupos de plantas. As mais simples,
constituídas por organismos pouco diferenciados e que não
apresentavam sistemas condutores – Plantas não Vasculares. E as
mais complexas, que entre outras características, apresentam feixes
condutores – Plantas Vasculares. Nestas incluem-se as plantas
vasculares sem sementes, as plantas vasculares com sementes e as
plantas vasculares com sementes e com flor.
Para que esta evolução tenha
ocorrido, foi fundamental a
adaptação ao meio terrestre, que
aconteceu através de mudanças
estruturais e de um aumento
crescente de complexidade o que
levou a uma grande diversidade. A
mudança estrutural mais evidente foi
a criação de sistemas de transporte
específicos, nomeadamente um sistema radicular que lhes permite
absorver água e sais minerais do exterior, e um sistema condutor
formado por dois tipos de vasos – o xilema, que transporta
essencialmente água e sais minerais
(seiva bruta) da raíz para toda a planta, e
o floema, que transporta água,
compostos orgânicos e sais minerais
(seiva elaborada) das folhas a todas as
partes da planta. Translocação é a
designação deste movimento de água e
solutos que ocorre no interior da planta.
 .

A importância dos estomas


Ao nível das folhas, no sentido interno
ocorre a difusão de CO2 para que possa
ocorrer fotossíntese, enquanto n o
sentido externo ocorre a difusão de
vapor de água, pelo processo de
transpiração. Estes dois fenómenos são
controladas através de estruturas que se
localizam na epiderme da folha – os estomas. Estes são formados por
duas células labiais (também designadas células estomáticas, ou células
guarda), no centro das quais existe um orifício – o ostíolo que
comunica com a câmara estomática. A envolver as células labiais,
existem as células companhia ou células companheiras. O modo de
funcionamento, abertura ou fecho, dos estomas está associado ao
estado de turgescência ou de plasmólise das células guarda,
respetivamente. As células guarda, do ponto de vista estrutural são
diferentes das restantes células epidérmicas. Possuem cloroplastos e
as suas paredes celulares são mais espessas junto ao ostíolo e
menos espessas junto das células companhia, consequentemente é
aqui que apresentam maior elasticidade. Quando entra água nas
células guarda, verifica-se um aumento do seu volume e da pressão
de turgescência, o que faz com que as células fiquem túrgidas. Como
a parede celular é mais fina do lado que está em contacto com as
células companhia, vai distender-se nessa zona, o que leva à abertura
do ostíolo. Por outro lado, quando a água sai do interior das células
guarda, verifica-se uma diminuição de volume e da pressão de
turgescência, ficando plasmolisadas. Neste caso a parede, na zona
mais fina, vai retrair-se, as células guarda voltam ao seu estado inicial,
aproximando-se, e ostíolo fecha.
 

Absorção de água e de solutos pelas plantas


Ao nível da raiz das plantas existem pelos
radiculares (prolongamentos das células
epidérmicas), que aumentam a área da
raiz que está em contacto com o solo e,
consequentemente, a eficiência da
captação de água.

No interior das células da raiz, a


quantidade de água é, normalmente,
inferior à quantidade existente no solo.
Esta diferença promove a entrada de água até aos vasos xilémicos,
por osmose.

Os iões minerais (Ca , K+, NO , SO ) dissolvidos na solução do solo


+
3

4
+

encontram-se, normalmente, em concentrações mais elevadas que no


interior das células, entrando nas células da raiz por difusão simples,
através das membranas celulares.
No entanto, por vezes, as raízes acumulam concentrações de iões
minerais superiores às concentrações existentes na solução do solo.
Neste caso, o movimento dos iões faz-se por transporte ativo, uma
vez que é contra o gradiente de concentração, requerendo gasto de
energia.
 

1.1 Transporte no xilema


Constituição do xilema
Xilema, lenho ou tecido traqueano, é o vaso especializado no
transporte da água e sais minerais, constituintes da seiva
xilémica ou seiva bruta. Estes vasos são formados por uma sequência
de células mortas, colocadas topo a topo, cujas paredes transversais
desaparecem total ou parcialmente (formando um tubo). Quanto às
paredes laterais, estas apresentam no seu interior espessamentos
resultantes da deposição de lenhina (esta substância encontra-se
associada à celulose e confere
São aceites três teorias para explicar o movimento ascendente de
água e sais minerais, ao longo do xilema.

Hipótese da pressão radicular


Segundo esta teoria desenvolve-se uma pressão
positiva no xilema, na região das raízes, que
impulsiona a seiva bruta no sentido ascendente.
Ou seja, verifica-se um aumento da pressão na
raiz, causado pela entrada de iões para as
células radiculares, por transporte ativo, o que
aumenta o potencial do soluto promovendo o
movimento de água, por osmose, para o interior
dos vasos xilémicos, aumentando a pressão
radicular, o que força a água a subir. A pressão radicular é, portanto, o
tipo de pressão que permite que a água absorvida pela raiz se
desloque até à extremidade superior da planta.

Se a pressão radicular for muito elevada, a água pode ascender e ser


libertada nas folhas num fenómeno designado gutação e/ou exsudação.
 

Hipótese da tensão-coesão-adesão
A hipótese da pressão radicular não consegue
explicar os fenómenos de ascensão ao nível do
xilema em plantas de grande porte (a pressão
radicular não é suficientemente grande para que
tal se verifique), e os fenómenos de exsudação e
gutação não se verificam em todas as plantas.

Surgiu então a hipótese da tensão-coesão-


adesão:
 A transpiração ao nível das folhas, faz com que as células do
mesófilo percam água através dos estomas, causando um défice
de água na parte superior da planta, o que cria uma pressão
negativa – tensão. A concentração de soluto nestas células
aumenta e, consequentemente, a pressão osmótica também
aumenta.
 As células do mesófilo tornam-se hipertónicas em relação às
células do xilema. Desta forma, a água contida nas células do
xilema vai ser transferida, para as células do mesófilo.
 Devido à polaridade das moléculas de água, criam-se forças de
coesão que mantêm as moléculas de água unidas umas às outras.
As moléculas de água têm também forte afinidade com outras
substâncias existentes nas paredes dos vasos xilémicos o que vai
potenciar a adesão (entre a água e o xilema) e formar uma coluna
contínua de água.
 O movimento de água do xilema para o mesófilo faz mover a
coluna de água (corrente de transpiração). Quanto mais rápida a
transpiração, mais rápida a ascensão.
 Há um fluxo passivo de água de áreas de potencial de água mais
elevado para áreas de potencial de água menor.
 A ascensão de água nas zonas superiores da planta cria um défice
de água no xilema da raiz, levando ao aumento do fluxo de água
do exterior para o interior da planta.
 

1.2 Transporte no floema


Constituição do floema
Floema, líber ou tecido crivoso é o tecido condutor especializado no
transporte de água, compostos orgânicos e sais minerais, que
constituem a seiva floémica ou seiva elaborada. Estes vasos são
compostos por células vivas, de paredes celulósicas, alongadas e
colocadas topo a topo (tubos crivosos) em que as paredes
transversais, providas de poros são denominadas placas
crivosas. Aolado das células dos tubos crivosos encontram-se as
células de companhia, células vivas, alongadas e de paredes celulares
finas.

Como a fotossíntese não ocorre em todas as células das plantas, a


matéria orgânica produzida nos órgãos fotossintéticos tem de ser
transportada a todas as restantes células da planta. Este transporte é
realizado pelo floema.

Hipótese do fluxo de massa (Münch)


Esta hipótese defende que o transporte floémico ocorre devido a um
gradiente de concentração de sacarose que se estabelece entre uma
fonte onde a sacarose é produzida e um local onde é consumida e/ou
reservada.

 A glicose elaborada nos órgãos


fotossintéticos, durante a fotossíntese, é
convertida em sacarose que entra, por
transporte ativo, para as células do
floema;
 Devido à entrada da sacarose, a
concentração de soluto no floema
aumenta, aumentando também a
pressão osmótica, que fica superior à
das células envolventes;
 O aumento da pressão osmótica no interior do floema, faz com
que a água se movimente das células que rodeiam o vaso
floémico, para os tubos crivosos, aumentando a pressão de
turgescência;
 A pressão de turgescência é responsável pelo movimento da água
de zonas de alta pressão osmótica, para zonas de baixa pressão
osmótica, passando através das placas crivosas;
 Quando a sacarose chega a locais de consumo ou reserva, sai do
floema por transporte ativo, sendo depois convertida em glicose;
 Quando a sacarose abandona os tubos crivosos, também a água,
por osmose, sai para as células envolventes.
 

2. O transporte nos animais


À semelhança das plantas, também os animais necessitam de efetuar
trocas com o meio exterior. A especialização dos sistemas de
transporte dos animais está diretamente relacionada com a com o
grau de complexidade do animal. Desta forma, os animais mais
simples, como hidras ou corais, não possuem um sistema de
transporte especializado. Nestes, todas as células se encontram
próximas do meio externo, ocorrendo as trocas por difusão simples.

Por outro lado, os animais mais complexos possuem um sistema de


transporte especializado que é constituído por um fluido circulante
(sangue, linfa ou hemolinfa), um conjunto de vasos ou lacunas nos
quais o fluido se movimenta, e um órgão propulsor – o coração.

Funções do sistema de transporte:


 Garantir um aporte de nutrientes e oxigénio às células
 Remover produtos de excreção resultantes do metabolismo celular
 Distribuir calor metabólico no organismo
 Assegurar a defesa do organismo contra substâncias estranhas ao
mesmo
 Realizar o transporte de hormonas desde as glândulas endócrinas
até às células alvo
 

2.1 Sistemas de transporte


Os sistemas de transporte podem ser:
 Abertos: o sangue banha
diretamente as células,
abandonando os vasos e
ocupando lacunas. Nestes casos
não há distinção entre o sangue e
o fluido intersticial, designando-se
por isso hemolinfa. É
característico de insetos.
 Existe um vaso dorsal com um coração tubular ao longo do
dorso do inseto, que possui válvulas internas e pequenos
orifícios – ostíolos – e de onde partem ligações a artérias
tubulares. A hemolinfa entra para o coração tubular através
dos ostíolos; estes fecham, o coração contrai e a hemolinfa
passa, através das válvulas internas, para as artérias dorsais,
fluindo destas para as lacunas. O tubo dorsal relaxa, os
ostíolos abrem e a hemolinfa, proveniente das lacunas, entra
novamente para o coração tubular.
 Fechados: todo o percurso do sangue é feito dentro de vasos. Este
sistema apresenta eficácia de distribuição, de oxigénio e de
nutrientes às células, muito superior ao sistema aberto.
 

Os sistemas de transporte nos


vertebrados podem ser:

 circulação simples
 circulação dupla incompleta
 circulação dupla completa
 

Circulação simples (Ex: peixes)


O coração é constituído apenas por
duas cavidades, uma aurícula e um
ventrículo, nos quais passa somente sangue venoso e apenas uma
vez no decorrer de cada circulação.
O sangue venoso, oriundo dos diferentes órgãos, entra na aurícula.
Esta contrai-se e impele o sangue para o ventrículo. A contração do
ventrículo faz o sangue progredir até ao cone arterial e daqui até às
brânquias, onde é oxigenado (passa a sangue arterial), e daqui segue
para a aorta dorsal que se ramifica para todo o corpo, onde após
realizadas as trocas de substâncias, regressa ao coração.

Ao passar nos capilares branquiais, a pressão sanguínea diminui, o


que faz com que o sangue flua mais lentamente para os outros órgãos
(sob baixa pressão).

Circulação dupla incompleta (Ex: anfíbios)


O coração apresenta três cavidades, duas aurículas e um ventrículo.
O sangue passa duas vezes no coração: uma para iniciar a circulação
sistémica (sangue arterial) e outra para iniciar a circulação pulmonar
(sangue venoso), podendo ocorrer mistura parcial dos dois tipos de
sangue ao nível do ventrículo.

O sangue venoso, proveniente das várias partes do corpo, entra na


aurícula direita. Esta, por contração, impele o sangue para o único
ventrículo. Por contração do ventrículo, o sangue segue para a artéria
pulmonar que se divide em dois ramos, um para aos pulmões outro
para a pele, onde é oxigenado. Regressa ao coração pelas veias
pulmonares entrando na aurícula esquerda. Esta contrai enviando o
sangue para o ventrículo que, por sua vez, também vai contrair e
bombear o sangue para a artéria aorta, que se ramifica, fazendo
chegar o sangue a todas as zonas do corpo. O sangue regressa ao
coração pela aurícula direita.

Circulação dupla completa (Ex: mamíferos)


O coração apresenta quatro cavidades, duas aurículas e dois
ventrículos, não existindo, em condições normais, possibilidade de
mistura de sangue arterial e sangue venoso. O sangue venoso,
proveniente de todas as partes do corpo, entra pelas veias cavas na
aurícula direita. Esta contrai-se impulsionando o sangue para o
ventrículo direito, que vai também contrair impelindo o sangue para a
artéria pulmonar. O sangue segue até aos pulmões onde é
arterializado. Regressa ao coração, através das veias pulmonares,
entrando na aurícula esquerda. Esta vai contrair e obrigar o sangue a
seguir para o ventrículo esquerdo. Daqui, por contração do ventrículo,
o sangue é impulsionado para a artéria aorta, que se ramifica e faz
chegar o sangue arterial a todas as partes do organismo. Após as
trocas necessárias que ocorrem a nível dos capilares, o sangue
regressa ao coração, reiniciando-se o ciclo.

Particularidades da circulação dupla completa


 A oxigenação celular é mais eficiente o que permite uma maior
capacidade energética;
 Os vasos sanguíneos apresentam diferentes características
estruturais consoante a sua localização e função. Desta forma, a
parede dos vasos capilares é muito fina, constituída por uma só
camada de células o que permite a troca de substâncias. Por outro
lado, as artérias têm uma parede espessa e elástica, uma vez que
têm que suportar grandes pressões de bombeamento de sangue.
As veias têm paredes flácidas, menos espessas que as das
artérias.
 O coração, como órgão propulsor muscular, gera pressão que
permite criar fluxo sanguíneo. Para além disso, possui válvulas
auriculoventriculares e arteriais (à entrada das artérias aorta e
pulmonar), que determinam o sentido do fluxo e evitam o
retrocesso do sangue no sistema circulatório.
 A pressão sanguínea é máxima nas artérias, diminui ao longo das
arteríolas e dos capilares, sendo mínima nas veias cavas.
 Uma vez que a pressão nas veias é mínima, o movimento do
sangue nestes vasos é possível graças a mecanismos que
permitem o regresso do sangue ao coração, nomeadamente:
 Válvulas interiores que impedem o retrocesso da corrente
sanguínea;
 Músculos esqueléticos que rodeiam as veias e que ao
contraírem exercem compressão sobre estas, movimentando o
sangue que nelas circula;
 Movimentos respiratórios;
 Diminuição da pressão nas aurículas durante a diástole
(exerce uma ação de sucção sobre as veias).
 

2.2 Fluidos circulantes


Sangue
O sangue é constituído por uma fração
líquida, o plasma, constituído por água e no
qual se encontram em suspensão, proteínas
e outras substâncias transportadas, assim
como a fração sólida ou elementos celulares
(hemácias/eritrócitos/glóbulos vermelhos – transporte de dióxido de
carbono e oxigénio; leucócitos/glóbulos brancos – defesa do
organismo; plaquetas – coagulação).

Linfa intersticial
O sangue circula dentro dos vasos
sanguíneos, por esse motivo, não
é o sangue que está em contacto
direto com as células, no corpo
humano, mas sim, a linfa
intersticial. Esta é um fluido claro e
transparente, constituído por
substâncias provenientes do
sangue, uma vez que ao nível dos capilares, a pressão sanguínea
força o plasma e pequenas moléculas dissolvidas a passarem através
da parede para os tecidos, assim como os leucócitos que abandonam
os capilares sanguíneos, por diapedese e também se juntam à linfa
intersticial. A linfa intersticial difere do plasma sanguíneo pelo facto de
não possuir hemácias e ter poucas proteínas (são macromoléculas
que não conseguem atravessar a parede dos capilares).
 

Linfa Circulante
Parte da linfa intersticial regressa ao capilar sanguíneo outra parte é
recolhida por outros vasos, os capilares linfáticos, passando a
designar-se linfa circulante. Estes vasos fazem parte de um sistema
que constitui o sistema linfático. A linfa é de extrema importância, pois
é neste fluido que as células lançam os produtos tóxicos do seu
metabolismo, e apresenta também importantes funções de defesa,
uma vez que os leucócitos são dos seus principais constituintes.

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