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GUIA DE LEITURA

DOM QUIXOTE
Índice
Do autor_________________________________ 3
Do tradutor_______________________________ 13
Personagens_______________________________ 17
Resumo da obra____________________________ 20
Primeira parte ________________________ 21
Segunda parte ________________________ 39
Do autor
MIGUEL DE CERVANTES

O príncipe dos engenhos

Em 1617, um ano após a morte do autor, veio a público Los Traba-


jos de Persiles y Sigismunda, romance de Miguel de Cervantes. Assim
como a segunda parte de Dom Quixote, a obra foi dedicada ao mecenas
Pedro Fernandez de Castro y Andrade, o conde de Lemos.

Cervantes concluiu este romance apenas dois dias antes de morrer, e


sua dedicatória, um dos mais comoventes passos da literatura castelha-
na, inicia com o seguinte terceto:

“Posto já meu pé no estribo


e ansioso pela morte,
esta a meu senhor dedico”.

O escritor pede a bênção e proteção do seu mecenas. Com a alma já


aparelhada para morte pela extrema-unção, Cervantes alegra-se por ter
concluído a tempo o romance, ciente de que eram seus últimos dias

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de vida. Dali dois dias, em 23 de abril de 1616, o escritor faleceu em
Madri aos 68 anos, vitimado pelo diabetes.

Em vida, Cervantes padeceu tribulações incríveis, porém morreu em


bom estado de ânimo, satisfeito pelos seus feitos, saudoso dos bons
amigos que deixaria para trás e na esperança da vida eterna. No prólo-
go de Los Trabajos de Persiles y Sigismunda, diz:

“Adeus, graças! Adeus, gracejos! Adeus, queridos amigos! Pois vou


morrendo, esperando vos ver logo e contentes na outra vida!”

Em 29 de setembro de 1547, em Alcalá de Henares, pequena cidade


poucas milhas a nordeste de Madri, nascia Miguel de Cervantes Saa-
vedra, “Principe de los Ingenios”.

Como sua data de nascimento coincidisse com a festa de São Miguel,


o menino recebeu o nome do arcanjo. Segundo a estudiosa Luce Ló-
pez-Baralt, Saavedra vem de “shaibedraa”, palavra árabe que significa
“manco”, apelido que Cervantes recebeu após sua participação na ba-
talha de Lepanto.

Pouco se sabe com certeza sobre sua família. O pai chamava-se Ro-
drigo de Cervantes, a mãe, Leonor de Cortinas. Seis eram os irmãos:
destacam-se Rodrigo, companheiro de Miguel no cativeiro, e Luísa,
priora de um convento carmelita. Seus antepassados gozavam de boa
posição e reputação em Córdoba, onde alcançaram altos postos políti-
cos e próspera situação financeira.

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Igualmente incerta é a informação quantos aos estudos formais de Cer-
vantes. Sabe-se que frequentou o Estudio Público de Humanidades de
la Villa de Madrid, escola fundada pelo rei Afonso XI durante o século
XIV que destacou-se pela formação de humanistas. Lá Cervantes es-
tudou no ano de 1566, onde tornou-se protegido do professor e poeta
Juan López de Royos, que incentivava os primeiros passos de sua cria-
ção literária. Em uma obra dedicada a Isabel de Valois, terceira esposa
do rei Felipe II, López de Royos incluiu duas poesias de Cervantes, a
quem chamou de “caro y amado discipulo”.

Data de 1569 uma ordem de prisão contra o jovem Cervantes, por


suposto envolvimento em uma briga com um mestre de obras chama-
do António Sigura. Miguel, temendo o cumprimento do mandado,
abandonou a Espanha rumo à Itália.

A península itálica que o recebeu vivia o apogeu da Renascença. Tor-


quato Tasso e Ludovico Ariosto brilhavam nas letras. Na filosofia, a
recém-descoberta poética de Aristóteles era lida e relida, os italianos
Marcelo Ficino e Pico della Mirandolla permaneciam atuais e o por-
tuguês Leão Hebreu exercia grande influência sobre o ideário do cin-
quecento. O peso dessa atmosfera surge em toda a obra de Cervantes,
em que superabunda o pensamento neoplatônico, o gosto pela anti-
guidade, referências a novelas de cavalaria e relatos de suas andanças
por terras italianas

Cervantes passou por Milão, Palermo, Florença, Veneza, Parma e


Ferrara. Por pouco mais de um ano o escritor serviu como secretário

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de Giulio Acquaviva, sacerdote que exerceu cardinalato sob o ponti-
ficado de Pio V.

Seu serviço como burocrata eclesiástico foi breve: em 1570 alista-se


às forças católicas que combateriam o inimigo muçulmano na célebre
Batalha de Lepanto. A bordo da galé La Marquesa, Miguel de Cer-
vantes inicia sua carreira nas armas, capítulo importantíssimo de sua
biografia. O dito de Quixote em seu famoso discurso sobre as armas e
as letras faz jus ao caráter de Cervantes:

“Os meus arreios são as armas, o meu descanso o pelejar”.

Partindo de Nápoles sob o comando de João da Áustria, meio-irmão


de Felipe II da Espanha e filho bastardo de Carlos V, Cervantes foi à
luta contra as esquadras otomanas pelo domínio do mar Mediterrâneo.
No dia 7 de outubro de 1571 as frotas entrechocaram-se em Lepanto,
trecho da costa grega entre os golfos de Patras e Corinto.

“Tão cruel e sanguinolenta foi a batalha”, diz um cronista, “que mar e


fogo pareciam ser um só”. Mesmo acometido por febre e naúsea desde
o início da viagem, Cervantes não fugiu à luta e pelejou bravamente.
O futuro autor de Dom Quixote foi alvejado por três disparos: dois no
peito, de pouca gravidade, e um no braço, que lhe deixou inutilizada
a mão esquerda.

Os aleijões de guerra não bastaram para diminuir o orgulho de Cer-


vantes por sua participação nesse momento histórico. No prólogo da
segunda parte de Quixote, o autor afirma que Lepanto foi “a gesta mais
nobre que viram os séculos passados, presentes e hão de ver os futuros”.

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A viagem de volta à casa das frotas foi longa e extenuante. Em Cor-
fu, ilha grega no mar Jônico, o soldado Cervantes tratou ferimentos
e moléstia. A indecisão de nobres e sacerdotes gerou impasse sobre o
destino das esquadras, que vagaram sem rumo certo por longo tempo.

Durante dois anos assentaram acampamento na Itália. Nesse período


Cervantes viajou pelo país em seu tempo vago, embebeu-se ainda mais
da atmosfera cultural italiana e registrou suas impressões em trechos de
suas Novelas Ejemplares (1613).

Enfim foi batido o martelo pela dissolução da Liga Santa, e a nau


de Cervantes dirigiu-se à Espanha. Quando passavam pelo litoral
catalão, foram atacados por um navio de piratas argelinos. Houve
tentativa de resistência, mas os soldados espanhóis foram rendidos e
levados à costa africana.

Miguel de Cervantes foi revistado, e seus agressores encontraram con-


sigo cartas de recomendação assinadas pelo rei Felipe II e pela duquesa
de Sessa. Julgando que o prisioneiro era pessoa relevante, Dali Mami,
grego convertido ao islã, fez de Cervantes seu cativo, condicionando
sua liberdade ao pagamento de resgate no valor de 500 escudos.

Seus anos de cativeiro passaram-se em Argel. Apesar dos suplícios da


escravidão, Cervantes conservou bom ânimo, sem guardar rancor dos
seus algozes, mantendo rotinas religiosas e dedicando o escasso tempo
livre à escrita. A obra Los baños de Argel (1615) e o relato do cativo
(Quixote, parte 2, cap. 39) tratam das impressões de Cervantes sobre
a situação que viveu.

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Várias e frustradas foram as tentativas de fuga. Da mesma forma, o
escritor buscava contato com seus compatriotas, mas não obtinha res-
posta. Após cinco anos de sofrimento, padres trinitários, ordem reli-
giosa que cuidava em libertar os cativos do litoral argelino, levaram
Cervantes de volta à sua terra em novembro de 1580.

Desde 1578, ano do desaparecimento de Dom Sebastião, o trono por-


tuguês enfrentava uma crise sucessória. Em 1580, após a morte do
cardeal-rei Dom Henrique, Filipe II reuniu as coroas espanhola e por-
tuguesa, em período conhecido como União Ibérica.

Durante breve período o rei castelhano transferiu sua corte para Lis-
boa. Cervantes o seguiu rumo à capital portuguesa, em busca de fa-
vores e proteção. Em “Los Trabajos de Persiles y Sigismunda”, o escritor
louva a beleza das mulheres portuguesas, a piedade dos religiosos e a
“dulce y agradable” língua portuguesa.

Miguel não alcançou o que desejava em Lisboa e, no ano seguinte,


voltou à Espanha, instalando-se em Madri. Lá envolveu-se com Ana
Villafranca Rojas, mulher casada, e com ela teve, em 1583, uma filha
chamada Isabel de Saavedra. Neste mesmo ano escreve e publica La
Galatea, romance pastoril que se passa às margens do Tejo.

Estamos em 1584. Cervantes vai à Andaluzia, onde presta à Armada


Espanhola serviços burocráticos relativos à compra de provisões paras
as tropas. O escritor ia e voltava das cidades de Sevilha, Madri, Toledo
e La Mancha, itinerário que aparece no conto Rinconete y Cortadillo,
uma das Novelas Ejemplares.

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A partir de 1594 assume o cargo de coletor de impostos atrasados.
O escritor ia de casa em casa cobrar os contribuintes, e nem sempre
era bem recebido. Ademais, os impostos destinados a cobrir gastos de
guerra não eram vistos com bons olhos por muitos cidadãos.

Em 1597, o banco onde Cervantes depositava os impostos que cole-


tava foi à bancarrota e o escritor, preso. Encarcerado de setembro a
dezembro, Cervantes engendrou na prisão a primeira parte de Dom
Quixote. Quando liberto, dedicou-se à dramaturgia: destacam-se as
peças El Rufián Dichoso e El Cerco de Numancia.

Desde 1601 a corte de Filipe II estava assentada em Valladolid. Cer-


vantes, em 1604, partiu para lá, novamente em busca de emprego e
proteção. No mesmo ano António de Herrera y Tordesillas, cronista
das Índias e censor da obra de Cervantes, autorizou a impressão da
primeira parte de Dom Quixote. Em janeiro de 1605 veio a público O
Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, obra prima da literatu-
ra espanhola. A segunda parte foi publicada em 1615.

Entre as duas, Alonso Fernández de Avellaneda, amigo de Lope de


Vega, publicou uma versão apócrifa do Quixote, e Cervantes, as Nove-
las Ejemplares (1613) e Viaje al Parnaso (1614).

Hoje, passados quatro séculos desde sua primeira publicação, O Enge-


nhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha é o clássico mais vendido de
todos os tempos, contando mais 400 milhões de exemplares comer-
cializados. Quanto ao número de traduções, somente a Bíblia o deixa
para trás.

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Tal popularidade, aliada à densidade de conteúdo das mais de oitocentas
páginas do romance e às críticas positivas de autores respeitados, deram
a Quixote o privilégio de ostentar o epíteto de clássico dos clássicos.

Influente entre os ingleses, a obra-prima de Cervantes inspirou os ro-


mancistas Daniel Defoe, Jonathan Swift e Laurence Sterne. Fiódor
Dostoiévski, gênio absoluto da literatura russa, confessou ter compos-
to o protagonista de O Idiota (1869) com os olhos no cavaleiro da
Triste Figura. No Brasil, Machado de Assis e José Lins do Rego decla-
raram-se admiradores do cavaleiro andante, e em suas obras há abun-
dantes alusões e menções a Quixote.

Cada escola de pensamento busca nos clássicos da literatura traços que


se encaixem perfeitamente a seus ideais, como se as narrativas não fos-
sem senão um meio de confirmar por meio de contos da carochinha
ideias pré-estabelecidas. Um traço distintivo das grandes obras é fugir
a semelhantes reducionismos: o clássico pode ser observado por todos,
mas jamais se esgotam as possibilidades de interpretação.

Sob tal ponto de vista, não há clássico que se equipare a Quixote:


Bento XVI, Michel Foucault, René Girard, Friedrich Nietzsche, Karl
Marx, Miguel de Unamuno, José Saramago, Mario Vargas Llosa, Jorge
Luis Borges e diversos outros pensadores e artistas das mais díspares
orientações políticas e filosóficas buscaram interpretar Quixote à luz
de suas crenças.

Escrito em uma época de transição, Quixote firmou-se como precursor


e forma ideal do gênero literário mais popular dos últimos quatro sé-

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culos: o romance moderno. Este novo gênero permitiu ao autor com-
por uma verdadeira miscelânea de discursos:

A loucura de Alonso Quijano advém da leitura apaixonada dos roman-


ces de cavalaria. Obras como Amadís de Gaula, Palmerim de Inglaterra,
e Tirante O Branco são citadas diversas vezes. Além disso, Quixote,
para melhor imitar seus heróis, toma uma dama por quem lutar, um
escudeiro e um cavalo. O caso do barco à deriva (parte 2, cap. 29) e
as constantes menções a magos e nigromantes são também alusões a
histórias de cavalaria andante.

Os casos de Marcela e Crisóstomo (parte 1, cap. 12), Cardênio (parte


1, cap. 23), Anselmo e Eugênio (parte 1, cap. 51) satirizam o bucolis-
mo das novelas pastoris, em voga à época graças ao interesse renascen-
tista pelas éclogas virgilianas.

Nas dezenas de descrições de nascer e pôr do sol, pontuadas com acen-


tos de ironia, e nas menções à literatura greco-latina, Cervantes dia-
loga com a antiguidade. Nas canções, elegias e sonetos que permeiam
o romance, o gênio castelhano mostra que sua pena também presta
serviço ao lirismo.

O discurso sobre armas e letras (parte 1, cap. 39), os conselhos ao


governador Sancho (parte 2, cap. 42), a divagação sobre a arte da tra-
dução (parte 2, cap. 62) e tantos outros momentos da narrativa dão
mostras da versatilidade da força expressiva de Cervantes, que também
dominava a retórica.

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Misturando elementos épicos e líricos, eruditos e chulos, bucólicos
e retóricos, medievais e renascentistas, Miguel de Cervantes compôs
a obra literária que mais vivamente marcou a cultura ocidental, com
personagens e enredo conhecidos mesmo por aqueles que jamais tive-
ram em mãos uma edição de Dom Quixote.

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Do tradutor
AQUILINO RIBEIRO

Fruto da união entre o padre Joaquim Francisco Ribeiro e a campo-


nesa Maria do Rosário Gomes, Aquilino Gomes Ribeiro nasceu na
freguesia Tabosa do Carregal, no dia 13 de setembro de 1885.

O menino, segundo entre quarto irmãos, passou a infância no meio


rural, trabalhando nas lidas pastoris e divertindo-se em caçadas. Em
1895, ingressou no Colégio de Nossa Senhora da Lapa, situado em
Moimento da Beira. Cinco anos depois foi a Lamego, onde concluiu
os estudos primários. No ano seguinte foi à Beira e matriculou-se no
seminário da cidade.

Foi expulso da instituição em 1904, após desacato a um dos sacerdotes


que dirigiam a instituição. Passa dois anos em sua terra natal e então
vai à Lisboa. Na capital, envolve-se com a militância republicana, redi-
gindo artigos para o jornal A Vanguarda. Em 1907, serve-se de seu ta-
lento literário para compor A Filha do Jardineiro, ficção de propaganda
republicana, e recebe a iniciação na maçonaria.

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Em 1907, a primeira prisão: Aquilino é acusado de movimentos anar-
quistas. Foge da clausura nas primeiras semanas e leva vida clandestina
em Lisboa, onde mantém contato com grupos que planejavam um
atentado regicida.

Vai à França em 1910. Matricula-se no curso de Letras da Universida-


de de Sorbonne. Lá conhece a alemã Grete Tiedemann, sua primeira
esposa. Quando eclode a Grande Guerra, o casal volta a Portugal. Já
tinham um filho, nascido em 1914; chama-se Aníbal Fritz Tiedemann
Ribeiro, e viria a ser um bem-sucedido juiz de direito.

Mesmo sem ter concluído o curso em Paris, é admitido como pro-


fessor no Liceu Camões, cargo que ocupa por três anos. Abandona-o
em 1918, quando granjeia um posto na Biblioteca Nacional. Neste
período, mantém intensa atividade intelectual, em contato contínuo
com a intelectualidade portuguesa, produzindo obras de ficção e tex-
tos para periódicos.

Participa da Revolta de 7 de fevereiro, movimento que tentou derru-


bar a ditadura militar que dominava a jovem república de Portugal. A
revolta fracassa e Aquilino é obrigado a novamente exilar-se em Paris.
Retorna ao fim do ano, por ocasião do falecimento de Grete.

No ano seguinte, toma parte em mais uma quartelada. Novo fracasso,


nova prisão, novo exílio na capital francesa. Em 1929, assume segun-
das núpcias com Jerônima Dantas Machado, filha de Bernardino Ma-
chado, ex-presidente de Portugal.

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No ano seguinte, bons e maus acontecimentos. Nasce Aquilino Ri-
beiro Machado, que viria a ser político, e o escritor é condenado pelo
Tribunal Militar. Gênio indomável, não dá a cerviz ao jugo: foge, es-
condendo-se na Galícia.

Volta clandestinamente em 1932; daí em diante arrefece o espírito de


indignação do escritor, que vai, pouco a pouco, afastando-se dos pré-
lios políticos e concentrando-se na vida intelectual.

Nas duas últimas décadas de vida, organizou sua obra e recebeu diver-
sas homenagens. Em 1952 visitou o Brasil: foi homenageado na Aca-
demia Brasileira, que lhe conferiu o título de sócio correspondente.

Em 1963, ano do seu falecimento, recebeu festas por todo o Portugal


devido ao cinquentenário de sua vida literária. As menções à sua vida
e obra, porém, eram censuradas pela ditadura de Salazar. Morreu em
27 de maio de 1963, em Lisboa. Está sepultado no Cemitério dos
Prazeres.

Com justiça, Aquilino é reconhecido como um dos maiores vultos da


língua portuguesa no século XX. As vicissitudes da vida de militante
não atrapalharam sua criação literária: conta mais de quarenta obras
publicadas, entre romances, novelas, história, literatura infantil, bio-
grafias, memórias e traduções.

Em sua tradução do clássico cervantino, deparou-se com a mais de-


safiadora missão de sua lida artística: verter para o português a obra
prima do castelhano, língua irmã.

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O próprio Cervantes, por meio de Quixote, aponta quão ingrata é a
missão dos tradutores:

“Parece-me que verter de uma língua para outra, desde que


se não trate de língua-mãe, a grega ou latina, é o mesmo que
olhar pelas costas um pano de rãs”.

Para dar conta de tão complicado trabalho, Aquilino serviu-se de toda


sua mestria de escritor para trasladar ao português todo o colorido vi-
gor do original castelhano. A riqueza lexicológica do estilo de Aquilino
foi sua maior arma: são muitos os termos inusitados empregados pelo
tradutor. Além disso, trouxe ao texto termos chulos, em conformidade
com o original, e a fala das populações rurais, que colheu do ambiente
rural onde passou a infância.

O resultado é uma tradução a um só tempo fiel e peculiar, que, graças


a seu fino acabamento estilístico, tornou-se ela também um clássico da
literatura.

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Personagens
DOM QUIXOTE

Alonso Quijano é um senhor de meia-idade, magro de corpo e de ros-


to escavado. Alonso é dono de uma porção de terra, que administra
com ajuda de um peão, de uma governanta e de sua sobrinha.

Amante dos romances de cavalaria, enlouquece de tanto lê-los e deci-


de partir em direção a aventuras iguais as dos heróis livrescos. Deixa
de ser Alonso para se tornar Dom Quixote, cavaleiro andante à moda
medieval. Inventa uma mulher por quem lutará e dá a ela o nome Dul-
cineia. Toma seu vizinho Sancho por escudeiro e dá a seu velho cavalo
o apelido de Rocinante.

Dessa forma parte pela Espanha à cata de aventuras. Porém, não dis-
tingue as fantasias da realidade, e seus atos têm por consequência cas-
tigos físicos e morais para todos que o rodeiam.

SANCHO PANÇA

Sancho Pança é um simples camponês. É casado com Teresa, pai de


Sanchicha e dono de um burrico chamado Ruço.

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Quixote ofereceu a Sancho o governo de uma ilha como paga pelo
tempo de serviço como escudeiro. Sancho aceitou a proposta com um
misto de ganância e curiosidade.

O escudeiro inicialmente vê a realidade de modo nítido e tenta con-


trariar as loucuras de seu amo, mas aos poucos é envolvido pela insen-
satez do cavaleiro.

Quixote destaca-se por seus modos nobres e falas (ao menos formal-
mente) sóbrias. Sancho, por sua vez, é iletrado, fala palavrões e faz
uso exagerado de ditos populares. Além disso, não domina regras de
etiqueta, é inconveniente e comilão.

As características distintivas do escudeiro são a fidelidade e o bom humor.

DULCINEIA

As façanhas dos cavaleiros errantes são tradicionalmente oferecidas a


donzelas. Como Dom Quixote não possuía pretendente, namorada
ou esposa, fez de Aldonza Lorenzo, simples camponesa, sua musa
inspiradora.

Aldonza fora uma antiga paixão de Quixote, mas jamais soube do in-
teresse do fidalgo nem conheceu os feitos que o cavaleiro cometeu em
seu nome.

Quixote deu à camponesa o nome Dulcineia del Toboso, que lhe pa-
recia digno de uma dama bela e nobre. Durante a trama, Quixote
desafia todos aqueles que não reconhecem Dulcineia como a mais bela

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das mulheres. Apesar de ser constantemente mencionada, Dulcineia
jamais aparece em cena.

Quando volta à casa após ser derrotado pelo cavaleiro da Lua Branca,
Quixote abandona os ideais da cavalaria, mas em momento algum se
desmente quanto à Dulcineia. Mesmo ausente em pessoa, Dulcineia
tem presença forte e dominante na narrativa, surgindo como o ideal
inatingível que move o espírito de Quixote.

SANSÃO CARRASCO

Filho de Bartolomeu Carrasco, um homem da vizinhança de Sancho e


Quixote. Estudante recém-formado em Salamanca.

Sansão leu a primeira parte das aventuras do amo e escudeiro. Tão logo
os conheceu pessoalmente, encheu-se de compaixão por eles e fez de
tudo para salvá-los.

Com este fim, disfarçou-se primeiramente de cavaleiro dos Espelhos,


depois como cavaleiro da Lua Branca, desafiou e venceu Quixote e o
levou de volta para casa.

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RESUMO
DA OBRA
Primeira parte
PRÓLOGO E DEDICATÓRIA

Dedicatória endereçada ao duque de Béjar, pedindo-lhe favor e pro-


teção junto aos censores. Em seguida, o autor relata as dificuldades
para compor a introdução e ironiza o costume de enxertar os prólogos
com poemas laudatórios escritos por homens célebres e poetas consa-
grados. Em conversa com um amigo, Cervantes lamenta sua incultura
e escreve sobre a necessidade de preencher o livro com citações de
autores latinos e passagens bíblicas. O prólogo termina com um diver-
tido diálogo entre Babieca, cavalo de Cid, famoso herói de uma gesta
medieval, e Rocinante. Antes do início do romance, o leitor já sabe se
tratar de uma obra satírica.

CAPÍTULO I

Descrição dos costumes e do estado do protagonista. Alonso era um


homem por volta dos 50 anos, que morava em uma propriedade rural
da Mancha com sua sobrinha, uma governanta e um peão. Seu único
compromisso era administrar seus bens. O narrador nos explica, po-
rém, que Alonso era amante dos romances de cavalaria, e sua obsessão
pelos livros o levou à loucura de querer imitar suas histórias.

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Inspirado em Amadís de Gaula, dá a si mesmo o título de Dom Qui-
xote de La Mancha, e a seu débil cavalo apelida Rocinante. Como
todo cavaleiro necessita de uma senhora a quem ofereça seus feitos
heroicos, Quixote imagina que Aldonza Lorenzo, uma simples aldeã,
é, em verdade, Dulcinéia del Tobo, uma grande dama.

CAPÍTULO II

Quixote parte numa manhã, sem deixar aviso a ninguém. Após ho-
ras de viagem sem rumo certo, topa, à noite, com uma estalagem. O
cavaleiro toma o cortiço por castelo, as prostitutas que o recebem por
princesas, e o dono do albergue por senhor.

Seu falar retórico, à moda dos romances, suas vestes desajeitadas e seus
modos estranhos são objeto de risos e pilhérias.

CAPÍTULO III

Após cear, Dom Quixote roga ao estalajadeiro que lhe arme cavaleiro.
Este, consciente da loucura de Quixote, aceita a proposta. Em uma
cerimônia cômica, o dono do albergue e as duas prostitutas abençoam
as armas e dão com a espada nos ombros de Quixote.

O recém-sagrado cavaleiro parte de imediato, agradecendo efusiva-


mente seus padrinhos.

CAPÍTULO IV

Quixote volta para casa à busca de mantimentos. No caminho, encon-


tra um aldeão espancando um jovem empregado. Quixote intervém,

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exigindo que o aldeão não mais agrida o rapaz. Tão logo o cavaleiro
parte, o camponês volta a espancar seu criado.

Em meio à estrada, o cavaleiro errante topa com um grupo de merca-


dores. Quixote exige que reconheçam Dulcineia como a mais bela das
mulheres. Como eles negassem a imposição, o cavaleiro desembainha
a espada e investe contra os mercadores, mas cai de Rocinante e acaba
espancado.

CAPÍTULO V

Um vizinho de Quixote o encontra agonizando à beira da estrada e o


leva para casa no lombo de um jumento. À sua procura estavam sua
sobrinha, a governanta, o cura e o barbeiro da região. Em casa, Qui-
xote é assistido por sua sobrinha e sua governanta, que lamentam seu
estado e culpam os livros de cavalaria por sua loucura.

CAPÍTULO VI

O barbeiro e o cura escrutinam a biblioteca de Quixote e decidem


quais livros devem ou não ser lançados à fogueira.

CAPÍTULO VII

Os livros são queimados e se empareda a porta que dava acesso à bi-


blioteca. Governanta e sobrinha dizem a Quixote que o sumiço dos
livros e da biblioteca foi obra de um feiticeiro. Quixote passa duas
semanas em casa. Certo dia, o cavaleiro procura um lavrador seu vizi-
nho, chamado Sancho Pança, enche-lhe de promessas e o convence a

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ser seu escudeiro. Quixote e Sancho ajuntam provisões e partem sem
despedirem-se de suas famílias.

CAPÍTULO VIII

Frente a quarenta moinhos de ventos, Quixote os toma por gigantes


e, ignorando os alertas de Sancho, os ataca. As pás de um moinho,
porém, arrastam cavalo e cavaleiro.

Após o acidente, seguem pela estrada e dão com uma comitiva que
transporta uma nobre dama. Quixote crê tratar-se de um sequestro e
parte em socorro da senhora, atacando os frades, os cocheiros e os ca-
valeiros que iam junto do comboio. Não se sabe, porém, o final desta
aventura.

CAPÍTULO IX

O narrador relata sua procura pelo manuscrito que dava conta do final
da última aventura. Encontrou-o em Toledo, escrito em árabe, e pediu
a um mouro que lhe traduzisse a peça.

Quixote venceu a batalha e rendeu seus adversários, que, graças ao


rogo das damas, tiveram poupada a vida.

CAPÍTULO X

Dom Quixote e Sancho Pança conversam sobre as normas e usos da


cavalaria.

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CAPÍTULO XI

Quixote e Sancho pernoitam no abrigo de uns cabreiros. Os anfitriões


oferecem cama, mesa e música aos hóspedes.

CAPÍTULO XII - XIV

Uma visita adentra a casa dos pastores para contar uma triste novi-
dade. Marcela era uma jovem muito bonita que andava em trajes de
pastora e a todos enamorava. Um dos que por ela se apaixonou foi
Crisóstomo, fidalgo e estudante em Salamanca. Como seu amor não
fosse correspondido, Crisóstomo morreu, deixando expresso que dese-
java ser enterrado no mesmo local onde viu Marcela pela primeira vez.

Cabreiros, Quixote e Pança vão ao enterro. Alguns fidalgos e pastores,


para se entreterem durante o caminho, dão conversa aos desvarios ca-
valeirescos de Quixote.

Ao pé do túmulo, é lida a “Canção de Crisóstomo”, que narra a des-


ventura amorosa do defunto. Surge, então, Marcela, que discursa de-
fendendo sua inocência. Marcela sai, e pastores e fidalgos fazem men-
ção de a perseguir. Dom Quixote, entretanto, promete defendê-la com
a própria vida, se necessário.

CAPÍTULO XV

Os dois amigos despedem-se dos cabreiros e se embrenham mata


adentro. Quando iam descansando num bosque, Rocinante dá com
algumas éguas e tenta montá-las. Os donos das éguas as defendem e
batem em Rocinante. Quixote e Sancho saem em defesa do cavalo,

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mas como eram dois contra mais de vinte, acabam levando uma surra.
Segue-se um diálogo, em tom de contenda, em que Sancho e Quixote
falam sobre os infortúnios inerentes à cavalaria andante.

CAPÍTULO XVI

Quixote e Sancho são recolhidos em uma estalagem que o cavaleiro toma


por castelo. Ali são tratados de seus ferimentos. Acomodado em uma
cama desconfortável, Dom Quixote sonha que a senhora que tratou
suas feridas dele se enamorou. Esta senhora, chamada Maritones, havia
combinado encontrar-se com um almocreve que era também hóspede
da estalagem e dormia no mesmo cômodo que o cavaleiro. A escuridão
do ambiente e o delírio de Quixote levam Maritones a deitar-se nos bra-
ços do homem errado. Segue-se uma grande confusão entre Sancho, o
almocreve, Quixote, Maritones e o dono da hospedaria.

CAPÍTULO XVII

Ainda na estalagem, Quixote produz o bálsamo de Ferrabrás, que com


seus poderes mágicos é capaz de curar todas as feridas de escudeiro e
cavaleiro.

Quixote e Sancho partem da estalagem sem pagar suas despesas; o es-


talajadeiro, porém, fica com os alforjes dos hóspedes.

CAPÍTULO XVIII

Quixote e Sancho refletem sobre os acontecidos na estalagem e põem


seu insucesso na conta de feiticeiros. Seguindo o caminho, Quixote vê
a poeira levantada por rebanhos de carneiros que andam em direções

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opostas e crê tratar-se da marcha de exércitos inimigos. A despeito das
advertências de seu escudeiro, Quixote investe contra os carneiros e
acaba sendo atingido por pedras arremessadas por pastores. O cava-
leiro perde vários dentes e Sancho fica desolado a ponto de desejar
abandonar seu amo. Quixote, entretanto, convence Sancho a ficar e
põe a culpa do insucesso em encantadores, que, na hora da peleja,
transformaram os cavaleiros inimigos em ovelhas indefesas.

CAPÍTULO XIX

Andando estrada afora, Quixote e Sancho dão com um comboio de


homens vestidos de negro da cabeça aos pés. Quixote bloqueia seu ca-
minho e pergunta quem eles são, para onde vão e o que levam consigo.
Após receber resposta sumária e desaforada, ataca e vence o bando. Ao
interrogar o único cavaleiro que não fugiu, descobre tratar-se de um
comboio fúnebre conduzido por clérigos.

CAPÍTULO XX

Enquanto buscavam por água, Quixote e Sancho são sobressaltados


por um barulho alto e constante, que não se sabe de onde vem nem
quem o produz. Ainda de madrugada, o cavaleiro deseja seguir o es-
trondo, mas é dissuadido pelo temeroso Sancho. Na aurora, Quixote
e seu escudeiro descobrem que o barulho era produzido pela batida
alternada de seis maços de pisão, instrumentos utilizados na produção
de tecidos. Os dois amigos caem na risada.

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CAPÍTULO XXI

No início do capítulo, Quixote confunde a bacia que um barbeiro car-


rega à cabeça com o lendário elmo de Mambrino. O cavaleiro investe
contra o barbeiro e lhe toma a bacia.

Seguindo seu caminho, escudeiro e cavaleiro conversam sobre os meios


pelos quais ascenderão aos mais altos postos de nobreza.

CAPÍTULO XXII

Vagando pela estrada Real, Quixote e Sancho passam por uma dezena
de prisioneiros acorrentados. Eram galeotes, condenados pelos delitos
que cometeram a remar nas galés d’El-Rei.

Os dois apiedam-se e exigem que os guardas libertem os prisioneiros.


Como estes negassem a proposta, Quixote e Sancho usam da força
para soltar os presos. O cavaleiro pede, em pagamento do favor, que os
malfeitores caminhem até Toboso e relatem o acontecido a Dulcineia.
Os presos não acatam o pedido do cavaleiro; este se enfurece, ofende
os fugitivos pela ingratidão e recebe em troco uma chuva de pedradas.

CAPÍTULO XXIII

Quixote e Sancho vão, a fim de se esconderem da Santa Irmandade, à


Serra Morena. Enquanto dormem num ermo, Ginés de Passamonte,
prisioneiro por eles liberto, rouba o asno de Sancho.

Pela manhã, Quixote e seu cavaleiro encontram uma mala com di-
nheiro e roupas. Em seguida, avistam um homem maltrapilho cor-
rendo pela serra, e creem ser ele o dono da mala perdida. Enquanto

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o procuram, encontram um pastor que lhes relata a história daquele
ermitão, que tem fama de louco e afirma estar vivendo recluso para
expiar seus pecados.

CAPÍTULO XXIV

Quixote encontra o ermitão da serra e oferece a ele seus serviços de


cavalaria. O homem agradece e promete contar sua história, contanto
que não seja interrompido.

Chama-se Cardênio, é de família nobre e apaixonou-se por uma dama


chamada Lucinda. Enquanto conta sua história, ao citar romances de
cavalaria, é interrompido por Quixote. Os dois discutem sobre este
gênero literário e Cardênio termina por agredir Quixote e Sancho.

CAPÍTULO XXV

Amo e escudeiro seguem pela serra, à procura de Cardênio, que havia


fugido. Indagado por Sancho, Quixote afirma que sua andança pela
serra busca a perfeita imitação dos feitos de Amadis de Gaula.

Quixote escreve uma carta à Dulcineia e ordena que Sancho vá à loca-


lidade mais próxima e a mande trasladar.

CAPÍTULO XXVI

Sozinho na serra, Quixote dedica-se a orar à Virgem Maria e a compor


poemas sobre Dulcineia.

Sancho, enquanto isso, passa pela estalagem onde se hospedara com


seu amo. É reconhecido, e dois senhores exigem que ele conte o que

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se passa com Quixote. Sancho repara, então, ter esquecido de pegar a
carta ao despedir-se de Quixote.

O barbeiro, um clérigo e Sancho decidem dar fim à loucura de Quixo-


te. Planejam que um deles vista-se de dama, cubra o rosto com véu e
peça a Quixote desagravo pelas injustiças cometidas por um cavaleiro
de má-índole. Desta maneira o retirariam da serra à aldeia e tratariam
sua loucura.

CAPÍTULO XXVII

O barbeiro, disfarçado de dama, o cura e Sancho adentram a serra.


Encontram Cardênio, que lhes narra o restante da sua triste história:
Fernando, amigo a quem Cardênio dera a incumbência de ajudá-lo a
pedir a mão da moça, roubou-lhe o amor de Lucinda. O impacto deste
infortúnio levou Cardênio à serra e à loucura.

CAPÍTULO XXVIII

Barbeiro, escudeiro e padre seguem procurando Quixote. Dão com uma


moça chamada Doroteia, que, sozinha num ermo, cantava lamúrias.

Única filha de um nobre casal, a senhorita vivia reclusa. Um dia um


rapaz chamado Fernando a viu e passou a cortejá-la, porém sem su-
cesso. O rapagão, certo dia, invadiu o quarto de Doroteia e a forçou a
casar-se consigo ali mesmo. Consumado o ato, partiu apressadamente
e nunca mais voltou. Doroteia soube, dali alguns meses, que Fernando
havia casado com Lucinda, donzela de cidade vizinha.

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Doroteia foi a pé à cidade vizinha e inquiriu aos moradores onde habi-
tava a família de Lucinda. Além do endereço, também lhe informaram
que a noiva desmaiara durante a cerimônia de casamento. Ao tentarem
socorrê-la, encontraram em seu corpete um bilhete em que dizia não po-
der casar-se com Fernando por amar Cardênio e, se dissesse sim, o faria
por obediência aos pais e na noite seguinte daria cabo à própria vida.

Fernando tentou matar sua noiva ali mesmo, mas foi impedido pelos
sogros. Cardênio, que havia assistido o início das bodas, fugiu e deixou
bilhete a seus pais afirmando que iria viver recluso e jamais voltaria
graças à afronta que Lucinda lhe fizera.

Ao saber do desaparecimento de Cardênio, Doroteia foi, acompanha-


da de um serviçal, à procura do rapaz. Tão logo viu-se sozinho com a
donzela em meio à mata, o serviçal tentou abusar dela. A moça conse-
guiu defender-se e o lançou num desfiladeiro.

Depois destas sucessivas desgraças, Doroteia enfim internou-se na serra.

CAPÍTULO XXIX

Cardênio, integrante do grupo que ia à busca de Quixote, tudo ouviu


do relato de Doroteia. O cura, então, aconselha os dois jovens a retor-
narem às suas famílias. Antes de partir, porém, ajudariam a capturar o
cavaleiro da Triste Figura.

Doroteia encontra Quixote e lhe implora que a siga e a ajude a restituir


seu trono, que foi usurpado. O cavaleiro aceita a proposta.

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CAPÍTULO XXX

Enquanto a trupe anda, Doroteia conta a Quixote uma história inven-


tada de traições e desgraças que a levaram a pedir o auxílio do cavaleiro.

Após ouvir o relato, Quixote conversa à parte com Sancho, mas inter-
rompe o diálogo ao avistar Guinés de Passamonte montado em Ruço,
o asno de Sancho. O meliante foge e o animal é restituído.

CAPÍTULO XXXI

Sancho confessa ter esquecido de pegar a carta, mas afirma tê-la ditado
ao padre e a entregado à Dulcineia.

Quixote inquire Sancho sobre a recepção e aspecto de Dulcineia. O


escudeiro afirma ter visto uma camponesa comum, sem grandes quali-
dades, mui contrária ao que há na imaginação de Quixote.

CAPÍTULO XXXII

De volta à estalagem estão o padre, Maritones, barbeiro, Cardênio,


Doroteia, Sancho, Quixote e o casal de estalajadeiros. Enquanto Qui-
xote dorme, o restante conversa sobre romances de cavalaria e termi-
nam por ler a Novela do Curioso Impertinente.

CAPÍTULO XXXIII - XXXV

Lotário e Anselmo eram dois moços nobres e muito amigos. Lotário


era ainda solteiro, Anselmo havia se casado com uma senhora chamada
Camila. Inseguro quanto a honra e fidelidade de sua esposa, Anselmo
pediu a Lotário que a cortejasse, para ter prova definitiva do caráter de

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Camila. Embora contrariado, Lotário aceitou a proposta; Camila, po-
rém, não dava azo aos seus cortejos, e decidiu enviar, por intermédio
de um criado, uma carta a seu marido.

Na carta, Camila queixava-se do marido, que andava distante de casa


para dar ocasião ao cortejo de Lotário, e ameaçava voltar a viver com
os pais enquanto o esposo estivesse fora. Anselmo, percebendo que
Lotário levava a cabo seu plano, respondeu que logo voltaria e orde-
nou à esposa que não saísse de casa. Lotário seguiu tentando seduzir
Camila até, enfim, romper a fidelidade da esposa do amigo.

Quando tornou à casa, Anselmo ouviu de Lotário que sua esposa não
sucumbira às seduções. Lotário arrependeu-se da mentira e dali alguns
dias revelou a verdade ao amigo. Os dois decidiram dar termo à histó-
ria: Lotário iria falar com Camilia e Anselmo tudo ouviria escondido.

Na noite de execução do plano, Camila fez um discurso deprecian-


do seu adultério e imprudência, e terminou ferindo a si mesma, sem
gravidade, com uma espada. Anselmo e Lotário seguiram amigos e
frequentando a casa um do outro.

A leitura é interrompida. Em seu quarto, Dom Quixote sonha que está


combatendo gigantes e, ainda dormindo, acaba destruindo os odres de
vinho. A leitura é retomada após Quixote ser contido.

Anselmo estava insatisfeito com sua esposa e mantinha por perto o


amigo Lotário. Certa noite, viu um homem escapando do quarto de
Leonela, a criada, que a obrigou a contar toda a verdade e revelou o

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acontecido à Camila. Esta sobressaltou-se, pegou as joias do cofre e,
assim que pôde, revelou o caso a seu amante Lotário, que deliberou
levá-la a um convento.

Anselmo apercebeu-se do sumiço da esposa, do amigo e das criadas. Fe-


chou a casa, montou no cavalo e saiu sem rumo certo. Na estrada, um
andarilho informou que o caso de adultério era já conhecido por todos.

Anselmo morreu enquanto escrevia suas memórias. Lotário padeceu


numa batalha. Camila permaneceu no claustro, professou os votos
após receber notícia da morte do antigo amante e morreu pouco tem-
po depois.

CAPÍTULO XXXVI

Chega na estalagem uma comitiva de senhores e senhoras que trazem


o rosto coberto por máscaras. Após algum tempo de conversa, desco-
bre-se que entre os mascarados estão Fernando e Lucinda. Doroteia
reconcilia-se com Fernando, Lucinda reencontra Cardênio. Em meio a
lágrimas gerais, os casais explicam como vieram a se encontrar naquela
estalagem.

CAPÍTULO XXXVII - XXXVIII

O cura conta a Lucinda e Fernando as loucuras de Quixote, e se dá


conta que não é mais possível enganá-lo afirmando que Doroteia é uma
princesa em apuros; Doroteia, porém, consegue ludibriar o cavaleiro.

Todos ceiam e Quixote inicia um discurso sobre as letras e as armas,


que defende a superioridade destas sobre aquelas.

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CAPÍTULO XXXIX - XLI

Um cativo que estava na estalagem conta sua história. Este foi homem
de armas e tomou parte na batalha de Lepanto, durante a qual foi cap-
turado e feito escravo.

Em Argel, souberam de sua patente militar e cobraram alto preço pelo


seu resgate. Conta da sua rotina de trabalhos forçados, da comunidade
de cativos espanhóis e dos seus planos de fuga.

O relato do cativo em tudo se assemelha à biografia de Miguel de


Cervantes, que participou da batalha de Lepanto, foi capturado por
corsários muçulmanos e viveu cinco anos como escravo.

CAPÍTULO XLII

Termina a história do cativo. Um ouvidor se instala na hospedaria.

CAPÍTULO XLIII

Um apaixonado canta à janela da estalagem. Ele ama Clara, filha do


Ouvidor, e a persegue com suas lamúrias de amor aonde quer que ela vá.

Maritones e a filha do estalajadeiro pregam uma peça em Quixote, que


guardava a estalagem. Maritones pede que o cavaleiro dê, pela janela,
a mão à sua senhora, que ardia em desejo. Quixote se põe de pé sobre
Rocinante e, pela janela, dá a mão à filha estalajadeiro, que prende o
braço do cavaleiro ao ferrolho da porta.

Rocinante moveu-se na alvorada e Quixote fica dependurado.

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CAPÍTULO XLIV

O cavaleiro grita por socorro e, antes que o vejam dependurado, Ma-


ritones desata o nó que o prendia à porta. Quixote crê ter sido vítima
de feitiços. Dão-se, em seguida, mais alguns episódios cômicos na
estalagem.

CAPÍTULO XLV

Há uma altercação quanto ao que Dom Quixote carrega na cabeça:


será elmo ou bacia? A discussão transforma-se em briga, que é apazi-
guada pelo cavaleiro.

CAPÍTULO XLVI

Sancho algumas vezes flagrou Doroteia e Fernando aos beijos. O es-


cudeiro o revela a seu amo, julgando que Doroteia não é princesa de
modo algum. Quixote se enfurece com o escudeiro e defende a honra
da senhora. Doroteia, por sua vez, afirma que Sancho não a difama por
mal, mas por ser vítima de encantamentos.

Os amigos de Quixote conjuram-se e, disfarçados, prendem o cavalei-


ro numa cela.

CAPÍTULO XLVII - XLIX

Cura e barbeiro se despedem das senhoras, do estalajadeiro, de Fernan-


do e do cativo. Durante o caminho, enquanto carregam Quixote encar-
cerado, há conversa sobre as qualidades dos romances de cavalaria.

A conversa torna-se altercação entre Quixote e o cura.

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CAPÍTULO L - LI

A passagem de um rebanho de cabras interrompe a contenda. O gru-


po inicia conversação com o cabreiro, que propõe contar a todos uma
história.

Leandra, filha de um rico lavrador, era a menina dos olhos dos rapazes
da sua região. Muitos eram seus pretendentes, entre eles Eugênio, que
nos conta esta história, e Anselmo.

Vicente, soldado fanfarrão, poeta e tocador de guitarra, surge no vila-


rejo e arrebata o coração de Leandra. A donzela foge com o soldado,
levando consigo joias e pertences de grande valor.

Após três dias de busca, Leandra é encontrada num bosque vestindo


apenas camisa e despojada de seus bens. Quando interrogada, a moça
afirma que foi ludibriada por Vicente, que lhe prometeu casamento e
uma vida agradável em Nápoles apenas para poder roubá-la.

O pai da moça decide enclausurá-la num convento. Anselmo e Eu-


gênio, entristecidos por não mais poderem cortejá-la, decidem viver
como pastores num bosque, apascentando cabras e cantando versos
para sua amada.

CAPÍTULO LII

Todos gostam da história e se compadecem do cabreiro. Quixote ofe-


rece a ele seus serviços de cavalaria. O homem faz pouco caso da pro-
posta, percebendo a loucura do cavaleiro.

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Quixote ataca o cabreiro e os dois se atracam em luta violenta e desen-
gonçada. Logo são separados pelo restante do grupo.

Ao ver uma procissão de penitentes que oram pedindo chuvas aos


céus, Quixote julga tratar-se de malfeitores que vão carregando uma
dama indefesa. O cavaleiro os ataca, mas é ferido com um golpe na
cabeça e desmaia.

Seus amigos o colocam numa carroça e, após seis dias de viagem, che-
gam à aldeia do cavaleiro, onde Quixote e Sancho são recepcionados
por suas famílias.

O autor revela desconhecer o final das aventuras de amo e cavaleiro,


revelando apenas alguns poemas pouco esclarecedores.

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Segunda parte
DEDICATÓRIA

Cervantes oferece ao conde de Lemos a segunda parte de seu Dom


Quixote. O autor deixa claro que a história do cavaleiro da Triste Fi-
gura foi produzida para dissipar a má impressão que criou-se ao redor
de seu nome após a publicação de um Quixote apócrifo.

PRÓLOGO

Miguel de Cervantes, de maneira oblíqua, ataca o autor da falsa conti-


nuação de Dom Quixote. O escritor gaba seus feitos militares em Le-
panto, pede a proteção do conde de Lemos e do arcebispo de Toledo,
e anuncia que dará um fim definitivo e irremediável à vida de Alonso
Quijano nesta segunda parte do livro.

CAPÍTULO I

Quixote convalescia dos seus desvarios sob os cuidados de sua sobri-


nha e de sua governanta.

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Certo dia, barbeiro e cura foram visitá-lo, para certificarem-se de que
Alonso havia recobrado o juízo. Conforme avança a entrevista, o as-
sunto chega às novelas de cavalaria.

Quixote pronuncia eloquentes discursos sobre Amadis de Gaula, Palme-


rim de Inglaterra, Tirante o Blanco e tantos outros cavaleiros andantes.

A conversa é interrompida quando se ouve gritos de sobrinha e gover-


nanta.

CAPÍTULO II

Sobrinha e governanta gritam com Sancho, que tentava entrar na casa


para ver Quixote mas era impedido por ambas.

Cura e barbeiro se despedem e Quixote permite que Sancho entre.

Amo e escudeiro conversam à parte. Sancho revela que o filho de um


fidalgo chamado Bartolomeu Carrasco, recém-chegado de Salamanca,
onde se fez doutor, lhe contara que por lá circulava um livro intitula-
do O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de La Mancha, escrito por um tal
Cide Hamete Benengeli.

Quixote fica curioso e manda Sancho chamar o tal doutor.

CAPÍTULO III

O doutor, chamado Sansão Carrasco, cumprimenta Quixote com lou-


vores e confirma a existência de um livro sobre o cavaleiro, escrito por
um sábio mouro e com mais de 12 mil exemplares impressos.

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Cavaleiro, escudeiro e doutor conversam sobre as aventuras da primei-
ra parte de Quixote. Todos comem e em seguida dormem a sesta.

CAPÍTULO IV

Sansão pede a Sancho esclarecimentos sobre a história do roubo de seu


burro. Os três conversam sobre a recepção dada pelo público à história
de Quixote.

Rocinante relincha e Quixote interpreta isto como sinal de bom agou-


ro para uma viagem dali a três ou quatro dias. Sansão, interrogado
pelo cavaleiro, afirma que Saragoça é o melhor destino para Quixote
e Sancho.

Quixote pede a Sansão que componha um poema de louvor a Dul-


cineia, de modo que as letras iniciais de cada verso formem o nome
completo de sua amada. Sansão aceita a proposta.

A partida de amo e escudeiro fica para dali oito dias.

CAPÍTULO V

Sancho pede à Teresa, sua esposa, que ajeite as coisas para sua partida.
Teresa briga com o marido, queixando-se do seu descaso com a filha
Sanchicha, que já está em idade de casar.

CAPÍTULO VI

Governanta e sobrinha, como percebessem que Quixote estava prestes


a sair em nova jornada de loucura cavaleiresca, tentam dissuadi-lo des-
se intento, mas não logram êxito.

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CAPÍTULO VII

A governanta vai à casa de Sansão pedir-lhe socorro. O doutor a ouve,


recomenda que ela ore e promete logo ir cuidar do assunto.

Enquanto isso, Sancho pede a Quixote que lhe garanta um salário fixo
para as jornadas como escudeiro. O cavaleiro nega, por não conhecer
semelhante exemplo nas histórias de cavaleiros errantes.

Sansão chega na casa, louva Quixote e incentiva uma nova partida do


cavaleiro. Partem após três dias rumo a Toboso.

CAPÍTULO VIII

Montados em seus animais, Quixote e Sancho vão conversando pelo


caminho. Falam sobre Dulcineia, heróis e santos.

CAPÍTULO IX

A dupla chega em Toboso durante a madrugada. Como não soubessem


onde a senhora morava, Sancho promete encontrá-la durante o dia, en-
quanto seu amo espera em uma serrania nos arredores da cidade.

CAPÍTULO X

Enquanto Quixote espera na mata, Sancho delibera apresentar ao seu


amo uma dama qualquer e afirmar ser ela Dulcineia. Conforme Qui-
xote negasse, o escudeiro afirmaria que o cavaleiro não vê a fisionomia
de Dulcineia por obra do feitiço de algum mago seu inimigo.

E os planos de Sancho se concretizam com pleno sucesso, deixando


Quixote desconsolado.

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CAPÍTULO XI

Quixote ia triste, até passar por um excêntrica trupe de artistas, que re-
presentaria uma peça cômica por ocasião da oitava de Corpus Christi.
O cavaleiro crê tratar-se de uma nova aventura, mas logo seu equívoco
é esclarecido. Alguns artistas dão saltos e praticam momices em frente
a Rocinante, que se assusta, bate em disparada e termina por derrubar
D. Quixote.

CAPÍTULO XII

Sancho e Quixote passam a noite dormindo ao relento. São acordados


pelo canto de um homem. Trata-se de um cavaleiro errante, chamado
cavaleiro dos Espelhos. Este e Quixote passam a conversar, deixando
seus escudeiros à parte.

CAPÍTULO XIII

Os escudeiros ceiam e conversam sobre as dificuldades de sua lida.

CAPÍTULO XIV

O cavaleiro dos Espelhos louva as qualidades de Cassildeia de Van-


dália, a sua amada, e afirma que sua mais prodigiosa aventura foi ter
derrotado o Engenhoso Fidaldo Dom Quixote de La Mancha.

Quixote tenta, com suavidade, desmenti-lo, pois o dos Espelhos cer-


tamente derrotara o falso Quixote da história apócrifa. Como não se
entendessem, deliberam resolver a contenda num duelo.

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Ao duelarem, Quixote derruba seu adversário e o obriga a confessar
que Dulcineia é a mais bela das mulheres e que ele jamais havia derro-
tado o Engenhoso Fidalgo.

CAPÍTULO XV

A origem do tal cavaleiro dos Espelhos. Tratava-se de Sansão Carrasco.


Junto ao cura e ao barbeiro, Sansão havia planejado disfarçar-se de ca-
valeiro, desafiar Quixote e, ao vencê-lo, fazê-lo jurar que abandonaria
a cavalaria para tornar à companhia dos seus.

CAPÍTULO XVI

Amo e escudeiro seguem a caminho de Saragoça. Ambos perceberam


que o cavaleiro dos Espelhos era mui semelhante a Sansão Carrasco; po-
rém, Quixote crê que a semelhança não passava de obra de nigromantes.

A dupla dá com um homem chamado D. Diogo de Miranda, a quem


o narrador apelida de cavaleiro do Gabão Verde. Quixote e seu novo
companheiro de viagem sustentam erudita conversação sobre litera-
tura, até que a atenção do cavaleiro da Triste Figura é atraída por um
comboio que vem em sua direção.

CAPÍTULO XVII

Quixote ordena a Sancho que lhe dê o elmo de Mambrino. O escudei-


ro, que ia comprando requeijão de uns pastores, atende prontamente
ao chamado. Na precipitação do momento, Sancho acaba entregando
a seu amo o elmo repleto dos potes do requeijão que acabara de com-
prar. Quixote veste o capacete e, logicamente, fica lambuzado.

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O cavaleiro faz parar o comboio que vinha pela estrada. Trata-se de
uma comitiva que vai levando leões para Madrid, presentes de um ge-
neral argelino ao rei de Espanha.

Quixote obriga os guardas a abrirem a jaula das feras, para desafiá-las.


Os leões, porém, fazem pouco caso do cavaleiro. Todos louvam a cora-
gem de Quixote, que amedrontou os animais.

CAPÍTULO XVIII

Quixote e Sancho chegam à casa do cavaleiro do Gabão Verde e são


bem recebidos por esposa e filho do anfitrião. Os dois passam quatro
dias ali, onde os anfitriões, apesar de estranharem a loucura das manei-
ras de Quixote, tratam a amo e cavaleiro com amabilidade e cortesia
extremadas.

CAPÍTULO XIX

A pouca distância da casa de Dom Diogo, Quixote e Sancho avistam


dois estudantes montados em jericos. Os estudantes convidam a dupla
para assistir as bodas de Quitéria, bela moça, e Camacho, jovem rico.
Além dos festejos, a presença de Basílio, jovem que ama Quitéria e foi
desprezado pela família da moça por ser pobre, traz interesse ao evento.

Cochuelo, um dos estudantes, desafia seu amigo para um duelo amis-


toso. Como este fosse mais habilidoso, Cochuelo é derrotado.

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CAPÍTULO XX

A festa começa cedo pela manhã. Há música, declamação de poesia,


representação de pantomimas e dança. A mesa é farta e Sancho come
sofregamente.

CAPÍTULO XXI

A suntuosa chegada dos noivos é acompanhada pela chegada inespe-


rada de Basílio. Em frente à Quitéria, o moço desprezado profere um
discurso feroz e rasga seu ventre com uma espada. Enquanto Basílio
agoniza, o padre convence Quitéria a dar sua mão ao moribundo. A
moça aceita e o padre abençoa o matrimônio, para que Basílio não
morra em pecado mortal.

Basílio, porém, havia usado de uma artimanha para fingir ter se mata-
do, e a revela logo após a bênção do cura. O casamento é julgado nulo,
mas Quitéria dá fé à sua legitimidade e parte com Basílio, acompanha-
da por Quixote, Sancho e mais alguns convidados.

CAPÍTULO XXII

Quixote e Sancho passam três dias com os recém-casados. O cavaleiro


deseja visitar a Cova de Montesinhos, e pede a Basílio que o guie até lá.

Um primo do noivo leva Quixote ao dito local e, auxiliado por San-


cho e por uma corda, ajuda o lunático cavaleiro a adentrar o abismo.
Quando o puxam de volta à superfície, o cavaleiro está adormecido.
Quixote é acordado e começa a contar o que viu.

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CAPÍTULO XXIII

Na cova, Quixote conheceu o próprio Montesinhos, um dos famosos


Pares de França, com quem passou três dias e três noites. Este confes-
sou estar condenado à prisão perpétua na cova por obra de Merlin.

Sancho, ao ouvir o relato, julga seu amo completamente louco.

CAPÍTULO XXIV

O primo de Basílio convida Quixote a passar a noite numa ermida


próxima, onde diz haver um homem de grande santidade e sabedoria.
O cavaleiro recusa, pois quer dormir onde seja fácil encontrar um ho-
mem por quem cruzou na estrada.

CAPÍTULO XXV

Dom Quixote reencontra o homem da estrada. O homem vem de


uma aldeia famosa por dois rapazes que imitam perfeitamente o zurro
de burros. As aldeias vizinhas caçoam dessa fama um tanto ridícula, e
isso desencadeia uma pequena guerra entre as cidadelas.

Chega à estalagem onde está Quixote um titereiro que leva consigo


um macaco profético. O titereiro chama-se Maestro Pedro.

O cavaleiro pergunta ao macaco se aquilo que vira na cova de Monte-


sinhos era real. O macaco sussurra ao ouvido de Mestre Pedro que as
visões de Quixote eram a um só tempo reais e irreais.

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CAPÍTULO XXVI

Mestre Pedro apresenta um pequeno teatrinho baseado em histórias


de romances espanhóis e crônicas francesas. Trata-se da história de D.
Gaifeiros e de sua esposa Melisendra. Esta estava em Espanha, onde
era cativa de mouros, e foi libertada por seu esposo. Quixote envolve-
-se de tal maneira com a ficção, que acaba golpeando os bonecos de
Mestre Pedro com sua espada.

O equívoco é desfeito e Quixote atribui seu engano à obra de feiticeiros.

CAPÍTULO XXVII

O narrador revela que o titereiro fora um dos galeotes libertados por


amo e escudeiro na primeira parte do livro.

Quixote e Sancho vão à aldeia famosa pelos imitadores do zurro de


burros. O cavaleiro tenta dissuadir os aldeões do plano de pelear com
a vizinhança. A multidão não abre mão do seu orgulho, joga pedras
em Quixote, que foge com Rocinante, e amarram Sancho no lombo
de Ruço.

Os aldeões rivais não aparecem.

CAPÍTULO XXVIII

Sancho se enfurece com seu amo por ele o ter abandonado na aldeia.
Eles discutem e Sancho avisa que partirá para casa assim que receber
seu soldo. Quixote responde chamando seu criado de burro. Sancho se
entristece e pede perdão ao cavaleiro. Eles dormem.

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CAPÍTULO XXIX

Dali dois dias, Quixote e Sancho chegam às margens do rio Ebro. A


dupla encontra um barco sem remos nem velas aparentemente aban-
donado. Quixote crê seja propriedade de um cavaleiro, que o abando-
nou por estar em perigo e o deixou para o cavaleiro da Triste Figura.

Quixote, Sancho e Rocinante sobem a bordo, o burro ficando para


trás. O barco segue ao sabor do rio, mas Quixote crê piamente ter
navegado para além do equador. Eles deparam-se com as pás de um
moinho, que o cavaleiro confunde com um castelo. Por pouco a dupla
escapa de ser esmagada pelo moinho. Surgem pescadores e moendei-
ros, exigindo da dupla ressarcimento pelo estrago de barco e moinho.

CAPÍTULO XXX

Sancho e Quixote encontram por acaso Duque e Duquesa. Estes ficam


encantados por conhecerem o engenhoso fidalgo, e convidam amo e
escudeiro a hospedarem-se em seu castelo por tanto tempo quanto
desejarem.

CAPÍTULO XXXI

O Duque parte à frente dos demais e pede a seus servos que tratem
Quixote como se fosse de fato um cavaleiro célebre. O engenhoso fi-
dalgo é, portanto, recebido com festas e honrarias.

O cavaleiro ceia com Duque, Duquesa e um sacerdote, que exorta


Quixote a deixar de loucuras e voltar para casa.

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CAPÍTULO XXXII

Quixote responde ao padre, louvando a cavalaria errante e suas pró-


prias aventuras. O Duque promete a Sancho o governo de uma ilha.
O padre, não suportando o que via, vai embora, prometendo voltar
apenas quando Sancho e Quixote partirem.

CAPÍTULO XXXIII

A Duquesa pergunta a Sancho como ele conseguiu enganar Quixote e


fazê-lo acreditar que seu criado havia realmente encontrado Dulcineia
na primeira parte do livro. Sancho explica a ela a maneira como pro-
cedeu para fingir que uma camponesa qualquer era a musa inspiradora
de Quixote.

Duque e Duquesa planejam pregar uma peça em cavaleiro e amo.

CAPÍTULO XXXIV

O casal leva Quixote e Sancho à caça de javalis. O criado assusta-se


com um dos animais.

A tarde tranquila é interrompida por sons de guerra. Um arauto, a


bordo de um carro negro e apresentando-se como o diabo, diz a Qui-
xote que Montesinhos deseja lhe revelar como desfazer o encanto que
encobre Dulcineia.

CAPÍTULO XXXV

Chega outra carruagem, esta carregando Merlim. É recitado um poe-


ma que afirma que Dulcineia só será libertada do encanto caso Sancho

50
açoite-se com 300 chibatadas. O criado a princípio não aceita a es-
drúxula proposta. Os duques, porém, se comprazem com o andamen-
to da peça que pretendem pregar em seus convidados.

CAPÍTULO XXXVI

Sancho mostra à Duquesa uma carta que escreveu para sua esposa. A
Duquesa a lê e repreende o escudeiro por ganancioso.

Após o jantar, adentra no jardim uma comitiva de gentes vestidas de


luto. Quem fala ao Duque é Trifaldim da Barba Branca, escudeiro da
condessa Trifaldi, também conhecida por D. Dolorida. O escudeiro
pergunta ao Duque se Quixote está no castelo, pois a condessa deseja
falar com o cavaleiro.

CAPÍTULO XXXVII

Sancho e Dona Rodriguez discutem sobre damas de companhia. Para


Sancho, elas só causam problemas. D. Rodriguez, ela própria uma
dama de companhia, as tem em alta conta.

CAPÍTULO XXXVIII

A condessa Trifaldi conta sua história. Ela afirma ter sido a responsável
por permitir que uma jovem princesa fosse seduzida por um plebeu. A
história é inventada e todos, exceto Quixote e Sancho, riem à socapa.

CAPÍTULO XXXIX

A condessa prossegue sua história. Chamava-se Antonomásia a prin-


cesa e D. Cravelho o plebeu. Magúncia, a rainha, morreu de vergonha

51
por ver sua filha casada com um homem sem nobreza. Malambruno,
primo-irmão da rainha e feiticeiro, compareceu ao funeral e transfor-
mou a princesa em um macaco de bronze e o plebeu em um crocodilo
de metal, sentenciando que não voltariam às suas formas humanas
até que o engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha o encontrasse
para um combate. O feiticeiro também condenou todas as mulheres lá
presentes, as mesmas que ora estavam no palácio, a viver com barba no
rosto. As damas à volta de Quixote levantam os véus nesse momento e
revelam seus rostos de barbas compridas.

CAPÍTULO XL

D.Dolorida conta a cavaleiro e amo que há um cavalo de madeira com


poderes mágicos que os levará a Malambruno. Sancho não pretende
sair em viagem assentado nas duras ancas de madeira do dito cavalo,
além de não estar disposto em ajudar as damas de companhia que
tanto despreza. O escudeiro por fim acede aos argumentos de D. Do-
lorida, que lhe conta sobre a vida triste e solitária que aflige todas as
damas de companhia.

CAPÍTULO XLI

Cravilenho, o cavalo de madeira, é trazido ao jardim. Quixote e San-


cho montam o “animal” e são vendados. Os duques e demais presentes
utilizam vários truques para fingir que os dois voaram pelos céus e
atravessaram milhas e milhas.

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Fogos de artifício são amarrados ao “rabo” do cavalo. Ao explodirem,
amo e escudeiro caem e todos ao seu redor se jogam ao chão como se
tivessem desmaiado.

Sancho conta a todos que pôde ver por baixo da venda e se assegurar
que de fato estava voando.

Em conversa à parte, Quixote diz a Sancho que, para acreditar no que


o amo afirma ter visto, ele deveria também dar fé ao que o cavaleiro
afirmava ter vivenciado na Cova de Montesinhos.

CAPÍTULO XLII

Satisfeitos com o resultado da brincadeira, Duque e Duquesa falam a


Sancho que seu governo iniciará no dia seguinte. Quixote, então, dá
conselhos a seu escudeiro sobre como se manter humilde e governar
de modo magnânimo.

CAPÍTULO XLIII

O cavaleiro dá mais conselhos ao futuro governador. Desta vez, foca


em etiqueta e maneiras corteses. Quixote aconselha Sancho a diminuir
o uso de provérbios; Sancho entremeia com quatro provérbios seu dis-
curso de resposta.

CAPÍTULO XLIV

Sozinho após a partida de Sancho, Quixote recusa a companhia da Du-


quesa para manter-se fiel à Dulcineia. Em seu quarto, o cavaleiro ouve

53
pela janela uma jovem chamada Altisidora cantar uma canção de amor.
Mesmo tocado pela homenagem, Quixote segue fiel à sua amada.

CAPÍTULO XLV

Sancho é recebido em uma das cidades do Duque, que dizem chamar-


-se Baratária. O novo governador é saudado pelos súditos e ouve suas
reclamações. O governo de Sancho é supreendentemente bom e justo,
coisa que impressiona a todos.

CAPÍTULO XLVI

Quixote encontra Altisidora desmaiada e pede que enviem ao seu


quarto um alaúde. O cavaleiro canta músicas que exortam a donzela à
castidade e louvam Dulcineia.

Ao final da sua apresentação, uma manada de gatos com sinos presos


à cauda invade o quarto. Presumindo tratar-se de mais uma artimanha
de feiticeiros, o cavaleiro grita por socorro. Duque e Duquesa vêm em
seu auxílio. Eles haviam armado a brincadeira, mas sentem-se mal por
ver o cavaleiro com o rosto machucado por um dos animais.

CAPÍTULO XLVII

Sancho senta-se à mesa de seu novo palácio para tomar uma refeição,
mas o médico residente o impede de comer.

O governador recebe uma carta do Duque, que o alerta para o iminen-


te ataque de seus inimigos à Baratária. Assim que lê a missiva, Sancho
expulsa o médico.

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Um vigarista chega ao palácio e pede dinheiro ao governador. Sancho
entrevê a enganação e também o expulsa.

CAPÍTULO XLVIII

Dona Rodriguez, a velha aia da Duquesa, visita o quarto de Quixote


no meio da noite. A dama de companhia conta ao cavaleiro do seu
falecido marido e de sua filha, que foi seduzida e logo abandonada por
um fazendeiro seu vizinho.

O Duque toma dinheiro emprestado do fazendeiro, portanto nada


fará pela desforra da aia. Ela pede a proteção do cavaleiro, a fim de
obrigar o sedutor a casar-se com sua filha.

A porta do quarto se abre e as velas se apagam. Dona Rodriguez é su-


focada por uma figura incógnita, que a chicoteia com violência e dá
beliscões em Quixote.

Dona Rodriguez sai do quarto após longos minutos, e Quixote tenta


entender o que se passou.

CAPÍTULO XLIX

Sancho conta a seus subalternos seus planos de preservar o cristianis-


mo, recompensar os que agem com virtude e proteger os camponeses.
Mordomo, médico, administradores e escribas se impressionam com
seu discurso e com suas intenções.

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Acompanhado de seus auxiliares, o governador ronda a cidade. Pelo
caminho encontra tanto atores mancomunados com o Duque quanto
verdadeiros cidadãos da cidade.

CAPÍTULO L

O narrador nos informa que Dona Rodriguez foi agredida por Alti-
sidora e Duquesa, pois esta não gostou do rumo da conversa de aia e
cavaleiro.

O pajem da Duquesa chega à casa de Sancho e lê para Teresa e Sanchi-


cha, filha e esposa, uma carta do governador-escudeiro.

Cura e barbeiro ficam sabendo da visita do pajem e vão à casa de San-


cho inteirarem-se do caso. Eles percebem que o pajem tem algo de
dissimulado em suas maneiras, mas não compreendem por que nem
pra quê.

CAPÍTULO LI

Sancho recebe, via correspondência, mais conselhos de Quixote. O


cavaleiro também menciona seu desejo de abandonar o castelo dos
duques.

Sancho legisla com acertou e justiça sobre diversas coisas, numa cons-
tituição chamada Ordenações do grande governador Sancho Pança.

CAPÍTULO LII

Dom Quixote está ansioso para largar o palácio e voltar a viver as aven-
turas da cavalaria errante.

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Antes que pudesse partir, Dona Rodriguez o interpela, implorando que
o cavaleiro obrigue o fazendeiro a casar-se com sua filha. Quixote aceita.

O pajem retorna ao palácio trazendo uma carta de Teresa à Duquesa.


A esposa de Sancho deseja visitar a corte.

CAPÍTULO LIII

Sancho é acordado em meio à noite. O governador é tirado de sua


cama, posto entre dois escudos e obrigado a empunhar uma lança.
Arma-se uma batalha falsa, durante a qual o escudeiro mantém-se no
chão, buscando evitar pancadas. Todos riem do governador.

Seus assistentes lhe informam, por fim, que o inimigo foi vencido.
Sancho sai, toma seu burro e volta ao palácio dos duques. O escudeiro
vai decepcionado com sua experiência como governante.

CAPÍTULO LIV

Enquanto Quixote se prepara para o duelo com o fazendeiro, os du-


ques preparam outro dos seus lacaios para ir no lugar do cavaleiro da
Triste Figura.

Durante seu caminho de volta ao palácio, Sancho encontra um velho


amigo pela estrada. Ricote, o mouro, era vizinho de Sancho antes que
o rei tivesse expulsado os mouros da Espanha. Disfarçado de alemão, o
mouro deseja voltar à sua família na Espanha. O velho amigo pede que
Sancho o auxilie a encontrar um tesouro que havia enterrado, e oferece
grande recompensa pela ajuda. O escudeiro, porém, nega a proposta,
pois deseja voltar à companhia de Quixote.

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CAPÍTULO LV

Sancho e Ruço caem em um buraco da estrada. O escudeiro encontra


um túnel e segue nele até encontrar luz. Acima do solo, Quixote ouve
o chamado de socorro de Sancho e o resgata.

De volta ao palácio, Sancho explica à Duque e ao Duquesa o porquê


da brevidade de seu governo. Os duques prometem ao escudeiro um
cargo menos árduo.

CAPÍTULO LVI

Quixote e Tosilos, o lacaio que interpreta o papel do fazendeiro abusa-


dor, preparam-se para duelar.

Antes de batalhar, Tosilos vê a menina desonrada, apaixona-se por ela


e desiste do duelo. Quixote o ataca da mesma forma.

Tosilos tira o capacete e Quixote percebe tratar-se do lacaio, não do


fazendeiro. O cavaleiro novamente acredita ser vítima das artimanhas
de feiticeiros.

A filha de Dona Rodriguez afirma estar feliz por ter noivado com o
lacaio Tosilos.

CAPÍTULO LVII

Amo e escudeiro se preparam para deixar o castelo. Antes de parti-


rem, escutam Altisidora entoar uma canção apaixonada que reclama
de Quixote, que lhe partiu o coração e lhe roubou toucados e ligas.

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Sancho devolve as ligas e parte do castelo junto a seu senhor.

CAPÍTULO LVIII

Quixote e Sancho se emaranham em redes destinadas à captura de


pássaros. Duas jovens surgem da mata se desculpando pelo acidente
que provocaram.

As moças estão na companhia de um grupo de nobres em férias na


região, que logo aparecem para averiguar a origem da confusão.

Quixote, ansioso por aventuras, desafia qualquer um que ouse não


confessar que, à parte Dulcineia, as duas jovens são as mais belas mu-
lheres do mundo. Os nobres, leitores das aventuras do fidalgo, rejei-
tam o desafio, pois não sabem se Quixote é louco ou não.

Ainda em busca de demonstrar sua bravura, Quixote repete seu desa-


fio, desta vez para vaqueiros que por ali passavam.

O cavaleiro acaba pisoteado pelo rebanho de touros e, vexado, parte


com seu escudeiro sem despedir-se de ninguém.

CAPÍTULO LIX

Dom Quixote e Sancho param em uma pousada. Pela primeira vez


Quixote não confunde o estabelecimento com um castelo.

A dupla janta com dois homens que estão lendo o Quixote apócrifo.
O cavaleiro folheia algumas páginas e julga a história completamente
incorreta.

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Como a narrativa apócrifa o mostrasse indo à Saragoça, Quixote desis-
te de ir a essa cidade apenas para provar a falsidade daquele livro.

CAPÍTULO LX

A viagem agora é rumo a Barcelona. No meio do caminho, amo e


escudeiro são surpreendidos por um grupo de bandidos. Roque Gui-
nart, chefe do bando, reconhece a dupla pelo nome e ordena a seus
homens que devolvam os pertences das afamadas vítimas.

Roque trata a amo e escudeiro com gentileza, chegando a enviar a um


amigo de Barcelona uma carta recomendando uma boa recepção a
Quixote e Sancho.

CAPÍTULO LXI

Roque e alguns de seus homens escoltam a dupla até Barcelona. Amo e


escudeiro são recepcionados por D. Antônio Moreno, o amigo a quem
Roque havia escrito, que os hospeda em sua casa.

CAPÍTULO LXII

Durante o jantar em casa de D. Antônio Moreno, Quixote desmente


as histórias do falso Quixote.

No dia seguinte, o anfitrião leva seu hóspede a um passeio pela cidade.


Sem avisar a Quixote, Moreno cola uma placa em suas costas que diz
“Este é D. Quixote”. O cavaleiro se compraz ao ouvir todos dizendo
seu nome em voz alta pelas ruas onde passa.

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Moreno e Quixote passam por uma gráfica, onde o cavaleiro conversa
com um funcionário sobre o mercado editorial. Quixote descobre que
ali estava sendo revisado o texto da segunda parte do Engenhoso Fidal-
go Dom Quixote de la Mancha.

CAPÍTULO LXIII

Quixote e Sancho embarcam em um dos navios reais que persegue


piratas. Dois homens espanhóis são baleados, o que leva o capitão a
perseguir e capturar a tripulação muçulmana.

O capitão do navio pirata é, em verdade, uma mulher moura que dese-


ja voltar à Espanha. Seu pai havia enterrado um tesouro em território
espanhol, e ela deseja encontrá-lo para comprar dos mouros a liberda-
de de D. Gaspar Gregório, o homem a quem ama.

A mulher chama-se Ana Félix e é filha de Ricote, o mouro, o vizinho


que Sancho encontrou na estrada. Por um acaso do destino, Ricote
também está na embarcação. Pai e filha se abraçam e Ana é perdoada
pelo capitão. Os dois seguem para a casa de D. Antônio. O mouro
que acompanhava Ana também é perdoado, mas volta à Argélia para
resgatar D. Gaspar.

CAPÍTULO LXIV

Quixote topa com o cavaleiro da Lua Branca, que o desafia a um duelo


pela beleza de sua senhora, que superaria a de Dulcineia.

Se Quixote vencer, pode escolher qual punição deseja ao vencido. Se


perder, terá de abandonar por um ano a cavalaria andante.

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A batalha é breve. Quixote é derrotado e retorna à casa de D. Antônio.

CAPÍTULO LXV

D. Antônio procura o cavaleiro da Lua Branca. Este revela ser Sansão


Carrasco e explica estar tentando curar Quixote de sua loucura.

Após ser derrotado, Quixote passa seis dias acamado. Ao tomar o ca-
minho de casa, passa a vestir roupas normais, levando seus trajes de
cavaleiro no lombo de Ruço.

CAPÍTULO LXVI

Quixote e Sancho viajam por cinco dias, então decidem parar em uma
estalagem. Sancho atua como juiz em uma altercação entre dois ho-
mens, impressionando a todos por sua boa conduta.

No dia seguinte, encontram Tosilos. O lacaio conta ter recebido cem


chibatadas pela desobediência às ordens da duquesa. Dona Rodriguez
voltou para Castela, seu lar, e sua filha foi enviada a um convento.

CAPÍTULO LXVII

Amo e escudeiro chegam ao local onde foram pisoteados por touros.


Quixote decide que ele, Sancho, Sansão Carrasco, cura e barbeiro de-
vem viver como pastores durante seu ano afastado da cavalaria andante.

CAPÍTULO LXVIII

Quixote acorda Sancho durante a madrugada e pede que o amo chi-


coteie-se para libertar Dulcineia do encantamento. A conversa é in-

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terrompida por um bando de porcos que atropelam amo, escudeiro,
cavalo e burro.

No dia seguinte, homens armados levam a dupla de volta ao palácio


dos duques.

CAPÍTULO LXIX

No castelo, Altisidora supostamente está entre a vida e a morte. Para


salvá-la, é necessário que Sancho receba inúmeras bofetadas, beliscões
e alfinetadas.

O escudeiro primeiramente se opõe, mas logo acaba aquiescendo, re-


cebe o castigo e Altisidora volta à vida.

Quixote novamente pede a Sancho que se autoflagele para desencantar


Dulcineia. O escudeiro se nega. Altisidora elogia Sancho e amaldiçoa
o cavaleiro.

A dupla é conduzida aos seus antigos quartos.

CAPÍTULO LXX

Sansão visita o palácio, buscando novamente salvar Quixote de sua lou-


cura. Duque e Duquesa preparam uma última peça contra Quixote.

Altisidora é enviada ao quarto de Quixote e tenta fazê-lo sentir-se cul-


pado por renegá-la. O cavaleiro não cede à sedução e exorta a donzela
a preocupar-se com sua castidade. Altisidora irrita-se e humilha cava-
leiro e escudeiro.

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CAPÍTULO LXXI

Quixote promete pagar vultuosa quantia a Sancho caso ele complete


as chicotadas necessárias para salvar Dulcineia. O escudeiro aceita a
proposta, porém engana seu amo, aplicando golpes não em seu lombo,
mas em uma árvore.

Os dois chegam a uma pousada e Quixote a reconhece como tal. San-


cho promete completar logo as chicotadas que ainda lhe restam. Se-
guem o caminho para casa.

CAPÍTULO LXXII

A dupla encontra pelo caminho D. Álvaro Tarfe. Na narrativa do falso


Quixote, Álvaro era considerado um grande amigo do engenhoso fi-
daldo e de seu fiel escudeiro.

Quixote obriga Álvaro a assinar uma declaração afirmando que ele e


Sancho não são as pessoas retratados naquele livro.

Sancho engana Quixote mais uma vez, completando os açoites em


árvores, não em sua pele. Os dois seguem para casa.

CAPÍTULO LXXIII

Sansão, barbeiro, Teresa, Sansicha, sobrinha e governanta recebem ca-


valeiro e escudeiro. Sancho conta suas aventuras para sua família, ao
passo que Quixote exorta Sansão e barbeiro a lançarem-se em uma
vida pastoril.

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CAPÍTULO LXXIV

Uma febre acomete D. Quixote, deixando-o de cama por seis dias.


Quando melhora repentinamente, afirma que seu nome é Alonso
Quijano, não Quixote. Seus parentes e amigos creem que uma nova
espécie de loucura apoderou-se de sua alma, mas Alonso repete com
veemência que está curado e que precisa recompor-se pois a hora da
sua morte está próxima.

Sancho e um escriba são chamados. Alonso dita seu testamento, di-


vidindo seus bens entre sua sobrinha e Sancho. Quanto à sobrinha,
Alonso deixa expresso que ela está proibida de se casar com homem
que conheça romances de cavalaria. O cavaleiro morre dali três dias.

O cura, a fim de impedir que se escrevam mais histórias falsas sobre


Quixote, ordena ao escriba que registre a morte de Alonso.

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