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INSTITUTO FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS CAMPO GRANDE


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
TECNOLÓGICA

ALINE KAREN BALDO


CAROLINE DA SILVA CAMPOS BRITO
FLÁVIA REGINA GREGO
GISELA SILVA SUPPO
ISABELA MARINHO MENEZES
MIRÉLLY DE OLIVEIRA COSTA

FICHAMENTO: A POLISSEMIA DA CATEGORIA TRABALHO E A BATALHA DAS


IDEIAS NAS SOCIEDADES DE CLASSE

Campo Grande
2021
ALINE KAREN BALDO
CAROLINE DA SILVA CAMPOS BRITO
FLÁVIA REGINA GREGO
GISELA SILVA SUPPO
ISABELA MARINHO MENEZES
MIRÉLLY DE OLIVEIRA COSTA

FICHAMENTO: A POLISSEMIA DA CATEGORIA TRABALHO E A BATALHA DAS


IDEIAS NAS SOCIEDADES DE CLASSE

Fichamento do artigo: – FRIGOTTO, Gaudêncio. A


polissemia da categoria trabalho e a batalha das
ideias nas sociedades de classe. Revista Brasileira
de Educação. v. 14, n. 40, p. 168-194, jan./abr.
2009.
Atividade Prática da Disciplina Bases Conceituais
para a EPT

Professores: Anderson Martins Corrêa e André Luiz


da Motta Silva

Campo Grande
2021
APRESENTAÇÃO DO ARTIGO

O fichamento foi realizado a partir do artigo “A polissemia da categoria trabalho


e a batalha das ideias nas sociedades de classe”, escrito por FRIGOTTO,
Gaudêncio. E publicado na Revista Brasileira de Educação. v. 14, n. 40, p. 168-194,
jan./abr. 2009.
O texto foi escrito a partir de apresentação do autor em 2008 durante 31ª
Reunião da ANPEd e publicado em 2009. A discussão é sobre a relação trabalho,
classe social e educação a partir de uma perspectiva histórica da sociedade e das
lutas de classe, passando pela compreensão dialética de que consciência e
conhecimento são produzidos a partir de uma realidade histórica e ao mesmo tempo
que fazem parte dessa realidade, contribuem com sua construção, considerando
toda multiplicidade de fatores que isto envolve.

Introdução
O artigo trata de duas temáticas bem definidas: A polissemia da categoria
trabalho e A crítica a uma obra do autor Sergio Lessa.
Na primeira temática que gira em torno da polissemia da categoria trabalho,
Frigotto busca estimular um debate sobre a relação trabalho, classe social e
educação. Para ele, é um grande desafio desmistificar a concepção de trabalho
como venda da mão de obra em troca de uma recompensa pecuniária na sociedade
capitalista em que vivemos.
Então, pensando nesse desafio, o autor apresenta diversas definições de
autores sobre os múltiplos significados da palavra trabalho, buscando explicações no
legado de Marx e dialoga com vários intelectuais pesquisadores que seguem a linha
de pensamento marxista, como: Edward Thompson, Raymond Willians, Eric
Hobsbawn, Antonio Gramsci e alguns brasileiros como: Francisco de Oliveira e
Florestan Fernandes, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho;
Todos esses autores compartilham dos mesmos conceitos sobre temas
discutidos e defendidos pelos ideais marxistas como trabalho, classe social, Estado,
cultura, democracia, luta de classe, entre outros.
Já na segunda temática e talvez a mais importante para o desenrolar do artigo
de Frigotto, é uma crítica que o mesmo faz a uma obra de Sergio Lessa, no ano de
2007, intitulada como Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo.
Nessa obra, Lessa debate sobre a centralidade do trabalho como categoria
explicativa da vida em sociedade e acaba criticando rigorosamente devido a natureza
polêmica de suas proposições, pensadores famosos como Dermeval Saviani e o
próprio Frigotto. Para Lessa, esses autores escreveram utopias quando disseram
que um sistema capitalista proeminente poderia evoluir num desenvolvimento
científico e tecnológico que os levariam a uma emancipação humana.
Nesse momento histórico e crucial que Lessa publicou esse livro, a esquerda
passava por um processo de reconsideração de seus valores e concepções de
mundo, buscando inclusive contemplar grupos e reivindicações antes negligenciados.
Frigotto, então aproveita seu artigo para rebater as críticas de Lessa e reforçar
que defende o modelo de educação omnilateral e politécnica, assim como acredita
no trabalho como princípio educativo, mesmo diante de uma sociedade capitalista.

As mediações histórico-sociais da polissemia da categoria trabalho e a


batalha das ideias
O texto ressalta a complexidade envolvida na tarefa de debater os sentidos
envolvidos na definição da categoria trabalho e defende que essa análise deve estar
implicada na práxis observada no contexto histórico da sociedade brasileira e na vida
real dos seus trabalhadores, atentando-se para fatores como superexploração,
precariedade das condições e relações de trabalho, alienação, trabalho produtivo e
improdutivo. (Pág. 171)
O autor afirma que o debate em torno dos sentidos do trabalho deve-se
centrar na “crítica das relações sociais e dos processos formativos e educativos que
produzem o sistema do capital e todas suas formas de alienação”, bem como aponta
que o caminho que pode contribuir para a superação do sistema do capital passa
justamente pela apropriação e entendimento pelo trabalhador da consciência de
classe, da cultura, arte, política, da ciência, tecnologia e dos processos educativos na
sociedade e na escola. Deste modo, a compreensão da polissemia da categoria
trabalho deve ser histórico-social, ontológica e ético-política. (Pág. 171, 172 e 173)

Indicações sobre a polissemia da categoria trabalho, emprego e classe


social
O texto interliga, em sentidos e significados, o trabalho, emprego e classe
social, baseado no contexto histórico-sociais, entendendo suas relações capitalistas
e educação, na forma de luta de classes. (Pág. 178)
Ao tratar da relação ao trabalho, encontram-se vários sentidos e significados,
como do Dicionário do pensamento marxista de Bottomore (1988) que especifica
como trabalho abstrato, trabalho doméstico, divisão de trabalho, trabalho e força de
trabalho e a natureza do trabalho. e partir da definição, busca uma dimensão mais
complexa para ressaltar a polissemia do trabalho social e historicamente produzidas.
(Pág. 173)
No sentido do uso do emprego, temos que o trabalho reduzido a emprego
como quantidade de tempo pago por uma determinada atividade.
Traz na divisão ontocriativa, na comparação com o animal e o homem,
ressaltando que o animal é regulado e programado por sua natureza e o trabalho
para o homem faz parte da sua própria existência. (Pág. 174)
O autor ressalta os autores brasileiros como Leandro Konder, Carlos Nelson
Coutinho, José Paulo Neto e Ricardo Antunes com a finalidade de compartilhar as
mesmas ideias sobre trabalho.
Destacou a ideologia cultural que trata como “não trabalho”, as atividades de
cuidar de casa e dos filhos, pois não há rotina de deslocamento. E volta a reforçar o
trabalho reduzido a emprego como a quantidade de tempo vendida ou trocada por
alguma forma de pagamento. (Pág. 176)
Denota como tripartite de classe, indicando as posições sociais de alta, média
e baixa ou como agrupamentos econômicos. No qual teve início no período da
Revolução Industrial, enfatizado por Williams (1770 e 1840). (Pág. 177)
As indicações focam no “aprender e ensinar uns aos outros”, na vertente de
fortalecer as lutas e não reformar o capitalismo, mas buscar a sua superação. (Pág.
178)

A compreensão imanente e a historicidade dos fundamentos do


pensamento de Marx
Os conceitos, termos ou categorias, ao serem discutidos, permitem variações
advindas do contexto histórico-cultural que determinam valores, tradições e
concepções ideológicas da sociedade sendo, portanto, as análises feitas, resultantes
dessas múltiplas determinações.
A análise imanente feita a partir de parte da obra de Marx contribui para
afirmar os fundamentos marxistas bem como explicitar questões sobre a ontologia do
ser social e concepção ontológica do trabalho. Neste sentido, Frigotto (1989) analisa
a dialética materialista histórica como um método e uma práxis para caracterizar os
aspectos inseparáveis da análise de Marx e Engels.
Dessa compreensão imanente do trabalho de Marx, surgem autores que
criticam algumas análises feitas no campo social e educacional. Tais críticas, não
consideram o esforço despendido para entender aspectos como: trabalho, classes
sociais, ciência e tecnologia e processos educativos num viés mais complexo e
contraditório da pesquisa histórica.
O autor critica perspectivas trazidas por Lessa, Tumolo e Kosik por utilizarem a
ortodoxia (postura rígida) como metodologia da análise imanente dos textos de Marx
para evitar o ecletismo e dessa forma trabalhar mais com antinomias do que com o
caráter contraditório nas reflexões feitas como também Paulo Netto que traz o
trabalho como modelo das objetivações do ser social, trazendo a divisão do agir
humano entre trabalho, esfera da necessidade e esfera da liberdade. Destaca que “é
o processo histórico real que vai definir como uma mesma ação humana pode ser
considerada trabalho ou não trabalho” (FRIGOTTO, 2009, p.180).
A reflexão trazida por Lefbrve (1981) sobre pensamento em movimento é
reforçada em Marini (2000) ao falar de trabalho produtivo e da importância de não
perder de vista o processo global de reprodução capitalista restringindo a classe
operária aos trabalhadores assalariados que produzem riqueza material.
Frigotto apresenta a constituição das classes, utilizando citações de Francisco
de Oliveira e Eric Hobsbawn, onde o primeiro autor esclarece que [...] as classes não
constituem em si e nem mesmo para si, mas para as outras. Enquanto que
Hobsbawn defende que as classes passam por diversos processos de mudanças ao
longo do tempo, sendo que um dos fatores marcantes para essas mudanças,
segundo Frigotto, é que a ciência e a tecnologia contribuem a favor do capital, mas
retornam contra a classe trabalhadora.
Ao longo da história da sociedade, em todo o mundo, o trabalho enfrenta
profundas mudanças no contexto social e político, tais como a utilização das
máquinas substituindo a força produtiva do homem, conquistas como a carteira
assinada e contratos de trabalho - o que torna-se um desafio muito maior no sentido
de despertar os interesses unificando a classe trabalhadora para lutar contra o
processo formativo e educativos do capital do que tentar concluir ou classificar
semanticamente as categorias.
Frigotto defende que a crítica de Lessa à Antunes, Iamamoto e Saviani dão
adeus ao trabalho no Brasil, tem equívocos a serem considerados, tais como a
relação que é feita desses autores às interpretações de S. Malett e André Gorz e M.
Sabel a J. Lojkine e Adam Shaff. O que ocorre é justamente o contrário, pois os
autores criticados se dedicaram a assimilar o processo histórico do trabalho e das
classes sociais, buscando perceber quem seria o sujeito revolucionário. Lessa
continua com suas críticas, incluindo texto do próprio Frigotto e Saviani, novamente,
sustentando que esses autores estão se iludindo ao assumirem que dentro do
capitalismo seria possível exercer a educação de forma politécnica, omnilateral e
unitária. O autor segue relatando diversas críticas feitas, de forma sutil, a vários
autores e seus posicionamentos e também as contradições existentes nessa “batalha
de ideias”.
Considerando as críticas feitas aos autores, Frigotto alega não haver
possibilidade de uma concepção linear da ciência, tecnologia e forças produtivas no
âmbito capitalista passar mecanicamente para o comunismo. Tampouco, que numa
sociedade sem classes, socialista, portanto, dentro do contexto capitalista, se
desenvolveria uma educação unitária, integral, omnilateral, politécnica ou
tecnológica. Na visão de Frigotto, Saviani estava apenas assimilando as
contradições. Pontuando sobre neoliberalismo, relações sociais capitalistas, luta e
disputa essenciais para a sociedade, o autor contextualiza a importância de lutar pela
educação politécnica.
O autor menciona a dominância das análises antinômicas, em relação a
contradição nos dias atuais, destaca que esta segunda gera insegurança por lidar
com a historicidade (Pág.186).
Frigotto(2009) nos apresenta o contexto histórico do “apagão educacional”,
cunhado pela fração brasileira da burguesia internacional, que se mostra como um
exemplo de contradição, tendo em vista que este foi para reclamar a falta de
trabalhadores qualificados sendo ela a maior responsável por essa situação.
(Pág.187)
Ao apresentar a análise/crítica de Tumolo (2003) a Saviani afirmando que o
trabalho não pode ser considerado como princípio educativo, ressalta que essa
articulação de Marx com o que apresenta sobre trabalho como princípio educativo
expressa, além de um raciocínio silogístico, equívocos de conteúdo, método e de
forma, pois apenas pinçou uma citação de uma revista. Também tece a mesma
crítica aos assuntos tratados sobre o MST. (Pág.188)
Ainda sobre a análise de Tumolo (2003) o autor destaca que ela apresenta
silogismo quando afirma em Marx que “sob o capital o trabalho avilta, degrada, aliena
cada vez mais o trabalhador” (pág.189), por isso, não pode ser tomado como
“princípio educativo” e destaca que esta premissa tem que ser discutida, pois o
trabalho como princípio educativo em Marx, vai além do método pedagógico e
escolar, trata de “um processo de socialização e de internalização de caráter e
personalidade solidários”, fundamental no processo de superação do sistema do
capital. (Pág. 189)
Um exemplo de contradição histórica apresentada pelo autor é a positividade e
negatividade no processo burguês de pôr fim às relações feudais: “[...] a positividade,
pela destruição de velhas relações feudais e trabalho escravo; a negatividade da
burguesia ao não abolir as classes e constituir-se na classe do frio interesse [...]”.
(Pág. 190)

A título de conclusão
O texto visa contribuir com as discussões em torno da categoria trabalho e
evidencia que não há consenso entre os estudiosos, referenciados no texto, sobre a
viabilidade de uma educação escolar omnilateral ou politécnica dentro do sistema
capitalista. Ora (Lessa e Tumolo), por meio de análises imanentes e heurísticas,
defende-se que a educação politécnica, que tenha o trabalho como princípio
educativo, só é possível numa sociedade que tenha superado a divisão de classes e
o sistema capitalista. Ora (Antunes, Iamamoto, Saviani e Fernandes) desloca-se a
discussão para análises históricas, que mesmo reconhecendo e validando as
análises mais ortodoxas com os escritos originais de Marx e Engels, compreendem
que a ênfase na contradição e no sentido da materialidade do processo histórico
indica o caminho para uma educação com ênfase na hegemonia cultural e numa
formação que permita compreender o mundo e transformá-lo na direção da
superação do capitalismo. (Pág. 190-192)
No entanto, sinaliza a necessidade de se trilhar um caminho que reconheça a
validade do trabalho intelectual fundamental com base nos escritos originais de Marx,
mas que busque a transformação da realidade histórica do trabalho no Brasil, tendo
como instrumento a educação.
REFERÊNCIA
FRIGOTTO, Gaudêncio. A polissemia da categoria trabalho e a batalha das ideias
nas sociedades de classe. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 40, p. 168-194,
abr. 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1413-24782009000100014&lng=pt&nrm=iso>. acessos em
02 maio 2021. https://doi.org/10.1590/S1413-24782009000100014.

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