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Monografia Antonia Salvador
Monografia Antonia Salvador
LUANDA, 2020
UNIVERSIDADE DE BELAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
FOLHA DE ROSTO
LUANDA, 2021 i
FICHA CATALOGRÁFICA
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.
Data____/_______/_________
Nº de páginas: 61
ii
ANTÓNIA JOSÉ SALVADOR
FOLHA DE APROVAÇÃO
FACTORES GEOPOLÍTICO: O MAR COMO FACTOR DE
AFIRMAÇÃO DE ANGOLA NO CONTINENTE AFRICANO
Aprovado,________/_________/__________
BANCA EXAMINADORA
Presidente de Júri
___________________________________________
1º Vogal
___________________________________________
2º Vogal
___________________________________________
Secretário
___________________________________________
iii
DEDICATÓRIA
“A minha família...”
iv
AGRADECIMENTOS
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
The Geopolitical Factors: the Sea as an Affirmation Factor for Angola on the African
Continent whose general objective is to understand the sea as a factor for the affirmation of
Angola on the African continent. In this way we resort to a qualitative research, for this
reason we understand, that the results achieved demonstrate that Angola as an emerging
power in the contiguous maritime region and in the African continent, making the aspects of
defense, security and affirmation as a State are at the center of development assumptions.
Therefore, we conclude that this work seeks to carry out an interpretative analysis as to the
added value that the Sea offers, not only within the scope of the national economy, but above
all of a political-strategic nature, as the Country will have to develop and ensure a component
of Security and Defense oriented to the sea, favoring the fulfillment of the National Interest
objectives and taking advantage of the opportunities offered by the wide adjacent maritime
area of immediate interest. In this perspective, we recommend in this study, the identification
of the opportunities that the Sea transfers to the national territory, considering the need to face
possible threats, not only in terms of Security and Defense, but also in socioeconomic terms,
in a perspective of innovation and diversification of the economy and maritime resources, also
bearing in mind the scientific and technological knowledge of the Sea, in order to interpret
and make the most of its capabilities and potential.
vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
RC - República do Congo
ix
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ................................................................................................................. i
DEDICATÓRIA ...................................................................................................................... iv
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. v
RESUMO.................................................................................................................................. vi
I. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
2.2.1.2. Vulnerabilidades.......................................................................................... 23
2.2.2.2. Vulnerabilidades.......................................................................................... 24
2.2.4.2. Vulnerabilidades.......................................................................................... 26
3.1.3. Hidrografia.......................................................................................................... 32
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................... 41
VII. RECOMENDAÇÕES..................................................................................................... 57
VIII. BIBLIOGRAFIA........................................................................................................... 58
ANEXOS .................................................................................................................................... I
xii
I. INTRODUÇÃO
“Quem dominar o mar domina o comércio do mundo; quem dominar o comércio do mundo
domina as riquezas do mundo; quem dominar as riquezas do mundo, domina o mundo”
(ALMEIDA, 1990, p. 22).
“A protecção das nossas águas territoriais onde até agora têm vindo piratear muitos
Navios Estrangeiros, que fazem a pesca como os camaradas sabem, é um facto que
nós devemos neutralizar, devemos evitar no futuro, devemos neutralizar aqueles que
querem de qualquer maneira roubar o que existe no nosso País, ou que pretenderão
talvez através dos mares atacar o nosso País.” António Agostinho Neto (discurso de
10 de Julho de 1976).
Hoje a nível das África austral Angola é vista com uma potência emergente pelos recursos
naturais obtidos e por uma vasta experiência como potência pacificadora de conflitos entre os
Estados a nível da África. Teceremos algumas considerações a respeito da Introdução a
geopolítica, quais as contribuição dos grandes pensadores geopolíticos para Angola, visto que
na África Austral Angola acarreta um papel muito importante e uma vasta influência para os
outros Estados, actualmente ela é conhecida como um Estado mediador e pacificador de
conflitos a nível da África austral a importância dos factores geopolíticos e sua influência para
Angola, hoje com o evoluir do tempo os Estados notaram a necessidade de limitação das suas
fronteiras tanto marítima como terrestre, neste contexto nos focaremos mais sobre as
fronteiras marítimas ou seja a Saída para o mar. A grande dificuldade de muitos Estados é
saber limitar as suas fronteiras marítimas. Segundo Ratzel (1983) ʽum Estado que não
desenvolve está fadado a morrerʼ já para La Blache ele retracta sobre as influencias que um
Estado pode exercer sobre outro. Hoje as fronteiras marítimas tornaram-se um factor de
ameaças e segurança para a sobrevivência do Estado angolano, devido as grandes ocorrências
de parcelas de mar sobre o Congo, as transições de grande porte e acima de tudo as
migrações.
1
No que retracta os factores geopolíticos podemos esmiuçar a saída para o mar, Angola possui
grandes vantagens no que concerne a sua linha periférica marítima, o seu acesso para o
oceano é de extrema importância, pelo facto de proporcionar acesso às rotas oceânicas,
fundamentais para o seu maior desenvolvimento, por não ser um Estado totalmente
mediterrânico não estará sujeito a dependência contínua de Estados Terceiros
2
colocam ameaças à segurança nestes espaços” (idem, p. 13). Angola faz parte deste último
grupo, tendo esta situação sido agravada pela menor preponderância que a Marinha de Guerra
teve para a Defesa Nacional durante o período de guerra civil, uma guerra fundamentalmente
de âmbito e natureza terrestre e aérea, e em que o esforço de guerra era fundamentalmente
desempenhado pelo Exército e para a Força Aérea.
Nesta perspectiva, a principal razão que levou à escolha do presente tema com a finalidade de
cumprir um trabalho de investigação conducente à obtenção do grau de Licenciatura, reside
na paixão em desenvolver temáticas relacionadas com o Mar e com Angola; e apoiada no
reconhecimento da centralidade que o Mar ocupa no sistema mundial. No caso de Angola
torna-se importante chamar atenção para a posição periférica que, ainda hoje e no âmbito
nacional, é atribuída ao mar, olvidando muitas vezes o valor acrescentado que a área marítima
representa actualmente na consolidação do Poder Nacional de um Estado costeiro. Acresce
que a sua escolha deveu-se à actual situação favorável da economia nacional, o que permitirá
atender às necessidades de protecção da soberania e de afirmação nos âmbitos local, regional
e continental, permitindo assim um repensar em termos da segurança e da defesa marítimas a
nível superior do Estado; e ainda do que poderá ser feito para o melhor aproveitamento das
potencialidades que o mar oferece, tendo em vista o fomento e a diversificação da economia
nacional, considerados como prioritários.
3
Querendo fazer uma análise geopolítica de Angola no continente Africano levantamos a
seguinte questão:
1.4. Objectivos
4
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.1. Conceito
O termo Geopolítica1 nasceu no início do Século XX. Embora não haja acordo em relação á
data em que foi estabelecido, existe concordância de que o mesmo é de autoria do jurista e
cientista político sueco Rudolf Kjellén (1864-1922), inspirado pela obra de Friedrich Ratzel
denominada politische Geographie (Geografia Politica, 1903). Nessa altura, Kjellen (1908)
definiu-o como sendo “A teoria do Estado enquanto organismo geográfico, enquanto
fenómeno no espaço, isto é, enquanto pais, território, solo ou, de maneira caracteriza,
império”2
Tal é a variedade de definições para o termo, assim como as diferentes concepções em relação
ao mesmo que o cientista político Hans Weigert (1896-1967)3, afirmou que “não existe algo
como ciência geral da geopolítica, que possa ser subscrita por todas as organizações estaduais
(...) cada nação tem a geopolítica que pretende (...)”.
Assim sendo, este texto apresenta várias definições que ao longo do tempo foram
apresentadas para o conceito de Geopolítica, algumas das quais díspares. Para o cientista
Pierre Gallois (1990)4, a Geopolítica é o “estudo das relações que existem entre a condução da
política de um Estado levada ao plano internacional e o quadro geográfico em que ela se
exerça”.
1
1908
2
Rudolph KJELLÉN, o Estado em forma de vida, 1916., publicado pela primeira vez em 1908.
3
Alemão, Professor Emérito da Universidade de Georgetown, nos EUA, e autor de vários livros dos quais é mais
célebre «General sand Geographers: The Twilight of Geopolitics» Hans WEIGERT, General sand Geographs:
The Twiligth of Geopolitcs (Oxford Univeristy Press, 1942).
4
Italiano, General de Brigada da Força Aérea Francesa e geopolítico. É considerado o “ pai da bomba atómica
francesa” devido á sua acção para a sua consecução.
5
Neste quadro, para Gallois, a Geopolítica tinha somente um âmbito internacional. Porém,
como dizia Karl Haushofer (1931), “a Geopolítica preocupa-se com a mudança e o conflito, a
evolução e a resolução, o ataque e a defesa, a dinâmica dos espaços terrestres e as forças
politicas que nele lutam para sobreviver” 5 , não sendo portanto algo somente referente ao
âmbito internacional.
Por sua vez, para o sociólogo e geógrafo brasileiro Demétrio Magnoli (1986), a Geopolítica é
a «ciência que concebe o Estado como um organismo geográfico ou como um fenómeno no
espaço».6
É importante referir que a Geopolítica pode ser estudada no quadro geral da ciência teórica e
no quadro particular de ciência aplicada
Deste modo, enquanto ciência teórica, a Geopolítica constitui uma disciplina da ciência
Política, podendo entender-se como «o estudo dos processos políticos que ocorrem em
dependência do solo dos Estados»7. De outro modo, enquanto ciência aplicada, a Geopolítica
pode ser orientada para o sector determinado. Neste quadro entendem-se as teorias sobre os
meios de circulação, designadamente a Teoria do Poder Marítimo (Mahan), a Teoria do poder
Terrestre (Mackinder) e a Teoria do Poder Aéreo (Seversky). Neste mesmo quadro pode
empregar-se a Geopolítica no estudo de um Estado, um continente ou um conjunto de
Estados.
No quadro deste pensamento, Everardo Backheuser (1942) referiu que «convém que o
político não esqueça nunca a nação não vive só e isolada no mundo, tendo, ao contrário, as
contingências da sua vida e do seu desenvolvimento condicionados pelo progresso e pelas
pressões de outros povos da Terra. Para prover, pois, as necessidades do povo do seu pais, ele
precisa conhecer muito bem os outros Estados, e as respectivas organizações sociais. O estudo
de cada política nacional terá de ser feito sempre á luz da política internacional dominante.
5
MARINI, El Conocimiento Geopolitico, 1985
6
Demétrio MAGNOLI, O que é Geopolítica (S.Paulo, Brasil:Brasiliense, 1986)
7
TOSTA, Teorias Geopolíticas, 1984,28.
6
2.1.2. O âmbito da geopolítica
Neste quadro a “escola de Munique”, uma das correntes precursoras da Geopolítica, cujo
principal mentor foi o general e doutor em Geografia, História e Geologia Karl Von
Haushofer (1869-1946), definiu-a como a ciência das relações de âmbito mundial dos
processos políticos. Está baseada nos amplos conhecimentos de geografia, especialmente a
Geografia Politica (...). Ela propõe-se oferecer as armas para acção política e os princípios
para a vida política (dos Estados)8como conjuntos9.
Como se denota da acepção que a Escola de Munique atribui á Geopolítica, ela colocava-o no
campo das Ciências Politicas_ prontamente afastando-a da esfera da Geografia_ expunha a
possibilidade do seu uso criativa_ como arte_ ao referir-lhe a pretensão de proporcionara as
armas para a acção política (dos Estados) e os princípios para a vida política como conjunto».
Como antes foi referido, a Geopolítica é multidisciplinar, porque se serve de várias disciplinas
da ciência, assim:
8
.Acrescenta-se o termo porque se considera que ajuda a compreensão do pensamento.
9
.MARINI, El Conocimiento Geopolítico,1985.
7
Nas Relações Internacionais, busca a verdadeira estrutura do Sistema Internacional e o
equilíbrio de forças existente, de modo a permitir ressaltar as reais motivações dos
Estados;
Na História, tenta perceber as razões do Estado.
Em resumo, nos termos deste texto, a Geopolítica é «a ciência (natureza) que estuda as
mutuas relações, influencias e acções entre o Estado e o espaço (objecto), para obter
conhecimentos ou soluções de carácter politico (finalidade)».
10
Citado por Korinman, 1990.
11
A independência dos Estados que cada vez mais se multiplica, elimina as possibilidades de isolamento dos
fenómenos, especialmente os geopolíticos, embora não impeça o seu tratamento sectorial. Assim o espaço
geopolítico pode corresponder a um Estado, mas também á uma região deste, a um território integrado vários
Estados, ao globo terrestre, ou a algum elemento com significado geopolítico, por exemplo: acidentes
geográficos, água, submarinas, etc. (Marini.1985).
8
qual se aprecia o passado e em relação ao qual se projecta uma intenção politica no futuro,
isto é, sempre em função de um interesse politico cujo protagonista é o Estado.
Como qualquer outra ciência, a Geopolítica possui termos próprios que embora possam ser
empregues fora dela, tais surgiram e representam algo especifico, isto é, têm um significado
específico (único). Para a geopolítica tais termos são por exemplo: espaço geopolítico; espaço
vital; sentido de espaço; área pivot; talassocracia; possibilismo humano; determinismo
geográfico.
“Não existe algo como uma ciência geral da geopolítica, que possa ser subscrita por
todas as organizações estaduais. Há tantas geopolíticas; quantos os sistemas
estaduais em luta sob condições geográficas, as quais, no caso do Poder marítimo e
do poder terrestre são fundamentalmente diferentes. Há Uma “Geopolitik”, uma
“geopolitique”(...) cada nação tem a geopolítica que Pretende (...) Assim sendo,
temos de olhar para a geopolítica alemã como Produto de um povo envolvido numa
luta pelo domínio mundial” ( HANS WEIGIRT 1942 pag.22-23 )12
A afirmação de Hans Weigert tem razão de ser se considerar que, por um lado, a Geopolítica
pode ser estudada como ciência aplicada e, por outro, porque buscando fundamentos para suas
ideologias, os teóricos podem direccionar o seu tratamento como aconteceu com a Alemanha
nazista, por exemplo. De igual modo, explica a afirmação de Weigert o facto da Geopolítica,
ao apresentar-se simultaneamente como ciência e arte, pode ser aplicada de forma criativa.
Entre os teorizadores geopolíticos destaca-se naturalmente Friedrich Ratzel pelo seu papel
preponderante entre aqueles. Ele não só foi o primeiro Geopolítico moderno, mas o primeiro a
formular uma doutrina geopolítica de âmbito global. Assim, Ratzel é um dos precursores do
que hoje se designa Geopolítica. Por outro lado, Ratzel destaca-se também com «teorizador
12
Hans Werner Weigert, Generals and Geographs: The Twilight of Geopolitics (Oxford University Press,1942),
22-23.
9
do poder nacional», porque as suas teorias serviram de retaguarda ideológica ao carácter
expansionista da política nacional da Alemanha do último quartel do século XX.
Através das suas teorias, Ratzel explicou a cultura política em função do meio físico,
sistematizando o estudo das influências ambientais no poder nacional, estando na origem da
corrente determinista na Geopolítica.
Nascido em Karlsruhe, ao 30 de Agosto de 1844, viveu até 1904. Diplomado em filosofia pela
universidade de Heidelberg, no ano 1868, estudou ciências naturais, e Geografia em
Karlsruhe, Heidelberg e Montpellier. Grande estudioso, viajou pela Itália, Hungria, Estados
Unidos da América, México e Cuba. Como jornalista político colaborou no «Kolnischer
Zeitung» e dirigiu a sua relação do Estrangeiro. Friedrich Ratzel fundou a «Biblioteca dos
Manuais Geográficos» e escreveu várias obras das que, para além das mais conhecidas:
Como resumo da sua teoria, o mundo conhece o que se designa como «os postulados de
Ratzel», ou também «Leis do crescimento espacial dos Estados» e «Leis dos espaços
crescentes», publicadas pela primeira vez em 1895 em «Petermanns Mitteiluge», a saber:
Backheuser denomina a esta lei do nível cultural e aplica-a através das seguintes redacção «A
velocidade de dilatação de um Estado e a importância do seu tamanho é função do nível de
cultura da época»;
Em Geografia Politica (...) Arthur Dix explica esta tendência pela aspiração de:
11
O primeiro impulso para o crescimento territorial chega aos Estado primitivo de fora,
de uma civilização superior;
Grande território incita á expansão. A tendência para anexar novos territórios (e
posteriormente assimilá-los) cresce á proporção que novas aquisições são feitas; e
realizadas estas, aumenta a intensidade dos novos impulsos de conquista.
Ao comentar esta lei, Ratzel afirmou que «Neste pequeno planeta só há espaço suficiente para
um único Estado».
Rudolph Kjellén é aceite como sendo o criador do termo Geopolítica, embora não haja acordo
em relação á data em que o mesmo foi pela primeira vez utilizado, variando, segundo autores,
entre o ano 1899 e o ano 1900.
Teve influência nas suas ideias geopolíticas, o facto de ter sido um político activo,
designadamente membro da câmara de Deputados (1905-1908) e do Senado (1909-1917) da
Suécia. De particular realce nesta altura é o facto do país encontra-se profundamente dividido,
debatendo-se entre a conservação oi dissolução da União Suécia-Noruega, que acabou por
acontecer em 1905.13
Uma análise da História da s humanidade permitiu a Kjellén apreciar que desde a antiguidade
(ferindo a Aristóteles), passando pela renascença (referindo Maquiavel) o Estado tinha sempre
concebido como um “ente de Direito”, isto é, como “República”, o que deixava de ser válido
na nova era, quando já se aceitava a ideia da existência de um “poder do Estado” que umas
vezes dilatava e outras se comprimia, afectando mais ou menos os interesses e a liberdade
individual dos cidadãos.
13
A união tinha ocorrido no fim das guerras napoleónicas (1814), como compensação territorial á Suécia pela
perda da Finlândia para a Rússia Czarista (1808)
12
Na continuação do estudo, Kjellén verificou ainda que o Estado, para além da sua acção
Jurídica também exercia actividade económica e social e que, uma precisão a partir de fora da
sua relação com os outros Estados, punha-lhe de manifesto outros elementos constituintes,
tais como “o território” do Estado, delimitado pelas suas fronteiras e referindo o País; o”
povo” com determinados costumes, e referido como “nação.” Deste modo, conclui o conceito
“Estado” encerrava vários elementos, designadamente: “País”, que dá fundamenta ao Estado;
“Povo”, como seu correspondente nação; algo mais vasto e profundo, como: poder (militar e
económico); o seu governo (república, monarquia, parlamentarismo) e s sua sociedade.
Esta realidade, junta ao facto de, como também fez notar, a perfeita definição de um Estado
decorrer também das suas componentes históricas, isto é, um contexto que abriga razões de
orem cultural, social e psicológica, levou Kjellén a considera que o seu tratamento, pela
amplitude, ultrapassava quer a Geografia, quer a etnografia (pois um Estado é mais do que um
país e povo), sendo tarefa dos especialistas da ciência politica.
Octávio Tosta (1984,p.17) “Não podem compreender bem o Estado quando o imaginamos
teoricamente”.
Kjellén (1905) conclui que os Estados são “formas de vida”, sendo por isso apontado como
“organicista”, ao reconhecer nas potencias da sua época fenómenos biológicos latu sensu”,
pois, valendo-se das próprias forças e beneficiadas por determinadas circunstancias, “ vivem
em permanente competição, lutando pela existência e estabelecendo, de modo claro, uma
selecção natural, os Estados vivem de facto dobre a terra, pois vemo-los nascerem, crescerem,
entrarem em decadência e morrerem”.
Em, “o Estado como forma de vida”, Kjellen defendeu que o Estado age por impulso orgânico
e manifesta a perda de vidas humanas do que a perda de território, porque possui um núcleo
territorial fixo o País do qual não se pode separar ou desligar, sob pena de sucumbir. O estado
é” Direito por dentro”, isto necessita de uma organização e disciplina internas, onde
predomina o aspecto jurídico; e “ Força por fora”, ou seja, recorre á força para defender
interesses vitais, embora reconheça o Direito Internacional como lei geral. De igual modo
defendeu o Estado, enquanto “individuo geográfico”, prevalece sobre a “nação”- “individuo
étnico”, sendo este a sua morada; o Estado” joga um super jogo num super tabuleiro com os
outros Estados (Super seres), sofre, tem tendência para a procriação, sendo as colónias os seus
filhos”.
13
Partindo dos 5 elementos que considera serem formadores do Estado, a saber: Território,
Povo, economia, Sociedade e governo, Kjellén sistematizou a política em 5 ramos diferentes:
Ainda segundo Kjëllén, a interpretação dos fenómenos políticos influenciados pelos factores
geográficos se daria sob três enfoques:
A teoria de Kjellén. Enunciada através dos seus postulados, pode basicamente resumir-se no
seguinte:
a) Estados vitalmente fortes, com áreas de soberania limitada, são dominados pelo
categórico imperativo político de dilatar os seus territórios, pela colonização, pela
união com outros Estados ou pela conquista.
b) Aos Estados pequenos parece reservada, no mundo da política internacional, sorte
idêntica à de povos primitivos no mundo da cultura; são repelidos para a periferia,
mantidos em áreas marginais ou em zonas fronteiriças, ou desaparecem.
c) Quanto mais o mundo se organiza, mais os vastos espaços como Estados grandes,
fazem sentir a sua influência e, quanto maior o desenvolvimento dos grandes Estados,
menor a importância dos pequenos.
A palavra Estratégia vem do grego estratégia que significava direcção de uma expedição
armada.
14
Para Silva Ribeiro (2012) esta disciplina pode ser considerada enquanto arte e ciência, arte
pela sua aplicação e ciência pelo estudo de um objecto preciso, passível de uma análise e
respectiva investigação, onde ferramentas práticas e teóricas podem ser aqui integradas. Para
este autor, a Estratégia é a arte de edificar, dispor e empregar meios de coacção num dado
meio e tempo, para se materializarem objectivos fixados pela política superando problemas e
explorando eventualidades em ambiente de desacordo. O estudo desta área foca-se no estudo
da Guerra e sua arte, cujas conflitualidades ou modalidades de acção assumem um papel
fulcral. Esta disciplina assume um papel direccionado, com uma ênfase no processo, sua
criação, e respectiva gestão. Podendo ser empregue nas mais variadas áreas, o seu estudo
passa pela análise das envolventes, ou análise SWOT, onde o auto conhecimento é
imprescindível, através da análise interna, levando-nos aos pontos fortes (Strengths) e pontos
a melhorar as Fraquezas (Weaknesses) na própria organização, para passarmos à envolvente
externa com uma caracterização das oportunidades (Oportunities) e respectivas ameaças
(Threats).
Para falarmos em Estratégia, temos de referir a Arte da Guerra de SunTzu, pela sua
teorização no século IV A.C., considerado por Samuel B. Griffith o primeiro “clássico
marcial”. Aquele autor é encarado como percursor das actuais correntes de pensamento
estratégico, onde o culminar das Operações Baseadas em Efeitos, assumem um papel
fundamental no actual estado da arte militar.
O General Cabral Couto (1988) define estratégia como ciência e arte de devolver e utilizar as
forças morais e matérias de uma unidade política ou coligação, alem de se atingirem
objectivos políticos que suscitam, ou podem suscitar, a hostilidade de outra vontade política.
Carl Von Clausewitz (1780-1831), numa perspectiva puramente militar, na obra da Guerra
(1819) definiu Estratégia como “ a teoria relativa á utilização dos combates ao serviço da
guerra”.
14
Junta de chefes de Estado-Maior dos EUA, 2010.
15
Com efeito, Maizerony afirma que:
2.1.8. Geoestratégia
Tendo Hans Weigert (1942) definido a Geopolítica como “ geografia aplicada á politica de
poder nacional e á sua estratégia de facto, na paz e na guerra” e Spykman que ela
correspondia ao “planeamento da política de segurança de um país em termos dos seus
factores geográficos”, este último sentenciou que “ da análise dos factores geográficos será
possível considerar os problemas da segurança em termos geográficos, de tal maneira que as
conclusões a que se chegue sejam de uso direito e imediato para os homens de Estado
encarregados de formular a politica exterior”.
Deste modo, ao estabelecer as directrizes de uma política de segurança nacional fundada nos
factores geográficos, Spykman, Weigert e outros estudiosos norte-americanos tratam de
geoestratégia.
Como pode se ver então, se a Geopolítica tenta perceber as motivações políticas do Estado
tendo por base os condicionamentos e imperativos geográficos, a Geoestratégia assenta nos
mesmos imperativos, mas considera os objectivos antagónicos para aplicação a Estratégia.
Segundo Couto (1988) a Geoestratégia poderá ser definida como sendo “ o estudo das
constantes e das variáveis do espaço acessível ao homem que, ao objectivar-se na construção
de modelos de avaliação e emprego, ou ameaça de empregos, das formas de coacção, projecta
o conhecimento geográfico na actividade estratégica”.
15
Por exemplo Pierre Célérier considerava a geoestratégia como irmã mais nova da geopolítica pois, segundo ele,
ao estudar a relação entre os problemas estratégicos e os factores geográficos, a geoestratégia debruçava-se
essencialmente sobre os mesmos factores que desempenhavam um papel em geopolítica. Pierre CÉLÉRIER,
geopolitique et Geoestratégie, Que Sais-je (PUF, 1969), 16-17.
16
Ao ser apreciada como ou também como auxiliando a estratégia na definição dos cenários e
na escolha e caracterização das modalidades de acção estratégica, a Geoestratégia é entendida
por muitos como que “ uma derivação da geopolítica aplicada a estratégia”.
Elementos da geopolítica
Tendência dos Estados face as condições geográficas Entenda-se como as melhores condições
geográficas do Estado ou a sua tendência de possuí-las politicamente, facilitando as suas
relações com o resto do mundo.
A forma do território de um Estado é o espaço geográfico que ocupa, limitado pelas suas
fronteiras, existindo formas mais favoráveis à coesão e à defesa, outras menos favoráveis e,
outras, ainda, desfavoráveis, possibilitando cisão ou desarmonia, assim como dificultando a
defesa. Há dificuldade muito grande em se padronizar a classificação dos Estados pela sua
forma, tendo em vista as mais diversas formas territoriais existentes.
Para facilitar esta identificação nos seus estudos de Geopolítica, Renner estabelece quatro
formas básicas, as quais devem enquadrar todos os Estados, ainda que por aproximação. É
uma metodologia simples e plenamente aceite. São elas: Forma compacta, Forma alongada,
Forma recortada e Forma fragmentada.
17
Forma compacta Esta forma é a mais favorável à coesão do Estado pelo seu centripetíssimo
cultural e político-administrativo; favorece, ainda, um crescimento económico mais
equilibrado pela maior facilidade no intercâmbio comercial interno, facilitado pela circulação
interna; contém uma maior área concentrada dentro de um mesmo perímetro, além de suas
fronteiras estarem também relativamente equidistantes do centro, favorecendo suas acções de
defesa.
Quanto à posição do Estado, a Geopolítica não se prende somente à localização do seu espaço
físico no planeta, definido por coordenadas geográficas, que acarretam consequências do
ponto de vista climático, de habitabilidade e de recursos naturais, e até criando predestinações
polémicas para os Estados. Leva em consideração também e principalmente a sua situação no
âmbito mundial, no espaço regional e no relacionamento inter-regional.
Segundo Ratzel, na sua “Lei de Ratzel”, também conhecida como “Lei da Fronteira Faixa”, “a
faixa fronteiriça é o real, a linha é uma abstracção, meramente simbólica”.
Segundo Kjëllén, “a epiderme do Estado”. Já para Sieger, na sua “Lei de Sieger” ou “Lei da
Artificialidade das Fronteiras”, “as fronteiras, mesmo as chamadas naturais, são resultados de
convenções (normalmente bilaterais) ou de imposição (unilaterais) ”, e ainda, “não há
fronteiras naturais nem artificiais: todas são convencionais”.
Pascal Boniface (2010), no seu dicionário de relações internacionais define assim a fronteira:
Uma fronteira é uma linha imaginária a separar dois estados, delimitando dois
campos distintos de soberania.
Uma fronteira nas relações internacionais, pode ser analisada como um limite a
partir do qual se exercem as principais funções de um Estado.
Para Mahan, quanto maior o poderio marítimo de um país, maior seria o seu poder efectivo e
o seu impacto no Mundo. Grande estudioso da História, procurava nesta resposta a origem do
18
grande poderio dos povos, e foi sob a sua influência que os Estados Unidos investiram e se
tornaram um poder marítimo.
As suas teorias foram, em parte, confirmadas para muitos, pela I Guerra Mundial e pela forma
como os países com maior marinha venceram a Guerra. Para alcançar este poderio, Mahan
estabeleceu linhas de planeamento para os governos, tanto em paz, como em guerra. Em caso
de paz um bom investimento numa marinha mercante, numa boa rede de trocas comerciais
marítimas iria estabelecer uma marinha e uma esfera de influência forte e alargada. Para a
guerra, e como preparação para ela, o Governo teria todo o interesse em ter e manter não só
uma boa Marinha, diversificada para todas as ocasiões, bem como um bom número de
homens prontos a entrar em combate. Mahan afirma também que colónias geograficamente
posicionadas em sítios estratégicos são uma enorme mais-valia, se bem que para ele seria
pouco provável que os Estados Unidos viessem a ter tais colónia.
Segundo Philippe Defarges (2012, p.49)” Quem dominar os oceanos domina o mercado
mundial, quem dominar o mercado mundial, domina as riquezas mundiais, quem for o senhor
das riquezas mundiais, domina o próprio mundo”.
O poder marítimo, esse foi definido por Mahan, conforme a citação de Geraldes. Como “a
soma de forças e factores, instrumentos e circunstâncias geográficas, que cooperam para
conseguir domínio do mar, garantir o seu uso e impedi-lo ao adversário” (1982, p.72.)
Para Mahan o poder marítimo depende da conjugação de seis condições que ele sistematiza de
uma forma que podemos assim enunciar:
19
assegurara mão-de-obra e produzir riqueza sem a qual não é possível obter recursos
para o poder marítimo.
Carácter nacional: estado de espírito e comportamento das populações na sua vocação
marítima e adesão a projectos marítimos.
Instituições: tipo e competência dos governos, sua capacidade para corresponder á
vocação marítima das populações, sua continuidade ao longo dos tempos; neste
particular. Mahan terá cometido o pecado de lamentar que as democracias,
exactamente por não garantirem continuidade de poder, mão favorecem o poder
marítimo.
Comecemos por registar que o termo poder, na sua aplicação específica de poder político,
aquele que aqui nos interessa, envolve alguma ambiguidade. Claude Raffestin (1980, p.42.)
“usa exactamente este termo, ambiguidade explica porquê (...) porque há poder e poder. Mas
o primeiro é mais fácil de localizar porque se manifesta através de aparelhos complexos que
dominam o território, controlam a população e dominam os recursos. É o poder visível,
maciço, identificável (...) mas os mais perigosos e o que não se vê, ou que já não se vê porque
se pensa ter-se desembaraçado dele.”
Raymond Aron (1962, p.58), cujo livro Paix et guerre entre les nations continua a constituir
uma base importante da nossa reflexão, diz que “ no sentido mais geral, o poder é a
capacidade de fazer, de produzir, de destruir”.
Mas se nos situarmos no âmbito político do seu significado, podemos distinguir três
patamares do poder:
20
2.1.13. Poder e soberania
O poder, quando entendido no significado de soberania, não é algo de material, ainda que
dependa de factores materiais. Como gosta de dizer Adriano Moreira. «O poder não é uma
coisa, é uma relação» (Janeiro - Março 1991, p. 42),que é também o conceito de Aron (p. 58)
e é muito semelhante de Michel Foucault, citado por Raffestin «o poder é parte inseparável de
toda uma relação» (p.42).
Outro processo de caracterização do poder é consoante a intensidade. Esta pode ser através da
fórmula: P = C × V, em que:
É a segurança nacional que constitui o interesse directamente visado pela defesa nacional.
21
Um método clássico para a avaliação do potencial é a chamada fórmula do poder nacional de
Ray Cline, conforme artigo do autor publicado na revista brasileira Defesa Nacional (pp. 62 a
66), Pp= (C + E + M) × (S + W).
Em que:
Pp é o poder percebido.
C corresponde á massa crítica: população + território.
E corresponde a capacidade económica.
M corresponde a capacidade militar.
S é o objectivo estratégico.
W é a vontade de executar a estratégia nacional.
“A fórmula de Ray Cline é também apresentada por Virgílio de Carvalho em artigo na revista
Nação e defesa. Se bem que os termos sejam referidos com outras designações, o conteúdo da
fórmula é exactamente o mesmo (1989, p.82)”, Pn = Fm (G + E + M) × Fa(S + D), em que:
a) Pn é poder nacional
b) Fm é o factor material
c) G é o elemento geográfico
d) E é o elemento económico
e) M é o elemento militar´
f) Fa é o factor anímico
g) S é a qualidade de estratégia
h) D é a determinação do povo
“Diz-se que a grandeza de uma nação não se mede apenas pelas potencialidades dos
seus recursos naturais, mas também pela nobreza de caracter, pela atitude e pelas
competências dos seus cidadãos que são de facto a base dinamizadora desses
recursos”. José Eduardo dos Santos (Discurso de 26-09-2012)
Com recurso ao método do potencial estratégico, far-se-á de seguida a análise dos factores
físico, humano, recursos, circulação e, por último, o factor estruturas, (IESM, 2007),
procurando sintetizar aquilo que são as grandes potencialidades e as grandes vulnerabilidades.
Por não ter realce significativo, o factor tecnológico não será objecto de análise.
22
2.2.1. Factor físico
2.2.1.1.Potencialidades
A extensão do seu território, com capacidade de alojar uma elevada população e com espaço
de manobra e compartimentação do seu território, possibilitam condições favoráveis em caso
de defesa contra ataques convencionais, que podem ser potenciadas pela profundidade e
extensão, possibilitando o estabelecimento de zonas de refúgio numa estratégia de resistência,
contra um invasor externo. A variedade do seu clima, conjugada com a pedogénese 16 dos seus
solos, permitem-lhe tirar partido na exploração agro-pecuária, conjugado com a posse de
vastos recursos naturais (atlânticos e continentais) alicerçada pela sua extensa ZEE 17, poderão
contribuir para uma sustentabilidade diversificada. No quadro regional, a sua posição
geográfica de charneira, permite-lhe ocupar uma posição geoestratégica, influenciando
directamente nas regiões austral (anglófona) e central (francófona), bem como as rotas
marítimas do Atlântico Sul, conferindo-lhe uma vantagem significativa sobre os países
encravados (Almeida, 1990: 139), ocupando uma posição mista, simultaneamente continental
e marítima. A extensão da orla marítima, valorizada por excelentes baías, oferece óptimas
condições para instalações portuárias, possibilitando-lhe um franco domínio, sobre as
principais rotas comerciais e energéticas do Atlântico Sul.
2.2.1.2.Vulnerabilidades
16
Processo natural de formação do solo
17
Zona Económica e especial
23
2.2.2.1.Potencialidades
A taxa de crescimento humano de quase 3%, num futuro próximo, poderá constituir-se como
uma fonte importante de recursos humanos, ainda que não se constitua como factor de poder.
O elevado número de população jovem permite, nas próximas décadas, uma elevada
disponibilidade de mão-de-obra. O elevado índice de fecundidade, que assegurará a
continuidade de uma população jovem. A reduzida densidade populacional indicia o potencial
desenvolvimento da população angolana.
2.2.2.2.Vulnerabilidades
A elevada taxa de analfabetismo, num país tão necessitado de conhecimento, contribuem para
a reduzida capacidade produtiva. As diversidades étnicas poderão constituir-se num factor de
tensão interna e comprometer a coesão nacional 18 , podendo levar a uma competição pelo
controlo do Estado.
A elevada densidade populacional na capital, com mais de dois milhões de habitantes numa
área de 3.000 Km2, provoca graves desequilíbrios sociais e ecológicos no sistema. Os fluxos
migratórios intra-regionais, motivadas pelos constantes conflitos, contribuem para o alicerçar
da pobreza, fomentar o crime organizado, agudizando as tensões sociais internas na disputa
pela subsistência.
18
Os dois contendores e actores da guerra civil em Angola eram apoiados, na generalidade, por etnias
diferentes entre si.
24
2.2.3. Factor recursos
2.2.3.1.Potencialidades
Com isto contribui não só para a “saúde do planeta”, mas para a diversificação do seu
potencial energético, diminuindo igualmente as importações de açúcar. Os recursos minerais
de Angola constituem inegavelmente uma potencialidade, muito embora não totalmente
conhecida, que para além do factor económico, permitem empregar um número significativo
de mão-de-obra. O seu desenvolvimento económico e social poderá, em parte, ser construído
com base nas suas riquezas minerais em particular nos seus diamantes, garantindo diversidade
à sua economia, à semelhança do que aconteceu na África do Sul.
25
2.2.4. Factor circulação
2.2.4.1. Potencialidades
2.2.4.2.Vulnerabilidades
26
2.2.5. Factor estruturas
2.2.5.1. Potencialidades
A redução da sua dívida externa, associada aos elevados índices do PIB, permitem-lhe
reorientar as suas políticas de reforma para os sectores mais carenciados e frágeis do Estado.
O peso que as suas forças armadas representam na região, como garante de poder, advém dos
recursos financeiros disponibilizados para as mesmas e das actividades de modernização que
têm sido alvo, potenciado pela experiência das mesmas, como resultado do conflito interno e
intervenções externas, ainda que a sua Marinha de Guerra se constitua uma fragilidade, face à
falta de meios para fazer face à extensa ZEE e respectiva responsabilidade inerente a tal facto.
2.2.5.2.Vulnerabilidade
27
ausência de pessoal qualificado, pelas insuficientes estruturas sanitárias, associada à
incidência de doenças infecto-contagiosas e elevadas taxas de mortalidade, traduzem-se em
consequências nefastas no potencial humano de Angola.
29
Até Outubro de 2013 Angola ainda não tinha aderido a esta iniciativa, fazendo parte dos
Estados não auditados do continente Africano. No entanto, de acordo com a Representante
Permanente Adjunta de Angola e Representante Acreditada da OMAOC na OMI, Rosa
Sobrinho, a Autoridade Marítima Nacional pretendia apresentar o seu pedido oficial durante a
28ª Assembleia da OMI (2013), para que no ano 2014 o país possa ser auditado, no intuito de
sair da "Lista Negra" da OMI. A presença de Angola nessa lista, deve-se essencialmente ao
facto do país não ter quadros técnicos habilitados para certificar marinheiros, escolas e cursos
marítimos internacionais nos termos estabelecidos pela OMI, o que não lhe permite cumprir
com as regras defendidas pela Convenção Internacional sobre Normas de Formação,
Certificação e Serviço de Quartos para os Marítimos.
30
III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Angola situa-se na Costa do atlântico sul da África ocidental (região Austral) entre a Namíbia
e o Congo, também faz fronteira com a RDC e a Zâmbia a oriente, com uma superfície de
1.246.700 km. Angola esta dividida em 18 províncias, sendo a sua capital Luanda, é o sétimo
maior pai de África pela sua superfície. Apesar de estar localizada numa zona subtropical,
Angola tem um clima que não é caracterizado por aquela condição, devido a influência de
factores como a corrente de Benguela ao longo da parte Sul da Costa e o relevo no interior
influenciado deserto do Namibe.
3.1.1. Clima
Deste modo, o Clima é caracterizado por duas estações a das chuvas, de Outubro a Abril, e a
de Cacimbo de Maio a Agosto, mais seca e com temperaturas mais baixas. Por outro lado,
enquanto a Costa apresenta elevados indícios de pluviosidade que vão decrescendo de Norte
para Sul e dos 800 mts para os 50 mts, com temperaturas médias anuais acima dos 23ºC. Com
uma costa Atlântica de 650 kms, onde os rios caudalosos desaguam em amplos estuários
depositando sedimentos arrastados das zonas planálticas, formaram-se numerosas ilhas, baias
e restingas onde se localizam excelentes praias.
Os países de formato fragmentado, são os que têm parte do território dividido por outros
Estados ou por acidentes geográficos.
19
A sua tese preconiza o poder do estado assente nas coordenadas, de Espaço (Raum) e de Posição (Lage) – o
espaço vital.
31
Angola, embora tenha maior parte do território com configuração compacta, também pode ser
considerado como tendo o formato fragmentado pois, tem uma parte do território, a província
de Cabinda, separada da massa principal, quer pelo rio Zaire (Congo), quer pela RDC. As
características do Estado fragmentado de forma geral desenvolvem um importante impulso de
coesão no sentido do controle e apoio á parte do território separada.20
3.1.3. Hidrografia
Angola possui uma extensa e complexa rede hidrográfica com 47 bacias hidrográficas
principais, tendo, praticamente, todos os principais rios as suas nascentes no interior do País
com excepção dos rios Zaire ou Congo, Zambeze e Chiluango. As potencialidades hídricas
quer superficiais, quer subterrâneas são consideráveis. Contudo, a actual utilização da água
em Angola assume, ainda, reduzidas proporções, uma vez que os esquemas de irrigação à
grande escala não estão ainda desenvolvidos e o parque industrial só agora começa a ser
restaurado, prevendo-se que a médio e longo prazo aumente consideravelmente a demanda
dos recursos hídricos, sendo de extrema importância o estabelecimento de mecanismos que
permitam uma gestão integrada dos recursos hídricos, de forma a salvaguardar a sua
utilização sustentável a longo prazo, garantindo um melhor aproveitamento dos recursos
disponíveis, bem como um criterioso planeamento de utilização, tendo em consideração a
importância da água como factor de produção para os diferentes sectores da actividade
socioeconómica e para a manutenção dos ecossistemas.
20
Vide em anexo
32
percorrendo 1000 km, sendo que a extensão topográfica da bacia hidrográfica 21abrange uma
área de aproximadamente 700 000 km2.
Este capítulo, e recorrendo a uma breve análise histórica, pretende-se identificar os principais
antecedentes geoistóricos de Angola, com alguma ênfase à fase final do período colonial e
mais em particular ao pós independência, no intuito a uma melhor compre Leonilde Bernardo
(Mariete) então da sua actual situação. Utilizaremos para o efeito o “factor histórico”,
abordando os factos considerados de realce.
Os primeiros habitantes da região, que agora é designada por Angola, têm origem na tribo dos
caçadores-colectores Pré-Bantos23. “O povo Banto chegou à região, vindo de Norte, no século
XII, obrigando a uma migração dos Khoisan para Sul” (Abrantes, 2005, p 16). “Com a
descoberta do rio Zaire, em 1482, por Diogo Cão e a posterior exploração da costa de Angola,
os portugueses foram-se instalando progressivamente na região e, excepto um período de
tempo compreendido entre 1641-48, em que Angola foi tomada pelos holandeses” (Barata,
1997, p. 24), “esteve sob domínio português, até à independência do país em 11 de Novembro
21
Vide mapa no anexo
22
Carlos Andrade, Biólogo, Msc, Técnico do Gabinete para Administração da Bacia Hidrográfica do Rio
Cunene, Ministério da Energia e Águas da República de Angola, Luanda, Angola. Membro do Comité
Directivo da Bacia do Okavango, calucarlos@yahoo.com.br
23
Khoisan, Pigmeus, cuissis e cuepes.
33
de 1975” (Teixeira, 2004, p 586). Muito embora os portugueses tenham falhado naquilo que
era o seu intento inicial, a descoberta de ouro e outros metais preciosos, descobriram em
alternativa, uma excelente fonte de escravos para alimentar a sua colonização do Brasil. “A
colonização portuguesa em Angola começa verdadeiramente em 1575, com a fundação de
Luanda” (Selvagem, 2006, p. 332). “Após várias tentativas, as tropas portuguesas finalmente
conseguem conquistar o reino Mbundu em 1902, quando o planalto do Bié foi tomado e a
colonização branca chegou às terras altas angolanas” (REBELO, 2006).
A África é a mais maciça de todas as partes do Velho Mundo. “As suas costas não são
recortadas, ao invés das do Báltico e da Indonésia” (Barreau, 2008, p. 237). “A sua geografia
física revela que se trata de um continente tradicionalmente isolado, quer pelo deserto, quer
pelo mar, sendo o segundo maior continente do planeta 24 , com 30.334.592 quilómetros
quadrados (Km2) de área, o seu maior comprimento no sentido Norte-Sul de 8.000
quilómetros (Km) e no sentido Este-Oeste, 7.500 Km” (Almeida, 1990, p. 110). A sua
aparência compacta e de isolamento, atenuam-se quando analisado o seu clima muito
diversificado e o seu relevo muito variado 25 . De “hidrografia peculiar, apresenta grandes
bacias de recepção, com escoamento muito estrangulado para o mar” (Almeida, 1990, p. 110).
A “população africana é superior a 800 milhões de habitantes, distribuídos em 54 países e
representando cerca de um sétimo da população mundial, com uma densidade populacional
média (2000) de 25,88 habitantes por Km2” (SOGEOGRAFIA, 2007-2009). Situada na região
ocidental da África Austral, RA faz fronteira a Norte com a República do Congo (RC), a
Nordeste com a RDC (ex-Zaire), a Este com a Zâmbia e ao Sul com a Namíbia.
24
Imediatamente três vezes maior que a Europa
25
Desde a cordilheira do Atlas do Norte, às mesetas Sahariana e Sudanesa, até à região dos grandes lagos e da
imensa falha Sul-Norte, correspondente sensivelmente ao curso do Nilo
35
África Mediterrânica incluída no “Crescente Interior”, outorgando-lhe a categoria de aliado
potencial dos poderes anfíbios. Por último, definindo “WorldPromontory”, em que o corredor
central Norte-Sul 26 assume uma importância vital para o equilíbrio” do “Velho Mundo”
(ALMEIDA , 1990, p. 113).
As teses do Poder Aéreo consideram África como um continente isolado, afastado das
principais rotas transatlânticas, devido ao grande distanciamento entre continentes situados
em semelhantes latitudes (Almeida, 1990, p. 113). Para SpyKman, Mackinder e Haushofer,
que se enquadram nas teses dos Poderes Conjugados, áreas específicas do continente são
valorizadas. Spykman considerava toda a área mediterrânica contida no “Rimland” europeu.
Cohen divide a zona em três regiões. Primeira, a zona do Maghreb ligada à Europa, o
“MaritimeEuropeandtheMaghreb”; segundo, a África “South Sahara”, incluída no
“TradeDependentMaritimeWorld”. Terceiro, o Nordeste africano, ligado ao Médio Oriente,
designado por “MiddleEastShatterbelt” (ALMEIDA, 1990, p. 113).
Finalmente, a tese das “Pan-Regiões” de Haushofer, onde considera que o “limite Sul da
Europa coincide com o deserto do Sahara, procurando demonstrar que uma pan-região euro-
africana seria um grande espaço geopoliticamente compensado por abarcar uma ampla faixa
de latitude, beneficiando dos equilíbrios que se geram ao longo dos meridianos” (ALMEIDA,
1990, p. 114).
Embora a geografia permaneça a mesma, África está mais próxima do resto do mundo. As
novas tecnologias e a difusão cultural, permitem aproximar África do sistema dinâmico das
relações internacionais. Dividida em várias unidades políticas, agrupa-se por sua vez em
grandes unidades geopolíticas, cada uma com distintas vocações, resultantes essencialmente
da geografia e da vizinhança. De acordo com Políbio Valente, “o continente africano
organiza-se em África mediterrânica, África do “MiddleOcean”, África do “Shatterbelt”,
África Sahariana, África Insular e África ao Sul do Sahara. É nesta última que Angola se
encontra localizada, que por sua vez se subdivide em “SudanGrassland”, “Heartland” do Sul,
“Rimlands” e “Cone Austral”. É igualmente neste último que Angola se encontra localizada”.
(ALMEIDA, 1990, p. 116).
26
Do Cairo ao Cabo
36
O “SudanGrassland”, “constitui-se numa região de pastagens, onde é possível a agricultura
permanentemente, constituindo-se como uma zona amortecedora nas relações entre o Norte e
o Sul-africanos” (Almeida, 1990, p. 117 e 118). O “Heartland do Sul”, expressão de
Mackinder, situando o limite Norte desta área por volta dos cinco graus de latitude Sul.
O “Cone Austral abarca o Heartland e parte dos Rimlands, pelo que se constitui como uma
das mais importantes e vitais regiões africanas” (Almeida, 1990, p. 117 e 118). África é um
continente em transição, essencialmente à custa de múltiplas tensões. Pelas suas
características geopolíticas está profundamente ligado ao mundo marítimo. As
potencialidades em recursos minerais, associadas à atlanticidade (da maioria da África do Sul
do Sahara), relevam o papel que pode “desempenhar nas ligações entre a estratégia da NATO,
e as estratégias definidas para o Atlântico Sul, o que pode vir a conferir-lhe um lugar de
destaque no futuro” (CORREIA, 2008, p. 20)27.
À medida que o seu desenvolvimento se vai acentuando, o “Estado há-de aparecer com mais
nitidez, os blocos regionais com mais objectividade e o continente com uma contribuição de
inegável valor para a cooperação mais dinâmica e uma paz mais esclarecida” (ALMEIDA,
1990, p. 119).
27
In Prof. Doutor Adriano Moreira: “Dois terços da população mundial concentram-se na Ásia, em torno de dois
pólos de poder e de influência que são a China e a Índia. A proximidade a África dita a sua apetência pela
projecção de poder e influência. Estrategicamente, é da maior importância para o mundo ocidental manter uma
estreita afinidade com África (...) ”.
37
3.4. Factos sobre a história de Angola
Marcada por lutas, desde a descoberta em 1482, Angola só conhece a pacificação do seu
território já no início do século XX. O seu verdadeiro desenvolvimento dá-se na metade desse
mesmo século, contudo, os movimentos de libertação e a potência colonizadora, conduzem
Angola ao primeiro grande conflito, o da independência, marcado pelo enorme esforço de
guerra dos portugueses, mas também pelos conflitos internos na disputa do poder.
38
IV. METODOLOGIA
O método é o caminho pelo qual se pretende atingir um objectivo. É ainda entendido, como
um conjunto de operações pelas quais uma disciplina procura atingir as verdades que ela
persegue demonstrando e verificando. Para a problemática do tema em questão, pretende-se
fazer o uso da pesquisa bibliográfica. Sabe-se que a pesquisa bibliográfica é aquela feita a
partir do levantamento de referências bibliográficas já analisadas, e publicadas por meios
escritos e electrónicos, como exemplo disto existem os livros, artigos científicos páginas de
web sites.
O nosso estudo foi delimitado no mar angolano, no que tange a Marinha de Guerra e os
grandes portos.
39
4.2.2. Critérios de exclusão
Foram excluídas da pesquisa as províncias que não constam nos critérios de inclusão e
tendo em conta a necessidade de delimitação do estudo por causa da amplitude do
objecto de estudo.
A técnica utilizada nesta pesquisa foi a elaboração de fichas bibliográficas, resumos de livros.
Depois dos procedimentos de colecta dos dados, o momento agora é dar o tratamento
adequado a esses dados. Assim os primeiros passos são em direcção à selecção e revisão, para
que se alcance o processo de categorização.
40
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Embora o caminho percorrido pelo Direito do Mar tenha sido longo e na sua totalidade
desconhecido, sabe-se que foi a «Declaração do Presidente do Chile de 23 de Junho de 1947»,
sobre a delimitação das zonas de protecção de caça e pesca marítimas, que mais destacou a
reivindicação dos direitos económicos sobre os espaços marítimos contíguos aos Estados.
Como resultado, hoje, a soberania una e indivisível do Estado angolano é exercida sobre a
totalidade do território nacional, compreendendo nos termos da Constituição da República, da
Lei e do Direito Internacional, a extensão do espaço terrestre, as águas interiores e o mar
territorial, bem como o espaço aéreo, o solo e o subsolo, o fundo marinho e os leitos
correspondentes, demonstrando desta forma o compromisso do Estado com o Direito
internacional e sobretudo com a «Convenção de Montego Bay»28. Semelhantemente, o Estado
exerce soberania e/ou jurisdição material na zona contígua, na ZEE e na plataforma
continental (Lei 14/10, Artigo 3).
28
O Estado exerce jurisdição e direitos de soberania em matéria de conservação, exploração e aproveitamento
dos recursos naturais, biológicos e não biológicos, na zona contígua, na zona económica exclusiva e na
plataforma continental, nos termos da lei e do Direito Internacional. De acordo com o Artigo 164 da CRA, à
Assembleia Nacional compete legislar com reserva absoluta a definição dos limites do mar territorial, da zona
contígua, da zona económica exclusiva e da plataforma continental.
29
A Lei n.º 2130 de 22 de agosto de 1966 promulgou as bases sobre a jurisdição do mar territorial e da zona
contígua e remeteu para diploma especial a definição das linhas de base rectas. Na sequência do disposto n.º2 da
Base I da Lei n.º 2130, o Decreto n.º 47 771 de 27 de Junho de 1967 fixou o limite interior do mar territorial
angolano com o traçado de algumas linhas de fecho e de base recta que suplementam as linhas de base normal,
tendo sido reiteradas pela Lei 21/92 de 28 de agosto de 1992, e actualmente pela Lei 14/10 de 14 de Julho.
41
Por seu turno e de acordo com o artigo 33 da Convenção Montego Bay, a "Zona Contígua"
corresponde à área marítima contada a partir das linhas de base que servem para medir a
largura do mar territorial, não podendo estender-se para além das 24 MN; nesta área marítima
o Estado costeiro pode tomar todas as medidas de fiscalização necessárias, de forma a evitar
as infracções às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários no seu
território ou no seu mar territorial, ou ainda, reprimir as infracções às leis e regulamentos no
seu território ou no seu mar territorial30. Dessa maneira, a “zona contígua angolana estendesse
a partir do seu mar territorial numa largura de 12 MN” (Lei 14/10, Artigo 9 e 31).
O Espaço Marítimo
Angola é banhada em toda sua fronteira oeste pelo “Oceano Atlântico, numa linha costeira de
cerca de 1 650 km de extensão, com um mar territorial que vai até as 12 MN e uma ZEE que
vai até as 200 MN, numa área de cerca de 540 390,95 km2, estando limitada a norte pelo
paralelo 5º S e a sul pelo paralelo 17º 10’ S” (MINUA, 2006, p. 1). A plataforma continental
30
A zona contígua angolana foi criada pela Lei n.º 2130 que estabeleceu poderes a Angola para exercer na zona
do alto mar contígua ao seu mar territorial, entre outros poderes, o de “prevenir e reprimir as infracções às leis de
polícia aduaneira, fiscal, sanitária ou de imigração cometidas no seu território ou no seu mar territorial”.
31
Concluídos os estudos as partes acordaram por unanimidade que o ponto de separação ficasse posicionado na
posição geográfica com 17o15´00´´ S de Latitude e 11 o45´07´´, 79 E de Longitude.
42
interior32 é larga a norte, com limites entre as 40 e 50 MN de Cabinda até Lobito; do Lobito
ao sul do Namibe torna-se mais estreita, com menos de 20 MN. “Nas áreas do norte e centro o
talude continental tem limites de 120 – 140 MN, e menos de 60 MN a Sul” (MINUA, 2006, p.
63). Por sua vez, a “profundidade marítima na orla marítima angolana tem uma variação
mínima média entre os 3 aos 5 metros de profundidade, enquanto as profundidades na zona do
talude continental atingem os 5 000 – 5 500 metros nas zonas Centro e Sul” (MINUA, 2006,
p. 63).
Portanto, o mar angolano apresenta-se na maior parte da sua extensão como espelhado e
calmo, com velocidades médias dos ventos que rondam os 0,3 m/s e correntes marítimas que
ao longo da costa raramente atingem um nó e com uma ondulação suave; para além de ser
navegável durante todo ano e permitir o trânsito submarino, visto que a partir das 5 MN da
costa as profundidades rondam os 100 metros. “A localização geográfica do país permite que
o seu mar seja próspero em biodiversidade, especialmente pelo cruzamento de duas correntes
marítimas importantes, a «Corrente Fria de Benguela» e a «Corrente Quente da Guiné»,
fazendo com que o país albergue um rico ecossistema de mangais, funcionando como a base
do ciclo de vida e um habitat para a sua flora e fauna33” (FAO, 2011, p. 108).
Assim e assumindo como «fio condutor» o enunciado das teses que vêm no mar a principal
força de preservação e manutenção do poder, o «enquadramento geopolítico de Angola»
como Estado ribeirinho assume algumas particularidades, sobretudo por se situar numa região
do Atlântico muito rica em recursos naturais e de considerável importância no contexto
geopolítico e geoestratégico regional, apresentando a «6.ª maior ZEE do Atlântico Sul» e
sendo detentor de potencialidades de vária ordem. Dentre essas potencialidades, sublinha-se: a
centralidade no contexto da África Subsariana, pertencendo simultaneamente a duas sub-
regiões africanas (África Central e Austral); a abundância em termos de recursos hídricos,
sendo um dos, senão o, mais privilegiado na África Austral; as riquezas no seu mar e
plataforma continental, surgindo como principal produtor de petróleo a sul do Equador; a
excelente localização dos seus portos principais a nível do Atlântico Sul, com excelentes
32
Actualmente encontra-se em curso um projecto que visa a extensão da plataforma continental para além das
200 MN, tendo sido criada uma comissão interministerial, de forma a elaborar uma proposta que deverá ser
submetida à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC).
33
O ecossistema da Corrente Fria de Benguela é subdividido em duas áreas, uma considerada a zona Norte do
ecossistema e outra correspondente a zona Sul, sendo a sua separação tecnicamente situada ao largo de Lüderitz,
cerca de 300 quilómetros ao norte da fronteira entre a Namíbia e África do Sul, no sentido em que normalmente
quando se fala sobre a zona Norte refere-se à Angola e a Namíbia, uma vez que a zona Sul corresponde a África
do Sul.
43
portos de águas profundas, servidos de várias ligações logísticas (rodoviárias e ferroviárias),
rivalizando apenas com a Namíbia; a vantagem geoestratégica dos corredores transversais,
nomeadamente a do «Corredor de Benguela», no quadro do abastecimento dos países
encravados da África Austral. Todos estes factores se bem valorizados, podem funcionar
como um catalisador do desenvolvimento dos países da região austral, sendo já considerado
como um "pulmão" da África Austral; em que se soma a privilegiada posição geográfica, o
que lhe permite controlar os acessos da RDC e da Zâmbia ao Oceano Atlântico. Procurando
traçar um esboço geopolítico de Angola, enquanto Estado ribeirinho, enunciam-se as suas
particularidades geopolíticas:
Como anteriormente exposto, com o término da guerra civil em Angola a «Política Externa
Nacional» tem como principal linha de acção o fomento da economia, tendo em conta o
melhor posicionamento geopolítico do país, através de uma maior interacção com os países
vizinhos e com as maiores potências mundiais, viabilizando assim uma maior dinamização e
valorização da diplomacia. O Estado angolano através do seu Ministério das Relações
Exteriores, tem alargado os “seus organismos centrais de representação político-económica,
44
permitindo por um lado a manutenção dos laços de amizade e cooperação com todos os
Estados com os quais já se relacionam, e por outro lado a formalização de laços com outros
países, cujos laços de amizade são mais afastados34” (Chikoti & Vines, 2012, p. 3). Nesta
óptica e considerando a actual dinâmica das relações internacionais, reconhece-se que existe a
necessidade de adequar a actividade diplomática à actual conjuntura internacional, a fim de
defender o Interesses Nacional, num cenário em que nos últimos anos a actuação de Angola
tem-se mostrado imprescindível a nível regional e continental.
Para efeitos deste estudo, o centro da abordagem incide apenas na dimensão securitária e
económica da diplomacia nacional ou seja, foca-se na análise dessas duas perspectivas por
considerar que são os dois principais fundamentos da mais recente Política Externa Angolana.
Qualquer país no mundo que disponha de litoral terá de se identificar com o mar, por tudo o
que ele significa para o desenvolvimento e sobrevivência das nações. O “espaço estratégico
associado ao espaço marítimo, cujo controlo, fiscalização e manutenção reforça as
potencialidades de Angola, enquanto actor na cena internacional, contempla todos os espaços
cruciais e de interesse a nível global, que interferem ou influenciam a prossecução dos
interesses nacionais, em que o núcleo duro é constituído pelo "Território Nacional", a "Zona
Económica Exclusiva", o "Espaço Interterritorial" e o "Espaço Aéreo" sob responsabilidade
Nacional” (FERREIRA, 2011, p. 229).
Para Angola, o “Mar adjacente ao seu território constitui um «espaço vital»” (Dias, 2005, p.
72-73), porquanto surge como um elemento de importância geopolítica e geoestratégica para
o país, constituindo um espaço necessário à completa e perfeita realização do Estado, quer a
34
Assim, de forma a haver uma melhor implementação da política externa angolana, preconizando a defesa dos
interesses nacionais, sobretudo a nível político, securitário e económico, Angola detém actualmente mais de 72
embaixadas e representações consulares, espalhadas em vários países, por todos continentes, permitindo uma
maior aproximação a todos os países parceiros. De facto, o chamado «soft power» angolano tem-se mostrado
cada vez mais forte, no que toca à sua intervenção a nível da esfera internacional, permitindo dar uma nova
dimensão ao país, sobretudo nos aspecto geopolítico, geoestratégico e geoeconómico, sendo o último a principal
aposta do país, depois do final da guerra civil.
45
nível interno como no externo, sendo essencial para a prossecução do Interesse Nacional. Tal
como Friedrich Ratzel colocou um acento tónico na importância do Espaço Vital para os
Estados, numa dupla perspectiva de «espaço habitável e de espaço acessível», a presença de
Angola no Mar deve permitir o devido controlo do mar sob sua soberania e/ou jurisdição, a
sua exploração como fonte de riqueza, bem como abrir caminho a uma maior expansão
económica do país pelo controlo das linhas de comunicações marítimas, a garantia do acesso
aos portos nacionais e a afirmação da segurança e defesa neste espaço.
A valorização do mar por parte de Angola tem sido marcada pelo fortalecimento de alianças,
tendo em vista o estabelecimento da paz, segurança e estabilidade no quadro geopolítico em
que faz parte ou seja, no âmbito da ZOPACAS, na região do Golfo da Guiné, na região da
África Central e Austral e no Atlântico Sul como um todo.
Em suma e tal como para outros Estados, para Angola as FAA têm representado uma das
garantias fundamentais de sobrevivência do Estado, apesar de que na actualidade haja cada
vez menos uma relação directa entre a força militar e a condição de segurança, pois a
segurança não está unicamente dependente da força militar, englobando outros sectores da
estrutura do Estado. Portanto, deve ser dentro destes «espaços» que Angola deverá continuar a
definir os seus objectivos, defender os seus interesses, orientar as suas estratégias e projectar a
sua imagem, dentro do quadro geopolítico onde se insere, onde os espaços podem ser
contíguos ou não, mas cujas valências devem ser complementares.
46
estratégica de Defesa Militar no mar evidencia as exigências genéricas de segurança militar da
sociedade nacional, a que as FA devem atender, através da sua Marinha de Guerra em
coordenação com outros Órgãos e Instituições públicas.
Desde logo, “o exercício da soberania e da autoridade do Estado no mar não pode deixar de
constituir uma das principais preocupações e obrigações dos Estados ribeirinhos, quer seja
numa perspectiva de desenvolvimento como numa outra complementar de segurança” (Neves,
2010, p. 13), porquanto o primeiro objectivo da Marinha é óbvio, “...a participação na defesa
do país soberano que quer manter-se independente...” (Sacchetti, 2005a, p. 14), pelo que este
apresenta-se como o principal objectivo da MGA, justificável perante a Nação. Assim:
“a influência do Poder Naval coadjuvado pelo papel das Estratégias Navais surgem
como temas centrais na actualidade, especialmente devido a influência do Poder
Marítimo no século XXI, tendo importância estratégica na conjuntura mundial, uma
vez que a força gerada pelo uso do mar é incontestável, criando um laço forte entre o
Poder Naval e o Poder Económico dos Estados, sendo que para muitos no passado o
mar foi como a internet na actualidade, tendo impulsionado de forma preponderante
a globalização” (DUARTE, 2011, p. 4).
47
XV, tentando “quebrar a orientação geopolítica continentalista da Europa cristã face à Ásia
muçulmana” (Carvalho, 1992, p. 18), utilizou o Mar para atingir as riquezas de África e da
Índia, cercando assim o Médio Oriente Muçulmano através da África Oriental e do Oceano
Índico, materializando a sua importância no processo de desenvolvimento das nações.
Para Angola, enquanto país ribeirinho, o seu desenvolvimento e afirmação no quadro das
relações internacionais passa inequivocamente pela edificação de um «Poder Marítimo, como
reforço saliente do Poder Nacional», tornando-se imperiosa a necessidade dos decisores
políticos e económicos equacionarem recursos, que possam concretizar o devido valor do
Mar, através de um maior investimento nas suas diferentes componentes estratégicas e
económicas, onde a actuação das Marinhas (Mercante e de Guerra) surge como um factor
chave em todo o processo. Por isso, de forma a traçar uma «análise prospectiva sobre o valor
qualitativo do mar para Angola», considerou-se, em simultâneo, por um lado a tese de Alfred
Mahan, que define como principais elementos do Poder Marítimo de um Estado: a posição
geográfica, a configuração física, a extensão do território do Estado, as características da
população, o carácter nacional e o carácter do Governo; e por outro lado, no
35
Para avaliar o Poder Nacional de um Estado interessa analisar o poder efectivo, mas também o poder potencial
segundo os mesmos elementos constitutivos, nomeadamente porque o potencial diferencia-se do efectivo, visto
que este é a revelação da força em certas circunstâncias com vista à obtenção de objectivos concretos, enquanto
o potencial é usado para estabelecer objectivos amplos a serem alcançados a longo prazo (Couto, 1988).
48
variados tipos. Muito mais para um Estado como Angola situado numa área estratégica para
as «rotas marítimas do Atlântico Sul que passam pelo Cabo da Boa Esperança» ou com
destino aos pólos, com acesso fácil ao mar aberto (o que facilita a projecção de forças navais).
Confirma-se assim que a posição geográfica é de tal modo importante, que se torna
indispensável para a análise do panorama actual e previsão de futuros cenários.
Neste contexto, além dos 1 650 km de costa marítima e do potencial em recursos naturais,
importa sublinhar a importância da localização dos portos nacionais, nomeadamente o Porto
de Lobito, um dos maiores portos de águas profundas da África Ocidental, com uma
localização estratégica privilegiada, surgindo como o ponto de escoamento de mercadorias de
um extenso corredor ferroviário que liga o Oceano Indico (cidade da Beira – Moçambique) ao
Oceano Atlântico (Lobito), através do Corredor de Benguela.
Considera-se então que Angola tem potencial para vir a tornar-se, a longo prazo, numa
Potência Regional com consideráveis capacidades marítimas, quer pelas suas potencialidades
marítimas, quer pelas actividades económicas que aí se desenvolvem e outras ainda que
podem ser exercidas, necessitando para tal de uma estrutura nacional e de políticas públicas
capazes de garantir o uso sustentável do mar. Efectivamente, numa Era marcada por
descontinuidades, nos padrões e modelos de desenvolvimento em todo mundo, e nas
49
circunstâncias específicas do desenvolvimento económico angolano, a exploração dos
sectores de actividades associados ao mar aparece como uma possibilidade de exploração de
uma continuidade estrutural que é constituinte da sua realidade estratégica, o Oceano
Atlântico.
De onde se infere que a questão da «Economia do Mar» e de todos os seus segmentos tem de
ser necessariamente objecto de uma nova visão política e da sociedade civil angolana, num
contexto em que o tratamento transversal de todas as actividades e o desenvolvimento
associado de políticas públicas e de iniciativas privadas se torna numa exigência, tendo em
vista que os benefícios do mar e da posição geográfica de Angola não continuem a limitar-se
prioritariamente na exploração de combustíveis fósseis.
Por isso e tal como advogou Virgílio de Carvalho, os países como Angola, “...com grandes
interesses marítimos, ou cuja independência e mesmo sobrevivência dependem
consideravelmente do mar, terão conveniência em adoptar uma Estratégia de utilização do
mar, ou seja do «Sea Use»” (Carvalho, 1982, p. 131), pois os princípios da boa governação
50
dos recursos do mar apontam para a necessidade de uma Política Marítima, fundamentada por
uma Estratégia Marítima36, que englobe todos os aspectos dos oceanos e Mares, e sustentada
por um Planeamento Estratégico Nacional para a Economia do Mar.
36
Segundo o General Cabral Couto (2009), citado por Lourenço (2011, p. 31), para operacionalizar uma
Estratégia para o Mar consistente, deve-se satisfazer quatro questões fundamentais: saber o que se quer; querer
fazê-lo; poder fazê-lo; e saber fazê-lo.
51
VI. CONCLUSÕES
Face a esta realidade, importa responder à questão central sobre: qual o valor do mar, em
termos fluídos, como factor estratégico de Segurança, Defesa e Afirmação do Estado
52
angolano no continente africano? Angola, como um país com uma vasta costa e rica em
recursos naturais, até há alguns anos pouco importante no contexto geopolítico mundial,
encontra-se situada numa região onde convergem vários interesses das principais potências
mundiais – o Atlântico Sul – que tem hoje uma crescente importância económica, mormente
devido às descobertas de grandes reservas de hidrocarbonetos. Neste quadro o Golfo da Guiné
tem um lugar destacado, favorecido pela contínua instabilidade no Golfo Pérsico. Soma-se o
facto de existirem facilidades geográficas de acesso aos portos e ao seu interior através de
ligações ferroviárias, que num futuro muito breve serão melhor apoiadas por infra-estruturas
rodoviárias com os países vizinhos interiores, detentores de reservas de minerais estratégicos,
o que irá aumentar o valor geoestratégico do Mar para os Angolanos.
De uma forma geral, o potencial do Mar afirma-se a vários níveis, enquanto factor estratégico
de segurança, de defesa e de afirmação: ao nível da função transporte e logística, por ser
responsável pelo abastecimento do mercado interno que depende mais do que 90% das
importações; ao nível da função pesca e alimentação, por representar uma fonte de
subsistência de uma parcela da população e de fonte de receitas para a economia nacional; ao
nível da construção naval, por apoiar a indústria marítima, nomeadamente da indústria
petrolífera; ao nível do turismo marítimo enquanto fomentador de uma cultura marítima; ao
nível da função energia e recursos naturais, designadamente da exploração do petróleo
offshore, responsável por mais de 44% do PIB nacional e de aproximadamente 80% das
receitas fiscais públicas e de 98% das exportações; e por último e não menos importante ao
nível da segurança e defesa do Estado, enquanto pilar para a preservação da soberania e de
integridade nacionais.
Neste quadro importará perceber: quais os principais desafios que se colocam ao Estado no
âmbito da Segurança e da Defesa Nacional, de forma a proteger o seu espaço marítimo?
Obviamente que a natureza dos desafios marítimos da actualidade obriga qualquer Estado a
reequacionar a problemática da dimensão marítima da segurança para além dos limites e das
perspectivas realistas e neo-realistas, onde o Interesse Nacional e o vector militar surgem
como elementos delineadores e onde a maior interacção com os atores não-estatais, como as
ONG, OI, ou as empresas multinacionais, constituem pilares para a sobrevivência de Angola.
Neste particular, tendo em conta a vasta área marítima que o Estado angolano precisa de
continuar a proteger, sobretudo caso o processo de extensão da plataforma continental exterior
seja aprovado, existe a necessidade em adaptar o Sistema Nacional de Autoridade Marítima
53
ao novo contexto internacional, contra as ameaças vindas do exterior e proliferadas por
diferentes atores do crime organizado, nomeadamente porque existe a necessidade de proteger
os recursos que existem no mar Haverá então que definir quais são as ameaças mais
relevantes, na perspectiva do Conceito Estratégico Nacional, que devem ser consideradas na
segurança no mar angolano, particularmente porque a situação actual do SFN reflecte a
inexistência de uma posição política consistente perante este problema; bem como de uma
metodologia para a avaliação periódica das suas consequências para os interesses nacionais.
Neste contexto e não ignorando a limitação em termos de recursos relativamente aos desafios,
terá de ser considerado o caso específico da Marinha de Guerra enquanto braço armado do
Estado no mar, pelo que existe a necessidade de prosseguir com a reforma no quadro das RSS
e RSD; o que significará um novo «redimensionamento» na actuação da MGA no mar e no
quadro do SAM, uma remodelação das infra-estruturas nacionais ligadas ao ramo e ao SAM e
um reequipamento da Esquadra Naval. Considera-se que e numa primeira fase, os poucos
recursos disponíveis devem ser utilizados fundamentalmente para a edificação de uma
Marinha de Guerra orientada para o controlo e policiamento dos espaços marítimos sob
responsabilidades do Estado angolano, dedicado sobretudo às missões de segurança e defesa
militar e de autoridade do Estado no mar ou seja, uma Marinha de carácter costeiro
englobando as funções de uma guarda costeira dispondo de alguma capacidade oceânica
(Marinha de Zona), de forma a optimizar melhor os poucos recursos a médio e longo prazo,
que a MGA tem disponíveis. Posteriormente, será de considerar o amadurecimento de uma
doutrina naval de segurança e de defesa dos espaços marítimos, onde a actuação da Marinha
deverá transcender as actuações de carácter puramente militar para uma perspectiva mais
alargada como «Marinha de Duplo Uso», o que implicaria que o Comandante da Marinha
surgisse cumulativamente como a Entidade Superior do SAM, num cenário onde a actuação
harmoniosa entre as instituições desse sistema pudesse surgir como requisito fundamental. De
forma semelhante e porque a Marinha de Guerra não é uma peça isolada neste quadro
institucional de Autoridade Marítima, será de considerar que este processo de 3R deva ser
estendido para as outras Forças com actuação no mar, conjuntamente por um processo de
aproximações concertadas (parceiros internacionais e Estados vizinhos) e participações
estratégicas quer ao nível local, regional e como internacional (SADC, CEEAC, UA,
ZOPACAS, CPLP e ONU); e como vector para o reforço das valias de Angola no âmbito da
segurança e defesa marítimas, no quadro da APSA. Isto porque, os riscos com origens a
ameaças para a Segurança Nacional têm proliferado, num quadro onde a costa ocidental do
54
continente Africano começa a ser uma zona preferencial das acções criminosas,
nomeadamente da pirataria, do narcotráfico, da pesca IUU, do terrorismo marítimo, do
contrabando, do eco crime e de outros riscos que reproduzem ameaças para a segurança, a
soberania e a integridade nacional, e onde exige a necessidade de defender o Interesse
Nacional. Por isso e para o melhor aproveitamento das dinâmicas proporcionadas pelo Mar,
Angola deve adoptar uma Estratégia Marítima, apoiada por uma Estratégia Naval, o que
justifica a necessidade de, a médio e longo prazo, edificar uma indústria de defesa com uma
componente naval associada aos estaleiros, implementar sistemas de vigilância marítima,
fortificar o patrulhamento no mar, e continuar a investir na formação de recursos humanos em
áreas especializadas, como a investigação científica, constituindo assim algumas linhas de
acção estratégica, de forma a dar lugar ao desenvolvimento de todo o sector marítimo.
Destarte, se Angola espera vislumbrar um futuro próspero como parte interessada e integrante
de um mercado emergente no quadro mundial, o País terá de exercer um maior controlo do
seu espaço marítimo, sobretudo porque a segurança marítima é essencial para manter o fluxo
de receitas do petróleo e gás, enquanto grande catalisador para o desenvolvimento nacional.
Deste modo e numa perspectiva de "Geopolítica e Prospectiva", será de considerar a
indissociabilidade entre a segurança marítima e a exploração económica do mar; o que
justifica o fomento do interesse de toda a Nação nas questões de segurança e defesa do mar,
que se traduz num investimento estratégico na exploração e dinamização da economia do mar,
significando por isso para Angola um factor de afirmação, de alavancagem e de diversificação
económica para Angola. Portanto e em confirmação da hipótese 2, o maior combate da
insegurança marítima poderá contribuir para o melhor posicionamento geoestratégico no
âmbito regional e consecutivamente no melhor aproveitamento económico e científico do mar
A concluir pretende-se ainda referir que, por razões de racionalidade na dimensão do texto,
da sua inteligibilidade e especialização, a abordagem apenas focou os elementos que foram
tidos como fundamentais para o expressado valor qualitativo do mar: como elemento de
segurança, defesa e de afirmação de Angola; não tendo sido aprofundados alguns aspectos
relacionados com a segurança e a defesa nacional, como um todo. Assim, tal como referiu
Santo Agostinho embora num contexto diferente, espera-se que deste «pequeno esforço e a
pulso de remos» tenha resultado uma «obra para advertir outros cidadãos e a ela se
acolherem», servindo também de um estímulo para a visão marítima dos Angolanos. Por
último e como "proposta de trabalho futuro", considera-se que um estudo centrado nas
principais estratégias e medidas necessárias e determinantes para a criação de um «cluster da
55
Economia do Mar», seria uma mais-valia para o sector marítimo nacional, pelo que deverão
ser analisados e avaliados os principais activos da Economia do Mar no país, tendo em
consideração os efeitos directos e indirectos destes activos no PIB nacional.
56
VII. RECOMENDAÇÕES
Investir cada vez mais no sector marítimo, para que a longo prazo o mar se perfile como
elemento chave na identidade nacional;
Aos académicos sugerimos que se deve olhar com maior interesse em torno da
geopolítica, abordando cada vez mais esta questão.
57
VIII. BIBLIOGRAFIA
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59
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Nação & Defesa, 2011.
60
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Geográfico. Portugal: Revista Militar, 2008.
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Nação & Defesa, 2011.
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WEIGERT, Hans Werner. Generals and Geographs: The Twilight of Geopolitics. Oxford:
University Press, 1942.
61
ANEXOS
I
Anexo I: Mapa de Angola
II
Anexo II: Mapa topográfico de Angola
Fonte: www.gov.ao
III