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A tradução de On the Road

A tradução contracultural de On the Road:


Contra a diferença
Thelma Médice Nóbrega

Slides: Leonardo Boiko

Universidade de São Paulo

2011

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A tradução de On the Road
Introdução

1 Introdução à literatura Beat


A literatura Beat
On the Road

2 Pé na Estrada: On the Road no Brasil


Projeto dos tradutores
A contracultura
Impacto cultural na tradução

3 Conclusões

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A tradução de On the Road
Introdução
A literatura Beat

A literatura Beat

Jack Kerouac (On the Road, Dharma Buns, Book of Haikus…)


William S. Burroughs (Naked Lunch, Junkie, Queer…)
Allen Ginsberg (Howl, Kaddish, The Fall of America…)

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A tradução de On the Road
Introdução
A literatura Beat

Elementos da literatura Beat:


Não-conformismo/individualismo. Rejeição da cultura branca
dominante, do “sonho americano” de sucesso financeiro.
Valorização das culturas minoritárias: negra, queer, sem-teto,
imigrante…
Religiões orientais (Zen, budismo, hinduísmo)

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A tradução de On the Road
Introdução
A literatura Beat

Expressão literária direta, espontânea, franca, sem censura ou


artificialidade
Jazz, fluxo de consciência, escrita automática, método cut-up
Experimentação formal
Liberdade de expressão
Hedonismo
Drogas: papel recreativo, místico, ou como ferramenta
(anfetaminas, alucinógenos)
Sexualidade livre
Homossexualismo vs. censura

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A tradução de On the Road
Introdução
A literatura Beat

Influências:
Romantismo (Shelley, Blake…)
Walt Whitman
Surrealismo francês
Oriente

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A tradução de On the Road
Introdução
A literatura Beat

Foi influente para:


Beatniks (50–60, EUA)
Hippies (60, EUA)

Contracultura brasileira (80)

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A tradução de On the Road
Introdução
On the Road

On the Road

Rolo datilografado de 36 metros


Planejado por 3 anos; escrito em 20 dias
“Prosa espontânea”
Improvisação do bebop
Kerouac quis evitar revisão (mas teve revisão)
Características apenas do rolo original:
Sem parágrafos, seções, capítulos
Homossexualidade
Nomes reais

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A tradução de On the Road
Introdução
On the Road

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A tradução de On the Road
On the Road no Brasil
Projeto dos tradutores

Pé na Estrada: On the Road no Brasil

1984: Eduardo Bueno e Antonio Bivar


Apresentação dos tradutores:
Então, fui co-traduzindo assim: sendo mais amadurecido,
contornei o estilo para que o resultado fosse fiel à cor local do
original: o clássico que já é. Santo Jack Kerouac do céu nos
sorria aprovando a dupla perfeita para a tarefa.

Autor/original divinizado
Tradutor como servo/mensageiro fiel
Pretensão de fidelidade, de resgate do “verdadeiro sentido”
→ Estratégia para tornar invisível as crenças e posições do
tradutor
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A tradução de On the Road
On the Road no Brasil
A contracultura

Leitura brasileira: contracultura


On the Road: vinculado à cultura jovem
Objeto de consumo “alternativo”
Minimização de pretensões literárias e “espirituais”
Equiparação dada pelos tradutores:
Depois foi a contracultura da segunda parte da década
em diante, com o hippieton e todos nós na estrada na
trilha de Kerouac e do advento da psicodelia.

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A tradução de On the Road
On the Road no Brasil
A contracultura

Contracultura brasileira, segundo Luciano Martins:


Juventude
Transgressão
Identidade de grupo
Abandono da individualidade
Rejeição de tudo que não se enquadra na “cultura jovem”

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A tradução de On the Road
On the Road no Brasil
Impacto cultural na tradução

Impacto cultural na tradução

Uniformização: todos com a mesma voz—gíria jovem do sul-sudeste


brasileiro na década de 80
“Where you going?”
“Denver.”
“I can take you a hundred miles up the line.”
“Grand, grand, you saved my life.”
“I used to hitchhike myself, that’s why I always pick up a fellow.”
“I would too if I had a car.”

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A tradução de On the Road
On the Road no Brasil
Impacto cultural na tradução

“Prá onde você tá indo?”


“Denver.”
“Posso te levar uns 200 quilômetros.”
“Grande, cara, grande. Você acaba de me salvar a vida.”
“Eu também costumava pegar carona, por isso sempre
dou uma força para a rapaziada que encara a estrada.”
“Eu faria o mesmo, se tivesse uma caranga.”

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A tradução de On the Road
On the Road no Brasil
Impacto cultural na tradução

Atenuação da literariedade:
But then they danced down the streets like dingledodies, and I
shambled after as I’ve been doing all my life after people who
interest me, because the only people for me are the mad ones,
the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved,
desirous of everything at the same time, the ones who never
yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn like
fabulous yellow roman candles exploding
like spiders across the stars and in the middle you see
the blue centerlight pop and everybody goes “Awww!” What did
they call such young people in Goethe’s Germany?

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A tradução de On the Road
On the Road no Brasil
Impacto cultural na tradução

Mas nesta época eles dançavam pelas ruas como


piões frenéticos e eu me arrastava na mesma direção como
tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de
pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo
são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar,
loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo,
aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas
queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício
explodindo como constelações em
cujo centro fervilhante pop pode-se ver um brilho azul e intenso
até que todos caiam no “aaaaaaah!” Como é mesmo que eles
chamavam esses garotos na Alemanha de Goethe?

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A tradução de On the Road
On the Road no Brasil
Impacto cultural na tradução

Ainda segundo Martins: Reprodução de valores dominantes, como o


sexismo. Quase todos os adjetivos sobre mulheres são vertidos
como “gostosa”:
But, outside of being a sweet little girl […]

Só que além de gostosa […]

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A tradução de On the Road
Conclusões

Possibilidades de leitura:
Contracultural: juventude, transgressão, identidade de grupo,
hippies, aventuras
Romântica: Whitman, Shelley, Blake, misticismo, boemia
Artística/experimental: Joyce, Pollock, bebop, surrealismo,
Duchamp
Pós-moderna: fracasso da estrutura narrativa, fragmentação,
ausência de sentido, différance

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A tradução de On the Road
Conclusões

Conclusões

O sentido será sempre condicionado pelas condições históricas


e culturais de cada tradutor.
As idéias de “significado verdadeiro” e de “tradução fiel” são
usadas para remover a visibilidade do tradutor e ocultar seus
próprios valores.

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A tradução de On the Road
Conclusões

Referências

NÓBREGA, T.M. A tradução contracultural de On the Road:


contra a diferênça. Trabalhos em Lingüística Aplicada, Campinas,
nº 19, p. 83–89, 1992.
MARTINS, L. A Geração AI-5. Ensaios de Opinião, Rio de Janeiro,
1979.
Harry Hanson Center. The Scroll Manuscript of On the Road.
Disponível em:
http:
//www.hrc.utexas.edu/exhibitions/2008/scroll/ .
BEATON, K. Hark! A Vagrant, nº 228. Disponível em:
http://www.harkavagrant.com/index.php?id=228
BUSHMILLER, E. Nancy, v. 4. 1991.
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A tradução de On the Road
Conclusões

Download dos slides e lista completa das referências:

http://namakajiri.net/letras/ontheroad

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