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FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 1

NOME: _____________________________________ N.º: ______ TURMA: _________ DATA: _________

GRUPO I

Leia com atenção o excerto do poema «Num bairro moderno», de Cesário Verde. Em caso de
necessidade, consulte as notas apresentadas.

Do patamar1 responde-lhe um criado: «Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!»


«Se te convém, despacha; não converses. E recebi, naquela despedida,
Eu não dou mais.» E muito descansado, As forças, a alegria, a plenitude,
Atira um cobre ignóbil,2 oxidado, Que brotam dum excesso de virtude
5 Que vem bater nas faces duns alperces. 30 Ou duma digestão desconhecida.

Subitamente, — que visão de artista! — E enquanto sigo para o lado oposto,


Se eu transformasse os simples vegetais, E ao longe rodam umas carruagens,
À luz do sol, o intenso colorista, A pobre afasta-se, ao calor de agosto,
Num ser humano que se mova e exista Descolorida nas maçãs do rosto,
10 Cheio de belas proporções carnais?! 35 E sem quadris na saia de ramagens.

[…] […]

As azeitonas, que nos dão o azeite, Chegam do gigo emanações sadias,


Negras e unidas, entre verdes folhos, Oiço um canário — que infantil chilrada! —
São tranças dum cabelo que se ajeite; Lidam ménages entre as gelosias.
E os nabos — ossos nus, da cor do leite, E o sol estende, pelas frontarias,
15 E os cachos de uvas — os rosários de olhos. 40 Seus raios de laranja destilada.

[…] E pitoresca e audaz, na sua chita,


O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
O sol dourava o céu. E a regateira, Duma desgraça alegre que me incita,
Como vendera a sua fresca alface Ela apregoa, magra, enfezadita,
E dera o ramo de hortelã que cheira, As suas couves repolhudas, largas.
Voltando-se, gritou-me, prazenteira:
20 «Não passa ninguém!… Se me ajudasse?!…» [...]
Eu acerquei-me dela, sem desprezo;
E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantámos todo aquele peso
Que ao chão resistia preso,
25 Com um enorme esforço muscular.

CESÁRIO VERDE, Poesia completa — 1855-1886, edição de Joel Serrão, Lisboa, Dom Quixote, 2001.

(1) patamar: rés do chão.


(2) ignóbil: na edição utilizada, a de Joel Serrão, encontramos o termo «ignóbil»; noutras edições, porém, o termo é
substituído por «lívido». «Ignóbil» significa «desprovido de nobreza; que mostra baixeza moral; vil; desprezível».

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 11.º ano • Material fotocopiável • © Santillana


Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. O carácter deambulatório e a linguagem poética impressionista são duas características da


poesia de Cesário Verde. Mostre como estas características estão evidenciadas nas estrofes
apresentadas.

2. Explique em que consiste a «visão de artista» (v. 6).

3. Demonstre que, neste excerto de «Num bairro moderno», a análise do real é indissociável de uma
intenção crítica.

Leia o excerto do Capítulo 11 da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes. Em caso de necessidade,


consulte as notas apresentadas.

A gente começou de se juntar a ele [Alvaoro Paaez], e era tanta que era estranha cousa de ver. Nom
cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom lugares escusos, desejando cada uu de seer o primeiro. E pre-
guntando uns aos outros quem matava o Meestre, não minguava1 quem respondesse que o matava o conde
Joam Fernandez, per mandado da Rainha.
5 E por voontade de Deus, todos feitos duum só coraçom com talente 2 de o vingar, como forom aas
portas do Paaço que eram já çarradas ante que chegassem, com espantosas palavras começarom de dizer:
— Onde matom o Mestre? que é do Mestre? quem çarrou estas portas?
Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certificavom que o Meestre era
morto, pois as portas estavam çarradas, dizendo que as britassem para entrar dentro, é veeriam que era do
10 Mestre, ou que cousa era aquela.
Deles3 braadavom por lenha e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e queimar o treedor e
a aleivosa. Outros se aficavom pedindo escadas pera subir acima, pera veerem que era do Meestre, e em
todo isto era o arroido4 atam grande que se non entendiam uus com os outros nem determinavom neua
cousa. E nom soomente era isto aa porta dos Paaços, mas ainda arredor deles per u homees e molheres
15 podiam estar. […]
Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia mais, disserom
que fosse sua mercee de se mostrar aaquelas gentes, doutra guisa 5 poderiam quebrar as portas, ou lhe
poer fogo, e entrando assi dentro per força, nom lhe poderiam depois tolher6 de fazer o que quisessem.

FERNÃO LOPES, Crónica de D. João I, ed. de Teresa Amado, Lisboa, Editorial Comunicação, 1992.

(1) minguava: faltava.


(2) talente: propósito.
(3) deles: alguns.
(4) arroido: ruído, barulho.
(5) guisa: maneira.
(6) tolher: impedir.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Comprove, recorrendo a expressões textuais, que as várias ações da «gente» denotam uma
preocupação genuína com o «Meestre».

2. Explique como a expressividade do verbo «acender» (linha 17) contribui para realçar a
importância da «gente» no desenrolar dos acontecimentos.

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GRUPO II

Leia a transcrição do discurso proferido por Abraham Lincolnno Cemitério Militar de Gettysburg, a 19 de
novembro de 1863. Em caso de necessidade, consulte as notas apresentadas.

Há oitenta e sete anos,1 os nossos pais criaram neste continente uma nova nação, concebida em liber-
dade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais.
Agora, estamos mergulhados numa grande guerra civil,2 colocando à prova se esta nação, ou qualquer
outra assim concebida e consagrada, pode perdurar. Eis-nos no lugar onde se travou uma das grandes
5 batalhas desta guerra. Estamos aqui para consagrar uma parte desse campo ao eterno repouso daqueles
que deram as suas vidas por esta nação. É justo e correto que o façamos.
Porém, a verdade é que não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este
solo. Os homens valentes que aqui combateram, os que morreram e os que sobreviveram já o consagraram,
independentemente do valor que possamos acrescentar ou retirar. O mundo pouco atentará e brevemente
10 recordará o que aqui dissermos hoje, mas não esquecerá o que estes homens aqui fizeram.
Cabe-nos antes a nós, os vivos, comprometermo-nos a levar a cabo a obra inacabada de quem lutou
e que com tanta nobreza a fez avançar. Cabe-nos antes a nós comprometermo-nos a levar a cabo a grande
tarefa que temos pela frente; a nós, que devemos emular a grande devoção à causa destes mortos que hoje
honramos e pela qual ofereceram o derradeiro sacrifício; a nós, que temos nas nossas mãos a possibilidade
15 de fazer com que a sua morte não tenha sido em vão, fazermos com quem esta nação, com a graça de
Deus, veja renascer a liberdade e garantirmos que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais
desapareça da face da Terra.

Transcrição do discurso em Grandes Entrevistas da História 1865-1899, I, edição


de Ana Marques, Jornal Expresso, 2014, pp. 18-19.

(1) 1776 foi o ano em que os Estados Unidos se tornaram uma nação independente.
(2) Guerra Civil Americana ou Guerra da Secessão.

1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.6, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

1.1. O discurso de Abraham Lincoln foi proferido num contexto em que


(A) se celebra o nascimento de uma nação.
(B) a jovem nação americana enfrenta uma guerra civil.
(C) o povo se revoltara contra os que o oprimiam.
(D) a guerra civil está iminente.
1.2. Podemos concluir que a expressão «os nossos pais» (linha 1) se refere
(A) aos que participam na guerra civil.
(B) aos que Lincoln pretende homenagear no seu discurso.
(C) aos pais daqueles a quem o discurso de Lincoln é dirigido.
(D) aos fundadores da nação americana.
1.3. A expressão «eterno repouso» (linha 6) configura uma
(A) metáfora.
(B) hipérbole.
(C) ironia.
(D) eufemismo.
1.4. No parágrafo que se inicia com o advérbio conectivo «porém» (linha 8), o orador introduz a ideia
de que
(A) as suas palavras perdurarão assim como a memória dos que morreram.
(B) só as palavras — e os grandes discursos — são imortais.
(C) as palavras podem ser esquecidas, mas a memória de um feito grandioso permanece.
(D) as palavras ajudarão a consagrar o espaço onde os «homens valentes» (linha 9)
combateram.

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1.5. Ao longo do último parágrafo, o orador recorre
(A) à anáfora e ao paralelismo sintático.
(B) à ironia.
(C) à aliteração.
(D) à interrogação retórica.
1.6. Segundo o orador, é possível dar significado aos que morreram
(A) através da comemoração de datas importantes.
(B) dando continuidade ao sonho pelo qual lutaram.
(C) assinalando os espaços onde perderam a vida.
(D) lembrando a sua memória.

2. Identifique a função sintática das expressões.

a) «neste continente» (linha 1)


b) «justo e correto» (linha 6)

3. Transcreva um deítico presente na frase: «Os homens valentes que aqui combateram, os que
morreram e os que sobreviveram, já o consagraram […]» (linhas 9 e 19)

4. Identifique o tipo de coesão assegurada pelo vocábulo «porém» (linha 8).

GRUPO III

Na poesia de Cesário Verde, coexistem diferentes retratos femininos, correspondendo a figuras com
comportamentos e papéis sociais diversos.
Redija um texto expositivo, com cento e trinta (130) a cento e setenta (170) palavras, em que explique o
contraste entre duas figuras femininas descritas em poemas que estudou.

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