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Solução para a paz : entendendo o Oriente Médio / [organização: Comissão Nacional de Direitos Humanos;
coordenação Abraham Goldstein] . – São Paulo : Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith do Brasil, 2009.
Vários autores.
Bibliografia.
09-04473 CDD-956
ISBN: 978-85-62655-00-5
1.ª edição publicada em junho de 2009.
Introdução
Lia Bergmann
4 Xiitas – Defensores de que Ali, primo e genro do profeta Mohamed (Maomé), era seu sucessor. São maioria no
Irã. Veja mais no Capítulo 3.
5 Sunitas – Seguidores da “suna” (prática) do profeta Mohamed, tal como relatado por seus companheiros. Repre-
sentam 85% dos muçulmanos. Veja mais no Capítulo 3.
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TERRITÓRIO PALESTINO
Conforme acordos estabelecidos internacionalmente, mas não aceitos na integralidade
pelos representantes dos palestinos, o território está distribuído em duas regiões:
• Cisjordânia 6 – Com área de 5.860 km2, tem cerca de 2,5 milhões de habitantes, entre os
quais 75% são muçulmanos sunitas, 17% judeus e 8% cristãos e outros. Sua capital ad-
ministrativa é Ramalah. Hoje a região está sob o controle político da Autoridade Nacional
Palestina (ANP), comandada pelo Fatah e apoiada pela Organização das Nações Unidas e
seus principais membros.
• Faixa de Gaza 7 – Ocupa uma área de 360 km2 e possui cerca de 1,5 milhão de habitantes
(2007), sendo 99,3% muçulmanos e 0,7% cristãos. Sua principal cidade chama-se Gaza
e tem sido controlada, desde 2005, pelo Hamas, partido de oposição ao Fatah. O Hamas
é um movimento fundamentalista islâmico intolerante, considerado pela União Europeia
e pelos Estados Unidos uma organização terrorista.
Os palestinos têm renda per capita de US$ 1.100 por ano.
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil. Este Capítulo
contou com a colaboração dos demais autores desta obra. Agradecimento especial a Adriana Dias, que elaborou as
tabelas 1 e 2.
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“Sábio é aquele que aprende com todos os homens.” (Pirkei Avot 4,11)
Lia Bergmann
Introdução
A Terra de Israel está ligada indissoluvelmente ao povo judeu. Foi onde a his-
tória desse povo teve início, há 3.700 anos, e durante todos esses séculos nela se
manteve presente. Mesmo quando escravizados, expulsos, vivendo no exílio ou
na Diáspora (dispersão), os judeus nunca se esqueceram de sua terra e sempre
sonharam com o retorno. Apesar de essa região ter sido ocupada por numerosos
conquistadores, nenhum outro povo ali viveu de forma independente ou a consi-
derou o centro de sua existência nacional.
Apenas 1.700 anos depois do estabelecimento dos judeus na Terra de Israel,
esta foi conquistada pelos árabes, no século VII d.C., ou seja, 700 anos depois
do nascimento de Jesus e 400 do advento do cristianismo. Jesus nasceu, viveu e
morreu como judeu, na época do domínio romano.
A Terra de Israel recebeu diversos nomes no decorrer do tempo. Na Antigui-
dade era chamada de Canaã, depois de Judeia2, a terra dos judeus (de Judá), e
muito mais tarde, sob o domínio romano, no século I d.C., foi denominada pela
primeira vez Palestina. Na época, era a pátria dos judeus, habitantes majoritários
da Judeia, e, portanto, o termo “palestino” se referia aos judeus que lá nasciam
e moravam. Mesmo assim, nos séculos seguintes a região era conhecida como
Terra Santa ou Terra de Israel.
A cidade de Jerusalém se tornou a capital da Terra de Israel há cerca de 3 mil
anos, com o rei David, e até hoje nunca foi a capital de outro povo que não o
judeu. É mencionada mais de setecentas vezes nas Escrituras Sagradas (Bíblia
– Antigo Testamento), mas aparece apenas uma vez no Corão, o livro sagrado dos
muçulmanos. É a cidade mais sagrada para o judaísmo e a terceira para o isla-
mismo, depois de Meca e Medina. Em todas as orações os judeus se voltam para
Jerusalém; os muçulmanos, para Meca. Hoje, é uma cidade sagrada para judeus,
cristãos e muçulmanos, que têm seus locais históricos e de culto preservados
pelas autoridades israelenses.
1 Pirkei Avot – Ética dos Pais. 5. ed. São Paulo: B’nai B’rith do Brasil, 1990. O texto foi escrito há mais
de 2 mil anos.
2 Judeia (do latim Judaea, Terra de Judá) – O nome aparece no tempo dos macabeus, passando, em
62 a.C., a designar toda a Palestina. Em 153 d.C., após a derrota da revolta judaica de Bar Kochba,
foi rebatizada de Palestina pelos romanos. Judeia também se aplica à parte meridional do país.
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Para o povo judeu, a própria cidade é santa. Escolhida por Deus em sua aliança com
David, Jerusalém é a essência e o centro da existência e continuidade espiritual e nacional
judaicas. Há quase 2 mil anos os judeus se voltam na direção de Jerusalém e do Monte do
Templo quando rezam, onde quer que estejam.
Assim como os muçulmanos devem peregrinar para Meca, o Muro Ocidental, conhecido
como Muro das Lamentações (remanescente do Segundo Templo de Jerusalém) por ser o lo-
cal mais sagrado do judaísmo, é o lugar de peregrinação (como era na Antiguidade) nas três
principais festas do calendário religioso judaico: Pessach (fim da escravidão do Egito), Shavuot
(Pentecostes, a “Festa das Semanas”) e Sucot (Festa da Colheita). No Pessach, a narrativa que
lembra a libertação dos judeus da escravidão no Egito termina com as seguintes palavras:
“No ano que vem em Jerusalém”.
Na Terra de Israel o povo judeu formou sua identidade cultural, religiosa e nacional e nela
manteve ininterruptamente sua presença física. Mesmo depois da Diáspora, o exílio forçado,
não deixou de ter forte ligação com sua terra, cuja independência foi recuperada em 1948.
Durante esse período sempre houve comunidades judaicas na Terra de Israel.
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Cruzadas (1099-1291)
As Cruzadas foram expedições militares, em nome da Igreja Católica, realizadas na Idade
Média contra o domínio do Islã, combatendo os “infiéis”, denominação dada na época aos
que não fossem cristãos. A Primeira Cruzada, ordenada pelo papa Urbano II, para libertar Je-
rusalém, teve início em 1095. Os cruzados tomaram a cidade em 1099, dizimando também
a população judaica local. Formou-se o Reino Latino dos Cruzados. Com a abertura das rotas
de transporte da Europa, multiplicaram-se as peregrinações à Terra Santa e muitos judeus
retornaram a sua pátria, entre eles trezentos rabinos da França e da Inglaterra. Em 1187,
quando o exército muçulmano de Saladino derrotou os cruzados, foi possível aos judeus
voltar a morar em Jerusalém, onde permaneceram até a chegada dos mamelucos.
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4 Kibutzim (plural de kibutz, que em hebraico significa “reunir”) – Colônias comunitárias em Israel, no início pre-
dominantemente agrícolas.
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Bibliografia sugerida
ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI Nelson. Toda a História. 13. ed. São Paulo: Ática, 2007.
BAHAT, Dan. Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel – As gerações esquecidas. São Pau-
lo: B’nai B’rith do Brasil, 2002.
BEREZIN, Rifka (Org.). Caminhos do Povo Judeu. São Paulo: Vaad Hachinuch, 1982.
BLECH, Benjamin. Judaísmo. São Paulo: Sêfer, 2004.
EBBAN, Aba. História do Povo de Israel. Rio de Janeiro: Bloch, 1971.
Enciclopédia Judaica.
GRANADOS, Jorge Garcia. Assim Nasceu Israel. São Paulo: Sêfer, 2008.
“Israel: 4.000 anos de história”. Revista da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Israel, São
Paulo, 2001.
Revista Shalom.
UNTERMAN, Alan. Dicionário Judaico – Lendas e tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
WOOL, Danny; YUDIN, Yefin. O Ano Judaico. São Paulo: Sêfer, 2007.
Sites
Estudos Bíblicos: http://www.panoramabiblico.blogspot.com.
Estudos Judaicos: http://www.estudosjudaicos.blogspot.com.
História das Religiões e Religiosidades: http://www.religioesereligiosidades.blogspot.com
Língua Hebraica: http://www.linguahebraica.blogspot.com.
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Facul-
dade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.
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• A Arábia Feliz (em latim, Arabia Felix) era um território da Ásia que correspondia aos
atuais Iêmen e Omã, formada por tribos sedentárias cujas principais atividades econô-
micas eram a agrícola e a mercantil, nas regiões litorâneas da Península Arábica. Na
Antiguidade, a Arábia Feliz se diferenciou como grande exportadora de mirra. A água
nessa região, ao contrário das outras duas, não era escassa, tendo sido muito aproveita-
da no cultivo dos campos.
A expansão do islamismo
No final do século VII, motivada por seu enorme crescimento demográfico, a população
islâmica utilizou como justificativa para a expansão territorial um preceito religioso: para
eles, todo seguidor de Mohamed deveria agir como um guerreiro encarregado de levar a fé a
todos os “infiéis” (o que recebeu o nome de jihad). Comandados pelos califas, os seguidores
dessa religião expandiram seus locais de domínio por vastas áreas do Mediterrâneo, até se-
rem detidos na Europa por Carlos Martel, do reino franco, em 732. Durante quase mil anos
controlaram a navegação e o comércio no Mediterrâneo, bloqueando o acesso dos europeus
ao comércio com o Oriente. Em meados do século VIII, o Império Islâmico começou a dar
os primeiros sinais de decadência. Isso se deveu a vários fatores: primeiro, porque as diver-
sas dinastias muçulmanas brigavam pelo poder dos califados, e, quando a dinastia principal,
a Omíada, responsável pelo apogeu expansionista, foi substituída pela dinastia dos Abássi-
das, o Império foi totalmente fragmentado, em califados independentes. Houve também o
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A fé islâmica
O mais importante fundamento da fé islâmica é a crença rigorosa no monoteísmo. Cada
capítulo do Corão (com exceção de um) principia com a frase “Em nome de Deus, o bene-
ficente, o misericordioso”. O islamismo destaca seis grandes elementos cruciais de fé:
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As divisões do islamismo
As principais divisões ou correntes islâmicas são a sunita e a xiita, e sua maior diferença
é determinada pela interpretação da sucessão de Mohamed. Durante sua vida, o profeta não
determinou nem quem o sucederia, nem como seria a escolha do sucessor. Isso causou a di-
visão do islamismo, quando a comunidade islâmica mergulhou numa guerra civil, após a morte
de Mohamed, que deu origem a três grupos: os sunitas, os xiitas e os caridjitas.
• Os sunitas, que representam 85% dos muçulmanos, aceitaram essa sucessão, denomina-
da tradição do profeta (suna), tal como relatada por seus companheiros (a sahaba).
• Os xiitas defendiam que Ali, primo e genro de Mohamed, deveria ser o grande califa, que
em árabe quer dizer “sucessor”.
• Os caridjitas primeiro apoiaram a posição dos xiitas, atribuindo a Ali o lugar de único
sucessor legítimo de Mohamed. Decepcionados com Ali, por não ter declarado guerra
ao califa sunita, entenderam que isso representava uma traição a seu legado por Deus.
Posteriormente, Ali foi assassinado pelos caridjitas com uma espada envenenada.
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O islamismo hoje
1 Originários da Península Arábica, os árabes se espalharam, a partir do século VII, em uma grande corrente migra-
tória provocada pela expansão do islamismo. O principal fator que os une, porém, não é a religião, mas a língua,
que pertence ao tronco semítico, assim como o hebraico.
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Os árabes na Palestina
O nome
Existem duas versões para a origem do nome “Palestina”. A primeira é que a palavra
viria do hebraico “Peleshet”, que significa divisor, invasor. Ela é traduzida como “Falastin”,
denominação que os árabes usam atualmente para “Palestina” (na língua árabe não há o
som de “p”). No século I d.C., os romanos destruíram o reino independente da Judeia.
Após uma revolta frustrada dos judeus no segundo século, o imperador romano Adriano
determinou que a identidade de Israel com a região fosse negada/obscurecida, impondo o
nome “Palestina” para toda a terra judaica e rebatizando Jerusalém de “Aélia Capitolina”.
Os romanos mataram milhares de judeus e expulsaram ou venderam como escravos outras
centenas de milhares.
A outra versão é que a palavra “Palestina” derivaria do grego “Philistia”, nome dado pe-
los autores da Grécia Antiga a essa região, devido ao fato de em parte dela se terem fixado no
século XII a.C. os filisteus. Os filisteus não eram semitas e sua provável origem é creto-mice-
niana, oriundos, portanto, do litoral sul do Mar Mediterrâneo, de tal forma que os filisteus
não poderiam ser ascendentes dos atuais palestinos, que são de etnia semita (árabe).
É muito importante notar: os judeus viviam na Terra de Israel havia mais de 3.700 anos,
os judeus é que eram chamados de “palestinos” na época dos romanos e não há nenhum
povo na Palestina hoje que se origine no litoral sul do Mar Mediterrâneo.
A história
A área que correspondia ao Mandato Britânico da Palestina foi dividida pelos ingleses,
tendo o Rio Jordão como fronteira, criando-se a Transjordânia, hoje Jordânia. O restante,
correspondente à Palestina até 1948, encontra-se hoje dividido em três partes: uma delas in-
tegra o Estado de Israel e as duas outras abrangem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, de maioria
árabe-palestina, que deveriam integrar um Estado Palestino a ser criado, de acordo com a
lei internacional, bem como as determinações das Nações Unidas e da anterior potência
colonial da região, o Reino Unido.
A Terra de Israel, por conta de sua localização, um estreito trecho de favorável passagem
entre África, Ásia e Europa, sempre foi almejada por muitos conquistadores, pelos mais va-
riados povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.
A presença de árabes na Terra de Israel iniciou-se no ano 614, quando a região foi con-
quistada pelos persas sassânidas, que mantiveram seu domínio até 628, sendo sucedidos em
638 pelo domínio árabe muçulmano. De 1517 a 1917, o Império Otomano controlou toda
a região (incluindo Síria e Líbano).
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano apoiou a Alemanha e acabou
derrotado com a ajuda de povos árabes que auxiliavam as tropas aliadas. Esses povos árabes
receberam a promessa da constituição de um Estado árabe independente no Oriente Mé-
dio. Foram criados vários Estados árabes após o período de mandatos britânico e francês. A
Assembleia Geral das Nações Unidas determinou a Partilha da Palestina (os 25% ainda em
disputa) entre um Estado judeu e outro árabe com base na concentração das populações,
por meio da Resolução 181.
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A Irmandade Muçulmana
Dentro do islamismo, uma das interpre-
tações mais radicais das práticas religiosas
foi concebida pela Irmandade Muçulmana.
Fundada no Cairo, em 1928, por Hasan al-
-Bana e seus colegas de estudo, defendia,
inicialmente, reformas morais e espirituais.
Suas principais formas de atuação concen-
travam-se na educação e na propaganda,
especialmente durante sua primeira década
de existência. Seu matiz ideológico princi-
pal constitui-se na união de credo e Estado
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(livro e espada), juntamente com o retorno à pureza do Islã, o sacrifício extremo pela
causa, a unificação do mundo islâmico sob a autoridade exclusiva do Corão, a rejeição aos
valores e ao colonialismo das potências ocidentais. Em oposição às ideias leigas, modernas
e ocidentais, essa interpretação afirma que, a fim de formar um Estado islâmico puro, os
valores da tradição e religião islâmicas devem desempenhar papel central na vida econô-
mica, social e política.
O principal objetivo da Irmandade Muçulmana era libertar a pátria islâmica do controle
dos estrangeiros e infiéis, estabelecendo um Estado islâmico unificado (o califado) em to-
dos os territórios que estiveram em alguma época sob o domínio árabe, como, por exem-
plo, a Espanha. A Irmandade foi um dos primeiros grupos a invocar a jihad contra todos os
não seguidores do islamismo. Jihad é um conceito essencial da religião islâmica. Pode ser
entendida como a luta, mediante vontade pessoal, para buscar e conquistar a fé perfeita.
Há opiniões divergentes quanto às formas de ação que são consideradas jihad. O fenômeno
do fundamentalismo islâmico, uma forma de oportunismo político de alguns grupos, se
aproveitou da noção de jihad, desvirtuando o Islã para torná-lo um fator de ação política em
proveito próprio. O lema da Irmandade Muçulmana era: “Alá é o nosso objetivo. A mensa-
gem é o nosso líder. O Corão é a nossa lei. A Guerra Santa é o nosso caminho. Morrer no
caminho de Alá é a nossa maior esperança”.
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Bibliografia sugerida
BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,
2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Facul-
dade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.
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O caso Dreyfus
O antissemitismo continuou crescendo por toda a Europa, de maneira vigorosa. Um
dos mais fortes exemplos desse crescimento pode ser observado em um caso considerado
por muitos o mais severo erro judiciário dos tempos modernos: o caso Dreyfus. O drama
do capitão Alfredo Dreyfus, judeu, oficial do Estado-Maior francês, se iniciou, no final de
1894, com a acusação de que ele estaria fornecendo documentos militares aos alemães. O
veredicto, condenatório, determinou a pena de deportação perpétua para a Ilha do Diabo.
O mais grave no caso – o processo fraudulento conduzido a portas fechadas, que culmi-
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nou na condenação unânime de Dreyfus e em sua difamação pública – foi o fato de que,
mesmo quando se provou a inocência do acusado e que toda a condenação se baseava em
documentos falsificados, os coordenadores do processo, oficiais de alta patente franceses,
ainda decidiram, por todas as formas, ocultar o terrível e absurdo erro judicial. A definitiva
revisão do processo de Dreyfus aconteceu em 1906, quando se revelou, finalmente, que
Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, também oficial do Exército francês, escrevera as cartas
erroneamente atribuídas a Dreyfus e era, portanto, espião dos alemães. Contudo, embora
reconduzido à vida militar, os anos de prisão de Dreyfus não lhe foram restituídos como
tempo de carreira, o que o obrigou a uma dolorosa demissão em 1907.
O Holocausto
No entanto, com a ascensão do Partido
Nazista na Alemanha, o antissemitismo se
tornou uma função do Estado. As bases para
o Holocausto haviam sido lançadas.
Apesar do aumento da imigração de ju-
deus para a Palestina, as maiores comuni-
dades judaicas estavam na Europa, algumas
desde a época do Império Romano. Com o
advento do nacional-socialismo, a Alemanha
se tornou um regime nazista. Durante a Se-
gunda Guerra Mundial, o antissemitismo do
regime hitlerista levou mais de 6 milhões de Milhões de judeus foram aprisionados nos
judeus (dois terços da população judaica da campos de concentração nazistas.
Europa) à morte, em campos de concentração e extermínio, fato que ficou conhecido histo-
ricamente como Holocausto. A forte e perversa propaganda nazista induziu a população ale-
mã ao ódio pelos judeus, de modo a convencer as pessoas a denunciá-los, objetivando sua
eliminação. Em 1933, na Alemanha, promulgou-se a lei que retirava dos judeus qualquer
proteção do Estado. Como consequência, não era necessário nenhum motivo para prendê-
los e enviá-los aos campos de concentração.
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Posteriormente, nos campos de extermínio surgiram as câmaras de gás, cujo objetivo era
tornar o processo de assassinato em massa mais eficiente, rápido e menos pessoal para os
executores. Nelas, imensos espaços fechados que recebiam gás letal, pessoas eram amontoa-
das para morrer por asfixia. Somente no campo de Birkenau existiam quatro câmaras de gás,
dentro do complexo de Auschwitz. Para descrever essa perseguição violentíssima, cunhou-
-se, depois da Segunda Guerra Mundial, o termo “genocídio”. A Itália, sob o fascismo, tam-
bém promulgou leis raciais, a partir de 1938, perseguindo e matando judeus.
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1. Identificação/definição – Produziam-se
listas de judeus, e estes eram identifi-
cados e discriminados; vários direitos
civis lhes eram negados.
2. Discriminação econômica e separação
– Instalavam-se os judeus identificados
em guetos em precárias condições e
sem acesso à Justiça.
3. Concentração – Milhares de acusados
eram levados aos campos.
4. Extermínio
Os guetos eram locais imundos onde os judeus ficavam confinados e morriam de ina-
nição e doenças; os que sobreviviam eram amontoados em vagões de carga que os trans-
portavam até os campos de concentração e extermínio. Lá chegando, eram despojados de
tudo: roupas, cabelos, que eram raspados, nomes, porque passavam a ser identificados por
números, em geral marcados com ferro quente na pele; tudo para que perdessem a iden-
tidade individual e coletiva. Todos os direitos civis e políticos lhes eram negados. Esquecer
seu número de identificação, por exemplo, podia ser motivo de fuzilamento, contam sobre-
viventes do Holocausto. Primo Levi, um deles, indaga, em seu livro É Isto um Homem?, como
seres humanos puderam fazer isso com outros seres humanos.
Após a derrota de Hitler, quando todos souberam dos horrores a que fora submetido o
povo judeu, ganhou força, no mundo inteiro, a ideia de que os judeus tinham direito legíti-
mo a um território no qual pudessem reconstruir seu Estado. Finalmente, em 1948, a ONU
definiu que esse Estado seria na Palestina.
Em memória das vítimas do Holocausto, foi inaugurada, em 2005, no Museu do Ho-
locausto, em Jerusalém, a Galeria dos Nomes. Nela encontram-se milhares de registros
das histórias das pessoas que viveram na época. Há relatos provenientes de cadernos, fotos
de família e também muitos itens pessoais de judeus de quando estavam em campos de
concentração.
O crime de genocídio
O conceito de “crime de genocídio”, expressão cunhada em 1943 pelo polonês Raphael
Lemkin, foi adotado pela Convenção da ONU aprovada, em Paris, em 9 de dezembro de
1948, entrando em vigor em 12 de janeiro de 1951, após a ratificação por 22 países. O
Brasil o fez em 15 de abril do ano seguinte, promulgando-o com o Decreto 30.822, de 6
de maio de 1952.
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Um dos piores crimes contra os direitos humanos nos dias atuais acontece na região
de Darfur, no oeste do Sudão. O conflito surgiu da oposição entre os janjawid, milicianos
recrutados entre os baggara, tribos nômades africanas de língua árabe e religião muçulma-
na, e os povos não árabes da área. O governo sudanês, apesar de negar publicamente seu
apoio ao movimento janjawid, é o maior fornecedor de armas e assistência para esse grupo e
compartilha seus ataques. O conflito causou a morte de milhões de pessoas e deixou outras
desabrigadas.
A mídia descreve o conflito como um caso de “limpeza étnica” e de “genocídio”, embora
o Conselho das Nações Unidas ainda não o tenha considerado genocídio. Um dos motivos
para essa demora é o fato de a China ser grande parceira comercial do governo sudanês e
defender o país em todos os fóruns internacionais que tratam do tema. Várias indicações de
intervenção militar internacional propostas pela ONU foram rejeitadas por veto chinês.
Em julho de 2008, a Corte Criminal Internacional (CCI), por meio do procurador do Tri-
bunal Penal Internacional, o argentino Luis Moreno Ocampo, solicitou aos juízes que emi-
tissem um mandado de prisão contra o chefe de Estado do Sudão pelos crimes cometidos na
região de Darfur. Omar al-Bashir, o acusado, rejeitou todas as acusações. O promotor da CCI
desenvolve investigações no momento em quatro países africanos: República Democrática
do Congo, Uganda, Sudão e República Centro-Africana. Até agora requereu doze ordens de
prisão e prossegue buscando sete suspeitos foragidos.
Luis Moreno Ocampo declarou, por ocasião de sua eleição como primeiro procurador
do Tribunal Penal Internacional pela Assembleia da ONU, em Nova York, em 22 de abril de
2003: “Eu espero profundamente que os horrores que a humanidade sofreu durante o sécu-
lo XX sirvam-nos como uma dolorosa lição, e que a criação do Tribunal Penal Internacional
nos auxilie a prevenir que essas atrocidades sejam repetidas no futuro”.
Para que seu desejo, e também de todos que trabalham pela paz, se torne realidade, é
preciso vencer as raízes da intolerância e do preconceito.
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Árabes e outras etnias muçulmanas matando-se entre si totalizam 8,5 milhões de mortos em
disputas de cunho político, territorial (petróleo), religioso (seitas islâmicas, tais como xiitas ver-
sus sunitas) e racial (contra negros muçulmanos).
O antissemitismo contemporâneo
Nos anos 1980, o antissemitismo, especialmente nos Estados Unidos, na Europa e na
Rússia, voltou a crescer. Muitos movimentos que evocam a possibilidade de reconstruir o
ideal ariano se revestem de uma força renovadora: avaliações estimam em cerca de 450 mil
o número de pessoas que leem literatura produzida pelos movimentos racista, revisionista
e neonazista, apenas nos Estados Unidos. Desse montante, em torno de 25 mil, em 1995,
eram considerados “membros militantes radicais”, observados por órgãos governamentais
por práticas de ódio racial. Os crimes que envolvem ódio racial, apenas nos Estados Unidos,
crescem cerca de 8 mil casos por ano.
Na Espanha, especialistas da Guarda Civil estimam em pelo menos 10 mil os jovens ca-
dastrados em grupos ultradireitistas e neonazistas; apenas a organização Sangre y Honor,
uma das mais radicais, afirma possuir mais de 50 mil simpatizantes. Bandas neonazistas
ilegais, como Hammerskin, Blood and Honour e Volksfront (também denominada Frente
Popular), atraem multidões de jovens em seus shows, nos quais postulam a supremacia da
raça branca, a veneração a Adolf Hitler e o ódio explícito aos judeus, negros, imigrantes e
homossexuais. O neonazismo cresce, de maneira preocupante, segundo a ONU, no Leste
Europeu, na Rússia, no Japão e na África do Sul.
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No Brasil, crimes de ódio racial ainda são precariamente resumidos em dados específi-
cos, muitas vezes assinalados apenas como lesão corporal, injúria ou até homicídio e não
enfatizados como crimes de racismo, embora a Constituição brasileira de 1988 o defina
como imprescritível e inafiançável. Ainda assim, as estatísticas dos movimentos antirracistas
apontam para o fato de que pelo menos 150 mil pessoas sejam simpatizantes do movimento
racista, cerca de um terço delas apenas no Estado de Santa Catarina. Há grupos neonazistas
organizados em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Brasília e Belo Hori-
zonte. No país, há centenas de casos de agressões a negros e judeus, principalmente rela-
cionadas com esses grupos. Investigações contra eles são realizadas pelo Ministério Público
Federal e por Delegacias de Intolerância Racial. Em 2008, foram presos seis integrantes do
grupo Carecas do ABC, e seguem investigações a respeito do Front 88, do White Power São
Paulo e dos Sulistas SS.
Aproveitando o surgimento e a expansão de novas formas de comunicação, especialmen-
te as que nascem da internet, como sites, blogs, listas de discussão, canais de IRC e fóruns,
o neonazismo tem crescido de maneira intensa, infelizmente. Nos grupos, duas caracterís-
ticas se destacam: o “negacionismo” (chamado por seus defensores de “revisionismo”),
que identifica o discurso direcionado para invalidar a veracidade histórica do Holocausto,
a perseguição e morte dos judeus, o número de mortos, enfim, que pretende uma revisão
da história, a partir dos agentes nazistas; e o cultivo de símbolos nazistas, com especial ên-
fase a seus aspectos do paganismo nórdico. Há mais de 15 mil sites neonazistas em língua
espanhola, inglesa e portuguesa. Os subversivos grupos neonazistas preferem a internet por
dois motivos principais: o formato da rede garante anonimato e a extensão permite alcançar
milhares de pessoas ao mesmo tempo, num período muito menor do que o necessário por
outro veículo, o que amplia essa forma de sociabilização. A tentativa desses grupos, em sua
propaganda de ódio, é retomar símbolos, mitos e propostas jurídicas, religiosas e políticas
do nacional-socialismo, valendo-se do negacionismo para tentar se livrar do retrato de des-
truição que a presença deste deixou na história. Desse modo, pretendem eles, segundo afir-
mam, “proteger a raça ariana”, que estaria correndo perigo iminente, da “contaminação”
por religiões “naturais” (como o judaísmo e o cristianismo), por casamentos inter-raciais,
por adoção de crianças negras em famílias brancas, pela divulgação de heróis e esportistas
negros e homossexuais. Seu objetivo é divulgar um ódio enorme contra todas as minorias.
Paralelamente, surgem também grupos islâmicos radicais que negam o Holocausto. Fa-
zem isso por motivação política, para tentar negar aos judeus o direito a seu Estado. Um
dos piores exemplos é o presidente do Irã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, que
afirma, repetidas vezes, que o Holocausto é um mito. Isso causa enorme sofrimento a todos
os que perderam milhões de parentes na tragédia que o Holocausto, de fato, foi. E choca
toda a humanidade que tal defesa seja feita em nome do ódio. Em momentos de conflitos no
Oriente Médio, infelizmente, multiplicam-se ataques a cemitérios judaicos e sinagogas por
todo o mundo. Exemplos dessa triste prática são os ataques a sinagogas francesas e, aqui na
América do Sul, na Venezuela, a invasão à principal sinagoga de Caracas por quinze pessoas
armadas, que picharam em suas paredes mensagens de ódio e juramentos de morte, em ja-
neiro de 2009, e, no Brasil, ataques a sinagogas e pichações em Campinas (SP), Santo André
(SP) e Santa Maria (RS), entre outros. É preciso defender a humanidade desses radicais.
42
2. Holocausto
ARENDT, Hannah. Eichmenn em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo:
Cia. das Letras, 2000.
BAUMAN, Zymunt. “Singularidade e normalidade do Holocausto”; “Pedindo a colaboração das
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3. A questão judaica
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CANETTI, Elias. A Língua Absolvida. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
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5. Biografias
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SEMPRUM, Jorge. A Escrita ou a Vida. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
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2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.
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O Pianista. Direção: Roman Polanski. Inglaterra/Polônia, 2002. 148 min.
Sunshine – O despertar de um século. Direção: István Szabó. Alemanha/Áustria/Canadá/Hun-
gria, 1999. 180 min.
Sites
Em português:
http://ensinandodesiao.org.br/anussim/index.php?option=com_content&task=view&id=33&Ite
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http://etnografianovirtual.blogspot.com
http://netjudaica.blogspot.com
http://www.bnai-brith.com.br
http://www.jornalalef.com.br
http://www.pletz.com
http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/portuguese (Museu do Holocausto)
http://www.visaojudaica.com.br
Em inglês:
http://www.adl.org
http://www.bnaibrith.org
http://www.icc-cpi.int/library/about/officialjournal/Rome_Statute_English.pdf
Adriana Dias Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Campinas, membro da Associação Bra-
sileira de Antropologia e da Latin American Jewish Studies Association.
44
45
46
Novos conflitos
Em 27 de setembro de 2000, um atentado palestino provocou a morte de um colono
judeu na vila de Netzarim, na Faixa de Gaza. Era o começo de várias manifestações de ódio
na região, que por fim deram início a uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida
como Segunda Intifada. Os episódios de violência se reproduziram constantemente, e, em
15 de fevereiro de 2006, quando foi feito um levantamento pela ONU, o número de mortos
chegava a 4.995, dos quais 3.858 eram palestinos e 1.022, israelenses.
1 Receberam esse nome por conta do local das negociações, todas realizadas na casa de campo do presidente dos
Estados Unidos em Maryland, denominada Camp David.
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Durante as últimas décadas, muitos grupos radicais dividiram a direção política dos
palestinos, desde o Fatah, que é uma organização política e militar, fundada por Yasser
Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad), juntamente com a criação da OLP, até o Hamas.
Os membros do Fatah defendiam, no início, a luta armada para expulsar os israelenses.
Posteriormente, reconheceram o direito de existência do Estado de Israel. Após muitas
denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado pelo Hamas, nas eleições de 2006, quando
conquistou a maioria das cadeiras do Parlamento. Os grupos armados palestinos, Hamas
e Fatah, se envolveram, então, em grandes confrontos violentos. Israel, Estados Unidos e
União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.
O Hamas, que não reconhece o direito de Israel de existir, declarou que não abandona-
rá as armas. Muitos analistas políticos defendem a ideia de que a imensa frustração com
o papel do Fatah nos últimos anos e os inúmeros casos de corrupção (desvio das verbas
recebidas de organizações internacionais, muitas vezes, para contas pessoais dos líderes
do movimento) revoltaram a população empobrecida dos territórios palestinos. Isso ex-
plicaria, segundo os analistas, a vitória do Hamas, muito mais que o apoio a seus preceitos
fundamentalistas.
Israel retirou todas as suas colônias da Faixa de Gaza, entregando-a à Autoridade Nacional
Palestina (ANP) em busca da paz, que não veio. Como resultado, a população civil das ci-
dades israelenses próximas à fronteira, como Sderot, Ashkelon e Ashdot, entre outras, ficou
sob fogo constante de foguetes disparados por militantes do Hamas a partir de bases móveis
na Faixa de Gaza, por vezes localizadas no telhado de casas de família. Houve dias em que
mais de cem foguetes foram lançados após o Hamas ter lutado contra seus irmãos palestinos
da Fatah, à qual pertence o presidente da Autoridade Nacional Palestina, expulsando-os e
assumindo o total controle sobre a Faixa de Gaza.
É preciso lembrar que o Estado de Israel é menor do que o Estado de Sergipe, que ao
longo dos anos o alcance e o poder de destruição dos foguetes lançados pelos liderados do
Hamas vêm aumentando e que, a cada foguete lançado contra Israel, o Irã paga determinado
valor, pois todos esses fatores incentivam a continuidade do terrorismo.
A vida de crianças, jovens, adultos e idosos se vê ameaçada diariamente sob constante
terror. Ao final de 2008 e início de 2009, Israel realizou uma operação em Gaza para des-
truir bases de lançamento, arsenais de armas e túneis por onde estas eram contrabandeadas
a partir do Egito. Infelizmente, o Hamas usou escudos humanos, infiltrando armamento e
terroristas em mesquitas, escolas, hospitais e em meio à população civil, colocando-a deli-
beradamente sob risco. No entanto, ao contrário do que foi divulgado pela mídia, embora
depois desmentido, mesmo sem as manchetes e o destaque das notícias iniciais, nenhuma
escola da ONU foi atingida pelos israelenses.
48
Introdução
Em sessenta e um anos, o Estado de Israel transformou os desertos e pântanos em terras
férteis, tornando-se grande exportador de flores e frutas; absorveu milhões de imigrantes
sem recursos, dando-lhes estabilidade, educação gratuita de alto nível, sistema de saúde
pública, gerando uma das economias mais desenvolvidas do mundo, criando avançadas
tecnologias nas diversas áreas do conhecimento, como medicina, informática, agricultura,
meio ambiente, entre outras, sendo um exemplo para o mundo. Essa realidade não se vê
nos jornais.
Estrutura política
O Estado de Israel é uma democracia parlamentarista, com os poderes Legislativo, Exe-
cutivo e Judiciário. As instituições do Estado incluem a Presidência e o Knesset (Parlamento),
o governo (gabinete de ministros) e o Judiciário. O sistema se baseia na separação dos três
poderes e o braço executivo (governo) está sujeito à confiança do braço legislativo (Knesset),
que tem o poder de depor o primeiro-ministro, e a independência do Judiciário é garantida
por lei. O Knesset possui 120 deputados. Seu nome e número baseiam-se na antiga Haguedolá
(Grande Assembleia), órgão representativo judaico convocado em Jerusalém pela primeira
vez no século V a.C.
Todos os cidadãos israelenses – judeus, árabes, cristãos, drusos, entre outros – podem ser
eleitos para o Parlamento, que tem contado, ao longo de sua história, com partidos, depu-
tados e até mesmo ministros e embaixadores árabes israelenses.
Sociedade pluralista
A natureza da sociedade israelense é plura-
lista. Sua população é formada por diferentes
etnias, religiões e culturas. Dos 7,1 milhões
de habitantes, 75,8% são judeus, 19,9% ára-
bes (em sua maioria muçulmanos) e os 4,3%
restantes dividem-se entre drusos, circassia-
nos e outros, como os beduínos, que habi-
tam o Deserto do Negev. Os idiomas falados
no país são o hebraico (oficial), o árabe e o
Meninas beduínas diante de um computador inglês.
distribuído pelo programa “Um computador
para cada criança”.
49
50
Educação gratuita
Desde 1949, o ensino é obrigatório dos 6 aos 16 anos, sendo gratuito até os 18. A taxa de
analfabetismo é a menor de todo o Oriente Médio: 2,9%. O Brasil tem hoje 11,4% de anal-
fabetos, isso sem contar os analfabetos funcionais, que não têm os conhecimentos mínimos
necessários para exercer sua plena cidadania.
O índice de desenvolvimento humano (IDH) em Israel é de 0,932 e a renda per capita, de
20.170 dólares.
Saúde
O sistema de saúde pública de Israel fornece ampla rede de serviços, incluindo hospitais,
a todos os residentes no país. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) tem
como resultado uma medicina de ponta com tecnologia e procedimentos entre os mais
avançados do mundo, como hospitais, clínicas e centros de medicina preventiva e de rea-
bilitação, e cirurgias de cérebro, medula óssea e transplantes. A Maguem David Adom é o
serviço de emergência médica, equivalente à Cruz Vermelha.
O kibutz e o moshav
Estrutura social e econômica única no mundo, o kibutz é uma comunidade igualitária, no
início predominantemente agrícola, criada pelos pioneiros no começo do século XX. Nos
primeiros anos foi fundamental para o estabelecimento dos milhares de imigrantes no país.
Depois passou a englobar indústrias e empresas de serviços. O moshav tem a mesma filosofia
de trabalho coletivo do kibutz, mas no início os filhos ficavam em uma casa separada nos
kibutzim, o que não acontecia nos moshavim desde sua criação, nos anos 1920.
51
Turismo
O turismo é uma importante fonte de renda e de emprego para Israel e cresce a cada ano.
O turismo religioso, também de brasileiros que visitam os lugares sagrados para cristãos e
judeus, tem registrado aumentos consecutivos. Entre as belezas naturais encontra-se o Mar
Morto, o mais baixo do mundo. Uma completa infraestrutura hoteleira e de transportes está
à disposição dos visitantes.
Costa do Mediterrâneo.
52
1925 – Início das atividades da Universidade David Ben-Gurion, primeiro chefe de governo
Hebraica de Jerusalém, período em que se do Estado de Israel contemporâneo (1948).
formaram as bases para o Hospital Hadassah,
uma das mais importantes instituições de
pesquisa médica de Israel.
53
Ciência e tecnologia
Prioridade de governo desde a criação do Estado de Israel para enfrentar a falta de recur-
sos naturais e a hostilidade dos países vizinhos, a área de ciência e tecnologia é a principal
ferramenta para o crescimento nacional, criando mecanismos para estimular a atuação da
iniciativa privada de forma competitiva. Hoje, destaca-se nos setores de alta tecnologia, aviôni-
ca, telecomunicações, manufatura, equipamentos médicos eletrônicos e de fibra óptica.
A indústria de alta tecnologia de Israel responde por 12% do produto interno bruto (PIB)
e por mais de 80% das exportações. Israel é o segundo país, depois dos Estados Unidos, com
empresas negociadas na Nasdaq (Bolsa de Tecnologia de Nova York).
1950 – Início das atividades da IBM Corporation em Israel, desenvolvendo aplicações com-
putadorizadas para as áreas de medicina, agricultura, irrigação e elaboração de modelos para
políticas em fertilização.
– Primeira unidade da General Electric (GE).
1964 – Motorola Israel Ltda., que emprega atualmente 4 mil funcionários espalhados em
cinco centros de desenvolvimento de tecnologia para sistemas de comunicação móvel.
1981 – Rad Data Communications Ltda. – sistemas sofisticados de comunicação sem fio.
54
A telefonia pioneira pelo protocolo IP foi lançada pela Vocaltec (VOIP, sigla em
inglês de transmissão de voz por internet – ex.: Skype).
55
A ferramenta ICQ, do AOL Instant Messenger, foi desenvolvida, em 1996, por quatro
jovens israelenses.
A Keter Plastic, empresa israelense com 23 fábricas espalhadas pelo mundo, é con-
siderada a maior empresa de produtos de plástico da Europa.
56
57
Bibliografia sugerida
Revista Notícias de Israel.
Sites
http://www.mfa.gov.il/MFA – Ministério das Relações Exteriores de Israel
http://www.mfa.gov.il/MFA/Visual+Media/General+Videos.htm (vídeos do tipo “você sabia?”)
http://www.science.co.il/Computer Science.asp
http://www.israel21c.com
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.
Gisele Valdstein Fonoaudióloga, foi presidente da B’nai B’rith de São Paulo.
Claudio Silberberg Administrador e membro da B’nai B’rith.
58
Entre 1948 e 1968, cerca de 850 mil judeus foram forçados a abandonar alguns
países da Liga Árabe, onde viveram por vários séculos, expulsos ou fugindo de con-
dições de discriminação e intolerância. Deixando todos os seus pertences para trás,
essa multidão teve de recomeçar a vida em países como Israel, França e Brasil.
Até hoje essa história é pouco conhecida pela comunidade internacional. Por
isso, mais de quarenta entidades judaicas lançaram, em novembro de 2006, a Cam-
panha Internacional por Direitos e Reparação, para os judeus dos países árabes.
O êxodo silencioso
Dos 848 mil judeus que moravam nos países da Liga em 1948, restavam ape-
nas 7.800 em 2001.
59
Por sua vez, a população palestina residente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia hoje é de
mais de 4 milhões de pessoas, sem contar os 4,5 milhões a 5 milhões de palestinos que
vivem em outros lugares além de Israel e territórios palestinos. Esse número é muito maior
do que o de palestinos que viviam em toda a Terra de Israel antes da criação do Estado de
Israel.
Isso significa que, ao contrário do que pessoas mal-intencionadas dizem, não existe ge-
nocídio generalizado contra palestinos. A verdade é que tanto em Gaza e na Cisjordânia
como no próprio território de Israel a população palestina tem se multiplicado, e muito.
Situação muito diferente ocorreu nos países da Liga Árabe, onde a população judaica foi
expulsa ou teve de fugir da violência e da discriminação: dos 848 mil judeus que moravam
em países como Líbano, Síria, Líbia, Iêmen, Egito, Tunísia, Iraque, Argélia e Marrocos, 840
mil haviam saído até o ano 2001, ou seja, só sobrou menos de 1%.
O gráfico a seguir compara a evolução da população de palestinos vivendo em Israel
desde o final da Guerra da Independência até hoje, possuindo cidadania israelense, com a
situação dos judeus em nove países da Liga Árabe, onde têm sido tratados como dhimmis.
60
Dhimmis
Durante muitos séculos, membros de várias etnias, entre elas judeus, mas também gregos
e armênios, viveram dentro do Império Otomano, sob uma denominação que lhes determi-
nava um lugar à parte no mundo social: dhimmis (em árabe, protegidos). Esses grupos eram
submetidos a uma tributação especial (jizya), ao uso de uma rodela de cor amarela no peito
e outros sinais distintivos, além de outras formas de discriminação.
Os judeus mais afetados foram os do Marrocos, do Iêmen e da Pérsia: eram sujeitos a
graves humilhações, expropriação de bens, julgamentos injustos, assassinatos etc.
Mas, no geral, em troca do pagamento da jizya, os judeus, que estavam acostumados a
sobreviver a situações adversas, após séculos de perseguições dos impérios Romano e Bizan-
tino, viram nas conquistas islâmicas apenas uma substituição de poder.
A conversão voluntária ao islamismo foi muito rara; os judeus conseguiram preservar a
fé em todas as terras muçulmanas.
61
EGITO
Os judeus têm vivido no Egito desde os
tempos bíblicos. As tribos israelitas muda-
ram-se durante o reinado do faraó egípcio
Amenhotep IV (1375-1358 a.C.). Ao longo
dos anos, os judeus buscaram abrigo e ha-
bitaram o Egito. Em 1897, havia mais de
25 mil judeus no Egito, a maior parte de-
les concentrada nas cidades do Cairo e de
Alexandria. Em 1937, a população alcançou
63.500 judeus.
Na década de 1940, com o crescimento
do nacionalismo egípcio e os esforços do Bar-mitzva de gêmeos – Cairo, Egito, 1930.
movimento sionista para recriar um lar na-
cional judaico na Terra de Israel, as atividades antijudaicas começaram a surgir com mais in-
tensidade. Em 1945, as agitações começaram: dez judeus foram mortos, 350 ficaram feridos
e uma sinagoga, um hospital judeu e um lar para idosos foram incendiados. Após o sucesso
do movimento sionista em estabelecer o Estado de Israel, medidas violentas e repressoras
vindas do governo e dos cidadãos egípcios tiveram início em meados de 1948. Bombas fo-
ram colocadas em um quarteirão judaico, matando mais de setenta pessoas e ferindo cerca
de duzentas. As agitações nos meses que se seguiram resultaram em várias outras mortes.
Dois mil judeus foram presos e muitos tiveram suas propriedades confiscadas.
Em 1956, o governo egípcio usou a Campanha do Sinai como pretexto para expulsar
aproximadamente 25 mil judeus egípcios do país e confiscar suas propriedades. A eles foi
permitido levar apenas uma mala e uma pequena quantidade de dinheiro, e todos foram
obrigados a assinar documentos “doando” suas propriedades ao governo egípcio. Aproxi-
madamente outros mil judeus foram presos ou mandados para campos de concentração.
Em 23 de novembro de 1956, um manifesto, assinado pelo ministro de Assuntos Re-
ligiosos e lido em voz alta nas mesquitas de todo o Egito, declarava que “todos os judeus
são sionistas e inimigos do Estado” e prometia que todos seriam, em breve, expulsos
(Associated Press, 26/11/1956; New York World-Telegram, 29/11/1956).
Em 1957, a população judaica no Egito já tinha caído para 15 mil. Em 1967, depois da
Guerra dos Seis Dias, houve nova onda de perseguições, e a comunidade judaica diminuiu
para 2.500. Na década de 1970, após ser dada aos judeus remanescentes a permissão de
deixar o país, a comunidade reduziu-se a algumas poucas famílias.
Os direitos dos judeus foram finalmente recuperados em 1979, depois que o presidente
egípcio Anwar Sadat assinou o primeiro acordo de Camp David com Israel. Somente então
foi permitido à comunidade estabelecer laços com Israel e com a coletividade judaica no
mundo. Os quase duzentos judeus deixados no Egito são agora idosos, e a comunidade
judaica do país, outrora orgulhosa e crescente, está praticamente extinta.
62
Em junho de 1941, o golpe de Rashid Ali, de apoio aos nazistas e inspirado pelo Mufti,
iniciou uma série de manifestações e perseguições em Bagdá. Multidões de iraquianos ar-
mados assassinaram 180 judeus e feriram mil.
Insurreições adicionais com manifestações antijudaicas ocorreram entre 1946 e 1949.
Após o estabelecimento de Israel, em 1948, o sionismo tornou-se crime capital.
63
Em 1950, foi permitido aos judeus iraquianos deixarem o país em um ano caso desis-
tissem de sua cidadania. Um ano mais tarde, no entanto, as propriedades dos judeus que
emigraram foram congeladas e restrições econômicas foram impostas aos que permanece-
ram no país. De 1949 a 1951, 104 mil judeus foram expulsos do Iraque na Operação Ezra
e Nehemiah e 20 mil retirados clandestinamente pelo Irã. Assim, uma comunidade que
chegara a 150 mil pessoas em 1947 rapidamente se reduziu a 6 mil depois de 1951.
Em 1952, o governo do Iraque proibiu a imigração de judeus. Com a ascensão de facções
rivais do partido Ba’ath em 1963, restrições adicionais foram impostas aos judeus iraquia-
nos remanescentes. A venda de propriedades foi proibida e todos os judeus foram forçados
a carregar cartões de identidade amarelos. As perseguições continuaram, especialmente após
a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando muitos dos 3 mil judeus restantes foram presos
e demitidos de seus empregos. Nessa época, medidas mais repressoras surgiram: proprie-
dades judaicas foram tomadas; contas bancárias foram congeladas; judeus perderam cargos
públicos; lojas foram fechadas; licenças comerciais foram canceladas; telefones foram desli-
gados. Os judeus passaram a viver em prisão domiciliar por longos períodos ou restritos às
próprias cidades.
As perseguições chegaram ao limite máximo no final de 1968. Grupos de judeus eram
presos sob a alegação de descobertas de “grupos de espiões” compostos por empresários
judeus. Catorze homens, onze deles judeus, foram sentenciados à morte em julgamentos
encenados e, em 27 de janeiro de 1969, enforcados em praças públicas de Bagdá; outros
morreram sob tortura.
Em resposta às pressões internacionais, o governo de Bagdá silenciosamente permitiu
que a maior parte dos judeus restantes emigrasse no início da década de 1970, mesmo en-
quanto outras restrições eram mantidas. Em 1973, os judeus iraquianos estavam, na maio-
ria, velhos demais para sair do país e foram pressionados pelo governo a entregar títulos,
sem compensações, de propriedades judaicas no valor de mais de 200 milhões de dólares
(The New York Times, 18/2/1973).
Atualmente, cerca de 60 judeus permanecem em Bagdá. O que fora um dia uma comunida-
de crescente de judeus no Iraque hoje encontra-se extinta (Associated Press, 28/3/1998).
64
65
ARGÉLIA
No século XIV, com a deterioração das con-
dições na Espanha, muitos judeus espanhóis
mudaram-se para a Argélia. Após a ocupação
francesa do país, em 1830, os judeus gradual-
mente receberam a cidadania francesa.
Em 1934, os muçulmanos, incitados por
eventos ocorridos na Alemanha nazista, se
agitaram em Constantina, matando 25 ju-
deus e ferindo muitos outros. Antes de 1962,
havia 60 comunidades judaicas, cada uma
mantendo os próprios rabinos, sinagogas e
instituições educacionais. Depois da inde- Família celebrando o Seder de Pessach
pendência da Argélia, em 1962, o governo – Oran, 1930.
argelino atormentou a comunidade judaica e privou os judeus de seus direitos econômicos,
resultando na emigração de quase 130 mil judeus argelinos para a França e, desde 1948, de
25.681 para Israel.
A independência da Argélia foi o evento-
-chave na expulsão da comunidade judaica.
Como consequência do desejo do governo
e dos argelinos de juntarem-se à onda de
nacionalismo e pan-arabismo que varria o
norte da África, os judeus não mais se sen-
tiam bem-vindos após a partida francesa. O
Código de Nacionalidade Argelino de 1963
deixou isso bem claro, dando a cidadania
argelina como direito apenas àqueles cujos
pais e avôs paternos possuíssem algum sta- Professores e rabinos da Escola Etz Haim
tus pessoal muçulmano na Argélia. Em ou- – Oran, 1927.
tras palavras, ainda que a Frente Libertadora Nacional na Argélia fosse conhecida pelo slogan
“Um Estado secular democrático”, ela seguia critérios religiosos rígidos ao dar a cidadania,
fortificando assim sentimentos antijudeus e anti-Israel no país.
66
SÍRIA
Os judeus têm vivido na Síria desde os tempos bíblicos, e a história da comunidade é
mesclada à história dos judeus na Terra de Israel. A população judaica aumentou significati-
vamente após a expulsão dos judeus da Espanha, em 1942. Através das gerações, as princi-
pais comunidades judaicas encontravam-se em Damasco e Alepo.
Em 1943, a comunidade judaica na Síria possuía 30 mil membros, a maioria distribuída
entre Alepo (17 mil) e Damasco (11 mil). Em 1945, em uma tentativa de impedir esforços
para estabelecer um lar nacional judaico, o governo restringiu a emigração para Israel, e
propriedades judaicas foram queimadas e saqueadas. Perseguições antijudaicas começaram
a acontecer em Alepo em 1947, fazendo com que 7 mil dos 10 mil judeus que ali viviam
fugissem por medo. O governo então congelou as contas bancárias e confiscou as proprie-
dades dos que permaneceram no país.
Logo após a independência de Israel, uma política de discriminação econômica na Síria
foi posta em prática contra os judeus. Virtualmente, todos os cidadãos judeus civis empre-
gados pelo governo sírio foram demitidos. A liberdade de movimentos foi praticamente
abolida e postos especiais de fronteira foram estabelecidos para controlar o movimento dos
judeus (The New York Times, 16/5/1948).
Em 1949, os bancos receberam instruções para congelar as contas dos judeus e confiscar
todos os seus pertences. Ao longo dos anos que se seguiram, o padrão contínuo de estran-
gulamento político e econômico fez com que um total de 15 mil judeus deixasse a Síria,
emigrando para os Estados Unidos e para Israel.
67
IÊMEN
Os judeus do Iêmen têm várias lendas re-
lacionadas com sua chegada ao país; a mais
conhecida delas diz que chegaram antes da
destruição do Primeiro Templo. A primeira
evidência histórica de sua presença no Iê-
men data do século III.
Os judeus começaram a deixar o Iêmen
por volta de 1880, quando aproximadamen-
te 2.500 rumaram para Jerusalém e Jafa. Mas
foi após a Primeira Guerra Mundial, quan-
do o Iêmen se tornou independente, que o
sentimento antijudaico no país transformou
a emigração em uma necessidade. Leis antis-
semitas, que tinham ficado esquecidas por Família iemenita estudando hebraico.
anos, foram trazidas à tona. Em um tribunal,
as evidências de um judeu não eram aceitas diante das evidências de um muçulmano.
Em 1922, o governo do Iêmen reintroduziu uma antiga lei islâmica que exigia que ór-
fãos judeus menores de 12 anos fossem convertidos ao islamismo. Quando um judeu de-
cidia emigrar, ele deveria deixar todas as suas posses. Apesar disso, entre 1923 e 1945, um
total de 17 mil judeus iemenitas deixou o país e foi para a Palestina.
Após a Segunda Guerra Mundial, milhares de outros judeus iemenitas queriam migrar
para a Palestina, mas o Livro Branco dos britânicos ainda estava em vigor, e aqueles que dei-
xassem o Iêmen acabariam em morros abarrotados de gente em Áden, onde revoltas graves
aconteceram em 1947, depois que as Nações Unidas decidiram pela Partilha da Palestina
em um estado judaico e um estado árabe. Muitos judeus foram mortos, e o bairro judeu foi
completamente incendiado. Apenas em setembro de 1948 as autoridades britânicas em Áden
permitiram que os refugiados fossem para Israel.
Em 1947, após a decisão pela Partilha, revoltosos muçulmanos deram início a uma san-
grenta perseguição em Áden que matou 82 judeus e destruiu centenas de casas judias. A
comunidade judaica em Áden, que contava com 8 mil pessoas em 1948, foi forçada a fugir.
Até 1959, mais de 3 mil já haviam chegado a Israel. Muitos fugiram para os Estados Unidos
e Inglaterra. Atualmente não há judeus remanescentes em Áden.
Na época da fundação de Israel, a comunidade judaica no Iêmen estava economicamente
paralisada, já que a maioria das lojas e negócios judaicos foi destruída. Essa situação cada
vez mais perigosa levou à emigração de toda a comunidade judaica iemenita – quase 50 mil
Judeus – entre junho de 1949 e setembro de 1950, na chamada Operação Tapete Mágico.
Uma emigração em menor escala foi permitida até 1962, quando uma guerra civil trouxe
um final abrupto ao êxodo judaico.
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LÍBANO
Os judeus têm vivido no Líbano desde os tempos antigos. O rei Herodes, o Grande, no
século I, manteve a comunidade judaica em Beirute.
Durante a primeira metade do século XX, a comunidade judaica desenvolveu-se am-
plamente por causa da imigração da Grécia, da Turquia e, depois, da Síria e do Iraque. Em
meados dos anos 1950, aproximadamente 7 mil judeus viviam em Beirute. Em comparação
com os países islâmicos, as regras árabe-cristãs, características da estrutura política do país,
conduziam uma política de relativa tolerância à população judaica. Todavia, por estarem tão
próximos do “Estado inimigo” Israel, os judeus libaneses se sentiram inseguros e, em 1967,
decidiram emigrar para a França, Israel, Itália, Inglaterra e América do Sul.
Em 1974, 1.800 judeus permaneciam no Líbano, a maioria concentrada em Beirute. A
guerra civil muçulmano-cristã destruiu o bairro judeu, danificando muitos lares, negócios
e sinagogas. A maior parte dos judeus libaneses restantes emigrou em 1976, temendo que a
presença da Síria no Líbano impedisse sua liberdade de partir. Hoje, um número estimado
de 150 judeus permanece no Líbano.
Sites
http://www.judeusdospaisesarabes.com.br (em português)
http://en.wikipedia.org/wiki/Dhimmi (em inglês)
Tounée Rosset Formada em Ciências Econômicas pela USP, é membro da Loja Horácio Lafer e foi presidente da
B’nai B’rith de São Paulo. Atualmente faz parte da Comissão de Direitos Humanos da B’nai B’rith.
70
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72
Para a implementação da solução de dois Estados para dois povos, seria necessário definir
as fronteiras exatas. Quanto a isso, sempre haveria motivos para discordâncias. Em primeiro
lugar, teria de se acertar uma base, que, no Road Map, defendido pelo chamado “quarteto”
(comissão composta por representantes dos Estados Unidos, da União Europeia, da Rússia e
da ONU), são as fronteiras de antes da guerra de 1967. Definida a base, passar-se-ia a discu-
tir as exceções. Não mais se tomaria como base as fronteiras que haviam sido planejadas em
1947, mas sim as que ficaram depois da Guerra da Independência, que são mais ou menos
as mesmas que separam hoje em dia judeus e palestinos.1
Outra questão referente às fronteiras diz respeito às colônias judaicas na Cisjordânia, que
teriam de ser entregues aos palestinos ou então ter seu território negociado em troca de
compensação territorial em outro local ou compensação de outra espécie com que as partes
concordassem. A Figura 1 apresenta uma solução de dois Estados para dois povos, com as
prováveis fronteiras que teriam.
1 A Resolução 242 da ONU, de 22/11/1967, estabelece o retorno às fronteiras de antes da Guerra dos Seis Dias,
como ficou conhecida a guerra travada em 1967.
73
Figura 1 – Solução de dois Estados Árabe que perderam o que tinham quando
para dois povos foram expulsos ou tiveram de fugir.
As Colinas de Golã, território militarmen-
te estratégico, pois pode servir de barreira
natural ou de plataforma para artilharia, que
foram conquistadas da Síria por Israel na
Guerra dos Seis Dias em 1967, provavelmen-
te seriam devolvidas à Síria em troca de sua
aceitação dessa solução e de seu compromis-
so em não atacar Israel.
A solução de dois Estados para dois povos,
baseada nas fronteiras anteriores a 1967, é de-
fendida por Israel e, atualmente, também pelo
partido palestino Fatah e pela Autoridade Na-
cional Palestina (cujo presidente, Mahmoud
Abbas, pertence ao Fatah).
Na solução de dois Estados para dois po-
vos, tal como aqui exposta, Israel permane-
ceria como o único país de maioria judaica
do mundo, enquanto seria constituído na
Faixa de Gaza e na Cisjordânia o 46.º país
de maioria muçulmana.
Uma questão que precisaria ser melhor
detalhada na solução de dois Estados para
dois povos diz respeito à descontinuidade
territorial do Estado palestino a ser criado,
pois hoje a Faixa de Gaza e a Cisjordânia não
Montagem sobre mapa fornecido pela têm ligação sem passar por dentro de Israel.
Embaixada de Israel à Revista Shalom. Soluções possíveis para o problema da des-
Os palestinos que hoje habitam a Fai- continuidade territorial poderiam envolver
xa de Gaza e a Cisjordânia manter-se-iam rodovias e ferrovias especiais, sob autorida-
onde estão e aqueles que moram em campos de palestina, para ligarem Gaza e Cisjordâ-
de refugiados nos países vizinhos seriam nia. Uma das propostas seria a construção de
transferidos para o território palestino. Os um túnel semelhante ao Eurotúnel, que liga
palestinos que vivem em outros países te- Londres a Paris, que manteria a separação
riam como opção emigrar para o Estado com Israel mais rígida; outras propostas dão
palestino. preferência a obras de superfície por serem
Poderia haver compensação financeira aos mais baratas e de mais fácil integração com a
palestinos que perderam suas casas durante malha viária israelense.
o período de construção do Estado de Israel, Mais uma questão que se coloca é a da se-
mas não haveria o direito de retornarem aos gurança do Estado de Israel em relação ao que
locais onde habitavam naquela época. Res- aconteceria se palestinos baseados no territó-
taria ver daí se, em contrapartida, também rio palestino continuassem atacando Israel e
teriam direito a compensações os mais de as autoridades palestinas não fossem eficien-
840 mil judeus que viviam nos países da Liga tes (ou não tivessem empenho) para impedir.
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75
76
Além disso, os casais palestinos têm mais filhos em média do que os casais judeus de Is-
rael. O crescimento médio da população de judeus israelenses tem sido de 1,5% ao ano, e a
dos árabes israelenses, 2,6%.3 Assim, a diferença populacional (maior para o lado palestino)
aumenta a cada ano.
Portanto, um Estado binacional teria maioria palestina e não judaica. Não existiria ne-
nhum país com maioria judaica no mundo, e teríamos o 46.º país com maioria muçulmana.
Os judeus ficariam sem pátria, seriam um povo que não desfrutaria de seu direito à autode-
terminação.
2 Note que a população total de Israel é menor do que a da cidade de São Paulo, que é de aproximadamente 11
milhões de habitantes, sem contar a população da Grande São Paulo.
3 Veja as fontes dos dados no site da Sociedade Acadêmica Palestina para o Estudo de Assuntos Internacionais:
http://www.passia.org/palestine_facts/pdf/pdf2008/Population.pdf.
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78
79
Da mesma forma que no Brasil, em Israel as minorias integram-se à vida nacional com
todos os direitos. Israel abriga ampla minoria de 20% da população com cidadania israelen-
se sendo árabe. Esses árabes com cidadania israelense pertencem às famílias que permanece-
ram em território israelense no contexto de criação do Estado de Israel e seus descendentes.
Um quinto, ou seja, 20% dos cidadãos de Israel, é árabe, e a bancada árabe no Parlamento,
bastante volumosa, influencia com grande peso as decisões.
Em termos comparativos, existem 45 países do mundo com maioria muçulmana; em
35 deles mais de 80% da população é muçulmana, atingindo mais de 95% em 21. Em
boa parte desses países, os judeus são ou perseguidos ou tolerados como dhimmis, ou seja,
cidadãos de segunda classe com menos direitos e mais deveres do que os muçulmanos.
Além de Israel, não existe nenhum país no mundo que chegue sequer a 2% de população
judaica.
A ideia de um Estado binacional hoje não recebe apoio de nenhuma parcela significativa
nem da população judaica nem da palestina. Quase sempre a proposta de um único Estado
para dois povos é defendida somente por pessoas que não vivem lá, pois quem vive lá não
quer isso. A proposta de um único Estado para dois povos não é colocada nem pela coalizão
do governo de Israel, nem por nenhum dos principais partidos políticos palestinos, que são
o Fatah e o Hamas, nem pelos grupos extremistas de nenhum dos dois lados, nem pelos
países árabes. No entanto, a ideia de um único Estado para os dois povos circula com certa
frequência no Brasil.
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5 http://www.judeusdospaisesarabes.com.br.
81
É muito importante estarmos atentos a esse “detalhe”. Alguns grupos árabes dizem que
“reconhecem, sim”, o direito de existir de Israel e a solução de dois Estados. No entanto,
muitos deles reivindicam o direito de retorno dos palestinos ao território israelense, com
cidadania israelense; portanto, seu reconhecimento do direito de existir de Israel é apenas
fachada, já que, se concedido o direito de retorno tal como eles reivindicam, seu projeto
implica manter somente Estados de maioria árabe-muçulmana no Oriente Médio.
As negociações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina-ANP fracassaram no ano
2000 principalmente pelo fato de os palestinos terem insistido em seu direito de retorno ao
território de Israel (embora tenha havido também outras razões), apesar de 95% das solici-
tações territoriais terem sido aceitas por Israel.
De 1993 a 1995, o líder da Organização para a Libertação da Palestina-OLP, Yasser Arafat,
firmou com Israel os acordos de Oslo, reconhecendo o direito de existir de Israel e aceitan-
do uma solução com dois Estados. Como decorrência desses acordos, houve cinco anos de
relativa paz entre palestinos e israelenses e a construção dos alicerces do Estado palestino,
com a fundação da Autoridade Nacional Palestina (espécie de presidência da república pa-
lestina que estava ainda sendo criada) e a transferência gradual do controle dos territórios
palestinos para ela.
No entanto, em 2000, na hora de detalhar como funcionaria a solução de dois Estados,
Arafat, na época presidente da ANP, insistiu no direito de retorno dos palestinos ao Estado
judeu, destruindo, assim, o processo de paz e levando a uma nova onda de conflitos (cha-
mada de Segunda Intifada), e, em razão dessa sua insistência, até hoje não pôde ser criado o
Estado palestino, que melhoraria muito a vida dos palestinos.6
Apenas na Conferência de Anápolis, realizada em 2007 com a presença do Brasil, após o
falecimento de Arafat, a Autoridade Nacional Palestina aceitou conversar sobre a possibilida-
de de concordar com a existência de Israel com maioria judaica convivendo em paz ao lado
do Estado palestino, ou seja, aceitou conversar sobre a possibilidade de trocar o direito de
retorno por alguma forma de compensação.
No entanto, não há ainda consenso tranquilo sobre a questão, proliferando documentá-
rios, cartazes, cartas e documentos em que palestinos continuam insistindo no direito de
retorno ao Estado de Israel, com cidadania israelense e não palestina.
6 Veja histórico detalhado da busca de Israel pela paz no livro A Busca de Israel pela Paz, disponível gratuitamente em:
http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_Israel_pela_
Paz_2007.
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84
7 Veja notícia da denúncia do Fatah de que o Hamas deseja promover separatismo na Palestina em:
http://www.estadao.com.br/internacional/not_int311272,0.htm.
85
O fato é que tais radicais hoje são ínfima minoria em Israel. Desde a Declaração de Inde-
pendência, Israel já afirmou seu compromisso com a Partilha da Palestina. Nos acordos de
Oslo, a intenção de promover dois Estados para dois povos foi reafirmada, e Israel começou
a tomar os passos nessa direção. Em 2005, como forma de promover a paz, Israel decidiu
entregar a Faixa de Gaza ao controle palestino, desmantelando todas as colônias israelenses
que haviam sido estabelecidas nela.
O problema foi que, assim que Israel tomou essas medidas em favor da constituição do
Estado palestino, a população palestina elegeu o partido Hamas, que tem como bandeira
de luta a destruição do Estado de Israel, ou seja, fundar um Estado islâmico em toda a Terra
de Israel. Assim que empossado, o Hamas começou a perseguir, prender, torturar e matar
membros do partido de oposição Fatah pelo fato de ele ser atualmente favorável a firmar a
paz com Israel por meio de uma solução de dois Estados para dois povos. Israel estabele-
ceu um bloqueio econômico e logístico para impedir que armas e dinheiro chegassem ao
Hamas, enquanto este constantemente lançava, contra o sul de Israel, mísseis cada vez mais
sofisticados, de maior alcance.
Grupos terroristas fundamentalistas como o Hamas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica são
os mais famosos na luta pela criação de um Estado islâmico em toda a Terra de Israel. O Irã,
país que financia esses grupos terroristas, também defende a destruição do Estado de Israel
e faz propaganda para afirmar que não houve matanças de judeus durante a Segunda Guerra
Mundial.
As trágicas incursões das Forças de Defesa de Israel ao Líbano em 2006 e à Faixa de Gaza
na virada de 2008 para 2009 foram necessárias para combater, respectivamente, o Hez-
bollah e o Hamas, que havia anos estavam lançando mísseis contra a população civil em
Israel. Grupos como esses atrapalham as negociações entre os palestinos que desejam a paz e
Israel, impedindo a criação do Estado palestino que reconheça a legitimidade da existência
de Israel como Estado judeu.
Além disso, mentem, distorcem e obscurecem ao se fazerem de vítimas perante a im-
prensa. Durante a incursão ao Líbano, dezenas de fotos de supostas atrocidades que teriam
sido cometidas por Israel foram lançadas na mídia, o que um mês depois começou a se
revelar falso8. Em 2008, Israel foi acusado de bombardear uma escola da ONU em Gaza, e
novamente um mês depois a ONU confirmou que nunca existiu tal ataque9; já o Hamas,
sim, roubou alimentos da ajuda humanitária da ONU10. O Hamas mantém os palestinos
na miséria, como forma de conseguir apoio ao oferecer uma alternativa radical e distribuir
cestas básicas para o povo.
A luta desses grupos não é apenas contra Israel e contra os judeus, mas também contra
todas as pessoas que não seguem a religião islâmica de maneira estrita. Os grupos funda-
mentalistas islâmicos são contrários ao estilo de vida “ocidental”, desejando instalar a Sha-
ria (lei muçulmana), e cultuam o suicídio como forma de atingir seus objetivos políticos
e encontrar lugar no paraíso pós-morte. Grupos fundamentalistas islâmicos promoveram
um atentado a bomba na Argentina, derrubaram prédios comerciais com aviões nos Estados
Unidos (o famoso “11 de Setembro”), explodiram o metrô lotado de passageiros em Ma-
8 Veja exemplos de fotos falsas usadas na mídia para exagerar e distorcer fatos sobre os contra-ataques israelenses
contra grupos extremistas islâmicos que usam civis como escudos humanos em: http://www.maozisrael.com.
br/shira/especial/Informativo_Setembro.pdf.
9 http://www.haaretz.com/hasen/spages/1061189.html.
10 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/02/090204_gaza_consfisco_rc.shtml.
86
87
A importância da educação
Muito do extremismo que causa o conflito na região do Oriente Médio tem origem na
educação, pela qual se transmite o ódio às novas gerações. A constituição de dois Estados para
dois povos é condição necessária para a paz, mas
não suficiente. Podem bem existir dois Estados
sob constante tensão, como foi o relaciona-
mento entre Israel e seus vizinhos árabes até
pelo menos 1978. Outra condição necessária
para a paz é que se eduquem as crianças para
cultivá-la. Com a divisão territorial em dois
Estados que respeitem cada um o modo de ser
de seus respectivos povos e uma educação para
a paz, teremos as condições suficientes para o
desenvolvimento de uma paz duradoura.
Os princípios judaico-cristãos pregam a
valorização da vida e o amor ao próximo. No
entanto, segundo interpretações literais do
Corão, o livro sagrado muçulmano, é dever
de todo muçulmano lutar pelo que chamam
de “guerra santa” (jihad, em árabe), que é o
esforço por converter o mundo todo ao Islã e
matar quem não aceitar se converter. Existem
também interpretações do Corão que veem
nele uma mensagem de amor e harmonia com
outros povos, mas têm crescido os adeptos da
interpretação que vê no livro um chamado para
a guerra total. Grupos como o Hamas, o Hez-
bollah e a Jihad Islâmica utilizam-se de escudos
humanos nas guerras, ou seja, escondem-se
em meio à população civil para causar o maior
número de notícias na mídia sobre mortes de
palestinos e treinam terroristas para cometer
atentados suicidas. Muitas crianças palestinas
são desde cedo doutrinadas a odiar Israel e os
judeus e a realizar treinamentos militares11.
11 Veja vídeo sobre treinamento das crianças palestinas pelo Hamas em:
http://www.youtube.com/watch?v=TkwthDpeZWk.
88
O Hamas, partido político palestino, classificado como organização terrorista, que cau-
sou a incursão de Israel em Gaza, possui um canal de televisão em que exibe programas
infantis, além de usar a internet e uma revista na Grã-Bretanha, para ensinar às crianças o
ódio aos judeus e glorificar o terrorismo com ataques suicidas. Em um desses programas,
chamado Os Pioneiros do Amanhã, o personagem Farfour, um ratinho muito semelhante ao Mi-
ckey Mouse, ensina à criançada que se deve morrer combatendo os judeus como forma de
obter o paraíso após a morte para si e para toda a família do suicida.
Em Israel, algumas iniciativas educacionais reúnem crianças judias e palestinas para que
cresçam em paz. Esse é o caminho que deve ser incentivado.
No Brasil, é muito importante promover uma educação em prol da tolerância e amizade
entre os dois povos, sendo imprescindível transmitir informações corretas sobre a realidade
e a história.
89
O exemplo brasileiro
Judeus e árabes tradicionalmente se deram bem no Brasil, sejam os árabes cristãos, sejam
muçulmanos. Aqui, é comum a amizade entre pessoas dessas duas origens, motivo pelo qual se
costuma dizer que o Brasil dá ao mundo um exemplo de tolerância, convivência e amizade.
Representantes das comunidades judaica e muçulmana enfatizam a necessidade de não
“importar o conflito”, isto é, trazer a violência para dentro do país.
No Brasil, líderes de várias religiões publicaram em janeiro de 2009 uma nova declaração
pela paz:
90
Sites
Em português: Em inglês:
http://blogandodeisrael.blogspot.com http://jta.org
http://etnografianovirtual.blogspot.com http://www.adl.org
http://namiradohamas.blogspot.com http://www.bnaibrith.org
http://netjudaica.blogspot.com http://www.imra.org.il
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo http://www.israelnationanews.com
http://www.bnai-brith.com.br http://www.israelpolitik.org
http://www.deolhonamidia.org.br http://www.jpost.com
http://www.jornalalef.com.br http://www.pmw.org.il
http://www.owurman.com/blog http://www.wiesenthal.com
http://www.pletz.com http://www.youtube.com/user/idfnadesk
http://www.visaojudaica.com.br
Eric Calderoni Doutor em Psicologia Social, é diretor de projetos do Instituto Brasil Ambiente, professor da
Universidade Anhembi-Morumbi, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Trabalho e Ação Social
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da
Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith do Brasil. Colaboraram para a confecção deste capítulo o coordenador
e os demais autores desta obra, além de Wolf Ejzenberg, Daniel Douek e José Calderoni, que contribuíram para
a revisão de versões anteriores do texto. Agradecimento especial a Roberta Zrycki pela assistência administrativa.
91
1020 a.C.
A monarquia judaica é estabelecida; Saul é o primeiro rei.
1000 a.C.
Jerusalém torna-se a capital do Reino de David.
960 a.C.
O Primeiro Templo, centro nacional e espiritual do povo judeu, é construído em
Jerusalém pelo rei Salomão.
930 a.C.
Divisão do reino: Judá e Israel.
722-720 a.C.
O Reino de Israel é destruído pelos assírios; dez tribos exiladas (as “Dez Tribos Per-
didas”).
586 a.C.
O Reino de Judá é conquistado pela Babilônia. Jerusalém e o Primeiro Templo são
destruídos; maioria dos judeus exilada e escravizada.
92
332 a.C.
Alexandre Magno conquista o país; domínio helenístico.
166-160 a.C.
Revolta dos macabeus (Hasmoneus) contra as restrições à prática do judaísmo e a profanação
do Templo.
142-129 a.C.
Autonomia judaica sob a liderança dos Hasmoneus.
129-63 a.C.
Independência judaica sob a monarquia dos Hasmoneus.
63 a.C.
Jerusalém é capturada pelo general romano Pompeu.
20-33
Jesus de Nazaré prega o que mais tarde viria a ser o cristianismo.
66
LINHA DO TEMPO
70
Destruição de Jerusalém e do Segundo Templo. Início da Diáspora, dispersão dos judeus pelo
mundo.
73
Queda do último bastião da resistência judaica, em Massada.
93
132-135
Revolta de Bar Kochba contra os romanos.
135
O imperador romano Adriano muda o nome da Judeia (a terra dos judeus, de Judá) para Palestina.
1536
Início da Inquisição em Portugal.
94
1882-1903
Primeira Aliá (imigração para Israel, em grande escala), principalmente da Rússia.
1897
Primeiro Congresso Sionista, reunido por Theodor Herzl em Basileia, Suíça; fundação da
Organização Sionista.
1904-1914
Segunda Aliá, principalmente da Rússia e Polônia.
1909
Fundação de Degânia, o primeiro kibutz (comunidade agrícola de idelogia socialista), e
de Tel-Aviv, a primeira cidade moderna completamente judaica.
1914-1918
Primeira Guerra Mundial.
1917
Quatrocentos anos de domínio otomano chegam ao fim com a conquista britânica; Lord
Balfour, ministro de Relações Exteriores britânico, declara o apoio ao estabelecimento de
“um lar nacional judaico na Palestina”.
1920
Fundação da Histadrut (Federação Geral dos Trabalhadores) na Terra de Israel.
A comunidade judaica cria o Vaad Leumi (Conselho Nacional) para dirigir seus assuntos
internos.
LINHA DO TEMPO
1921
Fundação do primeiro moshav (comunidade agrícola), Nahalal.
1922
A Liga das Nações confia à Grã-Bretanha o Mandato sobre a Palestina (Terra de Israel); três
quartos da área são entregues à Transjordânia (atual Jordânia), deixando apenas um quarto para
o Lar Nacional Judaico.
Criação da Agência Judaica, representante da comunidade judaica diante das autoridades
do Mandato.
95
1924
Fundação do Technion, o primeiro instituto de tecnologia de Israel.
1924-1932
Quarta Aliá, principalmente da Polônia.
1925
Inauguração da Universidade Hebraica de Jerusalém, no Monte Scopus.
1929
Massacre dos judeus de Hebron por militantes árabes.
Quinta Aliá, principalmente da Alemanha.
1932
Independência da Arábia Saudita e do Iraque.
1935
A Pérsia passa a ser chamada de Irã.
1936-1939
Distúrbios antijudaicos na Palestina instigados por militantes árabes.
1939
O Livro Branco britânico limita drasticamente a imigração judaica.
1939-1945
Segunda Guerra Mundial; Holocausto na Europa, com a morte de 6 milhões de judeus pelo
nazismo, que perseguiu e assassinou também testemunhas de Jeová, ciganos, homossexuais,
presos políticos, deficientes, considerados “inferiores”.
1944
Formação da Brigada Judaica, como parte das forças britânicas que lutam contra o nazismo
na Segunda Guerra Mundial.
1945
Independência do Líbano. A República Libanesa havia sido criada em 1926.
1946
Criação do Reino Hashemita da Transjordânia, denominado em 1950 de Jordânia.
Independência da Síria.
1947
A ONU propõe o estabelecimento de dois Estados, um árabe e outro judeu, o que ficou
conhecido como a Partilha da Palestina.
96
1949
Assinatura de acordos de armistício com Egito, Jordânia, Síria e Líbano.
Jerusalém é dividida, sob domínio de Israel e da Jordânia.
Eleição do primeiro Knesset (Parlamento).
Israel é aceito como o 59.º membro da ONU.
1948-1952
Imigração em massa da Europa e dos países árabes.
1951
Independência da Líbia.
1956
Campanha do Sinai.
Independência do Sudão.
1961
Independência do Kuwait.
1962
Adolf Eichmann é julgado e executado em Israel por sua participação no Holocausto.
1964
Completado o Conduto Nacional, para trazer água do Lago Kineret, no norte, ao sul semiárido.
1967
Guerra dos Seis Dias; reunificação de Jerusalém.
1968-1970
Guerra de Desgaste do Egito contra Israel.
LINHA DO TEMPO
1973
Guerra do Yom Kippur.
1975
Israel torna-se membro associado do Mercado Comum Europeu.
1977
O Likud forma o governo após as eleições para o Knesset; fim de 30 anos de governo trabalhista.
Visita do presidente egípcio Anwar Sadat a Jerusalém.
97
1978
Os acordos de Camp David apresentam as linhas gerais para uma paz abrangente no Oriente
Médio e uma proposta de autogoverno para os palestinos.
1979
Assinatura do Tratado de Paz Israel-Egito. O primeiro-ministro Menachem Begin e o presidente
Anwar Sadat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.
1979
O aiatolá Khomeini promove a Revolução Islâmica no Irã, que passa a se chamar República Is-
lâmica do Irã
1981
A Força Aérea israelense destrói o reator atômico do Iraque pouco antes de sua entrada em
operação.
1982
Completam-se as três etapas de retirada de Israel da Península do Sinai.
A Operação Paz para a Galileia expulsa do Líbano os terroristas da OLP (Organização para a
Libertação da Palestina).
1984
Formado um governo de unidade nacional (Likud e Trabalhista) após as eleições. Operação
Moisés: imigração dos judeus da Etiópia.
1985
Assinado o Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos.
1987
Distúrbios violentos e generalizados (Intifada) irrompem nas áreas administradas por Israel.
1988
Governo do Likud após as eleições.
1989
Israel propõe uma iniciativa de paz de quatro pontos.
Início da imigração em massa dos judeus da antiga União Soviética.
1990
Unificação do Iêmen.
1991
Israel é atacado por mísseis Scud do Iraque durante a Guerra do Golfo.
Reúne-se em Madri a Conferência de Paz para o Oriente Médio.
A Operação Salomão traz a Israel, por via aérea, mais judeus da Etiópia.
98
1993
Israel e a OLP, representante do povo palestino, assinam a Declaração de Princípios sobre
os procedimentos do autogoverno interino para os palestinos.
Entre 1993 e 1995, nasce a Autoridade Nacional Palestina (ANP), chefiada por Yasser Arafat.
1994
Implementação do autogoverno palestino na Faixa de Gaza e na região de Jericó.
Plenas relações diplomáticas com a Santa Sé.
Marrocos e Tunísia estabelecem escritórios de representação de interesses.
Assinatura do Tratado de Paz Israel-Jordânia.
Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.
1995
Ampliação do autogoverno palestino implementado na Margem Ocidental (Cisjordânia)
e na Faixa de Gaza; eleição do Conselho Palestino.
Assinatura dos segundos acordos de Oslo, pelo primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e pelo
presidente da OLP, Yasser Arafat, testemunhado pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.
Assassinato de Yitzhak Rabin, num comício em prol da paz. Shimon Peres torna-se o primeiro-
-ministro de Israel.
1996
Escalada do terrorismo árabe fundamentalista contra Israel.
Operação Vinhas da Ira, em retaliação aos ataques terroristas do Hezbollah ao norte de Israel.
O partido de direita Likud sobe ao poder após as eleições para o Knesset.
1997
Assinatura do Protocolo de Hebron entre Israel e a Autoridade Palestina.
2000
Visita do papa João Paulo II a Israel.
Início da Segunda Intifada.
Recrudescimento dos ataques terroristas em Israel, atingindo ônibus, escolas, restaurantes, entre
outros.
LINHA DO TEMPO
Século XXI
2001
Em fevereiro, Ariel Sharon assume como primeiro-ministro de Israel, pelo Likud.
2002
Apresentação do Road Map (“mapa da estrada”), proposta de paz feita pelo “quarteto” –
Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU –, com vários passos para a criação de um
Estado palestino independente.
99
2004
Morte de Yasser Arafat, presidente da ANP. Assume Mahmoud Abbas, do mesmo partido de
Arafat, Fatah (antiga OLP).
2005
O grupo terrorista Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que não aceita a existência do
Estado de Israel, ganha as eleições da ANP e Ismail Haniyeh assume como primeiro-ministro.
Abbas continua sendo presidente.
Fundação do partido Kadima (de centro) por Ariel Sharon, em Israel.
Decretada a Lei de Implementação do Plano de Retirada, para remover todas as colônias israe-
lenses da Faixa de Gaza e quatro no norte da Cisjordânia. Em 12 de setembro, não há mais ne-
nhum judeu na Faixa de Gaza. A saída unilateral é vista como forma de chegar mais rapidamente
à paz com os palestinos.
2006
Ariel Sharon sofre um derrame cerebral (AVC) e entra em coma.
Ehud Olmert assume como primeiro-ministro de Israel.
Sequestro de soldados israelenses pelo Hamas e pelo Hezbollah, que invadiu o território israe-
lense.
Israel lança operação no Líbano para diminuir capacidade de fogo do Hezbollah, que atua em
meio aos civis.
2007
Crescente tensão entre partidários do Fatah e do Hamas leva à criação de um governo de coali-
zão da Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia e em Gaza. O Hamas assume o controle de
Gaza, após luta com o Fatah, impondo um governo fundamentalista sunita.
Realizada a Conferência de Anápolis, reunindo Estados Unidos, o governo de Israel e a Autori-
dade Palestina. O Brasil participa do encontro.
2008
Trégua de seis meses com o Hamas faz com que o lançamento de foguetes contra civis ao sul
de Israel diminua.
2008-2009
Depois de oito anos de ataques ininterruptos de mísseis por palestinos ao sul de Israel, que re-
crudescem com o domínio da Faixa de Gaza pelo Hamas, Israel lança uma ofensiva contra Gaza,
para neutralizar a ação do Hamas contra civis israelenses no sul do país.
2009
O Partido Likud assume o governo em Israel.
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Facul-
dade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.
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