Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dissertação - 20173017100 Rev 13mar2020
Dissertação - 20173017100 Rev 13mar2020
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Rio de Janeiro, RJ
Abril de 2019
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
Dissertação
Rio de Janeiro, RJ
Abril de 2019
II
Copyright
por
2019
117 f.
Inclui referências e apêndices.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Salet Ferreira Novellino.
III
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
Banca Examinadora:
Beatriz Magaloni
Universidade Stanford
IV
DEDICATÓRIA
V
AGRADECIMENTOS
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
vii
SUMÁRIO
Lista de Gráficos ………………………………………………………………………………………………….ix
Lista de Ilustrações…………. ...................................................................................... x
Lista de Abreviaturas e Siglas ................................................................................. xi
INTRODUÇÃO:……………………….. ............................................................................... 1
Capítulo 1: Da questão espacial à territorialidade criminosa. ................................ 7
1.1 Os aglomerados de exclusão como palco de atuação de organizações
criminosas........................................................................................... 7
1.2 Do território e territorialidade ....................................................................... 14
Capítulo 2: Aspectos das Organizações criminosas: da teoria ao caso concreto .. 21
2.1 Caracterização das Organizações Criminosas: ................................................ 23
2.2 Modelos de Organizações Criminosas ............................................................. 27
37
2.3.1 Das Facções que exploram majoritariamente o tráfico de drogas ......... 39
2.3.2 Das Milícias……… ..................................................................................... 43
2.3.3 Da distribuição espacial das Facções ..................................................... 50
Capítulo 3: A atuação do Estado frente à territorialização das organizações
criminosas......................................................................................... 54
3.1 Sobre o Programa de Pacificação .................................................................... 56
3.2 Impacto sobre os indicadores de segurança pública ...................................... 63
3.2.1 Homicídios dolosos: ................................................................................ 64
3.2.2 Mortes decorrentes de intervenção policial: ......................................... 67
3.2.3 Roubos de Veículos: ................................................................................ 69
3.2.4 Roubos de carga:..................................................................................... 70
3..3 O Criminal displacement como consequência da atuação estatal................. 71
Capítulo 4: Territórios-rede do crime organizado ................................................. 75
4.1 Da análise de redes .......................................................................................... 78
4.1.1 Das estatísticas de rede .......................................................................... 80
4.2. A dinamicidade da rede e seus impactos na qualidade de vida..................... 94
CONCLUSÃO:……………… ..................................................................................... 1030
REFERÊNCIAS:……………… .................................................................................... 1085
APÊNDICE 1: DIVISÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO POR CISP E RISP ......... 1152
APÊNDICE 2: RELAÇÃO DAS CISPS E SUAS REFERÊNCIAS DE LOCALIDADE,
MUNICÍPIO E REGIÃO. .................................................................... 113
APÊNDICE 3: MÉTRICAS DE CENTRALIDADE UTILIZADAS POR CISP EM 2007, 2012 E
2017…….. ........................................................................................ 117
viii
LISTA DE GRÁFICOS
Ilustração 2.5 – Distribuição dos aglomerados subnormais, bem como áreas com
UPPs em 2017......................................................................................52
Ilustração 3.1 - Criança brinca sobre um blindado da Polícia Civil durante operação,
fazendo uma postura de estar segurando um fuzil e apontando para
policiais; reproduzindo sua triste
realidade.........................................61
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
xiii
INTRODUÇÃO.
Pública (ISP), 5.346 pessoas foram vítimas de homicídios dolosos, uma taxa de 32
mortes por 100 mil habitantes. No mesmo período, 237 pessoas foram latrocinadas,
ou seja, perderam suas vidas em decorrência de um roubo1. Por sua vez, os Órgãos de
Segurança foram responsáveis pela morte de 1.127 pessoas em conflito com a lei
durante suas intervenções. Também em 2017, 163 policiais militares foram mortos por
por dia.
2017, 90,5% dos dias teve pelo menos uma escola fechada em decorrência de
1 Segunda maior quantificação desde 2003, perdendo apenas para o ano anterior (2016).
1
Através do Aplicativo “Fogo Cruzado’, a Anistia Internacional, em igual período,
por dia.
2017, em 90,5% dos dias houve pelo menos uma escola fechada em decorrência de
fluminense; tais cifras caracterizam o Rio de Janeiro como um lugar sui generis,
quando comparamos com a maioria dos estados federados, por vezes comparáveis aos
México.
período foi implantado o Programa das Unidades de Polícia Pacificadora. Como recorte
mencioná-las somente para contextualização; para que se possa- assim- focar nas
2
Cumpre ressaltar que o conceito de região utilizado neste trabalho está
criminosas ao longo do espaço neste caso concreto? Como o Poder Público Fluminense
criminosas ao longo do espaço neste caso concreto? Como o Poder Público Fluminense
crimes dolosos contra a vida e aos crimes contra o patrimônio, bem como as respostas
3
Relevante salientar que para este trabalho, focar-se-á nas Organizações
exploram o mercado de drogas ilícitas e/ou bens e serviços irregulares; embora, por
Facção.
Janeiro;
de redes etc.;
Para a parte quantitativa, utilizaremos as seguintes fontes de dados:
4
criminosas – principalmente – para a confecção do mapa das áreas de
Janeiro;
de séries temporais.
para a atividade dos negócios ilícitos em estudo, bem como do conceito de território e
Criminosas estudadas.
criminosas ao longo do espaço neste caso concreto? Como o Poder Público Fluminense
caracterizam o Rio de Janeiro como um lugar sui generis, quando comparamos com o
restante do Brasil, por vezes comparáveis aos cenários de violência impostos por
5
Destarte, o objetivo central desta investigação é analisar a territorialização das
somente para contextualização; para que se possa- assim- focar nas características
criminosas ao longo do espaço neste caso concreto? Como o Poder Público Fluminense
6
CAPÍTULO 1. DA QUESTÃO ESPACIAL À TERRITORIALIDADE CRIMINOSA
do espaço físico, mas também do espaço de vivência do cotidiano; tal apropriação não
pode ser entendida sem o tempo, o ritmo da vida. Haesbaert (2014, p.35), ao dispor
de obra o Estado Rio de Janeiro nas décadas de 1960 e 1970 aumentaram o processo
Região Sudeste. Com base no Censo de 2010, somente no Estado do Rio de Janeiro
desenvolvidos do Estado: Leblon (com IDH de 0,967) e Gávea (com IDH de 0,970).
Rocinha possui mais habitantes do que 50% das cidades brasileiras, um bairro com
importância que o governo Brizola deu aos serviços sociais básicos nas favelas cariocas,
pouco se fez para minimizar o aumento de forças criminosas em tais lugares (BURGOS,
2003, p.43).
do mundo polarizado: o AK-47 (fuzil de assalto leve soviético) e o Colt AR-15 (fuzil de
fuzil calibre 7,62mm, pode alcançar 3.800 metros), tornando-se maquinários básicos
para os locais com grande fluxo de venda de drogas.
LESSING, 2017).
Apesar de serem as favelas os espaços mais icônicos para o homizio das facções
criminosas, não devemos apenas nos restringir a elas. Na verdade, há outros espaços
com problemas parecidos ou até mais complexos. Problemas esses causados tanto por
também alvos de ação de tais grupos, em especial na Zona Oeste carioca, Baixada
4 Mingardi (1998), Vergara (2012), Buscaglia (2013), Karstedt (2014), Haesbaert (2014) etc.
9
serviços privados concessionários5 do Poder Público, fundamentais para a qualidade de
vida.
na prevenção delituosa do que na mera repressão. Assim, Molina (2003, p.982) aponta
longo prazo que buscam apaziguar o conflito criminal; ou seja: a legislação penal
uma atuação estatal de curto prazo. Assim, a ineficiência da prevenção primária tende
um Estado ineficiente.
Para tanto, ao analisar o Índice de Fragilidade dos Estados entre 2005 e 2009
(FSI), a supracitada autora indica que, com exceção de três países, todos os piores
10
ranqueados apresentam alta concentração de violência estatal, desequilíbrio
caso do Brasil7 , assim afirmou a autora – viabilizando uma violência oriunda de vários
2014, p. 314).
fato de que perda de poder acaba por incitar a instrumentalização da violência. Assim,
disserta a autora: “Substituir poder pela violência pode trazer a vitória, mas o preço é
muito alto; pois ele não é apenas pago pelo vencido, mas também pelo vencedor, em
históricos – uma série de ações e omissões que acabam por resultar em tais espaços o
7 O Fragile States Index (FSI) é um relatório anual confeccionado pela Organização The Fund
for Peace (FFP). O Índice leva em consideração os seguintes fatores: o aporte de segurança
existente no país (uso da força, criminalidade, relação entre cidadãos e as forças de segurança
etc.); representatividade étnica/racial; pobreza e declínio econômico; desigualdade
econômica; migração; legitimidade estatal; serviços públicos; Estado de Direito e Direitos
Humanos; aspectos demográficos e intervenções externas. Para o FSI, em 2017, o Brasil
encontrava-se em um estágio de atenção, quanto à fragilidade estatal, estando em 65º lugar,
em um ranking de 175 países.
11
restaram espaços e, portanto, sempre restou uma incompletude no processo de
modernização do país, que atingiu tanto o Estado quanto a sociedade, e que é, em
parte, responsável pelos efeitos de violência que nós estamos assistindo hoje. (MISSE,
2008, p.374).
Assim, para o supracitado autor, tal acumulação pode ser medida através de
homicídios dolosos, estupros etc.); não obstante, perpetradas por criminosos que
territorializam tal espaço, mas principalmente pelo aparelho estatal em diversas ações
Misse (1999) aponta para três grandes ciclos de violência no que diz respeito às
favelas: o primeiro mais longo, das últimas décadas do Império até o fim do Estado
Novo; o segundo, abrangendo o pós Estado Novo até o AI-5 (1968); e o terceiro, inicia-
se na década de 1970, com maior intensidade a partir do final da década de 1980,
Ordem Pública através da violência. O segundo ciclo de violência, embora ainda com
características do primeiro, foi muito marcado pela atuação dos inúmeros esquadrões
logo, são impedidos de circular em outras cuja facção seja rival. Assim, cada vez mais
12
os “territórios-enclave” são mais fechados, e pouco interativos com os demais lugares
Porém, apesar disso, nem tudo que não é favela constitui-se de “área neutra”,
conforme explicação do citado autor. Como resposta à violência que atinge o “asfalto”,
segregação” das parcelas sociais com maior poder aquisitivo, principalmente através
dos condomínios de luxo com acessos exclusivos e dos espaços de convivência como
mantenedor da paz social, propicia a criação de redes ilegais que promovem- por meio
da violência- territorializações; por vezes, logrando em substituir o próprio Estado no
8 Nos dias atuais tem-se visto no subúrbio carioca e Baixada Fluminense o fechamento de ruas
e contratação de vigilantes por moradores, com a justificativa de promover mais segurança;
assim como nos condomínios de luxo, restringe-se cada vez mais os acessos.
9 “Com a incapacidade cada vez maior do Estado de garantir a integridade física dos cidadãos,
a “área neutra” surge como aqueles espaços onde a probabilidade de ser vitimado pela
criminalidade violenta ordinária (roubos, estupros etc.) é nitidamente a maior de todas,
durante um assalto ou mesmo devido a uma bala perdida, na rua e inclusive dentro da própria
residência.” (SOUZA, 1998, p.8).
13
do crime não se dá uniformemente, variando de grupo criminoso para grupo
criminoso, conforme destacaram Braga et. al. (2008) e abordaremos mais à frente.
3. O poder vem de baixo; não há uma oposição binária e global entre dominador e
dominados;
5. Onde há poder há resistência e, no entanto, ou por isso mesmo, esta jamais está
em posição de exterioridade em relação ao poder. (RAFFESTIN, 1993, p.53).
como algo múltiplo, híbrido e diverso; dirimindo a ideia de uma visão unifuncional.
Trata-se, efetivamente, de um reflexo de conflitos e contradições no plano espacial,
abrange tanto uma dominação material, como imaterial (poder simbólico). Por isso,
territórios.
classe para afetar, controlar ou influenciar outras pessoas, grupos, relações, classes ou
analisada.
(SACK, 1983).
território, seja no seu aspecto real ou simbólico, como observou Haesbaert (2009, p.
Para Raffestin (1993), este sistema territorial permite a integração dos territórios, bem
como sua coesão produzida por inúmeros agentes individuais ou coletivos, não
proposições axiomáticas:
15
3. Pode-se estabelecer ao menos um caminho entre dois pontos dessa superfície;
5. Entre três pontos dessa superfície, pode-se estabelecer ao menos uma rede.
(RAFFESTIN, 1993, p.149).
Quanto aos nós (atores que podem representar uma unidade, seja o indivíduo
Por fim, tem-se as redes. Como ensinou Santos (2006), a rede pode ser
material e outra com dado social; ou seja, pode ser técnica, mas também vivente.
Animadas por fluxos, que dominam o seu imaginário, as redes não prescindem de fixos
- que constituem-suas bases técnicas - mesmo quando esses fixos são pontos. Assim,
as redes são estáveis e, ao mesmo tempo, dinâmicas. Fixos e fluxos são intercorrentes,
interdependentes. Ativas e não-passivas, as redes não têm em si mesmas seu princípio
dinâmico, que é o movimento social. (SANTOS, 2006, p. 188).
16
territorialização feitas por Haesbaert (2014), exemplificaremos de acordo o problema
ora estudado:
políticos.
áreas dominadas por tais facções; por exemplo: Comando Vermelho só usa a
17
a manifestação de identidade da organização criminosa e influenciou os jovens
restrição de acesso determinadas pelo grupo criminoso atuante fazem com que
lugar”.
modus vivendi dos moradores locais. Pode-se perceber que a territorialidade exercida
é manifestada também de forma imaterial. Como bem escreveu Souza (1998, p.3), o
democrática no quotidiano”.
moradores locais através de barricadas fincadas nas ruas. Os dados da Ilustração 1.1
foram extraídos de uma plataforma chamada “Tem barricada Aí?”; informações foram
18
“O São Gonçalo”, jornal atuante no município de São Gonçalo e adjacências; uma vez
Google10.
do município, feitas com diversos materiais. Com base nas descrições realizadas pelos
concreto ou ferro fincadas na via (56 casos), entulhos ou lixo que impedem a passagem
reificante. Segundo o autor, tanto o poder quanto a influência nem sempre são tão
tangíveis como são os córregos, montanhas, estradas ou casas. Portanto, é a
de impessoalizar as relações.
Na Ilustração 1.2, observa-se uma cobertura do portal de notícias “Sim São Gonçalo”
retratando a retirada de barricadas por policiais e o sofrimento imposto aos
moradores. O jornalista afirma ser tal cenário retrato da pobreza em São Gonçalo11. Ao
menos, é certo afirmar que tal paisagem é decorrente da pouquíssima eficiência da
municipalidade, e da pouca operabilidade dos serviços inerentes aos demais entes
federativos, sobretudo nos aglomerados de exclusão social. Por fim, há de se destacar
sua perspicaz observação: “(...) na verdade, é um limitador territorial, que mostra para
os moradores quem realmente manda ali”Ilustração 1.1: Locais de barricadas extraídas
de um portal colaborativo.
10 O SÃO GONÇALO. Tem Barricada Aí?' ganha mapa para acessar pelo celular e computador.
<http://www.osaogoncalo.com.br/seguranca-publica/49987/tem-barricada-ai-ganha-mapa-
para-acessar-pelo-celular-e-computador> Acessado em: 18jun18.
11 SIM SÃO GONÇALO. Mapa das barricadas é o retrato da pobreza em São Gonçalo.
<http://simsaogoncalo.com.br/policia/mapa-das-barricadas-e-o-retrato-da-pobreza-em-sao-
goncalo/> Acessado em: 18jun18.
19
Ilustração 1.2: Notícia de barricadas no município de São Gonçalo impostas pelo
Tráfico.
20
CAPÍTULO 2. ASPECTOS DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS:
DA TEORIA AO CASO CONCRETO
ilícita; na verdade, é para o autor uma junção de mercado ilícito com uma estrutura
mercado.
próprio Estado; portanto, um conditio sine qua non. Todavia, segundo o autor,
de determinada conduta (proibição) faz com que se apareça uma organização delitiva
para explorar uma demanda social reprimida (isso quando a atividade empreendida
12 Por atividades predatórias podemos entender os furtos, roubos, sequestros etc. Neste caso,
por uma questão lógica, diferentemente das generalizações de muitos autores, a interação dos
criminosos com agentes públicos (principalmente através de atos de corrupção) tende a ser
menor. Cepik e Borba (2012) afirmam que, em decorrência da cobrança social e o dano
causado, tais organizações tendem a não sobreviver por muito tempo. Por crimes de perigo
21
Outrossim, importante ressaltar as observações de Cepik e Borba (2012), ao
assim, afirmam que a “tensão entre controle territorial e extroversão econômica é por
filiam-se a segunda corrente citada por von Lampe, ou seja, a relação não é simbiótica
nem predatória, mas parasitária. O Crime Organizado não pensa ser, dominar ou
destruir o Estado ou a estrutura social, mas se aproveitar destes, obtendo lucros com o
aparelho estatal, o que de fato pode gerar uma simbiose entre essas duas distintas
isso não chega a ser uma regra. As contribuições de Vergara (2012) mais adiante
plano legal, não há igualmente um pleno e satisfatório significado para tal expressão,
limitando-se a ideias de uma associação criminosa13 (TORREÃO, 1999; GOMES, 2012;
etc.)
abstrato, termo presente no ordenamento jurídico pátrio, pode-se entender um risco para o
bem jurídico que é presumido por lei, ou seja, não há a necessidade da lesão ao bem jurídico
(exemplo: dirigir embriagado em condução de veículo automotor, tráfico de armas e de drogas
etc.). Para os supracitados autores, organizações criminosas que cometem tais crimes
possuem uma durabilidade bem maior. Pode-se afirmar que são estas que tendem a interagir
com os agentes estatais para manter sua durabilidade.
13 Lei Nº 12.850, de 2 de agosto de 2013: “Art. 1º - § 1º Considera-se organização criminosa a
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela
22
Porém há de lograr pontos em comum, o que permite identificar se
apontam para o que é uma organização orientada para o delito (seja como um
e sua governança intra ou extra corporis, (VON LAMPE, 2016), conforme melhor
explicado abaixo.
As classificações propostas por von Lampe (2016) podem ser resumidas nas
três abaixo dispostas; todavia, conforme prediz o autor, pode haver outras também,
divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. ”
23
1- Quanto às atividades:
internet, TV à cabo, drogas ilícitas etc. Ou, na atuação do que o autor chama de
prostituição etc.
2- Quanto à estrutura:
organização muito mais definida, e estruturada. Citemos como exemplo a Cosa Nostra
(EUA).
(c) Redes: interações baseadas em rede, onde ambos os lados tomam decisões de
forma independente, mas estão vinculados por laços sociais subjacentes. Neste caso,
podemos sugerir, como exemplo, a interação entre alguns criminosos que são de
mesma facção criminosa e ligados por antecedentes histórico-comunitários, devido ao
Programa “Minha Casa, Minha Vida”, cujos fornecedores são dos mesmos locais de
14 JORNAL EXTRA. Famílias expulsas de condomínio do ‘Minha casa, minha vida’ por
traficantes ganham novos apartamentos. <https://extra.globo.com/casos-de-policia/familias-
24
Convém também destacar o trabalho de Ming Xia (2008), ao estudar o Crime
forma piramidal, ou seja, com uma estrutura hierárquica rígida e bem definida, tal
Hierarchical structures have a major weakness: they can be easily dismantled when
detected by the authorities. Some hierarchical crime groups have reshaped their
structures in recent decades to become networked organizations. At the same time,
smaller groups with looser hierarchies have begun to participate in international drug
trafficking, often using new technologies to reduce the risk of detection. (UNODC,
2017, p.16).
e é através dele pelo país afora que se tende a estabelecer algumas alianças
criminosas.
expulsas-de-condominio-do-minha-casa-minha-vida-por-traficantes-ganham-novos-
apartamentos-20840538.html>. Acessado em 19mar2018.
ESTADÃO. Condomínios do Minha Casa dominados pelo tráfico são alvo de operação no RS.
<http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,condominios-do-minha-casa-minha-vida-
dominados-por-traficantes-sao-alvos-de-operacao-no-rs,70001879035>. Acessado em
19mar2018.
25
(a) Estrutura com uma lógica empresarial, portanto, objetivando um nexo de ganho
material.
status (por exemplo, a Ku Klux Klan). Pode ou não estar ligada à uma lógica de
mercado, sendo que, frequentemente, viabiliza contato entre os mais diversos tipos de
criminosos, dando aos mesmos status ou permitindo trocas de insumos para atividade
3- Quanto à governança:
mesmo de alguns grupos dominantes com o uso frequente de violência. Von Lampe
(2016) afirma que tais condições ocorrem onde o Estado é “fraco” e frequentemente
ilicitude, mas que nem por isso deixa de haver regras do próprio ato criminal que
26
Tal influência também pode se estender às esferas legais da sociedade
alto grau de legitimidade, tão eticamente distorcida quanto essa ordem pode ser.
social. Por exemplo, quando a Cosa Nostra atuou na Sicília em uma situação típica de
uma realidade. Von Lampe (2011) informa que há inúmeras tentativas de elaboração
von Lampe (2011, p. 299) cita elementos centrais que não podem faltar na análise:
turbação (aglomeração de pessoas que acabam por cometer atos ilícitos devido
funcionais e de interesses.
▪ A atividade que estes atores estão envolvidos: podendo, portanto, ser de matiz
ideológica ou para a aquisição de proventos.
organização criminal de acordo com o já citado autor. Pode-se perceber que o crime
acontece graças à um ambiente propício a tal incidência. Isso pode ser tanto
28
Ilustração 2.1: modelo analítico-contextual do crime organizado.
Contexto social:
Da mesma forma que um determinado grupo social dá aportes para a
etc.), sendo isso visto em favelas, bairros pobres, conjuntos habitacionais populares e
importante uma aproximação entre o Poder Público e a comunidade, pois uma vez
Ambiente de atuação:
humanos de exclusão, pelas inúmeras razões supra elencadas, passam a servir como
aparecimento do ilícito.
há três fatores interdependentes para que o crime com resultados materiais aconteça:
30
por traficantes ou milicianos que igualmente expõe sua população à violência de
Contexto Institucional:
vigente, pressão popular etc. Da mesma forma, o Estado ajusta seu comportamento de
acordo com a opinião pública, com as expectativas eleitorais, e com o próprio
por Cepik e Borba (2012), ao afirmarem que a penetração do crime organizado não se
dá somente pela dissuasão nos baixos escalões do Governo 15, mas também na alta
Assim, segundo os autores, é “sabido que na Itália o crime organizado possuía vários
31
Nesta mesma linha, Pereira (2017) afirma que as ações corruptivas do Crime
(venda de sentenças, omissões etc.); e, no setor privado (neste caso, embora não
pertença à máquina estatal, vale-se dos benefícios gerados pelo crime organizado)17.
e organização social. O autor cita como exemplo, áreas dentro ou próximas a florestas
que são usadas para o plantio de coca. Pode-se também exemplificar o cenário icônico
tais espaços, grupos que viviam com pouca coesão eram assolados por bandos de
criminosos.
17 Sabe-se que muitas empresas privadas lavam dinheiro para as facções do Rio de
Janeiro, ou falsificam notas fiscais de produtos roubados por tais facções
(principalmente, cargas roubadas), ou mesmo pagam pelo monopólio comercial dentro
de certas favelas.
32
Segundo Vergara (2012), Estado Autoritário Criminal é aquele em que setores
Criminosa não possui qualquer intenção de cooptar simpatia ou apoio dos grupos
também que acabam por promover serviços assistenciais negados pelo Poder público.
Assim, exemplifica com o caso das favelas cariocas, comunas de Medellín e alguns
municípios mexicanos.
Por fim, tem-se um Sistema Criminal. Neste cenário, o Vergara (2012) informa
Guatemala.
Redes Criminosas
Segundo von Lampe (2016), a rede é como uma estrutura de laços conectando
mais do que apenas a soma de suas partes, é um corpo com vários órgãos ou funções.
corporal e conectando-se em rede. Sendo que identificar uma rede criminosa não é
uma tarefa fácil, pois, nem sempre as conexões são facilmente constatáveis, E, mesmo
33
acadêmico, a percepção tende a ser incompleta quanto aos padrões de relações que
Assim, von Lampe (2016) indica importantes passos para a análise das
dos laços de rede e determinar o nível de integração desses laços dentre as entidades
cúmplices imediatos, mas eles são em grande parte confinados a uma comunidade
tráfico de drogas etc. Podem abrir contas bancárias, transferir grandes quantidades de
dinheiro, registrar empresas e viajar em prol de seus esforços criminais sem ter que se
preocupar excessivamente com as suspeitas.
34
Trata-se de uma rede em que há uma organização criminosa atuante com o
Estado. Neste caso não há de se predominar uma relação corrupta entre criminosos e
estender além do governo para incluir líderes de negócios e mídia. Exemplos são
fornecidos por uma longa série de escândalos nos níveis local, estadual, nacional e
melhor, com aqueles grupos que tipicamente usam de violência para a sobreposição
de seus interesses.
5- Redes que transcendem aos grupos sociais marginalizados para grupos da elite
dominante:
combinam membros com diferentes contextos sociais, alguns dos mais baixos e alguns
da classe média.
35
elites sociais também podem ter vantagem direta dessas atividades ilegais, por
Um ponto importante que von Lampe (2016) levanta é que tais redes podem
organização criminosa, haja vista que a mesma pode possuir conexões ainda não
conhecidas.
mercados lícitos18 (não somente os ilícitos); o grau de pressão das agências policiais
sobre a quadrilha, impedindo ou não a sua estruturação cada vez mais complexa; a
mídia, etc.
36
Ou seja, para a compreensão da organização criminal, enquanto modelo, deve-
etc. Assim, fatores institucionais, políticas públicas e até a mídia podem favorecer ou
determinada quadrilha19.
Gangues que não se organizam tal como o modelo proposto por von Lampe
(2016) são caracterizadas por uma hierarquia mais flexível, um grau de organização de
menor qualidade e uma atuação mais voltada para as ruas. No contexto fluminense,
favelas de menor porte. Apesar disso, estão, de certa forma, associadas às facções
criminosas (Organizações Criminosas), não somente constituindo uma rede de
compradores, mas também obtendo uma relação de lealdade imposta pela Facção.
aquela sequer esteja ligada à atividade do tráfico de drogas. Isso, ainda, reforça o
territorialismo das organizações nos bairros mais pobres e permite que a Organização
explicada anteriormente20.
seus negócios, aumentar sua territorialização e aspirar uma maior integração com a
Facção; portanto, tornando-se um braço da próprio Comando; toda gangue deseja ser
costumam pagar por proteção de grupos maiores (já caracterizados como uma
Organização Criminosa).
fuzis por delinquentes. Como já foi dito, os fuzis são maquinários básicos de
dominação territorial, devido a seu alto poder de fogo. É uma evidência também
20 Cabe aqui destacar dois casos emblemáticos de como gangues e outras quadrilhas podem
estar associadas à determinada Organização Criminosa:
a) Devido à tendente hegemonia do PCC nos presídios paulistas, qualquer um que entre no
Sistema Penitenciário é obrigado a se associar à Organização Criminosa, mesmo que seu
“negócio” não esteja relacionado às drogas. Com isso, o PCC adquiriu uma enorme
capilaridade sobre o estado paulista, a ponto de diversificar em muito seus negócios. Em 2012,
quando a citada Organização deu um “Salve Geral”, conclamando todos os criminosos sobre
sua égide a atacarem policiais, bombeiros, agentes penitenciários, guardas civis, e seus
familiares, dezenas de agentes públicos de segurança morreram por diversos tipos de
criminosos; igualmente, houve um aumento dos homicídios dolosos (BIRDMAN et al, 2014).
b) Atuante nos Estados Unidos, México, El Salvador, Guatemala, e até Espanha, encontra-se
presente o MS13 (ou Mara Salvatrucha), considerada a maior gangue do mundo. Nascida nas
prisões estadunidense, espalhou-se por vários países a partir da deportação de imigrantes
ilegais presos nos EUA para El Salvador. Tal gangue, conhecida por sua extrema violência, por
vezes tende a ser uma espécie de “terceirizada” em ações violentas do Cartel de Sinaloa
(México). Importante destacar que, apesar de ser chamar de gangue, já possui características
de Organização Criminosa, atuando no contrabando e tráfico de pessoas para os EUA.
38
porque seu preço no mercado ilegal é muito alto, variando de R$ 40.000,00 a
R$70.000,00.
Para se ter uma ideia, em 2017, 81% das armas de fogo apreendidas no Estado
foram através da Polícia Militar do Rio de Janeiro (6.995 armas de fogo), sendo destas
Cabo Frio (Região dos Lagos) e Angra dos Reis (Sul Fluminense), duas cidades
armas21.
21 Dentre as várias ações, destaca-se: “Integrantes de milícia do Chico Bala são condenados
em Itaboraí. (...) O trio invadiu o Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) de
Sambaetiba, em Itaboraí, no dia 13 de março de 2009, com o objetivo de roubar as armas
acauteladas no local. Houve reação dos policiais em serviço e o tiroteio resultou na morte do
policial militar Yolando Flávio da Silva, tendo sido ainda gravemente ferido na ação, o policial
militar Robson da Silva Reis.” PORTAL JUSBRASIL. Disponível em: <https://tj-
rj.jusbrasil.com.br/noticias/2508321/integrantes-de-milicia-do-chico-bala-sao-condenados-
em-itaborai>. Acessado em 03set18.
39
militar deste comércio, chegando até o mais humilde cidadão – consumidor ou frente
de um negócio varejista.
O faturamento do tráfico de drogas é avaliado entre 300 e 500 bilhões de dólares (ou
seja, de 8 a 10 por cento do comércio mundial). Somadas outras atividades criminosas,
o produto criminal mundial bruto ultrapassa largamente 1 trilhão de dólares anuais
(correspondentes a quase 20 por cento do comércio mundial). Admitindo-se que os
custos representem 50 por cento dessa movimentação financeira, restam 500 bilhões
de dólares a serem legalizados anualmente. (...)
Por ter a maior fronteira seca da América, com 14.691 Km (três vezes maior do
igualmente responsável por exportações para outros países 23. Para se ter uma ideia,
22 Informações extraídas do The World Factbook - Central Intelligence Agency (CIA) dos EUA.
para os EUA e Europa, bem como vender armas para as Forças Armadas
vindas do Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul, e também do Paraná ou São Paulo,
comércio). Como rotas marítimas, as drogas e armas entram pela Baía de Guanabara,
Baía de Sepetiba, Angra dos Reis e Região dos Lagos, destacando também o Porto de
Santos (São Paulo). Em 2017, a Polícia Civil do Rio de Janeiro conseguiu apreender 60
Internacional Tom Jobim; segundo investigações da PCERJ, mais de três mil fuzis
das facções criminosas no Estado, conforme bem observado por Barcelos e Zaluar
Acari, e o Amigo dos Amigos (ADA), sediado no Complexo de favelas da Pedreira. Tais
de “não-agressão”.
algumas favelas fluminenses uma sigla distinta: o TCA – Terceiro Comando dos Amigos.
Tal aliança foi estabelecida para se fazer frente, ou seja, barrar a expansão do
Gonçalo.
a rivalizar com o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, quanto à influência
em presídios do Norte e Nordeste do país. De dissidências dentro do Comando
Ainda, relevante destacar, tais facções atuantes no Rio de Janeiro não vivem
prejuízos causados pela polícia ou facções rivais, tais Organizações também realizam
42
de serviços irregulares como o fornecimento de gás em botijão, sinal de televisão à
Judiciário e o Legislativo, conforme foi constado na CPI de 2000. Por vezes, o simples
um traficante até uma solicitação para que o Chefe do Executivo Municipal tentasse
suas campanhas.
Japeri, segundo o IBGE26, com cerca de 101 mil habitantes, o pior Índice de
25 Portal G1. Prefeito de Japeri é preso por suspeita de envolvimento com o tráfico de
drogas. Disponível em <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/07/27/prefeito-
de-japeri-e-preso-por-suspeita-de-envolvimento-com-o-trafico-de-drogas.ghtmll>. Acessado
em 27jul2018.
26 IBGE CIDADES. Ranking de IDH no Estado com base no Censo 2010. Disponível em
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/japeri/pesquisa/37/30255 >. Acessado em 27jul2018.
43
majoritariamente exploram o tráfico, não devido ao seu mercado consumidor de
drogas ilícitas, mas em decorrência de seu posicionamento estratégico: fica entre o Sul
atualmente dominante na cidade é o ADA, embora tenha frequente litígio com o CV;
nome de uma proteção comunitária usa da violência para garantir certa “paz”.
Esta não é uma regra para Estados eficientes; portanto, sendo visto tal fenômeno em
estado fluminense.
Los paramilitares son grupos armados que éstan directa o indirectamente com el
Estado y sus agentes locales, conformados por el Estado o tolerados por éste, pero que
se encuentran por fuera de su estructura formal. (KALYVAS; ARJONA, 2005, p.29).
ambas conhecidas como milícias no Brasil, atuam no Rio de Janeiro, vale de antemão
Kalyvas e Arjona (2005) informam que tais grupos são nominados de diversas
disciplina. Não há semelhanças com os grupos que atuam no Rio de Janeiro ou Brasil.
comunidade para suas ações. Tais guardiões são mais uma entidade política do que
as forças do Estado para reprimir crimes ou cumprir determinadas normas sociais. Tais
civis, a maioria dos que lideram tais grupos são policiais e outros agentes de segurança
que, originalmente, ficaram conhecidos como “polícia mineira”, um antecessor dos
comunidade Rio das Pedras, Zona Oeste da capital fluminense. Por óbvio, se a Lei é
Morte ou Grupos de Extermínio. Tais grupos não são somente constituídos por
45
eventuais agentes do Estado, mas em regra, possui uma direta ligação com o Poder
Como escreveu Misse (1999), o Rio de Janeiro foi marcado nos meados do
Estadual Sivuca e seu popular jargão: “Bandido bom, é bandido morto!”. Nessa ideia,
e deputados.
Assim, os grupos armados considerados como milicianos no Rio de Janeiro
supramencionadas.
Código Penal pela Lei 12.720 de 27 de setembro de 2012, assim sendo disposto no
artigo 288-A:
Sobre isto, o jurista Luiz Flávio Gomes assevera ser um verdadeiro desastre a
criação de tal lei, citando as explicações de Cláudio Varela, Promotor de Justiça no Rio
de Janeiro:
46
(a) antes da lei a milícia era enquadrada na quadrilha armada, com pena de 2 a 6 anos;
com a aplicação da lei dos crimes hediondos, a pena ia para 6 a 12 anos; a nova lei fixa
a pena de 4 a 8 anos (menos que a legislação anterior);
(b) as características da milícia eram usadas para elevar a pena-base (agora isso ficou
impossível porque elas fazem parte do crime do art. 288-A);
(c) a forma vaga da redação da lei (“milícia”, “grupo”, “esquadrão”) vai dificultar a
aplicação da lei;
(d) a finalidade da milícia ficou reduzida aos crimes previstos no Código Penal (a
quadrilha fala em qualquer outro crime);
(e) crimes como exploração ilegal de TV por assinatura, venda ilegal de GLP,
parcelamento irregular do solo urbano, usura, tortura etc. Não estão no CP (logo, a
reunião de várias pessoas para cometer esses crimes não configura o art. 288-A).
(GOMES, 2012).
prestígio, pois tais grupos tendem a ser sentir localmente valorizados; e por óbvio,
enriquecimento ilícito.
2006, inclusive sendo tal termo cunhado pela própria imprensa; assim, segundo Cano
(2008):
(...) ‘milícia’ condiz plenamente com este mito libertador, como uma forma privada
que os policiais teriam encontrado de vencer a guerra contra o crime e reconquistar os
territórios ao inimigo, vista a ineficiência do próprio estado na consecução deste
objetivo”. (CANO, 2008, p.59)
47
Justamente por se auto-identificar como mantenedora da ordem local, a milícia
apresenta procedimentos percebidos como menos agressivos do que aqueles
utilizados pelos bem armados traficantes de drogas.
Além disso, deve-se notar que a origem dos milicianos nos próprios quadros policiais
os prepara para estabelecer e manter a ordem sem os desmandos e arbítrios
cometidos por traficantes. Como combatem alguns dos crimes violentos mais temidos
pela população, recebem também apoio imediato daqueles que não desejam ter
traficantes e assaltantes como vizinhos.
Legislativa (ALERJ).
investigar a ação de milícias em 2008, (ALERJ, 2008), cerca de 63% dos integrantes das
milícias eram civis, quanto aos demais, eram majoritariamente policiais militares, mas
garantem a impunidade das quadrilhas, bem como uma extensa rede de corrupção.
Das 171 comunidades onde é registrada a presença de milícias, 119 comunidades não
pertenciam a nenhuma facção criminosa, o que representa quase 70%. As que
anteriormente seriam dominadas por facções criminosas totalizariam 52%. Outro viés
importante - indicado pelas agências - mostra que não é comum o poder concentrado
em único grupo miliciano, mas em vários grupos distintos, alguns com grande
destaque, principalmente, pela divulgação da mídia e pela evolução de suas lideranças
no cenário político do Rio de Janeiro.
Criminosas, são tão danosas quanto 29. Todavia, a facção que dominava
29 Muitos grupos criminosos atuam isoladamente, por vezes até com pouca interação com
Estado, chamados – portanto -para este trabalho como quadrilhas. Isso ocorre devido a
49
majoritariamente o bairro de Campo Grande (Zona Oeste da Capital) “possuía” fortes
liberdade de gestão aos grupos locais, todavia, fazendo com que estes paguem
houve mudanças nas formas de negócio e até uma redução de agentes do estado na
diversidade de condutas típicas permitidas pela “Lei das Milícias” que criou o artigo 288-A do
Código Penal.
30 Investigações do MP apontam que milícias exploram um mercado milionário com
transportes alternativos na Zona Oeste da Capital (moto-táxi, Vans e outros veículos de
transporte de passageiros). Vide em: G1 RJ. Milícia lucra R$ 27 milhões por mês com taxas
cobradas de vans no Rio, diz MP. Disponível em <https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/milicia-lucra-r-27-milhoes-por-mes-com-taxas-cobradas-de-vans-no-rio-diz-
mp.ghtml>. Acessado em 30jul18.
50
participação direta, descaracterizando o próprio conceito construído no Rio de Janeiro
direto com certas facções criminosas, como o TCP, e explorar o tráfico de drogas; e há
do Paraguai.
Pelos mapas a seguir, podemos ter uma ideia da distribuição das facções em
parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, bem como das UPPs e dos
jornalísticas nos anos de 2017, 2018 e parte de 2019; portanto, podendo já não ser
significa que seja a área exclusiva de atuação, já que determinado grupo pode ter uma
extensão territorial bem maior do que fora divulgado. Ainda, quanto àqueles grupos
que majoritariamente exploram o tráfico de drogas, estes tendem de fato a
Já quanto aos registros de Milícias (MLC), estas se tornam mais difíceis de ser
classificadas como uma Organização Criminosa; embora muitas sejam, podendo alguns
pontos estarem relacionados a quadrilhas isoladas. Pois, constatou-se que nem toda
51
organizado; muitas das prisões dos ditos milicianos estavam atrelados a negócios
conceitual estipulada pela Lei das Milícias. Assim, os domínios territoriais podem ser
mais extensos do que parecem, ou mesmo coexistirem com os espaços dominados por
52
Ilustração 2.4: Distribuição das Facções criminosas entre os anos de 2017 e 2018.
Ilustração 2.5: Distribuição dos aglomerados subnormais, bem como áreas com UPPs em 2017.
de Janeiro, ou seja, Zona Sul, Centro e Zona Norte, são áreas onde há maior domínio
na Região Metropolitana, muitos em favelas, mas nem todos; o que – por óbvio –
distribuição das UPPs, privilegiando áreas como a Zona Sul, Centro e Zona Norte. O
trabalho.
territorializam-se no Estado do Rio de Janeiro tem sido diverso em estratégias nas três
ligadas a políticas de governo com objetivos de curto a médio prazo, e que por vezes,
do nível de força empregadas, conforme Lessing (2017): bribe, hide or fight. Ou seja,
composição não funcione (hide); ou ainda partir para a luta, ou seja, enfrentar o
Estado com o objetivo de garantir a continuidade de seus negócios e desestimular as
Por isso, respostas estatais com foco à uma repressão incondicionada, tendem
públicos e políticos. Para a saída de tal quadro, segundo o supracitado autor, exige-se
gerar uma onda violência em níveis extremos. Lessing (2017) exemplifica tais
1990 e 2000; ou através das ações contundentes sobre os cartéis colombianas que
ensejou uma onda de ataques violentos sobre agentes públicos e a própria sociedade
pecuniariamente até policiais por mortes de criminosos, no que ficou conhecido como
da segurança similares – embora nem sempre tão agressivos como o primeiro citado.
Logo, a fuga ou ocultação das atividades criminosas (hide) passa a ser uma
Lessing (2017) indica saídas com consequências mais pacíficas para o enfrentamento
estatal às organizações criminosas; trata-se de uma repressão condicionada.
incomparável na história da segurança pública fluminense, não pelo modelo em si, mas
56
3.1 Sobre o Programa de Pacificação
Iniciado em 2008, um ano depois do Governador Sérgio Cabral ter iniciado uma
cenário criminal fluminense, pelo menos nos 05 anos posteriores; levando a maioria
Soma-se a tal clima de esperança a vinda de grandes eventos esportivos e festivos para
ingerências políticas (LESSING, 2017; p. 270 e RIO DE JANEIRO, 2018). O mais notório
Especiais (GPAE) que ocorreu entre os anos 2000 a 2008; construído numa lógica de
34 O GPAE, assim como as UPPs, tornou-se em seu início um exemplo mundialmente bem-
sucedido de policiamento comunitário (ALERJ, 2018); o Programa foi “exportado” para outros
estados da federação. No caso das UPPs, além de outros estados, o Programa influenciou o
Panamá a criar a Unidad Preventiva Comunitaria (UPC).
57
mandatos do citado governador e do mandato seguinte, do Governador Pezão. Ainda
empresário Eike Batista que doou grande parte das viaturas policiais em atenção ao
Programa de Estado.
que, pela primeira vez, o governo assumiu publicamente que existiam “estados
ainda possuem uma grande ingerência sobre o território, não somente resistindo à
atuação da polícia, ou impedindo o direito de locomoção alheios, mas – inclusive-
impedindo que os serviços públicos básicos entrem em sua área de controle 35.
peace enforcement force, ou seja, imposição por força de paz, utilizando-se policiais de
58
Polícia Militar nas favelas, mas viabilizando um nível de paz estável o suficiente para a
Zona Norte da cidade. Diante disso, é comum a afirmativa de que a Política de Governo
consequente aumento do valor dos imóveis nos bairros contemplados com as UPPs.
Embora tal afirmativa possa ser verídica; há de se ressaltar também o fato de que tal
até uma congruência de objetivos, haja vista que as áreas de interesse econômico
atraem todo tipo de negócio, inclusive o ilícito, motivo pelo qual o CV, facção mais
(RIO DE JANEIRO, 2018), é possível compreender que a escolha da Zona Sul da cidade
em segundo, para que possa melhor captar os recursos financeiros oriundos das mais
Em represália à contínua expansão das UPPs pela Zona Norte do Rio de Janeiro,
bem como incendiar ônibus - reação violenta prevista segundo o modelo analítico de
Lessing (2017). A onda de pavor se espalhou por toda cidade, forçando então Governo
59
do Estado a articular a entrada e ocupação do Quartel General da Facção, no Complexo
as integrantes da Polícia Civil, Polícia Federal e até Polícia Rodoviária Federal. Em tal
episódio, ficou notório a massiva fuga de criminosos pelas matas dos morros, muitos
portando fuzis. Após quase sete meses de ocupação do Complexo de Favelas por
mudou seu “Quartel General” para o Complexo de favelas do Chapadão, que abrange
bairros da Zona Oeste como Anchieta, Pavuna, Costa Barros e está muito próximo a
até sua avaliação social. Não menos importante, tornou-se público a falta de estrutura
minimamente digna para policiais da UPP, sendo muitas bases policiais feitas com
de seu serviço. Segundo Magaloni e Cano (2016), ao entrevistarem mais de cinco mil
60
concordam totalmente com a afirmação de que as UPPs não iriam continuar depois
das Olimpíadas de 2016; dos policiais insertos no Programa, 56,5% não gostavam de
modelo, indicando que 70% dos entrevistados afirmaram preferir trabalhar em outras
unidades da PM.
(RIO DE JANEIRO, 2017), constatou-se que 68% dos policiais militares em Batalhão
criminosos, com prisões ou apreensões). Contudo, verificou-se que, dos confrontos nas
apenas 5%; ou seja, o policial estava sofrendo ataques por emboscada, ações típicas de
guerrilha.
Em uma outra análise (RIO DE JANEIRO, 2017), feita pelo Núcleo de Psicologia
61
achasse que a simples ocupação do terreno garantiria a “pacificação”. Evidencia-se um
erro crasso ao se empregar aproximadamente nove mil policiais (20% do efetivo) nas
expansionista típica do século XIX, aos moldes da perspectiva de Ratzel, natural para a
ocupação,
. frequentemente atreladas à imagem de violência. Apesar dos óbices
nas eleições 2016, onde as áreas de UPPs votaram majoritariamente no governo que a
continuidade das UPPs; porém, 43,4% achavam que o Programa iria acabar depois das
Olimpíadas.
achavam que não deveriam as UPPs continuar, ao passo que 46% dos entrevistados
não querem a saída das UPPs de sua comunidade e 38% querem parcialmente. As
favelas do Batan e Cidade de Deus foram as que mais tiveram aceitação do programa,
imposta pela organização criminosa, sem litígios com as facções rivais, a população
conjunto com a sociedade civil para estabelecer diretrizes de ação em 2018, no início
mas tal proposta não foi aceita pelo Governador. Após Intervenção Federal na área de
Segurança no Rio de Janeiro, foram extintas 07 (sete) UPPs. A própria ALERJ, através de
ações estatais que contribuíram para a redução de alguns indicadores. Dentre elas,
importante salientar, foi a criação do Sistema Integrado de Metas (SIM), composto por
Apesar das inúmeras ações, é possível verificar, nas séries temporais dos
violentos.
Nos tópicos a seguir optou-se por analisar somente as quatro primeiras Regiões
maioria dos crimes no Estado: 74% dos homicídios dolosos; 93% das mortes em
oposição a intervenção policial; 97% dos roubos de carga, e 98% dos roubos de
Pública.
Estado do Rio de Janeiro foi eficaz o suficiente para a redução de vários indicadores de
que originaram as mortes não ser adequadamente possível, considerando que 52,7%
circunstância elaborada pela Polícia Civil e que somente em torno de 20% das
(N=447), verificaram-se que 21% das letalidades violentas estavam ligadas a alguma
38 Para agravar o quadro, apesar de não decorrer da investigação policial, é frequente ser
considerado como elucidação a descoberta da autoria proveniente das prisões em flagrante
delito (prisões majoritariamente feitas pela polícia militar, polícia rodoviária federal e guardas
municipais), além da apresentação voluntária do autor do crime em sede policial.
65
extermínio, apesar de 31,7% dos registros sorteados não possuírem informações
analisada, 57,3% das vítimas foram citadas por terceiros insertos no registro
(testemunha, familiar, preso etc.) como tendo algum tipo de envolvimento com
atividades ilícitas.
Pelos gráficos abaixo, podemos perceber que nas quatro regiões integradas
analisadas havia uma tendência de redução do indicador, de 2003 até 2008. E, após a
implantação das UPPs, esta redução torna-se mais abrupta, chegando ao máximo de
decréscimo entre os anos de 2011 e 2012 (após tais reduções, começa a crescer a
segurança.
66
Gráficos 3.1: Homicídios Dolosos na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,
de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por RISP.
RISP 1 - Centro, Zona Sul e Norte RISP 2 – Zona Oeste
Quantidade de vítimas
Centro, Zona Sul e Norte e RISP 02 – Zona Oeste. Na RISP 01; é possível perceber que
destacar a redução evidenciada em 2009; sabe-se que foi em tal ano que houve a
maior quantidade de prisões de milicianos da “Liga da Justiça”, organização que atua
uma estabilização dos indicadores de homicídios a partir de 2010, com queda após a
Intervenção Federal.
67
Na Baixada Fluminense, verificamos a redução dos crimes partir de 2008 e um
aumento abrupto de mortes logo após a ocupação do Complexo do Alemão. Após isso,
redução criminal com a intervenção federal. É possível que a não permanência de tal
indicador a patamares menores do que em 2008, tal como ocorreu na RISP 1 e RISP 2,
maior redução a partir de 2008, com o aumento dos homicídios a partir de 2013.
foi suficiente para impedir a mudança da tendência criminal a partir de 2010, que
passou a ser crescente. Quanto à Intervenção Federal, é possível que o massivo aporte
Pela análise de Dirk e Moura (2017), com base na supracitada amostra de 2014,
88,07% das mortes em decorrência da intervenção policial são oriundas das ações da
11,3% são oriundas da Polícia Civil. Ainda lograram identificar que 7,8% das mortes
estavam ligadas à posse ilegal de armas, 14,1% a roubos e 59,4% a alguma atividade do
tráfico de drogas.
das mortes foram em vias públicas, 18% em favelas, e 11% em outas localidades
(shopping centers, condomínios fechados, praia, matas e florestas etc.). Isso decorre
cargas.
Pela análise dos gráficos, pode-se perceber que foi a partir de novembro de
2010 (ocupação do Complexo do Alemão) que houve uma redução de tal indicador; as
menores quantificações desde pelo menos quinze anos. Após 2013, pode-se perceber
que tiveram aumentos sem precedentes; muito ligado às novas territorializações das
Organizações Criminosos e um maior foco repressivo do Estado aos criminosos.
69
Gráficos 3.2: Mortes decorrentes de intervenção policial na Região Metropolitana do
Estado do Rio de Janeiro, de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por
RISP.
RISP 1 - Centro, Zona Sul e Norte RISP 2 – Zona Oeste
Quantidade de vítimas
70
3.2.3 Roubos de Veículos.
Gráficos 3.3: Roubos de Veículos na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,
de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por RISP.
RISP 1 - Centro, Zona Sul e Norte RISP 2 – Zona Oeste
Quantidade de registros
percebe-se nos roubos de veículos uma redução a partir do ano de 2008. Assim, pode-
se inferir que o Programa de Pacificação também impactou em tal crime, tanto que no
Complexo do Alemão e criação de novas UPPs. Isso é muito mais evidente na Baixada
crime.
71
3.2.4 Roubos de carga
importante para as facções traficantes de drogas. Tal crime tende a aumentar quando
perdas.
por pressão de grupos econômicos que estavam obtendo perdas consideráveis, seja
pela população de algumas localidades que estavam até tendo crises de
para o Estado do Rio de Janeiro pelo menos R$ 8,3 bilhões de reais 40. A redução dos
roubos de cargas foi a maior redução desta gestão, com redução de 13% em relação a
Pela análise feita a partir das séries temporais, pode-se perceber que houve
impactos de algumas ações estatais não somente sobre os indicadores, mas na própria
fenômeno como uma regra (FELSON, 2002; GUERETTE, 2009); no Rio de Janeiro, a
73
organizações criminosas, faz com que isso seja uma constante para alguns indicadores
criminais.
criminosos podem acabar por eleger alvos de menor valor econômico para ainda
- Mudanças dos próprios criminosos. Neste caso, criminosos que são presos ou
negócio ilícito41.
41 Com base nas pesquisas estadunidenses, há evidências de que o displacement criminal mais
frequente é o temporal, seguido da mudança de alvos, (GUERETE, 2009).
74
Assim, de acordo com a dinâmica das organizações criminosas, estas tendem
avanço das UPPs, houve um aumento de suas ações nos roubos de carga, de veículos
o uso de explosivos), numa tentativa de amortizar suas perdas e aumentar seus lucros.
Cabe aqui citar um nicho de mercado muito pouco divulgado, mas- em alguns
cigarros. O displacement para tal nicho, seja como forma de amortizar perdas ou
maximizar lucros, tem sido observado em vários países no mundo (Brasil, Austrália,
mais de trinta milhões de consumidores, isso em 2013; estima-se que a 35% dos
fumantes são jovens e adultos predominantemente das camadas sociais mais baixas 42.
empurrados para outras áreas da Região Metropolitana e até do interior; mas com a
2016.
interior não é aleatória, tal como qualquer outro deslocamento espacial do crime. Para
negócio: áreas com pouca eficiência estatal nos serviços de controle social, ou seja, os
aglomerados humanos de exclusão; disponibilidade de uma mão-de-obra juvenil
- Na Austrália: THE SYDNEY MORNING HERALD. Inside Sydney and Melbourne's illegal tobacco
hotspots that are costing the economy millions. 2017. Disponível em
<https://www.smh.com.au/politics/federal/inside-sydney-and-melbournes-illegal-tobacco-
hotspots-thats-costing-the-economy-millions-20170928-gyqas3.html>. Acessado em 16jan19.
- Na Jamaica: JAMAICA BSERVER. Drug lords turn to cigarettes: Multimillion-dollar trade said
more lucrative than cocaine, holds lower risk, 2010. Disponível em
<http://www.jamaicaobserver.com/news/Drug-dons-take-up-illicit-cigarette-trade>. Acessado
em 16jan19.
- Na Irlanda: THE IRISH TIMES. Recession forces cocaine gangs to move into the booming
illegal cigarette Market, 2010. Disponível em <https://www.irishtimes.com/news/recession-
forces-cocaine-gangs-to-move-into-the-booming-illegal-cigarette-market-1.625054>. Acessado
em 16jan19
- No Brasil: G1 SANTA CATARINA / NSC TV. Documentário revela como contrabando de cigarro
financia o tráfico de drogas e armas. Disponível em <https://g1.globo.com/sc/santa-
catarina/noticia/reportagem-revela-como-contrabando-de-cigarro-financia-o-trafico-de-
drogas-e-armas.ghtml>. Acessado em 16jan19
76
Assim sendo, forma-se uma rede social, unindo os mais diversos espaços
organizado.
77
CAPÍTULO 4: TERRITÓRIOS-REDE DO CRIME ORGANIZADO
“A rede faz e desfaz as prisões do espaço, tornado território: tanto libera como aprisiona.
É o porquê de ela ser o instrumento por excelência do poder. ”
Claude Raffestin (1993, p.204).
sociais e entre seus grupos, por óbvio, também não existe tal uniformidade no plano
espacial, nos territórios-redes. Neste sentido, Milton Santos (2006) ensina que num
“mesmo subespaço, há uma superposição de redes, que inclui redes principais e redes
por novos mercados e outras formas de domínio; de forma fluida e flexível, tais
emaranhados de conexões não somente dão suporte a tal configuração, mas são
Assim, aduz:
78
Deste modo, a estruturação em redes naturalmente propicia conexões
Haesbaert:
O capital, por exemplo, enquanto relação social comandada pelos detentores dos
meios de produção, tende mais a defender e a promover a abertura (de mercado,
especialmente), a fluidez e circulação (de produtos e informações), enquanto o Estado
tende a delimitar e circunscrever os fluxos (como faz hoje com a força de trabalho, por
exemplo). (HAESBAERT, 2014, p.107).
rede, também pode ser considerado e chamado pelo termo “descontínuo”. Assim, o
autor acrescenta:
A frase em epígrafe deste capítulo informa que são as redes o elemento que
Contudo, justamente por isso, frequentemente tendente ao sigilo, quando não for
criminosas de muitos países que não possuem eficiência na prestação de seus serviços
violentamente territorializadora. Por óbvio, isso não significa que seus altos escalões e
suas conexões estatais não estejam ocultos, mas demonstra que o Estado não
Como observado e alertado por von Lampe (2016), o mapeamento das redes
por lei, no caso brasileiro – e ainda a coleta é naturalmente perigosa por identificar
80
Nos tópicos a seguir, veremos como as Organizações Criminosas estudadas
Metropolitana.
método de análise de redes sociais com a temática ora estudada. Por óbvio, os
territórios-rede que estão sendo estudados são de fato uma complexa interação em
forma de uma rede socioespacial, seja por interações comunitárias, seja através de
uma lógica tecnicista oriunda do mercado.
pulverização dos aglomerados humanos de exclusão, o que faz o Estado possuir uma
domínio ou para expandir seus negócios através da subjugação da facção rival. Logo,
os carros roubados no Rio de Janeiro, em especial na Região Metropolitana, não
somente são usados para desmanches (mercado ilegal de peças), mas também para a
fluminense, foi utilizado duas bases de dados fornecidas pela PMERJ/CAEs: uma de
registros policiais da PCERJ, Organização responsável pelo registro de tal delito. Para
ocupação do Complexo do Alemão e criação de UPP); e por fim, o ano de 2017 para
Com tais bases, fez-se um match por placa ou chassi verificando quais
automóveis foram recuperados nos anos de 2007, 2012 e 2017 e de onde vieram.
2011, apresentou 16.185 registros; o ano de 2012 apresentou 16.678 registros; o ano
pequena.
confiabilidade maior do que de outros delitos. Isso devido ao fato dos veículos serem
de valor econômico superior à maioria dos produtos que costumam ser roubados e ser
43 Para este trabalho foram desconsideradas as CISP 11 (Rocinha) e CISP 45 (Complexo do Alemão) por
terem sido criadas depois de 2012 com o avanço do Programa de Pacificação, ambas insertas na CISP 15
(Gávea) e 22 (Penha), respectivamente.
82
uma exigência o registro em sede policial da subtração do bem para a obtenção de
estas são feitas majoritariamente pelas polícias (quando o bem é abandonado por
em favelas); mas também podem ser feitas pelas próprias empresas seguradoras, ou
mesmo diretamente pela vítima (por vezes, tendo que pagar um resgate de seu veículo
registro da recuperação para que o veículo saia do sistema policial como um produto
oriundo de crime.
Para a análise das redes propostas, far-se-á uso das medições estatísticas dos
nós em nível de CISP, além de medidas de toda a rede. Para tanto, há de se expor
83
- Grau de centralidade ponderado (weighted degree) – tal métrica segue a mesma
lógica do grau de centralidade, porém ponderado pelos pesos de cada ligação. Ou seja,
não basta somente saber quantas ligações um nó possui com os demais, mas quantas
vezes foram utilizadas tais ligações; no caso concreto, quantas carros roubados
entraram ou saíram de uma CISP para outra por cada link.
2𝑣
𝐷=
𝑛(𝑛 − 1)
Assim, uma rede 100% densa significa que está com seus nós totalmente
conectados uns com os outros. Logo, tal métrica é muito importante porque quanto
mais densa é a rede, mais difícil é a mesma de ser disrompida. Demonstrando tais
características, será possível compará-las nos três recortes temporais estudados.
84
Pelos histogramas (Gráficos 4.1),
Gráficos 4.1: Distribuição de graus em
2007, 2012 e 2017, no Estado podemos perceber que a distribuição
Gráficos XX – do
Distribuição de graus em 2007, 2012 e
Rio de Janeiro.
2017, no Estado do Rio de Janeiro. dos graus (degree) obedecem uma
Distribuição de graus em 2007: lógica de distribuição da lei de potência
30
𝑓 (𝑥) = 𝑐𝑥 −𝛾
quantidade
20
10
São tais hubs, que no caso
concreto são as CISPs com grandes
5
Por que os hubs e as leis de potência emergem no modelo sem escala? Em primeiro
lugar, o crescimento desempenha papel importante. A expansão da rede significa que
os primeiros nós dispõem de mais tempo do que os últimos para adquirir links: se um
nó é o último a chegar, nenhum outro nó tem a oportunidade de se conectar a ele.
Dessa forma, o crescimento oferece uma nítida vantagem para os nós antigos,
tornando-os os mais ricos em links. A antiguidade, contudo, não é o suficiente para
explicar as leis da potência. Os hubs requerem a ajuda da segunda lei, a conexão
preferencial. Como novos nós preferem conectar-se a nós mais conectados, os
primeiros nós com mais links serão escolhidos com mais frequência e crescerão mais
rapidamente do que seus pares mais jovens e menos conectados. Quanto mais e mais
nós chegam e escolhem os nós mais conectados para se conectar, os primeiros nós
inevitavelmente se separarão do pacote, adquirindo um número muito grande de
links. Eles se transformarão em hubs. Portanto, a conexão preferencial induz um
fenômeno rico fica mais rico que ajuda os nós mais conectados a capturar um número
desproporcionalmente grande de links a expensas dos últimos. (BARABÁSI, 2014, p.
80).
vão ao encontro do que ocorrera com a rede criminosa no Estado do Rio de Janeiro.
segurança ocorridas no final de 2010, em 2011 e 2012 (períodos auge das UPPs).
Percebe-se também para os anos de 2007, 2012 e 2017 uma correlação estatística
forte entre os indegrees e outdegrees (em 2007: R= 0,89; em 2012: R= 0,86; em 2017:
86
É possível verificar ainda o aumento da centralidade de intermediação
rede, como Grande Niterói e Região dos Lagos e também a Baixada Fluminense. Ainda,
maior nó de intermediação.
grau de centralidade não significa que sua função na rede não seja estratégica.
Podemos perceber que CISPs do interior possuem um alto betweenness, embora haja
muitos com baixa conectividade, evidenciando seu papel chave na rede 44. Sabe-se que
também para controlar as principais vias de entradas e saídas de tais produtos ilícitos.
Deste modo, não devemos ignorar nós com baixa conectividade no estudo dos
territórios-rede. Pois estes apresentam a chamada “força dos laços fracos”. Ou seja,
tais nós acabam por ser fundamentais para viabilizar a expansão da rede ao conectar
somente teve o maior indegree, ou seja, a maior vínculo de entrada com outras CISPs,
44 Para observar as métricas de rede utilizadas em cada nó (CISP), vide o apêndice Apêndice 3.
87
Já em 2017, a CISP 90 – município de Barra Mansa, cortada pela Rodovia
Gonçalo, CISP 128 – município de Rio das Ostras e CISP 123 – município de Macaé.
Gráfico 4.2: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada (indegree) e graus de saída (outdegree) no Estado do Rio de
Janeiro, 2007.
região
40
Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
Grande Niterói e Região dos Lagos
30 Norte Fluminense
Região Serrana
outdegree
Sul Fluminense
Zona Oeste
20
betweeness
0.0e+00
2.5e+08
10
5.0e+08
7.5e+08
0 20 40
indegree
região
40 Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
Grande Niterói e Região dos Lagos
Norte Fluminense
30 Região Serrana
Sul Fluminense
outdegree
Zona Oeste
20
betweeness
0.00e+00
2.50e+08
5.00e+08
10
7.50e+08
1.00e+09
1.25e+09
0 20 40 60
indegree
88
Gráfico 4.4: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada (indegree) e graus de saída (outdegree) no Estado do Rio de
Janeiro, 2017.
50
região
Baixada Fluminense
40
Centro, Zona Sul e Norte
Grande Niterói e Região dos Lagos
Norte Fluminense
30 Região Serrana
outdegree
Sul Fluminense
Zona Oeste
20
betweeness
0e+00
2e+08
10 4e+08
6e+08
8e+08
0 20 40 60
indegree
2017: R= 0,88).
arestas de entrada e saída, a saber: CISP 21 – Bonsucesso, com 1448 carros roubados
entrado e saindo da área; CISP 34- Bangu, com 1434 carros roubados; CISP 25 –
Engenho Novo, com 1105 automóveis; e CISP 20 – Grajaú, com 1068 veículos
roubados.
89
Já em 2012, as CISPs que mais apresentaram tal indicador foram: CISP 59 –
Duque de Caxias, com 1402 veículos roubados entrando e saindo de sua área; a CISP
27 – Vicente de Carvalho, com 871 carros roubados entrando e saindo da área; e CISP
ponderados foram: CISP 59 – Duque de Caxias, com 3000 veículos roubados entrando
e saído de sua área; CISP 64 – Vilar dos Teles (São João de Meriti), com 2829 veículos
etc.) para a Baixada Fluminense (Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis etc.) e
de Pina etc.).
Gráfico 4.5: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada ponderado (weighted indegree) e graus de saída ponderado
(weighted outdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2007.
betweenesscentrality
0.00
600
0.01
0.02
0.03
0.04
weightedoutdegree
0.05
400
Região
Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
90
Gráfico 4.6: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada ponderado (weighted indegree) e graus de saída ponderado
(weighted outdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2012.
betweenesscentrality
600 0.00
0.02
0.04
0.06
weightedoutdegree
400
Região
Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
Grande Niterói e Região dos Lagos
Norte Fluminense
200
Região Serrana
Sul Fluminense
Zona Oeste
Gráfico 4.7: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada ponderado (weighted indegree) e graus de saída ponderado
(weighted outdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2017.
betweenesscentrality
1500
0.00
0.01
0.02
0.03
0.04
weightedoutdegree
1000 0.05
Região
Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
500 Grande Niterói e Região dos Lagos
Norte Fluminense
Região Serrana
Sul Fluminense
Zona Oeste
91
Cabe mencionar que os grafos a seguir foram configurados da seguinte forma:
acordo com a região inserida (RISP) e por tamanho, de acordo com a quantificação de
todos os grafos.
Para o layout dos grafos, optou-se por utilizar o algoritmo Force Atlas 2, por
problema ora estudado. Por exemplo: evita sobreposição de nós, tendem a atrair os
nós para o centro, aproxima-se mais da distribuição geográfica etc.
ligações. Já em 2012, a rede apresentou 1454 arestas (06% a menos do que em 2007).
2012). Isso é uma evidência de que com a rede está mais conectada atualmente.
a densidade da rede caiu para 0,080 (redução de 9%). Já em 2017, a rede apresentou
92
Ilustração 4.1: Grafos dos Territórios-rede das organizações criminosas em 2007,
Estado do Rio de Janeiro.
93
Ilustração 4.2: Grafos dos Territórios-rede das organizações criminosas em 2012,
Estado do Rio de Janeiro.
dos Lagos, Sul Fluminense e Norte Fluminense na rede, além da Baixada Fluminense.
que a maior participação na rede se encontrava com a Zona Oeste e Centro, Zona Sul e
Inhaúma, Brás de Pina, Bangu e Barra da Tijuca (isto pode ser um indício da
Região dos Lagos, Norte Fluminense e Baixada Fluminense. Verifica-se que Duque de
Caxias fica completamente cercado por nós da Zona Norte (Brás de Pina, Inhaúma,
Penha, São Cristóvão, Bonsucesso e Méier), além de estar muito próximo de Alcântara
(localidade de São Gonçalo). Como um grande hub destaca-se agora Pavuna (sede dos
Já em 2017, com um grafo visivelmente mais denso, verificamos que além das
novas regiões, destaca-se o Sul Fluminense, além do fato do Norte Fluminense estar
mais perto ainda dos hubs. Visivelmente, é perceptível que a Zona Oeste e a Região de
96
4.2. A dinamicidade da rede e seus impactos na qualidade de vida
rede impactaram na própria qualidade de vida dos cidadãos residentes nos municípios
interioranos. Para se ter uma ideia, pelos dados fornecidos no sítio oficial do Mapa da
Violência (FLACSO Brasil)45, em 2016 as três cidades com taxa mais altas de homicídios
provocados por armas de fogo foram respectivamente: Paraty (Sul Fluminense, com
60,9 mortes por 100 mil habitantes), Cabo Frio (Região dos Lagos, com 59 mortes por
100 mil habitantes) e Mangaratiba (Sul Fluminense, com 48,5 mortes por 100 mil
territorializadores.
Grande Niterói). E desta, é tendente à expansão para o Sul Fluminense, Região dos
Outro fator importante que deve ser destacado é que os canais de mobilização
já existiam, ou seja, já havia conexões do Norte Fluminense, Sul Fluminense e Região
dos Lagos com a Região Metropolitana; todavia tais conexões se intensificaram com o
podemos verificar o quão expansivos esses são. Bonsucesso conecta-se com várias
Duque de Caxias, por óbvio, indo ao encontro do que preceituam os cientistas de rede,
quanto à expansividade.
Destarte, é importante ressaltar que a lógica operacional das Organizações
gestão do território. A busca por novos espaços não é aleatória, segue critérios que
99
É um equívoco não analisar os
2000, p.94).
100
2000, p.94). Como outra característica, tais empresas tendem a buscar múltiplas
localizações.
uma onda de violência sem precedentes; a região que deve ser considerada mais
aponta para o nordeste do Estado. Podemos verificar que há uma alta conectividade
do município de Campos dos Goytacazes com a Região Metropolitana; e ainda, ao
contrário do que foi evidenciado nas redes dos anos de 2012 e 2007, os municípios de
São João da Barra (população de 32.747 pessoas, segundo o censo de 2010) e São
Este cenário é preocupante porque está cada vez mais operante o Porto de Açu, no
município de São João da Barra, porto esse que se propõe ser o maior da América
Latina em operação46.
Cabe salientar que, segundo o Censo de 2010, São João da Barra possui um IDH
de 0,671, com 38% de sua população com rendimento nominal mensal per capita de
até 1/2 salário mínimo47 (12º pior colocação entre os municípios do Estado do Rio de
Janeiro). Em uma situação ainda pior, São Francisco de Itabapoana possui um IDH de
Janeiro)48.
Rodovia Federal Rio-Santos, que – por óbvio – liga a capital fluminense com o porto de
Brasil, poderá também ser experimentada em uma intensidade ainda maior nos
longínquo.
Assim, como já evidenciado em Japeri, Angra dos Reis ou Cabo Frio, nos
rivais, e por consequência, o aumento dos homicídios dolosos. Não obstante, se nada
Fluminense.
48 IBGE Cidades. Ranking de IDH no Estado com base no Censo 2010. Disponível em
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/panorama>. Acessado em 10jan2019.
102
CONCLUSÃO
103
políticos, através da conveniências para os dois pólos, pela corrupção, dentre outras
formas.
Quanto à corrupção, essa tende atingir vários setores do Estado, devendo -
portanto - ser controlada e reprimida em todas as esferas; todavia priorizando-se uma
perspectiva top-down, principalmente dentro da seara política, (MINGARDI, 1998;
CEPIK; BORBA, 2011; PEREIRA, 2014; REIS, 2014; VIEIRA, 2014); pois, ao se fazer
estudos comparados, é possível verificar que não há como uma Organização Criminosa
permanecer por um longo tempo sem que haja participação política (atinente ao Poder
Executivo, Legislativo e Judiciário); geralmente através de solicitação de empréstimos
para campanhas; loteamento de currais eleitorais ou mesmo aquisição direta de
vantagens pecuniárias, conforme identificado para este estudo no Brasil, na Itália, no
Japão, na Colômbia, no Paraguai, no México etc.
No Rio de Janeiro, a partir das constatações de Vergara (2012), pode-se
afirmar que não se encontra evidências de um sistema criminal, ou seja, de cooptação
do Estado como um todo pelo crime organizado e da própria sociedade; pelo menos,
daqueles que exploraram majoritariamente o tráfico de drogas e/ou os bens e serviços
irregulares. Importante evidenciar que - se tal nível de interação ocorresse - haveria
uma abrupta redução de homicídios dolosos, prisões de chefes e gerentes das
Organizações, mortes decorrentes de intervenção policial, mortes de policiais, e
possivelmente, de alguns crimes contra o patrimônio; isso decorrente da conivência
entre os atores envolvidos.
As ações estatais frente às Organizações Criminosas têm volvidas em
inúmeras direções de governo a governo no Estado do Rio de Janeiro, tendendo em
comum uma repressão extremamente violenta a tais facções; gerando consequências
indesejadas, quanto ao incremento da violência; o que faz com que haja
historicamente uma “acumulação social da violência”, (MISSE, 1999), banalizando-a
cada vez mais. Portanto, é imperioso e imprescindível que as ações estatais estejam
sempre orientadas à redução de danos sociais.
Destarte, considerando a impossibilidade de soluções no curto e médio prazo,
além do massivo investimento nos fatores de prevenção primário, deve o Estado
condicionar as Organizações Criminosas a não atuarem no upperworld, ou seja, no
104
mundo comum, visível e vivendo de qualquer cidadão, diminuído assim a violência
física e a sensação de insegurança. Tal condicionamento não deve ser encarado como
uma conivência entre o Estado e Crime Organizado, mas como uma priorização de
ações orientadas para os crimes mais graves, muito próxima a uma ideia de princípio
de Pareto (concentrar esforças em 20% das causas, impactando 80% dos efeitos).
Logo, dentro de uma perspectiva da atuação da Administração Pública, se há
mortes de policias e outros agentes do Estado, deve haver concentração de esforços
para que os autores dos crimes estejam presos; se há homicídios dolosos de qualquer
outra pessoa, deve haver concentração de esforços para que não valha à pena
manifestar tal ação por parte dos criminosos; caso haja roubos, a organização
criminosa deverá ter a atenção especial do Estado; logo, condicionando tais criminosos
a não cometerem infrações violentas, a exemplo das Operation Ceasefire49. Tal
condicionamento, também não deve ser confundido com omissividade; pois as
Organizações Criminosas devem ser profundamente monitoradas, possibilitando a
predição de ações no upperworld. Esta é uma tentativa que tem se mostrado válida em
alguns países, conforme as observações de Lessing (2017); destacando o autor até o
Programa de Pacificação no Rio de Janeiro.
Entretanto, importante ressaltar, é sedutor e possivelmente
convenientemente para determinados Governos ou mesmo alguns segmentos sociais
os benefícios resultantes de uma pax mafiosa, cenário que é extremamente perigoso;
considerando o aumento da entrância no Poder Público, e a potencialidade de dano à
sociedade e ao próprio Estado. Por exemplo, vimos isso na Colômbia, quando o líder
do Cartel de Medellín teve seus interesses contrariados, mesmo depois de ter imposto
sua “pacificação” na cidade, após ter feito obras de infraestrutura em alguns bairros
pobres, e até ter sido eleito para o Congresso. Pablo Escobar, após tais contrariações,
chegou a derrubar o Boeing 727 da Avianca e explodiu carros-bomba em centros
comerciais, matando dezenas de pessoas, inclusive crianças; realidade já não tão
distante em vários estados federados do Brasil. Portanto, o condicionamento feito
pelo Estado deve ser ainda atento e razoavelmente repressivo; todavia, sempre
orientado para a redução de danos sociais.
106
como de um maior aporte de segurança. Tal região tende a ter nos próximos anos um
boom de criminalidade, maior do que o evidenciado no Sul Fluminense, caso nada seja
feito.
Destarte, pode-se concluir que para problemas complexos não há soluções
simples; e se forem postas tais simplistas soluções, podem ensejar em danos colaterais
ainda piores, no médio e longo prazo. Urge a necessidade de uma compreensão mais
aprofundada e séria dos problemas de segurança; principalmente daqueles
relacionados às atividades das Organizações Criminosas.
107
REFERÊNCIAS
ALVES, J.C. Milícias: Mudanças na Economia Política do Crime no Rio de Janeiro. In:
JUSTIÇA GLOBAL (orgs.), Segurança, Tráfico e Milícias no Rio de Janeiro. Fundação
Heinrich Böll, Rio de Janeiro, 2008.
ALVITO, M.; ZALUAR, A. (orgs). Um Século de Favela (3a ed). Rio de Janeiro: FGV, 2003.
BAILEY, J; TAYLOR, M.M. Evade, Corrupt, or Confront? Organized Crime and the State
in Brazil and Mexico. [S.l.] Journal of Politics in Latin America 2/2009,p. 3-29, 2009.
BARABÁSI, A. Linked: a nova ciência dos networks. Edição única. Leopardo Editora,
2009.
BIDERMAN, C., Et Al. Pax Monopolista and Crime: The Case of the Emergence of the
Primeiro Comando da Capital in São Paulo. Caracas: CAF – Development Bank of Latin
America, 2014.
BRAGA, R., et. al. Grupos Criminosos Armados com Domínio do Território: Reflexões
sobre a territorialidade do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. In:
JUSTIÇA GLOBAL (orgs.), Segurança, Tráfico e Milícias no Rio de Janeiro. Fundação
Heinrich Böll, Rio de Janeiro, 2008.
CANO, I. Seis por meia dúzia? Um estudo exploratório das chamadas “milícias” no Rio
de Janeiro. In: JUSTIÇA GLOBAL (orgs.), Segurança, Tráfico e Milícias no Rio de Janeiro.
Fundação Heinrich Böll, Rio de Janeiro, 2008.
CANO, I., DUARTE, T. No sapatinho”: a evolução das milícias no Rio de Janeiro (2008-
2011). Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll, 2012.
DECKER, S.H. ; PYROOZ, D.C. Gangs: Another Form of Organized Crime? In: PAOLI, L.
The Oxford Handbook of Organized Crime. Oxford University Press, 2014
FELSON, M. Crime and Everyday Life. Thousands Oaks : Pine Forge Press, 2002.
FERNANDES, B.M. Sobre tipologias de territórios. In: SAQUET, M.A.; SPOSITO, E.S.
(Org.) Território e Territorialidades: teorias, processos e conflitos. 1ª ed. São Paulo;
Expressão Popular, 2009
109
FERREIRA, D.S. Território, Territorialidade e seus múltiplos enfoques na Ciência
Geográfica. In: Campo – Território: Revista de Geografia Agrária, 2014. Disponível em
<http://www.seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/view/19883/14380,
acessado 02jul17>.
GOMES, L.F. Lei das milícias e do extermínio (12.720): desastre legislativo. Portal
Jusbrasil. Disponível em < https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121930274/lei-
das-milicias-e-do-exterminio-12720-desastre-legislativo>. Acessado em 02 de abril de
2018.
KARSTEDT, S. Organizing Crime: The State as Agent. In: PAOLI, L. The Oxford Handbook
of Organized Crime. Oxford University Press, 2014.
110
KAUFMAN, D. A força dos “laços fracos” de Mark Granovetter no ambiente do
ciberespaço. Galaxia (São Paulo, Online), n. 23, p. 207-218, jun. 2012.
LACERDA, A.S, BRULON, V. Política das UPPs e espaços organizacionais precários: uma
análise de discurso. Rev. adm. empres. vol.53 no.2 São Paulo mar./abr. 2013
LESSING, B. Making Peace in Drug Wars: Crackdowns and Cartels in Latin America.
[S.l.], Cambridge University Press, 2017. ISBN-10: 1316648966.
MAGALONI, B., CANO, I. Determinantes do Uso da Força Policial no Rio de Janeiro. Ed.
UFRJ: Rio de Janeiro, 2016.
MAGALONI, B.; et al. Killing in the Slums: Social Order, Criminal Governance, and
Police Violence in Rio de Janeiro. Freeman Spogli Institute at Stanford University,
2018.
MASSON, C., MARÇAL, V. Crime organizado. São Paulo: Editora Método, 2015.
NEWMAN, M.E.J. The Structure and Function of Complex Networks. Siam Review -
Society for Industrial and Applied Mathematics. Vol. 45, nº 2, 2003, pág. 167–256.
MOLINA, A.G. Tratado de Criminología. Valencia: Ed. tiront le blllonch – 3ª ed., 2003.
111
NETO SILVA, A.L., NENES, R.L.. Traçado Urbano e Criminalidade Carioca: Aspectos
Históricos da Favelização do Rio De Janeiro. Civitas - Revista de Ciências Sociais, 2015,
Vol.15 (1), p.84-105
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo, Editora Ática, 1993.
112
RIO DE JANEIRO. Unidade de Polícia Pacificadora. Histórico. Disponível em
<http://www.upprj.com/index.php/historico>, [201?], acessado em 02jul17.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2006.
SAQUET, M.A. Por uma abordagem territorial. In: SAQUET, M.A.; SPOSITO, E.S. (Org.)
Território e Territorialidades: teorias, processos e conflitos. 1ª ed. São Paulo;
Expressão Popular, 2009
113
VIEIRA, J. J. Perspectiva Política da Corrupção – Livro II. Coleção Corrupção no Mundo,
Brasília, Ed. Thesaurus, 2014.
VON LAMPE, K. Organized Crime in Europe, in: Philip Reichel (ed.), Handbook of
Transnational Crime & Justice, Thousand Oaks, CA, et al.: Sage Publications, 2005, pp.
403-424
WALCZAK, A. Network model of risk analysis in the technical structures. MATEC Web
of Conferences, DOI: 10.1051/matecconf/20171250, 2017.
ZALUAR, A.; CONCEIÇÃO, I. S. Favelas sob o controle das milícias no Rio de Janeiro:
que paz?. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, Fundação Seade, v. 21, n. 2, p. 89-101,
jul./dez. 2007. Disponível em: <http://www.seade.gov.br>; <http://www.scielo.br>.
114
APÊNDICE 1: DIVISÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO POR CISP E RISP
115
APÊNDICE 2: RELAÇÃO DAS CISPS E SUAS REFERÊNCIAS DE LOCALIDADE,
MUNICÍPIO E REGIÃO.
9 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Catete, Cosme Velho, Flamengo, Glória e Laranjeiras
23 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Cachambi, Méier (parte) e Todos os Santos (parte)
24 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Abolição, Água Santa (parte), Encantado, Engenho de Dentro (parte), Pilares e
Piedade
25
26 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Engenho Novo, Jacaré, Jacarezinho, Riachuelo, Rocha, Sampaio e São Francisco
Xavier
44 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Água Santa (parte), Engenho de Dentro (parte), Lins de Vasconcelos e Todos os
Santos
6 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Del Castilho, Engenho da Rainha, Inhaúma, Maria da Graça e Tomás Coelho
17 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Caju, Mangueira, São Cristóvão e Vasco da Gama
4 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Centro (parte), Gamboa, Santo Cristo e Saúde
5 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Centro (parte), Lapa e Paquetá
18 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Maracanã, Praça da Bandeira e Tijuca (parte)
19 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Alto da Boa Vista e Tijuca (parte)
20 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Andaraí, Grajaú e Vila Isabel
22 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Brás de Pina (parte), Olaria, Penha e Penha Circular (parte)
38 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Brás de Pina (parte), Cordovil, Jardim América, Parada de Lucas,Penha Circular
(parte) e Vigário Geral
37 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Bancários, Cacuia, Cidade Universitária, Cocotá, Freguesia, Galeão, Jardim
Carioca, Jardim Guanabara, Moneró, Pitangueiras, Portuguesa, Praia da
Bandeira, Ribeira, Tauá e Zumbi
21 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Benfica, Bonsucesso, Higienópolis, Manguinhos, Maré e Ramos
15 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Gávea, Jardim Botânico, Lagoa, São Conrado e Vidigal
29 Zona Oeste Rio de Janeiro Cavalcanti, Engenheiro Leal, Madureira, Turiaçu, Vaz Lobo, Oswaldo Cruz (parte),
Cascadura e Quintino Bocaiúva
30 Zona Oeste Rio de Janeiro Bento Ribeiro, Campinho, Marechal Hermes e Oswaldo Cruz (parte)
40 Zona Oeste Rio de Janeiro Coelho Neto, Colégio (parte), Honório Gurgel e Rocha Miranda
33 Zona Oeste Rio de Janeiro Campo dos Afonsos, Deodoro, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Realengo e Vila
Militar
34 Zona Oeste Rio de Janeiro Bangu, Gericinó, Padre Miguel e Senador Camará
28 Zona Oeste Rio de Janeiro Vila Valqueire, Praça Seca e Tanque (parte)
32 Zona Oeste Rio de Janeiro Anil, Cidade de Deus, Curicica, Gardênia Azul, Jacarepaguá e Taquara
116
42 Zona Oeste Rio de Janeiro Recreio dos Bandeirantes, Barra de Guaratiba, Camorim, Grumari, Vargem
Grande
e Vargem Pequena
35 Zona Oeste Rio de Janeiro Campo Grande, Cosmos, Inhoaíba, Santíssimo e Senador Vasconcelos
27 Zona Oeste Rio de Janeiro Colégio (parte), Irajá, Vicente de Carvalho, Vila Kosmos, Vila da Penha e Vista
Alegre
31 Zona Oeste Rio de Janeiro Anchieta, Guadalupe, Parque Anchieta e Ricardo de Albuquerque
39 Zona Oeste Rio de Janeiro Acari, Barros Filho, Costa Barros, Parque Colúmbia e Pavuna
58 Baixada Fluminense Nova Iguaçu Posse, Austin, Miguel Couto, Vila de Cava e Tinguá
64 Baixada Fluminense São João de Meriti São João de Meriti, Coelho da Rocha e São Mateus
63 Baixada Fluminense Japeri Japeri, Engenheiro Pedreira, Marajoara, Pedra Lisa e Rio D`Ouro
54 Baixada Fluminense Belford Roxo Areia Branca, Jardim Redentor, Parque São José, Nova Aurora e Lote XV
75 Grande Niterói e Região dos Lagos São Gonçalo Ipiiba e Sete Pontes
76 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Centro, Ponta da Areia, Ilha da Conceição, São Lourenço, Fátima, Morro do
Estado, Ingá
, São Domingos, Gragoatá e Boa Viagem
77 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Santa Rosa, Icaraí, Vital Brasil, Pé Pequeno, Viradouro e Cubango
78 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Fonseca, Viçoso Jardim, Caramujo, Baldeador, Santa Bárbara, Tenente Jardim,
Engenhoca,
Santana e Barreto
79 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Jurujuba, Charitas, São Francisco, Cachoeiras, Maceió, Largo da Batalha, Ititioca,
Badu,
Sapê, Matapaca, Vila Progresso, Muriqui, Maria Paula e Cantagalo
81 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Itaipu, Camboinhas, Itacoatiara, Piratininga, Cafubá, Jacaré, Rio do Ouro,
Engenho do Mato,
Várzea das Moças e Jardim Imbuí
82 Grande Niterói e Região dos Lagos Maricá Maricá e Inoã
118 Grande Niterói e Região dos Lagos Araruama Araruama, Morro Grande e São Vicente de Paula
124 Grande Niterói e Região dos Lagos Saquarema Saquarema, Bacaxá e Sampaio Correia
125 Grande Niterói e Região dos Lagos São Pedro da Aldeia São Pedro da Aldeia
126 Grande Niterói e Região dos Lagos Cabo Frio Cabo Frio e Tamoios
117
127 Grande Niterói e Região dos Lagos Armação dos Búzios Armação dos Búzios
129 Grande Niterói e Região dos Lagos Iguaba Grande Iguaba Grande
132 Grande Niterói e Região dos Lagos Arraial do Cabo Arraial do Cabo
71 Grande Niterói e Região dos Lagos Itaboraí Itaboraí, Cabuçú, Itambí, Porto das Caixas e Sambaetiba
119 Grande Niterói e Região dos Lagos Rio Bonito Rio Bonito e Boa Esperança
120 Grande Niterói e Região dos Lagos Silva Jardim Silva Jardim, Aldeia Velha, Correntezas e Gaviões
159 Grande Niterói e Região dos Lagos Cachoeiras de Macacu Cachoeiras de Macacu, Japuíba e Subaio
88 Sul Fluminense Barra do Piraí Barra do Piraí, Dorandia, Ipiabas, São José do Turvo e Vargem Alegre
91 Sul Fluminense Valença Valença, Barão de Juparana, Conservatória, Parapeúna, Pentagna e Santa Isabel
do Rio Preto
92 Sul Fluminense Rio das Flores Rio das Flores, Manuel Duarte, Abarracamento e Taboas
95 Sul Fluminense Vassouras Vassouras, Andrade Pinto, São Sebastião dos Ferreiros e Sebastião de Lacerda
98 Sul Fluminense Engenheiro Paulo de Engenheiro Paulo de Frontin e Sacra Família do Tinguá
Frontin
90 Sul Fluminense Barra Mansa Antonio Rocha, Floriano, Nossa Senhora do Amparo, Rialto
e Regiões Administrativas I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV
165 Sul Fluminense Mangaratiba Mangaratiba, Conceição de Jacareí, Vila Muriquí, Itacuruçá
166 Sul Fluminense Angra dos Reis Angra dos Reis, Jacuecanga, Cunhambebe, Mambucaba, Abraão e Praia de
Araçatiba
167 Sul Fluminense Paraty Paraty, Paraty-Mirim e Tarituba
168 Sul Fluminense Rio Claro Rio Claro, Getulândia, Lídice, Passa Três e São João Marcos
89 Sul Fluminense Resende Resende, Engenheiro Passos, Agulhas Negras, Pedra Selada e Fumaça
134 Norte Fluminense Campos dos Goytacazes Campos dos Goytacazes (Primeiro Subdistrito, Segundo Subdistrito e Quarto
Subdistrito),
Ibitioca, Dores de Macabu, Morangaba, Mussurepe, Serrinha, Santo Amaro de
Campos,
São Sebastião de Campos e Tocos
146 Norte Fluminense Campos dos Goytacazes Campos dos Goytacazes (Terceiro Subdistrito), Santa Maria, Morro do Coco,
Santo Eduardo,
Travessão e Vila Nova de Campos
141 Norte Fluminense São Fidélis São Fidelis, Cambiasca, Colonia, Ipuca e Pureza
145 Norte Fluminense São João da Barra Barcelos, Atafona, São João da Barra, Grussaí, Cajueiro e Pipeiras
147 Norte Fluminense São Francisco de São Francisco de Itabapoana, Maniva e Barra Seca
Itabapoana
138 Norte Fluminense Laje do Muriaé Laje do Muriaé
Varre-Sai Varre-Sai
143 Norte Fluminense Itaperuna Itaperuna, Boaventura, Nossa Senhora da Penha, Itajara, Retiro do Muriaé,
Raposo e Comendador Venâncio
118
144 Norte Fluminense Bom Jesus de Bom Jesus de Itabapoana, Carabuçú, Calheiros, Pirapetinga de Bom Jesus,
Itabapoana Rosal e Serrinha
121 Norte Fluminense Casimiro de Abreu Casimiro de Abreu, Professor Souza, Barra de São João e Rio Dourado
123 Norte Fluminense Macaé Centro, Cabiúnas, Barra de Macaé, Aeroporto e Imboassica
130 Norte Fluminense Carapebus Centro, UB-S, Rodagem, Carapebus e Praia de Carapebus
135 Norte Fluminense Itaocara Itaocara, Portela, Batatal, Laranjais, Jaguarembe e Estrada Nova
136 Norte Fluminense Santo Antônio de Pádua Santo Antônio de Pádua, Campelo, Paraoquena, Monte Alegre, Ibitiguaçú, Santa
Cruz,
Baltazar, Marangatú e São Pedro de Alcântara
Aperibé Aperibé
137 Norte Fluminense Miracema Miracema, Venda das Flores e Paraíso do Tobias
142 Norte Fluminense Cambuci Cambuci, Três Irmãos, Funil, Monte Verde e São João do Paraíso
155 Norte Fluminense São Sebastião do Alto São Sebastião do Alto, Valão do Barro e Ipituna
151 Região Serrana Nova Friburgo Nova Friburgo, São Pedro da Serra, Lumiar, Amparo, Riograndina,
Conselheiro Paulino e Campo do Coelho
153 Região Serrana Cantagalo Cantagalo, Santa Rita da Floresta, Boa Sorte, Euclidelândia e São Sebastião do
Paraíba
154 Região Serrana Cordeiro Cordeiro
Macuco Macuco
156 Região Serrana Santa Maria Madalena Santa Maria Madalena, Doutor Loreti, Renascença, Santo Antônio do Imbé,
Sossego e Triunfo
157 Região Serrana Trajano de Moraes Trajano de Moraes, Doutor Elias, Sodrelândia, Vila da Grama e Visconde de Imbé
158 Região Serrana Bom Jardim Bom Jardim, Banquete, Barra Alegre e São José do Ribeirão
104 Região Serrana São José do Vale do Rio São José do Vale do Rio Preto
Preto
112 Região Serrana Carmo Carmo, Córrego da Prata e Porto Velho do Cunha
107 Região Serrana Paraíba do Sul Paraíba do Sul, Werneck, Salutaris e Inconfidência
108 Região Serrana Comendador Levy Comendador Levy Gasparian e Afonso Arinos
Gasparian
Areal Areal
109 Região Serrana Sapucaia Sapucaia, Anta, Pião, Nossa Senhora Aparecida e Jamapara
Fonte: adaptado da Distribuição das Regiões e Áreas Integradas de Segurança Pública (RISP e AISP),
Batalhões de Polícia Militar (BPM) e Delegacias de Polícia Civil (DP) do Instituto de Segurança Pública
(ISP).
119
APÊNDICE 3: MÉTRICAS DE CENTRALIDADE UTILIZADAS POR CISP EM 2007, 2012 E 2017
Grau de Centralidade (degree) Indegree Outdegree betweeness
CISP
2007 2012 2017 2007 2012 2017 2007 2012 2017 2007 2012 2017
21 - Bonsucesso 95 79 112 55 48 69 40 31 43 1E+09 4E+08 3E+08
59 - Duque De Caxias 62 84 110 35 39 62 27 45 48 3E+08 1E+08 9E+08
39 - Pavuna 69 79 105 41 40 57 28 39 48 3E+08 5E+08 2E+08
25 - Engenho Novo 62 55 97 35 26 59 27 29 38 9E+07 5E+08 4E+08
27 - V De Carvalho 62 70 96 30 32 51 32 38 45 3E+08 3E+08 3E+08
64 - Vilar Dos Teles 54 66 89 33 31 45 21 35 44 1E+08 3E+08 5E+08
34 - Bangu 72 66 88 32 33 46 40 33 42 3E+08 3E+08 3E+08
35 - Campo Grande 63 63 83 29 35 39 34 28 44 3E+08 4E+08 1E+08
38 - Braz De Pina 83 82 83 40 45 44 43 37 39 5E+08 4E+08 5E+08
17 - S. Cristovão 68 59 81 40 34 42 28 25 39 2E+08 5E+08 1E+07
54 - Belford Roxo 53 52 79 35 25 42 18 27 37 9E+07 3E+08 5E+08
29 - Madureira 52 56 77 23 29 35 29 27 42 1E+08 3E+08 5E+08
40 - H Gurgel 61 62 75 32 32 33 29 30 42 7E+07 1E+08 2E+08
30 - Marechal Hermes 59 58 73 28 30 35 31 28 38 4E+08 8E+07 4E+08
44 - Inhauma 76 54 71 31 25 39 45 29 32 4E+08 1E+06 2E+08
72 - São Gonçalo 31 29 70 17 17 35 14 12 35 2E+08 1E+08 1E+08
22 - Penha 76 71 70 36 38 34 40 33 36 3E+08 4E+08 3E+08
31 - R De Albuquerque 34 55 69 8 22 30 26 33 39 4E+07 8E+07 2E+08
52 - Nova Iguaçu 37 57 69 20 32 33 17 25 36 1E+08 3E+08 2E+07
73 - Neves 36 27 67 18 12 26 18 15 41 9E+07 4E+07 7E+07
33 - Realengo 62 54 67 28 28 33 34 26 34 1E+08 1E+08 1E+08
32 - Taquara 62 48 65 30 27 35 32 21 30 1E+07 8E+07 2E+07
26 - Todos Os Santos 46 49 64 16 19 28 30 30 36 4E+07 7E+07 1E+08
74 - Alcântara 37 33 63 20 17 24 17 16 39 1E+08 2E+08 2E+08
28 - Praça Seca 62 64 62 27 25 25 35 39 37 1E+08 8E+08 2E+08
6 - Cidade Nova 47 24 62 27 12 34 20 12 28 1E+08 6E+07 1E+08
24 - Piedade 66 56 61 33 28 23 33 28 38 2E+08 1E+08 6E+08
23 - Meier 70 51 61 34 26 22 36 25 39 3E+08 2E+08 7E+08
20 - Grajaú 66 31 61 25 11 26 41 20 35 3E+08 7E+07 5E+08
19 - Tijuca 59 26 60 24 12 25 35 14 35 2E+08 2E+07 7E+07
16 - B Da Tijuca 75 65 59 29 32 31 46 33 28 2E+08 3E+08 2E+08
36 - Santa Cruz 36 35 57 23 21 33 13 14 24 6E+07 7E+07 1E+08
18 - P Da Bandeira 55 19 56 21 5 19 34 14 37 2E+08 491475 1E+08
56 - C Soares 44 50 54 19 23 24 25 27 30 2E+08 2E+08 3E+08
60 - Campos Elisios 30 46 53 20 20 19 10 26 34 2E+07 1E+08 6E+07
75 - Rio Do Ouro 16 32 52 10 17 26 6 15 26 7E+06 2E+08 1E+08
71 - Itaboraí 30 27 52 16 17 21 14 10 31 6E+07 2E+08 4E+07
58 - Posse 39 48 51 18 19 21 21 29 30 5E+07 2E+08 4E+07
78 - Fonseca 43 27 51 19 10 18 24 17 33 1E+08 5E+06 3E+08
53 - Mesquita 29 43 49 22 23 27 7 20 22 3E+06 1E+08 8E+07
50 - Itaguai 24 24 49 14 9 22 10 15 27 1E+08 3E+08 1E+08
42 - Recreio 0 36 49 0 10 20 0 26 29 0 3E+07 2E+08
9 - Catete 54 21 47 21 6 15 33 15 32 2E+08 4E+07 2E+07
41 - Tanque 52 37 47 17 13 18 35 24 29 6E+07 2E+07 1E+07
57 - Nilopolis 60 39 46 28 18 16 32 21 30 1E+08 1E+07 3E+08
4 - Pres Vargas 34 24 46 24 12 28 10 12 18 3E+07 6E+07 1E+08
37 - I Do Governador 54 31 43 27 18 20 27 13 23 1E+08 4E+07 4E+07
62 - Imbariê 27 34 42 15 18 24 12 16 18 1E+08 7E+06 1E+08
77 - Icarai 35 26 40 12 12 15 23 14 25 2E+08 7E+07 2E+08
76 - Niteroi 22 30 40 14 11 24 8 19 16 3E+07 1E+08 5E+08
48 - Seropédica 8 14 39 4 9 22 4 5 17 0,589 1E+08 1E+08
82 - Maricá 23 32 38 15 20 19 8 12 19 3E+06 3E+08 5E+05
10 - Botafogo 45 20 37 14 7 18 31 13 19 1E+08 3E+07 2E+08
55 - Queimados 11 14 35 9 8 13 2 6 22 0,567 0,1181 2E+07
65 - Magé 13 21 35 9 15 24 4 6 11 4E+07 6E+07 5E+05
5 - Mem De Sá 30 20 35 15 11 22 15 9 13 2E+07 1E+06 4E+06
7 - Santa Tereza 31 15 34 13 6 14 18 9 20 7E+06 7E+06 2E+08
79 - Jurujuba 18 20 33 6 6 17 12 14 16 2E+07 1E+08 6E+08
63 - Japeri 6 13 31 5 8 17 1 5 14 0,1 2E+07 2E+07
61 - Xerem 17 18 31 9 7 23 8 11 8 7E+06 1E+07 1E+08
126 - Cabo Frio 8 8 29 3 5 13 5 3 16 5E+06 3E+08 9E+06
81 - Itaipu 15 74 28 7 63 13 8 11 15 7E+06 1E+09 3E+08
43 - Guaratiba 18 17 28 11 7 15 7 10 13 6E+06 1E+06 3E+07
66 - Piabetá 14 27 27 6 16 13 8 11 14 5E+06 7E+06 1E+07
119 - Rio Bonito 6 3 27 3 1 17 3 2 10 1E+08 0 2E+08
118 - Araruama 10 6 26 3 3 18 7 3 8 8E+06 1E+08 5E+06
15 - Gávea 29 14 26 14 5 13 15 9 13 1E+07 4E+06 2E+08
123 - Macaé 8 15 25 6 4 14 2 11 11 3E+05 6E+08 4E+07
128 - Rio Das Ostras 2 16 25 1 6 11 1 10 14 196 2E+08 2E+06
124 - Saquarema 9 4 24 6 2 16 3 2 8 8E+06 5E+07 2E+08
146 - Guarus 3 8 23 1 5 17 2 3 6 0 2E+08 3E+07
12 - Copacabana 20 5 23 12 4 14 8 1 9 1E+08 0,2333 2E+08
14 - Leblon 32 16 22 17 5 7 15 11 15 7E+07 3E+07 3E+07
70 - Tanguaí 0 5 21 0 2 11 0 3 10 0 0,6484 3E+06
134 - C Dos Goytacazes 4 14 18 2 10 12 2 4 6 99 6E+08 7E+07
165 - Mangaratiba 7 6 18 5 4 10 2 2 8 0,143 4E+06 2E+07
166 - A Dos Reis 3 2 17 2 1 12 1 1 5 0 0 3E+08
125 - S P Da Aldeia 12 4 17 7 1 12 5 3 5 5E+06 0 7E+08
90 - Barra Mansa 10 4 17 5 2 11 5 2 6 3E+08 5E+06 5E+07
1 - Praça Mauá 20 11 17 13 9 7 7 2 10 1E+08 2E+06 6E+06
93 - Volta Redonda 8 6 16 3 2 6 5 4 10 1E+08 1E+08 2E+05
67 - Guapimirim 0 5 14 0 0 8 0 5 6 0 0 2E+08
121 - C De Abreu 2 6 14 1 4 8 1 2 6 3E+07 4E+06 2E+08
89 - Resende 3 3 12 2 2 7 1 1 5 0 0 5E+05
105 - Petrópolis 6 7 12 3 2 7 3 5 5 5E+05 103 0,935
13 - Ipanema 16 3 12 7 2 7 9 1 5 4E+06 0,2778 3E+06
94 - Piraí 10 3 11 8 3 7 2 0 4 0 0 2E+07
151 - N Friburgo 4 4 11 3 3 10 1 1 1 0 0 1E+08
130 - Quissamã 0 1 10 0 0 4 0 1 6 0 0 2E+06
51 - Paracambi 1 2 9 1 2 2 0 0 7 0 0 0
129 - Iguaba 5 3 9 3 1 5 2 2 4 2E+06 9E+06 0
110 - Teresopolis 3 12 9 2 6 5 1 6 4 0 1E+08 1E+06
145 - S J Da Barra 0 3 9 0 1 5 0 2 4 0 0 4E+06
127 - A De Buzios 9 2 8 7 1 3 2 1 5 3E+06 0 5E+06
100 - Porto Real 0 1 8 0 1 4 0 0 4 0 0 1E+06
99 - Itatiaia 4 3 7 3 2 5 1 1 2 0 98 8E+07
167 - Parati 1 3 7 1 1 5 0 2 2 0 0 0
106 - Itaipava 12 5 6 7 3 2 5 2 4 1E+08 1E+07 2E+06
147 - S F Itabapoana 1 2 6 0 2 4 1 0 2 0 0 5E+07
88 - Barra Do Pirai 3 3 6 2 2 4 1 1 2 0 0 1,2
107 - Paraiba Do Sul 0 0 6 0 0 4 0 0 2 0 0 0,325
108 - Três Rios 3 3 6 2 2 6 1 1 0 0 9E+07 1E+06
159 - C De Macacu 3 2 5 2 0 3 1 2 2 0 0 0
120