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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO POPULAÇÃO,


TERRITÓRIO E ESTATÍS TICAS PÚBLICAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Violência e criminalidade no Rio de Janeiro: territorialização das


Organizações Criminosas no Estado

Luiz Augusto Vieira de Oliveira

Rio de Janeiro, RJ
Abril de 2019
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS

Violência e criminalidade no Rio de Janeiro: territorialização das


Organizações Criminosas no Estado

Luiz Augusto Vieira de Oliveira

Dissertação

Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em População,

Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências

Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em População, Território e Estatísticas Públicas

Rio de Janeiro, RJ
Abril de 2019
II
Copyright

por

Luiz Augusto Vieira de Oliveira

2019

O48v Oliveira, Luiz Augusto Vieira de


Violência e criminalidade no Rio de Janeiro: territorialização das organizações

criminosas no estado / Luiz Augusto Vieira de Oliveira. – Rio de Janeiro, 2019.

117 f.
Inclui referências e apêndices.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Salet Ferreira Novellino.

Dissertação (Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais) – Escola


Nacional de Ciências Estatísticas.
1. Criminalidade – Estatística – Rio de Janeiro(Estado) – Estatística - Teses. 2.
Violência – Unidade de Polícia Pacificadora(RJ) – Rio de Janeiro(Estado) – Condições
Sociais - Teses. I. Novellino, Maria Salet Ferreira 2. II. Escola Nacional de Ciências
Estatísticas (Brasil). III. IBGE. IV. Título. V. Título: territorialização das organizações
criminosas no estado.
CDU: 343.97(815.3)

III
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS

Luiz Augusto Vieira de Oliveira

Violência e criminalidade no Rio de Janeiro: territorialização das


Organizações Criminosas no Estado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em População, Território e


Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Banca Examinadora:

Maria Salet Ferreira Novellino


Orientador - ENCE/IBGE

Ana Carolina Soares Bertho


ENCE/IBGE

Beatriz Magaloni
Universidade Stanford

Vanessa Campagnac da Silva Barros


Instituto de Segurança Pública

Rio de Janeiro, 12 de abril de 2019

IV
DEDICATÓRIA

Aos que labutam por uma sociedade mais justa e pacífica,


mesmo com o risco da própria vida.

V
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por essa caminhada.


Aos meus familiares por terem compreendido minha ausência em mais uma missão.
À minha orientadora, pelo cuidado e atenção dispostos nesta empreitada.
Ao Professor Gustavo, por ter me apresentado a análise de redes.
Aos colegas Roberta, Renata, Jorge e Leandro, pelo apoio durante o curso.
À amiga Ana Montandon, pelo estímulo em fazer o mestrado.
Às minhas chefias, pela compreensão e apoio.
À toda Escola Nacional de Ciências Estatísticas.

v
RESUMO

Violência e criminalidade no Rio de Janeiro: territorialização das


Organizações Criminosas no Estado

Luiz Augusto Vieira de Oliveira

Escola Nacional de Ciências Estatísticas, IBGE, 2019

Orientadora: Maria Salet Ferreira Novellino

O objetivo da dissertação é analisar a territorialização violenta das Organizações


Criminosas para a exploração de mercados ilícitos nos aglomerados humanos de
exclusão e outras ações delitivas resultantes do negócio no Estado do Rio de Janeiro
entre os anos de 2007 e 2018. É também propósito deste estudo identificar as
respostas estatais frente a essa realidade. Ao se estruturarem em rede, tais
organizações espalham suas influências, gerando um nível de conectividade
extremamente resiliente. Logrou-se com o presente estudo evidenciar que o avanço
do Programa de Pacificação impactou nos territórios-rede do crime organizado;
todavia, houve mudanças nas áreas de exploração dos mercados ilícitos, bem como
uma maior diversificação do portfólio criminal. A rede se encontra em franca expansão
para a Região do Norte Fluminense, o que poderá fomentar novas disputas territoriais
e uma abrupta quantificação de homicídios dolosos, roubos e mortes decorrentes de
intervenção policial; uma dinâmica de violência similar ao cenário de insegurança
recentemente evidenciado no Sul Fluminense e há décadas na Região Metropolitana.

Palavras-chave: Organizações Criminosas. Territorialidade violenta. Criminalidade.


Redes.

vi
ABSTRACT

Violence and crime in Rio de Janeiro: territorialisation of criminal


organizations in the State

Luiz Augusto Vieira de Oliveira

Escola Nacional de Ciências Estatísticas, IBGE, 2019

Advisor: Maria Salet Ferreira Novellino

The purpose of this research is to analyze the violent territorialization of criminal


organizations for the exploitation of illicit markets in the human settlements of
exclusion and other delinquent actions resulting from the business in the State of Rio
de Janeiro between the years 2007 and 2018. It is also the purpose of this study to
identify state responses to this reality. When structured in a network, such
organizations spread their influences, generating an extremely resilient level of
connectivity. It was achieved with the present study sought to show that the progress
of the Pacification Program has impacted on the network territories of organized
crime; however, there have been changes in the areas of exploitation of illicit markets,
as well as greater diversification of the criminal portfolio. The network is in full
expansion for the Norte Fluminense Region, which may foment new territorial
disputes and an abrupt quantification of intentional homicides, robberies and deaths
resulting from police intervention; a dynamics of violence similar to the scenario of
insecurity recently evidenced in the Sul Fluminense Region and decades ago in the
Metropolitan Region.

Keywords: Criminal organizations. Territoriality violence. Crime. Networks.

vii
SUMÁRIO
Lista de Gráficos ………………………………………………………………………………………………….ix
Lista de Ilustrações…………. ...................................................................................... x
Lista de Abreviaturas e Siglas ................................................................................. xi
INTRODUÇÃO:……………………….. ............................................................................... 1
Capítulo 1: Da questão espacial à territorialidade criminosa. ................................ 7
1.1 Os aglomerados de exclusão como palco de atuação de organizações
criminosas........................................................................................... 7
1.2 Do território e territorialidade ....................................................................... 14
Capítulo 2: Aspectos das Organizações criminosas: da teoria ao caso concreto .. 21
2.1 Caracterização das Organizações Criminosas: ................................................ 23
2.2 Modelos de Organizações Criminosas ............................................................. 27
37
2.3.1 Das Facções que exploram majoritariamente o tráfico de drogas ......... 39
2.3.2 Das Milícias……… ..................................................................................... 43
2.3.3 Da distribuição espacial das Facções ..................................................... 50
Capítulo 3: A atuação do Estado frente à territorialização das organizações
criminosas......................................................................................... 54
3.1 Sobre o Programa de Pacificação .................................................................... 56
3.2 Impacto sobre os indicadores de segurança pública ...................................... 63
3.2.1 Homicídios dolosos: ................................................................................ 64
3.2.2 Mortes decorrentes de intervenção policial: ......................................... 67
3.2.3 Roubos de Veículos: ................................................................................ 69
3.2.4 Roubos de carga:..................................................................................... 70
3..3 O Criminal displacement como consequência da atuação estatal................. 71
Capítulo 4: Territórios-rede do crime organizado ................................................. 75
4.1 Da análise de redes .......................................................................................... 78
4.1.1 Das estatísticas de rede .......................................................................... 80
4.2. A dinamicidade da rede e seus impactos na qualidade de vida..................... 94
CONCLUSÃO:……………… ..................................................................................... 1030
REFERÊNCIAS:……………… .................................................................................... 1085
APÊNDICE 1: DIVISÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO POR CISP E RISP ......... 1152
APÊNDICE 2: RELAÇÃO DAS CISPS E SUAS REFERÊNCIAS DE LOCALIDADE,
MUNICÍPIO E REGIÃO. .................................................................... 113
APÊNDICE 3: MÉTRICAS DE CENTRALIDADE UTILIZADAS POR CISP EM 2007, 2012 E
2017…….. ........................................................................................ 117

viii
LISTA DE GRÁFICOS

Gráficos 3.1 – Homicídios Dolosos na Região Metropolitana do Estado do Rio de


Janeiro, de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por RISP………………65

Gráficos 3.2– Mortes decorrentes de intervenção policial na Região Metropolitana


do Estado do Rio de Janeiro, de janeiro de 2003 a dezembro de 2018,
por RISP…………………………………………………………………………………………..68

Gráficos 3.3 – Roubos de Veículos na Região Metropolitana do Estado do Rio de


Janeiro, de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por RISP……………..69

Gráficos 3.4 – Roubos de Carga na Região Metropolitana do Estado do Rio de


Janeiro, de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por
RISP…………………………..70

Gráficos 4.1 Distribuição de graus em 2007, 2012 e 2017, no Estado do Rio de


Janeiro…………………………………………………………………………………………….82

Gráfico 4.2- Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness),


graus de entrada (indegree) e graus de saída (outdegree) no Estado
do Rio de Janeiro,
2007……………………………………………………………………….85

Gráfico 4.3 -Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness),


graus de entrada (indegree) e graus de saída (outdegree) no Estado
do Rio de Janeiro,
2012……………………………………………………………………….85

Gráfico 4.4 - Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness),


graus de entrada (indegree) e graus de saída (outdegree) no Estado
do Rio de Janeiro,
2017……………………………………………………………………….86

Gráfico 4.5- Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness),


graus de entrada ponderado (weightedindegree) e graus de saída
ponderado (weightedoutdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2007.87

Gráfico 4.6- Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness),


graus de entrada ponderado (weightedindegree) e graus de saída
ponderado (weightedoutdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2012.88

Gráfico 4.7- Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness),


graus de entrada ponderado (weightedindegree) e graus de saída
ponderado (weightedoutdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2017.88
ix
x
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1.1 – Locais de barricadas extraídas de um portal colaborativo.............20

Ilustração 1.2 – Notícia de barricadas no município de São Gonçalo impostas pelo


Tráfico..................................................................................................20

Ilustração 2.1 - modelo analítico-contextual do crime


organizado...........................28

Ilustração 2.2 – Teoria do Triângulo do Crime..........................................................30

Ilustração 2.3 – Cenários possíveis para a operabilidade do Crime


Organizado.......32

Ilustração 2.4 – Distribuição das Facções criminosas entre os anos de 2017 e


2018.52

Ilustração 2.5 – Distribuição dos aglomerados subnormais, bem como áreas com
UPPs em 2017......................................................................................52

Ilustração 3.1 - Criança brinca sobre um blindado da Polícia Civil durante operação,
fazendo uma postura de estar segurando um fuzil e apontando para
policiais; reproduzindo sua triste
realidade.........................................61

Ilustração 4.1 - Grafos dos Territórios-rede das organizações criminosas em 2007,


Estado do Rio de
Janeiro......................................................................90

Ilustração 4.2 - Grafos dos Territórios-rede das organizações criminosas em 2012,


Estado do Rio de
Janeiro......................................................................91

Ilustração 4.3 - Grafos dos Territórios-rede das organizações criminosas em 2017,


Estado do Rio de
Janeiro......................................................................92

Ilustração 4.4 - Mapa dos Territórios-rede do crime organizado no Estado do Rio de


Janeiro, em
2007..................................................................................95

Ilustração 4.5 - Mapa dos Territórios-rede do crime organizado no Estado do Rio de


Janeiro, em
2012..................................................................................95
xi
Ilustração 4.6 - Mapa dos Territórios-rede do crime organizado no Estado do Rio de
Janeiro, em
2017..................................................................................96

Ilustração 4.7 – Redes criminosas por Hub em 2017, no Estado do Rio de


Janeiro..97

xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADA: Amigo dos Amigos


AISP: Área Integrada de Segurança Pública
ALERJ: Assembleia do Estado do Rio de Janeiro
CAEs: Coordenadoria de Assuntos Estratégicos
CID: Código Internacional de Doenças
CIEP: Centros Integrados de Educação Pública
CISP: Circunscrição Integrada de Segurança Pública
CPI: Comissão Parlamentar de Inquérito
CV: Comando Vermelho
GPAE: Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano
IPP: Instituto Pereira Passos
ISP: Instituto de Segurança Pública
MLC: Milícia
ONU: Organização das Nações Unidas
PCC: Primeiro Comando da Capital
PCERJ: Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro
PMERJ: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
SESEG: Secretaria de Estado de Segurança Pública
SIM: Sistema Integrado de Metas
PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RISP: Região Integrada de Segurança Pública
TCP: Terceiro Comando Puro
UNODC: United Nations Office on Drugs and Crime
UPP: Unidade de Polícia Pacificadora

xiii
INTRODUÇÃO.

Em 2017, no Estado do Rio de Janeiro, segundo o Instituto de Segurança

Pública (ISP), 5.346 pessoas foram vítimas de homicídios dolosos, uma taxa de 32

mortes por 100 mil habitantes. No mesmo período, 237 pessoas foram latrocinadas,

ou seja, perderam suas vidas em decorrência de um roubo1. Por sua vez, os Órgãos de

Segurança foram responsáveis pela morte de 1.127 pessoas em conflito com a lei

durante suas intervenções. Também em 2017, 163 policiais militares foram mortos por

ação criminosa, segundo a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ).

Ainda em 2017, segundo o ISP, ocorreram 54.366 roubos de veículos e 10.599

roubos de cargas, as maiores quantificações na história do Estado do Rio de Janeiro.


Através do Aplicativo “Fogo Cruzado’, a Anistia Internacional, em igual período,

contabilizou 11.155 tiroteios2. Segunda a PMERJ, suas guarnições se envolveram em

4.732 confrontos armados, em sua maioria durante o patrulhamento (68%), ou seja,

no desempenho de policiamento preventivo; uma média de 13 confrontos armados

por dia.

Segundo Ribeiro (2017), somente na capital fluminense, de fevereiro a julho de

2017, 90,5% dos dias teve pelo menos uma escola fechada em decorrência de

confrontos armados, a maioria em CIEP ou Creche Municipal. Dos confrontos, 60%

foram originados por conflitos no interior da Comunidade ou invasão de facções rivais,

32% dos confrontos foram em decorrência de operações policiais e 8% por outros


motivos (classificações do citado autor).

Ainda em 2017, segundo o ISP, ocorreram 54.366 roubos de veículos e 10.599

roubos de cargas, as maiores quantificações na história do Estado do Rio de Janeiro.

1 Segunda maior quantificação desde 2003, perdendo apenas para o ano anterior (2016).

2 Os dados foram fornecidos pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Constatou-se um


baixíssimo registro fora da Capital fluminense.

1
Através do Aplicativo “Fogo Cruzado’, a Anistia Internacional, em igual período,

contabilizou 11.155 tiroteios. Segunda a PMERJ, suas guarnições se envolveram em

4.732 confrontos armados, em sua maioria durante o patrulhamento (68%), ou seja,

no desempenho de policiamento preventivo; uma média de 13 confrontos armados

por dia.

Segundo Ribeiro (2017), somente na capital fluminense, de fevereiro a julho de

2017, em 90,5% dos dias houve pelo menos uma escola fechada em decorrência de

confrontos armados, a maioria em CIEP ou Creche Municipal. Dos confrontos, 60%

foram originados por conflitos no interior da Comunidade ou invasão de facções rivais,

32% dos confrontos foram em decorrência de operações policiais e 8% por outros

motivos (classificações do citado autor).


Não há dúvidas do grave cenário de violência ao qual é submetido o cidadão

fluminense; tais cifras caracterizam o Rio de Janeiro como um lugar sui generis,

quando comparamos com a maioria dos estados federados, por vezes comparáveis aos

cenários de violência impostos por organizações criminosas que atuam na Colômbia e

México.

Destarte, o objetivo central desta investigação é analisar a territorialização das

“Organizações Criminosas para a exploração de mercados ilícitos” no domínio violento

do espaço e outras ações delitivas resultantes do negócio no Estado do Rio de Janeiro,

e as respostas estatais frente a essa realidade.

Como recorte temporal, focar-se-á no período entre 2007 e 2018,


considerando a facilidade de obtenção de dados e devido ao fato de que em tal

período foi implantado o Programa das Unidades de Polícia Pacificadora. Como recorte

espacial, focar-se-á no Estado do Rio de Janeiro. Desconsiderando, para tanto, as

interações das Organizações Criminosas em nível nacional e internacional, apesar de

mencioná-las somente para contextualização; para que se possa- assim- focar nas

características socioespaciais que permitem a territorialização criminosa no Estado.

2
Cumpre ressaltar que o conceito de região utilizado neste trabalho está

relacionado a uma circunscrição administrativa dos Órgãos de Segurança no Estado do

Rio de Janeiro, chamadas de Regiões Integrada de Segurança Pública (RISP).

Diante do problema supra exposto, surgem inúmeros questionamentos que

nortearão o objetivo geral deste trabalho e os subsequentes objetivos específicos, a

saber: como ocorrem as territorializações das Organizações Criminosas no Estado? O

que de fato é uma Organização Criminosa? Como há a formação dos territórios-redes

criminosas ao longo do espaço neste caso concreto? Como o Poder Público Fluminense

tem enfrentado as Organizações Criminosas na última década?

Diante do problema supra exposto, surgem inúmeros questionamentos que

nortearão o objetivo geral deste trabalho e os subsequentes objetivos específicos, a


saber: Como ocorre as territorializações das Organizações Criminosas no Estado? O

que de fato é uma Organização Criminosa? Como há a formação dos territórios-redes

criminosas ao longo do espaço neste caso concreto? Como o Poder Público Fluminense

tem enfrentado as Organizações Criminosas na última década?

Outrossim, expõe-se os seguintes objetivos específicos:

I. Identificar as principais facções criminosas que se territorializam


violentamente no Rio de Janeiro, seus domínios e negócios;
II. Analisar os impactos das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) na
distribuição espacial do poder das Organizações criminosas e em suas
redes;
III. Identificar os territórios-redes formados pelas facções criminosas
através de rastros criminais.

Pelo exposto acima, buscar-se-á analisar a distribuição espacial e características

territoriais das Organizações Criminosas fluminenses, relacionando suas ações aos

crimes dolosos contra a vida e aos crimes contra o patrimônio, bem como as respostas

estatais na última década, principalmente com o Programa de Pacificação.

3
Relevante salientar que para este trabalho, focar-se-á nas Organizações

Criminosas que violentamente se territorializam, ou seja, que em decorrência de suas

atividades, deixam rastros de morte e crimes contra o patrimônio.

Como veremos ao longo do trabalho, taxar a Organização pelo seu mercado

majoritário constitui-se de um reducionismo que acaba por nebular o problema. Logo,

prioritariamente, chamaremos as Organizações daquelas que majoritariamente

exploram o mercado de drogas ilícitas e/ou bens e serviços irregulares; embora, por

vezes, reduziremos para o termo traficantes e milicianos, ou Tráfico e Milícia. Ainda,

consideraremos como sinônimos os termos Organização Criminosa, crime organizado e

Facção.

Para tais intentos, aproveitaremos conteúdos multidisciplinares, valendo-se de


conceitos da geografia, ciência política, sociologia, criminologia e estatística.

Outrossim, utilizaremos os seguintes métodos:

▪ Análise da literatura acadêmica;

▪ Análise documental - Como subsídio para argumentos, pretende-se

utilizar relatórios oficiais das Casas Legislativas, julgados e outros

documentos produzidos em juízo, relatórios produzidos pela Polícia

Militar e pelo Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de

Janeiro;

▪ Métodos quantitativos – estatística descritiva, séries temporais, análises

de redes etc.;
Para a parte quantitativa, utilizaremos as seguintes fontes de dados:

▪ Base de dados oriundas dos registros de ocorrências policias da PMERJ;

▪ Registros de ocorrências da PCERJ – base de dados dos roubos e

recuperação de veículos nos anos de 2007 a 2018; mortes decorrentes

de intervenção policial e outras;

▪ Dados e informações coletadas de fontes abertas, seja de documentos

públicos, seja da imprensa referentes à autuação das organizações

4
criminosas – principalmente – para a confecção do mapa das áreas de

domínio das facções criminosas na Região Metropolitana do Rio de

Janeiro;

▪ Indicadores criminais registrados pela PCERJ e coletados pelo Instituto

de Segurança Pública (ISP) e publicizados em sítio oficial, para a análise

de séries temporais.

Destarte, este trabalho compreende quatro capítulos, além deste introito e da

conclusão. No primeiro capítulo, trataremos sobre a questão espacial como suporte

para a atividade dos negócios ilícitos em estudo, bem como do conceito de território e

territorialidade aplicados às Organizações Criminosas. No capítulo dois, elencaremos


características que delineiam o conceito do que é uma Organização Criminosa,

demonstrando os potenciais de conexão com outras esferas da sociedade e com o

Poder Público. No terceiro capítulo, trataremos da atuação do Estado frente à

territorialização das organizações criminosas, em especial, do Programa de Pacificação

e seus impactos no cenário de segurança. Por fim, no quarto capítulo

demonstraremos, com base nos rastros criminais, o território-rede das Organizações

Criminosas estudadas.

Diante do problema supra exposto, surgem inúmeros questionamentos que

nortearão o objetivo geral deste trabalho e os subsequentes objetivos específicos, a

saber: Como ocorre as territorializações das Organizações Criminosas no Estado? O


que de fato é uma Organização Criminosa? Como há a formação dos territórios-redes

criminosas ao longo do espaço neste caso concreto? Como o Poder Público Fluminense

tem enfrentado as Organizações Criminosas na última década? Não há dúvidas do

grave cenário de violência que é submetido ao cidadão fluminense; tais cifras

caracterizam o Rio de Janeiro como um lugar sui generis, quando comparamos com o

restante do Brasil, por vezes comparáveis aos cenários de violência impostos por

organizações criminosas que atuam na Colômbia e México, Lessing (2017).

5
Destarte, o objetivo central desta investigação é analisar a territorialização das

“Organizações Criminosas para a exploração de mercados ilícitos” no domínio violento

do espaço e outras ações delitivas resultantes do negócio no Estado do Rio de Janeiro,

e as respostas estatais frente essa realidade.

Como recorte temporal, focar-se-á no período entre 2007 e 2018,

considerando a facilidade de obtenção de dados e devido a ter em tal período sido

implantado o Programa das Unidades de Polícia Pacificadora. Como recorte espacial,

focar-se-á no Estado do Rio de Janeiro. Desconsiderando, para tanto, as interações das

organizações criminosas em nível nacional e internacional, apesar de mencioná-las

somente para contextualização; para que se possa- assim- focar nas características

socioespaciais que permitem a territorialização criminosa no Estado.


Cumpre ressaltar que o conceito de região utilizado neste trabalho está

relacionado a uma circunscrição administrativa dos Órgãos de Segurança no Estado do

Rio de Janeiro, chamadas de Região Integrada de Segurança Pública (RISP).

Diante do problema supra exposto, surgem inúmeros questionamentos que

nortearão o objetivo geral deste trabalho e os subsequentes objetivos específicos, a

saber: Como ocorre as territorializações das Organizações Criminosas no Estado? O

que de fato é uma Organização Criminosa? Como há a formação dos territórios-redes

criminosas ao longo do espaço neste caso concreto? Como o Poder Público Fluminense

tem enfrentado as Organizações Criminosas na última década?

6
CAPÍTULO 1. DA QUESTÃO ESPACIAL À TERRITORIALIDADE CRIMINOSA

“Poder e violência são opostos;


onde um domina absolutamente, o outro está ausente.”
Hannah Arendt (2009, p.73)

A apropriação e dominação do espaço está relacionada não somente à questão

do espaço físico, mas também do espaço de vivência do cotidiano; tal apropriação não

pode ser entendida sem o tempo, o ritmo da vida. Haesbaert (2014, p.35), ao dispor

do espaço geográfico / espaço-tempo, demonstra que – em verdade – há uma

constelação de conceitos que orbitam no entorno de tal questão, destacando-se: o

lugar – enquanto um espaço vivido; ambiente – enquanto a relação entre a sociedade


com a natureza; paisagem – relativo à representação do espaço; e por fim, o território

– a manifestação do poder no espaço. Assim, sendo neste último elemento que se

pretende buscar subsídios para analisar a manifestação violenta do crime organizado

no Estado do Rio de Janeiro.

1.1 Os aglomerados de exclusão como palco de atuação de


organizações criminosas

O processo de urbanização sem controle e o êxodo rural que abasteceu de mão

de obra o Estado Rio de Janeiro nas décadas de 1960 e 1970 aumentaram o processo

de favelização de áreas de encosta (sobretudo na capital). Segundo o Instituto Pereira

Passos (2012), quase metade dos aglomerados urbanos subnormais situam-se na

Região Sudeste. Com base no Censo de 2010, somente no Estado do Rio de Janeiro

havia aproximadamente dois milhões de pessoas morando em favelas, 70% destas

somente na capital (o que corresponde a 22,8% da população carioca).

Talvez a cidade do Rio de Janeiro seja o lugar de maior contraste socioespacial


no mundo, pois pobreza e riqueza vivem justapostas. Por exemplo, a Rocinha, maior
7
favela fluminense, possuía, no início do século XXI, IDH de 0,732 (IPP, 2012). Porém, a

favela (que também é bairro) encontra-se entre os bairros socioeconomicamente mais

desenvolvidos do Estado: Leblon (com IDH de 0,967) e Gávea (com IDH de 0,970).

Há, em verdade, uma cidade fragmentada, ou várias cidades justapostas. Só a

Rocinha possui mais habitantes do que 50% das cidades brasileiras, um bairro com

economia própria. Na Região Central da cidade, 27% vivem em comunidades

urbanizadas (seja em complexos ou isoladas); na Zona Sul, o percentual é de 33%; na

Zona Norte de 23%; na Zona Oeste 13%; e, na Barra/Jacarepaguá, 6% da população

vivem em comunidades, segundo o Censo 2010. (IPP, 2012, p.4).

Nas décadas de 80 e 90, nas favelas cariocas, começou-se a tornar ostensiva e

violenta a presença de quadrilhas que exploravam inúmeras atividades consideradas


ilícitas, principalmente o tráfico de drogas. Em tal período, apesar da grande

importância que o governo Brizola deu aos serviços sociais básicos nas favelas cariocas,

pouco se fez para minimizar o aumento de forças criminosas em tais lugares (BURGOS,

2003, p.43).

A partir de 1991, com o fim da Guerra Fria, os primeiros fuzis começaram a

chegar aos morros da cidade; destacavam-se, em tal período, os armamentos símbolos

do mundo polarizado: o AK-47 (fuzil de assalto leve soviético) e o Colt AR-15 (fuzil de

assalto estadunidense). Importante ressaltar que tais armas se tornaram instrumentos

de territorialização, devido ao seu alto poder de fogo e mortalidade (o projétil de um

fuzil calibre 7,62mm, pode alcançar 3.800 metros), tornando-se maquinários básicos
para os locais com grande fluxo de venda de drogas.

Começa, no governo estadual de Moreira Franco (1987-1991), passando pelo

governo Brizola (1991-1994)3, e se intensificando no governo Marcello Alencar (1995-

1999) a resposta belicosa do Estado frente ao tráfico de drogas, ocasionando um dos

3 Uma imagem emblemática: o posicionamento de tanques de Guerra apontados para Favelas


na cidade do Rio de Janeiro, durante o evento RIO ECO-92.
8
períodos mais sangrentos da segurança pública fluminense, (ALVITO e ZALUAR, 2003;

LESSING, 2017).

Apesar de serem as favelas os espaços mais icônicos para o homizio das facções

criminosas, não devemos apenas nos restringir a elas. Na verdade, há outros espaços

com problemas parecidos ou até mais complexos. Problemas esses causados tanto por

aquelas Organizações que exploram majoritariamente tráfico de drogas, quanto pelas

milícias: conjuntos habitacionais, loteamentos irregulares e bairros pobres constituem

também alvos de ação de tais grupos, em especial na Zona Oeste carioca, Baixada

Fluminense e Grande Niterói (Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá).

Face à diversidade de características que possuem tais espaços, unindo-os

simplesmente ao fato de haver pobreza, desigualdade e um permanente estado de


sobrevivência de suas populações, utilizaremos a expressão “aglomerado humano de

exclusão”, à luz do que preceitua Rogério Haesbaert (2006; 2014), considerando-o

como a identificação de “processos de exclusão socioespacial, tidos como fora de

controle (ex.: áreas periféricas onde se organizam um poder paralelo, acampamentos

de refugiados)”, (FUINI, 2017, p.24).

Não se trata, de modo algum, associar pobreza com criminalidade; mas,

apontar que “as condições materiais, sob determinadas circunstâncias culturais e

institucionais, podem atuar como fator de estímulo a estratégias de sobrevivência

ilegais, com consequências nefastas para o conjunto da sociedade e para os próprios

pobres (...)” , como bem observou Souza (1998, p.4).


Diante disso, é muito comum autores afirmarem que tais espaços são áreas de

ausência, fraqueza, vácuo, ou mesmo de falência do Estado 4. Por óbvio, não há de se

ter ausência ou vácuo total do Estado em tais aglomerados humanos de exclusão do

Rio de Janeiro; mas, em verdade, há uma grande ineficiência de serviço público e de

4 Mingardi (1998), Vergara (2012), Buscaglia (2013), Karstedt (2014), Haesbaert (2014) etc.
9
serviços privados concessionários5 do Poder Público, fundamentais para a qualidade de

vida.

Deste modo, tal ineficiência acaba por proporcionar o aparecimento do

fenômeno delitivo violento. Conforme Antonio García-Pablos de Molina (2003),

pensando em mecanismos dissuasórios de crime- dentro da perspectiva moderna da

criminologia- há de se esperar de um Estado Social e Democrático uma maior ênfase

na prevenção delituosa do que na mera repressão. Assim, Molina (2003, p.982) aponta

três formas de prevenção, nesta ordem de efetividade: prevenção primária, prevenção

secundária e prevenção terciária.

Por prevenção primária, entende-se programas que visam dirimir os fatores

criminogênicos, a origem dos conflitos; ou seja: educação, socialização, trabalho, bem-


estar social etc. Por prevenção secundária, entende-se os mecanismos de médio e

longo prazo que buscam apaziguar o conflito criminal; ou seja: a legislação penal

vigente e a atuação da polícia de segurança. E, por prevenção terciária, entende-se

como a atuação estatal sobre a população reclusa ou apenada- é basicamente a

atuação do sistema penitenciário- visando a reabilitação e ressocialização do indivíduo;

uma atuação estatal de curto prazo. Assim, a ineficiência da prevenção primária tende

a sobrecarregar as demais formas; que, provavelmente, já seriam pouco eficientes em

um Estado ineficiente.

Para a criminóloga Susanne Karstedt (2014, p.313), a “fraqueza” estatal

ocasiona - em regra -ineficiência na garantia de proteção de direitos relativos à


integridade pessoal e patrimonial, ou seja, segurança em lato sensu, ou segurança

humana6 (conforme denominado pela PNUD).

Para tanto, ao analisar o Índice de Fragilidade dos Estados entre 2005 e 2009

(FSI), a supracitada autora indica que, com exceção de três países, todos os piores

5 Internet, canais de televisão, gás de cozinha, telefonia, etc.

6 Engloba: segurança pessoal, segurança da comunidade, segurança política, segurança


ambiental, segurança sanitária e segurança alimentar. Vide Bucaglia (2013, p.22).

10
ranqueados apresentam alta concentração de violência estatal, desequilíbrio

institucional e corrupção, características de Estados em via de democratização; sem

embargo, também de países com democracias mais frágeis ou recentes – como é o

caso do Brasil7 , assim afirmou a autora – viabilizando uma violência oriunda de vários

setores do Poder Público, em especial no Sistema de Justiça Criminal, (KARSTEDT,

2014, p. 314).

Neste diapasão, imprescindível destacar, a assertiva de Hannah Arendt sobre o

fato de que perda de poder acaba por incitar a instrumentalização da violência. Assim,

disserta a autora: “Substituir poder pela violência pode trazer a vitória, mas o preço é

muito alto; pois ele não é apenas pago pelo vencido, mas também pelo vencedor, em

termos de seu próprio poder.” (ARENDT, 2009, p.71).


Destarte, o sentimento “público” de insegurança apontados para tais

aglomerados humanos de exclusão tem direcionado as políticas de estado a uma

criminalização de tais áreas de exclusão a ponto de fomentar – através dos processos

históricos – uma série de ações e omissões que acabam por resultar em tais espaços o

que Michel Misse chamou de “acumulação social da violência”, proporcionando uma

interligação entre a pobreza urbana, “desnormalização” e criminalidade (Misse, 1999;

2008). De tal modo, conforme aduz:

O problema é que, no Brasil, o Estado nunca conseguiu ter completamente o


monopólio do uso legítimo da violência, nem foi capaz de oferecer igualmente a todos
os cidadãos acesso judicial à resolução de conflitos. O que significa que o Estado
brasileiro não deteve, em nenhum momento completamente, a capacidade de ter o
monopólio do uso da força em todo território, nem o de ser capaz de transferir para si
a administração plena da Justiça. Ao dizer isso, eu estou afirmando que sempre

7 O Fragile States Index (FSI) é um relatório anual confeccionado pela Organização The Fund
for Peace (FFP). O Índice leva em consideração os seguintes fatores: o aporte de segurança
existente no país (uso da força, criminalidade, relação entre cidadãos e as forças de segurança
etc.); representatividade étnica/racial; pobreza e declínio econômico; desigualdade
econômica; migração; legitimidade estatal; serviços públicos; Estado de Direito e Direitos
Humanos; aspectos demográficos e intervenções externas. Para o FSI, em 2017, o Brasil
encontrava-se em um estágio de atenção, quanto à fragilidade estatal, estando em 65º lugar,
em um ranking de 175 países.
11
restaram espaços e, portanto, sempre restou uma incompletude no processo de
modernização do país, que atingiu tanto o Estado quanto a sociedade, e que é, em
parte, responsável pelos efeitos de violência que nós estamos assistindo hoje. (MISSE,
2008, p.374).

Assim, para o supracitado autor, tal acumulação pode ser medida através de

inúmeros indicadores (agressões, roubos, sequestros, mortes por intervenção policial,

homicídios dolosos, estupros etc.); não obstante, perpetradas por criminosos que

territorializam tal espaço, mas principalmente pelo aparelho estatal em diversas ações

ao longo da história de tais espaços.

Misse (1999) aponta para três grandes ciclos de violência no que diz respeito às

favelas: o primeiro mais longo, das últimas décadas do Império até o fim do Estado

Novo; o segundo, abrangendo o pós Estado Novo até o AI-5 (1968); e o terceiro, inicia-
se na década de 1970, com maior intensidade a partir do final da década de 1980,

durando até hoje.

Para o citado autor, o primeiro ciclo está mais relacionado às políticas de

remoção de aglomeras urbanos irregulares (favelas, cortiços etc.) e imposições da

Ordem Pública através da violência. O segundo ciclo de violência, embora ainda com

características do primeiro, foi muito marcado pela atuação dos inúmeros esquadrões

da morte, majoritariamente apoiados pelo Estado e parcela da Sociedade, tais como:

Homens de Ouro, Scuderie Detevive Le Cocq, dentre outros. No terceiro ciclo de

violência, além dos esquadrões da morte, há o início da “polícia mineira” na Baixada


Fluminense (embrião do que hoje vem ser a “milícia”) no início da década de 1970;

todavia, o grande aumento de violência foi percebido a partir da consolidação de

quadrilhas que exploram o tráfico de cocaína no final da década de 1980, e a resposta

estatal na “guerra contra as drogas”.

Outrossim, o domínio das facções criminosas não somente tem segregado a

favela do “asfalto”, mas de outras favelas também. Moradores de determinada favela,

logo, são impedidos de circular em outras cuja facção seja rival. Assim, cada vez mais

12
os “territórios-enclave” são mais fechados, e pouco interativos com os demais lugares

da cidade (SOUZA, 1998).

Porém, apesar disso, nem tudo que não é favela constitui-se de “área neutra”,

conforme explicação do citado autor. Como resposta à violência que atinge o “asfalto”,

muito – inclusive- vinculada à atuação das organizações criminosas, há uma “auto

segregação” das parcelas sociais com maior poder aquisitivo, principalmente através

dos condomínios de luxo com acessos exclusivos e dos espaços de convivência como

Shoppings Centers8; deixando o restante do “asfalto” à própria sorte. São em tais

espaços remanescentes, as tais “áreas neutras”, que ocorrem a grande massa de

crimes contra o patrimônio9, muitos deles vinculados à atividade de Organizações

Criminosas. Assim, informa o autor:

A territorialização de favelas pelo crime organizado é, logo, um fator de fragmentação


sociopolítico-espacial do tecido urbano e de desordem à escala da cidade como um
todo, embora essa desordem represente, ao mesmo tempo, também na escala da
cidade como um todo, uma nova ordem social e espacial em construção. (SOUZA,
1998, p.8)

Destarte, torna-se evidente que o enfraquecimento do Estado, quanto

mantenedor da paz social, propicia a criação de redes ilegais que promovem- por meio
da violência- territorializações; por vezes, logrando em substituir o próprio Estado no

amplo domínio do espaço (HAESBAERT,2006), fenômeno típico na América Latina,

notoriamente no Rio de Janeiro. Apesar disso, importante salientar, tal territorialização

8 Nos dias atuais tem-se visto no subúrbio carioca e Baixada Fluminense o fechamento de ruas
e contratação de vigilantes por moradores, com a justificativa de promover mais segurança;
assim como nos condomínios de luxo, restringe-se cada vez mais os acessos.

9 “Com a incapacidade cada vez maior do Estado de garantir a integridade física dos cidadãos,
a “área neutra” surge como aqueles espaços onde a probabilidade de ser vitimado pela
criminalidade violenta ordinária (roubos, estupros etc.) é nitidamente a maior de todas,
durante um assalto ou mesmo devido a uma bala perdida, na rua e inclusive dentro da própria
residência.” (SOUZA, 1998, p.8).
13
do crime não se dá uniformemente, variando de grupo criminoso para grupo

criminoso, conforme destacaram Braga et. al. (2008) e abordaremos mais à frente.

1.2 Do território e territorialidade

Considerando que o território humano é um constructo corrente com base na

manifestação do poder sobre o espaço socialmente definido, o geógrafo suiço Claude

Raffestin realiza uma série de proposições sobre o poder:

1. O poder não se adquire; é exercido a partir de inumeráveis pontos;

2. As relações de poder não estão em posição de exterioridade no que diz respeito a


outros tipos de relações (econômicas, sociais etc.), mas são imanentes a elas;

3. O poder vem de baixo; não há uma oposição binária e global entre dominador e
dominados;

4. As relações de poder são, concomitantemente, intencionais e não subjetivas;

5. Onde há poder há resistência e, no entanto, ou por isso mesmo, esta jamais está
em posição de exterioridade em relação ao poder. (RAFFESTIN, 1993, p.53).

Assim sendo, conforme Haesbaert (2014), o território deve ser compreendido

como algo múltiplo, híbrido e diverso; dirimindo a ideia de uma visão unifuncional.
Trata-se, efetivamente, de um reflexo de conflitos e contradições no plano espacial,

que por substância, é social.

Deste modo, o território – justamente por assim ser o poder - é multifuncional,


multifatorial, portanto, complexo. Deve ser compreendido como um ad continuum que

abrange tanto uma dominação material, como imaterial (poder simbólico). Por isso,

somente unindo tais conjuntos dimensionais é que se logra compreender

adequadamente a ideia de território (HAESBAERT, 2014).

Segundo o autor, o aspecto material refere-se ao controle físico do acesso

através do espaço material, de matiz mais concreta e funcional, capaz de exercer o


poder físico, político e até econômico. Pode-se também caracterizá-lo por sua
14
desigualdade e exclusividade, recurso e valor de troca, e por liames com outros

territórios.

Já o aspecto simbólico, de imagem ou imaterial, é tratado como uma estratégia

político-cultural, mesmo que não manifestada concretamente. Trata-se de um espaço

vivido de forma comunitária.

Nesta ideia, pode-se também definir territorialidade. Compreendendo-a a

partir do que observou Robert D. Sack (1983), é a tentativa de um indivíduo, grupo ou

classe para afetar, controlar ou influenciar outras pessoas, grupos, relações, classes ou

recursos numa área geograficamente delimitada, independentemente da escala

analisada.

É a territorialidade a extensão da ação por contato; assim sendo, importante


ressaltar, não é meramente um mecanismo de ordenamento do espaço; com efeito,

trata-se de um estratagema que preserva um contexto geográfico dotado de

significância para a percepção humana através de acessos e/ou controles (poder).

(SACK, 1983).

Também, conforme ensinou Saquet (2009, p. 86), há uma sobreposição de

territórios e territorialidade, por isso entendido tal fenômeno como multidimensional

e coletivo; portanto, a territorialidade é múltipla, sobreposta e histórica. Todavia,

convém ressaltar, pode existir territorialidade, inclusive, sem que se possua um

território, seja no seu aspecto real ou simbólico, como observou Haesbaert (2009, p.

106), citando como exemplo clássico a “Terra Prometida” do povo Judeu.


Outro aspecto inerente ao território é a combinação de malhas, redes e nós.

Para Raffestin (1993), este sistema territorial permite a integração dos territórios, bem

como sua coesão produzida por inúmeros agentes individuais ou coletivos, não

importando a escala. Assim, também- de forma não exaustiva- indica algumas

proposições axiomáticas:

1. Toda superfície é passível de ser "tecida em malhas";

2. Esse sistema de malhas não é único;

15
3. Pode-se estabelecer ao menos um caminho entre dois pontos dessa superfície;

4. Esse caminho não é único;

5. Entre três pontos dessa superfície, pode-se estabelecer ao menos uma rede.
(RAFFESTIN, 1993, p.149).

Ainda, segundo o supracitado autor, há uma necessidade de delimitação do

território, pois a noção de malha, também chamada de superfície ou tessitura,

necessita de limites. Logo, tal tessitura ou malha é o enquadramento do poder,

definindo seus limites e escalas.

Quanto aos nós (atores que podem representar uma unidade, seja o indivíduo

ou o coletivo), estabelecem as relações de poder com as demais nodosidades; dentro

de um contexto geográfico, estabelecendo lugares centrais e periféricos.

Por fim, tem-se as redes. Como ensinou Santos (2006), a rede pode ser

multiconceitual, todavia, enquadra-se em duas grandes matrizes: uma de dimensão

material e outra com dado social; ou seja, pode ser técnica, mas também vivente.

Ainda, segundo o autor:

Animadas por fluxos, que dominam o seu imaginário, as redes não prescindem de fixos
- que constituem-suas bases técnicas - mesmo quando esses fixos são pontos. Assim,
as redes são estáveis e, ao mesmo tempo, dinâmicas. Fixos e fluxos são intercorrentes,
interdependentes. Ativas e não-passivas, as redes não têm em si mesmas seu princípio
dinâmico, que é o movimento social. (SANTOS, 2006, p. 188).

Deste modo, há de se destacar as redes como um produto do racionalismo


social e inerente ao processo de territorialização e desterritorialização, perceptível

também durante e para a estruturação das facções criminosas, conforme abordaremos

com mais profundidade no último capítulo deste trabalho.

Outrossim, podemos observar alguns fins ou objetivos da territorialização;

obviamente não se tratando de um rol taxativo. Através das indicações finalísticas da

16
territorialização feitas por Haesbaert (2014), exemplificaremos de acordo o problema

ora estudado:

 Abrigo ou segurança física – tal objetivo possibilita o homizio de criminosos e a

garantia de sua impunidade. Abrigo, para se esconder das vistas do Poder

Público, e segurança física para se garantir a continuidade de suas ações,

defendendo-se de facções rivais ou de ações policiais. Em verdade, nas favelas

e bairros carentes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro há verdadeiros

bunkers que possibilitam a vantagem tática de terminada organização

criminosa. Constituem, nas palavras de Souza (1998), “territórios-enclave”.

 Insumos para os meios de produção ou recursos materiais – tais insumos


podem fortalecer determinado grupo criminoso economicamente ou

politicamente. Áreas que se constituem um grande mercado consumidor de

drogas são frequentemente disputadas no Rio de Janeiro; ou, o controle dos

espaços pode constituir um poderoso curral eleitoral, suficiente para eleger

vereadores, deputados ou mesmo ajudar na eleição de outros agentes

políticos.

 Identificação de grupos sociais – milicianos e traficantes costumam não

somente manter materialmente dominado o “terreno”; mas, simbolicamente,

através das referências espaciais, possibilitar uma identidade atrelada ao


território. É comum que, em determinadas comunidades na cidade do Rio de

Janeiro, se proíba o uso de vestimentas vermelhas, por fazer uma alusão à

facção Comando Vermelho. Há uma cultura também relativa ao uso de roupas

de marcas, possivelmente surgido nas cadeias, mas que se espalhou para as

áreas dominadas por tais facções; por exemplo: Comando Vermelho só usa a

marca “Nike”, já o Terceiro Comando usa “Adidas”. Tais marcas ultrapassaram

17
a manifestação de identidade da organização criminosa e influenciou os jovens

moradores da favela, mesmo àqueles que não estejam associados ao crime.

 Disciplinarização de determinado grupo social através da delimitação dos

espaços – o controle de acessos e fluxos não somente identifica, mas molda a

atuação de determinado grupo social. “Toques de recolher”, barreiras físicas, e

restrição de acesso determinadas pelo grupo criminoso atuante fazem com que

toda a rotina e o modo de viver do cidadão residente sejam modificados. É

mais do que um inconveniente, trata-se de um recado sobre “quem manda no

lugar”.

 Domínio dos fluxos e circulações através das redes ou conexões – No caso em

tela, as organizações criminosas que dominarem tais fluxos e expandirem suas

áreas de influências maximizaram seus lucros, e amortizarão perdas

provocadas por apreensões feitas pela polícia.

Na página a seguir, podemos ter um exemplo de como uma organização

criminosa que majoritariamente explora o tráfico de drogas domina, limita e controla o

modus vivendi dos moradores locais. Pode-se perceber que a territorialidade exercida
é manifestada também de forma imaterial. Como bem escreveu Souza (1998, p.3), o

“crime, mesmo o organizado, ameaça, de certo modo, a democracia; não tanto as


instituições da democracia representativa de per se, mas sobretudo a vivência

democrática no quotidiano”.

Neste sentido, pode-se verificar não somente os aspectos materiais, mas

também os simbólicos impostos pelos criminosos ao controlar a movimentação dos

moradores locais através de barricadas fincadas nas ruas. Os dados da Ilustração 1.1

foram extraídos de uma plataforma chamada “Tem barricada Aí?”; informações foram

coletadas a partir de 13 de novembro de 2017, via whatsapp, pelo portal de notícias

18
“O São Gonçalo”, jornal atuante no município de São Gonçalo e adjacências; uma vez

coletadas, as informações foram inseridas pelo portal de notícias em um webmap do

Google10.

Podemos perceber que as quadrilhas impuseram barricadas em inúmeras ruas

do município, feitas com diversos materiais. Com base nas descrições realizadas pelos

moradores, por elaboração própria, foi categorizado as barricadas de acordo com o

material ou forma preponderante: buracos ou valas na rua (12 casos), colunas de

concreto ou ferro fincadas na via (56 casos), entulhos ou lixo que impedem a passagem

de automóveis (108 casos), além de “não especificado” (155 casos).

Como ensinou Sack (1983, p. 59), a territorialidade fornece um meio de poder

reificante. Segundo o autor, tanto o poder quanto a influência nem sempre são tão
tangíveis como são os córregos, montanhas, estradas ou casas. Portanto, é a

territorialidade um importante meio de visibilidade do poder, embora se corra o risco

de impessoalizar as relações.
Na Ilustração 1.2, observa-se uma cobertura do portal de notícias “Sim São Gonçalo”
retratando a retirada de barricadas por policiais e o sofrimento imposto aos
moradores. O jornalista afirma ser tal cenário retrato da pobreza em São Gonçalo11. Ao
menos, é certo afirmar que tal paisagem é decorrente da pouquíssima eficiência da
municipalidade, e da pouca operabilidade dos serviços inerentes aos demais entes
federativos, sobretudo nos aglomerados de exclusão social. Por fim, há de se destacar
sua perspicaz observação: “(...) na verdade, é um limitador territorial, que mostra para
os moradores quem realmente manda ali”Ilustração 1.1: Locais de barricadas extraídas
de um portal colaborativo.

10 O SÃO GONÇALO. Tem Barricada Aí?' ganha mapa para acessar pelo celular e computador.
<http://www.osaogoncalo.com.br/seguranca-publica/49987/tem-barricada-ai-ganha-mapa-
para-acessar-pelo-celular-e-computador> Acessado em: 18jun18.

11 SIM SÃO GONÇALO. Mapa das barricadas é o retrato da pobreza em São Gonçalo.
<http://simsaogoncalo.com.br/policia/mapa-das-barricadas-e-o-retrato-da-pobreza-em-sao-
goncalo/> Acessado em: 18jun18.
19
Ilustração 1.2: Notícia de barricadas no município de São Gonçalo impostas pelo
Tráfico.

Fonte: Portal de Notícias “Sim São Gonçalo”, em 18/12/17.

20
CAPÍTULO 2. ASPECTOS DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS:
DA TEORIA AO CASO CONCRETO

O Brasil encontra-se totalmente despreparado para enfrentar o crime


organizado; na verdade, sequer existe consciência da verdadeira natureza e da
dimensão do problema. (BRASIL. Câmara dos Deputados, 2000, p.17).

Pelo capítulo anterior, mostrou-se como os grupos criminosos exercem a

territorialidade sobre os aglomerados de exclusão. Porém seriam os traficantes ou

milicianos simples quadrilhas ou integrantes de Organizações Criminosas? Cabe neste

capítulo caracterizar o crime organizado e distingui-lo das demais associações entre


criminosos.
Para Zaffaroni (1996), o Crime Organizado não é meramente uma associação

ilícita; na verdade, é para o autor uma junção de mercado ilícito com uma estrutura

empresarial, existente somente em um arcabouço baseado na economia de mercado.

Portanto, a configuração do que é delituoso ou não é inerente à própria dinâmica do

mercado.

Conforme constatação de von Lampe (2016), na literatura acadêmica vigente,

há correntes que alegam ser a Organização Criminosa um fenômeno integrado ao

próprio Estado; portanto, um conditio sine qua non. Todavia, segundo o autor,

majoritariamente se entende que a existência de tais Organizações não é nada mais


que consequências de ações político-criminais, pois – frequentemente – a negativação

de determinada conduta (proibição) faz com que se apareça uma organização delitiva

para explorar uma demanda social reprimida (isso quando a atividade empreendida

não é predatória, mas oriunda de um simples ato de restringir um crime de perigo

abstrato pelo Estado)12.

12 Por atividades predatórias podemos entender os furtos, roubos, sequestros etc. Neste caso,
por uma questão lógica, diferentemente das generalizações de muitos autores, a interação dos
criminosos com agentes públicos (principalmente através de atos de corrupção) tende a ser
menor. Cepik e Borba (2012) afirmam que, em decorrência da cobrança social e o dano
causado, tais organizações tendem a não sobreviver por muito tempo. Por crimes de perigo
21
Outrossim, importante ressaltar as observações de Cepik e Borba (2012), ao

discordarem da primeira corrente (da relação construtiva entre o Estado e o Crime

Organizado). Para os autores, é um fato que o capitalismo tem estimulado, há pelo

menos cinco séculos, o contrabando, descaminho e estelionato em suas margens;

assim, afirmam que a “tensão entre controle territorial e extroversão econômica é por

natureza criminogênica”, (CEPIK; BORBA, 2012, p. 380). Todavia, os autores brasileiros

filiam-se a segunda corrente citada por von Lampe, ou seja, a relação não é simbiótica

nem predatória, mas parasitária. O Crime Organizado não pensa ser, dominar ou

destruir o Estado ou a estrutura social, mas se aproveitar destes, obtendo lucros com o

impedimento – em regra – de certos produtos e serviços considerados ilícitos. “A

existência do parasita está condicionada à sobrevivência do hospedeiro”, assim


afirmaram os autores (CEPIK; BORBA, 2012, p. 381).

É certo que às vezes a organização criminosa se imiscui intensamente ao

aparelho estatal, o que de fato pode gerar uma simbiose entre essas duas distintas

espécies; todavia, ao se estudar o crime organizado em vários países, percebe-se que

isso não chega a ser uma regra. As contribuições de Vergara (2012) mais adiante

tendem a dirimir tal polêmica questão.

Para uma melhor compreensão das atividades criminais exercidas por

organizações, é importante tentar estabelecer um conceito do que propriamente é

uma organização criminosa. Pela literatura acadêmica, há divergências de definição; no

plano legal, não há igualmente um pleno e satisfatório significado para tal expressão,
limitando-se a ideias de uma associação criminosa13 (TORREÃO, 1999; GOMES, 2012;

etc.)

abstrato, termo presente no ordenamento jurídico pátrio, pode-se entender um risco para o
bem jurídico que é presumido por lei, ou seja, não há a necessidade da lesão ao bem jurídico
(exemplo: dirigir embriagado em condução de veículo automotor, tráfico de armas e de drogas
etc.). Para os supracitados autores, organizações criminosas que cometem tais crimes
possuem uma durabilidade bem maior. Pode-se afirmar que são estas que tendem a interagir
com os agentes estatais para manter sua durabilidade.
13 Lei Nº 12.850, de 2 de agosto de 2013: “Art. 1º - § 1º Considera-se organização criminosa a
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela
22
Porém há de lograr pontos em comum, o que permite identificar se

determinada associação de pessoas com fins específicos para o acometimento do

delito constitui ou não uma organização.

Destarte, não mais pensando em um conceito fechado, mas em fatores que

apontam para o que é uma organização orientada para o delito (seja como um

fenômeno de mercado ou não), a taxonomia do criminólogo Klaus von Lampe é rica o

suficiente para entendermos no caso concreto as manifestações do crime organizado.

Considerando que esse é um termo genérico para vários aspectos da realidade do

crime (CEPIK; BORBA, 2012), e baseando-se nas inúmeras classificações, ampliaremos

nossas compreensões de como surge, como atua e se estrutura as organizações

criminosas no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro.


Para von Lampe (2005), há quatro elementos importantes que propiciam o

surgimento das Organizações Criminosas: uma rede criminal, um ambiente favorável

ao trabalho delitivo (task environment), um contexto social e institucional.

Também se pode identificar tais organizações pelo exercício de suas funções,

ou seja, através de suas atividades, da forma como se encontra configurada (estrutura)

e sua governança intra ou extra corporis, (VON LAMPE, 2016), conforme melhor

explicado abaixo.

2.1 Caracterização das Organizações Criminosas

As classificações propostas por von Lampe (2016) podem ser resumidas nas

três abaixo dispostas; todavia, conforme prediz o autor, pode haver outras também,

de acordo determinado autor ou abordagem que se queira seguir, todavia, orbitando

nas características citadas abaixo.

divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. ”
23
1- Quanto às atividades:

Baseiam-se na exploração de um mercado de bens e serviços. A Organização

criminosa pode explorar a comercialização de bebidas alcóolicas, botijões de gás,

internet, TV à cabo, drogas ilícitas etc. Ou, na atuação do que o autor chama de

“crimes predatórios”, como produtos provenientes de furtos, roubos e fraudes.

Quanto aos serviços, podem valer-se de transportes alternativos, agiotagem,

prostituição etc.

2- Quanto à estrutura:

Podem ser estabelecidas de três formas:


(a) Mercados: através de interações baseadas no mercado entre fornecedores e

clientes independentes; neste caso a relação é meramente comercial, sem vínculos.

Muito comum no mercado de peças de automóveis oriundas do crime, por exemplo.

(b) Hierarquia: interações entre membros de uma organização que seguem

basicamente as mesmas diretrizes (de forma hierarquizada); neste caso, há uma

organização muito mais definida, e estruturada. Citemos como exemplo a Cosa Nostra

(EUA).

(c) Redes: interações baseadas em rede, onde ambos os lados tomam decisões de

forma independente, mas estão vinculados por laços sociais subjacentes. Neste caso,

podemos sugerir, como exemplo, a interação entre alguns criminosos que são de
mesma facção criminosa e ligados por antecedentes histórico-comunitários, devido ao

remanejamento populacional de áreas desocupadas. Atualmente, por exemplo, tem-se

notado o aparecimento de pontos de venda de drogas em conjuntos habitacionais do

Programa “Minha Casa, Minha Vida”, cujos fornecedores são dos mesmos locais de

origem das famílias ocupantes dos conjuntos14.

14 JORNAL EXTRA. Famílias expulsas de condomínio do ‘Minha casa, minha vida’ por
traficantes ganham novos apartamentos. <https://extra.globo.com/casos-de-policia/familias-
24
Convém também destacar o trabalho de Ming Xia (2008), ao estudar o Crime

Organizado chinês. O pesquisador afirma que frequentemente muitos autores

incorrem em erro ao acharem que a Organização Criminosa é somente estruturada de

forma piramidal, ou seja, com uma estrutura hierárquica rígida e bem definida, tal

como ocorre com a tradicional Máfia ítalo-americana. Na verdade, muitas

Organizações estruturam-se propositadamente em rede, o que as faze mais fortes e

difíceis de serem irrompidas, devido a sua flexibilidade e assimetria.

Neste diapasão, a ONU informa que a estrutura hierárquica é mais frágil à

detecção policial, tendendo – portanto – a se estruturar em rede:

Hierarchical structures have a major weakness: they can be easily dismantled when
detected by the authorities. Some hierarchical crime groups have reshaped their
structures in recent decades to become networked organizations. At the same time,
smaller groups with looser hierarchies have begun to participate in international drug
trafficking, often using new technologies to reduce the risk of detection. (UNODC,
2017, p.16).

Outrossim, um importante hub das estruturas em rede da Organização

criminosa é o Sistema Penitenciário. Neste, encontram-se muitas lideranças, faz-se

networking, e angaria-se novos membros. Muitas Organizações Criminosas foram

criadas nos presídios, como o Primeiro Comando da Capital ou o Comando Vermelho,

e é através dele pelo país afora que se tende a estabelecer algumas alianças

criminosas.

Não obstante, para von Lampe (2016), deve-se levar em consideração as

seguintes características, quanto a estrutura:

expulsas-de-condominio-do-minha-casa-minha-vida-por-traficantes-ganham-novos-
apartamentos-20840538.html>. Acessado em 19mar2018.
ESTADÃO. Condomínios do Minha Casa dominados pelo tráfico são alvo de operação no RS.
<http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,condominios-do-minha-casa-minha-vida-
dominados-por-traficantes-sao-alvos-de-operacao-no-rs,70001879035>. Acessado em
19mar2018.

25
(a) Estrutura com uma lógica empresarial, portanto, objetivando um nexo de ganho

material.

(b) Estrutura associacional, frequentemente vinculado a uma questão ideológica ou de

status (por exemplo, a Ku Klux Klan). Pode ou não estar ligada à uma lógica de

mercado, sendo que, frequentemente, viabiliza contato entre os mais diversos tipos de

criminosos, dando aos mesmos status ou permitindo trocas de insumos para atividade

delitiva ou mesmo trocas de conhecimentos.

(c) Estrutura quase-governamental; associada à imposição de direitos de propriedade,

prevenção e resolução de conflitos entre quadrilhas ou criminosos, proteção,

contratos, tributações ilegais; tudo no chamado submundo do crime (underworld) -

característica típica da Cosa Nostra americana.

3- Quanto à governança:

Também chamados de crime de controle ou regulatórios, buscam as

organizações criminosas controlar condutas e comportamentos, caracterizada pela

ausência de regras ordinárias na convivência social, valendo as vontades individuais ou

mesmo de alguns grupos dominantes com o uso frequente de violência. Von Lampe

(2016) afirma que tais condições ocorrem onde o Estado é “fraco” e frequentemente

há alianças entre os criminosos e empresários e políticos.

Ou seja, é um acúmulo e uso de poder de uma forma que é mais semelhante a

um governo e política do que crimes baseados meramente no mercado ou ações


predatórias. Logo, há de se considerar duas esferas da sociedade onde o poder

acumulado e exercido por criminosos pode atuar: submundo (underworld) e no mundo

superior ou visível aos nossos olhos (upperworld).

No submundo, esse segmento da sociedade onde o Estado não tem a ambição

de regular o comportamento alheio, pois – por óbvio – trata-se de um mundo de

ilicitude, mas que nem por isso deixa de haver regras do próprio ato criminal que

podem assumir a forma de um governo do submundo.

26
Tal influência também pode se estender às esferas legais da sociedade

(upperworld), especialmente onde o estado é “fraco”. Em regra, isso ocorre na forma

de uma aliança de elites criminais, empresariais e políticas. O autor se questiona como

é que é possível que o crime, a violação por excelência de normas e valores

comumente compartilhados, possa criar ordem, às vezes até mesmo gozando de um

alto grau de legitimidade, tão eticamente distorcida quanto essa ordem pode ser.

Tal circunstância não é incomum em um cenário de desorganização política e

social. Por exemplo, quando a Cosa Nostra atuou na Sicília em uma situação típica de

“quase-governo”, ao dirimir conflitos, impor taxas e até fazer policiamentos (CEPIK e

BORBA, 2012). Ou, conforme percebido na Rússia pós-1990, ao se estabelecer uma

rede criminosa que transcendeu qualquer barreira ou camada existente, conforme


será melhor examinada a seguir, e que vai impactar diretamente na configuração do

narcotráfico do Rio de Janeiro em tal período.

2.2 Modelos de Organizações Criminosas

A construção de um modelo torna-se importante para se tentar representar

uma realidade. Von Lampe (2011) informa que há inúmeras tentativas de elaboração

de tal modelo, como constructos que visam identificar hierarquias, causalidades ou

mesmo relações econômicas.


Todavia, o autor ensina que deve haver uma visão mais diversificada;

começando pelos próprios membros da Organização e todos os stakeholders

envolvidos, analisando seus interesses e como estes atores se relacionam com a

estrutura constituída. Não menos importante, deve-se concentrar esforços na

orientação aos eventos concretos e aos cenários existentes.

Destarte, o supracitado pesquisador propõe um modelo que seja analítico; para

tanto, contendo inúmeras dimensões, como o ambiente / cenário, os mercados ilegais

e legais, os grupos ou facções, ou mesmo, os integrantes da organização criminosa,


envolvido em esforços para descobrir as intenções e capacidades, etc.
27
Embora, de fato, haja uma constelação de possibilidades, conforme é aduzido,

von Lampe (2011, p. 299) cita elementos centrais que não podem faltar na análise:

▪ Cooperação racional entre atores em uma “atividade criminal não impulsiva”:

ou seja, deve haver uma comunhão de esforços com animus permanente e

racional; o que se difere de uma eventual associação criminosa ou de uma

turbação (aglomeração de pessoas que acabam por cometer atos ilícitos devido

a determinado acontecimento, p.ex., “quebradeiras durante protestos”).

▪ A estrutura que conecta os atores: logo, há uma divisão de tarefas, liames

funcionais e de interesses.

▪ A atividade que estes atores estão envolvidos: podendo, portanto, ser de matiz
ideológica ou para a aquisição de proventos.

Outrossim, há três elementos ambientais imprescindíveis:

▪ Sociedade, governo e um predominante discurso público (frequentemente

proposto pela mídia).

A figura a seguir (Ilustração 2.1) representa um modelo contextual da

organização criminal de acordo com o já citado autor. Pode-se perceber que o crime

acontece graças à um ambiente propício a tal incidência. Isso pode ser tanto

provocado pelo contexto social, quanto pelo contexto político-institucional.

28
Ilustração 2.1: modelo analítico-contextual do crime organizado.

Fonte: adaptado de von Lampe (2005; 2016)

 Contexto social:
Da mesma forma que um determinado grupo social dá aportes para a

organização criminosa, através de mão-de-obra, proteção, aquisição de bens/serviços

ou legitimações de condutas delitivas, também é – ao mesmo tempo- esse mesmo

grupo social é danificado pelas atividades delitivas. Isso frequentemente ocorre em um

ambiente de hipossuficiência econômica de determinada comunidade e carência de

serviços que garantam a integral proteção do Estado (trabalho, segurança, habitação

etc.), sendo isso visto em favelas, bairros pobres, conjuntos habitacionais populares e

em grupos de imigrantes (aqui no Brasil podemos destacar os bolivianos, haitianos,

chineses; e em um futuro próximo, possivelmente os venezuelanos). Por isso, é

importante uma aproximação entre o Poder Público e a comunidade, pois uma vez

havendo tal interação, com o fornecimento de serviços mínimos necessários será

possível uma legitimação e participação maior de dos integrantes da comunidade na

repressão das Organizações Criminosas.

 Ambiente de atuação:

Tal ambiente é o que propicia a exploração de determinado bem ou serviços

ilícitos ou mesmo irregulares. É influenciado pelo contexto social, cultural, econômico


29
e até político-institucional. Ou seja, a criminalização ou irregularidade de certos

produtos e serviços, conforme mandamento estatal, só podem ocorrer em ambiente

propício para a exploração ilícita de determinado mercado. Outrossim, os aglomerados

humanos de exclusão, pelas inúmeras razões supra elencadas, passam a servir como

um espaço de suporte para tais organizações. Quanto às situações criminogênicas,

podemos afirmar que são as características ecológicas ou ambientais que favorecem o

aparecimento do ilícito.

Ilustração 2.2: Teoria do Triângulo do Convém, neste diapasão,


Crime.
valermos da “Teoria do Triângulo do

Crime”, (FELSON, 2002). Apesar de tal

teoria estar mais atrelada aos crimes do


dia a dia (crimes de rua), podemos inferir

que também é aplicável ao ambiente de

atuação do crime organizado, sobretudo


Fonte: elaboração própria com base em
Felson (2002). no Rio de Janeiro, em decorrência da

pouca atuação da municipalidade. Assim,

há três fatores interdependentes para que o crime com resultados materiais aconteça:

um ofensor motivado; um alvo ou vítima em vulnerabilidade; e um ambiente propício

à vulnerabilidade da vítima/alvo e atuação do ofensor (garantindo a ele a

oportunidade de ação e impunidade).

Logo, para prevenir ou reprimir o crime, pode-se focar em um ou todos os


fatores, de acordo com a possibilidade existente. Notemos que é o ambiente um fator

imprescindível para que a atuação da Organização Criminosa continue; um ambiente

que proporcione invisibilidade e inalcançabilidade do infrator para Poder Público,

garantindo assim a certeza da impunidade.

Destarte, seja nos condomínios de luxo onde se trafica metanfetamina ou

mesmo cocaína, ou nas pequenas e clandestinas facções têxteis que exploram

criminosamente a mão-de-obra de imigrantes bolivianos, ou nas favelas dominadas

30
por traficantes ou milicianos que igualmente expõe sua população à violência de

grupos armados, a ineficiente entrância e permanência do Poder Público (in lato

sensu) faz com que tais ambientes se escondam criminosos.

 Contexto Institucional:

Além do controle e repressão exercidos pelo Poder Público, há inúmeras outras

formas de interação com o crime organizado, como a conivência tácita, conveniência e

corrupção. Para Bailey e Taylor (2009), a adequação é bidirecional; ou seja, há um

permanente ajustamento de condutas e estratégias por parte do crime organizado, de

acordo com dinâmica do mercado econômico, de acordo com a política pública

vigente, pressão popular etc. Da mesma forma, o Estado ajusta seu comportamento de
acordo com a opinião pública, com as expectativas eleitorais, e com o próprio

comportamento das Organizações Criminosas.

Quanto à corruptibilidade no Poder Público, cabe mencionar a reflexão feita

por Cepik e Borba (2012), ao afirmarem que a penetração do crime organizado não se

dá somente pela dissuasão nos baixos escalões do Governo 15, mas também na alta

política por meios de arranjos explícitos ou ajustes tácitos de colaboração ou leniência.

Assim, segundo os autores, é “sabido que na Itália o crime organizado possuía vários

arranjos colaborativos com a Democracia Cristã, ao passo que a Yakuza estava

associada ao Partido Liberal Democrático no Japão”16; não obstante, os autores citam

o caso escandaloso do Cartel de Cali com o presidente colombiano Ernesto Samper,


durante sua campanha em 1990. (CEPIK e BORBA, 2012, p. 385).

15 Nota-se um especial interesse de entrância do Crime Organizado no Poder Legislativo,


conforme observações de Mingardi (1998) e Masson e Marçal (2015, p.44).
16 Mingardi (1998, p.69) complementa a afirmação de entrância da Máfia Siciliana no Estado
da Itália, ao afirmar que o Partido Democrata Cristão, e sua base aliada composta
principalmente pelo Partido Socialista, permaneceu no poder por mais de 40 anos após a 2ª
Guerra Mundial. O início de tal perniciosa relação foi a partir do auxílio da Máfia às Forças
Armadas dos EUA, durante o desembarque militar na Ilha em 1943.

31
Nesta mesma linha, Pereira (2017) afirma que as ações corruptivas do Crime

Organizado ocorrem em três níveis: no nível político (influência omissiva ou comissiva

de Políticas Públicas), sendo que a penetração de tais Organizações no Poder

Legislativo é a mais perigosa, devido a sua competência legiferante; no nível

administrativo (polícia, alfândega, Forças Armadas etc.); no nível do Poder Judiciário

(venda de sentenças, omissões etc.); e, no setor privado (neste caso, embora não

pertença à máquina estatal, vale-se dos benefícios gerados pelo crime organizado)17.

Para Vergara (2012), valendo-se das colaborações de Xia (2007), há grande

flexibilidade por parte da Organização Criminosa em se adaptar ao status quo, ou seja,

adaptar às estruturas existentes, ou


Ilustração 2.3: Cenários possíveis para
mesmo criando novas formas de a operabilidade do Crime Organizado.
relacionamento com a sociedade, e

obviamente com o Estado. Logo, o

autor confecciona quatro cenários

criminais possíveis, de acordo com as

estruturas vigentes, ou seja, de acordo

com o nível de presença do Estado em

determinado espaço social e mesmo Fonte: extraído de Vergara (2012, p.5).

com o nível de organização social.

Assim, temos um cenário de crimes isolados, quando há pouca presença estatal

e organização social. O autor cita como exemplo, áreas dentro ou próximas a florestas
que são usadas para o plantio de coca. Pode-se também exemplificar o cenário icônico

do Velho Oeste estadunidense ou da Caatinga Nordestina no início do século XX; em

tais espaços, grupos que viviam com pouca coesão eram assolados por bandos de

criminosos.

17 Sabe-se que muitas empresas privadas lavam dinheiro para as facções do Rio de
Janeiro, ou falsificam notas fiscais de produtos roubados por tais facções
(principalmente, cargas roubadas), ou mesmo pagam pelo monopólio comercial dentro
de certas favelas.
32
Segundo Vergara (2012), Estado Autoritário Criminal é aquele em que setores

importantes do Poder Público foram capturados por uma Organização Criminosa em

decorrência de um cenário de caos sócio institucional. Neste cenário, a Organização

Criminosa não possui qualquer intenção de cooptar simpatia ou apoio dos grupos

sociais, já que está entranhada no próprio corpo estatal.

Por Estado Paralelo, o supracitado autor entende que a ”ausência” do Estado

em determinado espaço geográfico faz com que haja a ocupação de organizações

delitivas que visam o locupletamento de serviços e bens ilícitos ou irregulares, mas

também que acabam por promover serviços assistenciais negados pelo Poder público.

Assim, exemplifica com o caso das favelas cariocas, comunas de Medellín e alguns

municípios mexicanos.
Por fim, tem-se um Sistema Criminal. Neste cenário, o Vergara (2012) informa

que há uma grande interação entre a Sociedade e o Estado com a Organização

Criminosa. Há uma lógica de ilegalidade que permeia as relações sociais, políticas e

econômicas; a vida comunitária é dependente de uma economia originada pelo crime.

O autor exemplifica o que ocorre em algumas áreas no México, Honduras e

Guatemala.

 Redes Criminosas

Segundo von Lampe (2016), a rede é como uma estrutura de laços conectando

dois ou mais indivíduos direta ou indiretamente. Já uma organização também consiste


em uma combinação de indivíduos. Mas, ao contrário de uma rede, uma organização é

mais do que apenas a soma de suas partes, é um corpo com vários órgãos ou funções.

Segundo o autor, as organizações podem evoluir transcendendo sua limitação

corporal e conectando-se em rede. Sendo que identificar uma rede criminosa não é

uma tarefa fácil, pois, nem sempre as conexões são facilmente constatáveis, E, mesmo

quando constatadas, seja através da persecução penal, ou através de um trabalho

33
acadêmico, a percepção tende a ser incompleta quanto aos padrões de relações que

importam para a compreensão da organização criminosa.

Assim, von Lampe (2016) indica importantes passos para a análise das

organizações criminais: verificar a existência de redes criminosas; examinar a natureza

dos laços de rede e determinar o nível de integração desses laços dentre as entidades

organizacionais; e verificar como as redes criminosas emergem e persistem ao longo

do tempo no que geralmente pode ser considerado um ambiente hostil.

Quanto ao estabelecimento das redes criminosas, e com base no que fora

supra exposto, pode-se classificar o liame de atuação da seguinte forma:

1 - Redes sem suporte de infraestrutura social:

Muito relacionada a quadrilhas predatórias, ou seja, especializada em roubo de


determinado bem, como obras de arte ou peças automobilísticas, por exemplo.

2- Redes insertas em determinado grupo social marginalizado:

Pode a Organização Criminosa confiar no apoio social, além do círculo de seus

cúmplices imediatos, mas eles são em grande parte confinados a uma comunidade

separada da sociedade dominante e suas instituições.

3- Rede totalmente imiscuída à sociedade:

Não se estabelece somente nas camadas sociais hipossuficientes, mas também

às classes médias e elites. Relaciona-se à fraude de investimento, fraude em saúde,

tráfico de drogas etc. Podem abrir contas bancárias, transferir grandes quantidades de

dinheiro, registrar empresas e viajar em prol de seus esforços criminais sem ter que se
preocupar excessivamente com as suspeitas.

Segundo von Lampe (2016), frequentemente há relações com funcionários

públicos, traduzindo-se em oportunidades de crime ou redução de interferência na

aplicação da lei. Mesmo na ausência de relações de corrupção definitivas, a polícia ou

os promotores podem relutar em iniciar investigações contra membros da sociedade

respeitados e bem conectados.

4 - Redes enraizadas à determinado grupo de elite político-econômica:

34
Trata-se de uma rede em que há uma organização criminosa atuante com o

Estado. Neste caso não há de se predominar uma relação corrupta entre criminosos e

agentes estatais, pois os próprios agentes públicos são criminosos.

As redes criminosas incorporadas nas elites de poder também podem se

estender além do governo para incluir líderes de negócios e mídia. Exemplos são

fornecidos por uma longa série de escândalos nos níveis local, estadual, nacional e

supranacional, envolvendo o abuso ou uso indevido de poder para ganhos persuasivos,

por exemplo, em conexão com contratos públicos, concessões etc.

Neste caso, não há – em regra- uma interação com o submundo do crime, ou

melhor, com aqueles grupos que tipicamente usam de violência para a sobreposição

de seus interesses.
5- Redes que transcendem aos grupos sociais marginalizados para grupos da elite

dominante:

São híbridos do segundo e terceiro itens (redes insertas em determinado grupo

social marginalizado e rede totalmente imiscuída à sociedade), na medida em que

combinam membros com diferentes contextos sociais, alguns dos mais baixos e alguns

da classe média.

Essas redes combinam recursos importantes, como, por exemplo, a capacidade

e vontade de usar a violência e o acesso a países de origem de drogas ilegais com

acesso a setores logicamente valiosos, como transporte e serviços bancários. Essas

redes podem surgir como resultado do recrutamento direcionado, por exemplo,


quando um grupo de tráfico de drogas baseado em uma comunidade de imigrantes se

liga a empresários nos setores de transporte e finanças para facilitar o tráfico de

drogas e a lavagem de produtos ilícitos.

6- Rede que transcende qualquer barreira ou camada existente:

Os líderes políticos, por exemplo, podem estar dispostos a usar grupos

criminosos violentos para promover seus interesses enquanto, em troca, concedem a

esses grupos imunidade de perseguição em outras atividades ilegais. Membros das

35
elites sociais também podem ter vantagem direta dessas atividades ilegais, por

exemplo, como oportunidades de investimento ou como fontes de financiamento para

campanhas políticas e empreendimentos políticos que não poderiam ser financiados

com os orçamentos oficiais.

Um ponto importante que von Lampe (2016) levanta é que tais redes podem

representar diferentes fases em um processo mais grandioso de organização do crime

e criminosos. Logo, não se deve pormenorizar a atuação ou estruturação da

organização criminosa, haja vista que a mesma pode possuir conexões ainda não

conhecidas.

Destarte, o modelo analítico proposto pelo citado autor permite a análise de

qualquer organização criminosa, não importando a escala geográfica, ou seja, se em


decorrência na atuação da organização em um bairro, no estado, ou país.

Apesar do supracitado padrão, baseado em uma extensa revisão de literatura,

von Lampe (2005 e 2016) vai além na construção de uma representação de

organização criminosa, sugerindo elaborar um modelo mais complexo.

Ao se tentar mapear as conexões da organização, o limite passa a ser o nível de

abstração. Em verdade, há uma gigantesca constelação de vértices (nós ou atores) e de

arestas (relações ou ligações), conforme será abordado adiante.

Assim, o autor informa que se deve levar também em consideração os

mercados lícitos18 (não somente os ilícitos); o grau de pressão das agências policiais

sobre a quadrilha, impedindo ou não a sua estruturação cada vez mais complexa; a
mídia, etc.

18 Como forma de exploração direta da organização ou como forma de lavagem de dinheiro.


Por exemplo, O GLOBO. Senado dos EUA diz que HSBC permitiu lavagem de dinheiro por
cartéis de droga: Banco também burlou embargo ao Irã e fez transações com instituições
suspeitas de financiar a Al-Qaeda. Atualizado em 17/07/2012. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/economia/senado-dos-eua-diz-que-hsbc-permitiu-lavagem-de-
dinheiro-por-carteis-de-droga-5496095>. Acessado em 24jun2018.

36
Ou seja, para a compreensão da organização criminal, enquanto modelo, deve-

se ater às questões culturais e socioeconômicas que favorecem o acometimento

delituoso, o recrutamento de membros, a aquisição de bens e serviços pela população

etc. Assim, fatores institucionais, políticas públicas e até a mídia podem favorecer ou

incentivar o aparecimento de tais organizações e um discurso legitimante ou

“demonizante” de determinadas ações de controle delitivo, ou o oposto, de

determinada quadrilha19.

2.3 As Facções Criminosas do Rio De Janeiro

De início, há de se diferenciar as organizações criminosas de simples gangues


ou quadrilhas. Tal diferenciação não é fácil, devido ao desconhecimento da estrutura

da associação de criminosos, conforme alertam Decker e Pyrooz (2014).

Gangues que não se organizam tal como o modelo proposto por von Lampe

(2016) são caracterizadas por uma hierarquia mais flexível, um grau de organização de

menor qualidade e uma atuação mais voltada para as ruas. No contexto fluminense,

relacionando com a atividade do tráfico de drogas, são as “bocas de fumo”,

estruturadas majoritariamente por adolescentes e jovens que vendem no varejo

drogas adquiridas em entrepostos dominados pelos “Comandos” em bairros pobres ou

favelas de menor porte. Apesar disso, estão, de certa forma, associadas às facções
criminosas (Organizações Criminosas), não somente constituindo uma rede de

compradores, mas também obtendo uma relação de lealdade imposta pela Facção.

Muito das conexões desta rede é proporcionada pelo Sistema Penitenciário,

pois ao ingressar no sistema, o detento é posto em celas de facções oriundas da

localidade de seu domicílio. Isso com o fim de se tentar impedir violações de

integridade do apenado e apaziguar a cadeia. No entanto, isso igualmente acaba por

19 BBC NEWS. Pamela Posada, de popular presentadora de TV en El Salvador a detenida por


colaborar con el Cartel de Sinaloa, 2017. Disponível em:
<https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-38915712>. Acessado em 24jun2018.
37
entrelaçar as pequenas gangues ou quadrilhas à Organização Criminosa, mesmo que

aquela sequer esteja ligada à atividade do tráfico de drogas. Isso, ainda, reforça o

territorialismo das organizações nos bairros mais pobres e permite que a Organização

se configure no que von Lampe (2006) chama de estrutura quase-governamental, já

explicada anteriormente20.

Em regra, os pequenos grupos varejistas de venda de droga tendem a expandir

seus negócios, aumentar sua territorialização e aspirar uma maior integração com a

Facção; portanto, tornando-se um braço da próprio Comando; toda gangue deseja ser

– em regra- uma organização criminosa, (DECKER; PYROOZ, 2014).

Tais características também são observadas nas milícias. Grupos menores

costumam pagar por proteção de grupos maiores (já caracterizados como uma
Organização Criminosa).

Diante de tais considerações, uma evidência de que a atuação criminosa está

relacionada à Organização Criminosa em determinados espaços é através do uso de

fuzis por delinquentes. Como já foi dito, os fuzis são maquinários básicos de

dominação territorial, devido a seu alto poder de fogo. É uma evidência também

20 Cabe aqui destacar dois casos emblemáticos de como gangues e outras quadrilhas podem
estar associadas à determinada Organização Criminosa:
a) Devido à tendente hegemonia do PCC nos presídios paulistas, qualquer um que entre no
Sistema Penitenciário é obrigado a se associar à Organização Criminosa, mesmo que seu
“negócio” não esteja relacionado às drogas. Com isso, o PCC adquiriu uma enorme
capilaridade sobre o estado paulista, a ponto de diversificar em muito seus negócios. Em 2012,
quando a citada Organização deu um “Salve Geral”, conclamando todos os criminosos sobre
sua égide a atacarem policiais, bombeiros, agentes penitenciários, guardas civis, e seus
familiares, dezenas de agentes públicos de segurança morreram por diversos tipos de
criminosos; igualmente, houve um aumento dos homicídios dolosos (BIRDMAN et al, 2014).

b) Atuante nos Estados Unidos, México, El Salvador, Guatemala, e até Espanha, encontra-se
presente o MS13 (ou Mara Salvatrucha), considerada a maior gangue do mundo. Nascida nas
prisões estadunidense, espalhou-se por vários países a partir da deportação de imigrantes
ilegais presos nos EUA para El Salvador. Tal gangue, conhecida por sua extrema violência, por
vezes tende a ser uma espécie de “terceirizada” em ações violentas do Cartel de Sinaloa
(México). Importante destacar que, apesar de ser chamar de gangue, já possui características
de Organização Criminosa, atuando no contrabando e tráfico de pessoas para os EUA.

38
porque seu preço no mercado ilegal é muito alto, variando de R$ 40.000,00 a

R$70.000,00.

Para se ter uma ideia, em 2017, 81% das armas de fogo apreendidas no Estado

foram através da Polícia Militar do Rio de Janeiro (6.995 armas de fogo), sendo destas

391 fuzis (a maior apreensão deste tipo de armamento na história do Estado). As

apreensões de tais armamentos não são feitas em qualquer aglomerado de exclusão,

mas somente naquelas que oferecem resistência à atuação de qualquer força

adversária. Foram, inclusive, apreendidos fuzis em áreas de interior do Estado, como

Cabo Frio (Região dos Lagos) e Angra dos Reis (Sul Fluminense), duas cidades

balneárias e turísticas. Outra característica que aponta para a atuação de uma

organização criminosa é a capacidade de ataque desta às guarnições policiais,


igualmente presenciado nestas duas cidades por traficantes de drogas, ou em 2009 por

milícias em algumas cabinas e destacamentos policiais, com o objetivo de subtrair

armas21.

2.3.1 Das Facções que exploram majoritariamente o tráfico de


drogas

Não há dúvidas que o tráfico de drogas é um dos mercados ilícitos de maior

rentabilidade no mundo; assim sendo, encontra-se presente na maioria dos lugares do

planeta e possui participação de todos os segmentos da sociedade, do milionário

empresário que lava o dinheiro do crime ou financia o mercado transnacional,


passando pelo político que possui relações perniciosas com determinada Organização

Criminosa ou pelo policial que se corrompe ou se intimida com o poder econômico-

21 Dentre as várias ações, destaca-se: “Integrantes de milícia do Chico Bala são condenados
em Itaboraí. (...) O trio invadiu o Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) de
Sambaetiba, em Itaboraí, no dia 13 de março de 2009, com o objetivo de roubar as armas
acauteladas no local. Houve reação dos policiais em serviço e o tiroteio resultou na morte do
policial militar Yolando Flávio da Silva, tendo sido ainda gravemente ferido na ação, o policial
militar Robson da Silva Reis.” PORTAL JUSBRASIL. Disponível em: <https://tj-
rj.jusbrasil.com.br/noticias/2508321/integrantes-de-milicia-do-chico-bala-sao-condenados-
em-itaborai>. Acessado em 03set18.
39
militar deste comércio, chegando até o mais humilde cidadão – consumidor ou frente

de um negócio varejista.

Para se ter uma ideia, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara de

Deputados que investigou o avanço e a impunidade do narcotráfico no ano 2000

estimou tal dimensão:

O faturamento do tráfico de drogas é avaliado entre 300 e 500 bilhões de dólares (ou
seja, de 8 a 10 por cento do comércio mundial). Somadas outras atividades criminosas,
o produto criminal mundial bruto ultrapassa largamente 1 trilhão de dólares anuais
(correspondentes a quase 20 por cento do comércio mundial). Admitindo-se que os
custos representem 50 por cento dessa movimentação financeira, restam 500 bilhões
de dólares a serem legalizados anualmente. (...)

A lavanderia é relativamente cara: com bancos, corretoras, advogados, gerentes de


fundos e outros, gasta-se cerca de um terço do capital – 150 bilhões de dólares.
Sobram, então, 350 bilhões de dólares, limpinhos e prontos para serem reinvestidos.
(Brasil. Câmara dos Deputados, 2000, p.15).

Por ter a maior fronteira seca da América, com 14.691 Km (três vezes maior do

que a fronteira México-EUA)22, ser vizinho dos maiores produtores de cocaína e

maconha do mundo (Colômbia, Peru, Bolívia e Paraguai) e possuir uma economia

exportadora bem desenvolvida (para o padrão latino-americano), o Brasil é um dos

principais mercados consumidores e rotas de drogas no mundo, exportando

principalmente para a Europa.

Deste modo, ao contrário do senso comum, o tráfico de drogas no Rio de

Janeiro não é meramente um comércio varejista; pois, há conexões de algumas

facções com o mercado estadual, nacional e internacional. Exemplo disso é a atuação

do Comando Vermelho, que já chegou a dominar 70% do mercado nacional e

igualmente responsável por exportações para outros países 23. Para se ter uma ideia,

22 Informações extraídas do The World Factbook - Central Intelligence Agency (CIA) dos EUA.

23 Atualmente, a liderança no mercado nacional é tendente para o PCC. Este, inclusive,


ampliou sua atuação para o Paraguai, pretendendo dominar áreas de cultivo de maconha. No
Estado do Acre, por exemplo, o CV e o PCC – juntamente com facções locais - disputam o
domínio dos presídios e dos territórios, a fim de conseguir um melhor acesso à Bolívia e ao
Peru.
40
Luiz Fernando da Costa, o Fernadinho “Beira-Mar”24, chegou a exportar diretamente

para os EUA e Europa, bem como vender armas para as Forças Armadas

Revolucionárias da Colômbia (FARC), (BRASIL. Câmara dos Deputados, 2000).

Passados quase 18 anos da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a

investigar o avanço e a impunidade do narcotráfico, as rotas de vinda das drogas e

armas para o Rio de Janeiro continuam semelhantes: Estradas e Rodovias Federais,

vindas do Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul, e também do Paraná ou São Paulo,

passando por municípios fluminenses do interior, como Piraí, Rezende e Volta

Redonda, até chegar nos grandes hubs do tráfico (verdadeiros entrepostos do

comércio). Como rotas marítimas, as drogas e armas entram pela Baía de Guanabara,

Baía de Sepetiba, Angra dos Reis e Região dos Lagos, destacando também o Porto de
Santos (São Paulo). Em 2017, a Polícia Civil do Rio de Janeiro conseguiu apreender 60

fuzis vindos dos Estados Unidos em aquecedores de piscina, no Aeroporto

Internacional Tom Jobim; segundo investigações da PCERJ, mais de três mil fuzis

entraram no Rio de Janeiro da mesma forma.

Destarte, imprescindível destacar, os locais citados - como rotas e portas de

entrada para a droga e arma no Rio de Janeiro - influenciam na disposição geográfica

das facções criminosas no Estado, conforme bem observado por Barcelos e Zaluar

(2014) e melhor detalhado neste trabalho mais a diante.

No tráfico de drogas há três facções que disputam o mercado de venda e

distribuição no Estado do Rio de Janeiro, cujos “Quartéis Generais” encontram-se


insertos na mesma região, separados a menos de 5 Km. Há o Comando Vermelho (CV),

atualmente sediado no Complexo de favelas do Chapadão, facção criminosa mais

antiga e violenta do Estado; o Terceiro Comando Puro (TCP), sediado na favela de

Acari, e o Amigo dos Amigos (ADA), sediado no Complexo de favelas da Pedreira. Tais

24 Beira-Mar é o nome de uma favela no município de Duque de Caxias.


41
Organizações digladiam-se, embora, por vezes, haja momentos de tréguas ou acordos

de “não-agressão”.

Atualmente, têm se formado algumas alianças entre o TCP e ADA, adotando em

algumas favelas fluminenses uma sigla distinta: o TCA – Terceiro Comando dos Amigos.

Tal aliança foi estabelecida para se fazer frente, ou seja, barrar a expansão do

Comando Vermelho para as margens da Região Metropolitana, em especial São

Gonçalo.

Nascida na Penitenciária Cândido Mendes, Ilha Grande, a Falange Vermelha

(posteriormente, Comando Vermelho) surgiu do contato de presos comuns com presos

políticos. Parte da ideologia, o animus territorializador e as técnicas de guerrilha foram

absorvidas pelos criminosos, tornando-a conhecida internacionalmente a partir da


década de 1990. Segundo Amorim:

Na Ilha Grande, ocorreu um fenômeno ideológico por contaminação. Acabou gerando


o Comando Vermelho, que perdeu a formação política original, nobre como
movimento de libertação nacional, mas que absorveu a estrutura para se organizar
como crime comum. Os bandidos adotaram o princípio da organização para
verticalizar o poder dentro do grupo. (AMORIM, 1993, p.30)

Em rede, suas influências espalham-se por todo o país, inclusive chegando o CV

a rivalizar com o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, quanto à influência
em presídios do Norte e Nordeste do país. De dissidências dentro do Comando

Vermelho, surgiram a partir da década de 1990 outras facções, permanecendo

atuantes atualmente o ADA e o TCP, o que enfraqueceu ainda mais o CV e aumentou

as disputas de territórios no Estado.

Ainda, relevante destacar, tais facções atuantes no Rio de Janeiro não vivem

somente do tráfico de drogas. Com a intenção de maximizar os lucros e amortecer

prejuízos causados pela polícia ou facções rivais, tais Organizações também realizam

roubos de veículos, roubos de carga, furtos de caixa eletrônico, abrigo de clínicas de

aborto em favelas, bem como exigir indevidas vantagens de comerciantes, monopólio

42
de serviços irregulares como o fornecimento de gás em botijão, sinal de televisão à

cabo, internet, moto-taxis etc.

Cabe informar que a diversificação do portfólio criminal de tais facções não é

um fenômeno recente; na verdade, isso já tem sido observado desde a década de

1990, conforme constatação da CPI do narcotráfico de 2000.

Por fim, a capacidade de influência das organizações que majoritariamente

exploram o tráfico de drogas não se restringe somente às polícias, no sentido de inibir

ações ou corrompê-las, mas também às demais esferas do Poder Público, como o

Judiciário e o Legislativo, conforme foi constado na CPI de 2000. Por vezes, o simples

temor de uma série de ataques perpetrados pelas Organizações Criminosas pode

desestimular um governante a reprimir o crime organizado em um ano de eleição.


Como um relevante exemplo de tal problema, em julho de 2018, foi preso no

município de Japeri, Baixada Fluminense, o Prefeito e um Vereador, além de outros,

sob acusação de associação ao tráfico de drogas25. Em escutas telefônicas, ouviu-se de

um traficante até uma solicitação para que o Chefe do Executivo Municipal tentasse

impedir as frequentes operações policiais do Batalhão local na cidade. Não é novidade

que inúmeros políticos se valem do crime organizado que dominam violentamente os

territórios para obterem currais eleitorais ou solicitarem empréstimos de dinheiro para

suas campanhas.

Japeri, segundo o IBGE26, com cerca de 101 mil habitantes, o pior Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) da Baixada Fluminense (0,659) e o


décimo pior do Estado. Desde a criação do Arco Rodoviário Metropolitano, que liga de

Itaguaí a Itaboraí, a cidade passou a ser disputada pelas Organizações que

25 Portal G1. Prefeito de Japeri é preso por suspeita de envolvimento com o tráfico de
drogas. Disponível em <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/07/27/prefeito-
de-japeri-e-preso-por-suspeita-de-envolvimento-com-o-trafico-de-drogas.ghtmll>. Acessado
em 27jul2018.

26 IBGE CIDADES. Ranking de IDH no Estado com base no Censo 2010. Disponível em
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/japeri/pesquisa/37/30255 >. Acessado em 27jul2018.

43
majoritariamente exploram o tráfico, não devido ao seu mercado consumidor de

drogas ilícitas, mas em decorrência de seu posicionamento estratégico: fica entre o Sul

Fluminense, a Baixada Fluminense, São Gonçalo e Região dos Lagos. A facção

atualmente dominante na cidade é o ADA, embora tenha frequente litígio com o CV;

tal organização também costuma roubar cargas nas rodovias e explorar

economicamente os areais da cidade, e tem imposto aos moradores um verdadeiro

pânico: policiais residentes foram expulsos da cidade ou executados, houve sequestros

de cidadãos comuns, e um grande aumento da letalidade violenta27.

2.3.2 Das Milícias

Nos aglomerados de exclusão, onde o Estado é frequentemente ineficiente


para garantir a proteção do indivíduo, não somente há a territorialização de simples

delinquentes ou suas organizações, mas também de grupos “paramilitares” que em

nome de uma proteção comunitária usa da violência para garantir certa “paz”.

Sendo assim, o Estado incompetente ou incapaz de garantir a total proteção de

seus cidadãos, de forma comissiva ou omissiva, privatiza ou terceiriza esta segurança.

Esta não é uma regra para Estados eficientes; portanto, sendo visto tal fenômeno em

países como a Colômbia, México, Peru, El Salvador, Guatemala e Brasil, em especial, o

estado fluminense.

Neste diapasão, argumentam Kalyvas e Arjona (2005):

Los paramilitares son grupos armados que éstan directa o indirectamente com el
Estado y sus agentes locales, conformados por el Estado o tolerados por éste, pero que
se encuentran por fuera de su estructura formal. (KALYVAS; ARJONA, 2005, p.29).

Para entendermos como tais simples quadrilhas ou Organizações Criminosas,

ambas conhecidas como milícias no Brasil, atuam no Rio de Janeiro, vale de antemão

27 Em Japeri, em 2014, houve 51 homicídios; 2015, 60 homicídios; 2016, 94 homicídios; 2017,


60 homicídios; 2018, 60 homicídios. Quanto às mortes decorrentes de intervenção policial: em
2014 houve 3 casos; em 2015, 3 casos, em 2016, 4 casos; em 2017, 20 casos; e em 2018, 47
casos. Fonte: ISP.
44
expor a tipologia e características de tais grupos armados de acordo com o que os

supracitados autores observaram, já que – inegavelmente – há inúmeras semelhanças

entre tais bandos, principalmente na América Latina.

Kalyvas e Arjona (2005) informam que tais grupos são nominados de diversas

formas, dependendo das características ou localidades. Os autores classificaram os

tipos pelo tamanho.

Para os grupos de grande atuação, com maior domínio territorial, os autores

elencam os exércitos milicianos ou paramilitares; são verdadeiras forças

paramilitares, no sentido literal da palavra, com uma estrutura calcada na hierarquia e

disciplina. Não há semelhanças com os grupos que atuam no Rio de Janeiro ou Brasil.

Há, em largo tamanho, também as patrulhas civis, guardiões ou grupos de


autodefesa. Constituem redes mais complexas e com um domínio territorial de

tamanho maior. Entrelaçados com o Exército ou Polícia, cooptam membros da

comunidade para suas ações. Tais guardiões são mais uma entidade política do que

militar, com objetivos de controle da população.

Há também os grupos de atuação local. São os Vigilantes ou “justiceiros”. Estes

pequenos grupos tendem em nome de uma “Justiça Social” usurpar temporariamente

as forças do Estado para reprimir crimes ou cumprir determinadas normas sociais. Tais

grupos costumam atuar localmente e são formados majoritariamente por civis.

No Rio de Janeiro, embora se tenha casos de autodefesas exclusivamente de

civis, a maioria dos que lideram tais grupos são policiais e outros agentes de segurança
que, originalmente, ficaram conhecidos como “polícia mineira”, um antecessor dos

grupos milicianos atuais no Rio de Janeiro. A mais notória é a que se instalou na

comunidade Rio das Pedras, Zona Oeste da capital fluminense. Por óbvio, se a Lei é

falha, é a violência ilegítima que gera a dissuasão de condutas consideradas

irregulares; por isso, são igualmente danosas para a sociedade.

E também – dentro da dimensão de atuação mais local- há os Esquadrões da

Morte ou Grupos de Extermínio. Tais grupos não são somente constituídos por

45
eventuais agentes do Estado, mas em regra, possui uma direta ligação com o Poder

Público, (KALYVAS; ARJONA, 2005).

Como escreveu Misse (1999), o Rio de Janeiro foi marcado nos meados do

século passado por inúmeros esquadrões da morte. Destaquemos a Scuderie Detetive

Le Cocq, o maior grupo de extermínio sabidamente do Brasil, inicialmente formada por

policiais civis no Rio de Janeiro, e responsável por inúmeras execuções de pessoas

acusadas de serem criminosas; através dela, ficou famoso o ex-integrante e Deputado

Estadual Sivuca e seu popular jargão: “Bandido bom, é bandido morto!”. Nessa ideia,

segundo Alves (2008), tais membros de grupos de extermínio logravam – inclusive- em

ascender ao Poder Político na Baixada Fluminense, tornando- se vereadores, prefeitos

e deputados.
Assim, os grupos armados considerados como milicianos no Rio de Janeiro

tendem a possuir características semelhantes aos Esquadrões da Morte, ou grupos de

autodefesa ou mesmo vigilantes e justiceiros. A tipificação legal de miliciano não é

exata, podendo haver um gradiente de atuação, conforme as características

supramencionadas.

Insta salientar que a constituição de “milícias” nem sequer é enquadrável na Lei

de Crime Organizado, mas como uma associação criminosa, conforme incluído no

Código Penal pela Lei 12.720 de 27 de setembro de 2012, assim sendo disposto no

artigo 288-A:

Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar,


milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos
crimes previstos neste Código:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.

(BRASIL. Código Penal, 1940)

Sobre isto, o jurista Luiz Flávio Gomes assevera ser um verdadeiro desastre a

criação de tal lei, citando as explicações de Cláudio Varela, Promotor de Justiça no Rio

de Janeiro:
46
(a) antes da lei a milícia era enquadrada na quadrilha armada, com pena de 2 a 6 anos;
com a aplicação da lei dos crimes hediondos, a pena ia para 6 a 12 anos; a nova lei fixa
a pena de 4 a 8 anos (menos que a legislação anterior);

(b) as características da milícia eram usadas para elevar a pena-base (agora isso ficou
impossível porque elas fazem parte do crime do art. 288-A);

(c) a forma vaga da redação da lei (“milícia”, “grupo”, “esquadrão”) vai dificultar a
aplicação da lei;

(d) a finalidade da milícia ficou reduzida aos crimes previstos no Código Penal (a
quadrilha fala em qualquer outro crime);

(e) crimes como exploração ilegal de TV por assinatura, venda ilegal de GLP,
parcelamento irregular do solo urbano, usura, tortura etc. Não estão no CP (logo, a
reunião de várias pessoas para cometer esses crimes não configura o art. 288-A).
(GOMES, 2012).

Outrossim, Kalyvas e Arjona (2005) contribuem ao informar sobre algumas

características de tais grupos paramilitares e que acabam por se assemelhar em muito

com as características fluminenses. Assim, há inúmeros motivos que levam um

indivíduo a ingressar em tais grupos: sentimento de vingança, geralmente contra

criminosos que vitimaram amigos e familiares de policiais e civis; autoproteção,

imprescindível necessidade de se auto proteger, considerando a ineficiência do Estado;

prestígio, pois tais grupos tendem a ser sentir localmente valorizados; e por óbvio,

enriquecimento ilícito.

As milícias fluminenses começaram a se tornar mais conhecidas a partir de

2006, inclusive sendo tal termo cunhado pela própria imprensa; assim, segundo Cano

(2008):

(...) ‘milícia’ condiz plenamente com este mito libertador, como uma forma privada
que os policiais teriam encontrado de vencer a guerra contra o crime e reconquistar os
territórios ao inimigo, vista a ineficiência do próprio estado na consecução deste
objetivo”. (CANO, 2008, p.59)

Zaluar e Conceição (2007), nesse contexto e momento, explicam o porquê que

as milícias terem certa adesão popular:

47
Justamente por se auto-identificar como mantenedora da ordem local, a milícia
apresenta procedimentos percebidos como menos agressivos do que aqueles
utilizados pelos bem armados traficantes de drogas.

Além disso, deve-se notar que a origem dos milicianos nos próprios quadros policiais
os prepara para estabelecer e manter a ordem sem os desmandos e arbítrios
cometidos por traficantes. Como combatem alguns dos crimes violentos mais temidos
pela população, recebem também apoio imediato daqueles que não desejam ter
traficantes e assaltantes como vizinhos.

(ZALUAR; CONCEIÇÃO, 2007, p.99)

Muitos políticos, como prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, e

também integrantes da imprensa, manifestaram-se a favor de tais grupos, chegando a

rotulá-las como um instrumento de autodefesa comunitária.

Foi a partir deste período, inclusive, que determinados agentes políticos

assumiram ostensivamente a frente de defesa das milícias. Cabe aqui mencionar a

Indicação Legislativa Nº 214/2007 do Deputado Natalino Guimarães de estatizar tais

grupos, obviamente, sem êxito28:

Art. 2º - A Polícia Comunitária será composta por policiais aposentados, civis ou


militares, que estejam em boas condições físicas e psicológicas, com competência para
atuarem nas comunidades onde residem ou nas proximidades.

Art. 3º - A Polícia Comunitária será organizada em núcleos e os aposentados com a


maior patente desempenharão o cargo de Comandante e Sub-Comandante dos
núcleos.

Art. 4º - Os Policiais Comunitários serão regidos pela legislação em vigor a que se


submetem a Polícia Civil e Militar da Ativa.

(RIO DE JANEIRO. ALERJ, 2007)

28 Já no México, em 2014, alguns grupos paramilitares foram estatizados. Vide: EL PAÍS. O


Governo mexicano veste como policiais as autodefesas. 2014. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/10/internacional/1399749668_315480.html>.
Acessado em 03set18.
48
Foi a partir de 2008, sobretudo em decorrência do sequestro e tortura de

jornalistas na favela do Batan que se aumentou o debate sobre o tema, inclusive

fomentando a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia

Legislativa (ALERJ).

Segundo o Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a

investigar a ação de milícias em 2008, (ALERJ, 2008), cerca de 63% dos integrantes das

milícias eram civis, quanto aos demais, eram majoritariamente policiais militares, mas

também havia policiais civis, bombeiros militares, agentes penitenciários e militares

das Forças Armadas; agentes do estado que dentro de Unidades de Segurança

garantem a impunidade das quadrilhas, bem como uma extensa rede de corrupção.

Segundo a CPI da ALERJ, com base em relatório da Subsecretaria de


Inteligência, as milícias originalmente se expandiram onde não havia tráfico de drogas

e em pequenas comunidades. Outrossim, demonstrou que não havia uma hegemonia

de poder em tais quadrilhas:

Das 171 comunidades onde é registrada a presença de milícias, 119 comunidades não
pertenciam a nenhuma facção criminosa, o que representa quase 70%. As que
anteriormente seriam dominadas por facções criminosas totalizariam 52%. Outro viés
importante - indicado pelas agências - mostra que não é comum o poder concentrado
em único grupo miliciano, mas em vários grupos distintos, alguns com grande
destaque, principalmente, pela divulgação da mídia e pela evolução de suas lideranças
no cenário político do Rio de Janeiro.

(RIO DE JANEIRO. ALERJ, 2008).

Cabe mencionar que a expansão de tais quadrilhas na Zona Oeste da cidade do

Rio de Janeiro (majoritariamente), Baixada Fluminense e São Gonçalo, proporcionou

um aumento significativo dos homicídios dolosos nas regiões.

Embora muitas milícias não se enquadrem à categoria de Organizações

Criminosas, são tão danosas quanto 29. Todavia, a facção que dominava

29 Muitos grupos criminosos atuam isoladamente, por vezes até com pouca interação com
Estado, chamados – portanto -para este trabalho como quadrilhas. Isso ocorre devido a
49
majoritariamente o bairro de Campo Grande (Zona Oeste da Capital) “possuía” fortes

entrelaçamentos com o Poder Político: a chamada Liga da Justiça. Segundo a ALERJ

(2008), a milícia tinha dono, nome e sobrenome – os irmãos Jerônimo Guimarães

(vereador da capital) e Natalino Guimarães (deputado estadual).

Há indícios atualmente de que a “Liga da Justiça”, ainda atuando fortemente na

Zona Oeste da Capital, expandiu sua territorialização para áreas da Baixada

Fluminense, ou mesmo criando um sistema de associações por “franquia”, dando

liberdade de gestão aos grupos locais, todavia, fazendo com que estes paguem

mensalmente parte dos proventos do negócio.

Na CPI, constatou-se que havia vereadores, deputados estaduais, além da

acusação de deputados federais, dos mais diversos partidos, e outros políticos,


destacando o ex-chefe da Polícia Civil e ex-deputado estadual Álvaro Lins, acusado de

ser um grande articulador e responsável pela expansão das milícias.

Como já fora dito, as quadrilhas e Organizações Criminosas tendem a explorar

economicamente serviços e bens que estão altamente ligados à regularização estatal,

principalmente da municipalidade. Assim, um dos primeiros serviços a serem

explorados são os transportes alternativos30 (que de alternativos nada têm, pois

costumam ser os principais para os humildes trabalhadores das periferias); porém, há

também a exploração de internet (“gatonet”), sinal à cabo de televisão, segurança de

comércio e de moradores, taxa de aluguel e compra de imóveis, cestas básicas de

alimentos, botijões de gás (GLP), etc.


Com o aumento da repressão a estas quadrilhas e Organizações Criminosas,

houve mudanças nas formas de negócio e até uma redução de agentes do estado na

diversidade de condutas típicas permitidas pela “Lei das Milícias” que criou o artigo 288-A do
Código Penal.
30 Investigações do MP apontam que milícias exploram um mercado milionário com
transportes alternativos na Zona Oeste da Capital (moto-táxi, Vans e outros veículos de
transporte de passageiros). Vide em: G1 RJ. Milícia lucra R$ 27 milhões por mês com taxas
cobradas de vans no Rio, diz MP. Disponível em <https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/milicia-lucra-r-27-milhoes-por-mes-com-taxas-cobradas-de-vans-no-rio-diz-
mp.ghtml>. Acessado em 30jul18.
50
participação direta, descaracterizando o próprio conceito construído no Rio de Janeiro

de milícia. Tem se verificado o recrutamento de “ex-traficantes” como mão-de-obra

operacional em algumas milícias; algumas chegam – inclusive- a ter envolvimento

direto com certas facções criminosas, como o TCP, e explorar o tráfico de drogas; e há

até algumas quadrilhas milicianas que se especializaram no contrabando de cigarros

do Paraguai.

2.3.3 Da distribuição espacial das Facções

Pelos mapas a seguir, podemos ter uma ideia da distribuição das facções em

parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, bem como das UPPs e dos

aglomerados subnormais e/ou favelas não contempladas com o Programa de


Pacificação. A identificação de tais domínios adveio da coleta de informações

jornalísticas nos anos de 2017, 2018 e parte de 2019; portanto, podendo já não ser

mais atual a informação, considerando a dinamicidade e o frequente litígio entre as

Organizações Criminosas pelo espaço. Todavia, é possível verificar o quão estão

dispersas determinadas facções, e como se encontram próximas umas das outras,

acirrando ainda mais a disputa pelo espaço.

Pela coleta, logrou-se pontuar 771 registros de ocorrências das facções

(notícias de chacinas, confrontos armados, ou ataques a guarnições policiais). Isso não

significa que seja a área exclusiva de atuação, já que determinado grupo pode ter uma

extensão territorial bem maior do que fora divulgado. Ainda, quanto àqueles grupos
que majoritariamente exploram o tráfico de drogas, estes tendem de fato a

representar o conceito de uma Organização Criminosa, haja vista que os mesmos

externalizaram condutas de acordo com as características já elencadas.

Já quanto aos registros de Milícias (MLC), estas se tornam mais difíceis de ser

classificadas como uma Organização Criminosa; embora muitas sejam, podendo alguns

pontos estarem relacionados a quadrilhas isoladas. Pois, constatou-se que nem toda

prisão dos criminosos estavam ligadas às características que definem o crime

51
organizado; muitas das prisões dos ditos milicianos estavam atrelados a negócios

muito específicos, como a venda cigarros contrabandeados, ou a exploração de

internet irregular ou mesmo de segurança privada irregular; considerando a amplitude

conceitual estipulada pela Lei das Milícias. Assim, os domínios territoriais podem ser

mais extensos do que parecem, ou mesmo coexistirem com os espaços dominados por

outras Organizações Criminosas.

52
Ilustração 2.4: Distribuição das Facções criminosas entre os anos de 2017 e 2018.

Fonte: coleta de dados jornalísticos, confecção própria.

Ilustração 2.5: Distribuição dos aglomerados subnormais, bem como áreas com UPPs em 2017.

Fonte de dados: IBGE e PMERJ, confecção própria.


53
Percebemos pelo mapa 2.1, que as áreas de maior interesse na cidade do Rio

de Janeiro, ou seja, Zona Sul, Centro e Zona Norte, são áreas onde há maior domínio

do Comando Vermelho (CV); podemos constatar que as milícias se instalam em áreas

mais periféricas da Região Metropolitana, além da Zona Oeste da Capital; indo ao

encontro das constatações insertas na CPI das Milícias.

No mapa 2.2, verificamos os quão dispersos são os aglomerados subnormais31

na Região Metropolitana, muitos em favelas, mas nem todos; o que – por óbvio –

possibilita a territorialização dos grupos criminosas. Ainda, podemos verificar a

distribuição das UPPs, privilegiando áreas como a Zona Sul, Centro e Zona Norte. O

mapa foi estruturado em divisões por Circunscrições Integradas de Segurança Pública

(CISP)32 e tem por objetivo facilitar a compreensão da dinâmica criminal, considerando


que são tais recortes geográficos que serão utilizados no último capítulo deste

trabalho.

31 Aglomerado subnormal é definido como “o conjunto constituído por 51 ou mais unidades


habitacionais caracterizadas por ausência de título de propriedade e pelo menos uma das
características abaixo: - irregularidade das vias de circulação e do tamanho e forma dos lotes
e/ou - carência de serviços públicos essenciais (como coleta de lixo, rede de esgoto, rede de
água, energia elétrica e iluminação pública).” Vide em IBGE. Aglomerados Subnormais,
Informações Territoriais. DGC/CGEO, DGC/CETE, DPE/COPIS, COC/CNEFE. Disponível em
<https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000015164811202013
480105748802.pdf>. Acessado em 01fev19.

32 Para conhecimento mais detalhado das CISPs, vide o Apêndice 1 e 2.


54
CAPÍTULO 3: A ATUAÇÃO DO ESTADO FRENTE À TERRITORIALIZAÇÃO
DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

O enfrentamento às Organizações Criminosas que violentamente

territorializam-se no Estado do Rio de Janeiro tem sido diverso em estratégias nas três

últimas décadas da história da segurança pública fluminense. Majoritariamente, ações

ligadas a políticas de governo com objetivos de curto a médio prazo, e que por vezes,

piorou o cenário da segurança no médio e longo prazo.

Embora o cenário de violência relacionado ao tráfico de drogas e milícias no Rio

de Janeiro ainda seja um tanto distinto em relação ao restante do país, em muito,

assemelha-se com a Colômbia e México, pois há um poder de organização,

militarização e enfrentamento ao Estado significativos (BAILEY e TAYLOR, 2009;


LESSING, 2017).

Destarte, frente à atuação do Estado, com o objetivo de proteger seus

negócios, as organizações criminosas podem ter três respostas possíveis, dependendo

do nível de força empregadas, conforme Lessing (2017): bribe, hide or fight. Ou seja,

tais organizações tendem a corromper a estrutura burocrática e política do Estado

(bribe); ou se esconder, tentando amortizar suas perdas, caso a primeira tentativa de

composição não funcione (hide); ou ainda partir para a luta, ou seja, enfrentar o
Estado com o objetivo de garantir a continuidade de seus negócios e desestimular as

forças policiais e os agentes políticos (fight)33.

Por isso, respostas estatais com foco à uma repressão incondicionada, tendem

a gerar consequências indesejadas. Haja vista que tais organizações criminosas se

voltam contra a sociedade, a fim de deslegitimar a ação estatal, frequentemente

mandando fechar estabelecimentos comerciais, postos de saúde, queimando ônibus

ou bloqueando vias; e ao mesmo tempo, atentam contra policiais e outros agentes

públicos e políticos. Para a saída de tal quadro, segundo o supracitado autor, exige-se

33 Ou “evade, corrupt, or confront”, segundo Bailey e Taylor (2009) numa perspectiva


parecida.
55
que as respostas estatais sejam sempre condicionantes, ou seja, que haja opções de

“fuga”, resultando – logo – numa diminuição da violência.

Destarte, discursos belicistas, em nome de uma “guerra contra o mal”, podem

gerar uma onda violência em níveis extremos. Lessing (2017) exemplifica tais

consequências através da lógica de guerra imposta no Rio de Janeiro entre a década de

1990 e 2000; ou através das ações contundentes sobre os cartéis colombianas que

ensejou uma onda de ataques violentos sobre agentes públicos e a própria sociedade

em 1984 na Colômbia, chegando a ser assassinado o Ministro da Justiça Rodrigo Lara

Bonilla; ou mesmo, em 2006, em decorrência das ações do Presidente Felipe Calderón

no México que ocasionou um aumento abrupto de homicídio dolosos.

A partir de 1994, com a assunção do Governador Marcelo Alencar, a segurança


pública estadual buscou um enfrentamento agressivo em relação às Organizações que

majoritariamente exploravam as drogas ilícitas (LESSING, 2017). Premiaram-se

pecuniariamente até policiais por mortes de criminosos, no que ficou conhecido como

“gratificação faroeste”; apesar disso, a criminalidade não diminuiu, em verdade,

aumentou sobretudo nos governos posteriores, que reproduziram modelos de gestão

da segurança similares – embora nem sempre tão agressivos como o primeiro citado.

Logo, a fuga ou ocultação das atividades criminosas (hide) passa a ser uma

medida mais adequada, com resultados mais favoráveis em termos de segurança

social. Como um contraponto às supracitadas políticas de governo de enfrentamento,

Lessing (2017) indica saídas com consequências mais pacíficas para o enfrentamento
estatal às organizações criminosas; trata-se de uma repressão condicionada.

Exemplifica o autor citando o caso do Programa de Pacificação do Rio de Janeiro;

incomparável na história da segurança pública fluminense, não pelo modelo em si, mas

pelo tamanho e grande esforço empregado.

56
3.1 Sobre o Programa de Pacificação

Iniciado em 2008, um ano depois do Governador Sérgio Cabral ter iniciado uma

forte e controversa repressão ao Comando Vermelho no Complexo do Alemão em

2007, o Programa de Pacificação logrou em gerar impactos extremamente positivos no

cenário criminal fluminense, pelo menos nos 05 anos posteriores; levando a maioria

dos indicadores criminais do Estado a menor quantificação dos últimos 20 anos e

enchendo de esperança a população de que a criminalidade não mais aumentaria.

Soma-se a tal clima de esperança a vinda de grandes eventos esportivos e festivos para

o Estado do Rio de Janeiro, como a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), os Jogos


Mundiais Militares, a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
A ideia de ocupar os espaços “perdidos pelo Estado” não foi inédita com a

Pacificação. A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro teve um acúmulo de

experiências neste sentido desde a década de 1990, com programas originalmente

bem-sucedidos, mas levados à ineficiência em decorrência do expansionismo e das

ingerências políticas (LESSING, 2017; p. 270 e RIO DE JANEIRO, 2018). O mais notório

antecessor do Programa de Pacificação foi o Grupamento de Policiamento em Áreas

Especiais (GPAE) que ocorreu entre os anos 2000 a 2008; construído numa lógica de

policiamento comunitário, foi fortemente influenciado pelo Programa estadunidense

Boston Ceasefire (LESSING, 2017, p. 260; RIO DE JANEIRO, 2018)34.


O Programa de Pacificação foi guiado diretamente pela Secretaria de Estado de

Segurança Pública (SESEG) e se tornou o carro-chefe do governo durante os dois

34 O GPAE, assim como as UPPs, tornou-se em seu início um exemplo mundialmente bem-
sucedido de policiamento comunitário (ALERJ, 2018); o Programa foi “exportado” para outros
estados da federação. No caso das UPPs, além de outros estados, o Programa influenciou o
Panamá a criar a Unidad Preventiva Comunitaria (UPC).

A Operação Ceasefire, inicialmente testada na cidade de Boston (EUA) em meados da década


de 1990, mostrou-se efetiva na redução de homicídios e outros crimes violentos (atuação no
upperworld). A estratégia consistia em condicionar os infratores a não cometerem crimes mais
violentos, caso contrário, haveria uma resposta mais repressiva da Polícia, no estilo tolerância-
zero.

57
mandatos do citado governador e do mandato seguinte, do Governador Pezão. Ainda

com a parceria intergovernamental, sobretudo com a Prefeitura do Rio de Janeiro, que

ainda tem de complementar as gratificações dos policiais e também com a iniciativa

privada. Destacou-se, durante os cinco primeiros anos, a intensa atuação do

empresário Eike Batista que doou grande parte das viaturas policiais em atenção ao

Programa de Estado.

É notória a semelhança das ações de implantação das UPPs com as estratégias

de intervenção de organismos internacionais para a pacificação de conflitos. Fato é

que, pela primeira vez, o governo assumiu publicamente que existiam “estados

paralelos”, impostos por Organizações Criminosas. Traficantes e milicianos possuíam e

ainda possuem uma grande ingerência sobre o território, não somente resistindo à
atuação da polícia, ou impedindo o direito de locomoção alheios, mas – inclusive-

impedindo que os serviços públicos básicos entrem em sua área de controle 35.

As atuações de implantação assemelham-se, sobretudo, com a doutrina de

resolução internacional de conflitos, adotadas pela ONU. Inicialmente com ações de

peace enforcement force, ou seja, imposição por força de paz, utilizando-se policiais de

Unidades de Operações Especiais (BOPE, Batalhão de Choque etc.) e Forças Armadas.

Em um segundo momento, a continuidade através de peacekeeping, ou a manutenção

da paz, no caso através da Polícia Militar. E, concomitantemente, as ações de

peacebuilding, ou reconstrução da paz, através da entrada de outros atores

governamentais e da sociedade civil para fornecer um quantum mínimo de serviços,


outrora negligenciado pelo Poder Público. Daí, é possível inferir a origem do termo

“pacificação” do Programa de Governo, não se limitando – portanto – a atuação da

35 EXTRA ONLINE. Traficantes armados exigem R$ 2 milhões de empreiteira e chegam a


parar construção de ponte na Linha Vermelha. Disponível em <https://extra.globo.com/casos-
de-policia/traficantes-armados-exigem-2-milhoes-de-empreiteira-chegam-parar-construcao-
de-ponte-na-linha-vermelha-2854421.html>. Acessado em 03dez2018.
O SÃO GONÇALO. Traficantes impedem obras em bairros de São Gonçalo.
<https://www.osaogoncalo.com.br/seguranca-publica/15294/traficantes-impedem-obras-em-
bairros-de-sao-goncalo>. Acessado em 03dez2018.

58
Polícia Militar nas favelas, mas viabilizando um nível de paz estável o suficiente para a

entrada dos demais Órgãos Públicos e da Sociedade Civil.

Com a implantação da primeira UPP no dia 28/11/2008, no morro Dona Marta,

rapidamente as outras Unidades foram inauguradas na Zona Sul, em favelas menores,

e posteriores para a Grande Tijuca (o bairro e redondezas) e em seguida no restante da

Zona Norte da cidade. Diante disso, é comum a afirmativa de que a Política de Governo

privilegiou as áreas de interesse para os Grandes Eventos, com – inclusive – o

consequente aumento do valor dos imóveis nos bairros contemplados com as UPPs.

Embora tal afirmativa possa ser verídica; há de se ressaltar também o fato de que tal

Programa claramente objetivou enfraquecer a facção criminosa mais violenta, o

Comando Vermelho; atuação compreensível se levarmos em consideração que a


atuação de segurança deve ser orientada à redução de danos. Talvez, tenha havido

até uma congruência de objetivos, haja vista que as áreas de interesse econômico

atraem todo tipo de negócio, inclusive o ilícito, motivo pelo qual o CV, facção mais

antiga, ocupara tais espaços.

Através do depoimento do Cel PM Ubiratan Angelo, em oitiva na CPI das UPPs

(RIO DE JANEIRO, 2018), é possível compreender que a escolha da Zona Sul da cidade

do Rio de Janeiro é objetivada nas políticas de segurança há tempos; primeiro como

forma de “vender o projeto” politicamente, permitindo – portanto- sua expansão; e,

em segundo, para que possa melhor captar os recursos financeiros oriundos das mais

diversas fontes públicas de pagamento, e até da iniciativa privada, imprescindíveis


para a manutenção da política pública. Outrossim, destaca que em tal região há favelas

com menor circunscrição e densidade demográfica, razão propícia para o

estabelecimento de tal estratégia de segurança.

Em represália à contínua expansão das UPPs pela Zona Norte do Rio de Janeiro,

o CV iniciou em meados de 2010 uma série de ataques à viaturas e cabines policiais,

bem como incendiar ônibus - reação violenta prevista segundo o modelo analítico de

Lessing (2017). A onda de pavor se espalhou por toda cidade, forçando então Governo

59
do Estado a articular a entrada e ocupação do Quartel General da Facção, no Complexo

do Alemão. Em novembro do citado ano, policiais militares em carros blindados da

Marinha do Brasil entraram no Complexo de Favelas do Alemão e da Penha, bem como

as integrantes da Polícia Civil, Polícia Federal e até Polícia Rodoviária Federal. Em tal

episódio, ficou notório a massiva fuga de criminosos pelas matas dos morros, muitos

portando fuzis. Após quase sete meses de ocupação do Complexo de Favelas por

militares do Exército, inauguraram-se as UPPs das áreas ocupadas.

Após a ocupação dos Complexos do Alemão e da Penha, o Comando Vermelho

mudou seu “Quartel General” para o Complexo de favelas do Chapadão, que abrange

bairros da Zona Oeste como Anchieta, Pavuna, Costa Barros e está muito próximo a

municípios da Baixada Fluminense (São João de Meriti, Nilópolis e Duque de Caxias).


É possível observar que o programa de governo caminhou razoavelmente bem

até meados de 2013, quando se começaram a destacar sérios problemas estruturais e

a aparecer os primeiros vestígios da crise econômica que impactaria profundamente o

Estado: morte de policiais em confronto com criminosos que ainda resistiam à

ocupação e consequentes atos de violência policial tornaram-se frequentemente

cobertos pela mídia. O caso emblemático do desaparecimento do pedreiro Amarildo,

na Rocinha, acusado de traficante por policiais, e a consequente prisão do

Comandante da UPP e alguns subordinados iniciaram um intenso questionamento

social sobre a eficácia do Programa.

Também, ficou notória a irresponsável entrada de quase vinte mil policiais na


corporação em torno de cinco anos, o que desestruturou o modelo hierárquico

organizacional e comprometeu a qualidade na formação profissional do concursado e

até sua avaliação social. Não menos importante, tornou-se público a falta de estrutura

minimamente digna para policiais da UPP, sendo muitas bases policiais feitas com

contêineres improvisados. Obviamente, isso refletiu na visão do policial e na qualidade

de seu serviço. Segundo Magaloni e Cano (2016), ao entrevistarem mais de cinco mil

policiais militares em 2014, constatou-se que 47% dos policiais concordam ou

60
concordam totalmente com a afirmação de que as UPPs não iriam continuar depois

das Olimpíadas de 2016; dos policiais insertos no Programa, 56,5% não gostavam de

trabalhar em UPP. Já em pesquisa feita exclusivamente com policiais de UPPs, Soares

et al (2011) já apontavam o descontentamento dos agentes de segurança com o

modelo, indicando que 70% dos entrevistados afirmaram preferir trabalhar em outras

unidades da PM.

Em um estudo realizado pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, ao

analisar os confrontos armados envolvendo policiais no primeiro semestre de 2016

(RIO DE JANEIRO, 2017), constatou-se que 68% dos policiais militares em Batalhão

(BPM) envolviam-se em confrontos armados com criminosos de forma inesperada e,

quando em patrulhamento, ou seja, em uma atividade preventiva, havendo um


percentual de sucesso de 51% (quando não há mortes de policiais, moradores ou

criminosos, com prisões ou apreensões). Contudo, verificou-se que, dos confrontos nas

UPPs, 94% dos embates eram em patrulhamento, e o percentual de sucesso era de

apenas 5%; ou seja, o policial estava sofrendo ataques por emboscada, ações típicas de

guerrilha.

Em uma outra análise (RIO DE JANEIRO, 2017), feita pelo Núcleo de Psicologia

da PMERJ, constatou-se que após o declínio do Programa de Pacificação, a partir de

2013, houve um significativo aumento de afastamentos da atividade operacional por

motivos de saúde na Corporação; majoritariamente, dos Códigos Internacional de

Doença (CID) F00-F99 - Transtornos mentais e comportamentais; destacando-se os


códigos (F10-F19) - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de

substância psicoativa e (F40-F48) - Transtornos neuróticos, transtornos relacionados

com o estresse e transtornos somatoformes. Dos policiais afastados da atividade

operacional, 59% eram de UPPs.

Dadas tais considerações, importa ressaltar o equívoco estratégico realizado ao

implantar as UPPs. O expansionismo atrelado aos interesses políticos e a demanda

relacionada aos Grandes Eventos (Copa do Mundo e Olimpíadas) permitiu que se

61
achasse que a simples ocupação do terreno garantiria a “pacificação”. Evidencia-se um

erro crasso ao se empregar aproximadamente nove mil policiais (20% do efetivo) nas

favelas cariocas e vislumbrar um possível controle territorial. Verifica-se uma ótica

expansionista típica do século XIX, aos moldes da perspectiva de Ratzel, natural para a

época, porém pouco compreensível atualmente (FERREIRA, 2014).

A verdadeira pacificação passa por um


Ilustração 3.1: Criança brinca
longo período de permanência no terreno, e no
sobre um blindado da Polícia Civil
durante operação, fazendo uma caso em tela, com total assistência social. Fato é
postura de estar segurando um
fuzil e apontando para policiais; que tal peacebuilding pouco aconteceu, a ponto
reproduzindo sua triste realidade:
de policiais terem que fazer trabalhos sociais,

como tratamento odontológico, ballet, jiu-jitsu e


até entrega de cestas básicas. Os comandantes de

UPPs, abandonados à missão, tornaram-se o

principal interlocutor entre a comunidade e o

Poder Público, que frequentemente mostrou-se

moroso e omisso para com os moradores.36

A figura 3.1 demonstra o quão difícil é

conquistar corações e mentes; natural para uma

população que tem passado décadas de abandono

e discriminação. O menino da foto, ao idolatrar


Fonte: foto “Ore por nossas aqueles que exerceram o “poder” sobre a favela,
Crianças”, de Severino Antônio da
Silva. 36 manifesta a rejeição de qualquer força de

ocupação,
. frequentemente atreladas à imagem de violência. Apesar dos óbices

elencados, muitos moradores ainda possuem fé na importância das UPPs. Obviamente,

isso varia de comunidade para comunidade, porém os resultados foram perceptíveis

nas eleições 2016, onde as áreas de UPPs votaram majoritariamente no governo que a

36 CANON COLLEGE. Olhares inspiradores Canon: Infâncias. Disponível em


<https://college.canon.com.br/concursos/fotos/42461>, acessado em 05set2018.
62
instituiu. Em junho de 2016, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicou uma pesquisa

com base na aplicação de surveys em 20 favelas, entrevistando cerca de duas mil

pessoas. A pesquisa apontou que 87,4% dos moradores entrevistados desejavam a

continuidade das UPPs; porém, 43,4% achavam que o Programa iria acabar depois das

Olimpíadas.

Ao entrevistar 5.300 moradores de quatro favelas ocupadas com UPPs (Batan,

Cidade de Deus, Providência e Rocinha), Magaloni et al (2018) lograram em aferir a

percepção desses quanto ao Programa de Governo. Constatou-se que 22% dos

entrevistados acham negativo as UPPs, 32% acreditando que o Programa é positivo e

35% parcialmente positivo. Quanto à continuidade do Programa, somente 15%

achavam que não deveriam as UPPs continuar, ao passo que 46% dos entrevistados
não querem a saída das UPPs de sua comunidade e 38% querem parcialmente. As

favelas do Batan e Cidade de Deus foram as que mais tiveram aceitação do programa,

75% e 56% respectivamente37; já as favelas da Providência e Rocinha tiveram um nível

de aceitação bem menor, 37% e 27% respectivamente.

Segundo Magaloni et al (2018), a legitimidade da atuação policial nas UPPs

varia de comunidade para comunidade em decorrência da forma como os criminosos

agiam anteriormente. Ou seja, em áreas onde o crime organizado permitia a

vitimização dos populares em roubos e afins (chamados pela autora de atuação

predatória, em uma tradução livre), e em áreas onde havia a frequente disputa

territorial entre as facções (chamada pela autora de cenário anárquico), a população


local majoritariamente não somente aceitou melhor as UPPs, como também desejou

sua permanência. Já em favelas onde havia um domínio consolidado e uma “paz”

imposta pela organização criminosa, sem litígios com as facções rivais, a população

demonstrou uma receptividade menor da polícia; até porque, com a desestabilização

do programa, as favelas ocupadas tornaram-se alvo de cobiça de facções rivais,

aumentando os confrontos armados e vulnerabilizando ainda mais a população local.

37 As UPPs do Batan e Cidade de Deus foram extintas em 2018.


63
Considerando que os anos de 2017 e 2018 foram os de maior quantificação

criminal na história do Estado do Rio de Janeiro, a PMERJ em um seminário em

conjunto com a sociedade civil para estabelecer diretrizes de ação em 2018, no início

do referido ano, propôs a extinção de algumas UPPs e a reestruturação do Programa,

mas tal proposta não foi aceita pelo Governador. Após Intervenção Federal na área de

Segurança no Rio de Janeiro, foram extintas 07 (sete) UPPs. A própria ALERJ, através de

uma CPI e de propostas legislativas, passou a discutir a possibilidade de extinção do

Programa e remanejamento do efetivo para os Batalhões de Polícia, atendendo o forte

input social por aumento de efetivo policial nas ruas.

3.2 Impacto sobre os indicadores de segurança pública

A partir de 2007, a segurança pública fluminense foi marcada por inúmeras

ações estatais que contribuíram para a redução de alguns indicadores. Dentre elas,

importante salientar, foi a criação do Sistema Integrado de Metas (SIM), composto por

três indicadores estratégicos: Letalidade Violenta (homicídio doloso, lesão corporal

com resultado morte, latrocínio e mortes decorrentes de intervenção policial); Roubos

de Veículos; e, Roubos de Rua (roubo a transeuntes, roubos de celulares, roubos no

interior de coletivos e transportes alternativos). Caso as Unidades policiais (Batalhões e

Delegacias) atinjam as metas semestrais estabelecidas, são os policiais integrantes


premiados pecuniariamente.

Apesar das inúmeras ações, é possível verificar, nas séries temporais dos

indicadores que serão analisados, que ações decorrentes do Programa de Pacificação e

outras focadas em Organizações Criminosas contribuíram para a redução de crimes

violentos.

Nos tópicos a seguir optou-se por analisar somente as quatro primeiras Regiões

Integradas de Segurança Pública (RISP), que são circunscrições regionais integradas da

área de segurança, pois são estas as que correspondem a Região Metropolitana do


Estado do Rio de Janeiro: RISP 1 – Centro, Zona Sul e Norte da Capital; RISP 2 – Zona
64
Oeste da Capital; RISP 3 – Baixada Fluminense; e, RISP 4- Grande Niterói (Niterói, São

Gonçalo, Maricá e Itaboraí). Além disso, a Região Metropolitana concentra a grande

maioria dos crimes no Estado: 74% dos homicídios dolosos; 93% das mortes em

oposição a intervenção policial; 97% dos roubos de carga, e 98% dos roubos de

veículos; isso, em 2018, segundo os dados publicados pelo Instituto de Segurança

Pública.

Outrossim, cabe mencionar que a Intervenção Federal na área de Segurança no

Estado do Rio de Janeiro foi eficaz o suficiente para a redução de vários indicadores de

criminalidade – incluindo a vitimização policial em serviço; todavia, há de se questionar

a eficiência, considerando a grande disponibilidade de recursos financeiros, logísticos,

operacionais e humanos. A seguir, poderemos observar que a maioria das reduções


dos indicadores de 2018 alcançaram os patamares entre 2016 e 2017, ainda

quantificações muito altas quando comparamos com os anos anteriores.

3.2.1 Homicídios dolosos:

Muitos dos homicídios dolosos no Rio de Janeiro estão atrelados à própria

dinâmica das Organizações Criminosas no Estado, apesar da distinção das motivações

que originaram as mortes não ser adequadamente possível, considerando que 52,7%

das mortes por letalidade violenta em 2015 não possuíam determinação de

circunstância elaborada pela Polícia Civil e que somente em torno de 20% das

letalidades violentas possuíam autoria descoberta38 (CAMPAGNAC, et al, 2018).


Segundo Dirk e Moura (2017), ao analisar em amostra aleatória simples os

registros de ocorrências da PCERJ na Região Metropolitana do Rio de Janeiro em 2014

(N=447), verificaram-se que 21% das letalidades violentas estavam ligadas a alguma

atividade do tráfico de drogas, e 8,3% à atividade típica de milícia ou grupo de

38 Para agravar o quadro, apesar de não decorrer da investigação policial, é frequente ser
considerado como elucidação a descoberta da autoria proveniente das prisões em flagrante
delito (prisões majoritariamente feitas pela polícia militar, polícia rodoviária federal e guardas
municipais), além da apresentação voluntária do autor do crime em sede policial.
65
extermínio, apesar de 31,7% dos registros sorteados não possuírem informações

mínimas para a identificação das motivações. Segundo os autores, da amostra

analisada, 57,3% das vítimas foram citadas por terceiros insertos no registro

(testemunha, familiar, preso etc.) como tendo algum tipo de envolvimento com

atividades ilícitas.

Logo, o aumento dos homicídios dolosos pode estar relacionado com a

cobrança de dívidas para com a Organização criminosa, ao aumento de litígios entre

facções, ou mesmo dentro da própria Organização; e a queda (sobretudo abrupta)

pode estar relacionada à vitória e pleno domínio do lado vencedor.

Pelos gráficos abaixo, podemos perceber que nas quatro regiões integradas

analisadas havia uma tendência de redução do indicador, de 2003 até 2008. E, após a
implantação das UPPs, esta redução torna-se mais abrupta, chegando ao máximo de

decréscimo entre os anos de 2011 e 2012 (após tais reduções, começa a crescer a

quantidade de mortes, voltando a reduzir após a intervenção federal na área da

segurança.

66
Gráficos 3.1: Homicídios Dolosos na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,
de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por RISP.
RISP 1 - Centro, Zona Sul e Norte RISP 2 – Zona Oeste
Quantidade de vítimas

RISP 3 – Baixada Fluminense RISP 4 – Grande Niterói

Fonte dos dados: ISP

As duas regiões que tiveram maior redução de homicídio foram as RISP 01 –

Centro, Zona Sul e Norte e RISP 02 – Zona Oeste. Na RISP 01; é possível perceber que

após o início das UPPS, os homicídios diminuem consideravelmente; porém, após o

período de 2010 (período de Ocupação do Complexo do Alemão), há uma certa

estabilização, aumentando gradativamente a partir de 2013. Já na RISP 2, verificamos a

mesma característica após a ocupação do Complexo do Alemão. Porém, importante

destacar a redução evidenciada em 2009; sabe-se que foi em tal ano que houve a
maior quantidade de prisões de milicianos da “Liga da Justiça”, organização que atua

nesta região, culminando – inclusive - com a prisão de um Vereador e um Deputado

Estadual, os irmãos Guimarães. Ao contrário da RISP 1, na Zona Oeste da capital houve

uma estabilização dos indicadores de homicídios a partir de 2010, com queda após a

Intervenção Federal.

67
Na Baixada Fluminense, verificamos a redução dos crimes partir de 2008 e um

aumento abrupto de mortes logo após a ocupação do Complexo do Alemão. Após isso,

pode-se perceber um efeito de diminuição e aumento reiterado, possivelmente ligado

a alguma dinâmica do crime organizado não identificada, coincidindo o período de

redução criminal com a intervenção federal. É possível que a não permanência de tal

indicador a patamares menores do que em 2008, tal como ocorreu na RISP 1 e RISP 2,

esteja relacionada não somente a maior atuação de traficantes de drogas, mas

também a milicianos na região, sobretudo após as prisões de milicianos ocorridas na

Zona Oeste da Capital em 2009. Já na Região da Grande Niterói, verificamos também a

maior redução a partir de 2008, com o aumento dos homicídios a partir de 2013.

Importante salientar que, embora a criação do Sistema Integrado de Metas


(SIM) possa ter contribuído para a redução dos indicadores a partir de 2008, este não

foi suficiente para impedir a mudança da tendência criminal a partir de 2010, que

passou a ser crescente. Quanto à Intervenção Federal, é possível que o massivo aporte

de recursos, sobretudo o grande emprego de militares federais em operações, tenha

desestimulado a disputa de mercado entre facções, gerando uma diminuição dos

homicídios no Estado (redução de 8% em relação a 2017, e de 3% em relação a 2016).

3.2.2 Mortes decorrentes de intervenção policial:

Mortes decorrentes de intervenção policial ou de outros agentes do Estado são


mortes provocadas pelos agentes de segurança, sejam eles policiais, guardas

municipais e prisionais ou militares federais, presumivelmente decorrente de uma

ação baseada na legítima defesa39.

Pela análise de Dirk e Moura (2017), com base na supracitada amostra de 2014,

88,07% das mortes em decorrência da intervenção policial são oriundas das ações da

39 Artigo 25 do Código Penal:


“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”
68
Polícia Militar, considerando seu contingente populacional e natureza do serviço, e

11,3% são oriundas da Polícia Civil. Ainda lograram identificar que 7,8% das mortes

estavam ligadas à posse ilegal de armas, 14,1% a roubos e 59,4% a alguma atividade do

tráfico de drogas.

Embora a maioria das mortes estejam ligadas a alguma atividade de

Organizações que majoritariamente exploram o tráfico de drogas, nem sempre os

confrontos ocorrem em áreas de favelas. Segundo os dados da PCERJ, em 2017, 71%

das mortes foram em vias públicas, 18% em favelas, e 11% em outas localidades

(shopping centers, condomínios fechados, praia, matas e florestas etc.). Isso decorre

da própria dinâmica criminal dessas Organizações e da natureza do serviço policial

militar que se encontra majoritariamente na malha urbana; pois é frequente a


interceptação em flagrante delito de “bondes” (conjunto de carros com criminosos

fortemente armados de fuzis), “arrastões”, ou mesmo contra roubos de veículos e de

cargas.

Pela análise dos gráficos, pode-se perceber que foi a partir de novembro de

2010 (ocupação do Complexo do Alemão) que houve uma redução de tal indicador; as

menores quantificações desde pelo menos quinze anos. Após 2013, pode-se perceber

o aumento no indicador nas quatro regiões estudadas; em 2018, com a intervenção

federal, as quantificações tornaram-se as maiores pelos menos dos últimos quinze

anos no Estado, visivelmente, foi a Baixada Fluminense e Grande Niterói as Regiões

que tiveram aumentos sem precedentes; muito ligado às novas territorializações das
Organizações Criminosos e um maior foco repressivo do Estado aos criminosos.

69
Gráficos 3.2: Mortes decorrentes de intervenção policial na Região Metropolitana do
Estado do Rio de Janeiro, de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por
RISP.
RISP 1 - Centro, Zona Sul e Norte RISP 2 – Zona Oeste
Quantidade de vítimas

RISP 3 – Baixada Fluminense RISP 4 – Grande Niterói

Fonte dos dados: ISP

70
3.2.3 Roubos de Veículos.
Gráficos 3.3: Roubos de Veículos na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,
de janeiro de 2003 a dezembro de 2018, por RISP.
RISP 1 - Centro, Zona Sul e Norte RISP 2 – Zona Oeste
Quantidade de registros

RISP 3 – Baixada Fluminense RISP 4 – Grande Niterói

Fonte dos dados: ISP

Da mesma forma como ocorreu com os demais indicadores já estudados,

percebe-se nos roubos de veículos uma redução a partir do ano de 2008. Assim, pode-

se inferir que o Programa de Pacificação também impactou em tal crime, tanto que no

ano de 2010 verifica-se uma mudança de tendência, a partir da Ocupação do

Complexo do Alemão e criação de novas UPPs. Isso é muito mais evidente na Baixada

Fluminense e na região da Grande Niterói, regiões onde havia certa estabilidade no

fenômeno criminal, mas a partir da Ocupação do Complexo do Alemão e avanço do

Programa de Pacificação na Capital teve grandes aumentos desta modalidade de

crime.

Após a intervenção federal, verificou-se ligeira redução dos roubos de veículos

(de 3% em relação a 2017; mas um aumento de 25% em relação a 2016).

71
3.2.4 Roubos de carga

O grande aumento de roubos de carga no Estado é também atribuído à atuação

das organizações criminosas que exploram o tráfico de drogas e até de algumas

milícias. As cargas roubadas têm se mostrado uma fonte de renda complementar

importante para as facções traficantes de drogas. Tal crime tende a aumentar quando

há uma diminuição do lucro nas vendas de drogas ilícitas, amortizando assim as

perdas.

Com a intervenção federal, focou-se demasiadamente em tal indicador, seja

por pressão de grupos econômicos que estavam obtendo perdas consideráveis, seja
pela população de algumas localidades que estavam até tendo crises de

abastecimento ou mesmo pela maior facilidade de reduzir este indicador,

considerando a dinâmica criminal. Fato é que os sinistros de cargas custaram em 2018

para o Estado do Rio de Janeiro pelo menos R$ 8,3 bilhões de reais 40. A redução dos

roubos de cargas foi a maior redução desta gestão, com redução de 13% em relação a

2017 e 07% em relação a 2016.

O grande aumento deste indicador em áreas que anteriormente possuíam uma

quantificação inferior, como na Baixada Fluminense e em Grande Niterói é mais uma

evidência de que o avanço das UPPs e principalmente a ocupação do Complexo do

alemão alterou a dinâmica de criminalidade não somente da Região Metropolitana,


mas de todo o Estado, conforme veremos em breve.

40 PORTAL TRANSPORTA BRASIL. RJ sofre com o roubo de cargas: R$ 8,3 bi em prejuízos.


Disponível em <http://www.transportabrasil.com.br/2018/10/rj-sofre-com-o-roubo-de-cargas-
r-83-bi-em-prejuizos/>. Acessado em 01jan2019.
72
Gráficos 3.4: Roubos de Carga na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, de
janeirode 2003 a dezembro de 2018, por RISP.
RISP 1 - Centro, Zona Sul e Norte RISP 2 – Zona Oeste
Quantidade de registros

RISP 3 – Baixada Fluminense RISP 4 – Grande Niterói

Fonte dos dados: ISP

3..3 O Criminal displacement como consequência da atuação estatal

Pela análise feita a partir das séries temporais, pode-se perceber que houve

impactos de algumas ações estatais não somente sobre os indicadores, mas na própria

dinâmica da criminalidade nas RISPs e em outras regiões.

A criminologia tem chamado este fenômeno de displacement criminal. Embora

a literatura acadêmica- majoritariamente estadunidense - não considere este

fenômeno como uma regra (FELSON, 2002; GUERETTE, 2009); no Rio de Janeiro, a

pulverização dos aglomerados urbanos de exclusão e do domínio de tais áreas pelas

73
organizações criminosas, faz com que isso seja uma constante para alguns indicadores

criminais.

Segundo Guerette (2009), o criminal displacement pode ser definido não

somente como o deslocamento do fenômeno criminal no espaço, mas também como a

mudança em outros padrões, a saber:

- Mudanças nos padrões temporais, ou seja, nas faixas horárias predominantes

para o crime, ou mesmo nos meses mais propícios ao crime.

- Mudança no modus operandi do criminoso, ou seja, de acordo com a

configuração espacial, vulnerabilidade da vítima ou ação da polícia, os criminosos

tendem a modificar sua forma de agir, adaptando-se à nova realidade.

- Mudança de alvos ou vítimas, ou seja, podem também os criminosos mudar


os produtos de crimes ou as vítimas potenciais de acordo com o que seja mais

oportuno e garantidor da impunidade.

- Mudanças para alvos mais brandos, ou seja, dependendo das circunstâncias,

criminosos podem acabar por eleger alvos de menor valor econômico para ainda

permanecer em sua empreitada delituosa.

- Mudanças dos próprios criminosos. Neste caso, criminosos que são presos ou

mortos podem ser substituídos por outros em quadrilhas ou organizações criminosas;

ou, novas quadrilhas e organizações podem substituir as anteriores na exploração do

negócio ilícito41.

Considerando as indicações do citado autor, podemos verificar que as


Organizações Criminosas no Rio de Janeiro, como a maioria das organizações

econômicas, adaptam-se a qualquer adversidade, como uma forma natural de

sobrevivência de seus negócios.

41 Com base nas pesquisas estadunidenses, há evidências de que o displacement criminal mais
frequente é o temporal, seguido da mudança de alvos, (GUERETE, 2009).
74
Assim, de acordo com a dinâmica das organizações criminosas, estas tendem

rapidamente a substituir seus integrantes presos ou mortos, ou mesmo recrutar novos

operários em suas áreas de expansão.

Ainda, verificou-se que com o enfraquecimento de algumas facções, com o

avanço das UPPs, houve um aumento de suas ações nos roubos de carga, de veículos

para desmanche, e até furtos de dinheiro em caixas eletrônicos (frequentemente com

o uso de explosivos), numa tentativa de amortizar suas perdas e aumentar seus lucros.

Sendo assim, a mudança de alvos é algo muito comum, quando se trata de

simples criminosos ou mesmo de Organizações Criminosas. Segundo Relatório da ONU

(UNODOC, 2017), tal displacement foi intensivamente observado em vários países a

partir do colapso no mercado de cocaína na década de 1990 em Cali e Medellín, na


Colômbia. Verificou-se, por exemplo, diversificações criminosas na área ambiental,

cibercrime, tráfico de pessoas, dentre outras.

Cabe aqui citar um nicho de mercado muito pouco divulgado, mas- em alguns

lugares- tão lucrativo quanto o tráfico de cocaína: o contrabando e falsificação de

cigarros. O displacement para tal nicho, seja como forma de amortizar perdas ou

maximizar lucros, tem sido observado em vários países no mundo (Brasil, Austrália,

Irlanda, Jamaica, Colômbia etc.), permanecendo ainda os litígios entre rivais e as

consequentes mortes. Para se ter uma ideia do tamanho do mercado, segundo

Dorfman et al (2017), o Brasil é o nono maior consumidor de cigarros do mundo, com

mais de trinta milhões de consumidores, isso em 2013; estima-se que a 35% dos
fumantes são jovens e adultos predominantemente das camadas sociais mais baixas 42.

42 A maioria dos cigarros ilegais vem do Paraguai, principal fornecedor no continente


americano; até seu presidente da República (2013-2018), Horacio Cartes, foi acusado de estar
envolvido com esta atividade, segundo vazamento do Wikileaks DEA. Vide em GUTIERREZ, D.
The Smoking Trail: Cigarette Smuggling In Paraguay. Havard International Review, 2016.
Disponível em <http://hir.harvard.edu/article/?a=13337>.Acessado em 16jan19.

Em uma rápida pesquisa na internet, é possível verificar como algumas quadrilhas ou


Organizações Criminosas têm saído do tráfico de cocaína para cigarro contrabandeado, ou
mesmo, integrado os dois mercados em seus negócios, a título de exemplo, citemos quatro
casos:
75
Com o avanço das UPPs, pode-se perceber que os negócios das facções foram

empurrados para outras áreas da Região Metropolitana e até do interior; mas com a

desestruturação do Programa de Pacificação e o aumento dos negócios ilícitos na

Capital do Estado, a criminalidade espalhada para as cidades periféricas não diminuiu,

fazendo com que o Estado experimentasse um boom de criminalidade a partir de

2016.

A expansão do crime organizado para as cidades periféricas da Capital e para o

interior não é aleatória, tal como qualquer outro deslocamento espacial do crime. Para

a exploração de novos mercados e domínios, o crime organizado ora estudado deve se

apropriar de novos espaços, que reúnam características propícias a seu modelo de

negócio: áreas com pouca eficiência estatal nos serviços de controle social, ou seja, os
aglomerados humanos de exclusão; disponibilidade de uma mão-de-obra juvenil

desassistida, vulnerável à cooptação criminosa; e um posicionamento estratégico para

expansão ou comercialização dos bens e serviços ilícitos ou irregulares.

- Na Austrália: THE SYDNEY MORNING HERALD. Inside Sydney and Melbourne's illegal tobacco
hotspots that are costing the economy millions. 2017. Disponível em
<https://www.smh.com.au/politics/federal/inside-sydney-and-melbournes-illegal-tobacco-
hotspots-thats-costing-the-economy-millions-20170928-gyqas3.html>. Acessado em 16jan19.

- Na Jamaica: JAMAICA BSERVER. Drug lords turn to cigarettes: Multimillion-dollar trade said
more lucrative than cocaine, holds lower risk, 2010. Disponível em
<http://www.jamaicaobserver.com/news/Drug-dons-take-up-illicit-cigarette-trade>. Acessado
em 16jan19.

- Na Irlanda: THE IRISH TIMES. Recession forces cocaine gangs to move into the booming
illegal cigarette Market, 2010. Disponível em <https://www.irishtimes.com/news/recession-
forces-cocaine-gangs-to-move-into-the-booming-illegal-cigarette-market-1.625054>. Acessado
em 16jan19

- No Brasil: G1 SANTA CATARINA / NSC TV. Documentário revela como contrabando de cigarro
financia o tráfico de drogas e armas. Disponível em <https://g1.globo.com/sc/santa-
catarina/noticia/reportagem-revela-como-contrabando-de-cigarro-financia-o-trafico-de-
drogas-e-armas.ghtml>. Acessado em 16jan19
76
Assim sendo, forma-se uma rede social, unindo os mais diversos espaços

possuidores de tais características, constituindo o complexo território-rede do crime

organizado.

77
CAPÍTULO 4: TERRITÓRIOS-REDE DO CRIME ORGANIZADO

“A rede faz e desfaz as prisões do espaço, tornado território: tanto libera como aprisiona.
É o porquê de ela ser o instrumento por excelência do poder. ”
Claude Raffestin (1993, p.204).

No capítulo 1, foi visto que o território sistemicamente pode manifestar-se em

nós, malhas e redes; representando as relações de um poder econômico, político,

social e cultural sobre o plano espacial. Estas “imagens” territoriais,

independentemente da escala, ou se provém de relações privadas ou públicas,

coletivas ou individuais, e logram em representar a capacidade operativa e a gestão e


controle das distâncias (RAFFESTIN, 1993).

Todavia, importante destacar, como não há homogeneidade entre as relações

sociais e entre seus grupos, por óbvio, também não existe tal uniformidade no plano

espacial, nos territórios-redes. Neste sentido, Milton Santos (2006) ensina que num

“mesmo subespaço, há uma superposição de redes, que inclui redes principais e redes

afluentes ou tributárias, constelações de pontos e traçados de linhas” (p.180).

Destarte, segundo o citado autor, considerando a competitividade e

interconectividade do mundo contemporâneo, e a necessidade permanente de busca

por novos mercados e outras formas de domínio; de forma fluida e flexível, tais

emaranhados de conexões não somente dão suporte a tal configuração, mas são

também estruturadas pelo modelo econômico-social vigente.

Assim, aduz:

Mediante as redes, há uma criação paralela e eficaz da ordem e da desordem no


território, já que as redes integram e desintegram, destroem velhos recortes espaciais
e criam outros. Quando ele é visto pelo lado exclusivo da produção da ordem, da
integração e da constituição de solidariedades espaciais que interessam a certos
agentes, esse fenómeno é como um processo de homogeneização. Sua outra face, a
heterogeneização, é ocultada. Mas ela é igualmente presente. (SANTOS, 2006, p.189)

78
Deste modo, a estruturação em redes naturalmente propicia conexões

exteriores; gerando, logo, uma tendência desterritorializadora, ou seja, diminuindo a

territorialidade, e/ou provocando novas territorializações. Quanto a isso, assevera

Haesbaert:

O capital, por exemplo, enquanto relação social comandada pelos detentores dos
meios de produção, tende mais a defender e a promover a abertura (de mercado,
especialmente), a fluidez e circulação (de produtos e informações), enquanto o Estado
tende a delimitar e circunscrever os fluxos (como faz hoje com a força de trabalho, por
exemplo). (HAESBAERT, 2014, p.107).

Souza (2000) contribui ao afirmar que este território em rede, ou território-

rede, também pode ser considerado e chamado pelo termo “descontínuo”. Assim, o

autor acrescenta:

A complexidade dos territórios-rede, articulando, interiormente a um território


descontínuo, vários territórios contínuos, recorda a necessidade de se superar uma
outra limitação embutida na concepção clássica de território: a exclusividade de um
poder em relação a um dado território. (SOUZA, 2000, p.107).

A frase em epígrafe deste capítulo informa que são as redes o elemento que

torna o território dinâmico, limitando ou expandindo suas conexões em perpétua

transformação. Para Raffestin (1993), é através da mobilidade que se logra gerir e

controlar as distâncias de conexões na rede; sendo tal mobilidade vértice da circulação

e comunicação. Dependendo da composição de forças da circulação ou comunicação,

o poder manifesta-se de forma distinta.

Assim, é a circulação a “imagem do poder”. “Seria preciso lembrar as

acrobacias que fazem os exércitos em guerra para dissimular os movimentos das

tropas ou dos comboios de abastecimento? ” (RAFFESTIN, 1993, p.202). Portanto, é a

circulação um elemento de identificação imprescindível para controle e vigilância.

Contudo, justamente por isso, frequentemente tendente ao sigilo, quando não for

interessante para os detentores do poder. Destarte, o autor afirma ser então a

comunicação o elemento de mobilidade mais interessante para a não ostensividade.


79
“Nesse caso, o poder pode controlar, vigiar, interceptar, praticamente sem ser visto

(...)”, (RAFFESTIN, 1993, p.202).

Não obstante, como fora abordado nos capítulos anteriores, as organizações

criminosas de muitos países que não possuem eficiência na prestação de seus serviços

públicos, em especial na América Latina, tendem a estabelecer uma governança

violentamente territorializadora. Por óbvio, isso não significa que seus altos escalões e

suas conexões estatais não estejam ocultos, mas demonstra que o Estado não

consegue empurrá-la ao submundo do crime por intimidação, permitindo sua atuação

no upperworld (VON LAMPE, 2005).

Neste diapasão, sobre a realidade fluminense, Souza (2000) explica:

A territorialidade de cada facção ou organização do tráfico de drogas, é, assim, uma


rede complexa, unindo nós imanados pelo pertencimento a um mesmo comando,
sendo que, no espaço concreto, esses nós de uma rede se intercalam com nós de
outras redes, todas elas superpostas a um mesmo espaço e disputando uma mesma
área de influência econômica (mercado consumidor), formando uma malha
significativamente complexa. Cada uma das redes representará, durante todo o
tempo que existirem essas superposições, o que se poderia chamar uma
territorialidade de baixa definição. Uma alta definição só será alcançada se uma das
organizações lograr eliminar as rivais dentro das áreas de influência, monopolizando a
oferta de tóxicos, ou se as organizações chegarem a um acordo, estabelecendo um
pacto territorial. (SOUZA, 2000, p.92).

Como observado e alertado por von Lampe (2016), o mapeamento das redes

criminosas não é uma tarefa fácil; além da natural dificuldade de se descobrir a

estrutura que necessita estar ausente de holofotes, há dificuldade de se obter dados –


haja vista que a maioria são oriundos da atividade de inteligência, portanto reservados

por lei, no caso brasileiro – e ainda a coleta é naturalmente perigosa por identificar

atores envolvidos diretamente ou não com a Organização Criminosa. Todavia,

conforme já abordado, a reificação do poder através da identificação do território é

uma saída importante para a compreensão e análise do problema. Evidentemente, tais

representação indicam uma realidade, não são uma fidedigna caracterização,

conforme alertou Raffestin (1993).

80
Nos tópicos a seguir, veremos como as Organizações Criminosas estudadas

territorializam-se em nível estadual, pelos inúmeros motivos já expostos, evidenciando

a complexa inter-relação entre os espaços fluminenses, principalmente na Região

Metropolitana.

4.1 Da análise de redes

Há de se ressaltar muitas semelhanças entre a teoria de redes complexas e o

método de análise de redes sociais com a temática ora estudada. Por óbvio, os

territórios-rede que estão sendo estudados são de fato uma complexa interação em
forma de uma rede socioespacial, seja por interações comunitárias, seja através de
uma lógica tecnicista oriunda do mercado.

Sabe-se que o Crime Organizado fluminense ora estudado estrutura-se e

territorializa-se de forma distinta de outros estados da federação. Isso, decorrente da

pulverização dos aglomerados humanos de exclusão, o que faz o Estado possuir uma

dinâmica criminal muito diferente, por exemplo, de São Paulo.

A integração de tais áreas pulverizadas no Rio de Janeiro ocorre principalmente

através de veículos automotores. São através dos automóveis que traficantes e

milicianos transportam armas, drogas, dinheiro e pessoas para outras áreas de

domínio ou para expandir seus negócios através da subjugação da facção rival. Logo,
os carros roubados no Rio de Janeiro, em especial na Região Metropolitana, não

somente são usados para desmanches (mercado ilegal de peças), mas também para a

operabilidade das facções.

Destarte, para a confecção dos territórios-rede do Crime Organizado

fluminense, foi utilizado duas bases de dados fornecidas pela PMERJ/CAEs: uma de

veículos roubados e outra de veículos recuperados. Tais bases são oriundas de

registros policiais da PCERJ, Organização responsável pelo registro de tal delito. Para

verificar a evolução das redes e o impacto do Programa de Pacificação, utilizou-se


como recorte temporal: o ano de 2007 para recuperação de automóveis (período
81
anterior à Pacificação) e 2007 e 2006 para roubo de veículos; o ano de 2012 para

recuperação de automóveis e 2012 e 2011 para roubo de veículos (período posterior à

ocupação do Complexo do Alemão e criação de UPP); e por fim, o ano de 2017 para

recuperação de veículos e 2017 e 2016 para roubo de veículos (período de grande

aumento criminal e desestabilização do Programa de Pacificação).

Com tais bases, fez-se um match por placa ou chassi verificando quais

automóveis foram recuperados nos anos de 2007, 2012 e 2017 e de onde vieram.

Como recorte geográfico, a fim de facilitar a análise, diminuir inclusive a possibilidade

de enviesamentos decorrentes de erros no registro administrativo, optou-se por

identificar as Circunscrições Integradas de Segurança Pública (CISP), áreas congruentes

de Delegacias e Companhias da Polícia Militar, de origem e destino 43.


Conforme a base de dados de roubos: o ano de 2006 apresentou 37.417

registros de roubos de veículos; o ano de 2007 apresentou 34.051 registros; o ano de

2011, apresentou 16.185 registros; o ano de 2012 apresentou 16.678 registros; o ano

de 2016 apresentou 43.075 registros; o ano de 2017 apresentou 44.305 registros. Já a

base de recuperação apresentou: em 2007, 25.078 veículos recuperados; em 2012,

17.282 veículos recuperados; em 2017, 37.231 veículos recuperados.

Para o mapeamento da rede, utilizou-se somente os veículos que são

instrumentos da territorialização estudada, ou seja: automóveis, utilitários camionetas,

utilitários caminhonetes e utilitários “outros”; descartando motocicletas, ônibus,

ciclomotores, caminhões, tratores, charretes, carroças etc. Também, foram


descartados carros recuperados oriundos de outro Estado, uma quantificação muito

pequena.

Cumpre ressaltar que os dados de registros de roubos de veículos são de

confiabilidade maior do que de outros delitos. Isso devido ao fato dos veículos serem

de valor econômico superior à maioria dos produtos que costumam ser roubados e ser

43 Para este trabalho foram desconsideradas as CISP 11 (Rocinha) e CISP 45 (Complexo do Alemão) por
terem sido criadas depois de 2012 com o avanço do Programa de Pacificação, ambas insertas na CISP 15
(Gávea) e 22 (Penha), respectivamente.
82
uma exigência o registro em sede policial da subtração do bem para a obtenção de

benefício das empresas de seguro. Outrossim, quanto às recuperações de veículos,

estas são feitas majoritariamente pelas polícias (quando o bem é abandonado por

criminosos, uma vez atingindo seu objetivo, ou em decorrência de operações policiais

em favelas); mas também podem ser feitas pelas próprias empresas seguradoras, ou

mesmo diretamente pela vítima (por vezes, tendo que pagar um resgate de seu veículo

para criminosos em tais aglomerados de exclusão); de qualquer forma, é obrigatório o

registro da recuperação para que o veículo saia do sistema policial como um produto

oriundo de crime.

4.1.1 Das estatísticas de rede

Para a análise das redes propostas, far-se-á uso das medições estatísticas dos

nós em nível de CISP, além de medidas de toda a rede. Para tanto, há de se expor

algumas métricas de centralidade, indicando a importância do nó na rede ou entre

seus vizinhos, basicamente três:

- Grau de centralidade (degree), ou seja, a quantidade de ligações existentes no nó

(também chamado de vértice): podendo ser ligações (também chamadas de arestas)

que exercem influência; no caso em estudo, os automóveis que saem da CISP

(outdegree); ou ligações que exercem suporte, ou seja, automóveis roubados que

chegam na CISP (indegree); portanto, constituídos de arestas dirigidas. Pode ser

retratado pela seguinte fórmula:

𝐶𝑑 (𝑣) = 𝑑𝑖𝑖𝑛 + 𝑑𝑖𝑜𝑢𝑡


Sendo o grau de determinado vértice (v) a soma dos somatórios de arestas dirigidas
que entram (𝑑𝑖𝑖𝑛) ou que saem (𝑑𝑖𝑜𝑢𝑡) do vértice.

83
- Grau de centralidade ponderado (weighted degree) – tal métrica segue a mesma
lógica do grau de centralidade, porém ponderado pelos pesos de cada ligação. Ou seja,
não basta somente saber quantas ligações um nó possui com os demais, mas quantas
vezes foram utilizadas tais ligações; no caso concreto, quantas carros roubados
entraram ou saíram de uma CISP para outra por cada link.

- Centralidade de intermediação (betweenness), entende-se como a medida de


posição crítica de um nó em relação à rede; ou seja, quanto maior o valor, mais em
posição chave se encontra o nó, e maior sua capacidade de intermediar outros nós.
Esta é uma característica que não somente depende do nó, mas também da
característica da própria rede (WALCZAK et al, 2017).
Sendo:
𝜎𝑗𝑘(𝑣)
𝐶𝑏(𝑣) = ∑
𝜎𝑗𝑘
𝑗≠𝑘

Onde 𝜎𝑗𝑘 é o total de caminhos mais curtos do nó 𝑗 para nó 𝑘; já 𝜎𝑗𝑘 (𝑣 ), é o número


desses caminhos que passam pelo vértice específico. É comum também sua
apresentação normalizada [0,1].
Como métrica de rede, usaremos a densidade:

- Densidade da rede – é a propriedade de rede que demonstra o nível de ligação;


sendo feita através do cálculo do quociente de números de arestas da rede sobre o
número máximo possível; variando de 0 a 1. Pode ser retratada como a relação entre a
quantidade de ligações (𝒗) em relação de ligações possíveis, conforme a seguir:

2𝑣
𝐷=
𝑛(𝑛 − 1)

Assim, uma rede 100% densa significa que está com seus nós totalmente
conectados uns com os outros. Logo, tal métrica é muito importante porque quanto
mais densa é a rede, mais difícil é a mesma de ser disrompida. Demonstrando tais
características, será possível compará-las nos três recortes temporais estudados.
84
Pelos histogramas (Gráficos 4.1),
Gráficos 4.1: Distribuição de graus em
2007, 2012 e 2017, no Estado podemos perceber que a distribuição
Gráficos XX – do
Distribuição de graus em 2007, 2012 e
Rio de Janeiro.
2017, no Estado do Rio de Janeiro. dos graus (degree) obedecem uma
Distribuição de graus em 2007: lógica de distribuição da lei de potência

30

𝑓 (𝑥) = 𝑐𝑥 −𝛾
quantidade

20

onde 𝑐 e 𝛾 são maiores do que zero,


10

assim, 𝑓 (𝑥 ) evolui de acordo com uma


0 potência.
0 25 50 75 100
degree
Distribuição de graus em 2012:
Deste modo, característica
evidente de uma rede com propriedades
20

que apontam para uma escala livre


quantidade

(free-scale network). Tal rede, que tem


10

interações que emergem de uma


complexa dinâmica, é marcada por
0

0 25 50 75 atributos peculiares como a robustez e


degree

resiliência à disrupções. Assim, em


Distribuição de graus em 2017:
decorrência de tal propriedade,
15
evidencia-se a presença de nós com alta
conectividade, chamados de Hub.
quantidade

10
São tais hubs, que no caso
concreto são as CISPs com grandes
5

ligações de veículos roubados entrando


0 ou saindo, que sustentam a rede, sendo
0 30 60 90
degree seu suporte e ao mesmo tempo
Fonte: PCERJ
fraqueza, caso estes sejam
desconectados. (BARABÁSI, 2009,2014).
Justamente por ser a rede de escala livre, é tendente a aumentar sua
conectividade, criando novos hubs. Isso pode ser visto a partir de 2017, com o
85
aumento de CISPs com alto grau de ligações; e ainda com o aumento de conectividade
das demais CISPs com os hubs da rede (tornando-os “pontes” que ligam os nós menos
conectados); tais fatos vão ao encontro do que preceituara os autores da geografia,
como Santos (2006) e Haesbaert (2014), conformes citações diretas já expostas.
Assim, Albert- László Barabási ensina:

Por que os hubs e as leis de potência emergem no modelo sem escala? Em primeiro
lugar, o crescimento desempenha papel importante. A expansão da rede significa que
os primeiros nós dispõem de mais tempo do que os últimos para adquirir links: se um
nó é o último a chegar, nenhum outro nó tem a oportunidade de se conectar a ele.
Dessa forma, o crescimento oferece uma nítida vantagem para os nós antigos,
tornando-os os mais ricos em links. A antiguidade, contudo, não é o suficiente para
explicar as leis da potência. Os hubs requerem a ajuda da segunda lei, a conexão
preferencial. Como novos nós preferem conectar-se a nós mais conectados, os
primeiros nós com mais links serão escolhidos com mais frequência e crescerão mais
rapidamente do que seus pares mais jovens e menos conectados. Quanto mais e mais
nós chegam e escolhem os nós mais conectados para se conectar, os primeiros nós
inevitavelmente se separarão do pacote, adquirindo um número muito grande de
links. Eles se transformarão em hubs. Portanto, a conexão preferencial induz um
fenômeno rico fica mais rico que ajuda os nós mais conectados a capturar um número
desproporcionalmente grande de links a expensas dos últimos. (BARABÁSI, 2014, p.
80).

Em breve, veremos que as considerações do supracitado autor sobre as redes

vão ao encontro do que ocorrera com a rede criminosa no Estado do Rio de Janeiro.

Ao se fazer gráficos de dispersão, conforme as páginas a seguir, com eixos

quantificando os indegree e outdegree, podemos melhor verificar como houve a

alteração dos padrões de rede, notadamente em decorrência das ações políticas de

segurança ocorridas no final de 2010, em 2011 e 2012 (períodos auge das UPPs).
Percebe-se também para os anos de 2007, 2012 e 2017 uma correlação estatística

forte entre os indegrees e outdegrees (em 2007: R= 0,89; em 2012: R= 0,86; em 2017:

R= 0,89). Ou seja, os hubs da rede possuem maiores ligações de automóveis entrando

e saindo de sua circunscrição, fenômeno compreensível, considerando que são tais

locais os centros de tomada de ações do crime organizado em estudo, bem como os

grandes entrepostos do mercado ilícito.

86
É possível verificar ainda o aumento da centralidade de intermediação

(betweenness) com o passar do tempo e o aumento da importância de áreas novas na

rede, como Grande Niterói e Região dos Lagos e também a Baixada Fluminense. Ainda,

imprescindível salientar o aumento de importância na rede da CISP 59, área central do

município de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), sendo-a já em 2017 o segundo

maior nó de intermediação.

Outrossim, cabe alertar que o fato de determinado nó não possuir um grande

grau de centralidade não significa que sua função na rede não seja estratégica.

Podemos perceber que CISPs do interior possuem um alto betweenness, embora haja

muitos com baixa conectividade, evidenciando seu papel chave na rede 44. Sabe-se que

atualmente em tais áreas há um maior territorialização de algumas organizações


criminosas, não somente para buscar novos mercados de consumo de drogas, mas

também para controlar as principais vias de entradas e saídas de tais produtos ilícitos.

Deste modo, não devemos ignorar nós com baixa conectividade no estudo dos

territórios-rede. Pois estes apresentam a chamada “força dos laços fracos”. Ou seja,

tais nós acabam por ser fundamentais para viabilizar a expansão da rede ao conectar

grupamentos de nós com novos clusters, diversificando ainda mais a rede.

(CHRISTAKIS; FOWLER, 2010, p.135; KAUFMAN, 2012).

Assim, destaquemos em 2007 as CISP 71 - município de Itaboraí e CISP 125 –

município de São Pedro da Aldeia como o segundo e terceiro maior betweenness;

áreas importantes para a disseminação de drogas para a Região dos Lagos.


Em 2012, temos a CISP 81 – Itaipu, localidade do município de Niterói, pois não

somente teve o maior indegree, ou seja, a maior vínculo de entrada com outras CISPs,

como também de maior betweenness; uma clara evidência do displacement criminal

ocorrido com o prosseguimento do Programa UPP. Também, há de se destacar a

quarta posição no ranking de betweenness, a CISP 134 – Campos dos Goytacazes, e a

quinta posição, CISP 123 – Macaé.

44 Para observar as métricas de rede utilizadas em cada nó (CISP), vide o apêndice Apêndice 3.
87
Já em 2017, a CISP 90 – município de Barra Mansa, cortada pela Rodovia

Federal Presidente Dutra / Rio-São Paulo, apresentou o terceiro maior grau de

intermediação, compreensível considerando sua posição estratégica para a entrada de

drogas no Estado. Outrossim, destacaram-se a CISP 78 – Fonseca, localidade de São

Gonçalo, CISP 128 – município de Rio das Ostras e CISP 123 – município de Macaé.

Gráfico 4.2: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada (indegree) e graus de saída (outdegree) no Estado do Rio de
Janeiro, 2007.

região
40
Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
Grande Niterói e Região dos Lagos

30 Norte Fluminense
Região Serrana
outdegree

Sul Fluminense
Zona Oeste
20

betweeness
0.0e+00
2.5e+08
10
5.0e+08
7.5e+08

0 20 40
indegree

Fonte dos dados: PCERJ


Gráfico 4.3: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada (indegree) e graus de saída (outdegree) no Estado do Rio de
Janeiro, 2012.

região
40 Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
Grande Niterói e Região dos Lagos
Norte Fluminense
30 Região Serrana
Sul Fluminense
outdegree

Zona Oeste

20
betweeness
0.00e+00
2.50e+08
5.00e+08
10
7.50e+08
1.00e+09
1.25e+09

0 20 40 60
indegree

Fonte dos dados: PCERJ

88
Gráfico 4.4: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada (indegree) e graus de saída (outdegree) no Estado do Rio de
Janeiro, 2017.
50

região
Baixada Fluminense
40
Centro, Zona Sul e Norte
Grande Niterói e Região dos Lagos
Norte Fluminense

30 Região Serrana
outdegree

Sul Fluminense
Zona Oeste

20
betweeness
0e+00

2e+08

10 4e+08
6e+08
8e+08

0 20 40 60
indegree

Fonte dos dados: PCERJ

Quando analisamos os graus de entrada e saída ponderados pela quantidade

de veículos roubados, weighted indegree e weighted outdegree, com o tamanho dos

pontos escalonados de acordo com o betweenness normalizado [0 a 1], verificamos

que há uma maior evidência dos hubs.

As áreas de domínio mais importantes das Organizações criminosas são as que


possuem maior quantificação de carros roubados, logo, distanciando-se daquelas com

menores quantificações. Ainda, verificamos uma forte correlação estatística entre os

weighted indegree e weighted outdegree (em 2007: R= 0,90; em 2012: R= 0,88; em

2017: R= 0,88).

Destarte, destacaremos em 2007 as CISPs com os quatro maiores graus de

centralidade ponderados, ou seja, as que apresentaram mais veículos roubados nas

arestas de entrada e saída, a saber: CISP 21 – Bonsucesso, com 1448 carros roubados

entrado e saindo da área; CISP 34- Bangu, com 1434 carros roubados; CISP 25 –

Engenho Novo, com 1105 automóveis; e CISP 20 – Grajaú, com 1068 veículos

roubados.
89
Já em 2012, as CISPs que mais apresentaram tal indicador foram: CISP 59 –

Duque de Caxias, com 1402 veículos roubados entrando e saindo de sua área; a CISP

27 – Vicente de Carvalho, com 871 carros roubados entrando e saindo da área; e CISP

39 – Pavuna, com 856 automóveis roubados.

Já em 2017, as CISPs que mais apresentaram os graus de centralidade

ponderados foram: CISP 59 – Duque de Caxias, com 3000 veículos roubados entrando

e saído de sua área; CISP 64 – Vilar dos Teles (São João de Meriti), com 2829 veículos

roubados; e CISP 39 – Pavuna, com 2743 autos roubados. Sendo, imprescindível

ressaltar, todas estas CISPs limítrofes.

As características apresentadas em 2017, demonstram que houve um

deslocamento do centro de poder das organizações que majoritariamente exploram o


narcotráfico da região da Grande Leopoldina, ou seja, região histórica da Zona Norte

da capital fluminense (Engenho Novo, Tijuca, Marechal Hermes, Vicente de Carvalho

etc.) para a Baixada Fluminense (Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis etc.) e

proximidades com bairros da capital (Pavuna, Anchieta, Ricardo de Albuquerque, Braz

de Pina etc.).

Gráfico 4.5: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada ponderado (weighted indegree) e graus de saída ponderado
(weighted outdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2007.

betweenesscentrality
0.00
600
0.01
0.02
0.03
0.04
weightedoutdegree

0.05
400

Região
Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte

200 Grande Niterói e Região dos Lagos


Norte Fluminense
Região Serrana
Sul Fluminense
Zona Oeste
0

0 200 400 600 800


weightedindegree

Fonte dos dados: PCERJ

90
Gráfico 4.6: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada ponderado (weighted indegree) e graus de saída ponderado
(weighted outdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2012.

betweenesscentrality
600 0.00
0.02
0.04
0.06
weightedoutdegree

400
Região
Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
Grande Niterói e Região dos Lagos
Norte Fluminense
200
Região Serrana
Sul Fluminense
Zona Oeste

0 200 400 600


weightedindegree

Fonte dos dados: PCERJ

Gráfico 4.7: Dispersão dos nós por centralidade de intermediação (betweenness), graus
de entrada ponderado (weighted indegree) e graus de saída ponderado
(weighted outdegree) no Estado do Rio de Janeiro, 2017.

betweenesscentrality
1500
0.00
0.01
0.02
0.03
0.04
weightedoutdegree

1000 0.05

Região
Baixada Fluminense
Centro, Zona Sul e Norte
500 Grande Niterói e Região dos Lagos
Norte Fluminense
Região Serrana
Sul Fluminense
Zona Oeste

0 500 1000 1500


weightedindegree

Fonte dos dados: PCERJ

Os grafos a seguir demonstram a dinâmica criminal das organizações

criminosas através de suas redes geográficas, nos três períodos estudados.

91
Cabe mencionar que os grafos a seguir foram configurados da seguinte forma:

os nós do grafo principal estão por tamanho e coropleticamente classificados pela

quantidade de conexões (degree); já os grafos menores, foram classificados por cor de

acordo com a região inserida (RISP) e por tamanho, de acordo com a quantificação de

cada nó por grau de saída de veículos roubados (outdegree) e entrada de veículos

roubados (indegree). Já quanto às cores das arestas, estas variaram arbitrariamente

em um espectro de 2 a 60, dependendo da quantidade de weightdegrees; isso para

todos os grafos.

Para o layout dos grafos, optou-se por utilizar o algoritmo Force Atlas 2, por

apresentar características que tornam mais significativos sua interpretação à luz do

problema ora estudado. Por exemplo: evita sobreposição de nós, tendem a atrair os
nós para o centro, aproxima-se mais da distribuição geográfica etc.

Destarte, para o ano de 2007, a rede apresentou 1540 arestas, ou seja,

ligações. Já em 2012, a rede apresentou 1454 arestas (06% a menos do que em 2007).

E, em 2017, a rede apresentou 2196 arestas (49,3% a mais de conexões do que em

2012). Isso é uma evidência de que com a rede está mais conectada atualmente.

Se buscarmos a densidade da rede, verificaremos a afirmação

supramencionada. Em 2007, a rede dirigida possuía uma densidade de 0,088. Em 2012,

a densidade da rede caiu para 0,080 (redução de 9%). Já em 2017, a rede apresentou

uma densidade dirigida de 0,122; ou seja, um aumento de 52,5% em relação a 2012 e

38,6% em relação a 2011.

92
Ilustração 4.1: Grafos dos Territórios-rede das organizações criminosas em 2007,
Estado do Rio de Janeiro.

Classificação dos nós da rede por região administrativa.


Classificação de nó por grau de entrada Classificação de nó por grau de saída

Fonte dos dados: PCERJ

93
Ilustração 4.2: Grafos dos Territórios-rede das organizações criminosas em 2012,
Estado do Rio de Janeiro.

Classificação dos nós da rede por região administrativa.


Classificação de nó por grau de entrada

Classificação de nó por grau de saída

Fonte dos dados: PCERJ


94
Ilustração 4.3: Grafos dos Territórios-rede das organizações criminosas em 2017,
Estado do Rio de Janeiro.

Classificação dos nós da rede por região administrativa.


Classificação de nó por grau de entrada Classificação de nó por grau de saída

Fonte dos dados: PCERJ


95
Ao analisar os grafos, podemos constatar significativas mudanças ao longo do

tempo. Em 2007, podemos perceber a pouca participação da Grande Niterói e Região

dos Lagos, Sul Fluminense e Norte Fluminense na rede, além da Baixada Fluminense.

Visivelmente, as regiões estavam mais separadas e menos imiscuídas. Pode-se inferir

que a maior participação na rede se encontrava com a Zona Oeste e Centro, Zona Sul e

Norte. Destacaram-se as CISP de Bonsucesso, Penha (área do Complexo do Alemão),

Inhaúma, Brás de Pina, Bangu e Barra da Tijuca (isto pode ser um indício da

expansão/dispersão das milícias pela Zona Oeste).

Em 2012, verifica-se na rede uma maior participação da Grande Niterói e

Região dos Lagos, Norte Fluminense e Baixada Fluminense. Verifica-se que Duque de

Caxias fica completamente cercado por nós da Zona Norte (Brás de Pina, Inhaúma,
Penha, São Cristóvão, Bonsucesso e Méier), além de estar muito próximo de Alcântara

(localidade de São Gonçalo). Como um grande hub destaca-se agora Pavuna (sede dos

Complexos da Pedreira e do Chapadão); além de Itaipu (localidade de Niterói), próximo

a Bonsucesso e Campos dos Elísios (Duque de Caxias).

Já em 2017, com um grafo visivelmente mais denso, verificamos que além das

novas regiões, destaca-se o Sul Fluminense, além do fato do Norte Fluminense estar

mais perto ainda dos hubs. Visivelmente, é perceptível que a Zona Oeste e a Região de

Grande Niterói tornaram-se uma espécie de ponte respectivamente para o Sul e

Região dos Lagos e Norte Fluminense.

96
4.2. A dinamicidade da rede e seus impactos na qualidade de vida

Destarte, imprescindível informar, tais mudanças ocorridas na configuração da

rede impactaram na própria qualidade de vida dos cidadãos residentes nos municípios

interioranos. Para se ter uma ideia, pelos dados fornecidos no sítio oficial do Mapa da

Violência (FLACSO Brasil)45, em 2016 as três cidades com taxa mais altas de homicídios

provocados por armas de fogo foram respectivamente: Paraty (Sul Fluminense, com

60,9 mortes por 100 mil habitantes), Cabo Frio (Região dos Lagos, com 59 mortes por

100 mil habitantes) e Mangaratiba (Sul Fluminense, com 48,5 mortes por 100 mil

habitantes); ou seja, superando cidades da Baixada Fluminense. São tais homicídios


resultados naturais da territorialização das Organizações Criminosas.
Como outra forma de visualizar o processo expansivo das organizações

criminosas; para tanto, inserindo as redes no mapa do Estado fluminense, agora

georreferenciadas pelo centroide de cada CISP, é possível melhor visualizar os fluxos

territorializadores.

Podemos verificar que a atuação majoritária de tais organizações delitivas se

encontra na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Capital, Baixada Fluminense, e

Grande Niterói). E desta, é tendente à expansão para o Sul Fluminense, Região dos

Lagos e principalmente Norte Fluminense.

Outro fator importante que deve ser destacado é que os canais de mobilização
já existiam, ou seja, já havia conexões do Norte Fluminense, Sul Fluminense e Região

dos Lagos com a Região Metropolitana; todavia tais conexões se intensificaram com o

passar do tempo, principalmente em decorrência das ocupações feitas pelas UPPs.

45 FLACSO Brasil. Mapa da Violência – Série de estudos. Disponível em


<http://flacso.org.br/?project=mapa-da-violencia>, acessado em 11set2018.
97
Ilustração 4.4 - Mapa dos Territórios-rede do crime organizado no Estado do Rio de
Janeiro, em 2007.

Distância média: 20,45 km, com desvio padrão de 24,08 km.


Magnitude: 2894,68 km
Direção: NNE (12,21 graus Norte)
Número de arestas: 1540
Fonte dos dados: PCERJ

Ilustração 4.5: Mapa dos Territórios-rede do crime organizado no Estado do Rio de


Janeiro, em 2012.

Distância média: 22,86 km, com desvio padrão de 27,52 km.


Magnitude: 3842,22 km
Direção: ENE (62,94 graus Norte)
Número de arestas: 1454
Fonte dos dados: PCERJ
98
Ilustração 4.6 - Mapa dos Territórios-rede do crime organizado no Estado do Rio de
Janeiro, em 2017.

Distância média: 28,43 km, com desvio padrão de 33,36 km.


Magnitude: 8761,82 km
Direção: NE (41,47 graus Norte)
Número de arestas: 2169

Fonte dos dados: PCERJ

Conforme os mapas a seguir, agora analisando somente três hubs da rede,

podemos verificar o quão expansivos esses são. Bonsucesso conecta-se com várias

localidades do Sul, Norte e Nordeste fluminense; assim como Engenho da Rainha e

Duque de Caxias, por óbvio, indo ao encontro do que preceituam os cientistas de rede,

quanto à expansividade.
Destarte, é importante ressaltar que a lógica operacional das Organizações

Criminosas é muito próxima da lógica existente em outras organizações de mercado na

gestão do território. A busca por novos espaços não é aleatória, segue critérios que

podem ser previstos; logrando-se – inclusive – a prospectar com bastante confiança

cenários de interesse da Segurança Pública.

99
É um equívoco não analisar os

cenários criminais sem levar em

consideração a perspectiva empresarial

das Organizações Criminosas; o que pode

ensejar em danos sociais maiores do que

o esperado, um efeito colateral sem

precedentes, conforme o experimentado

após a desestabilização das UPPs.

Conforme escreveu Ribeiro (2000,

p.94), as grandes corporações tendem a

manipular em alta quantificação as


matérias-primas, bens intermediários e

produtos finais em uma grande escala

operacional. Também, tendem a realizar

inúmeras e sucessivas incorporações (no

caso em estudo, domínio de favelas e

outras áreas pobres, e quadrilhas locais),

seja para diversificar seu portfólio ou

diminuir sua concorrência: “resultado de

uma política interna da corporação na

diversificação de seus investimentos, visando minimizar riscos, investindo-se em


diferentes setores da economia e lugares com o intuito de auferir capital” (RIBEIRO,

2000, p.94).

Outrossim, o autor informa que é tendente a segmentação da corporação: “as

empresas que formam o conglomerado apresentam diferenças entre si no que se

refere ao nível de desenvolvimento tecnológico, à divisão do trabalho e ao papel que

desempenham no processo de acumulação de capital interno à corporação”, (RIBEIRO,

100
2000, p.94). Como outra característica, tais empresas tendem a buscar múltiplas

localizações.

E, por fim, valendo de outra citação direta: “apresenta enorme poder de

pressão econômica e política, mais precisamente no plano espacial, na gestão do

território, reproduzindo as desigualdades espaciais através da reprodução desigual da

sociedade”, (RIBEIRO, 2000, p.95).

Diante disso, pelos mapas, verificamos que apesar do forte processo de

territorialização das Organizações Criminosas no Sul Fluminense, o que tem levado a

uma onda de violência sem precedentes; a região que deve ser considerada mais

preocupante – na escala estadual – é a do Norte Fluminense, considerando que a rede

aponta para o nordeste do Estado. Podemos verificar que há uma alta conectividade
do município de Campos dos Goytacazes com a Região Metropolitana; e ainda, ao

contrário do que foi evidenciado nas redes dos anos de 2012 e 2007, os municípios de

São João da Barra (população de 32.747 pessoas, segundo o censo de 2010) e São

Francisco de Itabapoana (população de 41.354 pessoas, segundo o censo de 2010)

também apresentaram um aumento de conectividade com a Região Metropolitana.

Este cenário é preocupante porque está cada vez mais operante o Porto de Açu, no

município de São João da Barra, porto esse que se propõe ser o maior da América

Latina em operação46.

Cabe salientar que, segundo o Censo de 2010, São João da Barra possui um IDH

de 0,671, com 38% de sua população com rendimento nominal mensal per capita de
até 1/2 salário mínimo47 (12º pior colocação entre os municípios do Estado do Rio de

Janeiro). Em uma situação ainda pior, São Francisco de Itabapoana possui um IDH de

46 O Porto de Açu é a maior obra de infraestrutura portuária da América. Iniciou suas


operações em 2014. Ocupa 90 Km² do município de São João da Barra (1,5 vezes maior do que
a Ilha de Manhantan/Nova Iorque) e possui um Distrito Industrial. No porto, há terminais de
minério de ferro, petróleo, combustíveis marítimos, multicargas etc. Vide mais no sítio oficial
do Porto de Açu <https://www.portodoacu.com.br/SitePages/default.aspx>, acessado em
10jan2019.
47 Este é um indicador de pobreza absoluta.
101
0,639, com 44,9% de sua população com rendimento nominal mensal per capita de até

1/2 salário mínimo (a pior colocação entre os municípios do Estado do Rio de

Janeiro)48.

Logo, o aumento de capitais circulantes na Região, de operários, marinheiros,

executivos nacionais e estrangeiros fomentará uma disputa violenta pelo mercado de

drogas, exploração da prostituição e outras atividades ilícitas. Assim, o grau de

violência evidenciado no Sul Fluminense, muito em decorrência da existência da

Rodovia Federal Rio-Santos, que – por óbvio – liga a capital fluminense com o porto de

Santos, uma das principais entradas e saídas de drogas e de entrada de armas no

Brasil, poderá também ser experimentada em uma intensidade ainda maior nos

municípios orbitantes de Campos dos Goytacazes, podendo o Norte Fluminense se


tornar a Região com maior letalidade violenta no Estado em um futuro não tão

longínquo.

Assim, como já evidenciado em Japeri, Angra dos Reis ou Cabo Frio, nos

municípios nortistas, poderá haver uma territorialização violenta exercida pelas

organizações que majoritariamente exploram o mercado de drogas ilícitas,

aumentando – assim - o litigio entre os jovens cooptados localmente, mas de facções

rivais, e por consequência, o aumento dos homicídios dolosos. Não obstante, se nada

for feito, poderá haver um aumento da vitimização policial local, e consequentemente

um aumento de ações de Unidades Operacionais Especiais (BOPE, BPChq, BAC etc.) e

também um aumento das mortes decorrentes de intervenção policial. Para piorar,


setores do serviço público poderão ser cooptados pelo crime organizado, podendo

atingir fiscais do município, agentes alfandegários, policiais, vereadores, prefeitos, e

até juízes e deputados estaduais. Não seria de se estranhar – em nome de um

contraponto à onda de violência- o surgimento das primeiras milícias do Norte

Fluminense.

48 IBGE Cidades. Ranking de IDH no Estado com base no Censo 2010. Disponível em
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/panorama>. Acessado em 10jan2019.
102
CONCLUSÃO

O processo de urbanização no Estado do Rio de Janeiro, assim como no


restante do país e da própria América Latina foi e ainda é extremamente violento e
desigual. Assim, com o surgimento de aglomerados urbanos de exclusão, excluído não
somente à disposição espacial, mas também de um quantum mínimo de segurança
humana, ou seja, de serviços básicos que garantam de forma eficiente a dignidade da
pessoa humana, como a segurança, a justiça, a educação, a saúde, dentre outros, há a
vulnerabilização de comunidades a uma dinâmica criminal bastante violenta.
São em tais áreas que se homiziam quadrilhas e Organizações Criminosas que,
com uma territorialização violenta, exploram majoritariamente as drogas ilícitas e/ou
bens e serviços irregulares; pondo refém a população local e adjacentes, tornando o
cotidiano um permanente estado de medo e sobrevivência. Territorialização essa que
não é meramente uma simples apropriação física do espaço, controlando quem e o
que entra e sai; mas também através do imaterial, do imagético, do simbólico,
conforme explicou Haesbaert (2014).
Destarte, os territórios das Organizações Criminosas em estudo estruturam-se,
conforme ensinamento de Raffestin (1993) em nós, malhas e redes. Nós no sentido de
uma circunscrição do poder definido; a malha como uma área de influência do nó,
geralmente a “área neutra”, conforme chamada por Souza (1998), ou seja, áreas onde
ocorrem a maioria dos crimes contra o patrimônio; e a rede, que é a conexão entre os
nós.
Outrossim, os grupos criminais estudados neste trabalho, aqueles ligados a
exploração majoritária de drogas ilícitas e/ou de bens e serviços irregulares, podem e
devem ser considerados como Organizações Criminosas por apresentarem
características insertas no rol de descrições de von Lampe (2016), ou seja, uma relação
de suporte e ao mesmo tempo dano ao grupo social que a apoia; a exploração de
oportunidades dadas pelo Mercado, pelas restrições do Estado e qualquer outra
condição criminogênica; e por fim, uma interação com o próprio Estado, podendo ser
através da evasão da persecução penal, pela intimidação aos agentes públicos e

103
políticos, através da conveniências para os dois pólos, pela corrupção, dentre outras
formas.
Quanto à corrupção, essa tende atingir vários setores do Estado, devendo -
portanto - ser controlada e reprimida em todas as esferas; todavia priorizando-se uma
perspectiva top-down, principalmente dentro da seara política, (MINGARDI, 1998;
CEPIK; BORBA, 2011; PEREIRA, 2014; REIS, 2014; VIEIRA, 2014); pois, ao se fazer
estudos comparados, é possível verificar que não há como uma Organização Criminosa
permanecer por um longo tempo sem que haja participação política (atinente ao Poder
Executivo, Legislativo e Judiciário); geralmente através de solicitação de empréstimos
para campanhas; loteamento de currais eleitorais ou mesmo aquisição direta de
vantagens pecuniárias, conforme identificado para este estudo no Brasil, na Itália, no
Japão, na Colômbia, no Paraguai, no México etc.
No Rio de Janeiro, a partir das constatações de Vergara (2012), pode-se
afirmar que não se encontra evidências de um sistema criminal, ou seja, de cooptação
do Estado como um todo pelo crime organizado e da própria sociedade; pelo menos,
daqueles que exploraram majoritariamente o tráfico de drogas e/ou os bens e serviços
irregulares. Importante evidenciar que - se tal nível de interação ocorresse - haveria
uma abrupta redução de homicídios dolosos, prisões de chefes e gerentes das
Organizações, mortes decorrentes de intervenção policial, mortes de policiais, e
possivelmente, de alguns crimes contra o patrimônio; isso decorrente da conivência
entre os atores envolvidos.
As ações estatais frente às Organizações Criminosas têm volvidas em
inúmeras direções de governo a governo no Estado do Rio de Janeiro, tendendo em
comum uma repressão extremamente violenta a tais facções; gerando consequências
indesejadas, quanto ao incremento da violência; o que faz com que haja
historicamente uma “acumulação social da violência”, (MISSE, 1999), banalizando-a
cada vez mais. Portanto, é imperioso e imprescindível que as ações estatais estejam
sempre orientadas à redução de danos sociais.
Destarte, considerando a impossibilidade de soluções no curto e médio prazo,
além do massivo investimento nos fatores de prevenção primário, deve o Estado
condicionar as Organizações Criminosas a não atuarem no upperworld, ou seja, no

104
mundo comum, visível e vivendo de qualquer cidadão, diminuído assim a violência
física e a sensação de insegurança. Tal condicionamento não deve ser encarado como
uma conivência entre o Estado e Crime Organizado, mas como uma priorização de
ações orientadas para os crimes mais graves, muito próxima a uma ideia de princípio
de Pareto (concentrar esforças em 20% das causas, impactando 80% dos efeitos).
Logo, dentro de uma perspectiva da atuação da Administração Pública, se há
mortes de policias e outros agentes do Estado, deve haver concentração de esforços
para que os autores dos crimes estejam presos; se há homicídios dolosos de qualquer
outra pessoa, deve haver concentração de esforços para que não valha à pena
manifestar tal ação por parte dos criminosos; caso haja roubos, a organização
criminosa deverá ter a atenção especial do Estado; logo, condicionando tais criminosos
a não cometerem infrações violentas, a exemplo das Operation Ceasefire49. Tal
condicionamento, também não deve ser confundido com omissividade; pois as
Organizações Criminosas devem ser profundamente monitoradas, possibilitando a
predição de ações no upperworld. Esta é uma tentativa que tem se mostrado válida em
alguns países, conforme as observações de Lessing (2017); destacando o autor até o
Programa de Pacificação no Rio de Janeiro.
Entretanto, importante ressaltar, é sedutor e possivelmente
convenientemente para determinados Governos ou mesmo alguns segmentos sociais
os benefícios resultantes de uma pax mafiosa, cenário que é extremamente perigoso;
considerando o aumento da entrância no Poder Público, e a potencialidade de dano à
sociedade e ao próprio Estado. Por exemplo, vimos isso na Colômbia, quando o líder
do Cartel de Medellín teve seus interesses contrariados, mesmo depois de ter imposto
sua “pacificação” na cidade, após ter feito obras de infraestrutura em alguns bairros
pobres, e até ter sido eleito para o Congresso. Pablo Escobar, após tais contrariações,
chegou a derrubar o Boeing 727 da Avianca e explodiu carros-bomba em centros
comerciais, matando dezenas de pessoas, inclusive crianças; realidade já não tão
distante em vários estados federados do Brasil. Portanto, o condicionamento feito
pelo Estado deve ser ainda atento e razoavelmente repressivo; todavia, sempre
orientado para a redução de danos sociais.

49 Vide o tópico 3.1 deste trabalho.


105
Através das Unidades de Polícia Pacificadora, gerou-se um impacto
significativo no cenário de criminalidade violenta nas áreas de sua atuação e em outras
relacionadas, reduzindo – inclusive – a própria letalidade policial, as menores
quantificações desde pelo menos há quinze anos. Todavia, errou-se ao ampliar sem a
devida consolidação o Programa, expansionismo este atrelado aos interesses políticos
e a demanda relacionada aos Grandes Eventos. Assim, vendeu-se a ideia que a mera
ocupação do espaço garantiria um prolongado nível de paz estável; aos moldes de um
pensamento típico do século XIX, de que espaço é poder. Fato é que isso não ocorreu,
houve uma resistência e enorme adaptação de algumas Organizações Criminosas;
retraindo no início, e avançando posteriormente.
Com o avanço das Pacificações houve uma reestruturação dos negócios de
tais Organizações, gerando novas territorializações, disputando novos mercados; e
com a desestabilização do Programa, a partir de 2013, voltou-se mais intensamente a
se perceber a atividade violenta nas áreas de UPPs. A “emenda saiu pior que o
soneto”, evidenciou-se a partir do avanço das UPPs nos hubs das Organizações (a partir
de 2010), um abrupto aumento de alguns crimes em outras áreas da Região
Metropolitana, principalmente na Baixada Fluminense e Grande Niterói. Outrossim,
verificou-se o grande aumento de homicídios dolosos no Sul Fluminense e Região dos
Lagos; áreas correspondentes à expansão da fronteira de territorialização em rede dos
estudadas Organizações.
Após a confecção em grafos e utilização de métricas de rede, constatou-se
que os territórios-rede das estudadas Organizações Criminosas são altamente
conectados; em um nível de interação tão complexa que faz com que a rede se torne
altamente resiliente.
Ao analisar a estrutura do território-rede criminal em 2017, verificamos que a
rede encontra-se expandindo para o nordeste fluminense; podendo gerar um alto grau
de violência na Região Norte. Constatou-se que um forte atrativo para a
territorialização violenta em Campos dos Goytacazes e cidades próximas,
principalmente São João da Barra, é a franca expansão das atividades do Porto de Açu,
um complexo que pretende ser o maior em atuação na América Latina. Logo, é
imperativo investimentos massivos em serviços sociais básicos em tais cidades; bem

106
como de um maior aporte de segurança. Tal região tende a ter nos próximos anos um
boom de criminalidade, maior do que o evidenciado no Sul Fluminense, caso nada seja
feito.
Destarte, pode-se concluir que para problemas complexos não há soluções
simples; e se forem postas tais simplistas soluções, podem ensejar em danos colaterais
ainda piores, no médio e longo prazo. Urge a necessidade de uma compreensão mais
aprofundada e séria dos problemas de segurança; principalmente daqueles
relacionados às atividades das Organizações Criminosas.

107
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114
APÊNDICE 1: DIVISÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO POR CISP E RISP

Fonte dos dados: Arquivo Shapefile disponibilizado no sítio do ISP.

115
APÊNDICE 2: RELAÇÃO DAS CISPS E SUAS REFERÊNCIAS DE LOCALIDADE,
MUNICÍPIO E REGIÃO.

CISP REGIÃO Município Localidades

9 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Catete, Cosme Velho, Flamengo, Glória e Laranjeiras

10 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Botafogo, Humaitá e Urca

23 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Cachambi, Méier (parte) e Todos os Santos (parte)

24 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Abolição, Água Santa (parte), Encantado, Engenho de Dentro (parte), Pilares e
Piedade
25

26 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Engenho Novo, Jacaré, Jacarezinho, Riachuelo, Rocha, Sampaio e São Francisco
Xavier
44 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Água Santa (parte), Engenho de Dentro (parte), Lins de Vasconcelos e Todos os
Santos

6 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Del Castilho, Engenho da Rainha, Inhaúma, Maria da Graça e Tomás Coelho

17 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Caju, Mangueira, São Cristóvão e Vasco da Gama

1 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Centro (parte)

4 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Centro (parte), Gamboa, Santo Cristo e Saúde

5 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Centro (parte), Lapa e Paquetá

7 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Santa Teresa

18 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Maracanã, Praça da Bandeira e Tijuca (parte)

19 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Alto da Boa Vista e Tijuca (parte)

20 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Andaraí, Grajaú e Vila Isabel

22 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Brás de Pina (parte), Olaria, Penha e Penha Circular (parte)

38 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Brás de Pina (parte), Cordovil, Jardim América, Parada de Lucas,Penha Circular
(parte) e Vigário Geral

45 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Complexo do Alemão

37 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Bancários, Cacuia, Cidade Universitária, Cocotá, Freguesia, Galeão, Jardim
Carioca, Jardim Guanabara, Moneró, Pitangueiras, Portuguesa, Praia da
Bandeira, Ribeira, Tauá e Zumbi

12 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Copacabana (parte) e Leme

13 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Copacabana (parte)

21 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Benfica, Bonsucesso, Higienópolis, Manguinhos, Maré e Ramos

11 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Rocinha

14 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Ipanema e Leblon

15 Centro, Zona Sul e Norte Rio de Janeiro Gávea, Jardim Botânico, Lagoa, São Conrado e Vidigal

29 Zona Oeste Rio de Janeiro Cavalcanti, Engenheiro Leal, Madureira, Turiaçu, Vaz Lobo, Oswaldo Cruz (parte),
Cascadura e Quintino Bocaiúva

30 Zona Oeste Rio de Janeiro Bento Ribeiro, Campinho, Marechal Hermes e Oswaldo Cruz (parte)

40 Zona Oeste Rio de Janeiro Coelho Neto, Colégio (parte), Honório Gurgel e Rocha Miranda

33 Zona Oeste Rio de Janeiro Campo dos Afonsos, Deodoro, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Realengo e Vila
Militar

34 Zona Oeste Rio de Janeiro Bangu, Gericinó, Padre Miguel e Senador Camará

28 Zona Oeste Rio de Janeiro Vila Valqueire, Praça Seca e Tanque (parte)

32 Zona Oeste Rio de Janeiro Anil, Cidade de Deus, Curicica, Gardênia Azul, Jacarepaguá e Taquara

41 Zona Oeste Rio de Janeiro Freguesia (Jacarepaguá), Pechincha e Tanque (parte)

36 Zona Oeste Rio de Janeiro Paciência e Santa Cruz

43 Zona Oeste Rio de Janeiro Guaratiba, Pedra de Guaratiba e Sepetiba

16 Zona Oeste Rio de Janeiro Barra da Tijuca, Itanhangá, Joá

116
42 Zona Oeste Rio de Janeiro Recreio dos Bandeirantes, Barra de Guaratiba, Camorim, Grumari, Vargem
Grande
e Vargem Pequena
35 Zona Oeste Rio de Janeiro Campo Grande, Cosmos, Inhoaíba, Santíssimo e Senador Vasconcelos

27 Zona Oeste Rio de Janeiro Colégio (parte), Irajá, Vicente de Carvalho, Vila Kosmos, Vila da Penha e Vista
Alegre
31 Zona Oeste Rio de Janeiro Anchieta, Guadalupe, Parque Anchieta e Ricardo de Albuquerque

39 Zona Oeste Rio de Janeiro Acari, Barros Filho, Costa Barros, Parque Colúmbia e Pavuna

59 Baixada Fluminense Duque de Caxias Duque de Caxias (Centro)

60 Baixada Fluminense Duque de Caxias Campos Elyseos

61 Baixada Fluminense Duque de Caxias Xerém

62 Baixada Fluminense Duque de Caxias Imbariê

52 Baixada Fluminense Nova Iguaçu Centro

56 Baixada Fluminense Nova Iguaçu Comendador Soares, Cabuçú e Km32

58 Baixada Fluminense Nova Iguaçu Posse, Austin, Miguel Couto, Vila de Cava e Tinguá

53 Baixada Fluminense Mesquita Mesquita, Chatuba e Banco de Areia

57 Baixada Fluminense Nilópolis Nilópolis e Olinda

64 Baixada Fluminense São João de Meriti São João de Meriti, Coelho da Rocha e São Mateus

48 Baixada Fluminense Seropédica Seropédica

50 Baixada Fluminense Itaguaí Itaguaí e Ibituporanga

51 Baixada Fluminense Paracambi Paracambi

55 Baixada Fluminense Queimados Centro, Norte, Sul. Leste, Oeste e Nordeste

63 Baixada Fluminense Japeri Japeri, Engenheiro Pedreira, Marajoara, Pedra Lisa e Rio D`Ouro

65 Baixada Fluminense Magé Magé, Santo Aleixo e Suruí

66 Baixada Fluminense Magé Inhomirim e Guia de Copaíba

67 Baixada Fluminense Guapimirim Guapimirim

54 Baixada Fluminense Belford Roxo Areia Branca, Jardim Redentor, Parque São José, Nova Aurora e Lote XV

72 Grande Niterói e Região dos Lagos São Gonçalo São Gonçalo

73 Grande Niterói e Região dos Lagos São Gonçalo Neves

74 Grande Niterói e Região dos Lagos São Gonçalo Monjolo

75 Grande Niterói e Região dos Lagos São Gonçalo Ipiiba e Sete Pontes

76 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Centro, Ponta da Areia, Ilha da Conceição, São Lourenço, Fátima, Morro do
Estado, Ingá
, São Domingos, Gragoatá e Boa Viagem
77 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Santa Rosa, Icaraí, Vital Brasil, Pé Pequeno, Viradouro e Cubango

78 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Fonseca, Viçoso Jardim, Caramujo, Baldeador, Santa Bárbara, Tenente Jardim,
Engenhoca,
Santana e Barreto
79 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Jurujuba, Charitas, São Francisco, Cachoeiras, Maceió, Largo da Batalha, Ititioca,
Badu,
Sapê, Matapaca, Vila Progresso, Muriqui, Maria Paula e Cantagalo
81 Grande Niterói e Região dos Lagos Niterói Itaipu, Camboinhas, Itacoatiara, Piratininga, Cafubá, Jacaré, Rio do Ouro,
Engenho do Mato,
Várzea das Moças e Jardim Imbuí
82 Grande Niterói e Região dos Lagos Maricá Maricá e Inoã

118 Grande Niterói e Região dos Lagos Araruama Araruama, Morro Grande e São Vicente de Paula

124 Grande Niterói e Região dos Lagos Saquarema Saquarema, Bacaxá e Sampaio Correia

125 Grande Niterói e Região dos Lagos São Pedro da Aldeia São Pedro da Aldeia

126 Grande Niterói e Região dos Lagos Cabo Frio Cabo Frio e Tamoios

117
127 Grande Niterói e Região dos Lagos Armação dos Búzios Armação dos Búzios

129 Grande Niterói e Região dos Lagos Iguaba Grande Iguaba Grande

132 Grande Niterói e Região dos Lagos Arraial do Cabo Arraial do Cabo

70 Grande Niterói e Região dos Lagos Tanguá Tanguá

71 Grande Niterói e Região dos Lagos Itaboraí Itaboraí, Cabuçú, Itambí, Porto das Caixas e Sambaetiba

119 Grande Niterói e Região dos Lagos Rio Bonito Rio Bonito e Boa Esperança

120 Grande Niterói e Região dos Lagos Silva Jardim Silva Jardim, Aldeia Velha, Correntezas e Gaviões

159 Grande Niterói e Região dos Lagos Cachoeiras de Macacu Cachoeiras de Macacu, Japuíba e Subaio

88 Sul Fluminense Barra do Piraí Barra do Piraí, Dorandia, Ipiabas, São José do Turvo e Vargem Alegre

91 Sul Fluminense Valença Valença, Barão de Juparana, Conservatória, Parapeúna, Pentagna e Santa Isabel
do Rio Preto

92 Sul Fluminense Rio das Flores Rio das Flores, Manuel Duarte, Abarracamento e Taboas

94 Sul Fluminense Piraí Piraí, Arrozal, Monumento e Santanésia

95 Sul Fluminense Vassouras Vassouras, Andrade Pinto, São Sebastião dos Ferreiros e Sebastião de Lacerda

96 Sul Fluminense Miguel Pereira Miguel Pereira, Governador Portela e Conrado

Paty do Alferes Paty do Alferes e Avelar

97 Sul Fluminense Mendes Mendes

98 Sul Fluminense Engenheiro Paulo de Engenheiro Paulo de Frontin e Sacra Família do Tinguá
Frontin
90 Sul Fluminense Barra Mansa Antonio Rocha, Floriano, Nossa Senhora do Amparo, Rialto
e Regiões Administrativas I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV

93 Sul Fluminense Volta Redonda Volta Redonda

101 Sul Fluminense Pinheiral Pinheiral

165 Sul Fluminense Mangaratiba Mangaratiba, Conceição de Jacareí, Vila Muriquí, Itacuruçá

166 Sul Fluminense Angra dos Reis Angra dos Reis, Jacuecanga, Cunhambebe, Mambucaba, Abraão e Praia de
Araçatiba
167 Sul Fluminense Paraty Paraty, Paraty-Mirim e Tarituba

168 Sul Fluminense Rio Claro Rio Claro, Getulândia, Lídice, Passa Três e São João Marcos

89 Sul Fluminense Resende Resende, Engenheiro Passos, Agulhas Negras, Pedra Selada e Fumaça

99 Sul Fluminense Itatiaia Itatiaia

100 Sul Fluminense Porto Real Porto Real

Quatis Quatis, Falcão e Ribeirão de São Joaquim

134 Norte Fluminense Campos dos Goytacazes Campos dos Goytacazes (Primeiro Subdistrito, Segundo Subdistrito e Quarto
Subdistrito),
Ibitioca, Dores de Macabu, Morangaba, Mussurepe, Serrinha, Santo Amaro de
Campos,
São Sebastião de Campos e Tocos
146 Norte Fluminense Campos dos Goytacazes Campos dos Goytacazes (Terceiro Subdistrito), Santa Maria, Morro do Coco,
Santo Eduardo,
Travessão e Vila Nova de Campos
141 Norte Fluminense São Fidélis São Fidelis, Cambiasca, Colonia, Ipuca e Pureza

145 Norte Fluminense São João da Barra Barcelos, Atafona, São João da Barra, Grussaí, Cajueiro e Pipeiras

147 Norte Fluminense São Francisco de São Francisco de Itabapoana, Maniva e Barra Seca
Itabapoana
138 Norte Fluminense Laje do Muriaé Laje do Muriaé

139 Norte Fluminense Porciúncula Porciúncula, Purilândia e Santa Clara

140 Norte Fluminense Natividade Natividade, Ourania e Bom Jesus do Querendo

Varre-Sai Varre-Sai

143 Norte Fluminense Itaperuna Itaperuna, Boaventura, Nossa Senhora da Penha, Itajara, Retiro do Muriaé,
Raposo e Comendador Venâncio

São José de Ubá São José de Ubá

118
144 Norte Fluminense Bom Jesus de Bom Jesus de Itabapoana, Carabuçú, Calheiros, Pirapetinga de Bom Jesus,
Itabapoana Rosal e Serrinha

148 Norte Fluminense Cardoso Moreira Cardoso Moreira e São Joaquim

148 Norte Fluminense Italva Italva

121 Norte Fluminense Casimiro de Abreu Casimiro de Abreu, Professor Souza, Barra de São João e Rio Dourado

122 Norte Fluminense Conceição de Macabú Conceição de Macabú e Macabuzinho

123 Norte Fluminense Macaé Centro, Cabiúnas, Barra de Macaé, Aeroporto e Imboassica

128 Norte Fluminense Rio das Ostras Rio das Ostras

130 Norte Fluminense Quissamã Quissamã

130 Norte Fluminense Carapebus Centro, UB-S, Rodagem, Carapebus e Praia de Carapebus

135 Norte Fluminense Itaocara Itaocara, Portela, Batatal, Laranjais, Jaguarembe e Estrada Nova

136 Norte Fluminense Santo Antônio de Pádua Santo Antônio de Pádua, Campelo, Paraoquena, Monte Alegre, Ibitiguaçú, Santa
Cruz,
Baltazar, Marangatú e São Pedro de Alcântara
Aperibé Aperibé

137 Norte Fluminense Miracema Miracema, Venda das Flores e Paraíso do Tobias

142 Norte Fluminense Cambuci Cambuci, Três Irmãos, Funil, Monte Verde e São João do Paraíso

155 Norte Fluminense São Sebastião do Alto São Sebastião do Alto, Valão do Barro e Ipituna

151 Região Serrana Nova Friburgo Nova Friburgo, São Pedro da Serra, Lumiar, Amparo, Riograndina,
Conselheiro Paulino e Campo do Coelho

152 Região Serrana Duas Barras Duas Barras e Monnerat

153 Região Serrana Cantagalo Cantagalo, Santa Rita da Floresta, Boa Sorte, Euclidelândia e São Sebastião do
Paraíba
154 Região Serrana Cordeiro Cordeiro

Macuco Macuco

156 Região Serrana Santa Maria Madalena Santa Maria Madalena, Doutor Loreti, Renascença, Santo Antônio do Imbé,
Sossego e Triunfo

157 Região Serrana Trajano de Moraes Trajano de Moraes, Doutor Elias, Sodrelândia, Vila da Grama e Visconde de Imbé

158 Região Serrana Bom Jardim Bom Jardim, Banquete, Barra Alegre e São José do Ribeirão

105 Região Serrana Petrópolis Petrópolis e Cascatinha

106 Região Serrana Petrópolis Itaipava, Pedro do Rio e Posse

104 Região Serrana São José do Vale do Rio São José do Vale do Rio Preto
Preto

110 Região Serrana Teresópolis Teresópolis, Vale do Bonsucesso e Vale do Paquequer

111 Região Serrana Sumidouro Sumidouro

112 Região Serrana Carmo Carmo, Córrego da Prata e Porto Velho do Cunha

107 Região Serrana Paraíba do Sul Paraíba do Sul, Werneck, Salutaris e Inconfidência

108 Região Serrana Comendador Levy Comendador Levy Gasparian e Afonso Arinos
Gasparian
Areal Areal

Três Rios Três Rios e Bemposta

109 Região Serrana Sapucaia Sapucaia, Anta, Pião, Nossa Senhora Aparecida e Jamapara

Fonte: adaptado da Distribuição das Regiões e Áreas Integradas de Segurança Pública (RISP e AISP),
Batalhões de Polícia Militar (BPM) e Delegacias de Polícia Civil (DP) do Instituto de Segurança Pública
(ISP).

119
APÊNDICE 3: MÉTRICAS DE CENTRALIDADE UTILIZADAS POR CISP EM 2007, 2012 E 2017
Grau de Centralidade (degree) Indegree Outdegree betweeness
CISP
2007 2012 2017 2007 2012 2017 2007 2012 2017 2007 2012 2017
21 - Bonsucesso 95 79 112 55 48 69 40 31 43 1E+09 4E+08 3E+08
59 - Duque De Caxias 62 84 110 35 39 62 27 45 48 3E+08 1E+08 9E+08
39 - Pavuna 69 79 105 41 40 57 28 39 48 3E+08 5E+08 2E+08
25 - Engenho Novo 62 55 97 35 26 59 27 29 38 9E+07 5E+08 4E+08
27 - V De Carvalho 62 70 96 30 32 51 32 38 45 3E+08 3E+08 3E+08
64 - Vilar Dos Teles 54 66 89 33 31 45 21 35 44 1E+08 3E+08 5E+08
34 - Bangu 72 66 88 32 33 46 40 33 42 3E+08 3E+08 3E+08
35 - Campo Grande 63 63 83 29 35 39 34 28 44 3E+08 4E+08 1E+08
38 - Braz De Pina 83 82 83 40 45 44 43 37 39 5E+08 4E+08 5E+08
17 - S. Cristovão 68 59 81 40 34 42 28 25 39 2E+08 5E+08 1E+07
54 - Belford Roxo 53 52 79 35 25 42 18 27 37 9E+07 3E+08 5E+08
29 - Madureira 52 56 77 23 29 35 29 27 42 1E+08 3E+08 5E+08
40 - H Gurgel 61 62 75 32 32 33 29 30 42 7E+07 1E+08 2E+08
30 - Marechal Hermes 59 58 73 28 30 35 31 28 38 4E+08 8E+07 4E+08
44 - Inhauma 76 54 71 31 25 39 45 29 32 4E+08 1E+06 2E+08
72 - São Gonçalo 31 29 70 17 17 35 14 12 35 2E+08 1E+08 1E+08
22 - Penha 76 71 70 36 38 34 40 33 36 3E+08 4E+08 3E+08
31 - R De Albuquerque 34 55 69 8 22 30 26 33 39 4E+07 8E+07 2E+08
52 - Nova Iguaçu 37 57 69 20 32 33 17 25 36 1E+08 3E+08 2E+07
73 - Neves 36 27 67 18 12 26 18 15 41 9E+07 4E+07 7E+07
33 - Realengo 62 54 67 28 28 33 34 26 34 1E+08 1E+08 1E+08
32 - Taquara 62 48 65 30 27 35 32 21 30 1E+07 8E+07 2E+07
26 - Todos Os Santos 46 49 64 16 19 28 30 30 36 4E+07 7E+07 1E+08
74 - Alcântara 37 33 63 20 17 24 17 16 39 1E+08 2E+08 2E+08
28 - Praça Seca 62 64 62 27 25 25 35 39 37 1E+08 8E+08 2E+08
6 - Cidade Nova 47 24 62 27 12 34 20 12 28 1E+08 6E+07 1E+08
24 - Piedade 66 56 61 33 28 23 33 28 38 2E+08 1E+08 6E+08
23 - Meier 70 51 61 34 26 22 36 25 39 3E+08 2E+08 7E+08
20 - Grajaú 66 31 61 25 11 26 41 20 35 3E+08 7E+07 5E+08
19 - Tijuca 59 26 60 24 12 25 35 14 35 2E+08 2E+07 7E+07
16 - B Da Tijuca 75 65 59 29 32 31 46 33 28 2E+08 3E+08 2E+08
36 - Santa Cruz 36 35 57 23 21 33 13 14 24 6E+07 7E+07 1E+08
18 - P Da Bandeira 55 19 56 21 5 19 34 14 37 2E+08 491475 1E+08
56 - C Soares 44 50 54 19 23 24 25 27 30 2E+08 2E+08 3E+08
60 - Campos Elisios 30 46 53 20 20 19 10 26 34 2E+07 1E+08 6E+07
75 - Rio Do Ouro 16 32 52 10 17 26 6 15 26 7E+06 2E+08 1E+08
71 - Itaboraí 30 27 52 16 17 21 14 10 31 6E+07 2E+08 4E+07
58 - Posse 39 48 51 18 19 21 21 29 30 5E+07 2E+08 4E+07
78 - Fonseca 43 27 51 19 10 18 24 17 33 1E+08 5E+06 3E+08
53 - Mesquita 29 43 49 22 23 27 7 20 22 3E+06 1E+08 8E+07
50 - Itaguai 24 24 49 14 9 22 10 15 27 1E+08 3E+08 1E+08
42 - Recreio 0 36 49 0 10 20 0 26 29 0 3E+07 2E+08
9 - Catete 54 21 47 21 6 15 33 15 32 2E+08 4E+07 2E+07
41 - Tanque 52 37 47 17 13 18 35 24 29 6E+07 2E+07 1E+07
57 - Nilopolis 60 39 46 28 18 16 32 21 30 1E+08 1E+07 3E+08
4 - Pres Vargas 34 24 46 24 12 28 10 12 18 3E+07 6E+07 1E+08
37 - I Do Governador 54 31 43 27 18 20 27 13 23 1E+08 4E+07 4E+07
62 - Imbariê 27 34 42 15 18 24 12 16 18 1E+08 7E+06 1E+08
77 - Icarai 35 26 40 12 12 15 23 14 25 2E+08 7E+07 2E+08
76 - Niteroi 22 30 40 14 11 24 8 19 16 3E+07 1E+08 5E+08
48 - Seropédica 8 14 39 4 9 22 4 5 17 0,589 1E+08 1E+08
82 - Maricá 23 32 38 15 20 19 8 12 19 3E+06 3E+08 5E+05
10 - Botafogo 45 20 37 14 7 18 31 13 19 1E+08 3E+07 2E+08
55 - Queimados 11 14 35 9 8 13 2 6 22 0,567 0,1181 2E+07
65 - Magé 13 21 35 9 15 24 4 6 11 4E+07 6E+07 5E+05
5 - Mem De Sá 30 20 35 15 11 22 15 9 13 2E+07 1E+06 4E+06
7 - Santa Tereza 31 15 34 13 6 14 18 9 20 7E+06 7E+06 2E+08
79 - Jurujuba 18 20 33 6 6 17 12 14 16 2E+07 1E+08 6E+08
63 - Japeri 6 13 31 5 8 17 1 5 14 0,1 2E+07 2E+07
61 - Xerem 17 18 31 9 7 23 8 11 8 7E+06 1E+07 1E+08
126 - Cabo Frio 8 8 29 3 5 13 5 3 16 5E+06 3E+08 9E+06
81 - Itaipu 15 74 28 7 63 13 8 11 15 7E+06 1E+09 3E+08
43 - Guaratiba 18 17 28 11 7 15 7 10 13 6E+06 1E+06 3E+07
66 - Piabetá 14 27 27 6 16 13 8 11 14 5E+06 7E+06 1E+07
119 - Rio Bonito 6 3 27 3 1 17 3 2 10 1E+08 0 2E+08
118 - Araruama 10 6 26 3 3 18 7 3 8 8E+06 1E+08 5E+06
15 - Gávea 29 14 26 14 5 13 15 9 13 1E+07 4E+06 2E+08
123 - Macaé 8 15 25 6 4 14 2 11 11 3E+05 6E+08 4E+07
128 - Rio Das Ostras 2 16 25 1 6 11 1 10 14 196 2E+08 2E+06
124 - Saquarema 9 4 24 6 2 16 3 2 8 8E+06 5E+07 2E+08
146 - Guarus 3 8 23 1 5 17 2 3 6 0 2E+08 3E+07
12 - Copacabana 20 5 23 12 4 14 8 1 9 1E+08 0,2333 2E+08
14 - Leblon 32 16 22 17 5 7 15 11 15 7E+07 3E+07 3E+07
70 - Tanguaí 0 5 21 0 2 11 0 3 10 0 0,6484 3E+06
134 - C Dos Goytacazes 4 14 18 2 10 12 2 4 6 99 6E+08 7E+07
165 - Mangaratiba 7 6 18 5 4 10 2 2 8 0,143 4E+06 2E+07
166 - A Dos Reis 3 2 17 2 1 12 1 1 5 0 0 3E+08
125 - S P Da Aldeia 12 4 17 7 1 12 5 3 5 5E+06 0 7E+08
90 - Barra Mansa 10 4 17 5 2 11 5 2 6 3E+08 5E+06 5E+07
1 - Praça Mauá 20 11 17 13 9 7 7 2 10 1E+08 2E+06 6E+06
93 - Volta Redonda 8 6 16 3 2 6 5 4 10 1E+08 1E+08 2E+05
67 - Guapimirim 0 5 14 0 0 8 0 5 6 0 0 2E+08
121 - C De Abreu 2 6 14 1 4 8 1 2 6 3E+07 4E+06 2E+08
89 - Resende 3 3 12 2 2 7 1 1 5 0 0 5E+05
105 - Petrópolis 6 7 12 3 2 7 3 5 5 5E+05 103 0,935
13 - Ipanema 16 3 12 7 2 7 9 1 5 4E+06 0,2778 3E+06
94 - Piraí 10 3 11 8 3 7 2 0 4 0 0 2E+07
151 - N Friburgo 4 4 11 3 3 10 1 1 1 0 0 1E+08
130 - Quissamã 0 1 10 0 0 4 0 1 6 0 0 2E+06
51 - Paracambi 1 2 9 1 2 2 0 0 7 0 0 0
129 - Iguaba 5 3 9 3 1 5 2 2 4 2E+06 9E+06 0
110 - Teresopolis 3 12 9 2 6 5 1 6 4 0 1E+08 1E+06
145 - S J Da Barra 0 3 9 0 1 5 0 2 4 0 0 4E+06
127 - A De Buzios 9 2 8 7 1 3 2 1 5 3E+06 0 5E+06
100 - Porto Real 0 1 8 0 1 4 0 0 4 0 0 1E+06
99 - Itatiaia 4 3 7 3 2 5 1 1 2 0 98 8E+07
167 - Parati 1 3 7 1 1 5 0 2 2 0 0 0
106 - Itaipava 12 5 6 7 3 2 5 2 4 1E+08 1E+07 2E+06
147 - S F Itabapoana 1 2 6 0 2 4 1 0 2 0 0 5E+07
88 - Barra Do Pirai 3 3 6 2 2 4 1 1 2 0 0 1,2
107 - Paraiba Do Sul 0 0 6 0 0 4 0 0 2 0 0 0,325
108 - Três Rios 3 3 6 2 2 6 1 1 0 0 9E+07 1E+06
159 - C De Macacu 3 2 5 2 0 3 1 2 2 0 0 0

Fonte dos dados: PCERJ


Obs.: Para esta tabela optou-se por excluir as 30 CISPs com menor grau de centralidade em 2017, todas do interior, a saber: 120 -
Silva Jardim, 122 - C De Macabu, 96 - Miguel Pereira, 168 - Rio Claro, 109 – Sapucaia, 143 – Itaperuna, 153 – Cantagalo, 141 - São
Fidelis, 154 – Cordeiro, 144 - B J Itabapoana, 101 – Pinheiral, 139 – Porciuncula,135 – Itaocara, 158 - Bom Jardim, 95 – Vassouras,
156 - S Maria Madalena, 112 – Carmo, 132 - Arraial Do Cabo, 136 - S A De Padua, 97 – Mendes, 98 - Paulo De Frontin, 157 - T De
Morais, 91 – Valença, 148 – Italva, 155 - S S Do Alto, 152 - Duas Barras, 142 – Cambuci, 137 – Miracema, 111 – Sumidouro, 104 -
Sjv Do Rio Preto, 92 - Rio Das Flores.

120

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