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obrigando o povo a tomar seu café da manhã com

pão dormido conseguirão não sei bem o que do


1) (ENEM 2008) – São Paulo vai se recensear. O governo.
governo quer saber quantas pessoas governa. A Está bem. Tomo meu café com pão
indagação atingirá a fauna e a flora domesticadas. dormido, que não é tão ruim assim. Enquanto
Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a tomo café, vou me lembrando de um homem
números e invertidos em estatísticas. O homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha
do censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões, deixar o pão à porta do apartamento, ele apertava
pelas casas de barro e de cimento armado, pelo a campainha, mas, para não incomodar os
sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e moradores, avisava gritando:
pelo hotel, perguntando: – Não é ninguém, é o padeiro!
— Quantos são aqui? Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá: de gritar aquilo?
— Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, – Então você não é ninguém?
felizmente, só há pulgas e ratos. Ele abriu um sorriso largo. Explicou que
E outro: aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, acontecera bater a campainha de uma casa e ser
esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus atendido por uma empregada ou outra pessoa
nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor… qualquer e ouvir uma voz que vinha lá de dentro
(…) da casa perguntando quem era; e ouvir a pessoa
E outro: que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém,
— Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não, senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo
não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua que não era ninguém...
saudade jamais sairá de meu quarto e de meu Ele me contou isso sem mágoa nenhuma e
peito! se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo
(Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3. São para explicar que estava falando com um colega,
Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).) ainda que menos importante. Naquele tempo, eu
O fragmento acima, em que há referência a um também, como os padeiros, fazia trabalho
fato sócio-histórico — o recenseamento —, noturno. Era pela madrugada que deixava a
apresenta característica marcante do gênero redação de jornal, quase sempre depois de uma
crônica ao: passagem pela oficina – e muitas vezes saía já
levando na mão um dos primeiros exemplares
a) expressar o tema de forma abstrata, evocando rodados, o jornal ainda quentinho da máquina,
imagens e buscando apresentar a ideia de uma como o pão saído do forno.
coisa por meio de outra. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele
b) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando tempo! E às vezes me julgava importante porque
os personagens em um só tempo e um só espaço. no jornal que levava para casa, além de
c) contar história centrada na solução de um reportagens ou notas que eu escrevera sem
enigma, construindo os personagens assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu
psicologicamente e revelando-os pouco a pouco. nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na
d) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, porta de cada lar; e dentro do meu coração eu
visando transmitir ensinamentos práticos do recebi a lição de humildade daquele homem entre
cotidiano, para manter as pessoas informadas. todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é
e) valer-se de tema do cotidiano como ponto de o padeiro!”.
partida para a construção de texto que recebe E assobiava pelas escadas.
tratamento estético. (Rubem Braga. Para gostar de ler. São Paulo: Ática,
1989, p. 63-64.)
O PADEIRO
Levanto cedo, faço minhas abluções, 2) O texto de Rubem Braga é um exemplo de
ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a a) notícia, pois comunica uma informação de
porta do apartamento – mas não encontro o pão modo simples e objetivo.
costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter b) artigo de opinião que apresenta argumentos
lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a favoráveis à profissão de padeiro.
“greve do pão dormido”. De resto não é bem uma c) roteiro de peça teatral, porque se veem as falas
greve, é um lock-out, greve dos patrões, que das personagens e indicações sobre a organização
suspenderam o trabalho noturno; acham que da cena.
d) crônica, pois é uma narrativa curta c) tentativa de materializar lembranças da
desenvolvida a partir de um fato corriqueiro, do infância.
cotidiano. d) incidência da memória sobre as imagens
e) fábula que conta uma história curta que ilustra narradas.
um preceito moral. e) alternância entre impressões subjetivas e
relatos
3) Em “...ponho a chaleira no fogo para fazer café factuais.
e abro a porta do apartamento...”, o conectivo “e”
liga duas orações que mantêm entre si relação de 6) (ENEM 2020) Atualmente os jovens estão
a) adição. imersos numa sociedade permeada pela
b) oposição. tecnologia. Nesse contexto, os jogos digitais são
c) alternância. artefatos muito empregados. Videogames ativos
d) explicação. ou exergames foram introduzidos como forma de
e) conclusão. permitir que o corpo controlasse tais jogos. Como
resultado, passaram a ser vistos como uma
4) No trecho “Enquanto tomo café, vou me ferramenta auxiliar na adoção de um estilo de
lembrando de um homem modesto que conheci vida menos sedentário, com efeitos positivos
antigamente”, o autor julgou o padeiro um sobre a saúde. Tem-se defendido que os
homem modesto porque percebeu que ele exergames podem contribuir para a prática
a) não poderia ocupar um cargo de maior regular de atividade física moderada, bem como
importância por falta de estudos. promover a interação entre jogadores, reduzindo
b) executava um trabalho fácil e simples. o sentimento de isolamento social. Por outro lado,
c) se considerava menos importante do que era. argumenta-se que os exergames não podem
d) desempenhava um papel secundário na substituir a experiência real das práticas
sociedade. corporais, pois não motivam a longo prazo a
e) estava consciente da importância que tinha na prática permanente de atividades físicas.
sociedade. FINCO, M. D.; REATEGUI, E. B.; ZARO, M. A. Laboratório de
exergames: um espaço complementar para as aulas de educação
física. Movimento, n. 3, 2015 (adaptado).
5) (ENEM 2020) A vida às vezes é como um jogo
brincado na rua: estamos no último minuto de Pela sua interatividade, os exergames
uma brincadeira bem quente e não sabemos que a apresentam-se como possibilidade para estimular
qualquer momento pode chegar um mais velho a o(a)
avisar que a brincadeira já acabou e está na hora a) exercitação física, promovendo a saúde.
de jantar. A vida afinal acontece muito de repente b) vivência de exercícios físicos sistemáticos.
— nunca ninguém nos avisou que aquele era c) envolvimento com atividades físicas ao longo
mesmo o último Carnaval da Vitória. O Carnaval da vida.
também chegava sempre de repente. Nós, as d) jogo por meio de comandos fornecidos pelo
crianças, vivíamos num tempo fora do tempo, videogame.
sem nunca sabermos dos calendários de verdade. e) disputa entre jogadores, contribuindo para o
[...] O “dia da véspera do Carnaval”, como dizia a individualismo.
avó Nhé, era dia de confusão com roupas e
pinturas a serem preparadas, sonhadas e 8) Leia o 1º parágrafo do conto “ A nova
inventadas. Mas quando acontecia era um dia Califórnia”.
rápido, porque os dias mágicos passam depressa
deixando marcas fundas na nossa memória, que “Ninguém sabia donde viera aquele homem. O
alguns chamam também de coração. agente do Correio pudera apenas informar que
ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral,
2007. acudia ao nome de Raimundo Flamel, pois assim
era subscrita a correspondência que recebia. E era
As significações afetivas engendradas no grande. Quase diariamente, o carteira lá ia a um
fragmento dos extremos da cidade, onde morava o
pressupõem o reconhecimento da desconhecido, sopesando um maço alentado de
a) perspectiva infantil assumida pela voz cartas vindas do mundo inteiro, grossas revistas
narrativa. em línguas arrevesadas, livros, pacotes...
b) suspensão da linearidade temporal da narração. Lima Barreto
a) O pronome demonstrativo aquele faz
referência a qual substantivo?
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b) Qual o significado da palavra subscrita no


contexto?
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c) Copie o trecho a que se refere o advérbio lá.


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d) Indique o significado da palavra apenas no


segundo período do texto.
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e) A conjunção pois liga duas informações.


Identifique a relação estabelecida por essa
conjunção. Que outra conjunção poderia ser
usada para substituí-la?
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