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LIDERANÇA TRANSFORMADORA:

AS MULHERES NO PODER DO MUNDO CORPORATIVO

Sabrina Muller1
sabrina.natura@brturbo.com.br

Resumo
Este artigo procura mostrar algo da trajetória das mulheres, de suas características, suas
conquistas e sua polivalência dentro do ambiente corporativo. Está explícita a dificuldade, os
preconceitos e as barreiras que elas enfrentaram para alcançar a atual posição de destaque.
Através do tempo e da constante perseverança, elas não desistiram; amparadas em seus
próprios méritos, venceram e competem igualmente pela ascensão profissional. O tema
proposto abre espaço para a discussão da atuação, do perfil, e dos diferenciais do modelo de
gestão transformadora fazendo-nos entender por que as empresas estão apostando cada vez
mais no talento feminino.
Palavras-chave: Liderança. Mulheres no poder. Mundo corporativo.

1 Introdução
Depois que as mulheres permitiram-se parar de imitar o modelo masculino e explorar
um estilo próprio, até mesmo os homens passaram a ver suas qualidades. Quando as
características masculinas e as femininas encontraram-se no mercado de trabalho, ficou
evidente a vantagem de um bom mix. E é neste momento, na era do conhecimento, da
informação e da tecnologia, que as mulheres invadem o mundo corporativo com idéias
empreendedoras, inovadoras e, o mais interessante, com inteligência e muita sutileza.
Nos últimos vinte anos, mesmo sendo insustentável e frágil, a posição da mulher no
mercado de trabalho é fruto de grandes lutas que se desenrolaram há muito tempo para uma
conquista lenta, mas persistente, que deve ser creditada a mulheres que provaram que são
capazes de assumir funções antes somente exercidas pelos homens. Dessa forma, procuramos
analisar, neste artigo, as características da forma como elas lideram, ocupando hoje cargos
importantes nas empresas, que até bem pouco tempo atrás somente eram ocupados por
homens.

2 A liderança feminina
Entre os padrões da liderança feminina, podemos destacar o estilo cooperativo,
disposição para trabalhar em equipe e dividir decisões, o uso da intuição na análise e solução
de problemas e o uso mais gentil do poder. Deste último, as mulheres se abstêm, para
conduzir uma postura de maior interesse em dar poder aos outros, um enfoque mais
democrático, com maior compartilhamento e participação, mais informação e comunicação
em geral, mais concentração em resultados de longo alcance e uma maior preocupação e
interesse nos indivíduos liderados por elas. Como característica, utilizam habilidades internas
e externas, fazendo uma combinação harmoniosa entre lógica e intuição, emoção e
inteligência. Além disso, não se importam em serem interrompidas; ao contrário, consideram
o fato como oportunidade para novos ensinamentos e interação.
Mesmo sendo recente, essa entrada das mulheres na liderança de muitas organizações
já traz significativas contribuições para um novo modelo de gestão. No livro Mudando o
Mundo: A Liderança Feminina no Século XXI, encontramos este comentário: “[...]
características como flexibilidade, sensibilidade, intuição, capacidade para trabalhar em
equipe e administrar a adversidade, além de dizer mais vezes “nós” do que “eu”, estão em alta
1
Acadêmica do curso de Administração de Empresas da FAPA , orientada pela profª Juliana Beatriz Klein, na
disciplina de Língua Portuguesa.
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e assinalam, segundo alguns estudiosos, um emergente estilo de liderança.” (CARREIRA,
AJAMIL, MOREIRA, 2001. p. 43.)
As mulheres prestam mais atenção ao sentimento dos outros, usam a intuição e a
sensibilidade na tomada de decisões, o que torna a sua forma de liderar mais humana e,
portanto, mais propensa a conseguir a adesão dos membros da equipe. E quando elas trazem
heranças do ambiente doméstico, melhoram a capacidade de fazer múltiplas tarefas
simultaneamente e, ainda, prestar atenção às atitudes de seus colaboradores.
Lobos (2002) cita as seguintes qualidades femininas encontradas nas mulheres
executivas estudadas e entrevistadas por ele: amor ao próximo, capacidade para ouvir,
criatividade, emotividade, ética, foco no processo, inapetência pelo poder, intuição, paciência,
perfeccionismo, relacionamento interpessoal, serenidade, transcendência, versatilidade.
É verdade também que, na maioria dos casos, na sua maneira de liderar, elas têm uma
relação mais tranqüila com os erros, sem diminuir aquele que o cometeu. Mas, em
determinados casos, vemos também líderes femininas que, por medo de serem julgadas como
fracas ou sem pulso, acabam usando uma forma mais agressiva de lidar com os erros.
A batalha para chegar-se ao comando pode ser muito dura, mas a mulher vem
conseguindo fazê-la com muita sutileza devido a este estilo próprio de liderar. De acordo com
Aburdene e Naisbitt (1993 p. 122), as mulheres líderes estimulam a participação, dividem o
poder e a informação, aumentam a auto-estima das outras pessoas e fazem com que os outros
fiquem estimulados com o trabalho. Elas definem como primeira dimensão a capacitação,
pois se traduz como palavra-chave para descrever a liderança feminina que,
[...] significa sentir confiança para agir sobre sua própria autoridade. Significa que
seu julgamento é suficientemente respeitado por seus líderes para que eles apóiem
sua decisão. Se você cometer um erro, terá uma oportunidade de aprender algo novo,
sem humilhação ou censura. (ABUDERNE e NAISBITT, 1993. p. 122.)
Os autores esclarecem ainda que a capacitação engloba tanto o líder como o
subordinado. Também alegam que, “Se a capacitação é o primeiro atributo da liderança
feminina, a criação da estrutura organizacional para promovê-la é o segundo.” Aliás, a autora
Sally Helgesen2 (apud ABURDENE; NAISBITT, 1993, p. 124) refere “o quanto as mulheres
líderes menosprezam aquela mais tradicional das estruturas empresariais: a cadeia
hierárquica.” Segundo ela “as líderes femininas gostam de estar no centro das coisas e não no
topo, que consideram uma posição solitária e desconectada.”
Leite (1994), autora da obra Mulheres: Muito Além do Teto de Vidro, escrita após
uma pesquisa com 51 mulheres de destaque, cujo objetivo foi aumentar o conhecimento do
perfil da mulher profissional de sucesso, cita como qualidades do gênero feminino a
objetividade, o detalhismo e a perseverança.
Podemos afirmar ainda que as qualidades que definem o estilo feminino de
administrar não são características exclusivas das mulheres. Tais traços também podem ser
encontrados nos homens. Um exemplo disto é a intuição: não se pode afirmar que não haja
homens intuitivos, mas eles tendem a demonstrar menos habilidades intuitivas porque não
confiam tanto em seus próprios sentimentos como as mulheres. E esta vantagem permite que
as executivas lidem com situações complexas quando têm em mãos menos dados
quantitativos. Outro ponto que valoriza a intuição é que liberta a mente para a criatividade.
Em vez de se basear somente em fatos e dados conhecidos, a pessoa que desenvolve
habilidades intuitivas é capaz de formular caminhos muito mais inovadores.
A intuição vem ganhando força devido à preocupação das empresas com a eficiência
na administração de seu pessoal. Assim, a sensibilidade e intuição femininas trabalham juntas
para fornecer dados úteis sobre a percepção e as atitudes dos funcionários. Elas tornam
possível às executivas estarem sintonizadas com sua equipe, amplificarem o que é apenas

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Americana, escritora especializada em futuro das organizações.
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mencionado e, com freqüência, enxergarem o invisível. A maioria dos executivos tradicionais
sabe pouco sobre intuição, como funciona e como ela pode ser importante no momento de
uma decisão. E com brilhantismo, as mulheres parecem ser capazes de correr até de salto alto
nesse terreno. Elas confiam, mais do que os homens, no estilo intuitivo de gestão.
Considerando também que é impossível não compararmos os estilos de liderança
feminina e masculina, muitos estudos foram feitos visando uma melhor análise destas
comparações. Um destes estudos afirma:
[...] normalmente, nos ambientes que incorporam pela primeira vez uma mulher, a
reação à recém-chegada não é de agressão. Ela é introduzida como raridade, um ser
exótico e sem chances de convivência normal. Essa diferenciação de tratamento é
justificada pelos estereótipos tradicionais masculinos. (CARREIRA, AJAMIL,
MOREIRA, 2001, p. 26).
É normal que, ao ingressarem em cargos antes somente ocupados por homens ou
almejarem-nos, as mulheres tenham encontrado muitos obstáculos. Toda mudança gera medo,
medo do desconhecido, medo de como será a empresa reagirá com esta nova forma de
liderança. Por isso, é importante ressaltar que as líderes femininas constroem sua identidade a
partir das características culturais de seu ambiente profissional, tendo igualmente de fazer essa
dimensão suplementar que constitui o fato de ser mulher em um universo de trabalho antes de
tudo definido e, sobretudo, ocupado por homens.
Peters (1997 p. 108) sustenta que as mulheres são melhores gestoras que os homens.
Melhores em planejamento, estabelecimento de objetivos e acompanhamento. Afirma também
que as mulheres focam-se em conexões e que os homens tendem a pensar em termos de
direitos. Já as mulheres enxergam o mundo em termos de responsabilidades. Os homens
resolvem os problemas com confrontos e as mulheres enfatizam a proteção.
Traçando uma linha entre o passado e o presente, é possível perceber a evolução da
capacidade feminina, deixando visível o poder do conhecimento como mola mestra para
aquisição de novas habilidades. Mas a principal pergunta a ser esclarecida dentro desse
contexto é esta: como as mulheres transformaram e ao mesmo tempo criaram novos conceitos
para que atingissem a excelência em um mundo corporativo competitivo?
A globalização caminha a passos largos rumo a uma sociedade informada e
competitiva. A mulher, por sua vez, acompanha cada um desses passos mostrando a que veio,
conquistando seu espaço e mostrando sua força e papel na quebra de paradigmas arcaicos e
promovendo um novo estilo de liderança. Podemos afirmar ainda que a competência e a
polivalência são os fatores que vêm facilitando sua entrada no mercado de trabalho. E além
das características já citadas, que têm sedimentado essa evolução, o equilíbrio e a intuição
femininas devem ser estudados com muito mais afinco, pois são predicados que têm sido
muito valorizados.

3 Conclusão
Poder-se-ia acreditar que o preconceito quanto à mulher já esteja sendo erradicado
como conceito, mas ainda sobrevivem alguns critérios que exigirão uma revisão dos modelos
organizacionais existentes. E para que o reconhecimento da sociedade corporativa perante o
avanço das mulheres no mercado de trabalho seja cada vez maior, elas deverão ter mais
persistência para a superação da gestão masculina e a mudança deste cenário com a liderança
transformadora que vem surgindo como promessa de hegemonia no universo corporativo.

Referências
ABURDENE, Patrícia e NAISBITT, John, Mega-tendências para as mulheres. Tradução de
Magda Lopes. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993.
CARREIRA, Denise; AJAMIL, Menchu; MOREIRA, Tereza. Mudando o mundo: a
liderança feminina no século XXI. São Paulo: Cortez; Rede Mulher de Educação, 2001.
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LEITE, Christina Laurroudé de Paula. Mulheres: muito além do teto de vidro. São Paulo:
Atlas, 1994.
LOBOS, Júlio. Mulheres que abrem passagem e o que os homens têm a ver com isso. São
Paulo: Instituto da Qualidade, 2002.
PETERS, Tom. Corra. Revista Exame, Rio de Janeiro, n. 18, p. 108-11, ago. 1997.

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