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O Campo Da Sociologia Das Emoções
O Campo Da Sociologia Das Emoções
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C o p y r i g h t © , 2 0 11 d o s a u to re s
C A PA , P R O JE T O G R Á F IC O E P R E P A R A Ç Ã O
Contra Capa
is b n 978-85-7740-091-1
2011
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Sumário
Introdução.
O campo da antropologia das emoções
M A R IA C L A U D IA C O E L H O
C L A U D IA B A R C E L L O S R E Z E N D E
A dimensão emocional:
miiliíi, 1'tnoçilo c felicidade «1
“À flor da pele” :
discursos da emoção
e gênero biográfico
na construção da idolatria
p a tr íc ia c o r a lis
A manifestação de
sentimentos no Santo Daime
LU CAS K A ST R U P FO N SECA REH EN
Notas sobre
a “experiência de quase-morte”:
interpretações e sentidos
R A C H E L A IS E N G A R T M E N E Z E S
Quando as emoções
dão forma às reivindicações
JU S S A R A F R E IR E
Introdução.
O campo da antropologia das emoções
Vimos, com efeito, que se a vida coletiva, quando atinge um certo grau de in
tensidade, desperta o pensamento religioso, é porque determina um estado
de efervescência que muda as condições da atividade psíquica. As energias
vitais são superexcitadas, as paixões ficam mais intensas, as sensações mais
fortes; há algumas inclusive que só se produzem nesse momento (Durkheim,
1996: 466).
. r . i i i 11111.1 iMilli'i. .I.i u|)oni^rto rntre <lcver C uíiMo em Radcliffe Urown c o m o form a oci-
, 1. iil.it . 1. .. 1111 ell 11.11 11 mundo, ver Vivei m i n de ( .e.l 10 e Araújo (1977).
mas sobre a qual, sem destruí-la ou sequer enfraquecê-la, existe a conjunção
social da amistosidade e ajuda-mútua (: 121).
10 I (i U I T U H A M NMNTIMMNTUN
I’ara ela, se o sentimento de vergonha parece estar sempre relacionado aos in
vestimentos que uma pessoa faz em determinada autoimagem, a forma tomada
por essa emoção depende tanto do modo de conceber e lidar com as demandas
ilos indivíduos quanto de cada situação social.
Em sua etnografia sobre os Ifaluk, voltada para a compreensão de suas
vicias emocionais, Lutz assinala a importância, para esse tipo de projeto etno
gráfico, de compreender as categorias nativas ocidentais sobre a experiên-
i i.i emocional, ao que denomina de “etnopsicologia euroamericana”. Para
ria, as representações ocidentais da emoção se organizam em torno de duas
<«posições básicas: emoção versus pensamento, e emoção versus alheamento.
A valoração da emoção, contudo, altera-se em função daquilo com que con-
11 -isla: em oposição ao pensamento, é o polo negativo; diante do alheamento,
Inrna-se o polo positivo.
lúnoção e pensamento compartilhariam um traço importante: são “carac-
lei Isticas internas das pessoas”, sendo vistos como “realidades mais autênticas e
i <mio um lócus do self mais autêntico em comparação com a relativa inauten-
l u idade da fala e de outras formas de interação” (Lutz, 1988:56, nossa tradução).
I v..i oposição apareceria sob diversas roupagens, da ciência ao senso comum,
e se desdobraria em diversas outras, entre as quais “vulnerabilidade/controle”,
■iios/ordem” “físico/mental”, “natural/cultural” e “feminino/masculino”. Con-
Itido, ao se opor ao alheamento, a emoção se revalorizaria como uma forma
II
m i n profunda de compreensão, vizinha da sabedoria, constituindo outras ver-
II írs dessa oposição: “relação/individualismo”, “comprometimento/niilismo” e,
III >\ .1mente, “natural/cultural” e “feminino/masculino”. A dupla possibilidade
tlf conceber a emoção traria consigo uma ambivalência, ligada, segundo a au-
im.i, .1 uma contradição que perpassaria atualmente os Estados Unidos e se
■I n 1.1 "rnire a ênfase na racionalidade, no controle e na ordem, e a promoção
■I" |>1.1/11 c da dor da emoção” (: 59, nossa tradução).
lH | « |l | M I M A I 1 N H N ( I M l> N I O h
quais a Reunião de Antropologia do Mercosul ( r a m ) e a Associação Nacional
dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais ( a n p o c s ) , e a criação
do Núcleo de Antropologia das Emoções na Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, envolvendo alunos da graduação e pós-graduação em torno da
discussão sobre as emoções.
Na produção científica brasileira, Koury (2005) apresenta um esforço
pioneiro de mapeamento do campo no Brasil, discutindo os precursores da
antropologia das emoções no país. Desde o trabalho de pensadores clássicos
como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, as emoções figuram en-
tre as preocupações relacionadas à constituição de uma identidade nacional
brasileira. Koury destaca, mais recentemente, os trabalhos de Roberto Da-
Matta que analisam como as formas de expressão das emoções, entre outros
comportamentos, se ajustam às diferenças entre espaços públicos e privados.
( iilberto Velho e Luiz Fernando Dias Duarte são apontados como figuras de
referência por seus estudos dos modos particulares pelos quais as emoções
■•ao expressas nas camadas médias e populares, mostrando como a tensão
i'11 Ire indivíduo e sociedade perpassa distintamente cada um desses contextos
.<)ciais. Os próprios trabalhos de Koury sobre o luto e o medo nas cidades são
contribuições importantes para o campo da antropologia das emoções.
Os trabalhos das organizadoras desta coletânea também integram os es-
lorços de construção da antropologia das emoções como uma área autôno
ma de investigação. Claudia Barcellos Rezende estudou o tema da amizade,
ao adotar uma perspectiva comparativa entre os universos londrino e carioca
( M)02a, 2002b), e ressaltar a relação entre amizade, emoção e hierarquia.
I 111 pesquisa recente, analisou a elaboração subjetiva da identidade brasilei-
II entre professores universitários que estudaram no exterior, destacando
I.into o aspecto emotivo presente nessa construção identitária quanto emo-
1111". ligadas à experiência de ser estrangeiro (Rezende, 2009). Maria Claudia
1 oelho vem explorando a temática das emoções desde seus estudos sobre
idolatria, em que trabalhou a relação entre amor e fascínio na experiência
■I" Ia (( oclho, 1996,1999). Em sua pesquisa sobre a dádiva no universo das
1 11 u.idas médias cariocas, a emoção foi abordada à luz de duas perspectivas: a
i> ir.,10 entre obrigatoriedade e espontaneidade, e a capacidade micropolítica
da', emoções engendradas pelas trocas materiais de dramatizar a natureza
da relação entre doador e receptor (Coelho, 2006a). Mais recentemente, tem
Invi ii)',.ulo a relaçao entre emoção e violência, com foco em relatos de expe-
II. 111 i,e. de vilinii/açào em assaltos a residências (Coelho, 2006b, 2009).
( trabalhos aqui reunidos visam dar continuidade a tal esforço de re-
11• não Nobie 1 emoçilo como objelo de esludo socioanlropológico. Com base
in m u B t i u À u 1 tu
em temáticas variadas, apresentadas a seguir, os autores tomam os sentimen
tos ora como foco de análise, ora como recorte analítico pelo qual discutem
outras questões. Em todos os casos, privilegia-se o exame atento das emoções
como elemento fundamental das dinâmicas sociais.
Sonia Maria Giacomini apresenta resultados de etnografia realizada no
Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, conhecido popularmente
como “Feira de São Cristóvão”, local em que pessoas originárias do Nordeste
encontram-se aos domingos para “consumir” produtos variados dessa região
do país, entre os quais a música. A autora concentra sua análise nas barracas
de música “brega”, enfocando as letras das canções e os comentários sobre
esse gênero musical feitos por seus adeptos. O “brega” surge como um gêne
ro cuja temática recorrente é a infelicidade amorosa. Expectativas frustradas,
abandono e traição são narrados sempre de forma incontida ou, nos termos
da autora, “transbordante”. O personagem principal, contudo, é sempre um
homem, seja ele o cantor ou o personagem da letra, que é alguém que sofre.
Por outro lado, quem “consome” o brega são mulheres, muitas vezes idosas
e desacompanhadas. Essa forma particular de articular gênero e emoção, em
que mulheres “consomem” narrativas de homens falando sobre suas dores
na experiência amorosa de forma incontida, torna o estudo do caso da músi
ca “brega” de enorme relevância para o campo da antropologia das emoções,
uma vez que realiza um duplo rompimento com a forma “euroamericana” de
conexão entre ambos, tal como descrita por Lutz: aqui, a emoção é masculi
na e descontrolada, sendo este, aparentemente, o maior atrativo desse estilo
musical para as mulheres que o “consomem”.
Luiz Fernando Rojo também discute a articulação entre gênero e emoção
em sua análise comparativa do hipismo no Rio de Janeiro e em Montevidéu.
Rojo elegeu o hipismo, porque, ao contrário de outras modalidades esportivas,
homens e mulheres disputam as mesmas competições. Assim, é possível ob
servar associações entre esporte, gênero e emoção distintas de alguns discursos
midiáticos, como aqueles sobre a falta de equilíbrio emocional das jogadoras
brasileiras de futebol nas Olimpíadas de Atenas. No hipismo, Rojo argumen
ta que, à primeira vista, tais articulações não aparecem: homens e mulheres
competiriam de forma igual e o controle emocional via o domínio da técnica
seria comum a ambos. No entanto, é na relação com o cavalo que as dife
renças de gênero relacionadas à emoção são reinseridas. As mulheres teriam
maior “sensibilidade” para lidar com o animal, enquanto os homens
teriam mais “coragem” para enfrentar obstáculos. Tais percepções ganham
ênfases e valorações distintas no Rio de Janeiro e em Montevidéu, sugerindo
uma diversidade de construções de gênero articuladas às relações de poder
particulares a cada um dos contextos. Com atenção aos discursos apresen
tados - não apenas às falas, mas também a práticas como o uso do chicote
a análise de Rojo exemplifica, de forma significativa, a abordagem contextua
lista das emoções discutida acima, revelando como os elementos emotivos no
hipismo desvendam a micropolítica das relações de gênero no esporte.
Verônica Rocha também discute a relação entre emoção e prática espor
tiva, destacando a questão do risco no esporte radical basejump. Como moda
lidade caracterizada pelo salto com pára-quedas de estruturas fixas, a tensão
entre a vida e a morte perpassa a experiência objetiva e subjetiva dos prati-
i antes, e põe em questão não apenas o domínio do medo e a superação de si,
como também os sentidos da vida. Ao tomar a discussão de Mary Douglas
sobre a noção de risco como uma construção cultural que se relaciona com
tis normas de cada sociedade, Rocha enfatiza que as percepções de risco se
tornam marcadas por juízos de valor. Nas sociedades ocidentais moder-
ii.is, o risco é tido como fruto da responsabilidade individual e associado a
m ias experiências emocionais, em contraposição à ideia de uma socieda
de que produz a segurança como bem social. Para os base jumpers, a escolha
i !<i esporte demonstra uma visão do risco como experiência positiva de vida.
Às emoções vivenciadas, relacionadas a cada etapa do salto - o medo antes de
uill.ir, o êxtase durante a queda livre e a alegria e a gratidão ao pousar pro
movem uma sensação de superação da morte não apenas natural, mas também
imbolica, associada ao tédio de uma vida monótona. Assim, o trabalho de Ro-
i li.i .1rticula a vivência das emoções à construção da subjetividade - em seu caso,
Imiilnda nos ideais românticos de intensidade emocional - e contribui para a
lompi eensão da experiência do risco nas sociedades ocidentais modernas.
<ieraldo Condé aborda as representações da felicidade no tipo de discurso
mkllritico que chama de “imprensa conselheira”. Seu texto se ancora numa
rtlinid.igem antropológica da comunicação de massa, que entende serem os
|Módulos midiáticos um vastíssimo sistema simbólico em que é possível ler
ti piesenlações e valores das sociedades que os produzem. Tendo como obje
to de .m.iIise a revista Vida Simples, o autor examina vinte matérias de capa
■ mo .ii.i ,i recorrência da preocupação com a “felicidade”, sugerindo ser tal
.... .... Mnç.i do discurso sobre a felicidade uma espécie de “contraponto” a
o1111 o iein.i que permeia um segundo campo discursivo sobre a modernida-
•li r, leoi iüs d.is ciências sociais c humanas, com sua ênfase no “mal-estar”
•111• i-.soliii i.i o sujeito contemporâneo. A concepção de felicidade expressa
Mi n vr.l.i .iiiiilisiidii articula uma dimensão material —associada a conforto
■ .1 r111 11ii,.i ,i otili.i em oiion.il, O loco de sua análise está nessa dimensão
loiiiil Minlo Irísos r.pei los 11 .il.ulos: o rei urso ,i outras emoções como
forma de configurar a “felicidade” ; a idealização de um estado de “equilí
brio”; e a busca de uma “pacificação” de conflitos e tensões como forma de
alcançar a felicidade. Nesse sentido, o texto traz nova contribuição para a
percepção da centralidade do tema do “controle” como ideal a ser alcançado
pelo indivíduo moderno no plano emocional.
Patricia Coralis analisa o “consumo” de relatos biográficos sobre a can
tora e atriz norte-americana Judy Garland por uma comunidade virtual de
fãs brasileiros, examinando como os elementos recorrentes nesses relatos são
ressignificados por estes num processo de elaboração de suas identidades.
A autora analisa o modo como a artista é mitificada em tais relatos midiá-
ticos, à luz do exame de como sua obra e sua vida se entrelaçam, residindo
aí seu maior poder de atração sobre os fãs. A mescla entre a admiração e o
sentimento amoroso é o ponto-chave da análise, que se desdobra em dois
níveis: a emoção percebida pelos fãs na obra e na vida pessoal de Judy Gar
land, cujo fascínio se daria justamente por sua natureza incontida, excessiva,
e suas próprias reações emocionais à artista, em que a valoração do incontido
é substituída pela ênfase no controle como argumento em favor da legitimi
dade da adoração, trabalhando desse modo em prol de uma “positivação” da
experiência de fã. O texto de Coralis compartilha assim com o trabalho de
Condé, na análise de dois fenômenos midiáticos distintos, a atenção volta
da para o “controle” como eixo de investigação das experiências emocionais
contemporâneas.
Lucas Rehen examina as emoções presentes na experiência religiosa do
Santo Daime, tendo como objeto de análise os hinos cantados durante as
suas cerimônias. Rehen trabalha com base na distinção entre os sentimentos
considerados “nobres” - o amor e a alegria, entre outros - e aqueles tidos
como “pouco nobres” - por exemplo, a inveja e o rancor - , mostrando de que
maneira eles se relacionam a uma classificação dos seres espirituais. Nesse
universo, as emoções presentes na experiência e no pertencimento religioso
são entendidas como uma medida do desenvolvimento espiritual do adep
to, em que a vivência das emoções “elevadas” atesta maior proximidade dos
“seres de luz”. O autor mostra de que modo essas emoções apresentam a ca
pacidade micropolítica de que falam Lutz e Abu-Lughod, e atuam na demar
cação da hierarquia por meio da ocupação dos espaços físicos nas cerimônias.
Seu artigo traz ainda importante contribuição para o estudo antropológico
das emoções, ao descrever uma etnopsicologia de inspiração religiosa que
“inverte” a valoração da oposição clássica descrita por Lutz entre sentimento
e pensamento, uma vez que, na doutrina daimista, o sentimento “domina” c
o ideal se realiza na “anulação” do pensamento.
Discutindo igualmente percepções religiosas, Rachel Aisengart Menezes
analisa as representações e as emoções associadas à experiência de quase-
morte ( e q m ) , como constitutivas do ideário que compõe os Cuidados Palia
tivos no atendimento de doentes terminais. Menezes observa, na literatura
sobre a e q m em sociedades ocidentais modernas, a recorrência da crença na
vida após a morte e da ideia de uma transformação individual acarretada por
essa experiência. Tal concepção contrasta com o modo como, nessas socieda
des, a morte passou a ser vista como fonte de sofrimento insuportável, levan
do ao embaraço em lidar com doentes terminais. Em decorrência disso, as
lécnicas dos Cuidados Paliativos visam principalmente pacificar os temores
tia morte. Buscam contrapor o desamparo e o receio do desconhecido e da
morte à ênfase na manutenção da identidade individual, ao reencontro com
entes queridos e ao englobamento pelo amor incondicional dos seres divinos.
Assim, a proposta dos Cuidados Paliativos, amparada em ideias sobre e q m ,
pretende propiciar aos doentes uma “boa morte”. Ao mesmo tempo, tais cui
dados, de maneira paradoxal, acabam por negar emocionalmente a própria
morte, que passa a ser entendida como uma passagem para outra esfera. Com
essa análise, Menezes mostra como as emoções em torno da morte revelam
Ittrmas de compreensão de significados culturalmente específicos sobre a
pessoa e a vida. Com o controle das emoções consideradas problemáticas,
■miio a revolta e a raiva, os Cuidados Paliativos buscam, em sua tentativa de
p.u ilicar a morte, produzir um modo de lidar com a incerteza da existência
■ .1 li agilidade humana.
I ',m seguida, Jussara Freire analisa a experiência de mães de vítimas de
\ inléncia policial. Recorrendo, como ferramenta metodológica, à formação
»lr "t oletivos de confiança” - grupos focais cuja formação é precedida pelo
■li .envolvimento de uma relação de confiança com a pesquisadora, consi-
■lei ada essencial, devido à delicadeza dos temas tratados - , a autora examina
ii m.ilivas de mães a respeito das circunstâncias em que seus filhos foram
nii Mios e de suas tentativas de obter justiça. Sua análise tem como eixo fun-
ditmeutal a percepção de que a emoção - em particular, a dor e o sofrimento -
tu up.i muitas vezes o lugar da palavra, exercendo uma função discursiva, em
• i de ser algo sobre o qual se fala. Ao mesmo tempo, a emoção presente nas
ativas dessas mães surge como uma estratégia de reivindicação de justiça
■ sei ve tomo via de acesso para a entrada num espaço público. A reflexão
iilm as ielaçOes entre uma experiência emocional não articulada discursi-
mienle e .1 itmsl 1 iiçilo de uma forma de reivindicação política num espaço
pultllto ton11111111 paia a iluminaçao tio argumento central acima exposto:
1 p. 1 U11(111 Ia de la/et da em oção um objeto tia antropologia, qual seja, sua
capacidade de servir como via de acesso para a análise de temas canônicos e
urgentes da agenda política, entre os quais a violência policial.
Por fim, Rodrigo Rosistolato discute outro tema significativo da agenda
política: a educação sexual oferecida nas escolas como forma de prevenção
à a i d s , a outras doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez. Com foco
no programa de orientação sexual voltado para a formação de professores
no Rio de Janeiro, Rosistolato mostra como este se baseia em duas lógicas
complementares: a da racionalidade médica, que fornece aos estudantes os
saberes tidos como necessários, e a da afetividade, que busca produzir nes
tes um “aprendizado no emocional” das questões em torno da sexualidade.
Os-professores acreditam que é preciso educar o emocional para que os alu
nos modifiquem seu comportamento e evitem os riscos do sexo sem proteção.
Para tanto, o programa de orientação sexual oferece uma série de dinâmicas
nas quais os professores que participam devem “soltar” suas emoções como
técnica de construção do grupo de orientadores sexuais. A necessidade de
estar em grupo parte de críticas a uma vida individualizada que levaria à tris
teza e à racionalidade dos métodos educacionais tradicionais, em detrimento
de uma lógica pautada na cordialidade e no afeto. Desse modo, as emoções
tornam-se alvo primordial de elaboração e expressão seja pelos professores
em formação, seja pelos alunos a serem orientados nas aulas de educação
sexual. Em outras palavras, o estudo de Rosistolato discute um marco fun
damental do pensamento ocidental moderno, a dualidade razão e emoção,
mostrando que, em alguns contextos, questiona-se a preeminência dada ao
racional e problematiza-se a associação entre razão e saber/cognição.
Temos, pois, um conjunto de estudos que mostram as emoções em ar
ticulação com aspectos variados da vida social: relações de gênero, esporte,
mídia, artes, religião, educação e política. Ultrapassando em muito a visão
corriqueira de que os sentimentos pertenceriam à esfera do privado e das
relações pessoais, esses estudos revelam que as emoções podem ser recur
sos importantes de contestação no espaço público tanto na criação de novas
formas terapêuticas quanto na reivindicação de justiça social ou na busca de
novas pedagogias. Ademais, as emoções são discutidas em termos de seus
efeitos micropolíticos nas relações de gênero manifestas em práticas espor
tivas e religiosas. Embora os artigos se baseiem principalmente na sociedade
brasileira, aparece em todos a temática do controle das emoções, questão
cara à modernidade ocidental de forma mais ampla. Nesse sentido, esta co
letânea pretende contribuir para o exame das variadas formas de construção
da subjetividade, de modo articulado às questões macrossociais e por meio
do instrumental apresentado pela antropologia das emoçor,
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