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ANAIS DA XVII JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE KIERKEGAARD

© 2021, Editora LiberArs Ltda.

Direitos de edição reservados à


Editora LiberArs Ltda

ISBN 978-85-5953-065-6

Editores
Fransmar Costa Lima
Lauro Fabiano de Souza Carvalho

Revisão técnica
Cesar Lima

Capa
Fabio Costa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP

K47 Kierkegaard, contemporâneo / organizado por Gabriel Ferreira, Natalia


Mendes, Clóvis Gedrat, Victor M. Fernandes - São Paulo : Liber Ars, 2021.
46 p. : PDF ; 0,7MB. – (Anais da XVII Jornada Internacional de
Estudos
de Kierkegaard)

Inclui índice e bibliografia.


ISBN: 978-65-5953-065-6 (Ebook)

1. Filosofia. 2. Existencialismo. 3. Kierkegaard, Soren, 1813-1855. I. Ferreira,


Gabriel. II. Mendes, Natalia. III. Gedrat, Clóvis. IV. Fernandes, Victor M. V.
Título.

CDD 142.78
CDU 141.32

Todos os direitos reservados. A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio,
das páginas que compõem este livro, para uso não individual, mesmo para fins didáticos,
sem autorização escrita do editor, é ilícita e constitui uma contrafação danosa à cultura.
Foi feito o depósito legal.

Editora LiberArs Ltda


www.liberars.com.br
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SUMÁRIO

SALA 01 – DIA 24

A CATEGORIA DA REPETIÇÃO: ABERTURA DA INTERIORIDADE ATRAVÉS


DO MOVIMENTO PARADOXAL DA FÉ NO PENSAMENTO DE KIERKEGAARD
Arthur Henrique Vieira de Albuquerque ...........................................................................9

GJENTAGELSEN COMO AUTENTICIDADE NA VIDA SEGUNDO KIERKEGAARD


Clóvis Vitor Gedrat ................................................................................................................... 10

REPETIÇÃO EM DIALÉTICA COM ARISTÓTELES E HEGEL


Carlos Eduardo Cavalcanti Alves ........................................................................................ 11

REPETIÇÃO E MOMENTO – A CONTRIBUIÇÃO DE KIERKEGAARD A UMA


CRÍTICA DA VIDA COTIDIANA
Hermes da Fonseca .................................................................................................................. 12

A LINGUAGEM DO SILÊNCIO EM TEMOR E TREMOR


Franklin Roosevelt Martins de Castro .............................................................................. 13

RELIGIOSIDADE E SUBJETIVIDADE NA OBRA TEMOR E TREMOR


Leosir Santin Massarollo Junior .......................................................................................... 14

SALA 02 – DIA 24

A IRONIA E O ENSINO: CONSIDERAÇÕES PARA


UMA POSSÍVEL PEDAGOGIA ENTRE KIERKEGAARD E VYGOTSKY
Luiz Eduardo Belfort Gomes de Mattos ........................................................................... 15
INDIVIDUALIDADE, ANARQUIA E IRONIA:
UMA LEITURA POLÍTICA DE KIERKEGAARD PARA OS DIAS ATUAIS
Nahor Lopes de Souza Junior ............................................................................................... 16

IRONIA E VERDADE: UMA LEITURA DOS ASPECTOS


PARADOXAIS DA APOLOGIA DE SÓCRATES (35E1)
Diego Dantas ............................................................................................................................... 17

IRONIA E IRÔNICO: A CRÍTICA DE KIERKEGAARD


À IRONIA DA MODERNIDADE
Renato Alexandre Laurentino da Silva............................................................................. 18

KIERKEGAARD: RELAÇÕES ENTRE IRONIA NEGATIVA


E O CINEMA DE SÉRGIO BIANCHI.
Douglas Gasparin Arruda....................................................................................................... 19

A INSPIRAÇÃO KIERKEGAARDIANA NOS CADERNOS VAN DER LUBBE,


DE ERNANI REICHMANN
Gilvani Alves de Araujo ........................................................................................................... 20

SALA 01 – DIA 25

A DOENÇA PARA A MORTE E A MORTE DE IVAN ILITCH: UMA


CONCEITUAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO DESESPERO HUMANO COM
KIERKEGAARD E LIEV TOLSTÓI
Carmélia Teixeira de Sousa ................................................................................................... 21

UMA VIDA DESESPERADA: A DOENÇA PARA A MORTE EM A MORTE DE


IVAN ILITCH DE LIEV TOLSTOI
Argos Farias Melo ..................................................................................................................... 22

DA QUEDA À RESSUREIÇÃO: O PROBLEMA DO MAL SEGUNDO


DOSTOIÉVSKI E KIERKEGAARD
Carlos Eduardo Varella Pinheiro Motta ........................................................................... 23
AS DIMENSÕES DA EXISTÊNCIA NO PENSAMENTO
DE SØREN KIERKEGARD E ALBERT CAMUS
Tales Macêdo da Silva
Alberto Luiz Silva de Oliveira............................................................................................... 24

EM BUSCA DA UNIDADE POR MARCEL PROUST E SØREN KIERKEGAARD


Manoela Caroline Navas ......................................................................................................... 25

UMA QUESTÃO DE ESTILO: PSEUDONÍMIA E COMUNICAÇÃO INDIRETA NA


OBRA KIERKEGAARDIANA
Gabriel Ferri Bichir................................................................................................................... 26

SALA 02 – DIA 25

A CLÍNICA PSICOLÓGICA COMO POSSIBILIDADE: UMA INSPIRAÇÃO


KIERKEGAARDIANA
Maitê Sartori Vieira .................................................................................................................. 27

CONTRIBUIÇÕES DE UMA PSICOTERAPIA DE INSPIRAÇÃO


KIERKEGAARDIANA FRENTE AO QUADRO DA CULTURA CONTEMPORÂNEA
Sanmey Silva Santos................................................................................................................. 28

A DOENÇA ATÉ A MORTE DE ELLEN WEST: A COMPREENSÃO EXISTENCIAL


DA ESQUIZOFRENIA POR BINSWANGER E A DÍVIDA COM KIERKEGAARD
Carlos Campelo da Silva ......................................................................................................... 29

CRÍTICA E EXISTÊNCIA NA MODERNIDADE: UM DIÁLOGO ENTRE PASCAL E


KIERKEGAARD
Geovani Santos Godoy............................................................................................................. 30

APROXIMAÇÕES ESTILÍSTICAS ENTRE KIERKEGAARD E NIETZSCHE


Leonardo Araújo Oliveira ...................................................................................................... 31
OS LIMITES DA NATURVIDENSKAB E A
EXPERIMENTERENDE PSYKOLOGI DE KIERKEGAARD
Natalia Mendes Teixeira......................................................................................................... 32

SALA 01 – DIA 26

PEQUENAS APROXIMAÇÕES PSICOLÓGICAS DA OBRA MATRIMÔNIO DE


KIERKEGAARD E A TEOLOGIA DO CORPO DE WOJTYLA
Maria Célia dos Reis Silva ...................................................................................................... 33

FÉ, AMOR E ESPERANÇA EM AS OBRAS DO AMOR


Presley Henrique Martins...................................................................................................... 34

EDUCAÇÃO E RELIGIOSIDADE POPULAR: CONTRIBUIÇÃO DO ESTÁGIO


ÉTICO DA VIDA EM KIERKEGAARD PARA O ENSINO RELIGIOSO ESCOLAR
Jhauber Luiz Moreira da Silva .............................................................................................. 35

A BASE FILOSÓFICA DE KIERKEGAARD PARA A SUA CRÍTICA


À LÓGICA HEGELIANA NO PÓS-ESCRITO (1846)
Victor Manoel Fernandes....................................................................................................... 36

O PARADIGMA DO CONHECIMENTO: O SER, ESTAR


E EXISTIR EM KIERKEGAARD
Rafael Da Silva Dos Santos .................................................................................................... 37

A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO ÉTICO EM KIERKEGAARD


Carolline de Souza Botelho ................................................................................................... 38

SALA 02 – DIA 26

A ATUALIDADE DAS CRÍTICAS DE KIERKEGAARD


ÀS AUTORIDADES RELIGIOSAS EM “O INSTANTE”
José da Cruz Lopes Marques ................................................................................................. 39
A FILOSOFIA ANTIPROGRESSISTA EM KIERKEGAARD
Jeremias Moraes do Nascimento ........................................................................................ 40

ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A NOÇÃO DE ESPÍRITO SANTO,


EM ZIZEK, E O SER CRISTÃO COMO TAREFA, EM KIERKEGAARD
Matheus Vieira Silva................................................................................................................. 41

ASSISTIR E SER ASSISTIDA: VIAS E LIMITES DE UMA ESTÉTICA


EXISTENCIAL, UM PERCURSO POR ESCRITOS DE SØREN KIERKEGAARD
Deise Abreu Pacheco ............................................................................................................... 42

A FUNÇÃO DO TÉDIO NA EXISTÊNCIA


Thiago Costa Faria .................................................................................................................... 43

TORNAR-SE CONTEMPORÂNEO DA FILOSOFIA: O CONCEITO DE


CONTEMPORANEIDADE (SAMTIDIGHED) EM KIERKEGAARD
Marcos Érico de Araújo Silva ............................................................................................... 44
A CATEGORIA DA REPETIÇÃO:
ABERTURA DA INTERIORIDADE ATRAVÉS DO
MOVIMENTO PARADOXAL DA FÉ NO
PENSAMENTO DE KIERKEGAARD

Arthur Henrique Vieira de Albuquerque

RESUMO: Dentre os conceitos presentes na obra de Kierkegaard, a categoria


da repetição ocupa o lugar daqueles que denotam certa dificuldade de
compreensão. Isso se deve ao caráter muitas vezes metafórico do pensamento
kierkegaardiano. Contudo, se nos atentarmos para seu intuito, veremos que a
dificuldade refere-se a consequência de uma filosofia que busca travar diálogo
com a existência e, portanto, insiste em pensar aquilo que diz respeito ao
âmbito paradoxal do próprio existir. Deve-se, devido a isso, considerar uma
leitura detalhada de suas principais obras, a fim de buscar chaves de
interpretação cruciais para uma melhor compreensão de sua proposta ao
pensar a categoria mencionada. Aqui, referimo-nos, principalmente, as obras
“A Repetição” e “Temor e Tremor” que, não à toa, foram publicadas,
concomitantemente, no mesmo ano, a saber, 1843. Através delas, Kierkegaard
expôs os exemplos de Abraão e Jó como casos metafóricos de uma legítima
vivência da repetição. Dito isso, a proposta desta apresentação é tentar
reconstruir o significado que Kierkegaard intentou expressar com a categoria
da repetição através dessas duas narrativas bíblicas, tendo em vista a
temática da fé como abertura da interioridade para uma dimensão
inabarcável pela especulação filosófica, pois diz respeito a uma experiência
existencial que põe o indivíduo perante o divino. Nesse momento, o eu
mergulha em uma dimensão paradoxal do existir, dado que não é capaz de
compreender a natureza dessa experiência. A repetição apresenta-se, nesse
processo, como um movimento de reconquista da própria existência a partir
do salto da fé que ocorre através de uma intricada relação de perdas e ganhos:
o eu perde-se em função do absurdo, mas recebe-se novamente após um
movimento em uma existência plena de significado.
GJENTAGELSEN COMO AUTENTICIDADE NA VIDA
SEGUNDO KIERKEGAARD

Clóvis Vitor Gedrat

RESUMO: A partir do conceito de Gjentagelsen, desenvolvido por Constantin


Constantinus demonstra que um indivíduo compreendeu corretamente o
eterno a partir da interioridade e seriedade. Necessário, no entanto, é definir
o termo Gjentagelsen em relação a Fordoblelse e Reduplikation. A partir dessa
conceituação a diferença do resultado é apresentado, concretamente, na vida
do indivíduo conforme atesta Constantin Constantius: “Repetition and
recollection are the same movement, except in opposite directions, for what
is recollected has been, is repeated backward, whereas genuine repetition is
recollected forward”, em a Repetição. A partir dessa compreensão, para o
autor, o indivíduo vive e convive em autêntica expressão de vida.
REPETIÇÃO EM DIALÉTICA COM
ARISTÓTELES E HEGEL

Carlos Eduardo Cavalcanti Alves

RESUMO: Na obra A repetição, o conceito de repetição é apresentado em sua


negatividade. A conclusão de que a esfera religiosa da vida seria, de fato, o
âmbito de ocorrência da repetição não explicita como se daria a presença de
tal fenômeno, apenas declara que deveria ocorrer, nas palavras do
pseudônimo Constantin Constantius, pela irrupção do religioso. Estética,
ironia e recordação, na experiência desse autor, assim como poética,
melancolia e culpa, no drama do jovem personagem, foram insuficientes para
elucidar o problema. Constantius conclui também que seria improdutivo
recorrer à filosofia, cujo escopo limita-se à reflexão sobre questões da
imanência, tais como a essencialidade do mundo exterior e as relações
estabelecidas com ele pela razão, com as quais o próprio pseudônimo
ocupara-se. Na opinião do pseudônimo, o jovem faz bem ao se voltar a Jó,
personagem bíblico cuja saga em busca de respostas sobre o próprio
sofrimento poderia auxiliar na compreensão de como resolver seus dilemas
interiores, oriundos de sua idealização poética do amor. Entretanto, a
apropriação da epopeia bíblica pelo jovem mostra-se indevida, pois a trata
esteticamente através de um pensamento religioso incipiente: conquanto
mais interiorizado que Constantius, a exemplo dele volta-se à exterioridade
das relações de subjetividade estabelecidas com a realidade. A repetição não
fora identificada na existência em ambos os casos. Com o objetivo de
estabelecer bases para a compreensão da dialética que envolve a repetição,
serão apresentados aspectos de sua relação com a filosofia de Aristóteles e
Hegel. A análise dessas linhas de pensamento, em seu confronto com o
conceito em questão, permite concluir que a repetição baseia-se na
interioridade do indivíduo e afirma o temporal e o eterno, em uma dialética
que remete à transcendência enquanto relação existencial-religiosa.
REPETIÇÃO E MOMENTO – A CONTRIBUIÇÃO
DE KIERKEGAARD A UMA CRÍTICA
DA VIDA COTIDIANA

Hermes da Fonseca

RESUMO: No primeiro volume de sua Crítica da vida cotidiana (1947), Henri


Lefebvre destacou o fato de ter Søren Kierkegaard esmiuçado o conflito entre
a vida cotidiana como ela é e a vida que reivindica o ser humano. A obra
kierkegaardiana constitui, segundo Lefebvre, “uma implacável crítica da vida
burguesa: a insatisfação, a asfixia, obrigam o indivíduo que se sente morrendo
sem haver vivido a reivindicar a ‘repetição’ da vida que ele não teve.”
Duvidoso de uma razão que não poderia lhe proporcionar outra vida, mas que
parece aprovar e justificar essa necessidade, Kierkegaard, aduz Lefebvre,
deixa de esperar pelo além e se contenta em exigir a “repetição”, o recomeçar
dessa vida. Se o protesto de Kierkegaard contra o “sistema” (hegeliano)
convergia com a posição anti-sistema de Lefebvre, Hegel era também o ponto
de cisão pela qual dinamarquês era reduzido à “pior metafísica”. Embora
contraponha a existência à essência, a obra kierkegaardiana, na avaliação de
Lefebvre, se retirada de seu isolamento e disposta no conjunto dos problemas
humanos de nossa época, situada e compreendida em uma crítica geral da
vida cotidiana, alcança um “sentido revolucionário”. Ao delinear como núcleo
da crítica da vida cotidiana o fato de que a maior parte das pessoas não sabe
bem como vive ou sabe mal, recolocando o impasse kierkegaardiano entre a
vida dada e a vida almejada, Lefebvre concebe a vida cotidiana como
mediação entre natureza e cultura, entre a vida privada e o político, o dado e
o possível etc. Lefebvre tomou a noção kierkegaardiana de repetição,
reelaborando-a sob a perspectiva de mediação, para desenvolver, no interior
da crítica, uma teoria dos momentos. Ao se dedicar a refinar o conceito de
repetição, definiu o momento como uma forma superior de repetição e de
geração das potencialidades não realizadas do passado. Propõe-se, portanto,
delinear as determinantes fundamentais do conceito kierkegaardiano de
repetição na definição de momento apresentada por Lefebvre.
A LINGUAGEM DO SILÊNCIO
EM TEMOR E TREMOR

Franklin Roosevelt Martins de Castro

RESUMO: O escopo do trabalho é compreender a discursividade do


pseudônimo Johannes de Silentio sua lírica dialética, Temor e Tremor,
elogiando Abrão como o cavaleiro da fé. No último capítulo Silentio interroga
“Pode moralmente justificar-se o silêncio de Abraão perante Sara, Eliezer e
Isaac?” como uma tentativa de perceber as relações entre o silêncio e a
palavra. Embora tenha o cavaleiro da fé vivenciado o paradoxo do silêncio, no
último instante não permaneceu calado, mas falou uma língua estranha que
ao mesmo tempo não dizia nada. Com isto adiantamos em constatar que o
silêncio não encerra a última atitude, porque é preciso refazer o caminho de
descida do monte, é importante retornar para a convivência da linguagem, se
voltar novamente para a palavra e os outros, porque se estabeleceu a relação
com aquele totalmente outro. Se foi possível defrontar-se com a diferença
absoluta que transcende a identidade da imanência, este mundo da
semelhança já não é tão paradoxal e distante, parece que a experiência da
mais alta das paixões torna o mundo humano mais compreensível e amoroso.
Esta definição coloca novamente as tensões do paradoxo, entre o interior e o
exterior. Não se pode ficar apenas na possibilidade e nem tampouco no
estético. Desse modo, o Indivíduo se constitui como relação dialética e
paradoxal. Sob as categorias da linguagem trazidas por Silentio, isto significa
dizer que a palavra está para o geral e a o silêncio para o oculto. Ou seja,
Abraão a fim de manifestar o paradoxo tem de falar e ao mesmo tempo
esconder. Qual é a discursividade do silêncio em Temor e Tremor? Esta é a
indagação que norteia esta proposta interpretativa.
RELIGIOSIDADE E SUBJETIVIDADE NA OBRA
TEMOR E TREMOR

Leosir Santin Massarollo Junior

RESUMO: A proposta do presente trabalho é aprofundar a análise da


subjetividade e da religiosidade na obra Temor e tremor (1843), de
Kierkegaard. A compreensão da relação entre subjetividade e religiosidade
esclarecerá o conceito kierkegaardiano de selv, categoria por excelência,
portanto, de compreensão necessária para que nossa investigação prospere.
A ordem divina, o holocausto exigido, o sofrimento enredado, a solidão, a
angústia e o desespero que envolviam Abraão e, por fim, o reconhecimento de
Deus e a recompensa eterna condensam num só caso alguns dos principais
conceitos a serem analisados. Na gesta de Abraão, o singular enquanto
singular encontra-se em relação absoluta com o absoluto. Os fios condutores
que perpassam a tessitura do texto são: o indivíduo e o paradoxo. São pontos
culminantes de sentido ascendente, expressões máximas da subjetividade e
da religiosidade, respectivamente. Cabe, portanto, a pergunta: o que é o
paradoxo? Qual é a sua relação com o selv? Ao procurar nortear as concepções
obtidas em nossas análises pelas noções de subjetividade e religiosidade, o
texto procura conservar elementos que representam categorias distintas da
filosofia kierkegaardiana. A análise inicia-se com a ordem divina e é a partir
dela que Kierkegaard reflete sobre os conceitos expostos e sobre a faina do
patriarca hebreu. O evento do sacrifício, caótico no mais alto grau, conduz
Abraão à sua direção derradeira. A escolha do campo que serve de fundo à
abordagem da questão da subjetividade e da religiosidade, a saber, a obra
Temor e tremor, ocorreu devido a sua conjunção temática que encaminha o
leitor diretamente aos conceitos fulcrais da filosofia kierkegaardiana.
Subjetividade e religiosidade atuam sobre a existência e comunicam-se por
meio da existência. Logo, por trás de uma análise objetiva há uma
subjetividade fatigada. Por isso, os desdobramentos da existência devem ser
analisados sob as perspectivas da existência.
A IRONIA E O ENSINO: CONSIDERAÇÕES PARA
UMA POSSÍVEL PEDAGOGIA ENTRE
KIERKEGAARD E VYGOTSKY

Luiz Eduardo Belfort Gomes de Mattos

RESUMO: Gradativamente, a educação, juntamente com novas tecnologias da


informação, viabiliza um substancial aumento do ensino, capacitando a
discussão de temáticas mais rebuscadas, bem como a necessidade de se
aprimorar não apenas os meios de conhecimento, mas também os
instrumentos cognitivos dos discentes para perceberem criticamente o
conhecimento. É justamente nestes aspectos que o presente trabalho busca,
através de leituras acerca de pensadores como Søren Aabye Kierkegard e Lev
Semionovitch Vigotski, buscar pontos em comum entre estes, de modo a
possibilitar possíveis pedagogias envolvendo aspectos comuns e
complementares entre ambos os autores. A priori, a educação para
Kierkegaard, assim como para Sócrates – em determinados elementos; é
semelhante em aspectos com a de Vygotsky, visto que tais interlocutores
percebem com ênfase as capacidades autônomas do indivíduo na busca pelo
conhecimento, através da natural capacidade de autocrítica do ser humano.
Especificamente, Kierkegaard, assim como Sócrates, entende o percurso do
conhecimento – através da dialética; pelo ponto de partida do não
conhecimento de um dos interlocutores, para assim se começar o diálogo e
possibilitar o uso da ironia – ou dissimulação; para adotar argumentos e
ideias do interlocutor, para assim futuramente confutando a narrativa
proposta, acarretando na maiêutica e reexame de alma do indivíduo. Ainda
que distante, inicialmente, a metodologia de Vygotsky assimila alguns
aspectos da maiêutica e dialética socrática, onde estas se mostram como
possibilidade para formas de mediação, esta que, como demonstrada por
Vygotsky, a capacidade de mediar o conhecimento, através de instrumentos,
tais como a semiótica. Deste modo, o presente trabalho, na metodologia
hipotético dedutiva com aspectos de revisão bibliográfica, visa encontrar
aspectos conciliatórios entre Kierkegaard e pedagogos, tais como Vygotsky,
possibilitando metodologias de aprendizado pautadas na ironia, bem como o
ensino mediado.
INDIVIDUALIDADE, ANARQUIA E IRONIA: UMA
LEITURA POLÍTICA DE KIERKEGAARD PARA OS
DIAS ATUAIS

Nahor Lopes de Souza Junior

RESUMO: Apesar de não ter uma vasta obra política aos moldes de Locke,
Rousseau e seu contemporâneo Marx, o pensador dinamarquês Søren
Kierkegaard fez algumas colocações acerca da política que podemos dividir
em três blocos. A primeira, comentando o papel do Estado no julgamento de
Sócrates no século IV a.C, primeiramente concordando com a visão de Hegel
de que o Estado ateniense era culpado pela morte de Sócrates, mas
ressaltando uma espécie de revolução no sentido negativo, ou seja, usando da
ironia para alienar o indivíduo do Estado, abalando as crenças e tradições. A
segunda, dentro do contexto do século XIX, principalmente nos aspectos que
antecediam as revoluções liberais de 1848 por toda a Europa: Kierkegaard
chegou até a escrever uma pequena resenha literária, que seria sua única obra
puramente política, bem como se encontrou com o rei Cristiano VIII. A
terceira, no final de sua vida, dentro de suas críticas violentas à Igreja
Dinamarquesa e a relação da mesma com o Estado, onde o filósofo acaba
consumindo sua própria vida defendendo uma radical opção individual no
Cristianismo ao contrário da institucionalidade que torna invisível a
subjetividade. Essas questões políticas de Kierkegaard foram interpretadas
até os dias atuais de diversos modos, até mesmo na perspectiva anarquista,
tornando aquele que é considerado o fundador do Existencialismo um leitor
crítico da modernidade.
IRONIA E VERDADE: UMA LEITURA DOS
ASPECTOS PARADOXAIS DA APOLOGIA DE
SÓCRATES (35E1)

Diego Dantas

RESUMO: A Apologia, sob o testemunho de Platão, é considerada uma


concepção real, o principal registro histórico e uma das formas mais
expressivas da ironia socrática, na tese defendida por Kierkegaard, em 1841.
A subjetividade como resultado efetivo do exame de si dirige Sócrates para o
afastamento das demandas da pólis, inaugurando uma postura de negação
das premissas mal concebidas do Estado e dos sofistas. Desse modo, ele é
acusado tanto de negar os deuses quanto de corromper a juventude. Em
outras palavras, questionar e esvaziar as certezas são exercidas como o
principal ofício e a ironia é a atitude imprescindível, pois ela é negatividade
infinita e absoluta. Neste trabalho, pretende-se percorrer os rastros da ironia,
entendida como método socrático, não só pelos registros da linguagem
discursiva, mas também pelos atos, num estilo sério-jocoso, diante dos seus
acusadores e juízes, no Tribunal dos Heliastas, nos momentos finais do seu
julgamento, mais precisamente após sua condenação que sucedeu a proposta
por uma pena alternativa à morte (35e1). A partir desse momento, o filósofo
afirma que muitos fatores contribuíram para que ele não se irritasse contra o
resultado com que o condenaram. Diante dessa declaração, seria possível
ressaltar basicamente três deles: o religioso, o moral e o político. No entanto,
esses fatores seriam contaminados pela ironia, então se manifestariam como
pontos paradoxais da conduta do filósofo ateniense. Assim, procura-se
observar os desdobramentos do discurso e atuação que se desenvolveram
paradoxalmente, conflitando o positivo e o negativo, se instauraram como
possível paradigma de conduta e favoreceram a educação e ação política na
cidade de Atenas, incentivando a juventude e outros cidadãos a questionarem
o status quo, fundando novas escolas filosóficas, além de possibilitar que
aqueles ‒ e também os futuros leitores ‒ tivessem a oportunidade de
aprofundar indagações acerca da verdade sobre a Justiça, a Eloquência, a
Alma.
IRONIA E IRÔNICO: A CRÍTICA DE
KIERKEGAARD À IRONIA DA MODERNIDADE

Renato Alexandre Laurentino da Silva

RESUMO: O presente artigo procura analisar a crítica empreendida pelo


filósofo Søren Kierkegaard (1813-1855) ao Movimento Romântico alemão,
mais especificamente no que diz respeito ao conceito de ironia, àquilo que
Kierkegaard considerou como um desvio da ironia socrática na apropriação
do conceito pelos românticos. Para tanto, será necessário compreendermos
como o conceito de ironia, que teve sua gênese em Sócrates, não se esgota na
antiga Grécia, antes, se desdobrou com o advento da Modernidade.
Precisamos compreender também como a modernidade – e daqui em diante
usarei o conceito de modernidade como fora entendido por Kierkegaard, isto
é, como o desenvolvimento da filosofia moderna desde Kant, Fichte e Hegel -
se valeu da ironia na busca de superar os paradigmas filosóficos de sua época.
O romantismo pode ser caracterizado pelo uso que ele mesmo, enquanto
movimento, atribuiu à ironia socrática? No intuito de compreendermos estas
questões, nos deteremos na segunda parte de sua Dissertação, intitulada O
Conceito de Ironia, constantemente referida a Sócrates (1841). Pois, se na
primeira parte da Dissertação de 1841 a ironia fora encarada como tendo sua
gênese em Sócrates, na segunda parte, “Sócrates é um momento do
desenvolvimento do conceito” ,na segunda parte o conceito adquire
predominância.
KIERKEGAARD: RELAÇÕES ENTRE IRONIA
NEGATIVA E O CINEMA DE SÉRGIO BIANCHI.

Douglas Gasparin Arruda

RESUMO: O trabalho a seguir é parte da minha pesquisa de dissertação


defendida em 2015 no departamento de História da UFPR. Nele, tentarei
apontar algumas aproximações entre a ironia negativa investigada por
Kierkegaard e o cinema de Sérgio Bianchi. Em sua análise, Kierkegaard nos
apresenta Sócrates enquanto um filósofo negativo. De modo geral, em seus
diálogos com os atenienses, Sócrates formulava diversas provocações,
refutando os argumentos de seus interlocutores sem, contudo, apresentar
qualquer solução positiva ao final do debate. A palavra “negativo”, portanto,
não se refere a qualquer juízo de valor quanto à filosofia socrática, sendo,
segundo Jon Stewart, “um empreendimento negativo no sentido de que é
planejado para solapar a posição dos outros”. Seguindo a etimologia do termo
ironia, temos, a partir dos filósofos da Antiguidade Clássica (Platão,
Aristóteles e Sócrates), a diferenciação entre eirõneia e alazoneia (ironia e
fanfarronice). A palavra eirõn tem como significado “aquele que interroga,
que coloca ou que se coloca questionamentos, daí Sócrates ser assim
considerado.” Tanto o eirôn quanto alazon foram retirados da comédia grega,
utilizados na caracterização de personagens “dissimulados, mentirosos e
pouco dignos de confiança.” É a partir daí que o termo ganha sua carga
negativa. Essa ironia negativa, que Kierkegaard observa nos românticos e em
Sócrates, também pode ser notada nos filmes de Bianchi. O caminho dessas
inferências, apesar de estreito, pode nos apontar algumas interpretações
valiosas para as estratégias narrativas do diretor. Andrea Perrot descreve as
características da obra irônica que surge no romantismo, e que apresenta
novidades narrativas. Algumas destas novidades influenciaram diretamente
a linguagem cinematográfica, especialmente o chamado Cinema Moderno (em
sua opacidade), que serviu como uma das principais referências para Sérgio
Bianchi - notadamente por sua oposição ao cinema hollywoodiano,
caracterizado pela transparência.
A INSPIRAÇÃO KIERKEGAARDIANA
NOS CADERNOS VAN DER LUBBE,
DE ERNANI REICHMANN

Gilvani Alves de Araujo

RESUMO: Ernani Reichmann (1920-1984) foi um dos pioneiros estudiosos do


pensador Søren Kierkegaard (1813-1855) em terras brasileiras: leu (desde
1940), escreveu (desde 1950), traduziu (desde 1960) e, por fim, dedicou a
vida à causa do pensador dinamarquês – por consequência, à sua própria
causa. Em Hic Fuit Ernani Reichmann, tese em História apresentada ao
PPGHIS-UFPR em fevereiro de 2021, dediquei-me a compreender e a
interpretar o papel desempenhado pelo pensamento kierkegaardiano para a
filosofia de Reichmann. Expresso, essencialmente, de maneira autobiográfica
por uma escrita multifacetada. Nesta comunicação, me servirei de parcela
daquela tese para demonstrar que, a partir de 1947, o jurista, economista,
político e administrador brasileiro já semeava um importante projeto de
interesse, com investidas singulares e heterodoxas sob a inspiração de
Kierkegaard. Esse é o caso dos Cadernos van der Lubbe. Na totalidade: nove
cadernos. Nas particularidades: [1] apresenta os pseudônimos originários –
van der Lubbe, van Neutgen e Sorte Peer –, com os quais Reichmann expressa
sua subjetividade; [2] revela materialmente um rico jogo editorial por meio
dos paratextos; [3] desfila gêneros literários e cruza-os com enredos diversos,
mesclando história e ficção em quiasmas; [4] se apropria da filosofia dos
estádios da existência de Kierkegaard, aplicando-a de maneira própria à sua
filosofia da dispersão. Nesse sentido, abordaremos o que de Kierkegaard
emerge nos Cadernos de van der Lubbe mas, também, o que de Reichmann
pode ser lido para ampliar os sentidos da recepção de Kierkegaard no Brasil.
A DOENÇA PARA A MORTE E
A MORTE DE IVAN ILITCH: UMA CONCEITUAÇÃO
E REPRESENTAÇÃO DO DESESPERO HUMANO
COM KIERKEGAARD E LIEV TOLSTÓI

Carmélia Teixeira de Sousa

RESUMO: Esta exposição possui via de encontro com o pensamento do


filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard e o escritor russo Liev Tolstói,
cujo objetivo é traçar uma linha argumentativa e descritiva para compreender
o desespero humano e suas afigurações. Toda a discussão se desdobra em
torno do fenômeno do desespero – descrito/diagnosticado por Kierkegaard
na obra de 1849, A doença para a morte, e vivido pelo personagem de Liev
Tolstói, Ivan Ilitch. A metodologia que tomamos posse para esta investigação
é a leitura hermenêutica das obras e a pesquisa crítica e filosófica a respeito
do tema. O trabalho se desenvolverá em dois passos concomitantes, o
primeiro se volta para a conceituação dada por Kierkegaard a respeito do
desespero, ao mesmo tempo que será tomado o exemplo de Ivan Ilitch como
uma descrição narrativa de como se constitui o desespero na realidade, para
além da visão vulgar que se tem desta questão. Considerando o indivíduo (den
Enkelt) e a existência concreta como um assunto caro à filosofia de
Kierkegaard, cabe acentuar o desespero como uma desestruturação da
síntese a qual se é constituído, dito de outra forma, é a realização inautêntica
da possibilidade existencial. É diante desta consideração sobre o desespero
que encontramos na narrativa a respeito de Ivan Ilitch grande co-incidência.
A análise aqui proposta não é sobre a morte do personagem, é sobre a vida, as
decisões existências feitas pelo juiz e a descoberta última de que toda a sua
vida foi silencioso desespero.
UMA VIDA DESESPERADA:
A DOENÇA PARA A MORTE EM A MORTE DE IVAN
ILITCH DE LIEV TOLSTOI

Argos Farias Melo

RESUMO: O trabalho busca exemplificar, através da leitura do livro A morte


de Ivan Ilitch de Liev Tolstoi, duas formas de desespero presentes em A
Doença para a Morte de Soren Kierkegaard. Em A Doença para a Morte,
Kierkegaard define o ser humano como resultado de uma relação entre dois
pólos. O ser humano seria então uma síntese entre a finitude e a infinitude, e
o desespero decorre da má efetivação dessa síntese. Das formas de desespero
descritas por Kierkegaard, encontraremos na personagem central da novela
de Tolstoi o desespero da finitude e o desespero que é ignorante de ser
desespero. Tolstoi constrói sua personagem destituída de interioridade,
alguém que busca em terceiros a sua subjetividade. Pautado em valores
burgueses, Ivan Ilitch considera apropriado para si tudo aquilo que as pessoas
mais altamente colocadas na sociedade julgam como desejável. Restringindo-
se assim ao polo da finitude, Ivan Ilitch vive uma vida desesperada, a qual não
é consciente do próprio desespero, até ser acometido por uma grave doença
e ser confrontado com a finitude da vida. A reflexão resultante desse conflito
encaminha a personagem para o desespero da finitude. Dessa forma Tolstoi
nos possibilita divisar uma vivência que, ao mesmo tempo, leva ao desespero
e é uma forma de desespero em si, apesar da falta de consciência em sê-lo. A
crença em valores burgueses e a busca por realização pessoal apenas na
materialidade continuam levando pessoas à uma vida desesperada. A
contemporaneidade tem ainda muito a aprender com Kierkegaard e busco
com essa análise levar alguma luz à essas questões.
DA QUEDA À RESSUREIÇÃO:
O PROBLEMA DO MAL SEGUNDO
DOSTOIÉVSKI E KIERKEGAARD

Carlos Eduardo Varella Pinheiro Motta

RESUMO: De acordo com a afirmação do filósofo Lev Chestov, Dostoiévski


pode ser considerado um duplo, no sentido literário, de Kierkegaard, visto
que ambos abordaram basicamente os mesmos problemas e, para estes,
ofereceram soluções praticamente idênticas. “Vozes clamantes no deserto”,
solitários incompreendidos pelos seus contemporâneos, eles ousaram, em
pleno ápice do cientificismo, refletir sobre um dos problemas mais intrigantes
para a espécie humana, o do Mal, partindo de uma perspectiva ancorada na
revelação bíblica. É notável o fascínio de ambos por episódios do Livro
Sagrado, como o mito da Queda, do Gênesis e a provação de Jó, cujos
substratos embasam boa parte de suas obras, como o conto “O sonho de um
homem ridículo” e o romance Os irmãos Karamázov, no caso de Dostoiévski,
e os livros A repetição e O conceito de angústia, no de Kierkegaard. As
soluções propostas por ambos são de cunho escandalosamente religioso, indo
da afirmação da liberdade como caminho trágico e necessário para a
individuação à propagação da boa nova contida nos Evangelhos, concluindo
que não existe salvação fora da Palavra e do modelo de Cristo, perspectiva que
se afina com a concepção de maximalismo religioso proposta pelo teólogo
russo Paul Evdókimov. Sendo assim, o objetivo da presente comunicação é o
de aprofundar as visões de ambos os autores sobre o problema do Mal,
destacando suas afinidades e dissonâncias em relação à mentalidade
dominante entre seus contemporâneos.
AS DIMENSÕES DA EXISTÊNCIA NO PENSAMENTO
DE SØREN KIERKEGARD E ALBERT CAMUS

Tales Macêdo da Silva


Alberto Luiz Silva de Oliveira

RESUMO: Considerando as dimensões sobre a existência que se apresentam


na história da filosofia, este presente artigo tem por objetivo compreender o
que os filósofos Kierkegaard e Camus desenvolveram sobre as concepções do
existir, perpassando pelos temas da estádios existenciais e a noção do
absurdo. Para tanto, torna-se interessante dialogar com algumas obras desses
autores, explicitamente O conceito de angústia, O desespero humano e O mito
de Sísifo, para assim perceber que há ecos kierkegaardianos no pensamento
filosófico de Camus. Assim, permite concluir que há uma possível leitura feita
do filósofo argelino aos escritos do filósofo dinamarquês.
EM BUSCA DA UNIDADE POR
MARCEL PROUST E SØREN KIERKEGAARD

Manoela Caroline Navas

RESUMO: A presente comunicação tem como objetivo abordar uma análise


comparativa entre a obra máxima de Marcel Proust, Em busca do tempo
perdido, e o livro A repetição, de Søren Kierkegaard, sobre o tema da
existência e da experiência. Primeiramente, conforme aponta Albert Camus,
em seu ensaio “O homem revoltado”, o escritor de Em busca do tempo perdido
estaria, por meio da criação do romance, buscando uma forma de dar à sua
existência a unidade que lhe falta. Essa atitude se configura como um processo
muito semelhante ao elaborado por Kierkegaard, no livro A repetição, no qual
a concepção que dá título à obra está relacionada a uma busca pela unidade
interior cuja manifestação é o si-mesmo. Para Proust, a exploração das
memórias e a experiência sentida somente poderiam valer para o próprio
sujeito, configurando em uma aproximação com o pensamento
kierkegaardiano. Vale destacar que também será abordada a divergência
apresentada entre os dois autores sobre as particularidades referentes à
experiência subjetiva de ambos: a de Proust estabelecida no terreno secular e
a de Kierkegaard encaminhada a um viés religioso. Não obstante, as
afinidades de abordagem são consideráveis, como revelam alguns trabalhos
já elaborados nesse sentido, e que merecem ser aprofundadas.
UMA QUESTÃO DE ESTILO: PSEUDONÍMIA E
COMUNICAÇÃO INDIRETA NA OBRA
KIERKEGAARDIANA

Gabriel Ferri Bichir

RESUMO: Kierkegaard é uma figura sui generis na história da filosofia:


navegando entre metafísica, estética e teologia, sua obra constitui um nó
incontornável no interior do que se convencionou chamar de “pós-
hegelianismo” na segunda metade do século XIX. Por circular nos meandros
de diferentes campos do saber, sua produção resiste a uma categorização
simplista, posto que não se contenta com uma definição fechada e bem-
acabada do ofício filosófico. Essa abertura radical desafia os intérpretes e
exige um olhar cuidadoso para a articulação entre forma e conteúdo, que não
deve ser reduzida a um jogo poético arbitrário e não rigoroso, como se
pensava no passado. Um ponto digno de menção é o cuidado de Kierkegaard
referente à forma de escrita. Uma breve passada de olhos pelo conjunto de
sua obra já basta para que se constante uma heterogeneidade
impressionante: há escritos pseudônimos e assinados; tratados teológicos e
ensaios estéticos; discursos cristãos e romances; polêmicas de folhetim e
reflexões sobre a lógica hegeliana, fora os inúmeros volumes de Diários que
tratam tanto de temas pessoais como das grandes questões metafísicas da
tradição. Diante desse panorama, Kierkegaard surge como um enigma que,
paradoxalmente, muito pode colaborar na investigação das transmutações de
seu momento histórico. Como sua autoria reflete tais mudanças? O que
explica essa produção tão heterogênea? Quais as principais técnicas
empregadas? Assim, nossa proposta no presente trabalho será contribuir
para o esclarecimento de algumas dessas questões – sem ousar exauri-las,
dada sua complexidade – tomando como foco dois aspectos formais da escrita
kierkegaardiana: o uso de pseudônimos e o emprego da “comunicação
indireta”. Através de uma investigação crítica, mostraremos os principais
problemas que Kierkegaard tenta solucionar lançando mão desses recursos,
ressaltando também os tensionamentos e pontos-cegos que surgem ao longo
do percurso.
A CLÍNICA PSICOLÓGICA COMO POSSIBILIDADE:
UMA INSPIRAÇÃO KIERKEGAARDIANA

Maitê Sartori Vieira

RESUMO: Propomos neste trabalho, a partir do pensamento do filósofo


dinamarquês Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855), uma investigação sobre
a relação entre a possibilidade e a clínica psicológica enquanto caminho para
uma aproximação do caráter fundamental da existência. Para Haufniensis
(1844/2016), pseudônimo de Kierkegaard, a angústia revela o que há de mais
cru, mais abissal em nós mesmos: a nossa nadidade. Revela a impossibilidade
de abarcar o que é inabarcável, o que está sempre escorregadio, a existência.
Nesse encontro com a nossa nadidade, a atmosfera da angústia nos tira do
solo firme que pensamos que vivemos, o solo da segurança e da certeza que
ronda o nosso modo de lida com tudo no mundo. Ao mesmo tempo, é
justamente por isso que ela nos coloca em outro solo firme: o solo da
possibilidade. Paradoxalmente, o que há de mais firme e concreto na nossa
existência é justamente a nadidade que somos. A clínica psicológica inspirada
em Kierkegaard se forma como o lugar em que a possibilidade se mostra em
sua crueza, no encontro singular que se dá a cada vez de modo único, nos
devolvendo, como relação, para aquilo que é próprio da vida: o inesperado e
o indeterminado. O diferencial da psicóloga está em ter sido formada pela
possibilidade na angústia. Ter aprendido que não está na sua alçada
direcionar o encontro clínico ou despertar a transformação no outro. Não. O
seu lugar está no aguardo do acompanhar a possibilidade de um ver diferente,
que transfigura o que antes gerava sofrimento, na tessitura em conjunto com
o que é do outro, mas também com o que é de si, psicóloga. Nessa atmosfera,
a psicóloga sabe que o seu papel não é o de prever, assegurar, indicar ou curar,
e sim ser possibilidade. A clínica é a vida se mostrando em sua nudeza, nos
colocando na angústia de ser quem se é, nessa tarefa que é constante. O que
pode ser feito é assumir como tarefa aquilo que se abriu, como dádiva, na
abertura da angústia.
CONTRIBUIÇÕES DE UMA PSICOTERAPIA DE
INSPIRAÇÃO KIERKEGAARDIANA FRENTE AO
QUADRO DA CULTURA CONTEMPORÂNEA

Sanmey Silva Santos

RESUMO: Nosso trabalho pretende esboçar uma articulação de temas


kierkegaardianos como desespero, angústia, possibilidade, etc. com a
proposta de uma psicoterapia que trabalhe uma apreciação das relações
humanas no âmbito social e interpessoal contemporâneos à luz das
contribuições do filósofo dinamarquês. Na perspectiva da valorização da
singularidade, Kierkegaard nos convida a conhecer a nossa própria existência
numa aprendizagem que envolve paixão, amor, fé, angústia, desespero e não
deseja contemplar a existência com neutralidade e imparcialidade, mas, como
quem encara os riscos inerentes ao existir e se entrega até os limites de suas
possibilidades à tarefa do eu para assumir o tornar-se si mesmo. Seu
pensamento se recusa a conceber o ser existente enquadrado num sistema
explicativo, e nos permite construir uma epistemologia psicológica que nos
convida a compreender e a questionar os possíveis caminhos da existência
humana e seus desmembramentos quando trabalhados numa psicoterapia.
Na contemporaneidade, essa psicoterapia inspirada em Kierkegaard permite-
nos trabalhar com inúmeras formas do campo do desespero humano,
expressas por um esteticismo que recusa a elaboração da angústia existencial.
Ocorrem-nos, nesse momento, a intolerância às diferenças(de opinião, de
preferências, de crenças, etc.), a acentuada recusa da alteridade; um alto
índice de ansiedade, expresso pela urgência que é demandada no campo do
trabalho e das relações íntimas; indicadores cada vez mais acentuados de
problemas como suicídio, violência em geral, dispensa de contato
interpessoal pelo abuso do uso da internet, superexposição narcísica nas
redes sociais, confusão, dissolução do espaço público e do espaço privado.
Muitos são, portanto, no quadro da cultura atual, os desafios e problemas que
dão chancela à seriedade de uma psicoterapia em que se possa trabalhar e
descobrir possibilidades próprias do existir, distintas daquelas já previstas e
prescritas pela multidão e pelo modo de ser impessoal.
A DOENÇA ATÉ A MORTE DE ELLEN WEST:
A COMPREENSÃO EXISTENCIAL DA
ESQUIZOFRENIA POR BINSWANGER E A
DÍVIDA COM KIERKEGAARD

Carlos Campelo da Silva

RESUMO: O objetivo do presente trabalho é analisar O Caso Ellen West


publicado pelo psiquiatra Ludwig Binswanger (1881-1966) à luz da
antropologia kierkegaardiana presente na obra A doença mortal (1849). Para
tanto, partiremos da afirmação de Binswanger de que Ellen West “ao longo de
sua vida padeceu daquela enfermidade mental que Kierkegaard denominou
de doença até a morte e que descreveu e iluminou com penetrante visão de
gênio em todos os aspectos possíveis”. Qual seria essa doença? A doença a que
se refere Binswanger é a esquizofrenia que, no caso de Ellen West, era
acompanhada de uma anorexia nervosa. Na base dessa doença está o desejo
desesperado de não ser si mesmo ou o desejo desesperado de ser si mesmo,
como observou Binswanger. Neste sentido, o autor afirma que a psiquiatria
tem uma grande dívida com a obra de Kierkegaard, uma vez que foi o filósofo
que em 1849 descreveu com profundidade esse conflito existencial ao
apresentar o ser humano como uma síntese de polaridades opostas.
Kierkegaard afirmava que o ser humano é uma síntese de infinito e de finito,
de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade. O filósofo denominou
a perda do indivíduo em um dos polos da síntese de desespero, para
Kierkegaard o desespero pode assumir três formas: o desesperado que ignora
possuir um eu, o desesperado que não quer ser si mesmo e o desesperado que
quer ser si mesmo. De acordo com Binswanger essas duas últimas fórmulas
estão na base da esquizofrenia, desse modo, esse trabalho se propõe a
investigar a afirmação de Binswanger, buscando na obra de Kierkegaard o
subsídio para uma compreensão existencial do adoecimento psíquico.
CRÍTICA E EXISTÊNCIA NA MODERNIDADE:
UM DIÁLOGO ENTRE PASCAL E KIERKEGAARD

Geovani Santos Godoy

RESUMO: Um diálogo entre Pascal e Kierkegaard. RESUMO: Nesta pesquisa


busca-se analisar a concepção de racionalismo e existência concebidos por
dois filósofos da tradição: Blaise Pascal e Søren Kierkegaard. Realizar-se-á
esta análise a partir de dois argumentos, a saber: a aposta de Pascal e o salto
de fé de Kierkegaard. Dividiremos a pesquisa em três partes: a) Demonstrar
como se edificou a concepção de Razão na Modernidade, desde o cogito
cartesiano ao espírito absoluto de Hegel; b) Analisaremos o argumento Pascal
e a sua aposta na existência de Deus, c) Em seguida, será explicitado a
argumentação de Kierkegaard a respeito de salto da fé; d) Apontaremos
possíveis influências desde tradição da Filosofia no pensamento
existencialista no século XX. Logo, busca-se um diálogo, ou uma confluência
que esses autores. Pascal por ter sido muito influenciado pelo pensamento de
Descartes e se contrapondo a algumas temáticas desenvolvidas pelo mesmo,
e Kierkegaard que foi muito influenciado pela dialética Hegeliana, mas se
tornou um de seus principais críticos.
APROXIMAÇÕES ESTILÍSTICAS ENTRE
KIERKEGAARD E NIETZSCHE

Leonardo Araújo Oliveira

RESUMO: Muitas aproximações foram feitas entre as filosofias de


Kierkegaard e Nietzsche, mesmo que o dinamarquês não possa ter lido o
alemão, em função de ter falecido antes que Nietzsche tenha iniciado sua
produção, e por outro lado, que Nietzsche não se refira a Kierkegaard em
qualquer trecho de sua produção, inclusive nos póstumos, a não ser em uma
carta a George Brandes, quando diz que pretende ler o pensador dinamarquês
no futuro. Essa carta, no entanto, é uma resposta a uma sugestão de leitura
que o próprio Brandes faz a Nietzsche, já apontando para uma afinidade
intelectual entre os dois. Sendo assim, essa aproximação é efetuada desde o
século 19 e se estende pelo século 20, tanto por comentários diversos de
historiadores da filosofia e intelectuais de modo geral, quanto por
importantes filósofos, como Karl Jaspers, Hannah Arendt e Gilles Deleuze.
Nossa proposta de aproximação consiste em realizar alguns apontamentos a
cerca do estilo nesses autores. Ambos dominam diversificadas formas de
expressão, e em muitos momentos, compartilham especificidades estilísticas:
aforismos, parábolas, paródias, ensaios, ficções, textos dissertativos,
autobiografias intelectuais e até prefácios para livros não escritos. Além disso,
no interior dessas formas, os autores se destacam pelo uso do humor, pela
dinâmica dos antagonismos e paradoxos, pelo jogo de se ocultar e se mostrar
(com ou sem pseudônimos), pelo desenvolvimento de personagens e
sobretudo pela reflexão sobre a própria produção. O objetivo, além de
costurar esse possível diálogo a partir das formas de escritas, é salientar a
necessidade dessas formas a partir de modos de vida, no sentido de que o
exercício estilístico, em ambos, revela propostas existenciais, evidenciando,
com isso, uma compreensão do poder dos afetos como acompanhamento das
ideias. Trata-se de uma concepção afetiva do próprio texto, do estilo como um
conjunto de movimentos que expressam os devires e experimentações da
existência.
OS LIMITES DA NATURVIDENSKAB E A
EXPERIMENTERENDE PSYKOLOGI DE
KIERKEGAARD

Natalia Mendes Teixeira

RESUMO: A fim de propor sua Experimenterende Psykologi, Kierkegaard


precisaria enfrentar uma Metafísica de alto impacto (Psychologia Empirica e
Psychologia Rationalis), uma Ciência em ascensão (Experimentelle
Psychologie) e balizar a legislação da nascente Naturvidenskab sobre os
objetos da Filosofia e da Psicologia. A partir deste cenário, o presente escrito
tem dois objetivos: I) Nuançar as críticas de Kierkegaard às Naturvidenskab
no contexto de transição da Naturphilosophie para a Naturwissenschaft e do
Materialismus-Vitalismusstreit no período pós-hegeliano de modo que fique
evidente que, ao contrário do que se defende, Kierkegaard não era um
“anticiência”, apenas atribuía à Ciência Natural um papel judicioso na
interpretação dos fenômenos e objetos específicos que lhe cabiam; II) Que,
deste modo, os objetos da Psicologia, isto é, os fenômenos mentais, não eram
passíveis de ser investigados pela Naturvidenskab o que inevitavelmente
ocorrerá ao final do século pelo recurso à Fisiologia oitocentista. Para impedir
o avanço da Naturvidenskab à Psicologia, Kierkegaard precisaria lidar com os
problemas éticos, metafísicos, epistêmicos e performativos que a Psicologia
Empírica de Wolff não conseguira responder. Como lidar com os fenômenos
mentais sem recorrer à Fisiologia e, ao mesmo tempo, sem recair nos mesmos
problemas da Psicologia wolffiana que Kant já golpeara? Sua saída à
Psychologia Empirica e à Experimentelle Psychologie foi a proposta da
Experimenterende Psykologi esboçada n’A Repetição a partir de uma tímida,
mas também vigorosa apresentação dos processos de Observação,
Experimentação e Repetição que a Psicologia Empírica não conseguira
sustentar e através dos quais a Psicologia Experimental, ao final, triunfaria.
PEQUENAS APROXIMAÇÕES PSICOLÓGICAS DA
OBRA MATRIMÔNIO DE KIERKEGAARD E A
TEOLOGIA DO CORPO DE WOJTYLA

Maria Célia dos Reis Silva

RESUMO: Com base na antropologia de Karol Wojtyla, principalmente nos


seus textos sobre a teologia do corpo, no ciclo sobre o Matrimônio, proponho
uma aproximação teórica e psicológica da obra “O matrimônio” de S.
Kierkegaard. Fazendo referência a esses dois textos, abrindo possibilidade de
diálogo, tendo em mente também a amplitude particular presente em cada
um em seu contexto singular e próprio. Não é minha intenção aqui dar ênfase
às divergências epistemológicas, mas apenas lançar mão de aproximações
que julgo haver entre eles, principalmente no âmbito psicológico e poético,
muito presente nas referências citadas. Desenvolvimento: As obras ‘O
Matrimônio’ de S.Kierkegaard e ‘Homem e mulher o criou - Catequeses sobre
o amor humano’, conhecida por Teologia do Corpo de Karol Wojtyla são duas
obras emblemáticas que trazem uma contribuição importante e necessária,
ao mesmo tempo atual. Penso eu que também fazem parte do que eu chamaria
tesouro escondido, pois ainda são pouco conhecidas no meio acadêmico em
geral. Aproximar esses dois autores, Kierkegaard e Wojtyla, seria um campo
vasto. Por isso a intenção aqui é trazer apontamentos dessas duas obras. Nos
dois casos fica claro que o amor entre homem e a mulher constitui uma
unidade moral constituída e que está para além do seu caráter provisório
temporal. Conclusão: Foram dois pensadores em tempos distintos, cada qual
com suas vicissitudes, mas os dois em seu pensamento filosófico especulativo
focaram seus interesses em temas pertinentes a existência humana como o
amor e o sofrimento humano. Suas vidas e suas produções filosófica,
antropológica e teológica caminham lado a lado, buscando a um
conhecimento que satisfaça tanto as exigências da intelectualidade quanto às
da existência e da interioridade. Essa característica desconcertante – de tanto
que mescla os gêneros – sob uma luz e singularidade própria, sem
reducionismo, mas determinado apelo à transcendência são características
comuns aos dois.
FÉ, AMOR E ESPERANÇA EM AS OBRAS DO AMOR

Presley Henrique Martins

RESUMO: O presente trabalho pretende demonstrar a relação entre fé, amor


e esperança em As obras do amor, obra publicada em 1847, por Søren Aabye
Kierkegaard (1813 – 1855). Na obra mencionada, Kierkegaard não irá se
propor a elaborar uma definição peremptória sobre o amor; isso seria
impossível na perspectiva cristã do amor, dado que ele é infinito. Se o amor
não pode ser definido em sua totalidade, isso significa que não temos acesso
ao objeto amor, de tal forma que poderíamos nos debruçar ao estudo sobre
suas características fundamentais, e a partir delas definir de uma vez por
todas o amor. O primeiro capítulo da obra, elucida que a fonte do amor é
incognoscível, mas sabemos que ele (o amor) existe através de seus frutos.
Nesse sentido, cabe ao autor falar sobre as obras do amor, mas sem esgotá-
las. Se não podemos ter acesso à fonte do amor, daí não se segue que não
podemos conhecer suas obras. Mas o conhecimento das obras também não
pode se dar no plano meramente objetivo ou sob o ponto de vista mundano.
É preciso outra perspectiva. Essa perspectiva é pressupor o amor, o que
constitui a tarefa do indivíduo: acreditar no amor que lhe é dado. Nesse
sentido, é preciso ter fé no amor. E acreditar no amor é ter esperança; esperar
tudo, esperar sempre a possibilidade do bem. Desse modo, aquele que carrega
o amor consigo encontra o amor mesmo onde ele parece ser impossível. Além
de As Obras do amor, utilizaremos as obras Temor e tremor (1843) e Migalhas
filosóficas (1844), uma vez que ambas complementam as reflexões sobre a fé,
o amor e a esperança. Na primeira, será caracterizada o aspecto formal da fé
na figura de Abraão; já na segunda, o conceito de instante será apontado como
conteúdo da fé. Por fim, mediante a relação aqui pretendida, espera-se obter
uma compreensão mais aprofundada de As obras do amor e, em simultâneo,
perceber aspectos mais gerais da obra de Kierkegaard, uma vez que
buscaremos dialogar com outras obras do autor.
EDUCAÇÃO E RELIGIOSIDADE POPULAR:
CONTRIBUIÇÃO DO ESTÁGIO ÉTICO
DA VIDA EM KIERKEGAARD PARA O ENSINO
RELIGIOSO ESCOLAR

Jhauber Luiz Moreira da Silva

RESUMO: Considerando que o desafio da escola é adotar uma postura ética


com práticas educativas na relação entre grupo humano e social, a crise dos
valores morais e a intolerância religiosa, esta pesquisa trabalhará com as
variáveis da Educação e da Religiosidade Popular com interface no Ensino
Religioso, que averiguará o campo do fenômeno religioso e a influência da
religiosidade popular no espaço escolar, bem como sua contribuição cultural-
religiosa na formação humana/integral do estudante. A intenção é identificar
elementos da religiosidade popular (crendices, superstições, símbolos...) no
espaço escolar e analisar o modo que são acolhidos e aceitos ou não como
conteúdo formativo por parte dos docentes e discentes do Ensino
Fundamental II da escola da rede pública estadual da cidade de Iconha. Para
tanto, buscou-se luzes na perspectiva reflexiva da fenomenologia-existencial
de Søren Kierkegaard, com recorte no Estágio Ético da vida, como uma
contribuição para o processo de aprendizagem escolar com foco na formação
integral. Aspira-se uma pesquisa de campo e perspectivas educacionais
voltadas para a formação de consciência moral, crítica e religiosa dos
discentes, assim como o aprimoramento do diálogo e do respeito como um
caminho para a convivência social e a prática da cidadania. A metodologia
será a pesquisa bibliográfica e a de campo, com abordagem qualitativa.
A BASE FILOSÓFICA DE KIERKEGAARD
PARA A SUA CRÍTICA À LÓGICA HEGELIANA
NO PÓS-ESCRITO (1846)

Victor Manoel Fernandes

RESUMO: O objetivo desta comunicação é o de apresentar a base filosófica de


Kierkegaard para a crítica à Lógica hegeliana contida em sua obra Pós-Escrito
às Migalhas Filosóficas (1846). Isso que chamo de ‘base filosófica’
corresponde ao uso feito por esse pensador dinamarquês das obras críticas à
filosofia de Hegel do Professor alemão Adolf Trendelenburg. Portanto,
pretendo mostrar como os argumentos desse Professor são utilizados por
Kierkegaard e como exatamente essa observação faz com que as críticas de
Kierkegaard não caibam apenas aos dano-hegelianos, como sugere o
comentador Jon Stewart (2003). Essa comunicação igualmente tem o intuito
de divulgar as análises teóricas resultantes da minha pesquisa de Mestrado
em Filosofia. Palavras-chave: Kierkegaard. Trendelenburg. Hegel. Lógica.
Metafísica.
O PARADIGMA DO CONHECIMENTO:
O SER, ESTAR E EXISTIR EM KIERKEGAARD

Rafael Da Silva Dos Santos

RESUMO: O ser enquanto essência e potência sempre foi aventado e firmado


pela filosofia clássica grega e posteriormente pela cristã como uma idealidade
do real. Podemos dizer que talvez as características próprias no tocante às
peculiaridades que atravessam os seres foram ignoradas, ocultadas ou não
exploradas em nome de uma classificação que categorizasse o homem por
aquilo que este carrega consigo e mirar de caracterização. Søren Kierkegaard,
entretanto nos parece acentuar não as características dos seres mais os
aspectos sensíveis das relações, que se dão em primeira apreciação naquilo
que habilita em existência, para além de seu estado. Assim, o homem para
Søren Kierkegaard é uma síntese entre a alma e o corpo, em dimensões
contraditórias mais congruentes, que só dizem de um si ao ser reconhecido
por um eu, fruto dessa síntese, mas, que também outrora só é um eu, pois foi
capaz de conceber o conhecimento latente e dotado de contrários, voltando a
relação antes estabelecida, para novamente se relacionar com ela
entendendo-a. A condição do Ser, seria neste contexto um devir em passagem,
que se passa do possível ao real, e do real ao virtual. A primeira
protagonizando uma elevação no desespero e a segunda da perdição no
mesmo, sendo um apego a fuga de si. Logo, o desespero faz parte de uma
completude que e discordância da relação do eu, faz-se impulso e modo de
estar. O estar se configura nesta composição teórica e prática de um viver, a
partir e como um reconhecimento da possibilidade, isto é a capacidade de
tornar o que é virtual uma ação. Assim, conhecer-se passaria por uma
negociação que peleja o destituir de si por certo pressuposto de fuga, mas,
também de aceitação, seja de modo positivo ou negativo, que equivaleria há
uma certa superação, não do desespero, mas do próprio eu, por um anseio de
lugarizar a existência, em um território que abandona as seguranças e apossa-
se da realidade assumindo suas ações, pensamentos e reflexões do real, na
vida, assumindo-a.
A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO ÉTICO EM
KIERKEGAARD

Carolline de Souza Botelho

RESUMO: Que contribuições o conceito de angústia, nos ajuda a compreender


a formação do sujeito ético em Kierkegaard? A proposta desse artigo teve
como objetivo refletir sobre processo de formação do sujeito ético presente
na obra O conceito de angústia de 1844. A construção do sujeito ético em
Kierkegaard dispõe de uma analise existencial que considera o projeto de
existência humana como individual e, num eterno devir. A subjetividade
humana é um projeto existencial a ser concretizado. É importante não perder
de vista que o pensamento de Kierkegaard está inserido no Existencialismo,
portanto os modos de vida, ou modos de existência apresentados por esse
pensador, consiste na representação pessoal da existência que teve como
base a experiência existencial do próprio autor. A perspectiva singular da
angústia como possibilidade formadora do sujeito na perspectiva
kierkegaariana, situa o sujeito diante do seu próprio projeto de existência
para que ele possa tomar posse de si e de sua existência.
A ATUALIDADE DAS CRÍTICAS DE KIERKEGAARD
ÀS AUTORIDADES RELIGIOSAS EM “O INSTANTE”

José da Cruz Lopes Marques

RESUMO: O pensador dinamarquês Søren Kierkegaard se notabilizou por


suas críticas contundentes à Cristandade de sua época, sua estrutura, dogmas,
práticas e lideranças. Em seu diagnóstico polêmico, Kierkegaard acusa a
Cristandade oficial de ter suprimido um dos elementos mais basilares do
cristianismo do Novo Testamento: a possibilidade do escândalo. Muitas
dessas críticas, como sabemos, recaem sobre as autoridades religiosas da
igreja dinamarquesas, aos bispos e pastores que, a exemplo de Mynster,
embora reivindiquem o título de ‘Testemunha da verdade’, são acusadas de
falsear a verdade do cristianismo. Sem dúvida, poucos textos da farta
produção kierkegaardiana apresentam uma crítica tão ardorosa, contundente
e corrosiva quanto aquela que encontramos ao longo dos 10 volumes da
polêmica revista O instante. Neste escrito que antecede sua morte em 1855, o
filósofo dinamarquês apresenta um perfil profundamente desencantado e
negativo dos pastores, pregadores e autoridades religiosas. A rigor, em
relação à verdade, eles estão numa condição inferior à dos atores, já que estes
assumem desde o início que estão apenas encenando a verdade, já aqueles
tentam convencer a todos que as ilusões que propagam são a verdade do
cristianismo. Na presente comunicação analisaremos as críticas de
Kierkegaard às autoridades religiosas de sua época. Além disso,
procuraremos destacar em que medida estas críticas permanecem atuais
frente às expressões do cristianismo na contemporaneidade e às renovadas
tentativas de reducionismo e instrumentalização da fé.
A FILOSOFIA ANTIPROGRESSISTA
EM KIERKEGAARD

Jeremias Moraes do Nascimento

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo identificar os elementos


progressistas em na Dialética de Hegel via a filosofia de Soren A Kierkegaard.
Para iniciou de compreensão a respeito da ideologia progressista é necessário
analisar também a obra de Ludwig Feuerbach que foi um dos primeiros a
identificar a diferença entre o que não é progressismo como mais tardiamente
Friedrich Nietzsche há de comentar com mais detalhes. A finalidade deste
escrito é revelar como a ideologia progressista influencio a teologia e a
filosofia até o presente momento.
ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A NOÇÃO DE
ESPÍRITO SANTO, EM ZIZEK, E O SER CRISTÃO
COMO TAREFA, EM KIERKEGAARD

Matheus Vieira Silva

RESUMO: Como nos diz Adam Kotsko, em Zizek and Theology, um dos
grandes desafios que sobrevém àqueles que pretendem estudar a teologia
zizekiana é compreender de que modo o filósofo esloveno pensa o Espírito
Santo. Isto acontece porque, para Zizek, Espírito Santo não é um conceito
inerte que, por meio de uma análise, pode ser descoberto; muito pelo
contrário, na perspectiva zizekiana, Espírito Santo designa o momento em
que o cristianismo passa a se constituir enquanto movimento, isto é, enquanto
trabalho de manter o Acontecimento-Cristo vivo, de modo que Espírito Santo
passa a designar a atividade de sustentar as consequências que a ressurreição
de Jesus produziu. Dessa forma, Espírito Santo é, grosso modo, a tarefa
incessante de manter Cristo ressurreto, um constante lembrar-se do
significado do sacrifício de Deus e, assim, agir de acordo com a transformação
que o Acontecimento-Cristo produzira. Essa noção parece dialogar com um
diagnóstico feito por Kierkegaard e que podemos encontrar num dos seus
escritos produzido em 1848, mas só publicado postumamente, em 1859.
Trata-se de “A Neutralidade Armada ou sobre a minha posição como um autor
cristão na Cristandade”. Nesse texto, o pensador dinamarquês diz que a
imagem ideal do ser cristão precisa ser posta como uma tarefa a ser feita e
não confundida com um conceito imediatamente dado. Seguindo nessa
esteira, o filósofo de Copenhague supõe que ser cristão só pode, ainda, ser
colocado como uma tarefa a se fazer porque aquilo que constitui o ser cristão
foi esquecido. Nesse sentido, o nosso objetivo é mostrar como tal diagnóstico
kierkegaardiano dialoga com a noção zizekiana de Espírito Santo,
apresentando alguns apontamentos dessa relação, a fim de indicar que, como
o próprio Zizek nos diz em diversos de seus textos, a sua posição acerca do
que significa ser cristão não difere tanto daquela do pensador dinamarquês.
ASSISTIR E SER ASSISTIDA: VIAS E LIMITES DE
UMA ESTÉTICA EXISTENCIAL, UM PERCURSO
POR ESCRITOS DE SØREN KIERKEGAARD

Deise Abreu Pacheco

RESUMO: Nesta apresentação temos por objetivo expor o eixo central de


nossa pesquisa de doutorado (Bolsa FAPESP: Universidade de São Paulo/USP;
Søren Kierkegaard Forskningscenteret/SKC) que, fundada em uma
perspectiva existencial, descreve o processo de criação de uma modalidade
de prática estética no campo das Artes Cênicas. Tal modalidade baseia-se em
pressupostos elaborados a partir de aspectos da obra do autor dinamarquês
Søren Kierkegaard (1813-1855) e expõe uma dupla problemática; por um
lado, o desejo de expressar o anseio de criação enquanto existência poética e,
por outro, a ambiguidade contida em um tema kierkegaardiano por
excelência: a vontade de tornar-se si mesmo. A noção de estética existencial é
abordada por meio da problematização suscitada pela prática proposta,
mediante um itinerário de leitura de tópicos presentes na produção
pseudonímica de Kierkegaard. Nessa problematização, buscamos
circunscrever as vias e os limites da idealidade estética pela investigação de
duas instâncias existenciais que escapam à linguagem (i.e., pensamento) e,
portanto, resistem à representação poética: o erótico imediato e a paixão da
fé. O interesse na investigação dessas instâncias existenciais e na decorrente
antinomia implícita no exercício poético da representação do irrepresentável,
ou daquilo que resiste à representação, quer perscrutar modos como a
delimitação da especificidade do campo estético, no fazer artístico, assume
valor positivo, uma vez que mobiliza seus agentes criadores à experimentação
de novas sintaxes para a elaboração desse próprio limite. Assim, a modalidade
de prática estética investigada pretende fornecer uma perspectiva
experimental de abordagem existencial do processo de criação cênica e os
efeitos estéticos de sua recepção, compreendida enquanto ato de assistir e ser
assistida(o) pela obra kierkegaardiana.
A FUNÇÃO DO TÉDIO NA EXISTÊNCIA

Thiago Costa Faria

RESUMO: Kierkegaard se refere mais detidamente ao tédio (Kjedsomhed) em


três momentos distintos: como uma unidade negativa ("O conceito de
ironia"), como o princípio do movimento ("Ou-Ou", primeira parte) e como o
demoníaco ("O conceito de angústia"). Apesar de o tédio ser um conceito
marginal na obra de Kierkegaard, não significa que seja filosoficamente
irrelevante. O propósito deste artigo é mostrar que o tédio desempenha uma
função discreta, mas fundamental, no que concerne à atualização do si-mesmo
(Selv). Avançarei a hipótese de que o tédio pode ser compreendido como uma
disposição agenciadora que tem como objetivo último o engajamento do
indivíduo com a realidade efetiva (Virkelighed). Enquanto o estético responde
indevidamente ao tédio - tentando anulá-lo por meio ora do prazer, ora da
imaginação e ora da reflexão -, o ético-religioso o confronta com a seriedade
(Alvor) que é exigida.
TORNAR-SE CONTEMPORÂNEO DA FILOSOFIA: O
CONCEITO DE CONTEMPORANEIDADE
(SAMTIDIGHED) EM KIERKEGAARD

Marcos Érico de Araújo Silva

RESUMO: O presente trabalho tem como finalidade pensar com Kierkegaard


um modo existencial de se relacionar com o saber da filosofia. Isto significa
tornar visível como o próprio Kierkegaard pensava a filosofia. Este modo de
ver a filosofia é originariamente existencial. Existencial deve ser
compreendido fenomenológica-hermeneuticamente como realização
ontológica do si-mesmo (Selv). Este modo de se relacionar com a verdade ou
de fazer filosofia não é do âmbito epistemológico. Também não é do âmbito
da história, da erudição. Saber sobre filosofia, não nos garante ou assegura o
fazer da filosofia. Saber a verdade sobre o si-mesmo, não me torna
efetivamente si-mesmo. Há um abismo entre o saber sobre e a realidade
efetiva disto que o saber procura explicar. Toda a produção kierkegaardiana
e a sua dialética da comunicação indireta tornam visível a forma existencial
como Kierkegaard fazia filosofia. Este trabalho perseguirá o desenvolvimento
desta questão muito provocado por Gadamer, que, em Verdade e método,
utiliza o conceito de “contemporaneidade” de Kierkegaard, retirando do
contexto religioso, para poder pensar a obra de arte. Então, neste trabalho,
aplicarei o conceito de “contemporaneidade” de Kierkegaard para mostrar
como este conceito é essencial para caracterizar o modo como Kierkegaard
fazia filosofia. O conceito de “pensador subjetivo” que Climacus desenvolverá
no Pós-escrito, em oposição ao pensador objetivo (o erudito), só é possível em
virtude da “situação de contemporaneidade” que o pensador subjetivo
estabelece com a filosofia, com a verdade. Tornar-se contemporâneo da
filosofia é um modo próprio e apropriador de se relacionar com a verdade,
escolhendo a si-mesmo ao apropriar-se da verdade. O conceito de
“contemporaneidade” de Kierkegaard não está afinado com o que Heidegger,
posteriormente, pensou ao diferenciar “História” como historiografia ou
historiologia (Historie) e como histórico (Geschichte)?

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