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1. Introdução
aqueles que caracterizam a própria evolução do ser humano (Sá, 1997). Com o seu
(IF) e com o progresso da atividade económica passa a ser encarada como uma ferramenta
e cada stakeholder atribui diferente utilidade à mesma. De acordo com Auken, Aşcıgil e
Carraher (2014), as Demonstrações Financeiras (DF), que são uma representação estruturada
para avaliar os impactos de vários fatores nas decisões anteriores ou futuras, como a liquidez,
informações resultantes da contabilidade de gestão são uteis para o controlo das atividades
O sucesso e a sobrevivência de uma empresa estão pendentes das decisões que o gestor toma
no dia a dia. Tomar decisões económicas acertadas só é possível se o gestor em causa analisar
(Amoako, 2013). Segundo Mom, Fourné e Jansen (2015), para as empresas superarem a
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instabilidade económica é necessário que o gestor analise a IF passada e presente de forma a
A literatura sugere vários fatores que determinam a utilidade da IF na tomada de decisão, uns
Frydman e Camerer (2016) argumentam que as decisões financeiras são as decisões mais
importantes de uma organização. Amoako (2013) afirma que a utilidade da IF (atribuída pelo
gestor) tem uma relação positiva com o desempenho e a sobrevivência da empresa pois para
atualizado, o que na maioria das empresas não está presente, tornando a tomada de decisão
arriscada (Culp, 2016). Em empresas de maior dimensão, as DF são mais completas, dadas as
normas aplicáveis havendo uma maior propensão a atender ou a exceder as expectativas dos
Por outro lado, as Pequenas e Médias Empresas (PME), quando comparadas às grandes
empresas, têm menos liquidez, apresentam fluxos de caixa mais voláteis, dependem de
financeiras, fazendo com que as taxas de falências nas pequenas empresas ssejam
inaceitavelmente altas (İbicioglu et al., 2010). A causa dessa situação, segundo Amoako
Segundo Florin (2014), a IF aumenta gradualmente à medida que a entidade desenvolve a sua
atividade, podendo os gestores de empresas mais antigas atribuir maior utilidade à IF. Já
Fujianti (2018) refere que o sucesso ou fracasso da empresa em atingir os seus objetivos
depende muito das caraterísticas de cada gestor. Para Carland e Carland (1991), salienta as
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diferenças nos traços de personalidade que existem entre gestores do sexo masculino e
feminino. Hendry, Sanderson, Barker e Roberts (2006) defendem que os gestores mais
responsáveis são muito diferentes dos gestores que também são os proprietários da empresa.
Há, no entanto, inúmeros fatores que podem influenciam a utilidade que o gestor atribui à IF.
utilidade da IF na tomada de decisões dos gestores. Neste contexto, esta investigação tem
Para alcançar o objetivo proposto, este estudo assenta numa abordagem quantitativa e envolve
aos profissionais da contabilidade pois são eles que preparam a IF das empresas e são capazes
fundamentos teóricos para este estudo que permitem formular as hipóteses de investigação e
2. Revisão da literatura
foi criada uma comissão com o objetivo de estudar e elaborar um plano de contabilidade para
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as empresas portuguesas, tendo em vista o combate à evasão fiscal. A publicação do Decreto-
Lei n.º 47/77, de 27 de fevereiro, aprova o Plano Oficial de Contabilidade (POC) 77, contudo,
este normativo não era aplicado às instituições financeiras, às empresas de seguros e ao setor
(Santos, 2010). Em 1 de janeiro de 1986, Portugal aderiu à UE e, com essa adesão, foi
a 4ª diretiva foi incluída no normativo contabilístico português e essa alteração deu origem ao
POC 89. Posteriormente, com a incorporação da 7ª diretiva, o POC voltou a ser reformulado,
em 2 de julho de 1991, através da inclusão do Decreto-Lei 231/91 que transpôs para o direito
edição de 1977 (Alves e Antunes, 2010). Assim, com Portugal já na UE, as Normas
Internacionais de Contabilidade (NIC) foram adotadas pela UE. Com o Regulamento (CE) n.º
aplicação das NIC nas entidades com títulos cotados em bolsa (Lourenço e Morais, 2004).
Após esta decisão, as DF das empresas eram preparadas e apresentadas em POC e de acordo
com as NIC, contudo estas não eram comparáveis por força de diferentes critérios de
Accounting Standards Board (IASB) e adotadas pela UE, visa melhorar o relato financeiro
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(Almeida e Albuquerque, 2009). O SNC foi elaborado pela Comissão de Normalização
Contabilística (CNC) e é composto por diversos elementos: Estrutura Conceptual; Bases para
setor Não Lucrativo (NCRF-ESNL) e Normas interpretativas. De acordo com Pires (2010),
para além da passagem do POC para o SNC, no plano fiscal foram introduzidos ajustamentos
ao Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (CIRC), de forma a adaptar
Lei n.º 159/09 de 13 de julho). O mesmo autor refere ainda que ao nível institucional, o
análise, preparação, interpretação e comunicação de IF, apresenta-se útil para uma vasta
contabilistas, para ser útil na tomada de decisões deve satisfazer algumas das diferentes
comerciais têm interesse em avaliar o risco de cobrança dos créditos concedidos, o grau de
acordo com Gencia, Sandu, Puscas e Mates (2016), a IF, como fonte básica de inteligência,
ajuda os utilizadores, internos e externos, a lidar com uma entidade económica que é prestada
através de um sistema de relatórios, cujo valor descritivo influência quem toma as decisões
Para uma boa tomada de decisão, o gestor necessita da IF completa, adequada e atualizada,
caso contrário, a tomada de decisão torna-se arriscada (Culp, 2016). No caso das (PME), a
maioria não sobrevive para além dos primeiros meses de existência, facto que tem sido
justificado, em parte, devido à falta de IF e de uma boa gestão financeira (Amoako, 2013).
Com efeito e segundo Amoako (2013), atualmente existe escassez de estudos que analisam os
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focam-se em microempresas e PME e apresentam resultados que apontam que a maioria dos
negócios tem uma gestão ineficiente e que os gestores, apesar de atribuir pouca importância à
IF, têm uma fraca habilidade para a gestão dos negócios, o que, consequentemente, leva à
perda do controlo nas situações operacionais do dia-a-dia, colocando a empresa numa situação
económica de risco.
A contabilidade, com a informação que produz, visa auxiliar todos os que tomam decisões,
atividades empresariais, pelo que esta deve estar disponível no sentido de dar resposta às
relação aos serviços prestados geram efeitos sociais e económicos (ao nível micro e
precisos, de modo a obter uma gestão financeira eficiente e melhor apoio através de conselhos
(Montesinhos, 1993).
função do gestor é o de porta-voz, isto porque no seu dia-a-dia ele ocupa uma grande
o seu tempo a decidir quais as unidades organizacionais que necessitam de recursos e como
obtê-los (İbicioglu et al., 2010). Nestas empresas só um pequeno grupo é que toma as
IF na tomada de decisão. No mesmo sentido, Özturk e Özçelík (2014) referem que os gestores
tomada de decisão.
gradualmente à medida que a entidade desenvolve a sua atividade. O gestor, com base nos
dados recolhidos ao longo da atividade da empresa, pode tomar decisões relacionadas com as
produzida. Como nas empresas de maior dimensão as DF são mais completas, dado o
expetativas dos gestores, no que diz respeito à utilidade da IF (Filzen e Peterson, 2015). Por
tomada de decisão.
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As rápidas mudanças na tecnologia e no nível de globalização causam fortes mudanças no
cenário económico que levam a repensar como a empresa está a ser gerida e o que está por
trás de seu sucesso (Zehir e Özasahin, 2008). O modelo do processo decisão estratégica
proposto por Wheelen e Hunger (2004) identifica oito etapas num processo de tomada de
permitindo estabelecer comparações com o passado detetar desvios entre o desempenho real e
estimado e realizar projeções para o futuro. A utilidade atribuída à IF pelo gestor tem uma
para Macve (2010), os gestores de empresas com melhor desempenho atribuem maior
tomada de decisão.
gradualmente à medida que a entidade desenvolve a sua atividade. Assim, o gestor, com base
nos dados recolhidos ao longo da atividade da empresa, pode tomar decisões relacionadas
hipótese:
decisão.
depende muito do gestor, ou seja, das suas características pessoais. Segundo Amoako (2013),
as características individuais do gestor influenciam a utilidade que o mesmo atribui à IF. Por
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outro lado, Manning e Robertson (2010) sugerem que os gestores do género masculino e
estar em desvantagem (Haynes, 2008). Estes resultados menos satisfatórios estão relacionados
a diferenças nos traços de personalidade que existem entre os gestores masculinos e femininos
decisão.
Santos, Dorow e Beuren (2016) referem que a tomada de decisão é baseada na experiência do
proprietário. O estudo de Serrasqueiro e Nunes (2004) mostra que o gestor é, na maioria das
empresas, o proprietário. Os autores sustentam ainda que o gestor proprietário tem tendência a
decisão. A maioria das empresas analisadas no estudo de Amoako (2013) é gerida pelo
geralmente, não recorre à IF, o que pode condicionar o sucesso empresarial. O facto de as
empresas serem geridas pelo proprietário ou por um parente próximo, pode desvalorizar a
utilidade da IF, uma vez que são poucos os gestores que pedem IF adicional à obrigatória,
H6: Os gestores que não são proprietários da empresa atribuem maior utilidade à IF na
tomada de decisão.
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Caraterísticas da empresa:
Dimensão da empresa H1
Normas contabilísticas H2
Género H6
Proprietário da empresa
3. Metodologia
A operacionalização desta investigação assenta numa pesquisa quantitativa com base num
inquérito online aplicado aos Contabilistas Certificados. Este é direcionado aos Contabilistas
Certificados pois são eles que preparam a IF das empresas e são capazes de avaliar a utilidade
solicitada pelo gestor. A aplicação do inquérito aos Contabilistas Certificados só foi possível
publicar o mesmo online no seu site institucional. Desta forma foi possível recolher respostas
sem custos, em grande quantidade e de forma rápida e garantir a confidencialidade dos dados
(Bell, 2005).
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contabilístico aplicável, performance e antiguidade) e utilidade da IF na tomada de decisões.
itens da tabela 1 que foram baseadas em vários autores e avaliadas numa escala de Likert de 5
pontos.
Desempenho da empresa
Itens Autores
O volume de negócios aumentou nos últimos 3 anos
O negócio tem sido muito lucrativo.
A empresa expandiu a atividade nos últimos 3 anos.
Murphy, Trailer e Hill (1996)
A empresa aumentou a quota de mercado nos últimos 3 anos.
A dimensão da empresa aumentou nos últimos 3 anos.
O número de empregados aumentou nos últimos 3 anos.
Utilidade da IF
Itens Autores
O gestor da empresa para além das DF solicita outro tipo de IF.
Gouveia, Fernandes e Gonçalves
O gestor da empresa atribui elevada utilidade à informação (2015).
financeira.
O gestor da empresa dá a devida importância aos indicadores Jaffar, Selamat, Ismail e Hamzah
financeiros no processo de tomada de decisão. (2012)
entanto, foram eliminadas 43 observações pelo facto do inquirido não exercer atualmente a
profissão de Contabilista Certificado. A amostra final está representada por 157 Contabilistas
Certificados.
Neste estudo utilizamos uma amostra por conveniência e não probabilística, dado que
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Na análise de dados utilizamos o programa estatístico IBM SPSS, versão 22. Em primeiro
inicialmente à análise fatorial para unificar as diversas variáveis utilizadas para medir a
correlação ordinal de Spearman para testar as hipóteses formuladas pelo modelo (Bell, 2005).
4. Resultados
sendo 47,13% do género feminino. A maior parte dos Contabilistas Certificados inquiridos,
possui idade igual ou superior a 41 anos (68,15%), tendo o restante (31,85%) idade inferior.
licenciatura, 20,38% mestrado, sendo que apenas 12,10% da amostra tem ensino secundário e
1, 91% o 9º ano. Nenhum inquirido possui o 4º ano, o 6º ano e o doutoramento. Neste estudo
verifica-se também que 100 (63,68%) dos 157 Contabilistas Certificados exercem funções
em mais do que uma empresa e apenas 57 (36,31%) exercem funções numa só empresa e que
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Nesta subsecção serão analisadas as relações entre variáveis e testadas as hipóteses
De acordo com a tabela 2, para um nível de significância de 0.05 rejeita-se H0, pois p-
atribuída pelo gestor consoante a dimensão das empresas. Ao analisar as posições médias
conclui-se que são os gestores de PME e de grandes empresas que atribuem maior utilidade à
empresas) atribuem maior utilidade à informação que é fornecida pela contabilidade. Estes
Através do teste Kruskal-Wallis, para um nível de significância de 0.05 rejeita a H0, pois p-
value<0.05 (tabela 3). Ao analisar as posições médias concluimos que são os gestores de
empresas com DF mais completas que atribuem maior utilidade à IF (posição média=121,33).
Desta forma suportamos a H2 e verificamos que resultados vão ao encontro dos fundamentos
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Tabela 3 - Teste Kruskal-Wallis para a hipótese 2
Para medir o desempenho das empresas procedemos à análise fatorial de forma a unificar num
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Da análise resultou uma variável que explica 79,6% da variância das 6 componentes iniciais.
Após a análise fatorial e de acordo com a tabela 5, o teste de Spearman, para um nível de
significância de 0,05, rejeita H0, pois p-value<0.05. Os resultados mostram uma correlação
fraca (R=33,7) mas significativa e positiva o que leva a concluir que gestores de empresas
com maior desempenho atribuem maior utilidade à IF. Assim, suportamos a H3, sendo os
p-value˂0.05 (tabela 6). Os resultados mostram uma correlação fraca (R=21,5) mas
significativa e positiva o que leva a concluir que gestores de empresas mais antigas atribuem
maior utilidade à IF e a suportar a H4. Desta forma concluímos que os resultados vão ao
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De acordo com a tabela 7, através da posição média do teste de Mann-Whitney, verificamos
que são os gestores do género feminino que atribuem maior utilidade à IF, contudo não é
significativo, visto que o p-value>0.05, logo não se rejeita a H0, pelo que os resultados não
A posição média de acordo com o resultado do teste de Mann-Whitney (tabela 8), indica que o
gestor que não é proprietário da empresa atribui maior utilidade à IF (posição média=96.64).
média=76.13). Com um nível de significância de 0.05, rejeita-se H0, pois p-value <0.05.
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Face ao exposto é possível concluir que apenas uma hipótese não é suportada neste estudo. A
5. Conclusões
fonte de informação, dado que esta pode ajudar o gestor a tomar decisões e influenciar o
desempenho do negócio.
Em Portugal existe uma taxa de falências e dissoluções, abrupta, na sua maioria em PME e
existência de gestão ineficiente. Para uma boa tomada de decisão é necessário utilizar e
erros passados e prever decisões futuras. O objetivo deste estudo consiste em avaliar os
Certificado.
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Este estudo desenvolve um modelo que visa avaliar os fatores determinantes da utilidade da
contabilidade, dado que nestas empresas é necessário um controlo mais exigente. Os gestores
decisão, isto porque para obter bom desempenho o gestor necessita de utilizar a IF de forma a
tomar a melhor decisão (Auken et al., 2014; Costantin e Gornea, 2012). Os gestores de
empresas mais antigas e com DF mais completas atribuem similarmente maior utilidade à IF
longo de vários anos e informação contabilística com maior detalhe em conformidade com o
concluímos que os gestores que não são proprietários da empresa, atribuem maior utilidade à
utilidade que este atribui à IF. Com base na revisão de literatura, identificou-se uma lacuna
relativa à escassez de estudos que identificam os fatores que tornam a IF útil à tomada de
decisão nas empresas Portuguesas. Neste contexto, esta pesquisa revela-se pertinente para o
fornece uma melhor compreensão dos fatores que determinam a utilidade da IF. Assim, o
Este estudo, como todos, apresenta algumas limitações nomeadamente ao nível da dimensão
resultados. Outra limitação deve-se ao facto de o inquérito não ser aplicado diretamente ao
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gestor. Nesta investigação optamos por aplicar o inquérito aos Contabilistas Certificados dado
que, por um lado, a resposta é mais fácil de obter e, por outro, estes detêm conhecimento
relativamente à utilidade que o gestor atribui à IF em função da IF que lhes é solicitada pelo
gestor.
é solicitada a IF pode determinar a utilidade de IF, por isso, sugerimos como investigação
resultados obtidos.
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