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MÓDULO 1

Definir a Contabilidade e seus objetivos

Contabilidade: propósito e fundamentos


1. Objetivo, usuários e tipos
A Contabilidade é o processo sistemático de medir a atividade econômica de uma empresa e
fornecer informações úteis para subsidiar a tomada de decisões econômicas.

Qual é o objetivo da Contabilidade?

Ele é tríplice:

 Registrar ou traduzir os eventos econômicos para uma linguagem universal;


 Mensurar ou atribuir valor aos eventos econômicos traduzidos;
 Divulgá-los ou apresentá-los aos usuários da informação contábil.

Sejam eles complexos ou triviais, esses eventos são processados, reduzidos às


suas partes elementares e ordenados de forma lógica.

Periodicamente, essas informações são resumidas em relatórios contábeis que contêm as


variações de riqueza ao longo do tempo. Eles podem ser utilizados pelos usuários para
compreender a situação financeira da empresa e subsidiar a tomada de decisões.

Eventos econômicos

Processo da contabilidade financeira

Demonstrações contábeis

Eventos econômicos

Clique na barra para ver as informações.

Mas quem são os usuários da informação contábil?


Elaborado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), o documento CPC 00 -
estrutura conceitual para relatório financeiro é claro ao defini-los como provedores de
financiamento para a entidade. Esses usuários, portanto, são exaustivamente citados no
documento em questão como investidores e credores existentes e em potencial.

Fonte: (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019, p. 1, 2)


Além disso, o CPC versa sobre a condição secundária de outros usuários, como os
reguladores e o público em geral, em relação a investidores e credores:

Outras partes, como reguladores e o público em geral, que não investidores,


credores por empréstimos e outros credores, podem também considerar
relatórios financeiros para fins gerais úteis. Contudo, esses relatórios não são
direcionados essencialmente a esses outros grupos.
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019, p. 1.

Ainda que a divulgação da informação contábil esteja voltada a provedores de financiamento


para a entidade, como investidores e credores, sua utilização como elemento de apoio à
tomada de decisão não se limita a esses grupos.

Com isso em mente, elencaremos agora os principais usuários da informação contábil e suas
necessidades de informação:

Usuários Necessidade de informação


Retorno sobre o capital investido; potencial de crescimento do valor econômico
Investidores
da entidade.
Segurança no emprego; parcela da riqueza gerada direcionada aos empregados
Empregados
em comparação com os proprietários.
Capacidade de pagamento de principal e juros; garantias disponíveis em caso de
Credores
inadimplência.
Fornecedores Risco de crédito da organização; prazo de pagamento de fornecedores.
Segurança na oferta de suprimentos e serviços; capacidade de continuidade da
Clientes
empresa.
Governo Recolhimento de impostos.

Fonte: (BRITTON; WATERSTON, 2006)

Um tipo adicional de usuário da informação contábil é representado pelos


administradores da entidade.

Contudo, a administração não precisa se basear em relatórios financeiros para fins gerais, pois
ela pode obter internamente as informações financeiras de que necessita, podendo recorrer,
inclusive, a análises gerenciais sob diferentes cenários e pressupostos que não se limitem às
regras estritas da contabilidade financeira.

2. Tipos de Contabilidade
Essa divisão é um arranjo criado para contextualizar as diversas aplicações do setor,
constituindo, assim, um misto de doutrina e pronunciamentos.

Há quatro tipos de aplicações da Contabilidade:

Contabilidade financeira

Objeto de nosso material de estudo, a contabilidade financeira segue estritamente os


pronunciamentos, sendo a responsável pela principal fonte de informações das empresas
comerciais aos usuários externos.

Contabilidade pública

Segue uma lógica similar à da contabilidade financeira, mas aplica-se aos entes públicos,
como a união, os estados e os municípios.

Contabilidade gerencial

Trata-se de uma versão das contabilidades financeira e pública – sobretudo, a primeira –


voltada para usuários internos, não estando limitada às leis ou a outros regulamentos
vinculantes. É uma reelaboração das informações contábeis originadas nessas duas
contabilidades sob cenários e pressupostos definidos pela administração.

Contabilidade fiscal

Ajuste aplicado na contabilidade financeira com o propósito de transformar o resultado


contábil em fiscal, o que representa o fato gerador e a base de cálculo de tributos sobre o
lucro, como o imposto de renda e a contribuição social sobre o lucro líquido.

Neste vídeo, um especialista contextualiza os conceitos apresentados até o momento.

3. Base normativa da Contabilidade


Seus princípios representam a essência de doutrinas e teorias relativas à Contabilidade de
acordo com o entendimento predominante nos universos científico e profissional. Tais
princípios regem o fenômeno contábil e devem ser observados pelas entidades na aplicação da
contabilidade financeira.

No Brasil, os princípios de contabilidade são definidos pelo Comitê de Pronunciamentos


Contábeis (CPC) desde que houve a decisão de convergi-los aos padrões contábeis
internacionais por meio da Lei nº 11.638/17. A partir daí, o comitê foi o encarregado de
realizar a transição dos padrões contábeis emitidos pelo International Accounting Standards
Board (IASB) para o ambiente doméstico.

Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo:

[...] o estudo, o preparo e a emissão de documentos técnicos sobre


procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza
para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira,
visando à centralização e à uniformização do seu processo de produção,
levando sempre em conta a convergência da Contabilidade brasileira aos
padrões internacionais.
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2005

O CPC possui quatorze membros: cada uma das sete entidades que o formam pode nomear
dois deles. Além desse contingente, são convidados a participar representantes de outras
entidades privadas e de reguladores do mercado financeiro.

Sete entidades:
Associação de Companhias Abertas (Abrasca); Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional); Brasil, Bolsa, Balcão (B3);
Conselho Federal de Contabilidade (CFC); Instituto dos Auditores Independentes do Brasil
(Ibracon); Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi); e
entidades representativas de investidores do mercado de capitais.]

Em 4 de outubro de 2016, o CFC revogou duas resoluções (as de nº 750/93 e


1282/10) que estabeleciam os enunciados dos princípios fundamentais de
Contabilidade.

A partir daí, a referência para a elaboração de padrões contábeis passou a ser a estabelecida no
CPC 00 - estrutura conceitual para relatório financeiro.

Produtos elaborados pelo CPC, os pronunciamentos técnicos, as orientações e as


interpretações não têm valor normativo, pois o comitê não tem competência legal para tal.

Isso garante que:

 A divulgação financeira será relevante para os investidores;


 Os requisitos de reconhecimento e de mensuração serão baseados nas características
qualitativas da informação contábil.

Dessa forma, para que eles se tornem obrigatórios, é necessário que os reguladores, que detêm
a competência normativa, os referendem por meio de atos normativos.

Exemplo
Para que os Comitês de Pronunciamento Contábil (CPCs) se tornem obrigatórios para as
sociedades anônimas de capital aberto, a Comissão de Valores Mobiliários precisa referendá-
los. No caso das instituições financeiras, é o Conselho Monetário Nacional

De maneira geral, os reguladores referendam os pronunciamentos assim que o CPC os emite.

A única exceção é o CMN. Este conselho referendou poucos pronunciamentos para o Sistema
Financeiro Nacional, como, por exemplo, o IFRS 9 (CPC 48), que trata de instrumentos
financeiros.

O profundo efeito desse pronunciamento nas instituições financeiras e o risco que uma
convergência precipitada poderia trazer para a estabilidade financeira levaram o CMN e o
Banco Central a estabelecerem um cronograma de convergência que estimasse os impactos
dessa norma no sistema financeiro.

Saiba mais
Mesmo emitido pelo CPC no final de 2016 e em vigor para as demais entidades a partir de
janeiro de 2018, o IFRS 9 (CPC 48) não foi referendado pelo CMN até o primeiro semestre de
2020.

Além dos CPCs, as entidades comerciais que atuam no Brasil estão sujeitas a outras normas
que afetam a contabilidade financeira, como, por exemplo, a Lei nº 6.404/76 (Lei das
Sociedades Anônimas).

Profundamente alterada pela Lei nº 11.638/07, que instituiu a obrigatoriedade da


convergência às normas internacionais de Contabilidade, a Lei das Sociedades Anônimas
aplica-se a:

1 - A adoção das normas internacionais de Contabilidade fundiu os CPCs à base normativa


aplicável às empresas comerciais.

2 - Sendo assim, o que existe hoje em dia são leis comerciais combinadas com os CPCs.

3 - As organizações estão sujeitas à normatização emitida pelas próprias autoridades


regulatórias do setor econômico em que atuam.

4. Pressupostos básicos
Os pressupostos básicos da informação contábil representam o ponto de partida de qualquer
desenvolvimento contábil, já que eles constituem a base dos critérios de reconhecimento e
mensuração dos fenômenos econômicos.

Esses pressupostos são:

CONTINUIDADE : Pressupõe que a entidade continuará em operação no futuro; portanto, a


mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta tal
circunstância. Decorre deste pressuposto que a entidade contábil continuará funcionando por
tempo suficiente para cumprir seus compromissos existentes;

REGIME DE COMPETÊNCIA : Determina que os efeitos das transações e outros eventos


sejam reconhecidos nos períodos a que se referem independentemente de recebimento ou
pagamento. Em oposição ao regime de caixa, o de competência desconsidera o efetivo
recebimento e pagamento como determinantes do período ao qual as receitas e as despesas se
referem. Seu pressuposto define o regime de apropriação de receitas e despesas da
Contabilidade – e é a construção contábil mais relevante.

Tendo por alicerce esses pressupostos básicos, o CPC (2019) afirma que o objetivo das
demonstrações financeiras é fornecer informações financeiras úteis para investidores e
credores atuais e potenciais na tomada de decisões sobre o fornecimento de recursos para a
entidade.

Tais decisões podem envolver:

1 - Compra, venda ou manutenção de instrumento de patrimônio e de dívida.

2 - Concessão ou liquidação de empréstimos ou outras formas de crédito.

3 - Exercício de direito de votar ou influenciar de outro modo os atos da administração que


afetam o uso dos recursos econômicos da entidade.

Para que sejam úteis, as informações apresentadas devem ser relevantes e representar
fielmente o que dizem representar. Por isso, a relevância e a representação fidedigna são
características qualitativas fundamentais da informação contábil útil.

A relevância e a representação fidedigna devem estar capacitadas, seja por seu valor preditivo
ou confirmatório, para fazer a diferença nas decisões tomadas.

5. Características qualitativas da informação contábil


Além das características qualitativas fundamentais da informação contábil, o CPC(2019)
elenca outras qualitativas de melhoria que ampliam o seu escopo, sendo capazes de fornecer
uma representação fidedigna:

Características
qualitativas de Definição
melhoria

Permite aos usuários a comparação entre as entidades, assim como


aquela realizada em uma mesma entidade em períodos distintos,
Comparabilidade
possibilitando a identificação e a compreensão de similaridades e
diferenças entre itens.

Ajuda a garantir aos usuários que as informações representem de forma


fidedigna os fenômenos econômicos que pretendem representar.
Verificabilidade Verificabilidade significa que diferentes observadores bem informados
e independentes podem chegar a um consenso de que uma
representação específica é fidedigna.

Significa disponibilizar informações aos tomadores de decisões a tempo


Tempestividade
para elas serem capazes de influenciar suas decisões.

Decorre da adequada classificação, caracterização e apresentação de


Compreensibilidade
informações de modo claro e conciso.

O desafio do preparador da informação contábil é:

Maximizar as características qualitativas de melhoria tendo em mente o


objetivo de produzir uma informação útil. O exercício que ele não pode evitar
é a busca constante de um equilíbrio entre as diversas características
qualitativas.

Verificando o aprendizado
1. As características qualitativas de melhoria ampliam e reforçam o alcance
daquelas consideradas fundamentais para a informação contábil útil. Qual
dessas características permite aos usuários identificar e compreender
similaridades e diferenças entre itens?

Verificabilidade
Comparabilidade
Tempestividade
Compreensibilidade

2. A Contabilidade apresenta pressupostos básicos que representam tanto os


fundamentos da ciência contábil quanto as características qualitativas
fundamentais da informação contábil útil. Esses dois conceitos se relacionam e
criam as condições para que ela cumpra seu objetivo. Entre as alternativas
abaixo, assinale a que representa os pressupostos básicos.

Regime de competência
Relevância
Verificabilidade
Representação fidedigna

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