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1.

INTRODUÇÃO E ENQUADRAMENTO NORMATIVO CONTABILÍSTICO

1.1. ÂMBITO E OBJETO DA CONTABILIDADE FINANCEIRA


A contabilidade pode ser entendida como um sistema de informação, que assenta na recolha de dados, os quais depois de trabalhados
de acordo com os procedimentos e normas contabilísticas dão lugar a informação útil para a tomada de decisão. Esta informação é
assim compilada sobre a forma de demonstrações financeiras e outros elementos de relato os quais são essenciais para que os
utilizadores das informações financeiras possam tomar as suas decisões.
Tal como referido no ponto 2.1.3 do documento Bases para a apresentação de demonstrações financeiras (BADF), as demonstrações
financeiras são no fundo uma representação estruturada da posição financeira e do desempenho financeiro de uma entidade. Assim, o
objetivo das demonstrações financeiras é o de proporcionar informação acerca da posição financeira (Balanço), do desempenho
financeiro (Demonstração dos Resultados) e dos fluxos de caixa (Demonstração dos Fluxos de Caixa) de uma entidade, de modo que
esta informação seja útil aos utilizadores na tomada das suas decisões. É ainda importante referir que as demonstrações financeiras
permitem obter uma informação importante sobre desempenho do órgão de gestão, nomeadamente no que diz respeito aos recursos a
ele confiados. Para satisfazer este objetivo, as demonstrações financeiras proporcionam informação acerca dos Ativos, Passivos, Capital
próprio, Rendimentos, Gastos, Outras alterações nos capitais próprios e Fluxos de Caixa.
Relativamente às divisões da contabilidade, podemos referir que relativamente ao ponto de vista temporal, a contabilidade pode
apresentar informação Histórica ou informação Previsional. A informação histórica está relacionada com o passado ocorrido, permitindo
assim uma visão retrospetiva da gestão, enquanto a informação Previsional é aquela que é usada como a base para predizer a posição
financeira e o desempenho futuros, de entidade, por exemplo, através da contabilidade orçamental.
No que diz respeito ao ponto de vista dos utilizadores, podemos dizer que a contabilidade se pode dividir em contabilidade Financeira
(Externa) vs contabilidade de Gestão (Interna). A Contabilidade Financeira é aquela que é obrigatória e que tem de ser preparada para os
utilizadores externos da entidade de acordo com as normas contabilísticas aplicáveis. Por outro lado, a contabilidade de Gestão é aquela
que é preparada e elaborada essencialmente para que o órgão de gestão possa tomar as suas decisões, não estando assim subjugada
às normas de contabilidade e de relato financeiro.
Por fim, importa referir que de acordo com o referido na Estrutura Conceptual (EC) do Sistema de Normalização Contabilística (SNC), no
seu § 9 a 11, nos utilizadores da informação financeira incluem-se os investidores atuais e potenciais, empregados, mutuantes,
fornecedores e outros credores comerciais, clientes, Governo e seus departamentos, o público e o órgão de gestão. Assim, é importante
ter que presente que a Contabilidade Financeira tem a responsabilidade de preparar, elaborar e apresentar demonstrações financeiras
que satisfaçam as necessidades dos seus utilizadores.

1.2. CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL


Em primeiro lugar há que ter presente que as empresas são agentes económicos, que se compõem por meios humanos, técnicos
(instalações, máquinas, ferramentas, entre outras) e meios financeiros (capitais necessários para conseguir operar) organizados. Têm
como objetivo produzir e vender bens e/ou serviços no mercado a outros agentes económicos e aos consumidores finais.
As empresas podem ser classificadas de acordo com critérios de agregação comuns, como sejam, por atividade, forma jurídica e
dimensão.
Classificação das empresas por atividade:
No que diz respeito à tipologia das empresas por atividade, podemos falar essencialmente em empresas industriais, comerciais, de
serviços. As empresas industriais são aquelas que estão diretamente ligadas ao processo produtivo, ou seja, aquelas que se dedicam à
transformação de matérias-primas em produtos acabados. No que diz respeito às empresas comerciais, estas são as que se dedicam
essencialmente à compra e venda de bens, sem que lhes alterem quaisquer características inicias. Relativamente às empresas de
serviços, estas são as que se dedicam à produção/prestação de serviços, como sejam serviços contabilísticos, jurídicos, médicos entre
muitos outros.
Classificação das empresas por forma jurídica:
No que diz respeito à forma jurídica das empresas, e para efeitos contabilísticos, poderemos identificar as seguintes entidades:

Sociedades abrangidas pelo Código das Sociedades Comerciais;


Empresas individuais reguladas pelo Código Comercial;
Estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada (EIRL);
Empresas públicas;
Cooperativas;
Agrupamentos Complementares de Empresas (ACE’s) e agrupamentos europeus de interesse económico.

Classificação das empresas por dimensão:


Para efeitos contabilísticos, e de acordo com o Decreto-Lei 98/2015 de 2 de junho, artigo 9.º, podem classificar-se as empresas em
Microentidades, Pequenas Entidades, Médias Entidades e as Grandes Entidades.
São consideradas Microentidades, as empresas que à data do balanço, não ultrapassem dois dos três limites:

Total do balanço: 350 000,00 €;


Total de vendas líquidas e outros rendimentos: 700 000,00 €;
Número médio de empregados durante o exercício: 10.

São consideradas pequenas entidades, as empresas que à data do balanço, não ultrapassem dois dos três limites:

Total do balanço: 4 000 000 €;


Total de vendas líquidas e outros rendimentos: 8 000 000 €;
Número médio de empregados durante o exercício: 50.

São consideradas médias entidades, as empresas que à data do balanço, não ultrapassem dois dos três limites:

Total do balanço: 20 000 000 €;


Total de vendas líquidas e outros rendimentos: 40 000 000 €;
Número médio de empregados durante o exercício: 250.

São consideradas grandes entidades, as empresas que à data do balanço, ultrapassem dois dos três limites:

Total do balanço: +20 000 000 €;


Total de vendas líquidas e outros rendimentos: +40 000 000 €;
Número médio de empregados durante o exercício: +250.

1.3. A HARMONIZAÇÃO CONTABILÍSTICA INTERNACIONAL


De uma forma sintética, podemos considerar a harmonização contabilística como sendo o processo que visa a convergência dos
diferentes sistemas de normalização contabilística que se encontram em uso em diferentes jurisdições, sejam elas nacionais, regionais
ou internacionais. Neste sentido, importa referir que esta convergência se refere essencialmente ao processo que visa convergir as
diferentes características qualitativas de relato financeiro, o processo de reconhecimento, de mensuração e divulgação.
Como principais razões para a harmonização, podemos destacar a existência de diferentes modelos contabilísticos, a globalização da
economia e dos mercados (com destaque para os mercados financeiros) e também a necessidade de se reduzirem custos para as
entidades que operam em diversas jurisdições.
Não nos querendo alongar neste ponto, podemos ainda referir que o relato financeiro nos países desenvolvidos evoluiu a partir de dois
modelos contabilísticos, nomeadamente o modelo continental/napoleónico e modelo anglo-saxónico. O modelo continental, assenta
essencialmente no Direito Romano, sendo muito orientado para a forma legal, onde a fiscalidade domina as regras contabilísticas. No que
diz respeito ao modelo anglo-saxónico, este assenta no Direito Inglês, sendo orientado para a imagem verdadeira e apropriada, sendo
orientado essencialmente para o investidor. Neste modelo existe uma clara separação entre as regras contabilísticas e fiscais.
Atualmente, a harmonização contabilística internacional está essencialmente refletida nas normas internacionais de conta de
contabilidade, que em inglês se designam de International Financial Reporting Standards (IFRS). Estas normas são desenvolvidas e
promovidas pelo The International Financial Reporting Standards Foundation (IFRS Foundation)
, o qual tem como missão desenvolver
Normas IFRS que ofereçam transparência, responsabilidade e eficiência aos mercados financeiros de todo o mundo. Esta fundação tem
como objetivos desenvolver um conjunto único de normas de relato financeiro com alta qualidade, que sejam aceites globalmente,
promovendo o seu uso e a sua rigorosa aplicação. Nos seus objetivos estão ainda a necessidade de um relato financeiro adequado às
economias emergentes e das pequenas e médias empresas, assim como o alcançar da convergência entre as normas nacionais e as
IFRS através de soluções de alta qualidade.
De acordo com a divulgada pela IFRS Foundation h( ttps://www.ifrs.org/), em 2018 estas normas estão refletidas em 166 jurisdições, que
representam todo o mundo, incluindo todas as jurisdições do G20. Importa ainda referir que 144 das 166 jurisdições (87%) exigem o uso
das normas IFRS para quase todas as entidades públicas nacionais, empresas cotadas em bolsa e instituições financeiras. A maioria
das restantes jurisdições permite o seu uso. Relativamente à norma IFRS para PMEs, esta é exigida ou permitida em 86 das 166
jurisdições.

1.4. O SISTEMA DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICO (SNC)


O Sistema de Normalização Contabilístico (SNC) é o normativo contabilístico atualmente em vigor em Portugal. Este normativo veio
substituir o anterior Plano Oficial de Contabilidade (POC). Este Sistema, à semelhança do POC, não é de aplicação geral, pois às
microentidades (ME), às pequenas entidades (PE) e às entidades do setor não lucrativo (ESNL) aplica-se o SNC com as suas
especificidades.
Ao falar neste sistema de normalização, torna-se também importante abordar a Comissão de Normalização Contabilística (CNC).
A CNC é o organismo que tem por missão1, no domínio contabilístico, emitir normas, pareceres e recomendações relativos ao conjunto
das entidades inseridas no setor empresarial e setor público, de modo a estabelecer e assegurar procedimentos contabilísticos
harmonizados com as normas europeias e internacionais da mesma natureza, contribuindo para o desenvolvimento de padrões de alta
qualidade da informação e do relato financeiro das entidades que apliquem o Sistema de Normalização Contabilística (SNC), a
Normalização Contabilística para Microentidades (NCM) e o Sistema de Normalização Contabilística Público (SNCP).
Neste âmbito, destacamos a seguinte legislação de suporte ao normativo contabilístico aplicável em Portugal:

Decreto-Lei n.º 98/2015 de 2 de junho


Decreto-Lei n.º 158/2009 de 13 de julho
Decreto-Lei n.º 35/2005 de 17 de fevereiro

Em termos gerais, podemos dizer que o SNC é constituído pelos seguintes elementos:

Estrutura concetual;
Bases para a apresentação de demonstrações financeiras;
28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF) e 2 Normas Interpretativas (NI), aplicável ao Regime Geral;
Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Pequenas Entidades (NCRF-PE);
Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Microentidades (NC-ME);
Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Entidades do Setor Não Lucrativo (NCRF-ESNL);
Código de contas (Quadro síntese | Código de contas e Notas de enquadramento);
Modelos de demonstrações financeiras aplicáveis aos diversos regimes:
Regime geral (NCRF)
Pequenas Entidades (NCRF-PE)
Microentidades (NC-ME)
Entidades do Setor Não Lucrativo (NCRF-ESNL)

O enquadramento contabilístico em Microentidades, Pequenas Entidades, Médias Entidades consta do artigo 9.º do DL 158/2009 (alterado
pelo DL 98/2015), o qual já foi referido no capítulo 1.2 deste E-Book.
Quanto às Entidades do Setor Não Lucrativo (ESNL), são consideradas as entidades que apresentam as seguintes características:

Prosseguem a título principal atividades sem fins lucrativos; e


Não podem distribuir resultados/ganhos aos seus membros; e
Não têm títulos de propriedade transacionáveis; e
São independentes do governo.

Importa ainda referir que as ESNL devem aplicar o regime contabilístico NCRF-ESNL, constante do SNC, contudo podem optar pela
aplicação das NCRF ou das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) em certas circunstâncias.
Por fim, importa ainda abordar os modelos de demonstrações financeiras aplicáveis a cada um dos Regimes:
Regime Geral:

Balanço;
Demonstração dos resultados por naturezas (e, por opção, por funções);
Demonstração das alterações no capital próprio;
Demonstração dos fluxos de caixa;
Anexo.

Regime das Pequenas Entidades:

Balanço (modelo reduzido);


Demonstração dos resultados por naturezas (e, por opção, por funções) (modelo reduzido);
Anexo modelo reduzido);

Regime das Microentidades:

Balanço (modelo reduzido);


Demonstração dos resultados por naturezas (e, por opção, por funções) (modelo reduzido);
Dispensadas de apresentar o Anexo se divulgarem as informações constantes do n.º 4 do artigo 11.º do DL 98/2015

1 https://www.cnc.min-financas.pt/sobre.html

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