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INSTITUTO SUPERIOR CIÊNCIAS E TECNOLOGIA ALBERTO CHIPANDE

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS


CURSO DE LICENCIATURA EM LOGÍSTICA DE EMPRESAS
PORTUARIAS
Cadeira de: Contabilidade Geral Período vespertino

CAPITULO I- CONTABILIDADE GERAL E CONCEITOS E ASPECTOS


GERAIS
1.1 Introdução
A Contabilidade de qualquer empresa ou instituição é um sistema de informação
onde está registado, através de técnicas e regras convencionais, o conjunto de
fluxos, procedimentos e operações com o objectivo de os transportar, armazenar,
tratar, validar e gerir. Toda a informação que resulta desta actividade é
fundamental na vida empresa/instituição

A Contabilidade lida com dois tipos de dados, a saber, os dados de entrada {input)
e os dados de saída {output), correspondendo a valores representados em termos
monetários.
A primeira parte do curso trata os aspectos relacionados com a informação
veiculada pelo sistema contabilístico para na segunda parte tratar toda a
problemática da normalização contabilística, nomeadamente as contas do balanço e
a demonstração de resultados. Finalmente na terceira parte serão tratados, duma

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forma introdutória, aspectos relacionados com as normas específicas de
contabilização da actividade logística empresarial e portuária.

1.2 Objectivos da contabilidade geral e propósito do sistema contabilístico.

O objectivo básico da contabilidade é produzir demonstrações económico-


financeiras que sirvam de suporte às decisões dos utentes ou interessados da
empresa.
Um sistema de contabilidade visa fornecer informações contabilístico-financeiras
que permitam:
Propósito 1. Formulação da estratégia global da organização e dos planos de longo
prazo:
Propósito 2. Tomada de decisões sobre alocação de recursos
Propósito 3. Planeamento e controlo dos custos de operações e actividades.
Propósito 4. Medida de avaliação do desempenho
Propósito 5. Cumprimento da regulamentação externa sobre o reporte financeiro.
O sistema de contabilidade fornece e desempenha três funções gerais:
 Fornecimento de informações financeiras aos utentes externos (accionistas,
credores e vários departamentos e serviços reguladores);
 Determinação do custo dos produtos e serviços produzidos pela
organização;
 Fornecimento de informações aos gestores da organização que são
responsáveis pelo planeamento, controlo, tomada de decisões e avaliação do
desempenho.

1.3 Contabilidade geral conceitos básicos

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Os registos contabilísticos andaram sempre de mãos dadas com a actividade
económica. A contabilidade terá nascido com o surgimento da vida económica
organizada. Nasceu pela necessidade de registar o património e as transacções.
Remonta a 4.000 anos A.C., à civilização Suméria. A técnica das partidas dobradas
tem mais de 500 anos. A contabilidade é uma linguagem do mundo dos negócios.
Noção Geral: Contabilidade é a expressão, medida e análise dos fenómenos e
das situações patrimoniais.

1.4 Definições de Contabilidade


Martim Noel Monteiro: “Define-se como a ciência e a técnica que estuda e mede
a “riqueza administrada” e os efeitos da administração sobre a mesma”.
Jaime Lopes de Amorim: “A contabilidade tem por fim a análise da situação
económica e financeira da empresa através do exame da composição qualificativa e
valorativa do respectivo património, relevada por processos metodológicos”.
Armandino Rocha: “A contabilidade é a ciência do equilíbrio patrimonial”.
Gonçalves da Silva: “A contabilidade é uma técnica de relevação do património”.
Pode ainda ser assim definida: “A contabilidade, através do registo, análise,
avaliação, controlo e previsão do património, permite uma gestão mais
eficiente da empresa”.

1.5 Contabilidade como Sistema de Informação

Requisitos da Informação Contabilística:


1. Objectividade: quantificar a informação, representando a realidade e sendo
independente de quem informa.
2. Inteligibilidade: deve apresentar-se de forma simples e clara de modo a ser
entendida pelo destinatário.

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3. Relevância: a informação tem de ser relevante, isto é, deve-se conhecer os
fins a que se destina. Pressupõe saber quais são os fins da contabilidade.
4. Rentabilidade: o custo da informação deve ser inferior à vantagem que ela
proporciona, caso contrário, será preferível prescindir dessa informação.

1.5.1 Princípios contabilísticos


O seguimento de princípios contabilísticos, reveste-se de grande importância,
sobretudo se assumirmos que os utentes da informação contabilística ultrapassam as
fronteiras de um país, devido ao fenómeno de globalização. No plano geral de
contabilidade estão patentes os seguintes princípios contabilísticos geralmente aceites:

Continuidade: presume-se que a instituição/empresa opera continuamente não tendo


intenção nem necessidade de entrar em liquidação ou reduzir significativamente a sua
actividade. Este princípio é fundamental para transmitir confiança aos utentes e ao
público em geral.

Consistência: os critérios valorimétricos não podem ser modificados de um exercício


para o outro, caso se verifique uma derrogação a este princípio com efeitos
materialmente relevantes, deve constar uma nota explicativa anexo as demonstrações
financeiras.
Especialização: os proveitos e os custos são reconhecidos quando obtidos ou
incorridos, independentemente do seu recebimento ou pagamento, devendo incluir-se
nas demonstrações financeiras dos períodos a que respeitam.
Prudência: as contas devem integrar níveis de precaução exigidos por estimativas
realizadas em condições de incerteza, não permitindo, contudo, a criação de reservas
ocultas ou provisões excessivas ou a deliberada quantificação dos activos e proveitos
por defeito de passivo e custos por excesso.

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1.6 Tipos de contabilidade e os principais usuários da informação
contabilística

A contabilidade nas suas diversas formas, permite a administração:


 Conheça o montante e a origem dos resultados, passados e futuros;
 Verifique a justeza das decisões tomadas ou a tomar (é de facto um instrumento
de gestão e previsão);
 Conheça a posição da empresa perante todos os terceiros, isto é, conheça sempre
e mesmo antecipadamente a quem é que a empresa deve dinheiro e quem lho
deve a ela;
 Controle a evolução patrimonial da empresa.

A contabilidade geral, permite, em relação ao conjunto da empresa:


 Constatar os encargos e os proveitos por natureza, isto é, os fluxos de consumo e
produção;
 Fazer surgir os resultados de um dado período, isto é, a variação patrimonial
devida à actividade da empresa;
 Fazer periodicamente o ponto de situação dos bens e das dívidas da empresa, isto
é, indicar e quantificar a situação patrimonial.

A contabilidade analítica: tem como objectivo indicar os custos por centro de


actividade, por sector ou actividade, por produto ou por mercado. É a contabilidade do
passado / presente. Regista os fluxos internos e descreve o processo de transformação
dos bens e serviços desde a sua entrada até à sua saída da empresa.

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A contabilidade orçamental ou previsional: consiste na organização e qualificação
das previsões efectuadas pelos centros de responsabilidade, isto é, pelos diferentes
directores de serviço da empresa, a partir de determinados objectivos. O conjunto
destas previsões, depois de agrupados e coordenados ao nível da empresa, permite a
elaboração dos diversos orçamentos (vendas, aprovisionamentos, tesouraria, etc.) E o
do orçamento geral. A exploração da contabilidade analítica permite analisar os
resultados e especificar as origens do resultado global que a contabilidade geral indica.
As comparações entre os valores indicados na contabilidade orçamental e os da
contabilidade analítica permitem analisar os desvios entre as previsões e as realizações.
Uma das funções do serviço de controlo orçamental, entre muitas outras, consiste em
analisar, com e para os responsáveis, os desvios, utilizando as informações contidas
nos diferentes sistemas contabilísticos.
O contabilista: classifica e regista as informações quantificadas o seu papel é
aparentemente passivo. Está vinculado a um rigoroso formalismo. Está condenado a
uma precisão absoluta de valores. É ele o guardião da lei exterior representado pelo
p.o.c., e das leis internas, representadas pelos regulamentos e normas. O contabilista é
imparcial e deveria ser independente, no sentido jurídico do termo.
O gestor: explora e interpreta as informações quantificadas que o contabilista lhe
transmite. Deve, o mais rapidamente possível, trabalhar essas informações a fim de
auxiliar os responsáveis pela empresa a dividir as acções correctas e as modificações
nos objectivos ou no orçamento. Para ele, são mais importante a rapidez e a qualidade
da informação do que a precisão dos valores. Além disso é frequente o gestor quem
põe em execução os regulamentos e normas internas e elabora as especificações
necessárias para a definição dos termos próprios da empresa.

O auditor: verifica a coerência e a correcta aplicação dos regulamentos, quer internos


quer externos, definidos pela lei ou pelos gestores, no sentido amplo do termo. Por

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outro lado, certifica-se da qualidade e do significado das informações fornecidas pelos
diferentes serviços e unidades da empresa. O auditor deve estar directamente em
ligação com a administração. Ele dispõe de um amplo poder de investigação e a sua
independência deve permitir-lhe propor múltiplas reformas em todos os domínios;
Sócios e Accionistas: Para saber se a empresa continua a oferecer boas
perspectivas de lucratividade e retorno dos investimentos;
Administradores e Directores Executivos: Para conhecer a situação actual da
empresa, para avaliar o impacto das Directores Executivos das decisões tomadas
no passado, de nodo a preparar novas decisões sobre o futuro;
Instituições Financeira: Para avaliar o retorno e a segurança dos capitais
investidos ou a investir.
Governo: Para recolha de dados de tributação e para análise micro e macro-
económicas;
Trabalhadores: Para avaliar a capacidade da empresa melhorar as condições
laborais no futuro;
Fornecedores: Para avaliar a capacidade de reembolso dos créditos comerciais
concedidos ou a conceder;
Clientes; Para avaliar a capacidade de melhoria da qualidade os produtos e
serviços prestados;
Comunidade em Geral: Para medir a capacidade da empresa de contribuir para o
desenvolvimento da Comunidade onde está inserida.

1.7 Património, Noção, Composição e Valor do Património

1.7.1 Definições do Património


São diversas as definições e assim temos:

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Para o Luís Fontela e Pinheiro Henriques: “entende-se por património todo o
conjunto de valores que se destinam a determinado fim e estão sujeitos a uma
administração”.
Para o Professor João Manuel Esteves Pereira: “Património é o conjunto de
valores pertencentes a determinada unidade económica e administrativa com certo
objectivo”.
Para o Professor Gonçalves da Silva: “É o conjunto de valores sujeitos a uma
gestão e afectos a determinado fim”.
Para Matim Noel Monteiro: “É o conjunto de bens, de elementos e direitos
pecuniários que constituem a riqueza de alguém e está sujeito a administração”.
Património é o conjunto de bens, direitos e obrigações redutíveis a um valor
pecuniário, afectos a determinada pessoa.
1.7.2 Características dos Elementos Patrimoniais
 Titularidade: estabelecimento de um vínculo com determinada entidade;
 Heterogeneidade: estão representados elementos de natureza distinta;
 Pecuniariedade: permite a homogeneidade do que é heterogéneo;
 Algebricidade: vai permitir atribuir sinais diferentes.
1.7.3 Elementos Patrimoniais
As necessidades são satisfeitas com a utilização de bens ou serviços. Algumas
vezes o homem precisa de adquirir bens e não tem possibilidades financeiras,
vendo-se obrigado a recorrer ao crédito ou obter um empréstimo. Contrai uma
obrigação. A situação pode ser inversa. Empresta dinheiro a alguém que a ele
recorre. Neste caso adquire um direito.
Portanto, o conjunto de bens materiais, direitos e obrigações, que pertencem a um
indivíduo ou a uma empresa, chama-se património. O património de um indivíduo
está ligado a este pela lei e pelo reconhecimento público. Todos os patrimónios
individuais são diferentes por pertencerem a pessoas diversas. Os bens, direitos e

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obrigações têm uma existência limitada. Os bens que se adquirem, consomem-se
ou usam-se. Os direitos e as obrigações extinguem-se quando se satisfaz o
compromisso assumido. Ao constituir-se a empresa é necessário capital. É com
este que se paga as despesas de constituição e se adquire os bens necessários ao
início da sua actividade. Em seguida entrará em funcionamento e, em troca das
mercadorias que vende, receberá dinheiro.

No entanto, acontece muitas vezes que à entrega de mercadoria não corresponde


imediatamente um recebimento de dinheiro. Há pois, um lapso de tempo maior ou
menor que medeia entre a entrega da mercadoria ao comprador e o pagamento da
mesma.
Assim, surgem os débitos/dívidas que representam prestações do exterior e
que, por qualquer motivo, não foram pagas imediatamente.
Os créditos representam as prestações cedidas ao exterior e que também não foram
pagas imediatamente. As empresas são devedoras em relação aos seus
fornecedores, ao seja, aos seus credores, a quem não pagam no momento da
entrega da mercadoria. Mas são credores quando vendem aos seus clientes e não
recebem imediatamente o respectivo valor, tornando-se aqueles, seus devedores.
Elemento Patrimonial Activo: é o conjunto de elementos patrimoniais que se
traduzem em bens e direitos.
Elemento Patrimonial Passivo: é o conjunto de elementos patrimoniais que se
traduzem em obrigações

1.7.4 Noção Intuitiva dos Elementos Patrimoniais

Todos os bens e direitos de um indivíduo ou das empresas com os quais exercem a


sua actividade são valores positivos e denominam-se Activos (+). As obrigações

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são valores negativos pois representam compromissos assumidos e tomam o nome
de Passivo (-).
Os valores Activos e Passivos são valores concretos. Os bens são constituídos por
elementos palpáveis denominam-se elementos corpóreos e os direitos e obrigações
são elementos incorpóreos.

1.7.5 Factos Patrimoniais


Factos Patrimoniais: é tudo o que implica alterações no património. Originam
variações na estrutura patrimonial e/ou no seu valor também. Que pode ocorrer das
seguintes formas:
 Operações: resultam da tomada de decisão dos gestores.
 Acontecimentos: não existe qualquer tipo de decisão. Exemplo: roubos,
sinistros, etc.
1.7.6 Classificação dos Factos Patrimoniais
Permutativos: alteram a composição mas não alteram o valor do património.
Exemplos de Factos Patrimoniais Permutativos:
 Recebimento de um crédito: Aumenta um bem (caixa) e diminui um bem
(clientes).
ΔVP = 0
 Compra de mercadoria a crédito: Aumenta um bem (mercadoria) e aumenta
uma obrigação (fornecedores). ΔVP = 0
 Pagamento de um débito: Diminui um bem (caixa) e diminui uma obrigação
(fornecedores). ΔVP = 0

Modificativos: alteram a composição e o valor do património. Podem originar:


 Variações Activas: quando existe aumento do activo ou diminuição do
passivo;

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 Variações Passivas: quando existe diminuição do activo ou aumento do
passivo.
Exemplos de Factos Patrimoniais Modificativos:
 Roubo de uma mercadoria: Diminui um bem (mercadoria). ΔVP < 0;
 Indemnização a pagar: Aumenta uma obrigação. ΔVP < 0;
 Venda de mercadoria com lucro: Diminui um bem (mercadoria) e aumenta
um bem (caixa). ΔVP > 0 pelo valor do lucro

1.7.7 Variação do Valor do Património

Resultado: designa as variações, ocorridas em determinado período, no valor


do património.
VP1 = VP0 + R1 ↔ R1 = VP1 – VP0
Apuramento do Resultado de Determinado Exercício
Alternativa Estática:
R = VP1 – VP0
Se:
VP1 > VP0 → R > 0 → LUCRO
VP1 < VP0 → R < 0 → PREJUÍZO

Apuramento do Resultado de Determinado Exercício


Alternativa Dinâmica:
Proveitos: acontecem quando somos confrontados com qualquer variação activa
não compensada por uma variação passiva simultânea, em igual valor.
Custos: acontecem quando toda a variação passiva não é compensada com uma
variação activa simultânea, em igual valor.
Se:

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Σ Proveitos > Σ Custos → R > 0 → Lucro
Σ Proveitos < Σ Custos → R < 0 → Prejuízo
Σ Proveitos = Σ Custos → R = 0

BIBLIOGRAFIA
 Borges, A., Rodrigues, A. e Rodrigues, R.2005. Elementos de Contabilidade
Geral, 22ª Edição, Áreas Editora: Lisboa;
 Silva, F. E Pereira, J. 1996. Contabilidade das Sociedades, 10ª Edição Plátano
Editora: Lisboa;
 Borges, A., Rodrigues, A. e Morgado J. 2004. Contabilidade e Finanças para a
Gestão, 2ª Edição;
 Plano Geral de contabilidade – Decreto 70/2009 de 22 de Dezembro.

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