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O problema teologal do homem1

Diêgo de Alencar Ermínio2

Em princípio, refletir acerca do problema teologal do homem quanto à


dimensão da vida humana como fundamento último que é Deus, nos remete a
pensar não somente em Deus como mais um tema, mas pensar o problema de Deus
para o homem da atualidade com suas diferenças e problematizações. “O homem
atual, pois, seja ateu ou teísta, tem a pretensão de não ter em sua realidade de vida
um problema de Deus” (p. 13). “Para o ateu não só não existe Deus como também
nem sequer existe um problema de Deus” (p. 13). “O teísta acredita em Deus, mas
não vivencia Deus como problema” (p. 13).

Por conseguinte, falar do problema de Deus em virtude do homem está


fortemente voltado para respostas que surjam da crença e/ou da razão que envolve
a intelectualidade do homem. Em vista disso, “a raiz última desta justificação
intelectiva do que seja ou não seja Deus se encontra forçosamente no
descobrimento do problema de Deus no homem” (p. 14). Para tanto, “o problema de
Deus, enquanto problema, é “ao mesmo tempo” um encontro mais ou menos preciso
com a realidade ou com a irrealidade de Deus. Esta direção de pensamento é o que
expressa o título “Problema teologal do homem” (p. 14).

“Dessa forma, o problema teologal do homem se divide em três partes:


religação, religião e “deiformação”, que constituem três problemas: Deus, religião,
Cristianismo” (p. 20). De tal forma que, “o que aqui buscamos é uma análise dos
fatos, uma análise da realidade humana enquanto tal, tomada em e por si mesma”
(p. 14). Tendo em vista que, “a dimensão teologal é, assim, um momento constitutivo
da realidade humana, um momento estrutural dela” (p. 14), pois “o homem é uma
realidade não feita de uma vez por todas, mas uma realidade que tem que ir
realizando-se em um sentido muito preciso” (p.15). Ao posso que, “em cada ação
que o homem executa se configura uma forma de realidade. Realizar-se é adotar
1
Resumo. AP2. 15/11/2021.
2
Aluno do curso de Bacharelado em Filosofia FCF. Disciplina Introdução ao Pensamento Teológico, ministrada
pelo Prof. Dr. Pe. Júnior Aquino.
uma figura de realidade. E o homem se realiza vivendo com as coisas, com os
demais homens e consigo mesmo” (p. 15).

Diante disso, “o homem só pode realizar-se possuído pelo poder do real. E a


esta tomada de posse é o que se tem chamado de religação” (p. 15), cujo aspecto
característico constitutivo do homem, enquanto pessoa está voltado para realidade
que não se realiza por si mesma, mas por suas peculiaridades mediante o homem
que tem e é realidade, ou seja “a religação é uma dimensão constitutiva da pessoa
humana. A religação não é uma teoria, mas sim um fato inegável. Portanto, como
pessoa o homem está constitutivamente diante do poder do real, isto é, com a
dimensão última do real” (p. 15).

Sob o mesmo ponto de vista, “o homem encontra Deus ao realizar-se


religadamente como pessoa. [...]. Por isso, dizer que Deus é transcendente não
significa dizer que Deus é transcendente “às” coisas, mas sim que Deus é
transcendente “nas” coisas. [...]” (p. 17). Assim, o apoderar-se do homem através do
real que traz em si o poder, torna-se uma conquista da pessoa humana enquanto
apoderada por Deus. Logo, “o apoderar-se pelo poder do real acontece na forma
experiencial. A religação é, pois, uma marcha experiencial para o fundamento do
poder do real” (p. 17-18). Tendo em vista que, “a marcha real e física para Deus não
é somente uma intelecção verdadeira, mas é uma realização experiencial da própria
realidade humana em Deus” (p. 18), pois “a intelecção é o momento de
esclarecimento da marcha real e física na qual o homem está marchando pelo poder
do real” (p. 16).

Nesse sentido, “a experiência do fundamento do poder do real é uma


averiguação individual, mas também e “no mesmo sentido” uma averiguação social
e histórica. Daí que o próprio fundamento do poder do real pertence, de uma ou de
outra forma, à pessoa mesma: ser pessoa é ser “figura” desse fundamento, e sê-lo
experiencialmente” (p. 18). Com isso, essa forma plasmada de religação que surge
do individual, do social e do histórico resulta concretamente “do apoderar-se do
poder do real na religação” (p. 19), que podemos associar a religião sob o ponto de
vista mais amplo de seu significado e sentido, cuja perspectiva parte da concretude
de ver Deus, o homem e o mundo a partir da experiência inserida na religião no que
tange à sua história. “Portanto, penso que a história das religiões é a experiência
teologal da humanidade tanto individual como social e histórica, acerca da verdade
última do poder do real, de Deus” (p. 19).

Dessa maneira, “o Cristianismo é religião e, portanto, uma plasmação da


religação, uma forma como o poder do real e, portanto, seu fundamento, Deus, se
apodera (no indivíduo, na sociedade e na história) experiencialmente do homem” (p.
19). A partir disso, podemos perceber sob a perspectiva do cristianismo nesse ser,
que se torna real em Deus várias formas de apoderar-se, no que concerne à
perspectiva que a religação nos aponta sob modos e dimensões. Visto que, “a forma
de ser humanamente Deus é sê-lo “deiformemente”. O homem é uma projeção
formal da própria realidade divina; é uma maneira finita de ser Deus. [...] Deus é
transcendência “na” pessoa humana, sendo esta “deiformemente” Deus. Portanto,
realizar-se como pessoa é realizar-se pelo modo de se apoderar-se “deiformemente”
do real. O apoderar-se mesmo é o acontecer da “deiformação” (p. 19).

Assim, fica perceptível que o cristianismo é por essência um ato de


deiformidade sob o aspecto de uma experiência teologal que nos aponta o caminho
de uma religião que prega a verdade em sua radicalidade, a partir de seu próprio
testemunho com abrangência às outras religiões dentro de uma formalidade
fundamentada no fim último que é Deus.

Portanto, o problema teologal do homem não se reduz somente ao aspecto


de fé, mas a uma justificativa racional com o intuito de obter respostas acerca do
problema último em seu fundamento, problema esse, de nossos tempos envoltos na
dimensionalidade da vida humana como fundamento último que é Deus, pois Deus
não é opção, mas a fé é opcional. Por isso, “o problema de Deus, enquanto
problema, não é um problema qualquer, arbitrariamente colocado pela curiosidade
humana, mas é a realidade humana mesma em sua problematicidade constitutiva”
(p. 15). Enfim, o homem faz a vida com as coisas fundamentadas na possibilidade e
impelidos pela realidade, sendo des-ligado de tudo e re-ligado á realidade.

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