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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL PRÓ-REITORIA DE COMUNICAÇÃO,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ CULTURA E EXTENSÃO


CAMPUS ORIXIMINÁ-CORI

Autores: Ilustração:
Andreiva Araújo de Souza Ândria Araújo de Souza
Jhenife Thuane Costa da Silva (Estudante do Ensino Fundamental
Jaene Carla Pedroso da Silva do munícipio de Oriximiná)
Orientador: Diagramação:
Gustavo Hallwass Ediego Batista

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

C327

Cartilha de pesca: estimulando e orientando a organização comunitária [recurso


digital] / Andreiva Araújo de Souza, Jhenife Thuane Costa da Silva, Jaene
Carla Pedroso da Silva, Gustavo Hallwass. -- 1. ed. -- Belém: RFB Editora,
2020.
7.729 kB; PDF: il.
Bibliografia.
Modo de acesso: www.rfbeditora.com.

ISBN: 978-65-991753-7-4
DOI: 10.46898/rfb.9786599175374

1. Pesca. 2. Comunidade. 3. Pesquisa. 4. Estudo.


I. Título.

CDD 641.39

REALIZAÇÃO APOIO
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................... 4

A PESCA E SUA IMPORTÂNCIA.............................................................................................................. 4

A PESCA: UMA IMPORTANTE FONTE DE ALIMENTAÇÃO........................................................ 5

A PESCA COMO FONTE DE RENDA...................................................................................................... 6

TIPOS DE PESCA............................................................................................................................................ 7

INVISIBILIDADE DA PESCA: UM DESAFIO SOCIAL, POLÍTICO E ECONÔMICO............ 8

REGRAS E LEGISLAÇÕES........................................................................................................................ 9

AS E LEGISLAÇÕES: TAMANHO MÍNIMO DE CAPTURA........................................................... 12

REGRAS E LEGISLAÇÕES: DEFESO/ PIRACEMA........................................................................... 15

REGRAS E LEGISLAÇÕES: ACORDOS DE PESCA.......................................................................... 16

REGRAS E LEGISLAÇÕES: COLÔNIAS DE PESCA........................................................................ 17

PARA FINALIZAR......................................................................................................................................... 18

REFERÊNCIAS............................................................................................................................................... 19

Foto: Ediego Batista/CORI-UFOPA


APRESENTAÇÃO

A pesca é uma das atividades hu- de extensão: “Etnoconservação,


manas mais antigas e com grande gestão comunitária e uso sustentável
importância em todo o mundo. Da da biodiversidade aquática no Oeste
mesma maneira, as populações Paraense”, desenvolveu esta carti-
Amazônicas possuem alta depen- lha. O objetivo da cartilha é divulgar
dência dos recursos pesqueiros, seja informações sobre a atividade pes-
para a geração de renda ou como queira ao público em geral e espe-
fonte de alimento para a população cialmente àqueles ligados a pesca,
que reside às margens dos rios e la- abordando a importância, legisla-
gos, como ocorre no município de ções, relações com o ambiente, en-
Oriximiná-PA. tre outros assuntos que enfatizam o
Dada a importância econômica, so- desenvolvimento da pesca de forma
cial e cultural da atividade pesquei- sustentável na região amazônica.
ra, a Universidade Federal do Oeste
do Pará-UFOPA através do projeto

A PESCA E SUA IMPORTÂNCIA

A pesca é realizada principalmen- a alimentação diária da população


te em países em desenvolvimento, ribeirinha e fornece uma proteína
como no sudeste Asiático, África de alta qualidade nutricional. Esse
e América Latina [1]. Ambientes mesmo peixe, quando comerciali-
aquáticos continentais podem ser zado, fornece o sustento de milhares
considerados “bancos naturais”, de famílias Amazônicas. Por outro
cujo capital (peixe) é capaz de prover lado, o turismo de pesca esportiva,
alimento e renda para populações ri- o manejo participativo de recursos
beirinhas e tem um importante papel pesqueiros, a captura ordenada de
no alívio da pobreza e na segurança peixes ornamentais e a psicultura
alimentar de países de baixa renda podem gerar oportunidades adicio-
e déficit nutricional [1; 2]. A pesca nais aos pescadores e suas famílias.
é uma das principais atividades de-
senvolvidas na região amazônica e
se constitui de importante fonte de
alimento, geração de renda, lazer
para a população ribeirinha e turis-
mo [3]. O peixe capturado garante

4
A PESCA: UMA IMPORTANTE FONTE DE ALIMENTAÇÃO

Você sabia que... A pesca é uma importante fonte de


alimento de alta qualidade para mi-
Aproximadamente 60 espécies lhões de pessoas no mundo, prin-
são comercializadas no merca- cipalmente em países com renda
do de Santarém, contudo, 10 es- baixa e altos índices de pobreza. Na
pécies representam 86% da pro- Amazônia, incluindo estudos no
dução total de peixes, ficando Rio Trombetas, a ingestão de peixe
visível que a pressão pesqueira é uma das mais altas do mundo, em
é mais intensa sobre poucas es- média cerca de 500 g de peixe são
pécies de peixes. Portanto, a fis- consumidas por pessoa por dia [8;
calização busca garantir a ma- 9]. Portanto, é visível como a pesca
nutenção dos peixes capturados contribui para a segurança alimentar
ao longo dos anos e auxiliar na e redução da pobreza de milhões
execução de planos de manejo de pessoas no mundo, inclusive no
e conservação dessas espécies, Brasil.
visando a sustentabilidade da O peixe fornece proteína de alta
pesca para as futuras gerações qualidade com grandes quantidades
[4]. de vitaminas e sais minerais, essen-
ciais que ajudam a evitar deficiência
Segundo a Organização das nutricional e doenças relacionadas
Nações Unidas para Alimenta- a má nutrição [1;5]. Ainda, o peixe
ção e Agricultura (FAO/ONU), selvagem capturado é mais saudá-
os peixes fornecem 15% de toda vel, pois tende a ter maior quanti-
proteína animal consumida no dade de nutrientes do que o peixe
mundo [7]. cultivado em cativeiro [6].

Ilustração: Ândria Souza

5
A PESCA COMO FONTE DE
RENDA
A pesca de águas interiores (água
doce) emprega cerca de 25 milhões
de pessoas em todo o mundo, entre
empregos diretos e indiretos [1].
Os valores estimados da pesca de
água doce para o ano de 2015 va-
riou de R$ 79 a 143 bilhões de reais,
enquanto o valor estimado para o Ilustração: Ândria Souza
Brasil nesse mesmo ano foi de R$
2,7 bilhões de reais [1]. Ressalta-se CURIOSIDADES...
que boa parte dos empregos e valo- A pesca de água doce é praticada
res oriundos da pesca de água doce em 1,2% da superfície do planeta e
no Brasil são originários na região no ano de 2017 representou 12,7%
do total de peixes capturados no
Amazônica. Segundo dados do Mi- mundo, resultando em 11,9 mi-
nistério da Pesca e Aquicultura exis- lhões de toneladas de peixes [1; 10]
tiam 330 mil pescadores registrados Aproximadamente 158 milhões
nos sete estados da região norte do de pessoas dependem do consumo
Brasil no ano de 2010 [14]. A pes- de peixes no mundo [11; 12], sendo
ca é o meio de sustento (alimento que 90% das capturas da pesca de
e renda) para milhares de famílias água doce são destinadas ao con-
ribeirinhas, representando grande sumo humano [13].
importância social e econômica no Estimativas indicam que 119,1 mi-
Brasil [14]. lhões de pessoas em 36 países em
Nos últimos 30 anos, a ampliação desenvolvimento no mundo são
dos mercados urbanos e a criação dependentes do peixe para consu-
mir proteína animal diariamente
de um polo processador de pescado [13].
fizeram com que ocorresse a expan-
são da frota pesqueira comercial na
Amazônia, destinando grande parte
do pescado para os consumidores
urbanos da região e de outras regiões
do Brasil [4]. No entanto, a amplia-
ção desses mercados leva também
ao aumento da pressão pesqueira,
podendo tornar-se prejudicial aos
estoques pesqueiros.
Foto: Gustavo Hallwass

6
TIPOS DE PESCA

A atividade pesqueira pode ser di-


vidida em categorias de acordo
com objetivos (destino do pescado
capturado), critérios econômicos,
geográficos e grau de profissionali-
zação das pessoas envolvidas. Pode-
-se destacar entre essas categorias: a
pesca comercial e a não comercial:
Ilustração: Ândria Souza

Pesca Comercial Pesca Não Comercial


Pesca artesanal: praticada por pro- Pesca de subsistência: quando
fissional de forma autônoma ou praticada com fins de consumo
em regime familiar com meios de doméstico ou escambo sem fins
produção próprios ou mediante lucrativos e utilizando petrechos
contrato de parceria, desembarca- específicos em lei.
do, podendo utilizar embarcações
de pequeno porte.
Pesca amadora: quando pratica-
da por brasileiro ou estrangeiro,
Pesca industrial: praticada por com equipamentos e petrechos
pessoa física ou jurídica, envol- previstos em lei, com o objetivo
vendo pescadores profissionais, de desporto e lazer.
empregado ou por regime de par-
ceria por cotas-parte, utilizando Pesca científica: quando prati-
embarcações de pequeno, médio cada por pessoa física ou jurídi-
e grande porte com finalidade co- ca, com a finalidade de pesquisa
mercial. científica.

O DIA A DIA DA PESCA linha, além de outros como o espi-


A pesca desenvolvida na região do nhel. Outra característica da frota
Baixo Amazonas possui uma gran- pesqueira da região é que a estrutura
de diversidade de apetrechos, sendo da pesca é basicamente a mesma
utilizadas principalmente malha- entre embarcações grandes e peque-
deiras, tarrafas, instrumentos tradi- nas.
cionais como arco e flecha, anzol e •Uma das embarcações mais utiliza-

7
das é a canoa com ou sem pequenos
motores de popa, localmente cha-
mados de rabetas, que é utilizada
principalmente pelos ribeirinhos,
que pescam para a sua subsistência
e também como contribuição em
suas rendas.
•A canoa também é utilizada pe-
los barcos pesqueiros, pois em sua
maioria são utilizados para transpor-
tar os pescadores até o local de pesca
e para armazenar e transportar o pei-
xe capturado para o mercado, nesse
caso o proprietário da embarcação
também é dono dos apetrechos de
pesca e das canoas, e possui uma
equipe de pescadores que pesca para Foto: Renato A. M. Silvano
ele.
INVISIBILIDADE DA PESCA: UM DESAFIO SOCIAL, POLÍTI-
CO E ECONÔMICO
Apesar da importância da ativida- atividade não sejam quantificadas,
de pesqueira na geração de renda e colocando-a em uma situação de
segurança alimentar das populações invisibilidade relacionada à impor-
ribeirinhas, existe ainda uma grande tância que esta apresenta [15].
carência de informações em relação •Invisibilidade do pescador: os
a essa atividade, como por exemplo, profissionais da pesca possuem um
a falta de registros, monitoramento, papel social fundamental na segu-
e até mesmo a desvalorização da rança alimentar da população mais
atividade e dos pescadores, indican- pobre, visto que o peixe é uma pro-
do que precisamos olhar um pouco teína de alta qualidade e acessível a
mais para essa profissão. maior parte da população carente e,
•Falta de monitoramento e regis- ainda assim, o pescador contribui
tros pesqueiros: a falta de dados economicamente para a região onde
representa um grande desafio para a pesca é desenvolvida.
evidenciar o papel da pesca, fazen- •Programas de manejo e conser-
do com que as contribuições dessa vação: a falta de registros de pesca

8
INVISIBILIDADE DA PESCA: UM DESAFIO SOCIAL, POLÍTICO E
ECONÔMICO
dificulta a geração de informações bem como gera incerteza na pro-
e dados suficientes para a avaliação posição de programas de manejo e
do estado dos estoques pesqueiros, conservação, mostrando a impor-
prejudicando a sustentabilidade da tância de realizar esses levantamen-
atividade pesqueira de longo prazo, tos de dados.

REGRAS E LEGISLAÇÕES

A exploração pesqueira na Ama- tar sua licença de pesca durante


zônia é regida por várias Leis, suas pescarias, garantindo segu-
Decretos, Portarias, Licenças e rança jurídica em sua atividade
outras normas legais. É impor- profissional, seus direitos e deve-
tante ressaltar que o pescador res.
artesanal ou comercial deve por-

Leis, Portarias
e Instruções Informações sobre as leis Vigentes
Normativas
Vigentes
Nesta Lei estão sancionadas as normas gerais da Po-
lítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável da
Aquicultura e da Pesca. Estão definidos os objetivos
de promover o desenvolvimento sustentável da pesca
Lei da Pesca de como fonte de alimentação, emprego, desporto e la-
n° 11.959 de zer, além de garantir o uso sustentável dos recursos
junho de 2009 pesqueiros bem como a otimização dos benefícios
econômicos decorrentes, em harmonia com a preser-
vação e a conservação do meio ambiente e da biodi-
versidade.

Portaria Ibama A portaria estabelece normas de pesca para o período


nº48/2007 de proteção à reprodução natural dos peixes, sendo
, IN Ibama que durante os períodos de defeso fica definido o limi-
te de captura e transporte dos mesmos. As instruções
nº34/2004 e IN normativas proíbem anualmente, a captura, a comer-
MMA cialização e o transporte de espécies como o pirarucu
nº35/2005 (Arapaima gigas), tambaqui (Colossoma macropo-
mum), entre várias outras, presentes na bacia do rio
Amazonas no seu devido período de reprodução.

9
Leis, Portarias e
Instruções Norma- Informações sobre as leis Vigentes
tivas Vigentes

Regulamenta os Acordos de Pesca no âmbito de co-


munidade pesqueira, determinando que sejam repre-
sentativos dos interesses coletivos atuantes sobre os
recursos pesqueiros (pescadores comerciais, de sub-
sistência, ribeirinhos, etc.) na área acerca da qual se
IN IBAMA refere o Acordo, desde que não comprometam o meio
n° 29, de 31 ambiente enquanto patrimônio público a ser assegura-
de dezembro do e protegido; que mantenham a exploração susten-
de 2002 tável dos recursos pesqueiros, com vistas à valorização
da pesca e do pescador; que não estabeleçam privilé-
gios de um grupo sobre outros, ou seja, as restrições de
apetrechos, tamanho de embarcação, áreas protegidas,
etc., deverão ser aplicáveis a todos os interessados no
uso dos recursos.

Proíbe o uso de aparelhos e métodos em desacordo com


o que está proposto em lei. Exemplos: redes de arrasto
IN IBAMA e de lance, de qualquer natureza; redes de espera com
N° 43, 26 de malhas inferiores a 70 mm; tarrafas de qualquer tipo
julho de 2004 com malhas inferiores a 50 mm; fisga e garateia, pelo
processo de lambada; substâncias tóxicas; aparelho de
mergulho com respirador artificial na pesca subaquáti-
ca, exceto para pesquisa autorizada pelo IBAMA, etc.

IN Nº 03, de Estabelece normas e procedimentos para operacionali-


12 de maio de zação do Registro Geral da Pesca-RGP, no âmbito da
2004 Secretaria Especial da Presidência da República-SE-
AP/PR.
POR QUE AS REGRAS E •As regras de pesca exercem um papel
LEGISLAÇÕES DE PESCA importante no cenário pesqueiro, pois
EXISTEM? fornecem informações aos pescadores,
estabelecem normas entre as quais têm
•As legislações de pesca visam es- por finalidade manter o equilíbrio entre
tabelecer uma base legal (jurídica) o homem e o meio ambiente, além de
da atividade pesqueira, bem como garantir o manejo do recurso pesqueiro
legitimar direitos e deveres aos pro- para permitir que as espécies se repro-
fissionais da pesca. duzam, mantendo assim suas popu-

10
REGRAS E LEGISLAÇÕES

lações e proporcionando a manu-


tenção dos estoques pesqueiros ao
longo do tempo.

•Também ocorrem muitos confli-


tos relacionados à pesca, que são
decorrentes da falta de informação
ou pela incompreensão das regras
estabelecidas, por isso é importante
conhecê-las.

CADA REGRA SEGUE CRI-


TÉRIOS COM OBJETIVOS
ESPECÍFICOS QUE SE BA-
SEIAM EM ESTUDOS CIEN-
TÍFICOS:

•Limitação de apetrecho: se aplica


tanto ao tipo, dimensão (compri- Foto: Andreiva de Souza
mento), como também ao tamanho
de suas malhas e locais de uso. É um •Restrição Sazonal (Defeso): se
tipo de regra bastante utilizada, pois relaciona ao período de reprodução
tem o objetivo de impedir o uso de dos peixes e é aplicada durante al-
apetrechos que podem capturar ou guns meses a cada ano. Nesse perí-
prejudicar peixes que não são alvos odo os peixes poderão se reproduzir,
da pesca e serão descartados, ou ain- proporcionando o aumento popula-
da, estipula tamanhos mínimos de cional e garantindo a manutenção
malha para evitar a captura de pei- dos estoques pesqueiros. O período
xes pequenos, geralmente menores de defeso permite que as espécies
que o tamanho mínimo reprodutivo de peixes se reproduzam, repovoa-
e que ainda poderiam crescer mais e mento os rios e lagos. Nessa época
se reproduzir, tornando a pesca mais o governo faculta ao pescador pro-
produtiva. O uso de malhas não per- fissional receber o seguro defeso
mitidas pode ser prejudicial ao esto- uma medida compensadora pela
que pesqueiro, colocando em risco suspensão obrigatória da atividade
as espécies de peixes que podem ser pesqueira, que é muito importante
capturadas por esses equipamentos. se respeitar.

11
REGRAS E LEGISLAÇÕES

•Restrição de área: visa à proteção inicialmente informais devem ser


de áreas altamente sensíveis à pes- legalizados com o apoio dos órgãos
ca, como boca de lagos, encontro de ambientais locais, tornando-se mais
rios, pé de cachoeiras e áreas onde seguros juridicamente para os co-
os cardumes de peixes estão muito munitários. Ressalta-se ainda que
vulneráveis. Pode ser aplicada em com os acordos não se pode proibir
forma de rodízio em sistemas de la- o acesso aos lagos, mas se pode res-
gos comunitários, com o objetivo de tringir a forma (apetrecho) como o
facilitar a reposição natural de esto- peixe pode ser capturado, quais épo-
ques pesqueiros e de áreas com forte cas, qual o tamanho mínimo de pei-
impacto humano. xe é permitido, qual a quantidade de
peixe se pode capturar, entre outros.
•Acordos comunitários: são os
consensos ou acertos informais en- •Além disso, cada estado pode pos-
tre pescadores e comunitários, com suir regras e limitações adicionais,
objetivo ao uso comum ou gestão baseadas em pesquisas e portarias
compartilhada de determinados la- estaduais.
gos ou locais de pesca. Os acordos

REGRAS E LEGISLAÇÕES: TAMANHO MÍNIMO DE CAPTURA

•O tamanho mínimo de captura re-


fere-se ao tamanho a partir do qual
é autorizada a pesca de uma deter-
minada espécie. A medida é baseada
no tamanho da 1º maturação sexual
da espécie, isto é, tamanho a partir
do qual peixe já é capaz de se re-
produzir. O tamanho mínimo tem o
objetivo de garantir que o peixe te-
nha a oportunidade de se reproduzir
antes de ser capturado, garantindo a
manutenção do estoque pesqueiro
de cada espécie de peixe. Portanto,
respeitar o tamanho mínimo de cap-
tura dos peixes é garantir a sustenta-
bilidade da pesca e a manutenção da
Ilustração: Ândria Souza atividade pesqueira para as futuras

12
REGRAS E LEGISLAÇÕES: TAMANHO MÍNIMO DE CAPTURA

gerações. peixes acima do tamanho mínimo,


•O tamanho mínimo é calculado a contribuindo assim para a conser-
partir do comprimento total, onde vação dos recursos pesqueiros. Na
mede-se o comprimento da ponta Tabela 1, apresentada a seguir estão
do focinho à extremidade da nada- algumas espécies de peixes e seus
deira caudal, sendo que essa medi- respectivos tamanhos mínimos, as-
ção deve ser feita sob uma superfície sim como espécies que possuem pe-
plana. Vale ressaltar que essa infor- ríodos de defeso estipulados por lei.
mação é importante para que o pes-
cador/consumidor apenas adquira
Tabela 1. Apresenta os tamanhos mínimos de captura e o período de defeso de algumas
espécies de peixe do estado do Pará, segundo o IBAMA:

13
14
REGRAS E LEGISLAÇÕES: DEFESO/ PIRACEMA

•O período de defeso foi criado em migrações reprodutivas em busca


1967, através do Código da Pesca. de alimentos e condições adequa-
No defeso ocorre a paralisação tem- das para o desenvolvimento de seus
porária da pesca com o objetivo de filhotes (ovos e larvas). A cheia dos
garantir a reprodução e a preserva- rios auxilia na dispersão dos ovos e
ção das espécies. É durante o perío- larvas dos peixes, contribuindo as-
do de defeso que a maior parte dos sim para o repovoamento dos rios e
peixes estão desovando, portanto, lagos de toda a Amazônia.
nesse período as espécies se tornam •Nesse período de proibição da pes-
vulneráveis e precisam ser protegi- ca, o governo federal criou o seguro
das para garantir sua preservação, a defeso, instituído pela Lei nº 10.779,
continuidade de suas populações e, de 25 de novembro de 2003, que
assim, a manutenção dos estoques proporciona ao pescador profissio-
pesqueiros. nal receber o seguro defeso equiva-
•O defeso, também chamado pira- lendo a 1 salário mínimo, como me-
cema, coincide com a estação das dida compensatória pela paralização
chuvas e aumento do nível da água da atividade pesqueira.
nos rios, quando os peixes realizam

15
REGRAS E LEGISLAÇÕES: ACORDOS DE PESCA

O que são acordos de pesca?


Acordos de pesca ou comunitários
são os consensos ou acertos infor-
mais entre pescadores e comunitá-
rios, com objetivo ao uso comum
ou gestão compartilhada de deter-
minados lagos ou locais de pesca.
Os acordos devem ser legalizados
com o apoio dos órgãos ambientais
locais, tornando-se mais seguros ju-
ridicamente para os comunitários.
Os acordos de pesca passaram a
ser reconhecidos legalmente após a
publicação da Instrução Normativa
(IN) IBAMA nº 29 de 31 de dezem-
bro de 2002. Ressalta-se ainda que
com os acordos não se pode proibir Foto: Andreiva de Souza
o acesso aos rios e lagos, mas sim as
formas de pesca. •Estabelece zonas de pesca, que
Quais regras são estabelecidas pe- podem ser: a) Área de preservação
los acordos de pesca? total, onde é proibido pescar, por
•Proíbem ou limitam o uso dos pe- exemplo, lagos onde muitos peixes
trechos de pesca, exemplo: práticas se reproduzem, uma espécie de cria-
que possam prejudicar o meio am- douro natural; b) Área de preserva-
biente, tamanho (altura e compri- ção temporária, a pesca é permitida
mento de malhadeira), tamanho de apenas durante uma parte do ano,
malha, quantidade de redes, uso de por exemplo, para garantir a repro-
timbó, explosivos, mergulho notur- dução das espécies; c) Área de con-
no, entre outros; servação, no qual aqui é importante
•Proíbem a pesca por um determi- a participação dos comunitários,
nado período, exemplo: período em pois nessas áreas só pode pescar
que determinadas espécies se repro- com regras definidas previamente
duzem (defeso); (exemplo: tipos de apetrechos) e
•Limitam a quantidade de pescado a quem as define são os comunitários,
ser capturada por viagem, exemplo: visando reduzir a pressão sobre os
reduzem o esforço de pesca limitan- estoques pesqueiros.
do grandes barcos;

16
Para se estabelecer o Acordo de
Pesca é preciso:
•Representar os interesses coletivos
das pessoas que pescam na área e/
ou região, respeitando a diversidade
de opiniões e ser proposto a partir de
ampla consulta e discussão comuni-
tária;
•Manter a exploração sustentável
dos recursos pesqueiros, garantindo
a manutenção da atividade pesquei-
ra viável tanto no presente como no
futuro.
•Regulamentar junto ao órgão am-
biental responsável seguindo as
diretrizes da IN IBAMA nº 29 de
31/12/2002.
•Atualmente os órgãos responsáveis
no estado do Pará são a Secretaria
de Estado de Meio Ambiente e Sus-
tentabilidade (SEMAS/PA), o Con-
selho Estadual do Meio Ambiente
(COEMA) e a Secretaria de Estado
de desenvolvimento Agropecuário e
da Pesca (SEDAP/PA). Foto: Renato A. M. Silvano

REGRAS E LEGISLAÇÕES: COLÔNIAS DE PESCA

As Colônias de Pescadores, regula-


mentadas pela Lei N° 11.699, de 13
de junho de 2008, são reconhecidas
como órgãos de classe dos trabalha-
dores do setor artesanal da pesca,
possuem natureza jurídica própria
e livre organização. As Colônias de
Pescadores possuem autonomia e
soberania em sua gestão, sendo que
a associação dos trabalhadores do
setor artesanal da pesca no seu órgão
de classe (Colônia de Pesca) é livre,
17
comprovando os interessados sua trabalhadores no setor artesanal de
condição no ato da admissão. pesca em todas as esferas geopolí-
É um dos principais objetivos das ticas. A Colônia dos Pescadores de
Colônias, a representação e defesa Oriximiná Z-41 abrange 560 sócios
dos direitos e interesses da categoria ativos e 810 inativos, sendo que no
de pescadores perante a sociedade munícipio há ainda pessoas que tra-
brasileira. As Colônias de Pescado- balham com a pesca, mas que não
res, em âmbito municipal, as Fe- são associados à colônia.
derações, em âmbito estadual, e a
Confederação, em âmbito nacional,
têm por atribuição representar os

PARA FINALIZAR...

As pessoas que trabalham com a uma importante parcela da econo-


pesca, são os principais atores des- mia local, bem como possibilitam o
sa atividade, portanto, valorizar e acesso a alimento de qualidade para
fomentar esse trabalho é valorizar muitas famílias de baixa renda em
a profissão do pescador que é de todo o mundo. Enfatizamos tam-
grande importância para diversas bém que a Biologia não se preocupa
pessoas tanto em nível local como apenas com animais e plantas, mas
mundial. Os pescadores muitas ve- também com as pessoas.
zes sofrem certa invisibilidade social
e política, mas são responsáveis por

Foto: Ediego Batista/CORI-UFOPA

18
REFERÊNCIAS

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL PRÓ-REITORIA DE COMUNICA-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE ÇÃO, CULTURA E EXTENSÃO
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