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O texto em questão tratará do artigo escrito por Ana Cristina César, denominado

Literatura e Mulher: Essa Palavra de Luxo, no qual, logo a autora busca discutir a forma que
o feminino se apresenta e se desenvolve na literatura.

É interessante observar o título que vai dar nome ao artigo. Analisando por partes, por
si só, o título já traz informações relevantes ao leitor. Mulher e Literatura são palavras que
evocam o fazer literário feminino que pretende ser desenvolvido. Já o sintagma “essa palavra
de luxo”, talvez possa ter ligação com o poema Ensinamento de Adélia Prado (poeta
referência para Cesar, sendo citada posteriormente no artigo), no qual os seguintes versos
fecham o poema: “Não me falou de amor/ Essa palavra de luxo”. Por mais que o sentido do
sintagma no poema e no artigo seja distinto, fica evidente que houve uma inspiração. Nesse
contexto, há um jogo semântico, no qual a palavra luxuosa deixa de ser amor para ser mulher.

Ana Cristina Cesar, afirma que há uma consciência configurada no senso comum
sobre o poético e o feminino. Assim, quando, geralmente, alguém pensa em poesia escrita por
mulheres alguns símbolos como: flor, orvalho, lua, mar, madrugada, coração, surgem de
imediato no imaginário. Dessa maneira, a autora compreende que a poesia feminina teria
como característica uma dicção nobre. Para ilustrar tal fato, Cesar aborda a escrita de Cecília
Meireles e Henriqueta Lisboa. Identificando em ambas as poetas elementos que associam o
feminino ao limpo e tênue e etéreo. Ana Cristina discorda desse posicionamento. Acredita que
há mais do está aparente no trabalho dessas escritoras, quando afirma: "Tons fumarentos.
Nebulosidades. Reflexos crepusculares. Luz mortiça, penumbra. Belezas mansas, doçura."
(P.224)

Além disso, a autora do artigo propõe debater sobre a recepção de Cecília e Henriqueta
que embora tenham escrito no mesmo período de tempo do modernismo brasileiro,
distanciaram-se do movimento. Em especial Cecília Meireles que trouxe para dentro de sua
poesia um caráter universalizante e um falar fino e erudito. “Cecília abre alas: alas da dicção
nobre, do bem falar, do lirismo distinto, da delicada perfeição. Quando as mulheres começam
a produzir literatura, é nessa via que se alinham.” (P.227).

Na errata, a autora vai reafirmar a existência de estereótipos do feminino no senso


comum que ainda não são um elemento anacrônico. Agora, há uma virada de chave, muda-se
a essência, mas não o problema: idealizar-se o que é verdadeiramente feminino. Cobra-se da
mulher contemporânea um novo fazer poético de negação a tudo. “Mulher não lacrimeja mais
piegas: conta aos brados que se masturbou ontem na cama, e desafiante, e faiscante, e de
perna aberta. A escrita de mulher é agora aquela que desfralda a bandeira feminista,“ (P. 230).

Por fim, tem-se portanto, que o texto da Ana Cristina Cesar é questionador e por mais
que seja do final da década de 70, tem um discurso atual, tendo-se em vista que o lugar da
mulher na literatura ainda é uma questão complexa em 2019. Muitos críticos não consideram
um problema, poucas mulheres no cânone, pela mesma razão que Ana Cristina apresenta em
seu texto: “outros silenciam qualquer referência ao fato de que se trata de mulheres, como se
falar nisso fosse irrelevante ante a realidade maior da Poesia”. Além disso, a questão da
militância que exige uma mudança de postura no fazer poético, construindo uma nova poética
que deve ser adotada pela nova mulher, a transgressão que ao invés de libertar pode limitar.

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